a china na cadeia tÊxtil vestuÁrio: impactos e … · técnicas de pesquisa que foram utilizadas...
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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional
Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013
A CHINA NA CADEIA TÊXTIL – VESTUÁRIO: IMPACTOS E AJUSTES
NAS EMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Achyles Barcelos da Costa1 Nelton Carlos Conte2
Valquiriria Carbonera Conte3
Resumo: A cadeia têxtil-vestuário no Brasil tem passado por intensas transformações ocorridas com a abertura econômica e o aumento das importações, oriundas principalmente da China. No Rio Grande do Sul esse impacto tem se mostrado mais intenso a partir do ano de 2000. Diante desta problemática o presente estudo teve por objetivo identificar quais os ajustes e as estratégias que foram adotados pelas empresas da cadeia têxtil-vestuário do estado do Rio Grande do Sul diante da abertura do Brasil ao comércio internacional, principalmente em relação à indústria chinesa. Para responder ao objetivo principal deste estudo inicialmente foi investigada a participação da China no mercado têxtil-vestuário mundial no período de 1990 a 2009, através de dados de organismos internacionais (COMTRADE), onde evidenciou-se o aumento da participação da China no mercado mundial, colocando esse país como o principal exportador. Na sequência foi realizada uma pesquisa de campo através de aplicação de questionários para firmas de confecção e entrevistas com empresas de tecelagem. O principal impacto observado foi a redução de mão de obra empregada e o aumento das importações. As estratégias adotadas pelas empresas estudadas foram a diferenciação de produtos e a inclusão de produtos prontos, importados para aumentar o mix de artigos oferecidos aos clientes. Palavras-Chave: Cadeia têxtil-vestuário. China. Rio Grande do Sul. Estratégia Competitiva.
1 Economista. Doutor em Economia. Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) 2 Professor adjunto da Faculdade de Economia Administração e Contábeis – UPF; Mestre em
Desenvolvimento Regional – UNISC; Doutorando em Desenvolvimento Regional – UNISC. 3 Administradora. Mestre em Administração pela UNISINOS.
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1 Introdução
Esse estudo aborda o impacto da China na cadeia têxtil – vestuário e as estratégias
que foram adotadas pelas empresas do Estado do Rio Grande do Sul para competirem e
sobreviverem no mercado.
As empresas da cadeia têxtil-vestuário estão passando, desde a última metade dos
anos de 1990, no Brasil, por inúmeras transformações, principalmente após a abertura do
mercado e o fim dos acordos têxteis, que regulavam até o ano de 2005, esse setor.
Além da abertura comercial, outros dois fatores influenciaram diretamente essa
indústria. O Acordo Multifibras - AMF (1974 a 1994), estabelecia quotas sobre as
exportações de países em desenvolvimento para países desenvolvidos; e o Acordo sobre
Têxteis e Vestuário – ATV (1995 a 2004), tinha como objetivo eliminar gradativamente o
sistema de quotas impostas aos países em desenvolvimento e integrar o comércio de
artigos têxteis às regras da Organização Mundial do Comércio - OMC. Assim, no ano de
2005 passou a vigorar a liberalização no comércio mundial do setor têxtil.
Com a exposição do Brasil à concorrência internacional, a cadeia têxtil-vestuário
perdeu participação no mercado devido a deficiências como capacitação tecnológica e
gerencial e pelo reduzido desempenho comercial da cadeia. Assim, cada região do Brasil,
na cadeia têxtil-vestuário buscou se ajustar diante dos padrões competitivos que a abertura
do mercado veio a proporcionar.
No estado do Rio Grande do Sul, as empresas da cadeia têxtil vestuário, antes da
abertura comercial, faziam uso das mesmas estratégias do restante do país, ou seja,
voltadas aos preços dos produtos e ao mercado doméstico. Essas empresas possuíam,
também, maquinário antigo, gestão deficiente e mão de obra com baixa qualificação. Devido
à distância em relação aos centros produtores do país, o Estado do Rio Grande do Sul teve
dificuldades maiores na obtenção de matéria-prima ao longo de sua história produtiva, na
cadeia têxtil-vestuário. Isso fez com que fossem internalizados alguns elos, como o de fios e
fibras naturais, buscando suprir a cadeia com insumos para a produção de manufaturas.
Assim, conforme Rangel (2008), houve um processo de reestruturação, onde as
etapas de produção da indústria têxtil brasileira tornaram-se independentes para se
ajustarem às novas condições de mercado e utilizar as vantagens oferecidas, o que
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conduziu a uma fragmentação dessa indústria. Dessa forma, as empresas, em qualquer elo
da cadeia, passaram a importar livremente e, dependendo dos preços relativos, recorrem às
importações, ao invés de produzir ou adquirir no mercado doméstico. O uso dessa postura
aumenta a relevância das atividades na ponta da comercialização fazendo com que as
empresas da cadeia tragam de outros países, em especial da China, os produtos ou
matérias-primas necessárias a competitividade do setor.
No que se refere aos produtos da China, esta tem adotado uma política agressiva
para a conquista de mercados externos. Segundo Costa e Rocha (2009), a estratégia é a da
concorrência via preços, com exportação de grandes volumes de produtos padronizados,
porém não necessariamente de baixa qualidade. Já o estudo do SENAI/CETIQT-RJ (2004),
realizado pelo Instituto de Prospecção Tecnológica e Mercadológica - IPTM, mostra que
produto Chinês por ser, em média, 6,5% mais barato em relação aos demais mercados,
possui estratégias de marketing que envolvem difusão, internacionalização e
reconhecimento da marca “Made in China”, além do empenho do Governo em fazer das
exportações de têxteis e vestuário, a principal atividade industrial e de emprego.
Diante do exposto, o problema que esse estudo pretende responder é: na cadeia
produtiva têxtil-vestuário, quais os ajustes e estratégias adotadas pelas empresas após a
abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente em relação à indústria
chinesa no Rio Grande do Sul?
Como objetivo Geral o estudo busca evidenciar quais os ajustes e estratégias
adotadas pelas empresas da cadeia têxtil – vestuário do Estado do Rio Grande do Sul após
a abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente em relação à indústria
chinesa.
2 Metodologia
Nesta seção, descrevem-se os procedimentos metodológicos e apresentam-se as
técnicas de pesquisa que foram utilizadas para a solução do problema proposto. A pesquisa
de campo realizada tem caráter Quantitativo-Qualitativa-Descritiva. Com o intuito de se
atingir os objetivos propostos neste trabalho, o método de pesquisa dividiu-se em três fases,
a primeira quantitativa e as duas últimas qualitativas.
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A população-alvo desta pesquisa foram empresas fabricantes de tecidos
(tecelagens) que utilizam a lã como matéria-prima principal e fabricantes de confecção em
tecidos planos (lã, poliéster, etc.), com cadastro na FIERGS/2009 (Cadastro das Indústrias,
Fornecedores e Serviços – RS/2009).
Na primeira fase, quantitativa, fez-se o levantamento de informações sobre a cadeia
têxtil-vestuário, com base em dados de organismos internacionais e nacionais. Inicialmente
foi investigada a participação da China no mercado têxtil-vestuário mundial no período de
1990 a 2009, através de dados de organismos internacionais (COMTRADE), onde foram
analisados os capítulos 50 a 63 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) que
englobam a cadeia desde os fios e filamentos até as confecções.
A segunda fase, qualitativa, corresponde à coleta de dados junto às empresas de
confecção do Estado do Rio Grande do Sul, através da aplicação de questionário. O objetivo
desta fase foi buscar informações sobre os impactos e as principais estratégias adotadas
por essas empresas em virtude da abertura econômica e do aumento das importações,
provenientes de muitos países, principalmente da China. O mesmo foi enviado, no mês de
março de 2011, para uma amostra de 31 empresas (9 empresas de fiação e tecelagem e 22
empresas de confecção). As empresas foram identificadas através do cadastro da
FIERGS/2009 (Cadastro das Indústrias, Fornecedores e Serviços – RS/2009). A escolha
das empresas para envio do questionário foi de forma intencional, baseada no
conhecimento de um dos pesquisadores que atua em uma empresa de confecção, onde os
principais critérios de seleção foram o tempo em que estas empresas atuam no mercado
(mais de 10 anos) e, por executarem todas as fazes de produção (compra de matéria-prima
e insumos, manufatura e comercialização). Dos 31 (trinta e um) questionários distribuídos,
13 deles foram respondidos, sendo 02 de empresas de fiação e tecelagem e 09 de
empresas de confecção, o que representa 42,94% validando assim a pesquisa.
Na última etapa, qualitativa, foi direcionada para aplicação de questionário e
entrevista com pessoas ligadas às empresas do setor de tecelagem do Estado do Rio
Grande do Sul. O objetivo desta fase foi compreender o processo produtivo e os ajustes e
estratégias utilizadas pelas firmas de tecelagem, permitindo conhecer todos os elos da
cadeia têxtil-vestuário. Fazendo uso de num roteiro de perguntas semi-estruturado, foram
realizadas as entrevistas com duas empresas. A primeira entrevista foi realizada na
Cooperativa Têxtil Galópolis - Cootegal, na cidade de Caxias do Sul/RS, tendo sido
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entrevistado o Presidente da empresa, em 16 de março de 2011, tendo a duração de 1:30h
(uma hora e meia). A segunda entrevista foi realizada na Cia. Fiação e Tecidos Porto
Alegrense – Fiateci, na cidade de Canoas/RS, tendo sido entrevistada a Gerente Comercial
da empresa, em 27 de maio de 2011, tendo a duração de 2h (duas horas).
3 A China no Comércio Internacional da Cadeia Têxtil - Vestuário
A globalização tem alterado a dinâmica de nações, de empresas e de indústrias e
isso é visto nas mudanças dos padrões de comércio internacional, onde novos players tem
se destacado nos mercados, particularmente os de origem asiática.
A participação da China no comércio mundial ao longo dos anos tem aumentado nos
mais variados setores da indústria, particularmente nos setores intensivos em mão de obra
como os da cadeia têxtil-vestuário. No caso dessa cadeia essa presença pode ser
observada desde antes do fim dos Acordos Multifibras e do relacionado a Têxteis e
Vestuário.
O Acordo Multifibras (AMF) foi negociado no ano de 1974 e teve a duração até o ano
de 1993. O Acordo objetivava o aumento do escopo de regulação e a provisão de uma
estrutura de regras e procedimentos nos quais os países desenvolvidos poderiam impor
restrições, protegendo, dessa forma o emprego de suas indústrias produtoras de têxtil e de
vestuário (Wohn, 2001).
Os efeitos do AMF sobre o comércio mundial em produtos têxteis e roupas foram
intensos. Ele limitou a taxa de crescimento das exportações dos países em desenvolvimento
e beneficiou países desenvolvidos como os Estados Unidos com um aumento de
penetração nos mercados europeus. Contudo no início dos anos de 1980, os produtores
europeus aumentaram consideravelmente sua penetração no mercado norte-americano
(DICKEN, 2009). Para contornar as restrições, definidas pelo aumento das limitações de
exportação, os países em desenvolvimento buscaram diversas soluções, segundo DICKEN
(2009, p. 285):
a) Um país produtor que tivesse alcançado o teto de sua quota em um produto alternaria para outro item.
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b) Era utilizada etiquetagem falsa para mudar o suposto país de origem (um ato ilegal).
c) As empresas realocavam uma parte de sua produção em países que não eram signatários do AMF ou cuja quota não tinha sido totalmente usada pelos produtores domésticos.
Devido a essas práticas setores inteiros de vestuário de alguns países em
desenvolvimento foram efetivamente criados em decorrência de quotas estipuladas pelo
AMF.
Contudo, a Rodada do Uruguai ao final da década de 1980, indicou que as
sucessivas prorrogações do AMF haviam se tornado complexas e sem nenhuma solução
que atendesse às disputas estabelecidas. Em 1995 a regulamentação do comércio em
produtos têxteis e roupas foi incorporada à Organização Mundial do Comércio (OMC). O
acordo garantia um período de transição (1995-2004) para um mercado livre, com redução
gradual de barreiras comerciais e com a sua extinção total em janeiro de 2005 (SEYOUM,
2007). Nesse ínterim os países desenvolvidos (Estados Unidos e União Européia) definiram
procedimentos de monitoramento e negociaram novas quotas de importação com a China
para continuarem em vigor até o ano de 2008. O fim desse acordo favoreceu os mercados
chinês e indiano, países mais competitivos em têxteis.
A cadeia têxtil-vestuário da China vem mostrando crescente participação no mercado
internacional através das exportações de seus produtos (fios, tecidos e vestuário em geral)
influenciado pelo estímulo do Governo Chinês4, e principalmente pelo seu baixo custo de
produção.
Quando se analisa o desempenho da China nas exportações mundiais dessas fibras
observa-se (Tabela 1) que a mesma, quando comparado com outros players, é responsável
por quase metade das vendas internacionais de seda, recuperou posição na lã de 1995 a
2009 e vem crescendo a sua participação no comércio de algodão e em filamentos
químicos: no primeiro, a sua participação saltou de 9,1% em 1990 para 23,9% em 2009,
enquanto os filamentos tiveram um acréscimo de 5,0% para 22,7% das exportações
mundiais entre 1990 e 2009.
4 Investimentos de valor significativo são feitos na infra estrutura: rodovias, ferrovias, aeroportos,
portos, além de linhas telefônicas fixas e móveis e internet. Planos quinquenais desenvolvem ações como: moeda desvalorizada e câmbio fixo; juros baixos, em torno de 2 a 3% ao ano; carga tributária em torno de 13% do valor do PIB e criação de Câmara de Comércio para Importação e Exportação de Têxteis da China (CCCT).
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O segundo elo ou segmento da cadeia têxtil-vestuário, é representado pela
tecelagem ou malharia. Na tabela 2, é analisado a participação das exportações da China
em relação ao total exportado pelo mundo e os principais países importadores de tecidos
oriundos da China e os players mundiais.
A produção de tecidos assim como de confecções possui fatores que auxiliam a
elevada produtividade da China. Sua mão de obra abundante e de baixo custo em
comparação aos outros países que atuam no mercado de exportação beneficia a China em
sua produtividade.
Além do custo da mão de obra, a energia também é de baixo custo e o suprimento
de matérias-primas e outros insumos oriundos de uma completa cadeia produtiva, produz
não somente as matérias-primas primárias (fibras e fios) mas também os tecidos,
acessórios, produtos químicos e outros itens importantes. Essa situação difere daquela de
muitos concorrentes que não possuem a cadeia produtiva completa e dependem de
contínuas importações.
Na análise da participação da China nas exportações de tecidos fica evidenciada a
sua condição de principal exportadora, nos três tipos de tecido, no ano de 2009, com uma
participação de 31,2% do mercado de tecidos especiais, 22,4% dos tecidos impregnados, e
29,5% do tecido de malha.
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Por fim, a confecção, representa o terceiro elo da cadeia têxtil-vestuário. Neste elo,
segundo estudo do SENAI; CETIQT e IPTM (2004), a China se destaca pela elevada e
diversificada oferta em termos de especificações e variedades nos produtos. A mesma pode
produzir todos os tipos de têxteis e confecções desde os básicos até os de moda. As firmas
chinesas oferecem serviços de maior valor agregado, reagem rapidamente às mudanças da
moda e às demandas dos varejistas, atendendo aos padrões de produtos de uma forma
melhor do que a dos fornecedores de outras partes do mundo. Essa vantagem pode ser
vista na indústria de vestuário, onde os países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e
outros têm buscado produtos para abastecer as redes de varejo.
De acordo com Dicken (2009), tem ocorrido uma grande mudança global na indústria
do vestuário, onde ocorre um distanciamento dos produtores já estabelecidos há muito
tempo em direção a novos produtores em desenvolvimento principalmente Ásia, México e
Leste Europeu. O domínio da Ásia, principalmente da China, como fonte de exportação de
roupas, fica evidente na tabela 3.
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A China aparece como principal exportadora mundial de vestuário, nos três
segmentos, com uma participação em torno de 36%. O comportamento das exportações
mostra que a China é o principal exportador no segmento de outros confeccionados com
exportações de US$ 16,8 bilhões (40,7%), seguido pela Índia com US$ 2,3 bilhões (5,6%) e
da Alemanha, com US$ 2 bilhões (4,8%) do total exportado pelo mundo. O vestuário em
malha é o segundo segmento em que a China ocupa a primeira colocação, com cerca de
US$ 53,7 bilhões exportados em 2009 (36,3%), seguido da Itália com US$ 7 bilhões (4,8%)
e da Turquia US$ 6,9 bilhões (4,7%). China (31,4%), Itália (7,5%) e Alemanha (5,8%) são os
países que mais exportaram no segmento de vestuário em não malha.
No setor do vestuário, o circuito de produção tem sido cada vez mais dominado pelas
políticas de compra das grandes cadeias de varejo. A isso se deve a participação intensa
dos Estados Unidos, Japão e Alemanha como os principais importadores da China. Os
maiores varejistas são, Seyoum (2007):
Estados Unidos: Wal-Mart, Sears, J.C. Penney, Dayton Hudson;
Japão: Daiei, Mitsukoshi, Daimaru e Ito Yokado;
Alemanha: Karstadt, Kaufthof, Schickendanz;
Holanda: C&A;
França: Carrefour;
Grã-Bretanha: Marks and Spencer e Tesco.
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O fato de a China mostrar maior participação, em relação aos demais países possui,
implicações no poder de compra altamente concentrado nas grandes cadeias de varejo.
Quando o mercado era dominado pelos varejistas do mercado de massa, a demanda era
direcionada para os longos ciclos de produção de roupas padronizadas a baixo custo. À
medida que o mercado ficou mais diferenciado, e as mudanças mais freqüentes na moda,
os fabricantes viram-se forçados a reagir de forma mais ágil às demandas do varejo. Assim,
a China como descrito anteriormente configura-se como um fornecedor em potencial, pois o
tempo para o atendimento dos pedidos é tão importante quanto o custo oferecido por esse
país na produção de manufaturados (DICKEN, 2009).
Para ajustar-se as características presentes no mercado, países como Estados
Unidos, Japão e alguns países da Europa buscaram estratégias para enfrentar a
concorrência. De um modo geral as empresas pertencentes a esses países mudaram suas
estratégias relativas a novas tecnologias na manufatura e nos sistemas gerenciais, bem
como em novos relacionamentos entre fornecedores e clientes. As principais segundo
Seyoum (2007), Dicken (2009), Gereffi (2001) são os seguintes:
Especialização em marketing de nichos, visando enfrentar os baixos preços dos produtos importados;
Inovação e criatividade no desenvolvimento de produtos;
Customização de massa, buscando com isso melhorar a diferenciação dos manufaturados;
Redes de cadeia de suprimentos e sourcing global, visando uma produtividade maior em termos de custo;
Uso da modalidade “full package” – pacote completo, estratégia de diferenciação já implementada na China assegurando o sourcing nas fábricas chinesas para o fornecimento de roupas prontas;
As estratégias adotadas pelos produtores da cadeia têxtil-vestuário são
“extremamente complexas e diversificadas”. As combinações de inovação tecnológica,
diferentes tipos de estratégias de internacionalização, o relacionamento com os varejistas
formam uma combinação para gerar um mapa global de produção e comércio mais
complexo do que a simples explicação baseada nas diferenças de custos de mão de obra,
fator esse característico da China.
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4 Estratégias Competitivas do Segmento Têxtil – Vestuário do Estado do Rio
Grande do Sul
As indústrias têxteis e de vestuário do Rio Grande do Sul possuem características
diversas. Desde os tipos de fibras e filamentos que empregam na produção, nos tecidos e
confecções fabricados, bem como no tamanho relativo de suas empresas quando
comparado com o de suas congêneres nacionais. Nos anos de 1990 as firmas processavam
basicamente fibras de lã, de algodão e algumas fibras sintéticas. Contudo esse padrão não
se manteve devido às mudanças por demanda de tecidos mistos de fibra natural e
filamentos químicos.
As crescentes importações do Estado, tanto no segmento de tecelagem como o de
confecção colaboram para a redução de custos de matéria-prima, visto que outro fator que
agrega maiores valores no final do produto, além da mão de obra, é a energia, havendo
dificuldade na diminuição de preços desse insumo. Na tabela 4 são apresentados os valores
importados pela cadeia têxtil-vestuário do Rio Grande do Sul.
O fato de muitas empresas de pequeno porte (tecelagens e confecções) não terem
uma escala produtiva maior faz com que a importação de tecidos ou peças prontas venha a
suprir essa demanda. Algumas tem feito uso dessa estratégia no intuito de agregar um
produto ao seu mix atual, ou reduzir custos. Outro fator refere-se a falta de tecnologia de
algumas firmas para a manufatura de determinado produto, vindo esse a ser importado. O
principal país pelos quais as firmas tem optado para atingir essas estratégias é a China.
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Do total de US$ 131,5 milhões importados pelo Rio Grande do Sul, cerca de 45,5%
são originários da China, seguido da Argentina (13,8%), Uruguai e Itália (4,6%), Chile (1,9%)
e Bangladesh (0,4%), no ano de 2010.
O maior valor em importações do mercado Chinês encontra-se no segmento de
tecidos, que correspondeu a US$ 29,2 milhões em 2010. Tal opção vem ao encontro da
estratégia mostrada anteriormente, que vem sendo adotadas pelas empresas para reduzir
custos gerais de manufatura, em busca de maior competitividade. As importações de
confecções, tem se concentrado no mercado Chinês com 77,3% do total importado. A opção
por comprar no exterior ao invés de produzir dentro da empresa visa a obtenção de ganhos
de lucratividade e a aquisição de produtos que as empresas nacionais não têm em seu mix.
Um exemplo refere-se a importação de confecções masculinas e femininas em tecido
sintético (sobretudos masculinos e mantôs femininos). As empresas do Rio Grande do Sul
manufaturam esse produto em lã, sendo esses de maior valor agregado. Os que
normalmente tem sido importados possuem qualidade, mas um custo menor que o fabricado
em fibra natural. A evolução das importações da China pelo Rio Grande do Sul,
principalmente a partir de 1995, é mostrada na tabela 5.
Como a incidência nesses elos, no Rio Grande do Sul, são de empresas de pequeno
porte e com os problemas característicos dessas firmas (escassez de financiamento para
capital de giro e para a aquisição de máquinas modernas, pequena escala de produção que
afeta tanto o relacionamento com fornecedor de matéria-prima como com os clientes, entre
outros problemas), a criação de pólos de confecção tem exercido papel importante tanto na
obtenção de tecnologia nas fases do processo produtivo (uso comum de CAD) quanto na
compra de produtos e matérias-primas importados. Contudo, no estudo realizado nas
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empresas, são poucas as que encontram-se ligadas a algum pólo ou associação que as
auxilie na obtenção de condições de competir no mercado atual.
Com o objetivo de verificar a capacidade das empresas gaúchas em se adaptar a
essas mudanças, os questionários enviados para as firmas, que compõem a amostra deste
estudo, buscaram, identificar quais foram às estratégias adotadas pelo segmento de
tecelagem e de confecções para competir no cenário atual.
Nas empresas de confecção estudadas, as principais linhas de produtos
manufaturadas são casacos em lã femininos (60%), de veludo masculinos (30%), linha
social masculina e feminina (10%). Os produtos levam entre cinco e seis meses para serem
desenvolvidos, na maioria das empresas pesquisadas, para depois chegarem ao mercado.
Na tecelagem, entre as empresas estudadas, uma das empresas destina 62% para a
linha de decoração/revestimento, 37% na linha moda/vestuário e 1% de tecidos para bilhar.
A outra firma destina 90% na linha moda/lar e 10% para decoração. Em entrevista nas
empresas de tecelagem, a sazonalidade presente nesse elo vai de setembro a março, na
linha de moda e a linha de revestimento não possui essa peculiaridade mantendo a
produção ao longo de todo o ano.
Em uma das tecelagens a linha de produção fabricada no ano de 2000 era a de
vestuário/moda. Em dez anos a produção dessa linha diminuiu, passando a ser o segundo
produto manufaturado na empresa. A causa dessa mudança deveu-se a migração de
compras feitas por grandes lojas de departamentos como Renner, entre outras, para a
negociação de compras de tecidos diretos da China. As compras antes realizadas entre a
tecelagem e as lojas de departamentos não se concretizando fizeram com que a firma
migrasse sua produção para a linha de revestimentos, mantendo, assim sua capacidade
produtiva. Assim, as vendas antes realizadas para lojas de departamentos passaram a ter
outro foco como pode ser visto na distribuição das vendas na tabela 6.
Fonte: Pesquisa de Campo
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Notas: (*) E1 a E11 – empresas de confecção;
A distribuição das vendas no segmento de confecção analisado concentra-se
prioritariamente ao lojista, apesar de algumas já atuarem com vendas diretas ao
consumidor, através de lojas próprias. Todas as firmas (tecelagem e confecção) têm suas
vendas concentradas no mercado interno. Em apenas uma delas ocorreu exportações, em
períodos anteriores, para os Estados Unidos e países do Mercosul, porém, atualmente essa
organização está voltada ao mercado nacional.
O fato de as empresas estudadas não exportarem seus produtos levanta várias
questões dentre as quais as principais são elencadas na figura 1.
30%
10%
20%
10%
30%
Dificuldades para Venda no Mercado Externo
Preço não competitivo no mercado externo
Dificuldade de acesso ao mercado e consumidores
Dificuldade de acesso a canais de distribuição
Taxa de câmbio brasileira prejudica competitividade
Outro
Figura 1 – Dificuldades para Venda no Mercado Externo Fonte: Pesquisa de Campo.
Na confecção e na tecelagem a principal dificuldade para comercializar no mercado
externo refere-se ao preço final do produto. Os custos internos das firmas (mão de obra,
energia) e em alguns casos, reduzidas escalas de produção e níveis distintos de tecnologia
empregada (máquinas), fazem com que a competitividade em relação ao preço seja
diminuída. De acordo com o entrevistado da empresa Fiação e Tecidos Porto Alegrense, “ o
produto brasileiro é caro para os padrões do mercado internacional, e o ambiente
competitivo relacionado a baixa taxa de câmbio e a elevada carga tributária dificultam as
exportações. Além disso, a concorrência com os produtos de outros países como China e
demais Asiáticos é o principal empecilho para exportar.” Essa também é uma das
dificuldades para a venda no mercado interno, como mostrado na figura 2.
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Acirrada
concorrência
0%Falta de marca
própria
1%Alta carga tributária
55%
Concorrência de
produtos asiáticos
importados mais baratos
44%
Dificuldades para Venda no Mercado Interno
Acirrada concorrência
Falta de marca própria
Alta carga tributária
Concorrência de produtos asiáticos importados mais baratos
Figura 2 – Dificuldades para a Venda no Mercado Interno Fonte: Pesquisa de Campo
Dentre as dificuldades enfrentadas pelas empresas para as vendas no mercado
interno os motivos mais citados foram a elevada carga tributária, somada a concorrência de
produtos asiáticos mais baratos. O relato de um confeccionista sobre produtos importados
Chineses coloca que “o preço é totalmente sem comparação com o produto nacional, porém
o foco de clientes que eles (China) atingem é diferente do que a maioria das empresas do
Rio Grande do Sul tem interesse em atender. O cliente (lojista) que compra produtos de grife
e de maior valor agregado somente adquire um produto importado da China ou outro
Asiático se o custo e o forte apelo visual (qualidade) estiverem presentes no mesmo
produto”. Em relação à elevada carga tributária, tanto as tecelagens quanto as confecções
destacam esse agente como obstáculo a competitividade tanto a nível nacional como, em
parte, ao acesso no comércio internacional.
As empresas confeccionistas competem entre si em preços, qualidade (acabamento
e matéria-prima), design, marca e prazo de entrega, sendo que o preço e a qualidade são os
que se destacam. Apesar de muitos investimentos em termos de qualidade de produto e
design, o preço dos confeccionados ainda é um dos pontos relevantes, face a isso as
importações de produtos com preços menores vem aumentando.
Os elos de tecelagem e vestuário do Rio Grande do Sul têm buscado ajustar-se
diante das importações de produtos com valores reduzidos. A criação de uma ‘linguagem de
moda brasileira”, agregando ao produto características do país ao invés de copiar modelos
no exterior tem sido uma maneira atender às expectativas dos clientes. Outras medidas têm
sido adotadas como mostra a tabela 7.
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Fonte: Pesquisa de campo.
Para competir no mercado em que atuam, as confecções e tecelagens investiram no
design e na qualidade dos produtos, aumentaram o número de modelos oferecidos aos
clientes, modernizaram seu parque fabril, focaram em nichos de mercado não atendidos
pela concorrência chinesa e para diminuir custos, algumas subcontrataram algumas fases
ou peças fabricadas. Nas tecelagens ocorreu ainda a redução de custos de produção
através de ganhos de produtividade e redução da margem de rentabilidade da empresa.
A diferenciação tem sido a estratégia das empresas pesquisadas, onde a adoção de
melhorias na qualidade e no design do produto focados principalmente no acabamento, nas
matérias-primas e nos insumos com um apelo visual criativo, buscando adaptar-se aos
“gostos dos clientes, quer sejam lojistas ou consumidores finais”.
Entretanto, as empresas almejam que medidas sistêmicas sejam adotadas pelo
Governo, principalmente no que se refere à taxação e o estabelecimento de quotas de
importação para os produtos asiáticos. As tarifas aplicadas pelo Brasil são especificas para
cada Bloco Econômico. As importações provindas da União Européia são taxadas em 4,7%,
já as provenientes da ALCA sofrem taxação de 11,5% (MDIC, 2011). Em países da União
Européia (UE) a alíquota média para importação é de 18,9% e na ALCA 15,2%, ou seja,
bem superiores às aplicadas no Brasil.
As tarifas utilizadas entre os países do Mercosul (TEC) são compostas pelos
seguintes:
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a) fios, fibras e filamentos – 4%; 6%; 8%; 10% e 18%; (naturais ou químicas);
b) Tecidos no geral – 18% e 26%;
c) Tapetes e vestuário – 35%.
Além da taxação e estabelecimento de cotas, uma maior fiscalização no que se
refere aos preços dos produtos importados que entram no país, a diminuição da carga
tributária e burocracia interna, são outras medidas que as tecelagens e confecções do Rio
Grande do Sul apresentam como necessárias.
A estrutura produtiva e a relação com os fornecedores são analisadas nas tabelas 8.
Fonte: Pesquisa de Campo
A maioria das empresas (46%) produz internamente seus produtos, porém um
número relevante subcontrata no mercado interno algumas linhas de produção (31%), onde
o argumento para tal é a redução de custos com mão de obra. Das empresas analisadas,
duas delas (15%) afirmam importar algum tipo de produto da China, sendo uma do
segmento da tecelagem e a outra no de confecção. Questionadas sobre o motivo dessa
importação, a de tecelagem explicou que importa alguns tecidos em composição de
poliéster, viscose e acrílico, as compras são feitas por não possuir tecnologia (máquinas)
para produzir internamente e por ter sido analisada a necessidade de se adquirir esse tipo
de produto em seu portfólio de vendas. A firma de confecção coloca que para aumentar o
número de produtos oferecidos e para diminuir os custos de mão de obra, algumas peças
tem sido importadas da China.
Os fornecedores escolhidos pelas confecções são definidos através de alguns
critérios, tais como: Qualidade; Inovação; Confiabilidade; Preço. Nas empresas de
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tecelagem o critério relativo ao preço aparece em primeiro lugar, seguido da qualidade,
desempenho nas entregas, flexibilidade, proximidade e responsabilidade social e ambiental.
Questionadas sobre a escolha de um critério como sendo o principal, tanto na confecção
quanto na tecelagem foi destacada a importância da qualidade nas matérias-primas e nos
insumos e componentes.
Relativo aos custos de produção, a matéria-prima, os salários e os impostos são os
componentes que mais impactam no custo final dos produtos de confecções.
Fonte: Pesquisa de Campo
A estrutura de custos das empresas mostra que entre as tecelagens e as confecções
as diferenças em termos de percentual de custos está ligado ao nível tecnológico de cada
setor. Enquanto nas tecelagens o custo dos salários e encargos sociais é menor devido à
escala, as de confecção por serem intensivas em mão de obra, tem nos salários e demais
encargos trabalhistas 27,6% de custo na produção. A matéria-prima é outro fator
determinante dos custos na confecção com 31,9% do total.
Contudo o problema enfrentado pelas empresas estudadas não está somente com
os custos produtivos, mas também relaciona-se ao pessoal para ocupar os postos de
trabalho nas indústrias têxteis e de vestuário, como mostra a tabela 10.
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Fonte: Pesquisa de campo
Nas organizações estudadas, a falta de mão de obra qualificada é o principal
problema além da perda de pessoal para outras indústrias, como a metalúrgica e a
moveleira. A grande parcela é composta pelo gênero feminino, na confecção e na tecelagem
essa característica não se aplica, tendo homens e mulheres empregados. Os esforços
empreendidos para que o pessoal tenha qualificação têm sido realizados dentro das
empresas e através de cursos de qualificação em outros Estados, principalmente na
tecelagem. Conforme as informações de um dos entrevistados em uma das empresas de
tecelagem “o número de profissionais preparados é insuficiente para assumir postos de
trabalho na indústria têxtil, e poderá vir a ser um dos gargalos impeditivos de crescimento.
Um dos fatores responsáveis por essa situação, é que o empregado acredita que é
responsabilidade da empresa se preocupar com a mão de obra qualificada e para o
desempregado treinamento não é prioridade. Na outra ponta, a empresa busca o
empregado pronto. É um círculo vicioso”.
No Rio Grande do Sul as indústrias da cadeia têxtil-vestuário têm investido em
capacitação de diversas maneiras, de acordo com as necessidades, disponibilidades,
interesses e entendimento da dinâmica de funcionamento e perspectivas de mercado
(CASTILHOS, 1998). Em relação à inovação tecnológica, houveram mudanças em relação a
equipamentos, processos e produtos. Nas confecções pesquisadas houve significativos
avanços tecnológicos nas etapas de criação, desenho e corte, sendo que dos 11
respondentes, 5 utilizam na etapa de criação e 3 no corte. Na fase da costura, todas as
firmas pesquisadas destacaram atualizações em máquinas de costura. Contudo essas
inovações não contribuíram para que o parque produtivo do setor que atuam fosse julgado
como atualizado.
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Fonte: Pesquisa de Campo
Nas tecelagens, ocorre o contrário. O investimento em máquinas e equipamentos é
elevado, tanto em custo como em volume, e tem crescido nos últimos dez anos. Mas o setor
têxtil possui uma configuração diferente: o tempo de maturação do investimento é maior do
que em outras cadeias produtivas. Ao se adquirir um equipamento, ele continua sendo
competitivo cerca de cinco anos depois, fornecendo um fôlego para o retorno do
investimento. Segundo um dos entrevistados, “quem imagina a indústria têxtil – lanifícios
principalmente, como atrasada, está mal informado”. O aumento de produtividade
proporcionado pela aquisição de novos teares foi em torno de 30%, sem aumentar, com isso
as contratações de pessoal e, tendo inclusive queda no nível de emprego.
Assim, os esforços das empresas para competir no mercado, tanto nacional como
internacional voltam-se a investimentos em tecnologia, conhecimento e qualificação, e
principalmente na diferenciação de seus produtos, fatores necessários para a sobrevivência
das mesmas. Outro fator refere-se ao desempenho destas na indústria têxtil-vestuário e em
relação às articulações da cadeia para com o mercado e o governo na busca por políticas
(fiscal, financeira, trabalhista e comercial) objetivando a competição das firmas com os
demais países do mundo.
5 Considerações Finais
Considerando-se o objetivo proposto deste trabalho de identificar quais os ajustes e
estratégias foram adotadas pelas empresas da cadeia têxtil-vestuário do Estado do Rio
Grande do Sul após a abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente
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em relação à indústria chinesa, podem ser feitas algumas considerações acerca das
informações obtidas.
O resultado da pesquisa de campo evidenciou que, nas firmas analisadas, as
importações tiveram objetivos diversos, desde a redução de custos de manufatura até a
inserção de novos produtos, não fabricados internamente, no atual portfólio.
Em relação ao acesso ao mercado externo, a principal dificuldade se refere ao preço
dos produtos não ser competitivo, onde os custos internos das firmas (mão de obra, energia)
e em alguns casos, reduzidas escalas produtivas e níveis distintos de tecnologia empregada
(máquinas), fazem com que a competitividade em relação ao preço seja diminuída. Além
disso, a concorrência com os produtos de outros países como China e demais asiáticos é o
principal empecilho para as exportações.
Contudo, as empresas têm investido em design, na qualidade dos produtos, no
aumento de modelos oferecidos aos clientes, na modernização do parque fabril, focando em
nichos de mercado não atendidos pela concorrência chinesa e, para diminuir custos,
algumas subcontratam algumas fases ou peças fabricadas. Nas tecelagens ocorreu ainda a
redução de custos de produção através de ganhos de produtividade e redução da margem
de rentabilidade da empresa.
Assim, as estratégias das empresas de confecção, para minimizar o impacto da
concorrência chinesa, têm sido o foco na diferenciação, com a criação de uma “linguagem
de moda brasileira”, focando principalmente no acabamento, nas matérias-primas e nos
insumos, com um apelo visual criativo agregando aos produtos características do país ao
invés de somente copiar modelos no exterior, buscando atender às expectativas dos
clientes. Também, tem sido adotada como estratégia, principalmente pelas empresas têxteis
pesquisadas, a substituição ou inclusão no seu mix de produtos, em virtude de não
possuírem escala produtiva ou tecnologia para a fabricação, por produtos provindos do
mercado asiático, principalmente da China.
A cadeia têxtil-vestuário possui uma característica particular no que se refere ao
tamanho de plantas, mão de obra ocupada, tipo de matéria-prima utilizada e níveis
tecnológicos, em relação a outras cadeias produtivas. Devido a isso o estudo, focou-se em
empresas que utilizam a lã como matéria-prima principal, de micro, pequeno e médio portes
e no Estado do Rio Grande do Sul, devido ao tipo de matéria-prima utilizado. Dessa forma
as conclusões a que o estudo chega limitam-se a algumas firmas dentro da cadeia têxtil-
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vestuário, que possui uma ampla gama de empresas, que processam como fibra principal o
algodão no Brasil, em geral com estabelecimentos que empregam elevada mão de obra.
Assim, sugere-se para futuros estudos a análise dos impactos e das estratégias das
empresas na cadeia têxtil-vestuário em outras fibras, em especial o algodão, inclusive
estratificando quais produtos tem sido importados da China pelo Brasil.
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