a china na cadeia tÊxtil vestuÁrio: impactos e … · técnicas de pesquisa que foram utilizadas...

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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 A CHINA NA CADEIA TÊXTIL VESTUÁRIO: IMPACTOS E AJUSTES NAS EMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Achyles Barcelos da Costa 1 Nelton Carlos Conte 2 Valquiriria Carbonera Conte 3 Resumo: A cadeia têxtil-vestuário no Brasil tem passado por intensas transformações ocorridas com a abertura econômica e o aumento das importações, oriundas principalmente da China. No Rio Grande do Sul esse impacto tem se mostrado mais intenso a partir do ano de 2000. Diante desta problemática o presente estudo teve por objetivo identificar quais os ajustes e as estratégias que foram adotados pelas empresas da cadeia têxtil-vestuário do estado do Rio Grande do Sul diante da abertura do Brasil ao comércio internacional, principalmente em relação à indústria chinesa. Para responder ao objetivo principal deste estudo inicialmente foi investigada a participação da China no mercado têxtil-vestuário mundial no período de 1990 a 2009, através de dados de organismos internacionais (COMTRADE), onde evidenciou-se o aumento da participação da China no mercado mundial, colocando esse país como o principal exportador. Na sequência foi realizada uma pesquisa de campo através de aplicação de questionários para firmas de confecção e entrevistas com empresas de tecelagem. O principal impacto observado foi a redução de mão de obra empregada e o aumento das importações. As estratégias adotadas pelas empresas estudadas foram a diferenciação de produtos e a inclusão de produtos prontos, importados para aumentar o mix de artigos oferecidos aos clientes. Palavras-Chave: Cadeia têxtil-vestuário. China. Rio Grande do Sul. Estratégia Competitiva. 1 Economista. Doutor em Economia. Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2 Professor adjunto da Faculdade de Economia Administração e Contábeis UPF; Mestre em Desenvolvimento Regional UNISC; Doutorando em Desenvolvimento Regional UNISC. 3 Administradora. Mestre em Administração pela UNISINOS.

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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional

Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013

A CHINA NA CADEIA TÊXTIL – VESTUÁRIO: IMPACTOS E AJUSTES

NAS EMPRESAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Achyles Barcelos da Costa1 Nelton Carlos Conte2

Valquiriria Carbonera Conte3

Resumo: A cadeia têxtil-vestuário no Brasil tem passado por intensas transformações ocorridas com a abertura econômica e o aumento das importações, oriundas principalmente da China. No Rio Grande do Sul esse impacto tem se mostrado mais intenso a partir do ano de 2000. Diante desta problemática o presente estudo teve por objetivo identificar quais os ajustes e as estratégias que foram adotados pelas empresas da cadeia têxtil-vestuário do estado do Rio Grande do Sul diante da abertura do Brasil ao comércio internacional, principalmente em relação à indústria chinesa. Para responder ao objetivo principal deste estudo inicialmente foi investigada a participação da China no mercado têxtil-vestuário mundial no período de 1990 a 2009, através de dados de organismos internacionais (COMTRADE), onde evidenciou-se o aumento da participação da China no mercado mundial, colocando esse país como o principal exportador. Na sequência foi realizada uma pesquisa de campo através de aplicação de questionários para firmas de confecção e entrevistas com empresas de tecelagem. O principal impacto observado foi a redução de mão de obra empregada e o aumento das importações. As estratégias adotadas pelas empresas estudadas foram a diferenciação de produtos e a inclusão de produtos prontos, importados para aumentar o mix de artigos oferecidos aos clientes. Palavras-Chave: Cadeia têxtil-vestuário. China. Rio Grande do Sul. Estratégia Competitiva.

1 Economista. Doutor em Economia. Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS) 2 Professor adjunto da Faculdade de Economia Administração e Contábeis – UPF; Mestre em

Desenvolvimento Regional – UNISC; Doutorando em Desenvolvimento Regional – UNISC. 3 Administradora. Mestre em Administração pela UNISINOS.

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1 Introdução

Esse estudo aborda o impacto da China na cadeia têxtil – vestuário e as estratégias

que foram adotadas pelas empresas do Estado do Rio Grande do Sul para competirem e

sobreviverem no mercado.

As empresas da cadeia têxtil-vestuário estão passando, desde a última metade dos

anos de 1990, no Brasil, por inúmeras transformações, principalmente após a abertura do

mercado e o fim dos acordos têxteis, que regulavam até o ano de 2005, esse setor.

Além da abertura comercial, outros dois fatores influenciaram diretamente essa

indústria. O Acordo Multifibras - AMF (1974 a 1994), estabelecia quotas sobre as

exportações de países em desenvolvimento para países desenvolvidos; e o Acordo sobre

Têxteis e Vestuário – ATV (1995 a 2004), tinha como objetivo eliminar gradativamente o

sistema de quotas impostas aos países em desenvolvimento e integrar o comércio de

artigos têxteis às regras da Organização Mundial do Comércio - OMC. Assim, no ano de

2005 passou a vigorar a liberalização no comércio mundial do setor têxtil.

Com a exposição do Brasil à concorrência internacional, a cadeia têxtil-vestuário

perdeu participação no mercado devido a deficiências como capacitação tecnológica e

gerencial e pelo reduzido desempenho comercial da cadeia. Assim, cada região do Brasil,

na cadeia têxtil-vestuário buscou se ajustar diante dos padrões competitivos que a abertura

do mercado veio a proporcionar.

No estado do Rio Grande do Sul, as empresas da cadeia têxtil vestuário, antes da

abertura comercial, faziam uso das mesmas estratégias do restante do país, ou seja,

voltadas aos preços dos produtos e ao mercado doméstico. Essas empresas possuíam,

também, maquinário antigo, gestão deficiente e mão de obra com baixa qualificação. Devido

à distância em relação aos centros produtores do país, o Estado do Rio Grande do Sul teve

dificuldades maiores na obtenção de matéria-prima ao longo de sua história produtiva, na

cadeia têxtil-vestuário. Isso fez com que fossem internalizados alguns elos, como o de fios e

fibras naturais, buscando suprir a cadeia com insumos para a produção de manufaturas.

Assim, conforme Rangel (2008), houve um processo de reestruturação, onde as

etapas de produção da indústria têxtil brasileira tornaram-se independentes para se

ajustarem às novas condições de mercado e utilizar as vantagens oferecidas, o que

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conduziu a uma fragmentação dessa indústria. Dessa forma, as empresas, em qualquer elo

da cadeia, passaram a importar livremente e, dependendo dos preços relativos, recorrem às

importações, ao invés de produzir ou adquirir no mercado doméstico. O uso dessa postura

aumenta a relevância das atividades na ponta da comercialização fazendo com que as

empresas da cadeia tragam de outros países, em especial da China, os produtos ou

matérias-primas necessárias a competitividade do setor.

No que se refere aos produtos da China, esta tem adotado uma política agressiva

para a conquista de mercados externos. Segundo Costa e Rocha (2009), a estratégia é a da

concorrência via preços, com exportação de grandes volumes de produtos padronizados,

porém não necessariamente de baixa qualidade. Já o estudo do SENAI/CETIQT-RJ (2004),

realizado pelo Instituto de Prospecção Tecnológica e Mercadológica - IPTM, mostra que

produto Chinês por ser, em média, 6,5% mais barato em relação aos demais mercados,

possui estratégias de marketing que envolvem difusão, internacionalização e

reconhecimento da marca “Made in China”, além do empenho do Governo em fazer das

exportações de têxteis e vestuário, a principal atividade industrial e de emprego.

Diante do exposto, o problema que esse estudo pretende responder é: na cadeia

produtiva têxtil-vestuário, quais os ajustes e estratégias adotadas pelas empresas após a

abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente em relação à indústria

chinesa no Rio Grande do Sul?

Como objetivo Geral o estudo busca evidenciar quais os ajustes e estratégias

adotadas pelas empresas da cadeia têxtil – vestuário do Estado do Rio Grande do Sul após

a abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente em relação à indústria

chinesa.

2 Metodologia

Nesta seção, descrevem-se os procedimentos metodológicos e apresentam-se as

técnicas de pesquisa que foram utilizadas para a solução do problema proposto. A pesquisa

de campo realizada tem caráter Quantitativo-Qualitativa-Descritiva. Com o intuito de se

atingir os objetivos propostos neste trabalho, o método de pesquisa dividiu-se em três fases,

a primeira quantitativa e as duas últimas qualitativas.

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A população-alvo desta pesquisa foram empresas fabricantes de tecidos

(tecelagens) que utilizam a lã como matéria-prima principal e fabricantes de confecção em

tecidos planos (lã, poliéster, etc.), com cadastro na FIERGS/2009 (Cadastro das Indústrias,

Fornecedores e Serviços – RS/2009).

Na primeira fase, quantitativa, fez-se o levantamento de informações sobre a cadeia

têxtil-vestuário, com base em dados de organismos internacionais e nacionais. Inicialmente

foi investigada a participação da China no mercado têxtil-vestuário mundial no período de

1990 a 2009, através de dados de organismos internacionais (COMTRADE), onde foram

analisados os capítulos 50 a 63 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) que

englobam a cadeia desde os fios e filamentos até as confecções.

A segunda fase, qualitativa, corresponde à coleta de dados junto às empresas de

confecção do Estado do Rio Grande do Sul, através da aplicação de questionário. O objetivo

desta fase foi buscar informações sobre os impactos e as principais estratégias adotadas

por essas empresas em virtude da abertura econômica e do aumento das importações,

provenientes de muitos países, principalmente da China. O mesmo foi enviado, no mês de

março de 2011, para uma amostra de 31 empresas (9 empresas de fiação e tecelagem e 22

empresas de confecção). As empresas foram identificadas através do cadastro da

FIERGS/2009 (Cadastro das Indústrias, Fornecedores e Serviços – RS/2009). A escolha

das empresas para envio do questionário foi de forma intencional, baseada no

conhecimento de um dos pesquisadores que atua em uma empresa de confecção, onde os

principais critérios de seleção foram o tempo em que estas empresas atuam no mercado

(mais de 10 anos) e, por executarem todas as fazes de produção (compra de matéria-prima

e insumos, manufatura e comercialização). Dos 31 (trinta e um) questionários distribuídos,

13 deles foram respondidos, sendo 02 de empresas de fiação e tecelagem e 09 de

empresas de confecção, o que representa 42,94% validando assim a pesquisa.

Na última etapa, qualitativa, foi direcionada para aplicação de questionário e

entrevista com pessoas ligadas às empresas do setor de tecelagem do Estado do Rio

Grande do Sul. O objetivo desta fase foi compreender o processo produtivo e os ajustes e

estratégias utilizadas pelas firmas de tecelagem, permitindo conhecer todos os elos da

cadeia têxtil-vestuário. Fazendo uso de num roteiro de perguntas semi-estruturado, foram

realizadas as entrevistas com duas empresas. A primeira entrevista foi realizada na

Cooperativa Têxtil Galópolis - Cootegal, na cidade de Caxias do Sul/RS, tendo sido

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entrevistado o Presidente da empresa, em 16 de março de 2011, tendo a duração de 1:30h

(uma hora e meia). A segunda entrevista foi realizada na Cia. Fiação e Tecidos Porto

Alegrense – Fiateci, na cidade de Canoas/RS, tendo sido entrevistada a Gerente Comercial

da empresa, em 27 de maio de 2011, tendo a duração de 2h (duas horas).

3 A China no Comércio Internacional da Cadeia Têxtil - Vestuário

A globalização tem alterado a dinâmica de nações, de empresas e de indústrias e

isso é visto nas mudanças dos padrões de comércio internacional, onde novos players tem

se destacado nos mercados, particularmente os de origem asiática.

A participação da China no comércio mundial ao longo dos anos tem aumentado nos

mais variados setores da indústria, particularmente nos setores intensivos em mão de obra

como os da cadeia têxtil-vestuário. No caso dessa cadeia essa presença pode ser

observada desde antes do fim dos Acordos Multifibras e do relacionado a Têxteis e

Vestuário.

O Acordo Multifibras (AMF) foi negociado no ano de 1974 e teve a duração até o ano

de 1993. O Acordo objetivava o aumento do escopo de regulação e a provisão de uma

estrutura de regras e procedimentos nos quais os países desenvolvidos poderiam impor

restrições, protegendo, dessa forma o emprego de suas indústrias produtoras de têxtil e de

vestuário (Wohn, 2001).

Os efeitos do AMF sobre o comércio mundial em produtos têxteis e roupas foram

intensos. Ele limitou a taxa de crescimento das exportações dos países em desenvolvimento

e beneficiou países desenvolvidos como os Estados Unidos com um aumento de

penetração nos mercados europeus. Contudo no início dos anos de 1980, os produtores

europeus aumentaram consideravelmente sua penetração no mercado norte-americano

(DICKEN, 2009). Para contornar as restrições, definidas pelo aumento das limitações de

exportação, os países em desenvolvimento buscaram diversas soluções, segundo DICKEN

(2009, p. 285):

a) Um país produtor que tivesse alcançado o teto de sua quota em um produto alternaria para outro item.

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b) Era utilizada etiquetagem falsa para mudar o suposto país de origem (um ato ilegal).

c) As empresas realocavam uma parte de sua produção em países que não eram signatários do AMF ou cuja quota não tinha sido totalmente usada pelos produtores domésticos.

Devido a essas práticas setores inteiros de vestuário de alguns países em

desenvolvimento foram efetivamente criados em decorrência de quotas estipuladas pelo

AMF.

Contudo, a Rodada do Uruguai ao final da década de 1980, indicou que as

sucessivas prorrogações do AMF haviam se tornado complexas e sem nenhuma solução

que atendesse às disputas estabelecidas. Em 1995 a regulamentação do comércio em

produtos têxteis e roupas foi incorporada à Organização Mundial do Comércio (OMC). O

acordo garantia um período de transição (1995-2004) para um mercado livre, com redução

gradual de barreiras comerciais e com a sua extinção total em janeiro de 2005 (SEYOUM,

2007). Nesse ínterim os países desenvolvidos (Estados Unidos e União Européia) definiram

procedimentos de monitoramento e negociaram novas quotas de importação com a China

para continuarem em vigor até o ano de 2008. O fim desse acordo favoreceu os mercados

chinês e indiano, países mais competitivos em têxteis.

A cadeia têxtil-vestuário da China vem mostrando crescente participação no mercado

internacional através das exportações de seus produtos (fios, tecidos e vestuário em geral)

influenciado pelo estímulo do Governo Chinês4, e principalmente pelo seu baixo custo de

produção.

Quando se analisa o desempenho da China nas exportações mundiais dessas fibras

observa-se (Tabela 1) que a mesma, quando comparado com outros players, é responsável

por quase metade das vendas internacionais de seda, recuperou posição na lã de 1995 a

2009 e vem crescendo a sua participação no comércio de algodão e em filamentos

químicos: no primeiro, a sua participação saltou de 9,1% em 1990 para 23,9% em 2009,

enquanto os filamentos tiveram um acréscimo de 5,0% para 22,7% das exportações

mundiais entre 1990 e 2009.

4 Investimentos de valor significativo são feitos na infra estrutura: rodovias, ferrovias, aeroportos,

portos, além de linhas telefônicas fixas e móveis e internet. Planos quinquenais desenvolvem ações como: moeda desvalorizada e câmbio fixo; juros baixos, em torno de 2 a 3% ao ano; carga tributária em torno de 13% do valor do PIB e criação de Câmara de Comércio para Importação e Exportação de Têxteis da China (CCCT).

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O segundo elo ou segmento da cadeia têxtil-vestuário, é representado pela

tecelagem ou malharia. Na tabela 2, é analisado a participação das exportações da China

em relação ao total exportado pelo mundo e os principais países importadores de tecidos

oriundos da China e os players mundiais.

A produção de tecidos assim como de confecções possui fatores que auxiliam a

elevada produtividade da China. Sua mão de obra abundante e de baixo custo em

comparação aos outros países que atuam no mercado de exportação beneficia a China em

sua produtividade.

Além do custo da mão de obra, a energia também é de baixo custo e o suprimento

de matérias-primas e outros insumos oriundos de uma completa cadeia produtiva, produz

não somente as matérias-primas primárias (fibras e fios) mas também os tecidos,

acessórios, produtos químicos e outros itens importantes. Essa situação difere daquela de

muitos concorrentes que não possuem a cadeia produtiva completa e dependem de

contínuas importações.

Na análise da participação da China nas exportações de tecidos fica evidenciada a

sua condição de principal exportadora, nos três tipos de tecido, no ano de 2009, com uma

participação de 31,2% do mercado de tecidos especiais, 22,4% dos tecidos impregnados, e

29,5% do tecido de malha.

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Por fim, a confecção, representa o terceiro elo da cadeia têxtil-vestuário. Neste elo,

segundo estudo do SENAI; CETIQT e IPTM (2004), a China se destaca pela elevada e

diversificada oferta em termos de especificações e variedades nos produtos. A mesma pode

produzir todos os tipos de têxteis e confecções desde os básicos até os de moda. As firmas

chinesas oferecem serviços de maior valor agregado, reagem rapidamente às mudanças da

moda e às demandas dos varejistas, atendendo aos padrões de produtos de uma forma

melhor do que a dos fornecedores de outras partes do mundo. Essa vantagem pode ser

vista na indústria de vestuário, onde os países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e

outros têm buscado produtos para abastecer as redes de varejo.

De acordo com Dicken (2009), tem ocorrido uma grande mudança global na indústria

do vestuário, onde ocorre um distanciamento dos produtores já estabelecidos há muito

tempo em direção a novos produtores em desenvolvimento principalmente Ásia, México e

Leste Europeu. O domínio da Ásia, principalmente da China, como fonte de exportação de

roupas, fica evidente na tabela 3.

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A China aparece como principal exportadora mundial de vestuário, nos três

segmentos, com uma participação em torno de 36%. O comportamento das exportações

mostra que a China é o principal exportador no segmento de outros confeccionados com

exportações de US$ 16,8 bilhões (40,7%), seguido pela Índia com US$ 2,3 bilhões (5,6%) e

da Alemanha, com US$ 2 bilhões (4,8%) do total exportado pelo mundo. O vestuário em

malha é o segundo segmento em que a China ocupa a primeira colocação, com cerca de

US$ 53,7 bilhões exportados em 2009 (36,3%), seguido da Itália com US$ 7 bilhões (4,8%)

e da Turquia US$ 6,9 bilhões (4,7%). China (31,4%), Itália (7,5%) e Alemanha (5,8%) são os

países que mais exportaram no segmento de vestuário em não malha.

No setor do vestuário, o circuito de produção tem sido cada vez mais dominado pelas

políticas de compra das grandes cadeias de varejo. A isso se deve a participação intensa

dos Estados Unidos, Japão e Alemanha como os principais importadores da China. Os

maiores varejistas são, Seyoum (2007):

Estados Unidos: Wal-Mart, Sears, J.C. Penney, Dayton Hudson;

Japão: Daiei, Mitsukoshi, Daimaru e Ito Yokado;

Alemanha: Karstadt, Kaufthof, Schickendanz;

Holanda: C&A;

França: Carrefour;

Grã-Bretanha: Marks and Spencer e Tesco.

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O fato de a China mostrar maior participação, em relação aos demais países possui,

implicações no poder de compra altamente concentrado nas grandes cadeias de varejo.

Quando o mercado era dominado pelos varejistas do mercado de massa, a demanda era

direcionada para os longos ciclos de produção de roupas padronizadas a baixo custo. À

medida que o mercado ficou mais diferenciado, e as mudanças mais freqüentes na moda,

os fabricantes viram-se forçados a reagir de forma mais ágil às demandas do varejo. Assim,

a China como descrito anteriormente configura-se como um fornecedor em potencial, pois o

tempo para o atendimento dos pedidos é tão importante quanto o custo oferecido por esse

país na produção de manufaturados (DICKEN, 2009).

Para ajustar-se as características presentes no mercado, países como Estados

Unidos, Japão e alguns países da Europa buscaram estratégias para enfrentar a

concorrência. De um modo geral as empresas pertencentes a esses países mudaram suas

estratégias relativas a novas tecnologias na manufatura e nos sistemas gerenciais, bem

como em novos relacionamentos entre fornecedores e clientes. As principais segundo

Seyoum (2007), Dicken (2009), Gereffi (2001) são os seguintes:

Especialização em marketing de nichos, visando enfrentar os baixos preços dos produtos importados;

Inovação e criatividade no desenvolvimento de produtos;

Customização de massa, buscando com isso melhorar a diferenciação dos manufaturados;

Redes de cadeia de suprimentos e sourcing global, visando uma produtividade maior em termos de custo;

Uso da modalidade “full package” – pacote completo, estratégia de diferenciação já implementada na China assegurando o sourcing nas fábricas chinesas para o fornecimento de roupas prontas;

As estratégias adotadas pelos produtores da cadeia têxtil-vestuário são

“extremamente complexas e diversificadas”. As combinações de inovação tecnológica,

diferentes tipos de estratégias de internacionalização, o relacionamento com os varejistas

formam uma combinação para gerar um mapa global de produção e comércio mais

complexo do que a simples explicação baseada nas diferenças de custos de mão de obra,

fator esse característico da China.

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4 Estratégias Competitivas do Segmento Têxtil – Vestuário do Estado do Rio

Grande do Sul

As indústrias têxteis e de vestuário do Rio Grande do Sul possuem características

diversas. Desde os tipos de fibras e filamentos que empregam na produção, nos tecidos e

confecções fabricados, bem como no tamanho relativo de suas empresas quando

comparado com o de suas congêneres nacionais. Nos anos de 1990 as firmas processavam

basicamente fibras de lã, de algodão e algumas fibras sintéticas. Contudo esse padrão não

se manteve devido às mudanças por demanda de tecidos mistos de fibra natural e

filamentos químicos.

As crescentes importações do Estado, tanto no segmento de tecelagem como o de

confecção colaboram para a redução de custos de matéria-prima, visto que outro fator que

agrega maiores valores no final do produto, além da mão de obra, é a energia, havendo

dificuldade na diminuição de preços desse insumo. Na tabela 4 são apresentados os valores

importados pela cadeia têxtil-vestuário do Rio Grande do Sul.

O fato de muitas empresas de pequeno porte (tecelagens e confecções) não terem

uma escala produtiva maior faz com que a importação de tecidos ou peças prontas venha a

suprir essa demanda. Algumas tem feito uso dessa estratégia no intuito de agregar um

produto ao seu mix atual, ou reduzir custos. Outro fator refere-se a falta de tecnologia de

algumas firmas para a manufatura de determinado produto, vindo esse a ser importado. O

principal país pelos quais as firmas tem optado para atingir essas estratégias é a China.

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Do total de US$ 131,5 milhões importados pelo Rio Grande do Sul, cerca de 45,5%

são originários da China, seguido da Argentina (13,8%), Uruguai e Itália (4,6%), Chile (1,9%)

e Bangladesh (0,4%), no ano de 2010.

O maior valor em importações do mercado Chinês encontra-se no segmento de

tecidos, que correspondeu a US$ 29,2 milhões em 2010. Tal opção vem ao encontro da

estratégia mostrada anteriormente, que vem sendo adotadas pelas empresas para reduzir

custos gerais de manufatura, em busca de maior competitividade. As importações de

confecções, tem se concentrado no mercado Chinês com 77,3% do total importado. A opção

por comprar no exterior ao invés de produzir dentro da empresa visa a obtenção de ganhos

de lucratividade e a aquisição de produtos que as empresas nacionais não têm em seu mix.

Um exemplo refere-se a importação de confecções masculinas e femininas em tecido

sintético (sobretudos masculinos e mantôs femininos). As empresas do Rio Grande do Sul

manufaturam esse produto em lã, sendo esses de maior valor agregado. Os que

normalmente tem sido importados possuem qualidade, mas um custo menor que o fabricado

em fibra natural. A evolução das importações da China pelo Rio Grande do Sul,

principalmente a partir de 1995, é mostrada na tabela 5.

Como a incidência nesses elos, no Rio Grande do Sul, são de empresas de pequeno

porte e com os problemas característicos dessas firmas (escassez de financiamento para

capital de giro e para a aquisição de máquinas modernas, pequena escala de produção que

afeta tanto o relacionamento com fornecedor de matéria-prima como com os clientes, entre

outros problemas), a criação de pólos de confecção tem exercido papel importante tanto na

obtenção de tecnologia nas fases do processo produtivo (uso comum de CAD) quanto na

compra de produtos e matérias-primas importados. Contudo, no estudo realizado nas

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empresas, são poucas as que encontram-se ligadas a algum pólo ou associação que as

auxilie na obtenção de condições de competir no mercado atual.

Com o objetivo de verificar a capacidade das empresas gaúchas em se adaptar a

essas mudanças, os questionários enviados para as firmas, que compõem a amostra deste

estudo, buscaram, identificar quais foram às estratégias adotadas pelo segmento de

tecelagem e de confecções para competir no cenário atual.

Nas empresas de confecção estudadas, as principais linhas de produtos

manufaturadas são casacos em lã femininos (60%), de veludo masculinos (30%), linha

social masculina e feminina (10%). Os produtos levam entre cinco e seis meses para serem

desenvolvidos, na maioria das empresas pesquisadas, para depois chegarem ao mercado.

Na tecelagem, entre as empresas estudadas, uma das empresas destina 62% para a

linha de decoração/revestimento, 37% na linha moda/vestuário e 1% de tecidos para bilhar.

A outra firma destina 90% na linha moda/lar e 10% para decoração. Em entrevista nas

empresas de tecelagem, a sazonalidade presente nesse elo vai de setembro a março, na

linha de moda e a linha de revestimento não possui essa peculiaridade mantendo a

produção ao longo de todo o ano.

Em uma das tecelagens a linha de produção fabricada no ano de 2000 era a de

vestuário/moda. Em dez anos a produção dessa linha diminuiu, passando a ser o segundo

produto manufaturado na empresa. A causa dessa mudança deveu-se a migração de

compras feitas por grandes lojas de departamentos como Renner, entre outras, para a

negociação de compras de tecidos diretos da China. As compras antes realizadas entre a

tecelagem e as lojas de departamentos não se concretizando fizeram com que a firma

migrasse sua produção para a linha de revestimentos, mantendo, assim sua capacidade

produtiva. Assim, as vendas antes realizadas para lojas de departamentos passaram a ter

outro foco como pode ser visto na distribuição das vendas na tabela 6.

Fonte: Pesquisa de Campo

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Notas: (*) E1 a E11 – empresas de confecção;

A distribuição das vendas no segmento de confecção analisado concentra-se

prioritariamente ao lojista, apesar de algumas já atuarem com vendas diretas ao

consumidor, através de lojas próprias. Todas as firmas (tecelagem e confecção) têm suas

vendas concentradas no mercado interno. Em apenas uma delas ocorreu exportações, em

períodos anteriores, para os Estados Unidos e países do Mercosul, porém, atualmente essa

organização está voltada ao mercado nacional.

O fato de as empresas estudadas não exportarem seus produtos levanta várias

questões dentre as quais as principais são elencadas na figura 1.

30%

10%

20%

10%

30%

Dificuldades para Venda no Mercado Externo

Preço não competitivo no mercado externo

Dificuldade de acesso ao mercado e consumidores

Dificuldade de acesso a canais de distribuição

Taxa de câmbio brasileira prejudica competitividade

Outro

Figura 1 – Dificuldades para Venda no Mercado Externo Fonte: Pesquisa de Campo.

Na confecção e na tecelagem a principal dificuldade para comercializar no mercado

externo refere-se ao preço final do produto. Os custos internos das firmas (mão de obra,

energia) e em alguns casos, reduzidas escalas de produção e níveis distintos de tecnologia

empregada (máquinas), fazem com que a competitividade em relação ao preço seja

diminuída. De acordo com o entrevistado da empresa Fiação e Tecidos Porto Alegrense, “ o

produto brasileiro é caro para os padrões do mercado internacional, e o ambiente

competitivo relacionado a baixa taxa de câmbio e a elevada carga tributária dificultam as

exportações. Além disso, a concorrência com os produtos de outros países como China e

demais Asiáticos é o principal empecilho para exportar.” Essa também é uma das

dificuldades para a venda no mercado interno, como mostrado na figura 2.

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Acirrada

concorrência

0%Falta de marca

própria

1%Alta carga tributária

55%

Concorrência de

produtos asiáticos

importados mais baratos

44%

Dificuldades para Venda no Mercado Interno

Acirrada concorrência

Falta de marca própria

Alta carga tributária

Concorrência de produtos asiáticos importados mais baratos

Figura 2 – Dificuldades para a Venda no Mercado Interno Fonte: Pesquisa de Campo

Dentre as dificuldades enfrentadas pelas empresas para as vendas no mercado

interno os motivos mais citados foram a elevada carga tributária, somada a concorrência de

produtos asiáticos mais baratos. O relato de um confeccionista sobre produtos importados

Chineses coloca que “o preço é totalmente sem comparação com o produto nacional, porém

o foco de clientes que eles (China) atingem é diferente do que a maioria das empresas do

Rio Grande do Sul tem interesse em atender. O cliente (lojista) que compra produtos de grife

e de maior valor agregado somente adquire um produto importado da China ou outro

Asiático se o custo e o forte apelo visual (qualidade) estiverem presentes no mesmo

produto”. Em relação à elevada carga tributária, tanto as tecelagens quanto as confecções

destacam esse agente como obstáculo a competitividade tanto a nível nacional como, em

parte, ao acesso no comércio internacional.

As empresas confeccionistas competem entre si em preços, qualidade (acabamento

e matéria-prima), design, marca e prazo de entrega, sendo que o preço e a qualidade são os

que se destacam. Apesar de muitos investimentos em termos de qualidade de produto e

design, o preço dos confeccionados ainda é um dos pontos relevantes, face a isso as

importações de produtos com preços menores vem aumentando.

Os elos de tecelagem e vestuário do Rio Grande do Sul têm buscado ajustar-se

diante das importações de produtos com valores reduzidos. A criação de uma ‘linguagem de

moda brasileira”, agregando ao produto características do país ao invés de copiar modelos

no exterior tem sido uma maneira atender às expectativas dos clientes. Outras medidas têm

sido adotadas como mostra a tabela 7.

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Fonte: Pesquisa de campo.

Para competir no mercado em que atuam, as confecções e tecelagens investiram no

design e na qualidade dos produtos, aumentaram o número de modelos oferecidos aos

clientes, modernizaram seu parque fabril, focaram em nichos de mercado não atendidos

pela concorrência chinesa e para diminuir custos, algumas subcontrataram algumas fases

ou peças fabricadas. Nas tecelagens ocorreu ainda a redução de custos de produção

através de ganhos de produtividade e redução da margem de rentabilidade da empresa.

A diferenciação tem sido a estratégia das empresas pesquisadas, onde a adoção de

melhorias na qualidade e no design do produto focados principalmente no acabamento, nas

matérias-primas e nos insumos com um apelo visual criativo, buscando adaptar-se aos

“gostos dos clientes, quer sejam lojistas ou consumidores finais”.

Entretanto, as empresas almejam que medidas sistêmicas sejam adotadas pelo

Governo, principalmente no que se refere à taxação e o estabelecimento de quotas de

importação para os produtos asiáticos. As tarifas aplicadas pelo Brasil são especificas para

cada Bloco Econômico. As importações provindas da União Européia são taxadas em 4,7%,

já as provenientes da ALCA sofrem taxação de 11,5% (MDIC, 2011). Em países da União

Européia (UE) a alíquota média para importação é de 18,9% e na ALCA 15,2%, ou seja,

bem superiores às aplicadas no Brasil.

As tarifas utilizadas entre os países do Mercosul (TEC) são compostas pelos

seguintes:

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a) fios, fibras e filamentos – 4%; 6%; 8%; 10% e 18%; (naturais ou químicas);

b) Tecidos no geral – 18% e 26%;

c) Tapetes e vestuário – 35%.

Além da taxação e estabelecimento de cotas, uma maior fiscalização no que se

refere aos preços dos produtos importados que entram no país, a diminuição da carga

tributária e burocracia interna, são outras medidas que as tecelagens e confecções do Rio

Grande do Sul apresentam como necessárias.

A estrutura produtiva e a relação com os fornecedores são analisadas nas tabelas 8.

Fonte: Pesquisa de Campo

A maioria das empresas (46%) produz internamente seus produtos, porém um

número relevante subcontrata no mercado interno algumas linhas de produção (31%), onde

o argumento para tal é a redução de custos com mão de obra. Das empresas analisadas,

duas delas (15%) afirmam importar algum tipo de produto da China, sendo uma do

segmento da tecelagem e a outra no de confecção. Questionadas sobre o motivo dessa

importação, a de tecelagem explicou que importa alguns tecidos em composição de

poliéster, viscose e acrílico, as compras são feitas por não possuir tecnologia (máquinas)

para produzir internamente e por ter sido analisada a necessidade de se adquirir esse tipo

de produto em seu portfólio de vendas. A firma de confecção coloca que para aumentar o

número de produtos oferecidos e para diminuir os custos de mão de obra, algumas peças

tem sido importadas da China.

Os fornecedores escolhidos pelas confecções são definidos através de alguns

critérios, tais como: Qualidade; Inovação; Confiabilidade; Preço. Nas empresas de

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tecelagem o critério relativo ao preço aparece em primeiro lugar, seguido da qualidade,

desempenho nas entregas, flexibilidade, proximidade e responsabilidade social e ambiental.

Questionadas sobre a escolha de um critério como sendo o principal, tanto na confecção

quanto na tecelagem foi destacada a importância da qualidade nas matérias-primas e nos

insumos e componentes.

Relativo aos custos de produção, a matéria-prima, os salários e os impostos são os

componentes que mais impactam no custo final dos produtos de confecções.

Fonte: Pesquisa de Campo

A estrutura de custos das empresas mostra que entre as tecelagens e as confecções

as diferenças em termos de percentual de custos está ligado ao nível tecnológico de cada

setor. Enquanto nas tecelagens o custo dos salários e encargos sociais é menor devido à

escala, as de confecção por serem intensivas em mão de obra, tem nos salários e demais

encargos trabalhistas 27,6% de custo na produção. A matéria-prima é outro fator

determinante dos custos na confecção com 31,9% do total.

Contudo o problema enfrentado pelas empresas estudadas não está somente com

os custos produtivos, mas também relaciona-se ao pessoal para ocupar os postos de

trabalho nas indústrias têxteis e de vestuário, como mostra a tabela 10.

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Fonte: Pesquisa de campo

Nas organizações estudadas, a falta de mão de obra qualificada é o principal

problema além da perda de pessoal para outras indústrias, como a metalúrgica e a

moveleira. A grande parcela é composta pelo gênero feminino, na confecção e na tecelagem

essa característica não se aplica, tendo homens e mulheres empregados. Os esforços

empreendidos para que o pessoal tenha qualificação têm sido realizados dentro das

empresas e através de cursos de qualificação em outros Estados, principalmente na

tecelagem. Conforme as informações de um dos entrevistados em uma das empresas de

tecelagem “o número de profissionais preparados é insuficiente para assumir postos de

trabalho na indústria têxtil, e poderá vir a ser um dos gargalos impeditivos de crescimento.

Um dos fatores responsáveis por essa situação, é que o empregado acredita que é

responsabilidade da empresa se preocupar com a mão de obra qualificada e para o

desempregado treinamento não é prioridade. Na outra ponta, a empresa busca o

empregado pronto. É um círculo vicioso”.

No Rio Grande do Sul as indústrias da cadeia têxtil-vestuário têm investido em

capacitação de diversas maneiras, de acordo com as necessidades, disponibilidades,

interesses e entendimento da dinâmica de funcionamento e perspectivas de mercado

(CASTILHOS, 1998). Em relação à inovação tecnológica, houveram mudanças em relação a

equipamentos, processos e produtos. Nas confecções pesquisadas houve significativos

avanços tecnológicos nas etapas de criação, desenho e corte, sendo que dos 11

respondentes, 5 utilizam na etapa de criação e 3 no corte. Na fase da costura, todas as

firmas pesquisadas destacaram atualizações em máquinas de costura. Contudo essas

inovações não contribuíram para que o parque produtivo do setor que atuam fosse julgado

como atualizado.

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Fonte: Pesquisa de Campo

Nas tecelagens, ocorre o contrário. O investimento em máquinas e equipamentos é

elevado, tanto em custo como em volume, e tem crescido nos últimos dez anos. Mas o setor

têxtil possui uma configuração diferente: o tempo de maturação do investimento é maior do

que em outras cadeias produtivas. Ao se adquirir um equipamento, ele continua sendo

competitivo cerca de cinco anos depois, fornecendo um fôlego para o retorno do

investimento. Segundo um dos entrevistados, “quem imagina a indústria têxtil – lanifícios

principalmente, como atrasada, está mal informado”. O aumento de produtividade

proporcionado pela aquisição de novos teares foi em torno de 30%, sem aumentar, com isso

as contratações de pessoal e, tendo inclusive queda no nível de emprego.

Assim, os esforços das empresas para competir no mercado, tanto nacional como

internacional voltam-se a investimentos em tecnologia, conhecimento e qualificação, e

principalmente na diferenciação de seus produtos, fatores necessários para a sobrevivência

das mesmas. Outro fator refere-se ao desempenho destas na indústria têxtil-vestuário e em

relação às articulações da cadeia para com o mercado e o governo na busca por políticas

(fiscal, financeira, trabalhista e comercial) objetivando a competição das firmas com os

demais países do mundo.

5 Considerações Finais

Considerando-se o objetivo proposto deste trabalho de identificar quais os ajustes e

estratégias foram adotadas pelas empresas da cadeia têxtil-vestuário do Estado do Rio

Grande do Sul após a abertura do comércio brasileiro ao mercado mundial, principalmente

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em relação à indústria chinesa, podem ser feitas algumas considerações acerca das

informações obtidas.

O resultado da pesquisa de campo evidenciou que, nas firmas analisadas, as

importações tiveram objetivos diversos, desde a redução de custos de manufatura até a

inserção de novos produtos, não fabricados internamente, no atual portfólio.

Em relação ao acesso ao mercado externo, a principal dificuldade se refere ao preço

dos produtos não ser competitivo, onde os custos internos das firmas (mão de obra, energia)

e em alguns casos, reduzidas escalas produtivas e níveis distintos de tecnologia empregada

(máquinas), fazem com que a competitividade em relação ao preço seja diminuída. Além

disso, a concorrência com os produtos de outros países como China e demais asiáticos é o

principal empecilho para as exportações.

Contudo, as empresas têm investido em design, na qualidade dos produtos, no

aumento de modelos oferecidos aos clientes, na modernização do parque fabril, focando em

nichos de mercado não atendidos pela concorrência chinesa e, para diminuir custos,

algumas subcontratam algumas fases ou peças fabricadas. Nas tecelagens ocorreu ainda a

redução de custos de produção através de ganhos de produtividade e redução da margem

de rentabilidade da empresa.

Assim, as estratégias das empresas de confecção, para minimizar o impacto da

concorrência chinesa, têm sido o foco na diferenciação, com a criação de uma “linguagem

de moda brasileira”, focando principalmente no acabamento, nas matérias-primas e nos

insumos, com um apelo visual criativo agregando aos produtos características do país ao

invés de somente copiar modelos no exterior, buscando atender às expectativas dos

clientes. Também, tem sido adotada como estratégia, principalmente pelas empresas têxteis

pesquisadas, a substituição ou inclusão no seu mix de produtos, em virtude de não

possuírem escala produtiva ou tecnologia para a fabricação, por produtos provindos do

mercado asiático, principalmente da China.

A cadeia têxtil-vestuário possui uma característica particular no que se refere ao

tamanho de plantas, mão de obra ocupada, tipo de matéria-prima utilizada e níveis

tecnológicos, em relação a outras cadeias produtivas. Devido a isso o estudo, focou-se em

empresas que utilizam a lã como matéria-prima principal, de micro, pequeno e médio portes

e no Estado do Rio Grande do Sul, devido ao tipo de matéria-prima utilizado. Dessa forma

as conclusões a que o estudo chega limitam-se a algumas firmas dentro da cadeia têxtil-

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vestuário, que possui uma ampla gama de empresas, que processam como fibra principal o

algodão no Brasil, em geral com estabelecimentos que empregam elevada mão de obra.

Assim, sugere-se para futuros estudos a análise dos impactos e das estratégias das

empresas na cadeia têxtil-vestuário em outras fibras, em especial o algodão, inclusive

estratificando quais produtos tem sido importados da China pelo Brasil.

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