a china como um novo mercado de fonte de turismo ... · introdução gavin menzies, em ... que...

39
A China como um novo mercado de fonte de turismo - Oportunidades e Desafios para Agências de Viagens e Turismo Brasileiras Prof. Dr. Wolfgang Georg Arlt Universidade West Coast de Ciências Aplicadas Heide/Alemanha Índice 1. Introdução 2. Evolução do Turismo Mundial de Tráfego Unidirecional para Tráfego Bidirecional 3. Turismo Emissivo na China Moderna 4. Comportamento de Turistas Chineses em Diferentes Ambientes 5. Lacunas de Conhecimento e Diferenças Interculturais 6. Destino: Américas 7. Destino: Brasil 8. Oportunidades e Desafios da Indústria Brasileira do Turismo 9. Bibliografia Contato: [email protected] , www.china-outbound.com

Upload: truongthuan

Post on 14-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A China como um novo mercado de fonte de turismo -Oportunidades e Desafios para Agências de Viagens e Turismo Brasileiras

Prof. Dr. Wolfgang Georg ArltUniversidade West Coast de Ciências Aplicadas Heide/Alemanha

Índice1. Introdução2. Evolução do Turismo Mundial de Tráfego Unidirecional para Tráfego Bidirecional 3. Turismo Emissivo na China Moderna 4. Comportamento de Turistas Chineses em Diferentes Ambientes 5. Lacunas de Conhecimento e Diferenças Interculturais 6. Destino: Américas7. Destino: Brasil8. Oportunidades e Desafios da Indústria Brasileira do Turismo 9. Bibliografia

Contato: [email protected], www.china-outbound.com

1. Introdução

Gavin Menzies, em seu best-seller mundial “1421: The Year China Discovered the World”, sustenta que uma frota de navios chineses, sob o comando do Almirante Zheng He, visitou o Brasil durante uma longa viagem realizada entre 1421-1423 (Menzies 2002), tornando os chineses os primeiros turistas a visitarem essa bela parte do mundo. Verdade ou não, é inquestionável o fato de que hoje, no século XXI, os descendentes dos marinheiros chineses do século XV estão começando a viajar para países estrangeiros em números cada vez maiores.

Entretanto, a oportunidade de viajar para o exterior como turista, apenas muito recentemente se tornou uma realidade para os cidadãos da República Popular da China. O número de viajantes chineses para o exterior ultrapassou a marca dos 10 milhões somente no início do novo milênio e, mesmo em 2007, menos de 3% dos chineses continentais já haviam cruzado uma fronteira em toda a sua vida. Entretanto, a idéia de viagens internacionais, especialmente intercontinentais, como forma de ascensão social e ampliação das perspectivas do indivíduo, enraizou-se na mente dos consumidores chineses mais abastados.

A China já é o maior mercado turístico da Ásia, e os chineses atualmente ocupam a sexta posição entre os povos que mais gastam com o turismo internacional. Assim, tornou-se uma necessidade para todos os grandes destinos turísticos procurar entender o desenvolvimento do mercado de Turismo Emissivo Chinês, bem como as motivações e os comportamentos dos turistas chineses e, conseqüentemente, adotar suas ofertas e estratégias de marketing, a fim de aproveitar esse novo mercado emergente (Arlt 2005a). Isso é particularmente verdadeiro numa época em que a primeira onda de entusiasmo e expectativas excessivamente otimistas do início da década sucumbiu a uma visão mais realista não apenas no que se refere às oportunidades, mas também às tarefas a serem cumpridas pelos locais de destino, a fim de permitir que essas oportunidades se traduzam numa realidade sustentável.

O texto a seguir buscará oferecer alguns conhecimentos sobre a posição do turismo emissivo chinês no contexto do desenvolvimento do turismo global e da história recente da mobilidade do povo chinês para fora do país, especialmente para as Américas, seguido de uma visão sistemática do comportamento dos turistas chineses em diferentes ambientes. Algumas observações mais específicas sobre o Brasil serão acrescentadas antes de discutirmos como os operadores de turismo sul-americanos podem se posicionar na corrente principal de turistas chineses que viajam para o exterior – algo que, muito provavelmente, continuará a fluir e crescer ainda por muitos anos.

O texto se baseia, por um lado, nas experiências pessoais do autor, que operou uma agência de turismo receptivo para visitantes chineses na Europa, na década de 1990 e que, na qualidade de consultor, vem ajudando destinos e empresas a atrair turistas chineses. Por outro lado, o texto se baseia em muitos anos de pesquisas científicas do autor, como professor de economia e gestão turística em universidades alemãs e professor visitante na Grã-Bretanha e na China, além de diretor do China Tourism Research Institute.

2. Evolução do Turismo Mundial: de Unidirecional para Bidirecional

Na segunda metade do século XX, o turismo internacional se tornou um fenômeno de massa. Hoje, o turismo é a maior fonte mundial de geração de PIB e criação de empregos e está cada vez mais dando uma nova forma ao mundo, impulsionando a globalização e por ela sendo impulsionado simultaneamente, em crescente importância do turismo global.

Até recentemente, o tráfego unidirecional do turismo internacional refletia até certo ponto as antigas divisões coloniais do mundo, nos papéis de visitantes e visitados. O novo século, entretanto, antecipou um novo tráfego bidirecional, com a metade asiática da humanidade entrando no estágio do turismo global, na qualidade de turista, em números que não param de crescer.

Figura 1: Chegadas de Turistas Internacionais por Região - 1950-20051

Tradução do gráfico:

International Tourist Arrivals, 1950 – 2005* = Chegadas de Turistas Internacionais, 1950-2005*Middle East – Oriente MédioAfrica – ÁfricaAsia e the Pacific = Ásia e Região do PacíficoAmericas – AméricasEurope - Europa Million - milhões

A região da Ásia-Pacífico não apenas começou a se tornar o segundo destino mais importante depois da Europa (como mostra a Figura 1), mas em 2002 também ultrapassou as Américas com a segunda região mais importante na geração de turistas internacionais. Seu peso relativo na duplicação prevista de viagens

1 Fonte: OMT/ONU, 2007

internacionais dos atuais 800 milhões para 1,6 bilhão até 2020 deverá aumentar ainda mais.

Tabela 1: Turismo Emissivo por Região Geradora2

Turismo Emissivo por Região Geradora (inclui estimativas para países sobre os quais não há dados disponíveis)

Chegadas de Turistas Internacionais(milhões)

Mudança (%)

Participação

(%)1990 1995 2000 2001 200

22003 200

42003/

022004*/

032004*

Mundo 441,0 538,1 680,4 680,4 700,4

689,7 763,2

-1,5 10,7 100

De:Europa 252,5 307,2 390,4 390,4 401,

6406,7 431,

31,3 6,0 56,5

Ásia-Pacífico 59,8 88,8 118,3 120,6 130,8

120,6 151,2

-7,8 25,4 19,8

Américas 99,3 108,0 130,7 125,5 121,2

115,4 127,7

-4,8 10,6 16,7

Oriente Médio 8,5 10,4 15,2 16,3 18,3 17,9 22,0 -2,0 22,8 2,9África 9,9 13,0 16,5 16,5 17,6 17,6 18,2 -0,2 3,8 2,4Origem não especificada*

11,1 10,8 10,5 11,2 10,9 11,6 12,8 1,7

Mesma região 351,9 430,5 537,9 546,0 566,8

560,2 617,2

-1,2 10,2 80,9

Outras regiões 78,0 96,8 132,2 123,3 122,7

118,0 133,2

-3,9 12,9 17,5

Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT) © (Dados coletados pela OMT em 2005)* Países que não puderam ser alocados a uma região específica de origem. Como a informação provém de dados sobre o turismo de importação, isso ocorre quando os dados sobre o país de origem não estão disponíveis, ou quando uma categoria tal como outros países do mundo é usada agrupando-se países que não estão especificados separadamente.

A participação de mercado das regiões mais importantes do Sudeste da Ásia, por si só, (Japão, China, Hong Kong, Coréia do Sul, Cingapura e Taiwan), como parte do gasto internacional com o turismo atingiu, em 2004, o patamar de 16%. Um em cada seis dólares ou euros gastos atualmente sai do bolso de uma pessoa com um histórico cultural confuciano.

Dois desses países, Cingapura e Hong Kong, apresentam o maior gasto per capita com o turismo emissivo no mundo. Ao mesmo tempo, um rápido exame da magra cifra atual de meros US$ 15,00 gastos por habitante, mostra claramente o grande potencial para o desenvolvimento dessa nova fonte de mercado, ainda que comparada à média global de apenas US$ 99,00. É muito provável que, na próxima década, a cifra dos gastos combinados de turistas da China Continental, de Hong Kong e de Taiwan venha a usurpar dos alemães a posição de povo que mais gasta com turismo internacional.

2 Fonte: OMT/ONU, 2007

Tabela 2: Países que Mais Gastam com Turismo - 2002-20043

Países que Mais Gastam com Turismo no Mundo

Gasto com Turismo Internacional (US$

bilhões)

Mudança(%)

Participação de Mercado (%)

População

2004

Gasto per capita

Classificação

2002 2003 2004*

03/02

04*/03

2004* (milhões)

US$

Mundo 487 533 633 9,4 18,8 100 6.377 991 Alemanha 52,5 64,7 71,0 23,3 9,7 11,2 82 8612 Estados Unidos 58,7 57,4 65,6 -2,2 14,3 10,4 293 2243 Reino Unido 41,5 47,9 56,5 15,5 17,9 8,9 60 9384 Japão 26,5 28,8 38,2 8,6 32,7 6,0 127 3005 França 19,5 23,4 28,6 20,4 22,2 4,5 60 4746 Itália 16,8 20,6 20,5 22,5 -0,4 3,2 58 3547 China 15,4 15,2 19,1 -1,4 26,1 3,0 1.299 158 Países Baixos 12,9 14,6 16,4 13,1 12,5 2,6 16 1.0079 Canadá 11,7 13,4 16,0 14,9 19,3 2,5 33 49310 Federação Russa

11,3 12,9 15,7 14,1 22,1 2,5 144 109

11 Bélgica 10,2 12,2 14,0 20,4 14,7 2,2 10 1.35512 Hong Kong (China)

12,4 11,4 13,3 -7,8 15,9 2,1 7 1.936

13 Espanha 7,3 9,1 12,2 24,7 34,2 1,9 40 30214 Áustria 9,4 11,8 11,9 25,3 1,4 1,9 8 1.45915 Austrália 6,1 7,2 10,3 19,0 42,2 1,6 20 51716 Suécia 7,3 8,2 10,2 13,0 23,5 1,6 9 1.13117 República da Coréia

9,0 8,2 9,9 -8,7 19,5 1,6 48 204

18 Cingapura 8,2 8,0 9,6 -2,0 19,8 1,5 4 2,19719 Suíça 6,6 7,5 8,8 13,0 17,7 1,4 7 1,18120 Noruega 5,1 6,7 8,4 30,3 26,3 1,3 5 1.84221 Taiwan (pr. da China)

7,0 6,5 8,2 -6,8 26,1 1,3 23 359

22 Dinamarca 5,8 6,7 7,3 14,2 10,0 1,2 5 1.35223 México 6,1 6,3 7,0 3,2 11,3 1,1 105 6624 Irlanda 3,7 4,7 5,2 27,1 9,8 0,8 4 1.31025 Índia 3,0 3,6 5,1 19,9 41,6 0,8 1.065 5Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT/ONU) ©

(Dados coletados pela OMT/ONU para a edição de 2005 do TMT)

3 Fonte: OMT/ONU, 2007

3. Turismo Emissivo na China

Considerando-se o vasto território que compõe a China, viajar de um local para outro tem sido, obviamente, desde tempos remotos, uma importante parte da vida. No caso dos governantes, as viagens eram motivadas por razões militares, comerciais, religiosas, diplomáticas, educativas ou administrativas. Os governados, por sua vez, eram movidos pela necessidade de fugir de guerras, fome e desastres, ou de agir como soldados ou bandidos. Ademais, tanto governantes como governados participaram de peregrinações de curta e longa duração a templos, santuários e montanhas sagradas.

O ditado ‘Viajar mil Li é o mesmo que ler dez mil livros’ tem sido uma verdade comumente aceita na China há muitos séculos (Jang, Yu, Pearson 2003: 89). Já em seu parágrafo de abertura, os Anacletos, a mais importante coletânea de escritos de Confúcio, contém a declaração ‘Não é uma alegria receber amigos que chegam de tão longe?’ (Lau 1989)4.

Viagens para áreas além da esfera da cultura Han, entretanto, não existiam na China, exceto no caso de pequenas colônias de migrantes chineses em países vizinhos, viagens solitárias de monges como Fa Xuan e Xuan Zang no primeiro milênio, ou as sete viagens da frota de Zheng He, o Colombo Chinês, no século XV.5

O desejo do povo chinês de sair do Reino Central e viajar para Terras de Alhures pode estar associado às mudanças ocorridas no século XIX, quando a noção da China como o centro da terra foi estilhaçada pelas derrotas nas Guerras do Ópio. Mesmo então, eram os governados que partiam em busca de uma vida melhor nas minas de ouro da Austrália e nos canteiros de obras de estradas de ferro da América do Norte. Diferentemente do Japão Meiji, os governantes na China continuavam a ver sua cultura como infinitamente superior, admitindo apenas a necessidade de aprender alguns “truques” tecnológicos e ideológicos com o ocidente (Arlt 2006a).

Após a queda da China Imperial, em 1911, houve um breve período de desenvolvimento do turismo emissivo, com alguns novos-ricos chineses copiando o comportamento de viagens de lazer que podiam aprender com o número crescente de turistas internacionais que visitavam a China, facilitadas pelas novas empresas de navegação e pela Estrada de Ferro Transiberiana. Entretanto, a ocupação de parte da China pelo Japão na década de 1930 e a Guerra Civil de 1945-1949 interromperam essas atividades.

Para os chineses que vivem na antiga colônia britânica – Hong Kong – e em Taiwan, o turismo tem sido uma fonte de renda e de prazer pessoal há muitas décadas,

4 Os Analectos é uma coletânea de provérbios de Confúcio, supostamente compilados por seus discípulos após sua morte, em 497 a.C. Tradução de D.C. Lau. A tradução ‘clássica’ de Arthur Waley é a seguinte: ‘Não é agradável receber amigos que chegam de rincões distantes?’ (Waley 1938).5 O Almirante Zheng He, no início da dinastia Ming, empreendeu sete famosas viagens que o levaram até o Leste da África, com uma frota muito superior à de navios portugueses que lá aportaram um século mais tarde (Levathes 1994). Menzies, conforme mencionado na introdução, até mesmo tenta provar que frotas chinesas, naquele período, efetivamente circunavegaram o globo (Menzies 2002).

desde 1949. As últimas restrições a viagens ao exterior foram eliminadas para portadores de passaporte taiwaneses em 1979.

Antes de 1978, entretanto, o turismo, ainda que interno, era considerado uma prática burguesa de desperdício na República Popular da China. ‘O desejo de viajar para o exterior era considerado praticamente traição ou deserção para o lado inimigo (Gerstlacher, Krieg, Sternfeld 1991: 54). As peregrinações, que ainda podiam ser praticadas até certo ponto abertamente na década de 1950, cessaram durante a Revolução Cultural, quando incontáveis sítios sagrados foram destruídos.

Com o início da política de “Reforma e Abertura”, em 1978, o turismo de importação passou a ser promovido como uma forma fácil e rápida de obter divisas. O turismo interno ressurgiu contra a vontade do governo chinês. ‘A política para o turismo interno tem sido de “não incentivo”… Quer incentivado ou não, o turismo interno continua a crescer’ (Zhang 1985: 141). Apenas a partir da década de 1990, o turismo interno foi reconhecido como uma parte importante da indústria de serviços, operando como um elemento crucial na mudança ideológica de socialismo rural para consumismo urbano na China.

Em 2005, foi realizado mais de 1,2 bilhão de viagens turísticas internas, embora com um gasto médio de apenas 436 Yuan RMB (aproximadamente 44 €) (CNTO 2007). Essa cifra baixa é mais facilmente entendida levando-se em conta o fato de que as estatísticas do turismo interno chinês incluem não apenas viagens de pernoite, mas também viagens de um dia. Essa quantia é suficiente para se viajar durante mais de seis horas, percorrer mais de dez quilômetros, e deixar de viajar, para que seja contada a remuneração. (Arlt 2006a). Por essa razão, cerca de 80% dos 720 milhões dos deslocamentos de residentes rurais são viagens de um dia, com um gasto inferior a 11 € (108 Yuan RMB).

As portas para as viagens ao exterior foram abertas, não sem muita relutância, em várias etapas, especialmente na esteira da queda do Muro de Berlim - e, posteriormente, dos Governos do Bloco Comunista do Leste – que sucumbiram às súplicas de Reisefreiheit (Liberdade para Viajar).

Três fases distintas do desenvolvimento do turismo emissivo chinês podem ser identificadas.

A primeira fase teve início em 1983, com as chamadas “visitas familiares”, inicialmente para Hong Kong e Macau e, posteriormente, para vários países do Sudeste Asiático, ostensivamente pagas pelo lado que recebia o visitante. Essa política propiciou a oportunidade para o desenvolvimento do turismo clandestino de lazer ao exterior, ao oferecer uma forma para se obter o passaporte, a moeda estrangeira e o visto necessários para uma visão do mundo fora da República Popular da China. Ao mesmo tempo, o início da integração da China à economia mundial resultou num número crescente de delegações viajando para países de economia forte para participar de feiras, rodadas de negócios, programas de treinamento, etc. Praticamente todas essas viagens incluíam um elemento turístico, enquanto muitas eram simplesmente viagens de lazer disfarçadas, pagas com

dinheiro do poder público ou do governo central ou, em alguns casos, financiadas pelo parceiro comercial estrangeiro.

A segunda fase começou em 1997, com o reconhecimento oficial da existência do turismo de lazer para o exterior (em oposição às reuniões de família e viagens de negócios), no ‘Regulamento Provisório sobre a Gestão de Viagens ao Exterior por Cidadãos Chineses às suas Próprias Expensas’, e a assinatura dos primeiros acordos de SDA (Status de Destino Aprovado) com a Austrália e a Nova Zelândia. O sistema SDA baseia-se em acordos bilaterais de turismo, pelo qual um governo permite que turistas chineses viagem ao seu território a passeio e às suas próprias custas, em pacotes turísticos e com um visto especial. Apenas os países com SDA podem ser abertamente promovidos como um destino turístico na imprensa chinesa. Com o SDA, o governo chinês tentou manter pelo menos a aparência de um desenvolvimento controlado pelo Estado e organizado.

Muitos outros acordos de SDA foram firmados após 1997 e, especialmente, após 20036. Os regulamentos para as visitas a Hong Kong e Macau foram flexibilizados ao mesmo tempo, para ajudar a indústria do turismo dessas duas recém-formadas Regiões Administrativas Especiais (RAE).

Um desenvolvimento inusitado ocorreu com o aumento nos números de viajantes para o exterior, superando, em muito, as taxas de crescimento planejadas pelo governo chinês. Embora a política do governo ainda falasse em ‘crescimento moderado, cuidadosamente administrado’ e correspondência próxima com o número de turistas que visitavam o país, na realidade o número de viajantes para o exterior triplicou entre 1999 e 2004 – passando de 9 para 29 milhões. Uma situação caótica e em grande parte não regulamentada ocorreu, com muitos grupos de viagem organizados por agências não autorizadas na forma de “Tours de Zero Dólar”, na qual excursões são oferecidas a preços baixos e os turistas são coagidos a comprar produtos e serviços adicionais a preços inflacionados no destino. Para destinos que incluíam Hong Kong e a Tailândia, até mesmo “Tours Abaixo de Zero Dólar” foram oferecidas, em que as empresas de turismo receptivo pagavam aos organizadores de excursões para receber os grupos, além de fornecer alimentação, transporte e acomodações locais.

Além do desejo de controlar os movimentos espaciais de seus cidadãos, a perda de moeda forte motivou a relutância oficial em abordar integralmente a questão do mercado emissor durante esse período. Como uma medida para refrear o crescimento desse mercado, uma taxa de saída de até 200 Yuan RMB (aproximadamente 20 €) foi discutida no início do novo século (Dai 2005). Entretanto, alguns especialistas defendiam o turismo emissivo e demonstraram que a maior parte do dinheiro retirado da China Continental pelos turistas permanece nas RAE de Hong Kong e Macau, que integram a economia chinesa como um todo (Zhang 2005).

6 Em meados de 2007, 132 países, praticamente todos destinos importantes, haviam adquirido o status, com a notável exceção dos EUA e do Canadá.

Por uma série de razões, 2005 pode ser considerado o início da terceira fase do turismo emissivo moderno da China. Quatro argumentos principais são mencionados a seguir.

Primeiro, o aumento de viagens ao exterior para 31 milhões permaneceu abaixo de 10%, embora o ano de 2005 não tenha sido marcado por surtos de SARS (gripe aviária), riscos semelhantes à saúde, ou outros problemas internos. Da mesma forma, nenhuma guerra ou outro evento externo de grande importância impediu os chineses de visitar países estrangeiros. Ao contrário, muitos países que acabavam de receber o SDA proporcionavam uma gama mais ampla de destinos a escolher. Em 2006, o aumento de viagens ao exterior subiu novamente para 11%, mas ainda muito distante do que ocorreu nos primeiros anos do século XXI.

Segundo, uma série de preocupações e contratempos pôs fim ao “período de lua-de-mel” no lado da oferta. Os países da comunidade Schengen na União Européia re-introduziram, em julho de 2005, os métodos pré-SDA de entrevistar um percentual de requisitantes de vistos e insistir que os operadores das excursões apresentassem provas do retorno de todos os membros dos grupos SDA.

Numa ação paralela, o esquema SDA australiano procedeu a uma inspeção completa no verão de 2005, destinada a pôr fim às práticas de Zero Dólar e ao desaparecimento de visitantes chineses na comunidade chinesa local. Apenas operadores de turismo emissores e receptivos que aderiram a um rígido Código de Normas Comerciais e de Ética mantêm o apoio, e qualquer violação ao Código resulta na perda de acesso ao esquema australiano de processamento de visto SDA.

Terceiro, o declínio do entusiasmo também é reconhecido no lado da demanda. Numa reação às dificuldades cada vez maiores de obter o visto Schengen, os operadores de turismo chineses ameaçaram levar seus clientes para destinos africanos, em vez de europeus. O número de turistas para a Tailândia e a Malásia caiu vertiginosamente, como resultado da imagem negativa criada pelas excursões de Zero Dólar e dos protestos contra o tratamento dispensado a jovens turistas chinesas pelas autoridades de imigração da Malásia.

Quarto e último, mas certamente não menos importante, o governo chinês mudou sua postura oficial sobre a questão do turismo emissivo. A Administração Nacional de Turismo da China (CNTA) adotou, durante o ano de 2005, a posição de que, para ser realmente forte no turismo, um país também precisa desenvolver o setor de emissão. Em vez de tentar limitar o número total de viajantes para o exterior, o governo agora adota medidas para controlar a situação caótica por meio de regulamentos mais detalhados. A idéia de uma taxa de saída parece haver sido descartada, pelo menos no momento. (Arlt 2006b)

O número de viajantes para o exterior superou, pela primeira vez, a marca dos 30 milhões, chegando, em 2006, a 34,5 milhões.

Tabela 3: Turistas chineses para o exterior - 1991 – 2006 (em milhões de pessoas)7

Antiga Série Estatística Nova Série Estatística Crescimento em% (nova série)

1991 2.134,2 -1992 2.929,7 -1993 3.740,0 -1994 3.733,6 -1995 4.520,5 7.139,01996 5.060,7 7.588,2 6,31997 5.323,9 8.175,4 7,71998 - 8.425,6 3,11999 - 9.232,4 9,62000 - 10.472,6 13,42001 - 12.133,1 15,92002 - 16.602,3 36,82003 - 20.221,9 21,82004 - 28.852,9 42,72005 31.003,0 7,52006 34.520,0 11,32007 1º

Trimestre9.760,0 14,5

7 Fontes: 1991-2004: Arlt 2006a; m-travel.com 2007. *Números referentes ao primeiro trimestre de 2007.

Figura 2: Turistas chineses para o exterior - 1991 – 2006 (em milhões de pessoas)8

Tradução do Gráfico:

Old Statistical Series - Antiga Série EstatísticaNew Statistical Series - Nova Série Estatística2007 1stQ – 1º Trimestre de 2007

Das viagens incluídas aqui, entretanto, mais de 70% terminaram nos destinos quase-domésticos – a RAE de Hong Kong e a RAE de Macau. Apenas um em cada dez viajantes chineses deixa a Ásia após cruzar a fronteira.

Figura 3: Participação do turismo emissivo chinês em termos comparativos9

8 Fontes: 1991-2004: Arlt 2006a; m-travel.com 2007. * Números referentes ao primeiro trimestre de 2007.

9 Fonte: Arlt et.al. 2006

Tradução do Gráfico:

Share of Chinese outbound tourism in comparison - Participação do turismo emissivo chinês em termos comparativosShare Hong Kong / Macao – Participação de Hong King / MacauShare Russia – Participação da RússiaShare Americas – Participação das AméricasShare Asia without Hong Kong & Macao – Participação Ásia sem Hong Kong e MacauShare Europe without Rússia – Participação da Europa sem RússiaShare Rest of the World – Participação do Restante do Mundo

Algumas palavras de cautela são necessárias aqui, no que se refere à qualidade dos dados estatísticos disponíveis, principalmente do Anuário de Estatísticas do Turismo na China (Yearbook of China Tourism Statistics), publicado pela CNTA. Esse Anuário, em sua versão mais recente, que apresenta números referentes a 2005, publicado em Pequim no final de 2006, ainda não fornece qualquer tabela sobre o turismo emissivo em seu corpo principal, mas apenas um texto de uma página no relatório de introdução. Aqui, os números de viagens para o exterior realizadas por cidadãos da China Continental para destinos SDA em termos de primeira escala, são apresentados juntamente com o acréscimo ou decréscimo comparado ao ano anterior. Os números são apresentados por país, na ordem cronológica de concessão do SDA. As razões relevantes para as viagens podem ser ‘lazer, entretenimento, visita a pontos turísticos, férias, visita a amigos e parentes (VFR), assistência médica, compras, reuniões ou participação em atividades econômicas, culturais, esportivas ou religiosas’. (p. 125) Visitantes de um dia são explicitamente incluídos. No caso de ‘atividades econômicas’, parece que marinheiros, comissários de bordo, etc., também são contabilizados, uma vez que aparentemente constam das estatísticas chinesas de viagens ao país.

Dos 28,8529 milhões (os dois últimos dígitos estão faltando) de visitantes oficiais em 2004, 13,0016 milhões foram para a RAE de Hong Kong e 7,4905 milhões para a RAE de Macau. Segundo a prática internacional, os turistas quase-domésticos, dos quais uma grande porcentagem é de apenas visitantes de um dia, na realidade não deveriam ser incluídos nas estatísticas do turismo emissivo, de forma que o número real compreende os 8,3608 milhões restantes, mais um número desconhecido de chineses do Continente em viagem para outros países via Hong Kong (mas que não usam as instalações de trânsito direto do Aeroporto Internacional de Hong Kong, que não exige entrada oficial na REA) e Macau.

Dos 2,6359 milhões de nacionais chineses que viajam para o exterior (exceto viajantes para as RAE) em excursões organizadas por agências de viagem, acredita-se que 890,7 mil estejam envolvidos em “viagens de cruzamento de fronteira”, atividade sem definição nas explicações técnicas do Anuário. Essas pessoas representam quase que exatamente um terço dos 2,6359 milhões, de modo que, tomando-se esse número como um indicador (conservador) do número de viajantes para outros países (exceto as RAE), mas que viajam apenas para as regiões de fronteira, restariam 5,5739 milhões de viajantes como viajantes de fato para o exterior, na prática de preencher assentos vagos adotada pelas empresas aéreas. O outro terço consiste de travessias de fronteiras de pequenos comerciantes para áreas adjacentes como a Sibéria Russa ou o Extremo Oriente Russo, algumas vezes cruzando a fronteira quase que diariamente, e clientes de muitos bordéis e cassinos que oferecem serviços que são ilegais na República Popular da China, logo do outro lado da fronteira, em países do Sudeste da Ásia e até na Coréia do Norte.

Os números referentes a 2005 e 2006, com um total de 31,003 milhões e 34,52 milhões de travessias de fronteira, respectivamente, parecem ter aumentado proporcionalmente, de forma que o número real de viagens para o exterior pode ser estimado em pouco menos de 6 milhões em 2005 e cerca de 6,5 milhões em 2006. Para 2007, os números tendem a exceder 7 milhões.

Distinguir quais países são efetivamente visitados por esses 7 milhões, mais uma vez, somente pode ser analisado até certo ponto, uma vez que as estatísticas chinesas informam apenas o primeiro ponto de entrada. Um turista SDA voando para a área Schengen na Europa via Frankfurt somente será contabilizado como viajante para a Alemanha, embora talvez visite vários outros países europeus durante sua viagem. Como resultado, o número de chineses que visitam Paris, por exemplo, de acordo com as estatísticas locais do destino, é substancialmente maior do que o número total de chineses que viajam para a França pelas estatísticas chinesas. Mesmo para destinos como o Japão, há grandes discrepâncias entre as estatísticas chinesas e japonesas, embora, nesse caso, se possam esperar muito poucos visitantes em trânsito. As diferenças na forma como pessoal de transportes, funcionários, etc. são incluídos ou excluídos das estatísticas tendem a explicar parcialmente as discrepâncias.

4. Comportamento de turistas chineses em diferentes ambientes

Pizam e Sussman alertaram para o fato de que a ‘Nacionalidade é apenas uma variável que deve ser considerada ao se prever a variação no comportamento de turistas e nunca deve ser usada como uma única variável explicativa. Certamente, nem todos os turistas da mesma nacionalidade, independentemente de categoria demográfica, motivação e estilo de vida, se comportam da mesma forma’. (Pizam, Sussman 1995: 917)

Antecedentes históricos e culturais, entretanto, devem ser incluídos em qualquer análise do comportamento de turistas que viajam para o exterior, especialmente se o turismo for visto como uma ferramenta para aguçar a percepção de diferenças culturais em destinos além-mar (Jameson 1993; Robinson 1998; Robinson 2001). No caso dos chineses que viajam para o exterior, há poucos precedentes históricos ou exemplos vivos para informar o turismo moderno, mas a ‘distância cultural’ (Williams 1998; Bowden 2003) é claramente sentida na maioria dos encontros entre atores chineses Han e não Han no teatro do turismo.

O comportamento de turistas Han do Continente que viajam para o ‘estrangeiro’ começou a ser analisado pelos pesquisadores apenas recentemente. Os poucos estudos realizados até o momento focalizam, na maioria, apenas uma área e um aspecto e freqüentemente não se esforçam para comparar seus resultados com os de outras pesquisas.

‘Estrangeiro’ é um termo relativo, de forma que a ferramenta analítica usada aqui é analisar o comportamento dos chineses Han que viajam a lazer em anéis concêntricos de crescente ‘distância cultural’. Os padrões de visitas a áreas de ‘minoria’ não Han dentro da China (Su, Huang 2005) são reproduzidos em países estrangeiros, como forma de afirmar a superioridade da cultura chinesa (Nyiri 2005, Nyiri 2006, Chan 2006). Ao mesmo tempo, as visitas aos inúmeros parques que oferecem réplicas de construções internacionais famosas, podem ser consideradas a versão doméstica de busca da modernidade.

É preciso ter em mente que ‘as experiências culturais oferecidas pelo turismo são consumidas em termos de conhecimento, expectativas, fantasias e mitologias anteriores geradas na cultura original do turista, e não das ofertas culturais do destino’ (Craik 1997: 118).

Assim, áreas de “minorias” podem ser consideradas como terra estrangeira dentro do país. Hong Kong e Macau, consideradaos destinos estrangeiros, embora essas RAE façam parte da República Popular da China, são as áreas liminares de experiência, metade dentro e metade fora. O próximo ‘anel’ concêntrico é formado por países do Leste e Sudeste da Ásia, com populações grandes ou mesmo majoritárias de chineses no exterior, seguidos pelos países oceânicos ainda mais ‘estrangeiros’ que possuam Chinatowns (Bairros Chineses). A América do Norte não é considerada aqui, uma vez que ainda está fora do mundo SDA. Os destinos mais ‘exóticos’ no anel externo são os países europeus, africanos ou sul-americanos que não possuem grandes contingentes de residentes chineses. Na realidade, numa visão chinesa tradicional do mundo, esses países estariam sentados nos cantos das praças que

forma o mundo, fora dos anéis da influência benevolente cada vez menor do centro da terra, o imperador chinês.

Estudos sobre o comportamento da maioria dos chineses (Han) que visitam áreas habitadas pelas “minorias” nas áreas de fronteira (Oakes 1998; Xie, Wall 2002; Xie 2003, Li 2004, Nyiri 2006) destacam os padrões paternalistas de comportamento, normalmente associado a visitas a um zoológico – ou, na melhor das hipóteses – a um jardim de infância. Onde os turistas ocidentais vêem com inveja o Nobre Selvagem de Jean-Jacques Rousseau e sua (erroneamente) percebida autenticidade, os turistas chineses vêem um colorido primitivismo.

O maior número de estudos disponível trata da maioria dos viajantes que visitam as RAE de Hong Kong e Macau (Zhang, Heung 2001; Lam, Hsu 2004; Zhang, Chow 2004; Huang, Hsu 2005). ‘Hong Kong ainda é vista como muito diferente das cidades da China Continental em sua economia capitalista, prosperidade econômica, história colonial e cultura, e estilo de vida e cultura do tipo ‘o oriente encontra o ocidente’. (Huang, Hsu 2005: 203)

Para os visitantes chineses, por razões óbvias, o exótico não está no sabor oriental ‘Suzie Wang’ de uma antiga colônia britânica, mas sim nas visitas aos resquícios do domínio ocidental das RAE, agora de volta às mãos dos chineses (Du Cros 2005), bem como nos elementos ocidentais sobreviventes (como, por exemplo, a cena de bar de Lan Kwai Fong) desses locais. ‘Ser fotografado por turistas da China Continental, de fato, já é mencionado no Guia Lonely Planet sobre Hong Kong como imprescindível para “mochileiros” ’.

Esse comportamento dos turistas da China Continental seria visto pelas RAE como uma forma segura de encarar elementos culturais não chineses, aliada ao orgulho pelo fato de símbolos do colonialismo, como as residências dos governadores, estarem de volta às mãos chinesas. Ainda assim, muitos visitantes da China Continental, especialmente não cantoneses, reclamam por serem tratados como primos facilmente exploráveis por operadores de turismo e comerciantes de Hong Kong.

As políticas turísticas do governo chinês para o “mundo chinês”, i.e. Hong Kong, Macau, Taiwan e os chineses de além-mar que vivem em países do Sudeste da Ásia ou em outros lugares, e as políticas voltadas para o ‘mundo não chinês’ apresentam claras diferenças. Essa diferenciação se torna visível numa rápida análise das estatísticas e práticas do turismo chinês. Todas as tabelas de turismo receptivo fazem a distinção entre waiguoren, estrangeiros, ‘pessoas de fora do país’, tongbao, compatriotas (literalmente: nascidos do mesmo ventre) e huaqiao, chineses de além-mar. A divisão original de responsabilidades entre os dois serviços de viagem instituídos - CTS e CITS – adapta-se à distinção étnica entre chineses e não chineses, independentemente do país de residência ou do passaporte possuído.

Portanto, não é de surpreender que em 1990 – após os protestos dos estudantes na China e a queda do Muro de Berlim em 1989 – os ‘Regulamentos Provisórios sobre a Gestão e Organização de Cidadãos Chineses para Viagens a Três Países do Sudeste da Ásia’ tenha aberto a Tailândia, Cingapura e a Malásia para viagens de grupos em

visita a amigos e parentes, com as Filipinas acrescentadas como o quarto país em 1992. Esses países asiáticos com comunidades chinesas de alta classe social no exterior criam comportamentos turísticos que usam as comunidades chinesas dominantes bem sucedidas como reafirmação da superioridade cultural ou mesmo racial dos Han e, ao mesmo tempo, como um veículo nostálgico para visitar o passado cultural – fabricado – chinês, que pouco sobreviveu à Revolução Cultural da década de 1960 na China Continental. Um problema relatado nos países do Sudeste Asiático trata do comportamento de excessiva superioridade de turistas chineses que resultou, em 2006, na publicação de um manual de comportamento pela CNTA, que teoricamente é distribuído a todos os turistas chineses que viajam para o exterior ao sair da China.

Analisando uma versão chinesa do mapa-múndi, em que a Europa e a África aparecem no canto esquerdo e as Américas no canto direito, a Austrália e a Nova Zelândia mostram-se como os países não asiáticos mais próximos da China. Ambos os países desenvolveram boas relações políticas e fortes relações econômicas com a China na década de 1990 e puderam oferecer uma combinação de cultura ‘ocidental’ com uma grande comunidade chinesa além-mar (Chan 2000). Esses foram os primeiros países não asiáticos a obter o SDA.

Na Oceania, encontramos os primeiros turistas chineses a sair do ‘mundo chinês’ e, por conseguinte, os primeiros conflitos entre conceitos ocidentais e chineses de comportamento turístico. ‘Nas visitas às grutas da China, luzes coloridas e mantos no estilo do imperador propiciam oportunidades de fotografar as profundezas das grutas... os chineses que visitam as grutas da Austrália as consideram muito enfadonhas e educativas, e às vezes vão embora após alguns minutos’ (Blok 2002: 13). Os neozelandeses reclamam da falta de interesse dos turistas chineses em se aprofundarem em experiências na natureza (Becken 2003). Os visitantes chineses, por outro lado, divergem com relação ao sistema de valores turístico ocidental de considerar visitas a pontos turísticos mais “valiosas” do que fazer compras.

A Europa é o principal destino não asiático para os viajantes chineses. A imagem geral que os chineses têm da Europa como o continente pitoresco pleno de cultura, arte, cidades antigas, arquitetura e habitantes com costumes estranhos porém interessantes, o lugar de patrimônios e oportunidades de compras como principais referências, é apoiada por clichês e estereótipos como referências de apoio para diferentes países. (Arlt, Feng 2007).

Essas imagens incluem a Alemanha como a terra de cientistas, artistas e engenheiros, organizada e segura; a França, com Paris como o local romântico de arte e cultura sofisticadas; a Itália, como o país ensolarado com monumentos e arte romana; a Grécia, como o lugar conhecido pelos Jogos Olímpicos; a Áustria, como a terra da Imperatriz Sissy e de compositores famosos; a Suíça, como bela e rica, etc. Cidades específicas também adquiriram funções claramente distinguíveis como destinos na Europa. Paris, como o lugar ‘romântico’, pela Torre Eiffel e os shows do Crazy Horse; Amsterdã, pela compra de pequenos diamantes de grande valor e a exposição de mulheres nas vitrines do distrito da luz vermelha; Nice e Mônaco, pelo sentimento de ser “milionário por um dia”; Roma e Veneza, para demonstrar

interesse pela cultura; Munique, para beber cerveja; Berlim, para ver os resquícios do muro.

Essas imagens tentam duplicar as marcas culturais que ligam locais cênicos na China a estórias especificamente codificadas e, portanto, emoções corretas. A Europa oferece muito menos da visibilidade moderna, conforme definida por pencas de arranha-céus e congestionamentos perpétuos, como é de se esperar, levando os turistas chineses a reclamar que até mesmo Urumqi é mais moderna do que Londres. Variando entre atividades turísticas ainda mais distintas, como da alta cultura que incluem visitas a museus e catedrais, e atividades de baixa cultura como fazer compras, além de haver a expectativa, por parte dos europeus, de expressões de assombro dos turistas diante da cultura européia, o comportamento dos turistas chineses oscila entre a mal-sucedida busca pela modernidade e a volta ao padrão minoritário de vivência de hábitos estranhos das tribos locais.

Numa pesquisa entre estudantes de turismo chineses sobre a imagem que fazem da Europa (Schwandner, Arlt, Gu 2006), a diferença da China foi enfatizada e a Europa, vista como romântica, suficientemente pequena para permitir que vários países sejam visitados em pouco tempo, mais segura do que os EUA, mas menos moderna.

A América do Sul, junto com a África, são as partes do mundo menos conhecidas pelo turista chinês médio. Nem a existência de megacidades, até mesmo maiores do que as da China, nem a imagem das grandes extensões da região Amazônica desempenham um papel importante na imaginação dos chineses, de forma que não são marcantes as expectativas de encontrar ou modernidade ou culturas retrógradas.

Em resumo, a afirmação da identidade cultural e nacional de um indivíduo ao encontrar diferenças culturais é uma parte importante da experiência do turismo internacional (Edensor 2002). Os turistas chineses que viajam para o exterior estão imensamente interessados em avaliar os níveis de desenvolvimento de outros locais (Chan 2006). O comportamento dos turistas chineses, que não se baseia em valores ocidentais individuais como aprendizado autônomo, recreação como não atividade, autenticidade individualmente exercitada, etc. questiona muitas das suposições – normalmente implícitas – de teorias clássicas de comportamento turístico, bem como as expectativas da indústria do turismo fora do mundo chinês.

5. Lacunas de Conhecimento e Diferenças Intelectuais

Apenas uma pequena porcentagem de todos os viajantes da República Popular da China para o exterior, tanto para negócios como lazer, já visitou o Brasil. O número de chineses que vivem no país é limitado (cerca de 300 mil); não há muitos encontros com chineses ou com a cultura chinesa – que também é muito diferente da cultura japonesa, mais conhecida no Brasil – na vida diária. Portanto, não é de surpreender que a indústria brasileira do turismo precise aprender muitas lições, a fim de oferecer serviços adequados aos visitantes chineses, ajustando seus produtos e ofertas às necessidades desse novo grupo de consumidores. Algumas das áreas nas quais os destinos que recebem visitantes chineses devem melhorar seu desempenho são citadas por Du:

‘Como a China é novo como país gerador de turistas internacionais, seus países e regiões de destino têm apenas um conhecimento incipiente desses turistas. Como resultado, a qualidade das instalações de serviços, a criação de itens de serviços, a renovação de ambientes relevantes e a conveniência do idioma e da sinalização dos destinos estão longe do nível em que os turistas chineses se sentiriam à vontade. Portanto, aqueles países e regiões que têm como alvo turistas chineses como seu principal mercado, deveriam fazer um esforço para melhorar seu ambiente, a fim de melhor atrair turistas chineses e aumentar seu grau de satisfação’. (Du 2003)

Que lacunas de conhecimento e concepções errôneas e que diferenças estão criando essas falhas? Podemos distinguir três aspectos, que podem ser chamados de a) simples lacunas de conhecimento; b) grandes lacunas de conhecimento; e c) diferenças interculturais.

Lacunas de conhecimento simples Apesar da crescente divulgação da China na mídia, o nível de conhecimento dentre a população geral, e mesmo entre as pessoas trabalhando na indústria do turismo em contato direto com clientes, é ainda muito mais baixo do que a maioria dos visitantes chineses espera. Por exemplo:

Assumir que o chinês é um povo de terceiro mundo ou colonialista. Diversas pessoas da área de serviços ainda acham, por exemplo, que no caso de reclamações em hotéis, que a razão do problema é a falta de familiaridade dos chineses com as facilidades modernas, o que remonta à antiga imagem que se tinha da China, na condição de país de terceiro mundo. No Brasil, um segundo caso de erro de conceito pode estar na percepção que se tem de que China é neocolonialista, e que estaria tomando os recursos naturais e enchendo o mercado local de produtos industriais baratos. Os visitantes chineses ricos o suficiente para viajarem até a América do Sul se vêem como pessoas sofisticadas que contribuem para o fortalecimento das relações sul-sul.

Confundir chineses e japoneses. Para muitos dos não-asiáticos, o leste asiático é tido como uma área cultural monolítica, da mesma forma que a América do Sul é vista pelos chineses. Espera-se que os hediogramas japoneses sejam compreensíveis também aos chineses; e que a imagem de um grupo tímido de turistas que segue

sempre exatamente a programação prevista se aplique igualmente a japoneses e chineses. Há casos, ainda, em que as pessoas desconhecem o difícil histórico das relações entre o Japão e a China.

Esperar que os visitantes chineses se interessem por todos os detalhes das culturas locais. Organizadores locais e guias turísticos muitas vezes ficam frustrados quando os visitantes chineses não demonstram interesse nos pequenos detalhes arquitetônicos ou históricos de um sítio, ou de diferentes religiões. Os turistas chineses geralmente reagem mais com curiosidade do que com admiração, tendo em vista que eles possuem diferentes, porém antigas raízes culturais.

Menosprezar o interesse por fazer compras. Dada a agenda apertada da maioria dos grupos de turista chineses, a visitação cultural é considerada por organizadores locais e coordenadores de visita como sendo absolutamente necessário. Fazer compras, não só entre uma visita e outra, mas, como um programa da agenda é considerado por alguns profissionais uma perda de tempo e um sinal de falta de educação.

Lacunas de conhecimento avançadas

Alguns erros de principiante, ainda que continuem ocorrendo em diversas partes, desaparecem à medida que se adquire experiência com visitantes chineses. Outros permanecem.

Não diferenciar entre visitantes chineses de diferentes regiões.Entender a diferença entre a China e outros visitantes asiáticos costuma ser o limite. As grandes diferenças entre as várias regiões da China são, em geral, subestimadas – e também “incentivadas”, por exemplo, por restaurantes chineses, que oferecem, simplesmente, comida “chinesa”.

Não diferenciar visitantes chineses com diferentes históricos sociológicos.O mercado de turismo emissivo chinês está se segmentando rapidamente em grupos muito diferentes. A diferença entre turistas do interior que viajam pela primeira vez, jovens trabalhadores urbanos de colarinho branco, aposentados, etc; são grandes. Em diversas localidades, visitantes recorrentes reclamam que somente um tipo de pacote de turismo é oferecido; ofertas de ponta-de-mercado ou pacotes para grupos de três gerações (avós-pais-filhos) são raramente organizados.

Esperar que todo e qualquer idioma – dialeto chinês irá atender a todos os chineses A ausência de diferenciação geográfica e sociológica leva a que o papel dos guias e tradutores seja subestimado, bem como a qualidade necessária a estes.

Diferenças interculturais

As lacunas de conhecimento supostamente deveriam desaparecer com o tempo. Na verdade, a maioria delas é baseada em diferenças culturais, e não referem-se somente à falta de conhecimento e experiência.

Alguns exemplos:

Guias e tradutores vs. conhecimento e idéias próprias. A qualidade – ou sua ausência – do conhecimento dos guias sobre a história e a sociedade local tem sido constante fonte de reclamação de turistas chineses. Os anfitriões nem sempre entendem a urgência desse problema, já que em sociedades individualistas, é tido como parte da preparação – e de fato faz parte da diversão da viagem – adquirir conhecimento próprio por meio de guias turísticos e outras fontes, e desenvolver idéias próprias a partir de diferentes fontes de informação, inclusive tentando possuir mais conhecimento que o próprio guia. Em sociedades mais coletivistas e de liderança como a China, um conjunto específico de informações está ligado a uma localidade específica e é função do guia contar a história.

Autenticidade: Pedras antigas vs. Formas antigas. Do ponto de vista ocidental, a autenticidade está ligada ao material. Uma catedral será autêntica, mesmo se ela tiver sido mudada várias vezes do românico para o barroco ou para o estilo neoclássico. O Templo do Paraíso em Pequim, reconstruído, pela última vez, no estilo original, em 1890, não seria considerado autêntico (na opinião de turistas ocidentais). Do ponto de vista chinês, o Templo do Paraíso em Pequim – ou a Campanile Capela de São Marcos em Veneza, reconstruída em 1902 – é autêntico, pois foi construído pela primeira vez no mesmo estilo centenas de anos atrás. O que é considerado como sendo válido de se ver varia de acordo.

Pontos famosos vs. Pontos locais. A maioria dos turistas chineses está buscando ‘superlativos’, experiências grandiosas. O fato de “todos” visitarem um sítio ou cidade é um motivo para que eles visitem também. Indivíduos de sociedades individualistas procurarão, em vez, por locais especiais, escondidos, pouco visitados por outros turistas. Isso é um fator positivo para as cidades já estabelecidas como turísticas, mas um problema para as outras.

Representante de um país vs. um indivíduo. Turistas chineses em países estrangeiros se sentem como representantes da sua terra natal. Qualquer possível afronta é, portanto, em alguma medida, um ofensa à nação. Grupos de turistas chineses reclamam se uma localidade oferecer explicações e sinalizações em japonês, mas, não no idioma chinês, mesmo que eles não precisem dessa assistência por motivos práticos.

Turismo como definição de uma posição social vs. Turismo como um definição individual. As diferenças interculturais podem ser resumidas na função que o turismo de lazer de longa-distância desempenha na China e nas sociedades ocidentais. Na China, as duas principais funções estão, por um lado, na definição do status de uma pessoa dentro da sociedade, mostrando sua capacidade e força para viajar para destinos de prestígio e, por outro lado, em aprender algo sobre outros países, expandindo o horizonte de crianças acompanhadas ou talvez encontrando novas idéias de negócio. No ocidente, o turismo mundial baseado no cristianismo está centrado na definição renovada de si (de cada um), seja reforçando sua definição ou expandindo-a. Buscam-se experiências, e não a coleta de informações; a imersão, e não a observação.

Em outras palavras: os turistas chineses não viajam para a América do Sul para aproveitar um feriado relaxante; fosse por isso, eles escolheriam ir para algum destino dentro da China ou no sudoeste da Ásia.

6. Destino: Américas

A América do Norte e a América do Sul representam duas conjunturas opostas do desenvolvimento do turismo emissivo da China. Os Estados Unidos estão entre os dez principais destinos de turistas chineses, mas, na América do Norte, nem os EUA nem o Canadá assinaram o SDA até o início de 2006, embora esses países estejam entre os destinos preferidos de turistas de lazer chineses.

Na América Central e na América do Sul, Cuba, Argentina, Brasil, Chile, Peru e Venezuela, bem como México, Jamaica, Barbados, Antigua & Barbuda e Santa Lúcia, assinaram o SDA, mas registram apenas um número limitado de turistas, fazendo da América do Sul a região global menos importante para o turismo emissivo da China.

A participação das Américas no turismo está estável em 8%. Em 1997, 241.000 de 3,03 milhões de turistas saindo da China, para outros destinos além de Hong Kong e Macau, foram para as Américas. Em 2000, as duas estatísticas subiram paralelamente a 362.000 e 4,87 milhões, e em 2004, a 680.000 de 8,360 milhões, respectivamente. Mais de 90% desses viajantes tinham os Estados Unidos e o Canadá como destinos. Em 2004, a América do Sul mal registrava 50.000 visitantes oriundos da China. Desde então, os números absolutos vêm crescendo proporcionalmente ao aumento total do turismo emissivo da China, porém, a parcela relativa permanece no mesmo baixo nível.

América do Sul

Apesar dos esforços de diversas linhas aéreas, a América do Sul não está ligada à China por um vôo direto. A Air China iniciou, ao final de 2006, um vôo de Pequim para São Paulo via Madrid, duas vezes por semana. Ainda assim, as viagens são caras e cansativas, com tempos de vôo em 20 ou mais horas. Mesmo o vôo da Air China, que desde junho de 2007 utiliza um Airbus 330, em vez do original Boeing 767, leva 24 horas.

Assim, a previsão da Administração Brasileira de Turismo de 200.000 visitantes chineses por ano, depois da introdução do SDA, não pôde se tornar realidade (Chinaview 2005). Da mesma forma, a estimativa do presidente do Departamento Nacional de Turismo do Peru referente ao número de visitantes chineses em 2006, que seria de 100.000, depois do registro de apenas 4.800 em 2003 (Muzi 2004) permaneceu uma ilusão. O Chile registrou somente 705 visitantes oriundos da China em 2002, mas, reagiu à concessão do SDA ao deliberar para a inclusão do ensino da língua chinesa no currículo escolar (APEC 2004, (Belaunde, Rios 2004).

Em um levantamento realizado em 2006 com 1.500 chineses residentes de seis diferentes cidades, a Europa, a Ásia e a Austrália foram citadas por aproximadamente 25% das pessoas como sendo o destino preferido em viagens, ao passo que a América do Sul e África foram citadas por menos de 10% (Wang 2007).

Politicamente, a política externa da China vem tentando fortalecer laços com os países sul americanos desde o início do século XXI, por meio da cooperação econômica, principalmente entre a China e o Brasil, Argentina e Chile. Em 2004, o

presidente da China Hu Jintao visitou os três países e assinou mais de cem acordos de cooperação. No mesmo ano, o presidente Lula da Silva visitou a China, acompanhado de uma delegação de comercio composta por 420 pessoas (Dumbaugh, Sullivan 2005). Grandes companhias chinesas com a Huawei, Shandong Electric Power e Shanghai Baosteel têm investido na América Latina.

O comércio Sino-Latino Americano chegou a $50 bilhões de dólares em 2005, com a emergência da China à condição de terceiro parceiro comercial da região. As exportações da América Latina para a China aumentaram 47% em um ano; a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Paraguai correspondenram a 85% do total. O volume de comércio da China superou o total do Japão na região em 2004; a China agora é o segundo parceiro comercial do Peru e do Brasil; o terceiro do Chile; o quarto da Argentina; e o comércio da China agora está entre os primeiros dez do Paraguai e do Uruguai. A China está investindo mais na América Latina do que qualquer outra região na Ásia, apesar de os investimentos atuais ainda estarem abaixo dos $US 100 bilhões prometidos pelo Presidente Hue em 2004 (Malik 2006).

Esse grande envolvimento econômico resulta em um aumento de delegações comerciais e oficiais, oferecendo oportunidades de negócio, não só para as companhias, mas também para a indústria de turismo receptivo, visto que muitos desses turistas podem se interessar em aproveitar suas viagens de negócio para conhecer os pontos turísticos e fazer compras.

Ainda assim, ainda que existam grandes comunidades chinesas em diversos países sul-americanos, a América do Sul não se constituirá em um destino turístico de massa para chineses. A distância física e os conseqüentes custos de viagem em tempo e dinheiro permanecerão como empecilho. Além disso, a fascinação que os americanos e europeus têm pelas culturas Inca e Maia, bem como pelas vastas áreas de natureza abundante é bem menos evidente na China, dado o seu próprio histórico milenar e sua diversidade de paisagens.

A imagem que das Américas do Sul e Central na China inclui a vida selvagem e a insegurança, uma inconveniência para os turistas chineses, já que a segurança é prioridade. A América do Sul, no entanto, tem condições de se desenvolver em um destino de prestígio - se a imagem que se tem, que hoje é quase nula, for moldada da forma correta.

7. Destino: Brasil

Da mesma forma que o restante da América do Sul, o Brasil não se beneficiou das primeiras ondas do turismo emissivo chinês. Entre 1998 – 2001, o número de chineses com destino ao Brasil aumentou ligeiramente, de 13.000 para 18.000. Ao passo que o número total de visitantes asiáticos ao Brasil começou a aumentar a partir de 2002, o número de chineses para o Brasil caiu, em 2003, para menos de 11.000. Em 2005, alcançou-se novamente o nível observado em 2001 e, em 2006, esse número mais do que dobrou, chegando a 37.000. A China superou a Coréia do Sul, tornando-se o segundo país asiático, depois do Japão, a enviar turistas para o Brasil e contribuiu também com o aumento geral de visitantes da Ásia para o Brasil, no período de 1998 a 2006.

Figura 4: Visitantes asiáticos ao Brasil no período de 1996 - 200610

principais

10 Fonte: Ministério do Turismo do Brasil

Tabela 4: Visitantes asiáticos ao Brasil no período de 1996 - 200611

1996 1997 1998 1999 2000ASIA 98,771 83,906 95,590 104,701 99,847 CHINA 13,143 12,014 16,005 17,506 17,881 CORÉIA 19,379 14,615 19,204 21,179 19,238 JAPÃO 48,474 39,194 38,145 41,814 40,905 OUTROS 17,775 18,083 22,236 24,202 21,823

2001 2002 2003 2004 2005 2006ÁSIA 103,908 84,010 106,760 132,633 151,358 188,117 CHINA 18,320 13,981 10,714 16,305 18,017 37,656 CORÉIA 20,903 14,913 19,498 21,353 24.315 23,819 JAPÃO 43,397 42,829 51,387 60,806 68,066 74,638 OUTROS 21,288 12,287 25,161 34,169 40,960 52,004

As estatísticas de turismo chinesas apresentam números mais elevados: de 42.000 visitantes chineses ao Brasil em 2004, o número teria aumentado para 54.000 em 2005 (Air China 2006). Esses resultados possivelmente incluam marinheiros, tripulação e diplomatas.

Não foram disponibilizados dados sobre a distribuição espacial ou tempo de permanência dos turistas chineses. A julgar pelas experiências de outros países, pressupõe-se que a maioria dos pernoites tenha se concentrado nas grandes cidades e, dado o tamanho do país e a sua distância da China, que a permanência média desses turistas tenha sido mais longa que a comumente observada para destinos europeus, de um a três dias.

O Brasil e a China assinaram o acordo SDA12 em 12 de novembro de 2004, por ocasião da visita do Presidente Hu Jintao ao Brasil.

Nos primeiros anos depois da sua introdução em 1997, os acordos SDA dependiam de negociações longas e difíceis. Incluíam-se regras complicadas de reciprocidade, bem como outras limitações, e impunham-se sete pré-condições a serem atendidas pelo país requerente:

a. O país deveria ser um mercado exportador de turistas para a China.b. O país deveria ter boas relações políticas com a China.c. Os recursos turísticos deveriam ser atraentes e oferecerem instalações adequadas para os viajantes chineses.d. Segurança e ausência de discriminação deveriam ser garantidas aos turistas chineses.e. O país deveria ser de fácil acesso a partir da China.f. Os gastos de turismo do país na China deveriam ser equivalentes aos gastos de turistas chineses no país.

11 Fonte: Ministério do Turismo do Brasil12 Para SDA, ver capítulo 3

g. O número de turistas do país e da China deveriam aumentar de forma recíproca. (Guo, Arlt, Freyer 2005)

Essas condições obviamente eram impossíveis de serem atendidas pela maior parte dos países, que não poderiam garantir segurança plena, nem podiam forçar seus próprios turistas a visitarem a China e a gastarem uma determinada quantia de dinheiro lá. Se a China houvesse insistido nessas regras, é possível que a SDA só tivesse sido concedida à Coréia do Norte e à Cuba.

Um dos procedimentos para a SDA que, no entanto, a China ainda insiste em manter refere-se a uma lista de agências de viagens autorizadas, a ser fornecida por ambas as partes – apesar de ser uma atitude absolutamente contrária às idéias de uma economia de mercado moderna.

De fato, o Departamento de Relações Internacionais do Ministério do Turismo iniciou debates no âmbito do Ministério e com outras instituições, com o objetivo de determinar um processo adequado para a seleção das agências de viagens. Dado que o governo não deve intervir diretamente no mercado, apesar de ter que definir requisitos mínimos para a prestação de serviços adequados a turistas chineses, decidiu-se criar uma comissão público-privada, composta de representantes dos Ministérios do Turismo, Trabalho e Emprego, Relações Exteriores e Justiça; a instituição pública responsável pela promoção do Brasil no exterior – EMBRATUR; e três instituições representativas das agências de viagens, turismo e operadoras.

Ficou definido, ainda, que a comissão se reuniria uma vez por ano para selecionar as agências de acordo com critérios previamente estabelecidos. O processo de seleção é divulgados nos jornais de maior circulação do país, no Diário Oficial da União e no sítio de Internet do Ministério do Turismo, aproximadamente quatro meses anteriormente à reunião da comissão.

Inicialmente, os critérios de seleção eram mais específicos, porém, desde 2005, as agências precisam apresentar documentação que comprove seu cadastro no Ministério do Turismo e demonstrar não possuírem dívidas perante a previdência. Além disso, as agências têm que atender a pelo menos uma das seguintes condições: ou demonstrar a realização de atividades de marketing a mercados externos; ou apresentar três cartas de referência de agências estrangeiras às quais tenham fornecido serviços de turismo receptivo.

Apesar da cuidadosa regulamentação governamental, o problema de operadores de turismo “não-oficiais” – geralmente chineses residentes nos países de destino, como proprietários de restaurantes, representantes de companhias de comércio de importação/exportação, etc; – é um fenômeno comum e recorrente em diversos destinos de turismo com SDA. Vale citar um exemplo de uma localidade onde quase não há residentes locais chineses: na Islândia, após um ano ou dois da vinda do primeiro grupo de turistas chineses, os pouco chineses que lá residiam começaram a se envolver com o turismo, expulsando os operadores tradicionais do mercado, com base em ofertas muito baratas e de baixa qualidade; e passaram a trazer estudantes

chineses da Noruega que vinham passar férias na Islândia, para servirem de motoristas e guias turísticos.

Então, qual seria a associação feita por potenciais visitantes chineses com o produto “Brasil”? Em julho de 2007, este autor organizou dois grupos focais de turistas chineses: um em Guangzou, uma das principais fontes emissoras de turistas; e em Ningbo, uma grande cidade portuária no sudoeste de Xangai, pertencente ao segundo nível de cidades chinesas.

Foi pedido que eles respondessem às seguintes perguntas:

O que vem espontaneamente à sua mente quando você pensa sobre o Brasil? Você gostaria de viajar para lá? Por que sim/não? Você tem alguma idéia do que fazer e ver no Brasil, como turista? Você conhece alguém que já esteve no Brasil?

Os resultados dos dois grupos foram quase idênticos.

Todos, tanto homens como mulheres, responderam “futebol” à primeira pergunta. O povo chinês é muito interessado em futebol; os jogos dos principais times são passados ao vivo quase que todas as semanas na televisão chinesa. No entanto, o fato de os jogadores de futebol brasileiros serem os melhores do mundo não se vinculou à imagem do Brasil como país, já que seus jogadores fazem parte de clubes de futebol europeus ou asiáticos.

Á segunda pergunta, principalmente as mulheres mencionaram o “Samba” como representativo da imagem brasileira. Das discussões, observou-se que essa imagem pouco se associava às idéias de erotismo ou de beleza feminina, mas a idéias de danças e paradas bonitas e coloridas, ao evento do carnaval. Os homens chineses pareceram desconfortáveis com a imagem de mulheres fortes e confiantes; em alguns casos, relacionado inclusive a uma reservada atitude racista por mulheres mulatas/negras.

Só depois de um tempo surgiram outras imagens foram mencionadas na discussão, como recursos naturais, país grande com muitas pessoas, etc.

Nenhum dos membros dos grupos focais havia cogitado ainda sobre a possibilidade de viajar ao Brasil. Entre os motivos, foram mencionados a distância e os custos, bem como a falta de oferta de pacotes turísticos ao Brasil, por parte dos operadores de turismo da China. Todos concordaram, entretanto, que viajar para um destino tão exótico conferiria status, mais ainda do que se fossem para a Austrália ou Europa.

Também não havia idéias claras sobre o que fazer e ver no Brasil. Os homens responderam com “assistir a jogos de futebol” e as mulheres com “assistir a apresentações de samba”. Uma pessoa respondeu estar profissionalmente interessada em ir para o Brasil para aprender sobre como as cidades estão se desenvolvendo e sobre a maneira como o planejamento das cidades é organizado. Outra pessoa pensou na existência de oportunidades de comércio.

Ninguém foi capaz de citar um parente ou conhecido que tivesse efetivamente visitado o Brasil.

Nas discussões em grupo, algumas outras informações apareceram depois de um tempo. Nas cidades maiores, como Pequim e Guangzou, mas, também em Ningbo, existem restaurantes brasileiros. Também foram mencionados programas de expedição científica chinesa à região da Amazônia, apesar de nem todos terem certeza se a região realmente fazia parte do Brasil, ou o tamanho da parte brasileira da Amazônia.

O Brasil não foi tido com um local perigoso. A questão da segurança só foi mencionada com relação à vida selvagem no Amazonas. Questões sobre religião, culinária ou hábitos alimentares não foram mencionadas.

Então, o Brasil é basicamente “uma folha de papel em branco” sobre a qual uma imagem pode ser criada. É, portanto, muito importante influenciar as impressões dos primeiros turistas que estão vindo ao Brasil, já que eles serão importantes para levar uma imagem positiva do país a seus pares na China.

8. Oportunidades e Desafios da Indústria Brasileira de Turismo

Com base nos capítulos anteriores, nota-se que alcançar sucesso no mercado turístico emissivo chinês não é só uma questão de publicidade/marketing ou participação em feiras de turismo chinesas, mas exige também a adaptação de produtos de acordo com as diferenças culturais resumidamente aqui descritas. Além disso, é importante fazer distinção entre os diferentes tipos de turistas chineses, especialmente entre o mercado de massa que adquirem pacotes e vêm em grupos/excursões (SDA); turistas de negócio com interesses de lazer, e o segmento crescente de turistas mais sofisticados, que vêm por conta própria.

Dois importantes fatores para a promoção do mercado emissivo chinês por parte dos operadores e da indústria de turismo brasileiros são:

a) A maioria dos turistas chineses não demanda a mesma estrutura que muitos turistas ocidentais. Em visita ao Brasil; - eles não se interessam por praias;- eles têm interesse em conhecer a natureza e a vida selvagem ou aborígene, porém, somente se houver acesso fácil, seguro e em forma de evento; - eles se interessam por espetáculos de dança, mas, não necessariamente pelo carnaval; - têm baixa sazonalidade;- eles gastam muito dinheiro, principalmente com compras.

Portanto, há oportunidades de se criar e oferecer ao chineses produtos de turismo novos, diferentes.

b) Para a maioria dos turistas chineses, o Brasil é um destino quase que completamente desconhecido.

Por meio de uma estratégia de marketing coordenada, é possível construir uma imagem positiva, posicionando o Brasil com a imagem de um país moderno, em ascensão, com grandes cidades e um estilo bem desenvolvido de gente rica, como membro do grupo de países do BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China), que irá governar o mundo no século XXI.

c) Apesar de “segurança” ser a questão mais importante para o turista chinês, o Brasil não tem uma imagem particularmente ruim nesse quesito, em comparação, por exemplo, com a África do Sul.

A segurança “real” não é algo problemático para os turistas chineses, pois, eles geralmente fazem tudo em grupos, podendo facilmente serem direcionados de um ponto “seguro” ao próximo. Eles não insistem em explorar as vias alternativas ou guetos, por exemplo, como fariam os europeus. Desta forma a indústria de turismo pode adaptar produtos de acordo com os interesses chineses.

A segurança “percebida” está muito mais relacionada à imagem e antecipação. Essa é uma questão social mais ampla, que não pode ser alterada pelas companhias de turismo ou pelo Ministério do Turismo; mas, que pode ser influenciada por meio do desenvolvimento de imagens alternativas que possam substituir a imagem de “perigo”.

Para alcançar o sucesso pretendido no mercado turístico emissivo chinês, entretanto, é necessário criar uma visão comum para as operadoras de turismo e para a indústria receptiva como um todo: Quais os objetivos de perspectiva de curto, médio e longo prazo? Onde queremos estar posicionados neste mercado daqui a dois, cinco, dez anos?

Em outras palavras: Queremos colher somente os frutos que estão facilmente ao alcance das mãos, ou queremos criar a rampa que nos permitirá alcançar “toda a árvore”?

Além disso, é necessária uma clara segmentação do mercado. O Brasil, especialmente a costa leste, é quase que o ponto mais distante no mundo, visto de Pequim. Apesar de finalmente haver uma conexão aérea direta, o novo vôo da Air China leva mais de 24 horas para chegar a São Paulo. Da mesma forma, a rota através do México, em vez de via Madri não seria mais rápida. Esse fato geográfico não vai mudar; o tempo e o dinheiro necessários para visitar o Brasil sempre irão exceder aos investimentos da maior parte de outros destinos.

Por outro lado, o fortalecimento das relações econômicas entre o Brasil e a China resultará em um aumento no número de vindas de homens de negócio, também interessados em fazer turismo e compras, antes ou depois de seus compromissos oficiais; e que não estão impedidos pelos custos da viagem, sendo estes realizados por seus empregadores.

O Brasil não irá se tornar em grande destino turístico de massa, o principal segmento de mercado será o de viagens de negócio e oficiais, bem como o de turistas ricos e sofisticados.

Várias iniciativas são necessárias em diversas áreas comerciais para que sejam desenvolvidos produtos de turismo para os chineses:

Inovação de produtos. A estrutura dos produtos, tanto com relação ao formato, como em relação ao conteúdo, precisa ser adaptada e diversificada. Produtos que atendem a turistas internacionais oriundos de países ocidentais ou do Japão precisam ser alterados para satisfazer aos consumidores chineses.

No caso do Brasil - O futebol é, de longe, o elemento mais importante para os turistas chineses em termos da imagem do Brasil. Assim, os produtos devem atender a esse interesse,

com visitas aos estádios de futebol e aos treinos, incluindo oportunidades de tirar foto com alguns jogadores; a compra de artigos esportivos, etc.

- O Samba é outro elemento importante da imagem. Os chineses devem poder consumir esse produto de forma bastante fácil, com oportunidades para fotografia e pouco envolvimento pessoal. O elemento folclórico é, para eles, mais importante que o aspecto erótico. - As cidades grandes – até maiores que as grandes cidades chinesas – serão os principais destinos de pernoite e podem ser promovidas como uma experiência grandiosa (um “superlativo”), um importante aspecto da modernidade – uma subida ao terraço de um grande edifício, um city tour de ônibus ou, ainda melhor, de helicóptero. - As compras deverão se concentrar em jóias, ouro e marcas de grife. Infelizmente – do ponto de vista do chinês – os jogos de azar não são liberados no Brasil.- tendo em vista o surgimento dos novos ricos na China, muitos turistas se interessarão por aprender ‘como gastar’, visitando clubes de golfe, haras , belas vilas em que os ricos brasileiros passam os fins de semana, etc., como forma de aprender sobre o estilo de vida sofisticado e copiá-lo em sua terra natal.- A construção de um parque temático com representações das diferentes culturas e habitats naturais brasileiros seria uma boa iniciativa para apresentar o país aos turistas chineses, uma forma de conhecer as diferentes partes do Brasil durante uma única experiência, limpa, segura e formatada como evento.

Desenvolvimento de Recursos Humanos. Compreender o público chinês é obrigação não só da administração, mas, de todos que têm contato direto com os turistas chineses e, em certa medida, da sociedade em geral residente à localidade sendo visitada. No caso do Brasil, isso significa, entre outros, não esperar que os turistas entendam um pouco de português, nem que todos os turistas chineses saibam que Rio de Janeiro e São Paulo são duas cidades diferentes. A equipe de atendimento poderá ser treinada sobre questões interculturais, para aprender, por exemplo, sobre as percepções do chinês no que tange as relações cliente versus prestador de serviço. É requisito essencial haver guias turísticos qualificados que falem chinês, para promover a imagem do Brasil.

Marketing. Uma estratégia de marketing de turismo isolada, sem abordar as relações entre o país de destino e o país de procedência pode funcionar para sociedades individualistas, isso não é, no entanto, o caso da China – que exige novas abordagens de marketing.

Iniciativas como O Ano da Espanha na China estão contribuindo para melhorar a imagem daquele país, que seria ainda mais útil se complementada, por exemplo, pelo Ano da China no Brasil, como a França fez em 2004/2005. O marketing e as informações sobre os produtos precisam ser direcionados aos consumidores finais da

sociedade chinesa; e ainda mais empenho é necessário para promover as informações às operadoras de pacotes de turismo chinesas. O Brasil participou de feiras regionais, como a World Travel Fair de 2005 (Xangai) e BITE 2007 (Pequim); mas, ainda não participou das duas feiras mais importantes: a CITM - China International Travel Mart - (Xanghai/Kunming) e a COTTM - China Outbound Travel and Tourism Mart (Pequim).

Uma forma eficiente de comunicar o enfoque especializado de uma região ou de uma companhia no mercado chinês é a participação no CTW Chinese Tourists Welcoming Award (Prêmio de Acolhimento ao Turista Chinês). O Prêmio CTW é realizado anualmente desde 2004, com o objetivo de agregar e compartilhar conhecimento e exemplos de melhores práticas empreendidas por destinos turísticos e companhias que trabalham nesse setor. O prêmio é concedido sob o patrocínio oficial da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas – representante da Ásia-Pacífico – e conta com a participação de diversos especialistas líderes na área de turismo emissivo da China, que atuam como júri, para a escolha de medalhas de ouro, prata e bronze, em cinco diferentes categorias (China-Outbound 2006).

Outra forma eficiente de marketing é a produção de seriados de televisão que podem diretamente apresentar informações sobre o Brasil na condição de destino turístico ou mostrar o país em forma de telenovelas.

Jogadores ou times de futebol atuando como embaixadores do país seriam as celebridades mais adequadas e eficientes para promover o turismo chinês ao Brasil.

Sítio na Internet. Sítios de turismo na Internet no idioma chinês são importantes para fornecer informações sobre o destino. Vale destacar que não só o formato, mas, também o conteúdo precisa ser adaptado ao gosto chinês que, por exemplo, requer as principais informações, ao invés das informações abundantes e aprofundadas. Para os destinos turísticos mais famosos, existem guias e revistas, disponíveis em livrarias chinesas. No caso do Brasil, esses dados são relativamente limitados. Visto que os turistas chineses são geralmente orientados pelas empresas turísticas, muitas das informações práticas fornecidas na Internet, inclusive, podem não ser utilizadas pelos turistas chineses. No entanto, a disponibilização dessas informações no idioma chinês passa a mensagem de que os chineses são bem-vindos ao destino (Arlt 2005b) – e a ausência desta página informativa poderá passar a mensagem contrária.

O turismo emissivo da China está se desenvolvendo e se diversificando, com variações de grupos de viagens patrocinadas, que viajam pela primeira vez, turistas de negócios, para visitar famílias, jovens afluentes de educação ocidental, visitantes com interesses específicos, etc., tornando impossível falar-se sobre o turista chinês representativo. O tempo de aprendizado dos operadores de turismo e dos destinos receptores, aliás, está mais lento que o ritmo do desenvolvimento do turismo emissivo chinês nos últimos anos.

Com a atual corrida pelo menor preço no mercado chinês, faz-se necessário estabelecer uma estratégia holística, bastante clara, que seja apoiada por todos os

agentes do destino, para que se possa ofereça ao mercado de massa uma versão básica do que seja a experiência da localidade – pacote este que provavelmente será organizado por chineses residentes no Brasil. Além disso, é preciso haver uma versão temática, sofisticada e de qualidade da experiência local para visitantes com maiores expectativas e níveis sociais e de informação mais elevados. O Brasil tem a possibilidade de transformar a desvantagem de sua distância geográfica em uma vantagem, para ser reconhecido como um destino que garante distinção e status, para aqueles que tiverem desenvolvido seus gostos e sofisticação para além do Pattaya e da Torre Eiffel.

A diversificação do mercado permite às agências de viagens que entendem melhor o mercado emissivo chinês uma clara vantagem, para a consolidação de suas posições como importantes parceiras das operadoras de turismo chinesas nessa busca dos turistas chineses por um símbolo de status máximo.

Bibliografia

Air China (2006) Air China Launches Beijing-Madrid-Sao Paulo Service, disponível em http://www.airchina.com.cn/AboutAirChina/AirChinaNews/18708.shtml [acessado em agosto de 2007]

Arlt, Wolfgang Georg (2005a) Tourists’ Motivation in Comparison: Chinese vs. German. Why Do Germans Travel to China and Chinese Travel to Germany. Em Zhang, Guangrui, Wei Xiaoan e Liu Deqian (eds) Green Book of China’s Tourism 2003–2005 China’s Tourism Development: Analysis and Forecast (2003–2005). Beijing (Editora Acadêmica do Departamento de Ciências Sociais. (Green Book of China’s Tourism No. 4) 427–436 (em chinês)

Arlt, Wolfgang Georg (2005b) ‘A VIRTUAL HUANYING, SELAMAT DATANG AND HERZLICH WILLKOMMEN!’ The Internet as a Cross-cultural Promotion Tool for Tourism. Em Haven-Tang, Claire e Jones, Eleri (eds) Tourism SMEs, Service Quality and Destination Competitiveness: International Perspectives. Wallingford, CT (CAB International). 325–336

Arlt, Wolfgang Georg (2006a). China’s Outbound Tourism. Oxford (Routledge)

Arlt, Wolfgang Georg (2006b). O turismo emissivo da China entrando em sua terceira fase (Palestra para o seminário BITTM ‘Será que a China vai mudar a face do turismo global?’, Pequim, 4 de abril). Em China Outbound Project Newsletter Boletim de maio de 2006. www.china-outbound.com [acessado em outubro de 2006]

Arlt, Wolfgang Georg; Kelemen, Marcel; Kröher, Henry et al. (2006) (eds): How to Enter China’s Tourism Market. Berlin (CTRI). www.china-outbound.com [acessado em outubro de 2006]

Arlt, Wolfgang Georg e Feng, Gequn (2007): On the development of Tourism Organizations Responsible for China’s Tourist to Europe and Future Tasks. Em Tourism Tribune 22: 5: 40-45 (em chinês)

Becken, Susanne (2003) Chinese Tourism to New Zealand. Artigo não publicado

Blok, Anders (2002) China Social Anthropology Study. Scandinavia Tourism Research report, da Escandinávia, Novembro. Tokyo (Scandinavian Tourist Board)

Bowden, Jiaolan (2003) A Cross-cultural Analysis of International Tourist Flows within China’s Three International Gateway Cities – Beijing, Shanghai and Guangzhou. Artigo apresentado no Congresso de Modelo e Concorrência no Turismo, Pafos/Cyprus

Chan, Henry (2000) De Quong Tarts a Victor Changs: Ser Chinês na Austrália no Século XX. Seminário público do CSCSD (Centro de Estudos da Diáspora do Sul da China) realizado na Universidade Nacional da Austrália, Sidney, em 24 de maio

Chan, Yuk Wah (2006) Coming of Age of the Chinese tourists: The emergence of Non-western tourism and host-guest interactions in Vietnam’s border tourism. Em Tourist Studies 6: 3: 187-213

China Outbound (2007) CTW Chinese Tourists Welcoming Award (Prêmio pela Recepção de Turistas Chineses). www.china-outbound.com. [acessado em agosto de 2007]

CNTA (ed.) (2006) Anuário de Estatísticas em Turismo da China 2005. Pequim (ChinaTravel Publishing House)

CNTO (2007) Estatísticas em Turismo da China. www.cnto.org [acessado em agosto de 2007]

Craik, Jennifer (1997) The Culture of Tourism. Em Rojek, Chris e Urry, John (eds) Touring Cultures: Transformations of Travel and Theory. London (Routledge). 113–136

Dai, Xuefeng (2005) Preliminary Study on China’s Outbound Tourism Policy. In Zhang, Guangrui, Wei Xiaoan and Liu Deqian (eds) Green Book of China’s Tourism 2003–2005 China’s Tourism Development: Analysis and Forecast (2003–2005). Beijing (Social Sciences Academic Press). (Green Book of China’s Tourism No. 4) 231–244 (em chinês)

Du, Jiang (2003) An Analysis of the Features and Evaluation of Consumption of Chinese Outbound Tourists. Artigo apresentado no Primeiro Fórum Internacional de Turismo Emissivo Chinês e Marketing, Shenzhen, novembro

Du Cros, Hilary (2005) The concept of Western Exoticism and its Utility in the Development of Cultural Tourism Products for Asian Tourists in Asian Destinations. Artigo apresentado na Conferência sobre a Criação de Marcas para Destinos e a Comercialização do Desenvolvimento do Turismo Regional, Macau, 8 a 10 de dezembro

Dumbaugh, Kerry; Sullivan, Mark P. (2005) China’s Growing Interest in Latin AmericaRelatório para Congresso, RS 22119, abril de 2005, disponível em http://fpc.state.gov/documents/organization/45464.pdf [acessado em agosto de 2007]

Edensor, Tim (2002) National Identity, Popular Culture and Everyday Life. Nova Iorque (Berg)

Gerstlacher, Anna; Krieg, Renate e Sternfeld, Eva (eds) (1991) Tourism in the People’s Republic of China. A Case Study. Bangkok (Ecumenical Coalition on Third World Tourism)

Guo, Yingzhi, Arlt, Wolfgang e Freyer, Walter (2005) A Study on the Development Features of Mainland Chinese Outbound Tourism Market. Em Proceedings of Second

PolyU China Tourism Forum and Third China Tourism Academy Annual Conference, Guangzhou

Huang, Songshan e Hsu, Cathy H.C. (2005) Mainland Chinese Residents’ Perceptions and Motivations of Visiting Hong Kong: Evidence from Focus Group Interviews. Em Asia Pacific Journal of Tourism Research, 10: 2: 191–206

Jameson, Fredric (1993) Cultural Studies. Em Social Studies, 34

Jang, SooCheong, Yu, Larry e Pearson, Thomas E. (2003) Chinese Travellers to the United States: a Comparison of Business Travel and Visiting Friends and Relatives. Em Tourism Geographies, 5: 1: 87–108

Lam, Terry e Hsu, Cathy H.C. (2004) Theory of Planned Behaviour: Potential Travellers from China. Em Journal of Hospitality & Tourism Research, 28: 4:463–482

Lau, D.C. (1989) Confucius: the Analects. Londres (Penguin Classics)

Levathes, Louise (1994) When China Ruled the Seas. The Treasure Fleet of the Dragon Throne 1405–1433. Nova Iorque ( Editora da Universidade de Oxford)

Li, Yiping (2004) Exploring Community Tourism in China: the Case of Nanshan Cultural Tourism Zone. Em Journal of Sustainable Tourism, 12: 3: 175–193.

m-travel.com (2007) China's Outbound Travel up 14% since 2006 but still immature. http://www.m-travel.com/news/2007/06/chinas_outbound.html [acessado em agosto de 2007]

Menzies, Gavin (2002) 1421 – the Year China Discovered the World. Londres (Bantam Press)

Malin, Mohan (2006) China's Growing Involvement in Latin America Power and Interest News Report disponível em http://www.pinr.com [acessado em agosto de 2007]

Nyiri, Pal (2005) Scenic Spot Europe, www.EspacesTemps.net. [acessado em outubro de 2006]

Nyiri, Pal (2006) Scenic Spots. Chinese Tourism, the State, and Cultural Authority. Washington D.C (Editora da Universidade de Washington)

Oakes, Tim (1998) Tourism and Modernity in China. Londres (Routledge).

Pizam, Abraham e Sussman, S. (1995) Does Nationality Affect Tourist Behaviour? In Annals of Tourism Research, 22: 4: 901–917

Robinson, Mike (1998) Cultural Conflicts in Tourism: Inevitability and Inequality. Em Robinson, Mike e Boniface, Priscilla (eds) Tourism and Culture Conflicts. Wallingford, CT (CAB International)

Robinson, Mike (2001) Tourism Encounters: Inter- and Intra-Cultural Conflicts and the World’s Largest Industry. Em AlSayyad, Nezar (ed.) Consuming Tradition, Manufacturing Heritage Global Norms and Urban Forms in the Age of Tourism. Londres (Routledge). 34–67

Schwandner, Gerd, Arlt, Wolfgang Georg e Gu, Huimin (2006) Images of European Countries as travel destinations. Stereotypes and associations of Chinese tourism students. Asia Pacific Journal of Tourism Research [impresso]

Su, Xiaobo e Huang, Chunyuan (2005) The impacts of Heritage Tourism on Public Space in Historic Towns: A Case Study of Lijiang Ancient Town. Em China Tourism Research 1: 4: 401–442

The Economist (2006) Outward bound. The Economist , 24 de junho: 70

Travelwirenews (2006) How is China outbound tourism potential viewed by its top tourism officials? ETN Oct. 5 www.travelwirenews.com [acessado em outubro de 2006]

UNWTO (2007) Fatos e Dados. www.unwto.org [acessado em agosto de 2007]

Wang, Xinjun (2007) Survey about preferred destinations by Chinese city-dwellers. Artigo apresentado no 3o IFCOT Fórum Internacional de Turismo de Exportaçaõ Chinês, Pequim/China

Waley, Arthur (1938) Confucius: the Analects. Nova Iorque (Macmillan).

Williams, Stephen (1998) Tourism Geography. Londres (Routledge).

Xie, Philip Feifan e Wall, Geoffrey (2002) Visitor’s Perceptions of Authenticity at Cultural Attractions in Hainan, China. Em International Journal of Tourism Research, 4: 5: 353–366.

Xie, Philip Feifan (2003) The Bamboo-beating Dance in Hainan, China: Authenticity and commodification. Em Journal of Sustainable Tourism, 11: 1: 5–16.

Xinhua (2006) Five new tourism destinations for Chinese citizens.www.china.org.cn; 18 de outubro [acessado em outubro de 2006]

Zhang, Guangrui (1985) China Ready for New Prospect for Tourism Development. Em Tourism Management, Gestão do Turismo, 6: 2: 141–143.

Zhang, Guangrui (2005) China’s Outbound Tourism (2003–2005): Present Situation and Future Perspectives. Em: Zhang, Guangrui, Wei Xiaoan e Liu Deqian (eds) Green Book of China’s Tourism 2003–2005 China’s Tourism Development: Analysis and Forecast (2003–2005). Pequim (Editora Acadêmica do Departamento de Ciências Sociais - Social Sciences Academic Press). (Green Book of China’s Tourism No. 4), 70–86 (em chinês)

Zhang, Hanqin Qiu e Chow, Ivy (2004) Application of Importance-Performance Model in Tour Guides’ Performance: Evidence from Mainland Chinese Outbound Visitors in Hong Kong. Em Tourism Management, Gestão do Turismo, 25: 81–91.

Zhang, Hanqin Qiu e Heung, Vincent C.S. (2001) The Emergence of the Mainland Chinese Outbound Travel Market and its Implications for Tourism Marketing. Em Journal of Vacation Marketing, Jornal de Marketing de Férias, 8: 1: 7–12.