a chegada do adventismo ao brasil

76
8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 1/76  

Upload: carlos

Post on 02-Jun-2018

259 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 1/76

 

Page 2: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 2/76

A Chegada do Adventismo ao Brasil - Michelson Borges 

Preservando a memória 

“Pouco se sabe no Brasil, nos meios adventistas, sobre a disseminação da mensagem entre

nosso povo. Pouco ou quase nada um membro da igreja pode relatar sobre a época em que a

tríplice mensagem [referência a Apocalipse 14:6-10] raiou no Brasil, através do porto deItajaí, em Santa Catarina. A triste realidade é que a igreja não teve meios para conservar sua

memória histórica...” (Ivan Schmidt,  José Amador dos Reis – Pastor e Pioneiro, p. 9).

Enquanto pensava no tipo de projeto final que eu deveria fazer para alcançar o grau de

bacharel em Jornalismo, concluindo assim os quatro anos de faculdade na Universidade

Federal de Santa Catarina, deparei-me com o texto citado acima. “E por que não?” – dissepara mim mesmo – “Por que não fazer uma reportagem sobre o início da obra da Igreja

Adventista do Sétimo Dia no Brasil?” 

Naquele momento, escolhi meu projeto. Os seis meses seguintes foram dedicados à pesquisa

sobre pessoas e fatos que fizeram história no meio adventista mas que, infelizmente, em boaparte foram esquecidos.

Nos primeiros dois capítulos deste livro, fiz uma breve introdução de como teve início a

história da Igreja Adventista no mundo. Em seguida, procurei contextualizar a chegada da

mensagem no processo da colonização alemã no Vale do Itajaí-Mirim – berço do adventismo no

Brasil. Para isso, tive de gastar bom tempo em pesquisas sobre o assunto, principalmente no

Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim, em Brusque.

Como os fatos relatados (referentes à chegada do adventismo ao Brasil) ocorreram há mais de

um século e, como já disse, poucos são os registros sobre eles, tive de contar principalmente

com informações obtidas nas entrevistas com os parentes dos pioneiros – a maioria netos e

bisnetos – e com os raros livros e artigos publicados em revistas denominacionais.

Passei horas agradáveis entrevistando pessoas e rememorando situações inspiradoras. Tive o

prazer de caminhar por lugares históricos. Conheci a casa onde ficava o armazém de Davi

Hort, local onde foi aberto o primeiro pacote de literatura adventista; o rio onde foram

batizados os primeiros conversos; a primeira igreja adventista do sétimo dia no Brasil, no

bucólico vale de Gaspar Alto; o púlpito de onde foram pregados os primeiros sermões no

pequeno templo; a casa-dormitório dos estudantes da primeira Escola Missionária Adventistado Brasil e os cemitérios da Esperança (em Gaspar Alto, SC) e dos Pioneiros (na Fazenda

Passos, RS), onde estão sepultados os pioneiros do movimento adventista.

Page 3: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 3/76

 Coletadas as informações, a questão agora era: Como escrever sobre tudo isso? Que estilo

usar? Um texto bíblico do profeta Habacuque me deu a idéia. Ele, que viveu cerca de 600

anos antes de Cristo, conhecia as técnicas modernas de escrever melhor do que muitaspessoas, hoje: “Vou subir a minha torre de vigia e vou esperar com atenção o que Deus vaidizer e como vai responder à minha queixa. E o Deus Eterno disse: „Escreva em tábuas a visão

que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com

facilidade‟” (Hb 2:1, 2). 

O profeta se colocou num ponto estratégico: na torre de vigia. Um local onde, ao mesmo

tempo em que se mantinha próximo a Deus, podia observar o que acontecia ao seu redor, oque falava o povo, quais as tendências sociais da época, para onde ia o rei...

“Para que possa ser lido com facilidade.” “Prender” o leitor o tempo suficiente para ler nossamensagem é realmente um desafio. Era no tempo de Habacuque e é muito mais em nosso

mundo agitado. Por isso, o escritor deve mobilizar recursos que envolvam o leitor e o façam

prosseguir na leitura.

Como o simples relato cronológico dos eventos seria monótono, utilizei recursos próprios da

literatura, como reconstituição de cenas e diálogos. Afinal, “em termos modernos, a

literatura e o jornalismo são vasos comunicantes, são formas diferentes de um mesmo

processo”, diz o crítico Boris Schnaiderman, citado no livro Páginas Ampliadas – O Livro

Reportagem como Extensão do Jornalismo e da Literatura, p. 139.

No mesmo livro, à página 142, o autor Edvaldo Pereira Lima, jornalista, escritor e

pesquisador, diz que “os norte-americanos aplicam o termo jornalismo literário para designar

a narrativa jornalística que emprega recursos literários. Os espanhóis a denominam de

periodismo informativo de creación. Esse emprego é necessário porque, para alcançar poder

de mobilização do leitor e de retenção da leitura por sua parte, a narrativa de profundidadedeve possuir qualidade literária”. 

Apesar de o público alvo deste trabalho serem os membros da Igreja Adventista do Sétimo

Dia, pensei também nos possíveis leitores que não pertencem à igreja. Assim, encontraremos,

por exemplo, um casal de alemães em Brusque “lendo” sobre a segunda vinda de Cristo e

Roberto Fuckner “demonstrando” à esposa o porquê de ter -se decidido pela observância doquarto mandamento – o sábado – como dia sagrado.

Page 4: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 4/76

 

Embora tenha procurado ser imparcial ao narrar os eventos – como deve procurar fazer todo

jornalista –, admito que exalto com apaixonado entusiasmo a obra e os feitos realizados pelos

pioneiros do movimento adventista. O leitor saberá compreender que o livro foi escrito por

alguém que pertence ao movimento e defende sua filosofia e, por isso mesmo, não pretende

divorciar-se de seus valores para atingir uma impossível perspectiva neutra.

Finalmente, os agradecimentos. Seria impossível mencionar todas as pessoas que, de forma

direta ou indireta, contribuíram para que este trabalho fosse desenvolvido. Mesmo assim, não

poderia deixar de agradecer às senhoras Paulina Gohr e Neli Bruns, a Augusto Alfredo

Fuckner, Hilza Fuckner, Clara B. Hort, Henrique Carlos Kaercher e Herta Hort Kaercher, Marta

Hort Rocha e Diomar Donato da Rocha, Eliseu Calson e Iria Calson (bondoso casal que me

hospedou enquanto coletava dados em Gaspar Alto), Arnoldo Schirmer e Edith Belz Schirmer,

Helmut Schirmer, Evaldo Belz (neto de Guilherme Belz), Edegardo Max Wuttke (o incansável

pesquisador) e pastor Cláudio Belz (bisnetos de Guilherme Belz, que me franquearam seus

arquivos de família e partilharam singelas recordações), Otto Kuchenbecker (responsável peloMuseu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim, que me concedeu acesso aos arquivos do museu),

Olinda Hort Schmitt, pastor Ivo Pieper (distrital de Jaraguá do Sul, na época), pastor José M.de Miranda (então distrital de Brusque) e sua esposa Rosemarie (por todo auxílio prestado na

obtenção de informações na região de Brusque), Erich Olm (advogado da Divisão Sul-

Americana) e ao seu pai Germano Willy Olm (neto de Augusto Olm, o primeiro ancião da IASD,

no Brasil), aos pastores Wilson Sarli (ex-diretor da Casa Publicadora Brasileira) e José

Silvestre (diretor de Jovens da Associação Paulistana), ao Arquivo Histórico de Itajaí.

Agradeço, também, à professora e jornalista Neila Bianchin pelo acompanhamento eorientação na elaboração deste trabalho e ao professor e jornalista Dr. Nilson Lage pela

copidescagem do texto original. Mas, sobretudo, agradeço ao Criador por me conceder oprivilégio de lidar com assunto tão inspirador. Cresci muito com este projeto e passei a sentir

ainda mais “orgulho” da fé que professo – o que espero transmitir a você, leitor.

Esta reportagem resumida e adaptada ao blog (lançada integralmente em forma de livro pelaCasa Publicadora Brasileira, em 2000, com o título A Chegada do Adventismo ao Brasil) não é

um apanhado de biografias. É antes a “biografia” de uma mensagem que transpõe barreiras

étnicas e geográficas; atravessa o tempo e alcança pessoas de diversas idades e culturas

(alcançou-me em 1989). Uma mensagem de esperança que tem o poder de transformar vidas,

mudar corações. Uma mensagem que, segundo Manoel Margarido, ex-diretor de colportagem

da União Sul-Brasileira da IASD, “está voando celeremente nas asas aurifulgentes da páginaimpressa, deixando um rastro luminoso de [pessoas] esclarecidas. O seu vôo ... será

ininterrupto, até que a mensagem resplandeça com grande poder em todo o mundo” (Revista

Mensal, abril de 1930, p. 2).

Meu sincero desejo é que este livro possa ser uma justa homenagem aos homens e mulheres

que dedicaram a vida para estabelecer a obra adventista no Brasil. Ao mesmo tempo, espero

alcançar uma classe muito especial da igreja: os jovens. Que esta leitura possa inspirá-los

com o exemplo dos bravos pioneiros que não mediram esforços ao lutar por aquilo em que

acreditavam.

Michelson BorgesTatuí, março de 2000  

Page 5: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 5/76

 

Page 6: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 6/76

Page 7: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 7/76

Capítulo 1 – O Grande Desapontamento 

Vinte e dois de outubro de 1844. À medida que os ponteiros do relógio se aproximam das 24

horas, corações ansiosos aceleram. “Deve ser à meia-noite... só pode ser!” Durante 14 anosGuilherme Miller pregara sua mensagem. Aproximadamente 50 mil pessoas em todos os

Estados Unidos (que na época tinha uma população de 17 milhões) aceitaram-na.[*] O dia tãoesperado chegara. Não havia dúvidas. As últimas horas haviam sido gastas em fervorosa

oração e reestudo da Bíblia, para confirmação das datas anunciadas na profecia. O dia era

este, sem dúvida. O dia tão esperado; o dia da segunda vinda de Jesus Cristo.

Dentre as pessoas que se uniram ao movimento Milerita, estava o pastor congregacionalista

Carlos Fitch. Fitch, de trinta anos, também concordara com a mensagem de que Jesus

voltaria no dia 22 de outubro, depois de ter estudado minuciosamente as profecias de Daniel

e Apocalipse. Tornou-se, então, importante anunciador do advento e o primeiro ministro

milerita.

Poucos dias antes de 22 de outubro de 1844, Fitch batizou três grupos sucessivos de conversos

em um rio. A cerimônia, ao ar livre, num dia frio, fez com que o pregador adoecesse. Faleceu

na segunda-feira, 14 de outubro, vítima de tuberculose.

– Mamãe, nós veremos papai novamente? – perguntam os dois filhos do pastor, em meio às

lágrimas, após o funeral.

– Sim, queridos – responde corajosamente a Sra. Fitch. – Em poucos dias, quando Jesus voltar,

Ele despertará papai e seus irmãos adormecidos também, e então seremos uma família

completa e feliz outra vez, para sempre!

Os dias transcorrem cheios de expectativa. Na noite de segunda-feira, 21 de outubro, as

crianças tornam a perguntar:

– Mamãe, amanhã vamos nos encontrar com papai?

– Sim, queridos! – diz ela olhando esperançosamente para o céu.

Carlos Fitch 

Havia muitas famílias como essa naqueles dias. Gente esperando rever os filhos que tinham

morrido de tuberculose, cólera, tosse comprida e outras doenças fatais. Milhares antecipandoa alegre reunião quando Jesus viesse novamente.

Page 8: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 8/76

 

Mas a manhã do dia 22 passou. A tarde, também.

Na pequena vila de Washington, no Estado de New Hampshire, havia uma igrejinha branca.

Pertencia à Sociedade Cristã, cujos membros aceitaram a pregação de Guilherme Miller e

outros homens sobre a volta de Cristo.

Em Low Hampton, no Estado de Nova Iorque, Miller, sua família e muitos amigos, reuniram-se

numa formação rochosa, nos fundos de casa, para esperar Jesus.

O Sol já se havia escondido. A noite começara.

“Deve ser à meia-noite... Só pode ser!” Faltam apenas minutos para as 24 horas. Segundos,

agora. Ao soarem as doze badaladas no relógio da cozinha, todos os olhares se voltam para o

céu, aguardando o “sinal do Filho do homem” e... nada! Não é possível! O que aconteceu?

Lágrimas começaram a rolar pela face de milhares de pessoas. Vinte e dois de outubro havia

terminado. Jesus não viera.

Da varanda de sua casa a Sra. Fitch ainda olha para o céu. A lua ilumina-lhe os olhos cheiosd‟água. Quase não nota uma pequena mão tocar a sua: 

– Mamãe, por que papai não veio?

“O Sol ergueu-se no oriente, „como um noivo que sai de seus aposentos‟. Mas o Noivo não

apareceu.

Permaneceu no meridiano, quente e comunicador de vida, „trazendo salvação nas suas asas‟.Mas o Sol da Justiça não apareceu.

Escondeu-se no ocidente, flamejante, cruel, „terrível como um exército com bandeiras‟.

 Aquele que Se assenta sobre o cavalo branco não retornou como o Líder das hostes celestiais.

 As sombras do ocaso estendiam-se serena e friamente por sobre a terra. As horas da noite passavam vagarosamente. Em desconsolados lares de mileritas, os relógios assinalaram doze

horas da meia-noite. Vinte e dois de outubro havia terminado. Jesus não viera. Ele não

voltara!” – História do Adventismo, pág. 34. 

Guilherme Miller foi um dos responsáveis pelo despertamento

religioso do século 19 

Page 9: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 9/76

 

(*) Outras fontes afirmam que cerca de 100 mil pessoas aceitaram a mensagem adventista. A

revista Readers‟ Digest, de abril de 1913, p. 53 e 54, no artigo intitulado “E o dia do juízo não

veio”, afirma que havia um milhão de espectadores do “grande dia”.  

Page 10: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 10/76

Capítulo 2 - O avanço da mensagem 

“E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo e disse: Vai, e toma o livrinho

aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: „Dá-me o livrinho.‟ E ele me disse: „Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre,

mas na tua boca será doce como o mel.‟ E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e naminha boca era doce como o mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.”

 Apocalipse 10:8-10. 

Os mileritas viam o “livrinho” como símbolo das profecias de tempo do livro de Daniel quehaviam sido inadequadamente compreendidas até seu próprio tempo, mas que, durante o

grande despertar do segundo advento, foram proclamadas por um movimento profético

intercontinental, representado pelo anjo com um dos pés no mar e outro na terra (Apocalipse

10:2).

Sem dúvida, anunciar a vinda de Jesus era algo “doce como o mel”. Mas, em sua felicidade,eles deixaram de compreender as outras palavras: “Havendo-o comido, o meu ventre ficou

amargo.” Na manhã do dia 23 de outubro de 1844, essas palavras não mais pareciam

incompreensíveis. “Pude ver que a visão havia falado e não mentira. ... Tínhamos comido o

livrinho; havia sido doce em nossa boca e agora tornara-se amargo em nosso ventre,

amargando todo o nosso ser”, escreveu Hiran Edson. 

“Assim, o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 havia sido predito quase dois mil

anos antes! Longe de desacreditar o despertamento adventista, serviu para comprová-lo como

um genuíno cumprimento da profecia!”[1] “Com o Seu „braço forte‟ Deus libertou o povo deIsrael do jugo faraônico e o guiou através do deserto à terra prometida; suscitou João Batista

para conduzir na Judéia uma obra precursora, anunciando o advento do Messias; iluminou a

mente dos reformadores que precipitaram a revolução religiosa do século XVI, e através dostempos, preparou o cenário para o surgimento do movimento adventista.”[2] 

Depois do grande desapontamento, os fiéis sinceros voltaram à Bíblia e, examinando-a,

recobraram ânimo e renovaram a esperança ao ler o texto de Habacuque 2:3: “Porque a visão

é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-O;

porque certamente virá, não tardará.” E Apocalipse 10:11 resumia agora a missão dos“remanescentes”: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e

reis.” 

Milhares que participaram da amarga experiência de 1844, desalentados, voltaram às suas

igrejas de origem ou continuaram a marcar outras datas para a vinda de Cristo. Outros, que

haviam entrado para o movimento apenas por algum interesse particular, abandonaram acausa por completo. Porém, outro grupo resolveu voltar à Bíblia em busca de respostas. E na

Palavra de Deus encontraram o conforto necessário para suportar as críticas e a zombaria de

um mundo irreverente e escarnecedor. “Muitas vezes” – escreveu Ellen G. White, uma das

fundadoras da Igreja Adventista – “ficamos juntos até tarde da noite, e por vezes durante a

noite inteira, orando por luz e estudando a Palavra.” 

Por manter suas idéias adventistas, este grupo acabou sendo expulso de das igrejas deorigem. Assim, “os pioneiros adventistas não começaram um movimento religioso animados

Page 11: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 11/76

pelo simples propósito de introduzir uma nova dissidência no seio do cristianismo. Não se

inspiraram na orientação teológica ou carismática de um homem. Sentiram-se integrantes de

um movimento profético suscitado pela mão de Deus para proclamar dentro do contexto do

„evangelho eterno‟ a chegada da „hora do juízo‟”.[3] 

Os anos posteriores demonstraram a importância da liderança de três pessoas em especial nomovimento: o casal Tiago e Ellen White, e José Bates. Os White iniciaram a obra de

publicações, em Rochester, Nova Iorque. O ex-capitão José Bates redescobriu um

mandamento bíblico há muito esquecido pela cristandade: o sábado do sétimo dia como dia

de repouso. Posteriormente, em 1863, os adventistas (agora Adventistas do Sétimo Dia)

adotaram a Reforma Pró-Saúde, abstendo-se do fumo, álcool, carnes imundas (como a do

porco – ver Levítico 11) e de tudo que prejudica o “templo do Espírito Santo” – o corpo

humano.

O casal White e o capitão Bates: líderes do movimento nascente 

O passo seguinte foi obedecer às palavras de Jesus em Marcos 16:15: “Ide por todo o mundo,pregai o evangelho a toda criatura.” Conscientes disso, os adventistas passaram a proclamar

pessoalmente, em conferências públicas ou através de publicações, suas convicções

religiosas: Jesus como único Salvador pessoal; a volta de Cristo como única solução para um

mundo em degeneração; a imortalidade condicional do ser humano; a aceitação da Bíblia

como única regra de fé e prática; a Lei de Deus como única ética de conduta; o sábado como

único dia santificado; e a reforma de saúde para uma vida mais digna e melhor comunhãocom o Criador. E foi justamente esse contagiante entusiasmo por promover a saúde e,

posteriormente, construir hospitais difundindo os princípios de uma medicina preventiva, quedespertou a admiração de muitas pessoas e abriu portas para a pregação do evangelho.

Page 12: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 12/76

 

“Podemos esperar que uma igreja que aguarda o fim do mundo a qualquer momentoconcentre a atenção exclusivamente em assuntos religiosos. É o que acontece com [certas

denominações], que não possuem hospitais, asilos, orfanatos e clínicas. Seu único interesse

parece ser advertir a humanidade da iminente batalha do Armagedom. Não assim os

adventistas. Sua crença na Segunda Vinda não arrefeceu seu empenho em favor da educação,do cuidado médico ou do serviço em prol de outros. Nenhuma igreja pode apresentar mais

impressionante relatório de serviço médico do que os adventistas do sétimo dia, levando-se

em conta o número total de seus adeptos”, escreveu Willian J. Whiler, professor de Históriada Universidade Católica de Pardue, Estados Unidos.[4]

Com a lembrança do grande desapontamento ficando para trás, as pessoas tornavam-se cada

vez mais receptivas à mensagem adventista. Em meados da década de 1850, tendas

evangelísticas foram erguidas num Estado após outro. Centenas, e mesmo milhares,

aglomeravam-se para ouvir Loughborough, White, Andrews, Cornell, Waggoner, Sanborn,

Taylor, Hull e outros pregarem a Palavra. Mas, mesmo que pregassem às multidões desde oMaine até Minnesota, dificilmente cumpririam a ordem de Cristo de levar o evangelho ao

mundo inteiro.

Assim, em 1855, José Bates animou os irmãos na fé a remeter literatura a algumas estações

missionárias estrangeiras. João Fischer, ex-ministro batista, chegou a traduzir um folheto

para a língua holandesa. Mas só em 1874 um missionário adventista foi enviado para terras

além-mar.

John Nevins Andrews foi o escolhido. Profundo conhecedor de grego

e hebraico, Andrews era capaz de ler a Bíblia em sete línguas diferentes, além de saber de

memória todo o Novo Testamento. Tinha apenas 15 anos quando passou pela amargaexperiência do desapontamento. Sem se deixar vencer pelo desânimo, entretanto, continuoua estudar a Bíblia, até que um folheto de Nova Iorque, escrito por Hiran Edson, explicando o

erro cometido quanto ao evento que teve lugar em 22 de outubro de 1844, trouxe de volta o

ânimo à família do jovem Andrews.

Quando John estava com 17 anos, teve de tomar uma decisão que definiria por completo sua

vida. Seu tio Carlos, homem rico que havia prosperado na carreira política e era membro doCongresso Nacional, fez-lhe uma visita e uma proposta. Ele e sua esposa Hanna não tinham

filhos e se haviam afeiçoado muito ao sobrinho, um rapaz inteligente e brilhante.

– Que prazer ver você novamente! – diz o tio Carlos. – Você está agora com 17 anos, não é

Page 13: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 13/76

verdade? Quais são os seus planos para o futuro?

– Desejo ser um pastor e pregar o evangelho – responde Andrews. O tio Carlos faz uma

expressão de desagrado.

– John, é certo o que tenho escutado sobre você, que está guardando o sábado, como osjudeus? Você quer tornar-se um pastor para pregar essa doutrina?!

– Tio Carlos, uma vez que estou convencido de que o sétimo dia da semana é o verdadeiro dia

de repouso, estou determinado a pregá-lo em todas as partes aonde eu puder ir.

– Veja, John, eu tenho algo muito mais importante para sugerir-lhe. Você é um jovem

inteligente, deve estudar Direito e entrar na carreira política. Este é um brilhante futuro.

Pode escolher a universidade que desejar e pagarei todas as suas despesas. Ademais, estou

ficando velho e, quando você terminar seus estudos universitários, estarei me aposentando e

você poderá substituir-me no cargo que ocupo.

Houve um momento de silêncio. A oferta era tentadora e John apreciava muito os estudos.Pediu um momento para pensar.

– Está bem, John. Tão logo você tenha decidido, escolha a universidade – Harward, Dartmouth

ou Yale – e tratarei de conseguir sua admissão. Pagarei os custos e também lhe comprarei

roupas e os livros que precisar.

O tio se retirou deixando Andrews pensativo. Mas a decisão do jovem já havia sido tomada.

Serviria a Deus aonde quer que Ele o mandasse, e teria todo o apoio dos pais.

Em 1874, durante a assembléia da Associação Geral dos adventistas, em Battle Creek,

Michigan, a decisão de enviar o Pastor Andrews como missionário à Europa foi aprovada pelos

delegados. Andrews não ficou muito animado; com a morte de sua esposa Angelina, em 1872,desempenhava o papel de pai e mãe de seus dois filhos Carlos e Maria. Hesitava deixar seu

recanto tranqüilo próximo à escola, onde os filhos iam bem nos estudos. “Mas logo sentiu uma

estranha transformação em suas emoções. Seu rosto brilhava quando ele se pronunciou

aceitando ir a qualquer lugar aonde o Senhor o enviasse.”[5] 

No dia 15 de setembro de 1874, John Andrews e seus filhos, juntamente com AdemarVuilleumier, embarcaram no navio Atlas, rumo à Inglaterra. Ademar seria o tradutor e

professor de francês dos Andrews.

Pouco tempo depois de estabelecidos no novo Continente, os Andrews já publicavam

Les Signes des Temps (Sinais dos Tempos). Quando tinha o material pronto, entregava-o a

Maria para ser corrigido. Com 14 anos, Maria dominava o francês e ajudava o pai em seu

trabalho editorial. Andrews precisou ainda estudar, além do francês, o alemão e o italiano,

para desempenhar seu trabalho.

No início de 1878, Andrews olhava com esperança o futuro. Havia agora adventistas na

Inglaterra, Escócia, Irlanda, Egito, Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Rússia,França e Itália. “A verdade continua avançando. O Senhor voltará em breve. Nossos dias de

Page 14: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 14/76

luto logo terminarão. Continuamos trabalhando e labutando na esperança da vida eterna”,

escreveu.

Realmente, a mensagem avançava. Mais e mais missionários foram enviados. Milhares de

folhetos e livros foram espalhados como “folhas de outono”. Turquia, China, África, as ilhas

do Pacífico, Índia, Austrália, América do Sul... Em cada “nação, tribo, língua e povo” amensagem adventista lançava suas raízes.

Até que em 1884 o adventismo chegou ao Brasil. De forma não menos providencial.

Referências:

1. Maxwell, C. M. História do Adventismo, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, pág.

54. Leia-se também o livro 1844, Uma Explicação Simples das Principais Profecias de Daniel,

de Clifford Goldstein (Casa), a fim de se ter maiores detalhes sobre o que ocorreu em 22 deoutubro de 1844.

2. Oliveira, Enoch de. A Mão de Deus ao Leme, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985,pág. 29.

3. Ibidem, pág. 35.

4. De um artigo publicado na revista US Catholic, reproduzido em O Ministério,

Janeiro/Fevereiro de 1967, pág. 14.

5. Oliveira, Lygia de. Na Trilha dos Pioneiros, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990,

pág. 152.

Page 15: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 15/76

Capítulo 3 - Em terras tupiniquins 

Enquanto, em 1860, os pioneiros adventistas na América do Norte entendiam que a mensagem

do advento devia somente ser pregada nos Estados Unidos – pois aquele país era composto degente de quase todas as nações – no Brasil era fundada a Colônia de Brusque. A maioria dos

imigrantes que se estabeleceram nessa região de Santa Catarina vieram da Alemanha (deBaden, Holstein, Oldenburg e Prússia), posteriormente, chegaram colonos italianos e

poloneses.

A imigração de alemães em grande escala, no século 19, coincidiu com o período de grandescrises que antecederam à unificação da Alemanha sob a hegemonia da Prússia, a partir de

1871. As causas dessa imigração foram tanto políticas quanto econômicas. Além do mais,

intensa propaganda era feita pelas Companhias de Colonização de alguns países interessados

em atrair imigrantes.

As grandes levas de imigrantes alemães entraram no Brasil entre 1850 e o final do século (SãoLeopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida dessa saga iniciada em 1824, com

a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipado de

Portugal). Mas foi só em quatro de agosto de 1860 que a Colônia de Brusque iniciou sua

história, com o desembarque dos primeiros colonos às margens do Itajaí-Mirim. O rio se

tornaria uma testemunha muda do início de uma nova vida para os colonos alemães, assim

como, 35 anos mais tarde, seria palco de um “novo nascimento” para os primeiros conversosao adventismo em Santa Catarina.

Os colonos vieram iludidos. A propaganda na Alemanha não lhes dava a mínima informação

das reais condições de seu novo “lar”. Dizia, sim, que eles encontrariam um paraísosubtropical onde todos seriam proprietários de terras. Estavam totalmente despreparados

para explorar um lote de terras coberto de floresta e isolado em ampla área despovoada. Essedespreparo dizia respeito a tudo: nada sabiam das técnicas agrícolas adequadas, do

equipamento necessário ao desmatamento e plantio, dos tipos de roupas adequadas à região

ou mesmo da inexistência de animais domésticos. Na administração da Colônia é que

recebiam um machado, uma enxada e um facão ou uma foice.

Com muita coragem e determinação, foram transformando o ambiente. “É o burburinho dotrabalho humano que enche o silêncio da mata. É o ruído das ferramentas que levantam

ranchos para os povoadores. É o grito dos homens na animação do trabalho, a voz das

mulheres que se ajudam e discutem os problemas comuns, são o choro e o riso das criançasque invadem o ritmo musical da natureza. A face da terra se transforma – apenas o rio

continua a correr, embora as suas águas devessem ser, daí por diante, cortadas mais

freqüentemente pelas canoas, pois continuaria a ser, por longo tempo ainda, a única via decomunicação do núcleo que iniciava a sua vida com o resto do mundo, a única estrada aberta

pela natureza, para o contato com o centro, representado pela Vila do Santíssimo Sacramento

do Itajaí”, escreveu Oswaldo R. Cabral, no livro Brusque – Subsídios para a história de uma

colônia nos tempos do Império, nas páginas 8 e 9 (1958).

Nos anos seguintes, o ritmo do trabalho não mais cessaria. O horizonte seria alargado com a

derrubada das matas. As colinas mostrariam as feridas abertas pelas ferramentas humanas eas plantações pouco a pouco surgiriam.

Page 16: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 16/76

 

A Vila de Brusque é importante para caracterizar a comunidade camponesa do Vale do Itajaí-

Mirim, no fim do século 19. Basicamente era um aglomerado com aparência semi-urbana,

inserido na área colonial. Não se assemelhava nem um pouco às aldeias camponesas alemãs

do século 19, mas, a exemplo delas, um forte laço de coesão social unia as propriedades

individuais num grupo territorial muito bem definido – a Colônia. E, se havia lugares em queos colonos mantinham suas atividades sociais e econômicas com outras pessoas, eram as

vendas.

Esses estabelecimentos comerciais ocupavam posição de destaque, não tanto pelo volume do

comércio, mas pelo fato de serem pontos de reunião para os vizinhos, o local das conversas,

da vida social, da venda e troca de mercadorias e da entrega de correspondência.

Nessa Stadtplatz (como os colonos chamavam a Vila de Brusque), havia uma venda que se

tornaria muito especial. Pertencia ao Sr. Davi Hort, comerciante vindo da Alemanha. Nela, no

início do ano de 1884, a mensagem adventista chegaria pela primeira vez ao Brasil.

Vila de Brusque no início do século 20  

** OS PRIMEIROS IMPRESSOS

A poeira que se eleva quase impossibilita a identificação do par de brigões. Um grupo de

homens já forma um círculo em torno dos dois corpos suarentos que se contorcem no chão.Afinal, era o tipo de acontecimento que servia para quebrar a monotonia da Vila de Brusque.

– Vai lá! Quebra a cara dele! – animam alguns.

Borchardt, o mais jovem, leva vantagem sobre o oponente. Num giro rápido de corpo, coloca-

se sobre o adversário imobilizando-lhe os braços. Grossas gotas de suor escorrem-lhe da testa,

molhando a face avermelhada de raiva. Os olhos parecem-lhe saltar das órbitas.

– Deixa pra lá, Borchardt... Não vale a pena brigar por isso! – diz um senhor de meia-idade,

tentando acalmar os ânimos.

Page 17: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 17/76

Borchardt levanta o punho, hesita por um momento, mas, não dando ouvidos ao conselho, dá

um forte soco no rosto do adversário.

Não havendo reação por parte do homem, Borchardt se levanta com alguma dificuldade,

sacode a poeira da roupa e arruma os cabelos despenteados. O círculo fecha-se mais,

enquanto o grupo de homens observa o corpo imóvel no chão. De repente, quebrando osilêncio, alguém comenta:

– Acho que ele está morto.

Um calafrio percorre a espinha do jovem alemão que, sem dizer uma palavra, sai correndo

em direção à casa do padrasto Carlos Dreefke. Temendo que a polícia pudesse persegui-lo,

Borchardt evita a picada principal, e toma um atalho não muito utilizado.

Uns cinco quilômetros depois, o jovem ofegante chega à rústica casa do Sr. Dreefke. Àquela

hora ninguém se encontrava em casa; estavam todos na roça ou talvez no engenho. Não haviatempo para comunicar ao Sr. Dreefke. Assim, Borchardt apanha alguns mantimentos e roupas

para dirigir-se ao porto de Itajaí, distante 40 quilômetros. Seria dura e longa a caminhada.

Sem nenhum dinheiro no bolso (naquele tempo – fim do século 19 – as transações comerciais

com os vendeiros eram feitas na base da permuta), Borchardt inicia a viagem mata adentro.

Os únicos caminhos até a Vila de Itajaí eram uma pequena estrada aberta pelos arrastadores

de madeira para as serrarias ou através do rio, em pequenas embarcações. Borchardt opta

pela estrada pois não quer arriscar contato com alguém que possa reconhecê-lo.

Dias depois, transpondo montanhas e dormindo na mata, chega ao seu destino, totalmenteexausto e faminto. No porto, Borchardt fica sabendo da partida de um navio rumo à

Alemanha. Sem pensar duas vezes, entra sorrateiramente na embarcação, escondendo-se

entre a carga.

Quando o verde vale do Itajaí já havia desaparecido no horizonte, o capitão encontra

Borchardt dormindo entre algumas caixas. Depois de alimentado, o jovem explica sua

situação ao capitão que, sem outra alternativa, obriga-o a trabalhar para pagar a passagem.

Os dias transcorrem calmamente. Certa manhã, no fim da viagem, Borchardt percebe a

aproximação de dois senhores bem vestidos e sorridentes.

– Bom dia, senhor! Você vem do Brasil, não? – pergunta um deles, em alemão.

– Sim... da província de Santa Catarina – responde Borchardt, desconfiado.

O outro senhor estende-lhe a mão e diz:

– Nós somos missionários adventistas. Gostaríamos de saber se há algum evangélico em sua

terra.

Vendo que não há o que temer, Borchardt prossegue.

Page 18: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 18/76

Page 19: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 19/76

Capítulo 4 - Recebendo a mensagem 

O ano novo não começara nada bem. As chuvas constantes ameaçavam as plantações e

tornavam desgraçadamente previsível uma nova cheia do rio Itajaí-Mirim.

Na Kaufläden (venda) do Sr. Davi Hort – um típico casarão colonial de dois pavimentos, acerca de oito quilômetros do centro atual de Brusque – o comerciante conversa com alguns

colonos.

– Sr. Hort, o senhor sabe como as chuvas têm dificultado as colheitas neste ano. Não temosmuita mercadoria excedente para trocarmos, mas precisamos de novas ferramentas e alguns

mantimentos...

A venda facilitava o comércio em pequenas quantidades. O colono vendia ou trocava seus

produtos agrícolas e voltava para sua propriedade levando bens de consumo para uso da

família. Servia, ao mesmo tempo, como local de armazenagem de produtos agrícolas e comoponto de distribuição de mercadorias não produzidas na área. O colono deixava na venda uma

parte da produção agrícola do seu lote e levava sal, toucinho, ferramentas, óleo, tecidos e

armas. Os colonos chamavam a isto de trok (adaptação do termo português “troca”), pelofato de que não entrava dinheiro na transação.

– Bem, não posso fazer muito por vocês – diz Davi Hort, coçando a barba, enquanto se apóiacom os dois cotovelos sobre o balcão de madeira. – Os produtos tiveram um aumento de preço

na Vila de Itajaí e eu não posso sair em prejuízo. Mas me digam: vocês não trouxeram fumo

ou banha?

– Muito pouco, Sr. Hort. Como lhe dissemos, a colheita neste ano não tem sido como

esperávamos.

Dentro das pequenas propriedades, os colonos também se dedicavam a um cultivo puramente

comercial: o fumo, que se destinava ao mercado, sendo apenas uma pequena parte

consumida no local. Por outro lado, parte da produção agrícola chegava às vendas

indiretamente. Milho, inhames e aipim eram utilizados para alimentar os porcos que,

transformados em banha, constituíam uma das mais importantes fontes de renda do colono.Os verdadeiros excedentes da produção camponesa estavam, pois, reduzidos a dois artigos: o

fumo e a banha. O cultivo do fumo, contudo, não foi nunca atividade agrícola mais

importante do que as outras. O colono não deixava de cultivar milho, mandioca e outrosprodutos necessários à sua subsistência para se dedicar à agricultura comercial, embora essa

significasse, muitas vezes, dinheiro vivo. O fumo era praticamente o único artigo que os

vendeiros pagavam em dinheiro.

As vendas principais ficavam na sede da colônia. Outras, de importância secundária,

localizavam-se nos entroncamentos de picadas e tinham mais características de entreposto de

trocas. Na prática, esses vendeiros eram intermediários dos vendeiros da sede mais do que

comerciantes independentes; também colonos, tinham, como atividade suplementar,

pequenas vendas. Nelas se encontravam alguns produtos de maior necessidade (alimentos e

pequenas ferramentas); para qualquer transação comercial maior, era necessário ir à vila.

Page 20: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 20/76

Bem ou mal, o colono dependia do vendeiro. A colônia estava isolada, longe de qualquer

centro urbano. Qualquer deslocamento, mesmo para um centro comercial mais próximo (no

caso, o porto de Itajaí), demorava de uma semana a 15 dias. O colono não tinha condições de

se afastar tanto tempo de suas plantações, ainda mais pelo fato de dedicar todo o tempo que

restava aos “serviços acessórios” (como o corte de árvores). Por outro lado, para levar a

mercadoria pessoalmente até Itajaí necessitava ter pelo menos bons animais de carga,sujeitando-se a viajar numa picada em péssimas condições, ou dispor de uma embarcação.

Praticamente nenhum pequeno proprietário da região colonial tinha condições para isso.

Deste modo, os comerciantes é que ditavam as regras.

– O que eu posso fazer – continua o Sr. Davi – é vender fiado o que vocês precisam. Depois a

gente negocia a melhor forma de pagar a dívida.

Georg Friedrich Adolfo Hort, de 11 anos, filho mais novo do casal Davi e Anna Dorothea

Elizabeth Stalenburg Hort, acompanha a conversa com muita atenção, sentado sobre algumas

sacas de feijão. Apesar da pouca idade, Adolfo sabe que a dívida daqueles homensdificilmente poderá ser paga. Os colonos também sabem. Mas era um círculo vicioso do qual

dificilmente podiam escapar. Como o excedente da produção de cada família era pequeno, aoser saldada uma dívida, uma nova era contraída.

Os colonos ainda discutem as condições do acordo, quando entra um garoto, vestindo uma

velha capa de chuva e tendo nos braços um pacote de forma retangular. Por um momento,

todos ficam quietos, aguardando as palavras do rapaz.

– “Seu” Davi, mandaram-me trazer esta encomenda para cá. É para o Sr. Dreefke.

Carlos Dreefke (padrasto do fugitivo Borchardt), como quase todos os colonos daquela época,

tinha a sua pequena propriedade da qual vivia. Providencialmente, encontrava-se na vila

naquela manhã chuvosa de verão, fazendo negócios com os vendeiros da região. O Sr. Davi

Hort já o havia visto passar em frente ao seu estabelecimento e, curioso para conhecer oconteúdo do pacote, diz ao garoto:

– Faça-me um favor, rapaz: procure o Sr. Dreefke, ele deve estar aqui por perto.

O garoto, satisfeito pela nova “missão” e, talvez, esperando alguma pequena gratificação,

recoloca o capuz de couro e sai às ruas enlameadas. Minutos depois, volta à lojaacompanhado de Carlos Dreefke. Além de Hort e seu filho, havia mais uns oito homens na

casa; todos aguardando ansiosos.

– Guten tag, Sr. Hort. Como vão vocês? – pergunta Dreefke educadamente – Mandou-me

chamar?

– Sim. Chegou uma encomenda para o senhor. O selo diz que é dos Estados Unidos... – o Sr.

Davi aponta o dedo para o pacote a um canto do balcão – Ali está.

– Encomenda para mim?! Dos Estados Unidos?! Creio que há um engano aqui. Não fiz nenhuma

encomenda!

Page 21: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 21/76

– Mas não existem dois Carlos Dreefke nesta região! – diz um dos colonos.

– Desculpem-me, mas não posso abrir este pacote. E se eu tiver de pagar? E se for uma

cilada...

– Cilada?! – interrompe o Sr. Davi. – Ora, homem! O que pode haver de mal num simplespacote? Além do mais, o selo já está pago. O que você tem a perder?

Relutante, o Sr. Dreefke se aproxima do embrulho. Os homens o animam a abri-lo. O pequeno

Adolfo também se aproxima, com os olhos brilhando de curiosidade. Dreefke começa a rasgar

o papel lentamente, faltando pouco para um dos homens tomar a frente e terminar o serviço.

A curiosidade domina a todos.

Instantes depois, o conteúdo do pacote vem à luz: dez belas revistas com a inscrição de

capa Stimme der Warheit (A Voz da Verdade). Dreefke espanta-se mais ainda. “Quem poderia

ter-me enviado estas publicações? Quem saberia o meu endereço e meu nome?” As dúvidas semultiplicavam.

Pegando uma das revistas para si, Dreefke distribui as demais aos outros homens. Meio

decepcionados, os colonos guardam o presente – as páginas que mais tarde dariam início a

uma verdadeira transformação de mentes e corações.

Casa comercial onde foi aberto o primeiro pacote de literatura adventista no Brasil, em 1884 

Page 22: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 22/76

Page 23: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 23/76

a intenção de vendê-las para alimentar o vício que o destruía.

As revistas (como a Hausfreund , “Amigos do Lar”) chegaram e, com elas, alguns livros. Entre

eles, um muito especial: Gedanken Über das Buch Daniel(Comentário Sobre o Livro de

Daniel). Após a leitura desse livro, Guilherme Belz se tornaria – anos mais tarde – o primeiro

no Brasil a reconhecer o sábado como dia de descanso.

Em certas ocasiões, enquanto Dressler caminhava pelas ruas em busca de compradores, os

folhetos caíam-lhe das mãos trêmulas. Como não havia muito papel espalhado pelo chão

naquela época, as pessoas, curiosas, apanhavam os folhetos e os liam. Sem saber, Dressler

prestou grande contribuição à causa adventista que ensaiava seus primeiros passos em terras

brasileiras.

A Sociedade Internacional de Tratados dos Estados Unidos enviou centenas de dólares em

literatura, que Dressler transformou em cachaça. Na venda de Davi Hort, Dressler trocava as

revistas e folhetos diretamente por bebida. O Sr. Davi as usava como papel de embrulho. E foidessa forma que a mensagem adventista conseguiu se espalhar mais e mais, como folhas de

outono, alcançando famílias e corações nos quais a “semente da verdade” começara agerminar.

Page 24: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 24/76

Capítulo 6 - Os primeiros conversos 

Guilherme Belz nasceu na Pomerânia, Alemanha, em 1835. Veio para o Brasil e se estabeleceu

na região de Braunchweig (hoje Gaspar Alto), a cerca de 18 quilômetros de Brusque. Certaocasião, ao voltar das compras na Vila de Brusque, notou algo de especial em uma das

mercadorias. O papel de embrulho trazia um texto escrito em alemão. A leitura do impressodeixou Belz pensativo por várias semanas, até que, ao visitar o irmão Carl, descobriu que ele

havia comprado um livro de Frederich Dressler – livro que “coincidentemente” tratava, dentre

outras coisas, do mesmo assunto do folheto.

O Comentário Sobre o Livro de Daniel, de Uriah Smith, também estava escrito em alemão. Ao

tentar pegá-lo da estante, Guilherme derrubou-o no chão. O livro se abriu justamente no

capítulo intitulado: “O Papado Muda o Dia de Repouso”. Esse título fez  Belz recordar sua

juventude na Alemanha.

Nascido em uma família luterana, Guilherme tinha por hábito ler a Bíblia, mas algo ointrigava: “Se apenas o sábado é mencionado nas Escrituras, por que guardamos o domingo?”Sua mãe Luise e o pastor de sua igreja desconversavam e, por isso, a resposta teve que

aguardar muitos anos.

Como estava com pressa, Guilherme despediu-se de Carl levando emprestado o livro – 

segurando-o como se houvesse descoberto um verdadeiro tesouro. Chegando em casa, eleinvestigou o assunto do sábado mais a fundo, comparando o conteúdo do livro com a sua

Bíblia. Finalmente, Belz convenceu-se da santidade do sábado e de que a observância do

domingo era, na verdade, apenas uma “tradição humana”. Guilherme tinha então 54 anos etornava-se, assim, o primeiro a reconhecer, no Brasil, o sábado como dia do Senhor.

No sábado seguinte, sentado à mesa pela manhã, Guilherme não conseguia tomar o desjejum.Sua esposa Johanna, percebendo que ele parecia pálido e preocupado, perguntou-lhe:

– Querido, você não está comendo... Está doente?

– Estive estudando a Bíblia esta semana – respondeu Belz, levantando-se da mesa. – E sabe o

que descobri? O sétimo dia, o sábado, é um dia especial, separado por Deus para adoração.Combinei de ir trabalhar com meus filhos no campo, mas sinto que não devo mais transgredir

o dia do Senhor dessa maneira.

Tendo dito isso, Guilherme convidou a esposa e os filhos mais novos Guilherme, Elfride e

Augusta para guardarem o primeiro sábado da vida deles. A família Belz começou a observar o

sétimo dia em 1890. Entretanto, os três filhos mais velhos e já casados (Emília, Reinhold eFrancisco) não aceitaram a “novidade” tão facilmente (Emília, a mais velha, jamais aceitou a

mensagem adventista; mas seu filho mais velho, Leopold, posteriormente acabou se

convertendo).

Page 25: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 25/76

Guilherme e Johanna Belz: primeiros guardadores do

sábado adventistas no Brasil 

** OS DOIS MILAGRES

Francisco Belz já estava casado e morava não muito longe da casa dos pais. Fora convencido

pelo pai da importância do sétimo dia, mas diante dos apelos para ser fiel, respondera:

– Minha esposa e eu somos muito jovens e temos muitos amigos e obrigações. Acreditamos nãoser possível para nós observarmos o sábado.

Algum tempo depois, a jovem esposa Gerthrud ficou muito doente. Uma noite ela teve a

impressão de que não viveria para ver o sol nascer. Deixando-a sob os cuidados dos sogros e

dos vizinhos que estavam ali, Francisco retirou-se para o jardim, por onde fluía um pequenorio. Ajoelhando-se à beira do riacho, ele abriu o coração a Deus:

– Senhor, eu e minha esposa estávamos planejando uma vida longa e próspera. Esperávamos

passar muitos dias felizes neste mundo, e então recusamos obedecer aos Teus mandamentos.

Mas subitamente a doença penetrou em nosso lar e a morte jaz à porta. Quão tolos fomos emdepositar nossa confiança nesta vida![1]

Francisco confessou seus pecados e pediu perdão a Deus, prometendo servi-Lo daquele dia em

diante, sendo fiel às Escrituras. Naquele momento, grande paz encheu-lhe o coração. Ele

pôde sentir o amor do Salvador e teve a convicção de que sua esposa seria curada, se eles

simplesmente se entregassem a Deus. Levantou-se, entrou na casa, foi até o leito de

Gerthrud e disse:

– Querida, você não vai morrer, mas viver. Eu entreguei minha vida a Deus e prometi ser-Lhe

fiel. Quero que você guarde o sábado comigo.

Page 26: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 26/76

Gerthrud aceitou o convite do esposo e imediatamente foi curada, levantando-se da cama,

sob os olhares admirados dos que ali estavam. Esse jovem casal permaneceu leal à promessa

que fizeram. Anos depois, Francisco iniciaria seu trabalho como pastor missionário.

Francisco Belz e família. A doença e a cura deGerthrud fizeram-nos abraçar a mensagem (em pé, à esquerda, Rodolpho Belz) 

Não muito longe da casa de Francisco vivia outra família: os Olm. Assim como Guilherme Belz,

Augusto Olm viera da Pomerânia para o Brasil em 1875, estabelecendo-se, também, emGaspar Alto. A esposa de Augusto, Johanna, estava doente havia cinco anos, tendo que ser

carregada de um cômodo a outro da casa. Quando ela ouviu falar do que ocorrera com

Gerthrud, um lampejo de esperança iluminou-lhe os olhos. Pediu uma Bíblia e passou a

estudá-la, tentando compreender as “novas idéias” defendidas pelos Belz. Finalmente seconvenceu da verdade e a aceitou de todo o coração, decidida a se preparar para a segundavinda de Cristo. Para sua grande surpresa, além da paz que passou a sentir, a doença

desapareceu completamente. Ela se levantou da cama e reassumiu as atividades domésticas.

Quando Augusto chegou do trabalho na roça, esperando ter que preparar o jantar como

sempre fazia, encontrou a mesa pronta e sua esposa andando alegre pela casa. Por ummomento temeu que o longo tempo de prostração lhe houvesse afetado a mente, e perguntou

o que tinha acontecido. Johanna contou tudo ao marido e disse que queria que ambos fossem

fiéis a Deus, inclusive na observância dos dez mandamentos. Mais tarde Augusto aceitou a

mensagem, tornando-se o primeiro ancião da igreja de Gaspar Alto e do Brasil.

Page 27: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 27/76

  Augusto e Johanna Olm 

O pastor Frank H. Westphal conta que “foi dessa maneira que este grupo de crentes abraçou a

verdade, sem ter visto um ministro adventista do sétimo dia, sendo guiados à luz pelo próprioSenhor”.[2] 

Em 1924, a família Olm mudou-se para Taquara, RS. Augusto morreu de enfarto, em 15 de

setembro de 1929, com 83 anos. Johanna faleceu sete anos depois, com 86 anos.

** A SEITA DE STANGNOWSKY

Houve outro guardador do sábado, chamado Augusto Anniess, também imigrante alemão,

vindo para o Brasil com vinte anos, que já observava o sétimo dia (à sua maneira) antes

mesmo de Guilherme haver tomado sua decisão. Anniess nasceu em 9 de dezembro de 1854,tendo sido batizado com 15 anos de idade na Igreja Batista. Dois anos depois, ainda na

Europa, descobriu a verdade sobre o sábado e tornou-se adepto de uma seita liderada porStangnowsky (natural da Prússia), também ex-batista. Embora tivesse tido contato com o

pastor John Andrews, em 1875, o movimento de Stangnowsky pregava a volta de Cristo para o

ano de 1896, ocasião em que, segundo eles, o Paraíso seria estabelecido no Pólo Norte.

Augusto Anniess fixou residência em Joinville, SC, e se uniu ao ramo dos seguidores de

Stangnowsky, liderados por Kinder, que fora enviado como missionário para o Brasil, em 1878.Annies tornou-se, então, editor das publicações do movimento.

Em maio de 1895, o pastor Frank Westphal visitou Joinville e encontrou um grupo de mais de

70 membros do movimento de Stangnowsky (já falecido na época).[3] Sobre esse contato, o

pastor Westphal relatou o seguinte: “Cerca da metade dos membros de sua igreja havia se

recusado a seguir essas idéias estranhas, e imediatamente se uniu a nós ao ser-lhesapresentada a verdade. Os demais, entretanto, sob a liderança de um fervoroso cristão de

nome Anis [Anniess], permaneceram fiéis aos ensinamentos de Stangnowsky, crendo que ele

ressuscitará de maneira especial para cumprir suas promessas.”[4] 

O pastor Westphal buscou abrir os olhos de Anniess, mantendo com ele, certa vez, o seguinte

diálogo:

Page 28: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 28/76

– Você espera estar no Pólo Norte em 1896?

– Sim – disse Anniess.

– Você me escreverá então uma carta antes do fim do ano de 1896? – tornou a perguntar o

Pastor Westphal. Ao que Anniess respondeu:

– Sim.

– Obrigado – agradeceu Westphal. – Espero que sua carta tenha selo e carimbo do correio de

Joinville e não do Pólo Norte.

De fato, antes do fim de 1896 o Pastor Westphal recebeu uma carta de Anniess, com selo de

Joinville, contando que havia abraçado a fé adventista do sétimo dia, juntamente com os

demais que haviam permanecido fiéis a Stangnowsky.

A respeito dos seguidores desse movimento europeu, Friedrich Stuhllman, escrevendo

na Missionary Magazine, em julho de 1899, diz que muitos anos depois esses observadores dosábado foram alcançados pela mensagem adventista, da qual Kinder, embora de idade

bastante avançada e com a vista muito fraca, tornou-se ardoroso adepto.

Augusto Anniess casou-se com Ida Panzer e teve sete filhos. Mudaram-se de Joinville para

Curitiba, em 1906, onde Anniess assumiu a função de tesoureiro da recém-criada Associação

Santa Catarina-Paraná.

Bodas de Ouro de Augusto e Ida Anniess 

** ESPALHANDO AS BOAS-NOVAS

Guilherme Belz (o primeiro guardador do sábado no contexto das três mensagens angélicas)

não demorou a espalhar as novas em sua região. Pouco tempo depois, já se reunia com dois

amigos: Augusto Olm e Frederico Schirmer. Os três ficavam horas e horas, madrugada

adentro, estudando a Bíblia à luz de lampiões. A cada sábado reuniam-se para estudar e orar,

um na casa do outro.

Page 29: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 29/76

Pouco depois, na Vila de Brusque, as famílias Look e Thrun também começaram a se reunir

aos sábados para realizar seus cultos. Entretanto, a perseguição dos luteranos e de descrentes

os forçaria a mudar-se para Gaspar Alto, em busca de paz. Em certa ocasião, enquanto

realizavam o culto do pôr-do-sol, algumas pessoas começaram a jogar pedras e ovos podres na

casa. Nas ruas, os adventistas eram vistos como “pessoas estranhas”, membros de uma “nova

seita misteriosa”. 

Um fato ocorrido com Reinhold Belz, filho mais velho de Guilherme Belz, ilustra o quão difícil

era permanecer ao lado da verdade e da justiça. Numa manhã de domingo, 8 de maio de

1927, Reinhold se dirigia para a mata, com seus filhos Reinhold (de 22 anos) e Evaldo (de 13),

a fim de cortar árvores para levar para a serraria de Fritz Peggau. Fritz era cunhado de

Reinhold e alugava sua serraria por uma porcentagem das toras cortadas. As tábuas eram

vendidas em Brusque, e esse negócio constituía um complemento às atividades da roça e da

criação de gado.

Às 8 horas da manhã, Reinhold e Reinhold Filho conduziam o carro de boi, quando em certacurva da picada, no meio da mata, três jovens os abordaram. Evaldo, atrás do carro, só

conseguiu ouvir as vozes exaltadas, mas não compreendeu o teor da conversa. De repente,ouviu um tiro e viu os três estranhos fugindo. Correu para o local do incidente e viu pai e

irmão caídos numa vala. O pai estava morto.

Com a ajuda de Evaldo, Reinhold Filho saiu do buraco e ambos correram para casa, pedindo

ajuda. O corpo de Reinhold ficou lá até a tarde, à espera do delegado.

Além de ancião, Reinhold era inspetor de quarteirão (função que, na época, equivalia à de

sub-delegado). Como era cristão, responsável pela ordem local e parente de Fritz Peggau,Reinhold se viu na obrigação de advertir o cunhado de que vira as três filhas dele saindo às

escondidas e em atitudes indecorosas com uns jovens recentemente chegados da Alemanhã.

Fritz (que na época havia abandonado a fé adventista) castigou as filhas, e elas contaram

tudo aos namorados. Estava aí o motivo para a eliminação do “incômodo delator”. 

O filho mais velho de Reinhold, Edmond, de 31 anos, ficara revoltado e queria se vingar dos

assassinos. Mas Reinhold Filho, que assistira ao assassinato do pai, disse: “Deus existe e Ele

vai fazer justiça. Não precisamos fazê-la por nossas próprias mãos.” Ironicamente, pouco

tempo depois, já libertos da prisão, os três assassinos acabaram morrendo (um deles picado

por cobra).

Page 30: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 30/76

 Da esquerda para a direita: Emílio Doehnert, nascido em 1897, foi diretor da CasaPublicadora Brasileira entre os anos de 1938 e 1949, no período da 2ª Guerra

Mundial. Evaldo Belz, nascido em 1914, foi chefe de produção da empresa adventista de

alimentos naturais Superbom, onde começou a trabalhar em 1932, aposentando-se em 1974.

Edegardo Max Wuttke, bisneto do pioneiro e pesquisador da origem do adventismo no Brasil.

E Michelson Borges, autor deste livro. Foto tirada por ocasião das comemorações doCentenário da Casa Publicadora Brasileira, em 12 de março de 2000.

** OS PRIMEIROS COLPORTORES

É interessante notar como a mão de Deus conduzia os rumos da história brasileira, a fim defacilitar a pregação do evangelho. A invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, que

pretendia dominar a Europa; a vinda da Família Real para o Brasil, escoltada por navios da

Armada Britânica; a abertura dos portos brasileiros às nações amigas (particularmente aos

navios comerciais ingleses); a permissão pela primeira vez dada na história do Brasil para o

desembarque de ministros de outras confissões religiosas; a proclamação da Independência; o

relacionamento familiar dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II com as casas reais de outros

países europeus de raízes germânicas; o início do fluxo imigratório trazendo, desses países,imigrantes luteranos e de outras denominações protestantes; e, finalmente, a crise

generalizada que se abateu sobre a Europa, estimulando mais ainda a imigração em direção

ao Brasil. Tudo isso colaborou, de uma forma ou de outra, para a chegada da mensagemadventista.

Page 31: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 31/76

Em maio de 1893, por designação da Associação Geral, o

colportor (vendedor de literatura religiosa) Albert B. Stauffer chegou ao Brasil. Segundo E. H.

Meyers,[5] Stauffer entrou pela região Sul do país, depois de ter trabalhado por dois anos no

Uruguai e na Argentina, país onde foi iniciada a obra adventista na América do Sul.

Em 1885, depois de ler avidamente alguns exemplares da revista Les Signes des Temps (Sinais

dos Tempos), Júlio Depertuis, que pertencia a uma colônia de batistas franco-suíços radicados

em Santa Fé, Argentina, tornou-se o primeiro sul-americano a reconhecer o sábado como dia

do Senhor.[6]

Posteriormente, Pedro Peverini, um senhor italiano que morava no norte da Argentina, emLas Garzas, leu em um jornal notícia sobre um batismo adventista, por imersão, realizado em

Neuchatel, Suíça. A despeito de a matéria ridicularizar a cerimônia, o assunto despertou o

interesse da família Peverine. Escreveram a uns parentes que residiam na Itália e pediram

que estabelecessem contato com os adventistas da Suíça, a fim de que enviassem o periódico

que publicavam em francês, conforme informava o jornal.

Os Peverini receberam a revista durante três anos, decidindo-se abraçar a verdade por volta

do ano 1889. No ano de 1891, Elwin Winthrop Snyder e um grupo de colportores foram

enviados para trabalhar na Argentina e, depois, no Uruguai e Brasil.[7] Junto com Snyder,

vieram também Clair A. Nowlen e Albert B. Stauffer que, como já vimos, dois anos depoisseria o primeiro colportor adventista a trabalhar no Brasil.

“O reavivamento religioso experimentado em países da Europa e América do Norte com a

pregação adventista, no início do século 19, chegava também ao Brasil, embora com cerca de

50 anos de atraso. A Igreja Adventista do Sétimo Dia despontava assim como sucessora direta

do movimento protestante, atingindo todos os continentes.”[8] 

Elwin W. Snyder veio ao Brasil logo depois de Stauffer. No Rio de Janeiro, conheceu Albert

Bachmeyer, jovem marinheiro alemão, que poucos meses antes havia aceitado a fé evangélica

quando esteve em Liverpool. Os dois tornaram-se amigos e Bachmeyer acabou se convertendoà fé adventista. Snyder o treinou para a obra de colportagem e, mesmo ainda não batizado, o

Page 32: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 32/76

jovem alemão empenhou-se em sua nova missão. A seu respeito escreveu Guilherme Stein Jr.:

“O irmão Bachmeyer era um colportor bem preparado. De agradável presença e um certo

grau de cultura... Só podemos elogiá-lo pelo que diz respeito à sua conduta e tratamento.”[9] 

Bachmeyer vendeu a literatura adventista em Indaiatuba, Rio Claro, Piracicaba e outras

localidades. Assim, os primeiros interessados na mensagem adventista, em São Paulo, foramsurgindo. Em Indaiatuba, a família de Guilherme Stein; em Rio Claro, Guilherme e Paulina

Meyer, e o filho João Meyer; em Piracicaba, o professor Guilherme Stein Jr. e a esposa Maria

Krähenbühl Stein. Stein Jr. era metodista e se converteu ao adventismo após a leitura de Der

Grosse Kampf  (O Grande Conflito), de Ellen G. White.

Mais ou menos por essa época, Albert B. Stauffer passou pelas colônias alemãs do Espírito

santo. Anos antes, atraídos pela cultura cafeeira no Brasil, e pela propaganda promovida pelo

Ministro dos Negócios Estrangeiros, Aureliano de Souza Coutinho, milhares de alemães da

região da Pomerânia acabaram povoando as colônias de Santa Isabel e Santa Leopoldina.

Stauffer vendeu vários livros O Grande Conflito nas proximidades do Córrego de Santa Maria.

“Como resultado da leitura deste livro, e de alguns outros, a colônia ficou em polvorosa.Houve discussão, brigas e perseguição. Alguns passaram a guardar o sábado, sendo por isso

chamados de sabatistas amaldiçoados (verfluchte sabatisten).”[10] 

Os adventistas que, em São Paulo e no Espírito Santo, observavam o sábado e criam na volta

de Jesus estavam totalmente alheios à existência dos irmãos de Santa Catarina que havia

alguns anos professavam a mesma fé.

Em agosto de 1894, chegou ao Brasil outro missionário

adventista:Willian Henry Thurston. Thurston, acompanhado da esposa Florence, veio dos

Estados Unidos com a missão de estabelecer um entreposto de livros denominacionais no Riode Janeiro, para atender aos colportores no Brasil. Thurston trouxe duas grandes caixas de

livros e revistas impressos em inglês, alemão e pouca coisa em espanhol. Na época, não havia

nada publicado em português.[11]

Page 33: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 33/76

Para chegar ao seu destino, muitos impressos eram despachados nos navios oceânicos, outros

nos barcos fluviais a vapor (ou mesmo a remo), outros ainda em carros de boi, em lombo de

burro e, às vezes, em algum trecho, nas costas do colportor.

** UMA BELA EXPERIÊNCIA

No livro Memórias de Tio Luiz, o autor Luiz Waldvogel conta um episódio das experiências

pelas quais Thurston passou no Rio de Janeiro:

“Enquanto em Washington, visitei várias vezes a Review and Herald [editora adventista],

procurando obter o máximo possível de exemplos e incentivos para o meu trabalho na Casa

Publicadora, tanto mais quanto o ambiente era convidativo, os irmãos todos muito gentis e

atenciosos. Com os diretores, redatores desenhistas, etc., colhi informações preciosas acerca

do preparo de originais, redação, revisão... No gabinete do diretor artístico, foi-me

apresentada uma de suas secretárias: Mrs. Thurston.

“– Mrs. Thurston? – indaguei. O nome me era conhecido. Ah, sim... prende-se a uma bela

experiência de um dos pioneiros adventistas no Brasil. Perguntei:

“– A senhora tem qualquer parentesco com o irmão Thurston, que foi missionário no Brasil?

“– Perfeitamente. Sou nora de W. Thurston.

“E à minha mente vieram os contornos daquele incidente, que fala da solicitude do Senhorpor sua Obra no Brasil. Voltando depois à biblioteca, recorri ao livro The Hand that

Intervenes [A Mão que Intervém], do pastor W. A. Spicer. ... Lá relemos a edificantenarrativa:

“Muitos anos atrás, havendo desembarcado recentemente na cidade do Rio de Janeiro, o

missionário W. Thurston se viu, com a família, sem dinheiro e sem pão. Por alguma falha,uma esperada remessa de dinheiro não lhe havia chegado. Era completamente estranho na

grande cidade.

“Sendo convidado a dirigir a palavra aos marinheiros, num salão missionário do porto,

desincumbiu-se da tarefa, falando do amor de Deus aos homens, e sem dar absolutamente a

entender a sua necessidade de alimento. terminada a palestra, um cavalheiro veio a frente, econvidou o irmão Thurston para acompanhá-lo ao seu escritório. O próprio irmão Thurston

referiu o caso numa conferência missionária:

“„Segui-o ao seu gabinete, e ele disse:

“„– Aqui está um pouco de dinheiro. Quero que o senhor o leve e o use até que eu lho peça – e

entregou-me um saquitel de dinheiro, cerca de quatrocentos cruzeiros.

“„– Bem – respondi – eu não lhe pedi dinheiro...

“„– Eu sei – replicou ele – mas esse dinheiro me está sobrando aqui, e todos os dias tenho deguardá-lo. Quero que o senhor o leve e o use; talvez esteja precisando.

Page 34: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 34/76

 

“„Então eu lhe expliquei como de fato estávamos sem recursos, e nada tínhamos que comer,e era isso mesmo que necessitávamos. Tivemos uma conversa muito agradável, e minha

esposa e eu fomos para casa e rendemos graças ao Senhor.

“„De tempos a tempos, quando me encontrava com aquele senhor na rua, ele me entregavaimportâncias que iam de duzentos a mil cruzeiros, dizendo: „Tome isto: está-me sobrando.

Não preciso disso. Leve-o e use; talvez precise. Fique com isso até que eu lhe peça.‟  

“„A importância total atingiu de seis a sete mil cruzeiros; e quando devolvi o dinheiro aohomem, ele disse:

“„– Eu nunca em minha vida fizera tal coisa de entregar dinheiro a alguém sem lhe exigir

nenhum documento; mas eu sei o que foi que se deu: Deus me mandou que lhe desse esse

dinheiro, porque o senhor tinha necessidade dele.‟”[12] 

** OS PRIMEIROS BATISMOS

Pastor Frank Westphal (sentado) e família 

O mesmo navio – Magdalena – que trouxe o casal Thurston ao Brasil levou o pastor Frank Henry

Westphal para a Argentina. Eram poucos os primeiros representantes da Igreja Adventista no

continente sul-americano. No final de 1894, num território de 15.500.000 quilômetros

quadrados, somente dez homens se dedicavam à proclamação da fé adventista, oralmente ou

por escrito. Um deles era o pastor Westphal, outro era o diretor de colportagem, e os outros

eram colportores, incluindo Stauffer e Bachmeyer. Mas, em apenas cinco anos, os dez já eram

duzentos![13]

Neste mesmo ano – 1894 – Albert Bachmeyer chegou ao Estado de Santa Catarina. Grande foi

sua alegria quando, ao oferecer livros a uma família em Brusque, descobriu que haviaadventistas ali. Imediatamente, transmitiu a boa notícia a Thurston que, por sua vez,

Page 35: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 35/76

escreveu informando o pastor Westphal, na Argentina.

Westphal foi o primeiro ministro adventista enviado para servir na América do Sul. Ordenado

ao ministério em 1883, em Michigan, dedicou-se à missão urbana de Milwaukee e lecionou

História no Departamento Alemão do Union College. Em 1894 foi chamado para servir no

continente sul-americano.

O pastor F. H. Westphal veio para a América do Sul juntamente com Willian Henry Thurston,

que era irmão da esposa do pastor. Thurston, como já vimos, ficou no Rio de Janeiro e

Westphal seguiu para a Argentina.

Em fevereiro de 1895, o pastor Westphal desembarcou no Rio de Janeiro, onde o esperavam o

casal Thurston e o colportor A. B. Stauffer. Sobre esta experiência Westphal escreveu:

“Quando a Associação Geral me enviou para o grande continente meridional, eu fui nomeado

superintendente da Missão Costa Leste da América do Sul, que incluía Argentina, Uruguai,

Paraguai e Brasil. Assim, eu me senti na obrigação de fazer uma visita ao Brasil logo quepossível. Após ter passado aproximadamente seis meses na Argentina e no Uruguai, zarpei

para o Brasil em fevereiro de 1895. Quando nosso barco chegou, ficamos de quarentena[procedimento comum na época] numa linda ilha [Ilha das Flores] perto do Rio de janeiro,

onde permanecemos muitos dias.”[14] 

Acompanhado por Stauffer, o pastor Westphal seguiu primeiro para o interior de São Paulo,

para batizar os primeiros conversos naquele Estado. “A terra era muito traiçoeira” – conta

Westphal – “e encontramos muitos desmoronamentos em nosso caminho, alguns dos quais atémesmo soterraram o trilho do trem. Tivemos que viajar a pé 60 quilômetros no abrasador e

sufocante calor de um verão tropical, mas arranjamos um trem carregador de cascalho para orestante da viagem. Fomos a Piracicaba para realizar nosso primeiro batismo no Brasil, pois

morava nessa cidade um crente que já obedecia à verdade havia algum tempo, tendo até

mesmo traduzido o livro Caminho a Cristo para o português.”[15]  

O crente a quem o pastor Westphal faz referência é o professor Guilherme Stein Jr.,

justamente o primeiro adventista brasileiro a ser batizado, numa manhã de abril de 1895. Seu

batismo foi realizado no rio Piracicaba, que na língua indígena significa colheita de peixes.

“Interessante o simbolismo, porque este primeiro batismo seria apenas o primeiro passo para

uma grande colheita de almas.”[16] 

“Guilherme Stein Jr. nasceu em Campinas, em 13 de novembro de 1871, e estudou nessa

cidade, num colégio alemão luterano. Em 1893, transferiu-se para Piracicaba, indo residir na

casa dos pais de Maria Krähenbühl, com quem se casou posteriormente. Os Krähenbühl eram

metodistas. Guilherme Stein começou a freqüentar a Igreja Metodista e converteu-se. Tornou-

se ardoroso estudante da Bíblia. Levantava-se todos os dias às cinco horas da manhã, para ler

e estudar a Palavra de Deus antes de ir para o trabalho...

“Maria Krähembühl contou a Guilherme Stein que sua avó possuía um livro que lhe fora

vendido por dois homens que não tomavam café (Albert Staufer e Albert Bachmeyer). O livro

era Der Grosse Kampf  (O Grande Conflito). Foi grande o entusiasmo e intereresse de

Guilherme Stein ao ler esse livro. Desejou mais literatura e ao encontrar no próprio livro onúmero de uma caixa postal no Rio de Janeiro, entrou em contato com Willian Henry

Page 36: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 36/76

Thurston, que lhe remeteu mais literatura e ao mesmo tempo escreveu ao seu cunhado Frank

Henry Westphal, na Argentina, para que viesse conhecer o progresso missionário adventista no

Brasil através da colportagem.”[17] 

Guilherme Stein Jr.: primeiro converso batizado noBrasil 

Stein Jr. desempenhou papel importante na obra adventista do Brasil como colportor,

evangelista, professor, administrador, redator e editor. Sobre seu batismo, diz o pastor

Westphal: “Escolhemos para o batismo um lugar em que uma pequena ponta de terra se

projetava em direção às águas. Temendo que pudesse atolar-me naquele local, pedi que o

irmão Stauffer me segurasse pelo paletó com uma das mãos, e com a outra se agarrasse a um

galho de árvore, permitindo assim que eu ajudasse também o candidato. Desta forma

entramos na água e foi realizado o batismo.”[18] 

Page 37: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 37/76

 Local do primeiro batismo adventista no Brasil 

O segundo batismo ocorreu logo em seguida, em Rio Claro, com dois conversos: Guilherme e

Paulina Meyer. Logo depois, mais seis pessoas foram batizadas em Indaiatuba: Guilherme

Stein (pai), sua esposa e mais quatro filhos. A etapa seguinte era Santa Catarina.

Antes de chegar a Brusque, no dia 30 de maio de 1895, o pastor Westphal pregou a mensagem

nas cidades de Joinville, Blumenau e outras da região. Deixou mais de 30 observadores do

sábado em Joinville (dentre eles os ex-seguidores de Stangnowsky), preparando-se para umbatismo futuro.

Já em Brusque, Westphal diz ter encontrado os primeiros grupos de conversos aos

adventismo, no Brasil. “O primeiro grupo a ser visitado vivia numa pequena comunidade um

pouco distante de Brusque”, lembra Westphal. “Um jovem montado numa mula foi o meu

guia. Iniciamos a viagem à uma hora da manhã, viajando por montanhas altas e, quando o dia

amanheceu, estávamos bem acima das nuvens, que pareciam belos lagos. Após viajarmos

diversas milhas, alcançamos o lar do irmão Guilherme Belz, que alguns anos antes havia

aceitado a mensagem.”[19] 

Enquanto visitava a Vila de Brusque e suas imediações em busca dos crentes dispersos, o

pastor Westphal teve que enfrentar a forte oposição e intransigência dos religiosos da época – 

tanto luteranos como católicos – que se consideravam donos da verdade. Algumas vezes

esteve a ponto de perder a vida, mas prosseguiu em sua missão.

Emocionados, os novos conversos ouviram pela primeira vez a pregação de um ministro

adventista. Em 8 de junho de 1895, foi realizado o primeiro batismo de oito pessoas no rio

Itajaí-Mirim, uns cinco ou seis quilômetros acima da Vila de Brusque. Foram registradas as

seguintes pessoas: o casal Ludwig e Henriette Look, Carlos Look Filho e Ida Look, o casal Karl

e Hulda Thrun e os filhos Hermann, Gustav e Isidor Thrun.

Três dias depois, o pastor Westphal realizou o segundo batismo em Braunschweig (Gaspar

Page 38: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 38/76

Alto). Naquele dia, mais 14 pessoas foram batizadas: o casal Guilherme e Johanna Belz,

Francisco e Gerthrud Belz e Anna Wagner; o casal Augusto e Johanna Olm, Margarete Olm,

Ricardo Olm e suas irmãs Martha e Clara Olm; Hermann e Emill Olm o colportor Albert

Bachmeyer que, embora convertido, ainda não havia sido batizado.[20] (Em 14 de dezembro

desse mesmo ano, foi realizado o primeiro batismo adventista no Estado do Espírito Santo. O

Pastor Huldreich Graf batizou na ocasião 23 pessoas, dentre as quais os pais do PastorGustavo Storch.[21])

Certo dia, o pastor Westphal estava fazendo os preparativos para uma reunião de sexta-feira

à noite e sábado, no final da qual haveria uma Santa Ceia, em Brusque. Entretanto, o dono da

casa onde os adventistas iriam se reunir não quis mais cedê-la; devolveu o dinheiro do aluguel

e pediu o recibo de volta. O pastor Westphal perguntou o porquê daquilo e o proprietário

explicou que o padre o havia visitado, ameaçando denunciá-lo no sermão de domingo, caso

ele permitisse que os adventistas usassem a casa. Como aquele senhor era comerciante,

temeu que aquilo trouxesse vexame sobre ele, atrapalhando seu negócio. Percebendo que o

homem estava realmente preocupado, o pastor Westphal devolveu-lhe o recibo pegando odinheiro de volta.

O gerente de uma fábrica de roupas, sabendo do problema, cedeu uma grande sala para

realizarem o culto de sexta-feira à noite. Mas, na manhã seguinte, o proprietário da fábrica,

também por imposição do pároco, mandou suspender a cessão do local. Depois de procurarem

sem sucesso outro lugar, os adventistas reuniram-se à margem do rio Itajaí-Mirim, onde havia

toras de madeira que serviram de assento, e uma tora maior, com superfície plana, que serviu

de mesa para a Santa Ceia.

Sobre essa reunião, ocorrida em junho de 1895, disse o Pastor Westphal: “Naqueles bancos demadeira junto ao rio formamos o primeiro grupo organizado de adventistas do sétimo dia do

Brasil[22] e celebramos a Ceia do Senhor.”[23] Augusto Olm foi escolhido para a função de

primeiro-ancião e Guilherme Belz, para a de diácono. Os cultos eram realizados

alternadamente na casa dessas duas famílias, até que, no dia 23 de março de 1898, foiinaugurado o singelo templo de Gaspar Alto.

Além dos membros batizados, vários interessados na mensagem participaram daquela Santa

Ceia às margem do Itajaí-Mirim. Um deles era uma mulher proprietária de uma destilaria.

Durante o culto ela nada dizia, mas lágrimas lhe rolavam dos olhos, porque um de seus filhos

havia falecido justamente em decorrência do alcoolismo e um outro estava indo pelo mesmocaminho. No final da cerimônia, ela retornou decidida para casa. Fechou a destilaria e

transformou o salão de bailes numa casa de culto.

Depois de passar cinco meses longe da Argentina, o pastor Westphal ansiava por rever a

família. Planejava viajar no dia seguinte à cerimônia às margens do Itajaí-Mirim, quando

recebeu mensagem de um comerciante, pedindo-lhe para visitá-lo à noite, antes de viajar. O

homem havia convidado várias pessoas para ouvir o pastor falar sobre a Palavra de Deus, e

Westphal aceitou o convite, pregando um sermão sobre “a obra do selamento”. O próprio

pastor Westphal conta o que ocorreu então: “Eu estava finalizando meus comentários com um

apelo fervoroso para que meus ouvintes se preparassem para a vinda do Senhor. Houve um

súbito barulho, como o tiro de um canhão. Inconsciente do que havia ocorrido, mas vendomeus amigos pegando pedras no chão, eu olhei para a janela atrás de mim. Lá, suspensa pela

Page 39: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 39/76

frágil cortina, havia uma pedra grande, de aproximadamente duas vezes o tamanho do punho

de um homem. Então meus amigos me disseram que oito homens tinham se reunido perto da

janela com uma pedra cada um. E quando um deles contou até três, todos juntos atiraram as

pedras ao mesmo tempo, tendo como alvo minha cabeça. Mas nenhuma pedra sequer tocou

em mim. O comerciante, profundamente emocionado por toda esta maravilhosa manifestação

do cuidado protetor de Deus, ajoelhou-se e orou.”[24] 

Logo após a reunião, Westphal planejava voltar ao hotel a fim de prosseguir viagem durante à

noite, mas seus ouvintes insistiram para que não fizesse isso, pois os agressores poderiam

estar à beira da estrada aguardando para um novo ataque. Westphal disse que não poderia se

arriscar a perder o navio para Buenos Aires. Ele estava preocupado com a esposa, que não

sabia falar espanhol, e com os filhos pequenos.

Mais tarde Westphal soube que, de fato, aqueles oito homens haviam se escondido atrás de

alguns arbustos no caminho por onde ele voltou para o hotel. Mas “o poder protetor de Deus

lhes impediu de me atacarem”, escreveu o pastor. “À uma hora da manhã eu iniciei minhajornada a cavalo, regozijando-me por ter escapado sem nenhum arranhão.” 

Depois de uma longa cavalgada, cansado e exausto, Westphal alcançou o navio que rumava

para a Argentina. Como seu dinheiro estava no fim, ele comprou uma passagem de terceira

classe, dormindo num banco sem colchão. Numa parada no Rio Grande do Sul, Westphal

comprou um cobertor a fim de melhor enfrentar o clima frio do sul.

Dias depois, quando finalmente chegou em casa, a esposa e o filho de quatro anos foramrecebê-lo à porta, mas a filhinha Helen não apareceu. A Sra. Westphal, com o olhar triste,

contou então ao esposo que sua filha havia falecido havia duas semanas, sendo sepultada nocemitério de Chacarita, num lugar próprio para estrangeiros. Muitas cartas foram enviadas ao

Brasil, relatando a situação de Helen, mas nenhuma delas chegou às mãos do pastor.

“À medida em que ela me contou os detalhes acerca da batalha perdida para a morte”, relataWestphal, “nossos corações sofreram, mesmo que não desejássemos reclamar. Além do mais,

essa triste experiência abriu mais ainda nossa compreensão do maravilhoso amor de Deus.

Percebemos mais profundamente quão grande foi o amor do Pai Celeste em ter dado Seu

único Filho para morrer uma morte cruel, numa terra estranha, distante de Seu lar celestial e

de todos aqueles de quem recebia amor e simpatia. Isto nos levou a consagrar nossas vidas

uma vez mais a Deus e à Sua obra, e trabalhar fielmente, para que venha logo o dia em que oSenhor aparecerá e devolverá nossa pequena filhas aos braços de sua mãe.” 

Sobre aqueles dias difíceis, a esposa de Westphal escreveu: “Longas viagens foram feitas em

assentos de madeira. Dormíamos em camas duras, pois naqueles dias poucas pessoas possuíam

colchões de mola. Em alguns lugares havia muitos mosquitos e pulgas. ... Aqueles foram dias

de bênçãos espirituais, e não existe arrependimento pelo sacrifício que fizemos. Se pudesse,

viveria aqueles dias novamente e faria um trabalho melhor pelo meu Mestre. Porém,

„passamos por este caminho apenas uma única vez‟, portanto, vamos ser fiéis enquanto os

dias ainda estão se esvaindo.”[25] 

“Nunca mais tive o privilégio de rever a cidade de Brusque”, escreveu Westphal, “mas estousabendo que novos membros foram acrescentados ao grupo de lá, e já aumentou para uma

Page 40: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 40/76

igreja de duzentos membros.”[26] 

Poucos anos depois, grupos de conversos adventistas já realizavam a Escola Sabatina em

Campos dos Quevedos e Taquari (RS), Joinville (SC), Curitiba (PR), Rio Claro e Indaiatuba (SP)

e Santa Maria (ES). O árduo trabalho dos missionários pioneiros prosperava, e mais e mais

pessoas eram salvas para o Reino de Deus.

Primeira conferência pública em Gaspar Alto. Atrás, o primeiro templo, de madeira 

Primeiro templo de Gaspar Alto, inaugurado em 23 de março de 1898 

Page 41: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 41/76

 Segundo templo de Gaspar Alto, construído após a II Guerra Mundial

Referências:

1. Westphal, F. H. Pioneering in the Neglected Continent, Nashville, Tennessee: Southern

Publishing Association, 1927, p. 32 e 33.

2. Westphal, F. H. Op. cit, p. 34.

3. Sobre esse grupo encontrado por Westphal em Joinville, o Pastor William Spicer escreveu o

seguinte: “Guardadores do sábado foram encontrados, os quais haviam aprendido sobre o

sábado, do mesmo velho grupo religioso que o nosso povo havia descoberto na PrússiaOriental. O líder deles cria que havia mais luz a ser revelada, e nessa mensagem do advento

ele e seus associados alegremente reconheceram a luz mais completa pela qual haviam

orado” (Our Story of Missions for Colleges and Academies, p. 266).

4. Streithorst, Ruth Vieira. Pelos Caminhos e Valados, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,

1997, p. 39.

5. Reseña de los Comienzos de la Obra em Sudamerica, p. 10.6. Seventh-Day Adventist Encyclopedia, verbete Snyder, Elwin Winthrop, p. 1.202 – citado por

Ruy Carlos de Camargo Vieira, em Vida e Obra de Guilherme Stein Jr . Tatuí, SP: Casa

Publicadora Brasileira, 1995, p. 132.

7. História de Nossa Igreja. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965, p. 327 e 328.

8. Vieira, Ruy Carlos de Camargo. Op. cit., p. 132.

9. Ibidem, p. 146.

10. Lüdtke, Mizael. Origem e Desenvolvimento da Igreja Adventista no Espírito Santo, SãoPaulo, SP: Instituto Adventista de Ensino, 1989, p. 17.

11. Christianini, Arnaldo B. Casa Publicadora Brasileira é História, p. 8.

12. Waldvogel, Luiz. Memórias do Tio Luiz, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p.

115 e 116, 166-168.

13. Peverini, Héctor J. En Las Huellas de La Providencia, Argentina: Associación Casa EditoraSudamericana, 1988, p. 75.

14. Westphal, F. H. Op. cit., p. 28.

15. Ibidem, pág. 29.

16. História de Nossa Igreja. Departamento de Educação da Associação Geral da IASD, 1959,

p. 311.17. Streithorst, Ruth Vieira. Op. cit., p. 51 e 52.

Page 42: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 42/76

18. Westphal, F. H. Op. cit., p. 29.

19. Ibidem, pág. 30.

20. Dados obtidos do Livro de Registro de Membros da Igreja de Gaspar Alto. Transliteração

de caracteres góticos para o português feita por Edegardo Max Wuttke.

21. Storch, Gustavo S. Venturas e Aventuras de Um Pioneiro, Santo André, SP: Casa

Publicadora Brasileira, 1982, p. 12 e 13.22. No livro Origem e Desenvolvimento da Igreja Adventista no Espírito Santo, o autor, Mizael

Lüdtke, com base no livro Our Story of Missions for Colleges and Academies, contesta essa

informação. No livro mencionado por Lüdtke, o pastor Willian A. Spicer afirma que quando o

pastor Graf visitou Santa Maria, ES, organizou ali a primeira igreja adventista brasileira, em

dezembro de 1895. Por outro lado, E. H. Meyers, que foi secretário do Departamento de

Publicações da Divisão Sul-Americana de 1923 a 1927, em seu livro Reseña de los Comienzos

de la Obra en Sudamerica, confirma a informação de Westphal, ao escrever: “Com estes 23

membros batizados se organizou, naquela época [15 de junho de 1895], a primeira igreja

adventista do sétimo dia do Brasil” (p. 5). Meyers esteve em Gaspar Alto e conversou com

alguns pioneiros ainda vivos, batizados havia 28 anos. Em seu livroPioneering in the NeglectedContinent (p. 34), Westphal diz ainda que Augusto Olm foi o primeiro ancião da igreja de

Gaspar Alto, confirmando sua organização. Posteriormente, como informa o Dr. Gideon deOliveira (História de Nossa Igreja, p. 310), o pastor H. F. Graf supervisionou, em fevereiro de

1896, a organização da igreja de Gaspar Alto.

23. Westphal, F. H. Op. cit., p. 10 a 12 e 28.

24. Ibidem, p. 37 e 38.

25. Ibidem, p. 43.

26. Ibidem, p. 37.

Page 43: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 43/76

Capítulo 7 - O dia do Senhor 

“Vocês são a luz do mundo todo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um

monte. Ninguém acende uma lamparina para pôr debaixo de um cesto. Ao contrário, ela écolocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa.” Mateus 5:14 e 15

BLH  

A mensagem adventista, embora tenha se estabelecido primeiramente em Gaspar Alto, não

conseguiu ficar escondida naquele pequeno vale em meio às montanhas. Os raios de luz do

evangelho foram pouco a pouco se espalhando. As pessoas comentavam; os folhetos e livroscontinuavam a fazer sua parte.

Em Lageado Baixo, a menos de 20 quilômetros de Gaspar Alto, Roberto Fuckner, nascido em

Holstein, na Alemanha, ouviu falar que seu amigo Guilherme Belz e outras famílias estavam

guardando o sábado.

– Sabe o quê, Maria? Eu tenho que ir a Gaspar Alto. Ouvi falar que o Guilherme e outros estão

guardando o sábado. Eles estão com a cabeça virada e preciso ir lá endireitar a cabeça deles.

Na sexta-feira seguinte, à tarde, Roberto pegou o chapéu e a bengala, despediu-se da esposa

Maria, e partiu a pé para Gaspar Alto. Ambos eram piedosos luteranos e não podiam permitir

que o amigo Guilherme se deixasse levar por “essas novas idéias estranhas”. 

Depois de uma caminhada de cerca de três horas por um estreito atalho, Roberto chegou até

a casa do amigo. Guilherme o recebeu sorridente, vestindo um bonito terno escuro.

– Boa tarde, amigo Roberto! O que o traz até minha casa?

– Boa tarde, Guilherme. Por acaso você vai a algum casamento, vestido assim de terno e

gravata? – pergunta Roberto, sem esconder a estranheza.

– Não, amigo – diz Belz calmamente. – As pessoas costumam se vestir bem, quando vão

receber um prefeito ou governador. Eu me arrumei assim pois vou receber Jesus. Hoje é

sábado, o dia do Senhor.

Franzindo o cenho, Roberto responde:

– É justamente por isso que eu vim.

Os amigos entraram e conversaram quase a noite toda. Passaram-se o sábado e a manhã dedomingo. À tarde, Roberto se despediu de Guilherme e empreendeu a caminhada de volta a

Lageado Baixo.

Quando já estava próximo de casa, seus amigos, num bar, o convidaram para jogar baralho e

beber cachaça. “Não tenho tempo agora”, foi a resposta do alemão apressado. Chegando em

casa, tirou o chapéu, guardou a bengala e sentou-se à mesa. Sua esposa aguardava curiosa

uma palavra do marido. Roberto, sério, começou a comer em silêncio. Maria não se conteve:

Page 44: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 44/76

– Como é, Roberto? Nem me conta nada! Endireitaste a cabeça do Guilherme?

Roberto levanta o rosto, encara a esposa e responde com convicção:

– Não, Maria. O que eu descobri é que, se nós queremos praticar a verdade, temos que

guardar o sábado também!

– O quê!? – Maria arregala os olhos. – Em vez de tu endireitares a cabeça deles, eles viraram a

tua?

– Não, Maria. Vai buscar a tua Bíblia – Roberto tira do bolso da camisa um papel rabiscado. – 

Eu tenho marcadas aqui as passagens.

Maria vai até o quarto e traz a velha Bíblia que já havia sido de sua mãe, na Alemanha.

– Agora encontre o texto de Eclesiastes 12, versículo 13.

– Aqui está – diz Maria, segundos depois.

– Então leia.

“– De tudo o que se tem ouvido, o fim é: teme a Deus e guarda os Seus mandamentos, porque

este é o dever de todo homem.” 

– Veja, Maria, aí diz “todo homem”. Portanto, os mandamentos não são só para o povo judeu,

como nos haviam ensinado. Além do mais, de acordo com o livro de Gênesis, o sábado foidado a Adão e Eva na criação do mundo, quando não havia sequer um judeu ou outro povo

qualquer sobre a Terra. Agora leia Êxodo, capítulo 31, verso 18.

“– E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas dotestemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.” 

– Veja só a importância da lei! O próprio Deus a escreveu com Seu dedo em tábuas de pedra...

– Mas o que isso tem a ver com o sábado, Roberto? – interrompe Maria, já quase impaciente.

– Leia o quarto mandamento em Êxodo 20:8 a 11 – diz Roberto, apontando a mão para a Bíblia

aberta diante de Maria.

– Está bem. Aqui está: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e

farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus...” – Maria levanta os

olhos sem terminar de ler o texto e exclama:

– Roberto, como pode?! Toda a vida nós lemos a Bíblia e nunca notamos isto!

– Não estás vendo, agora? Não achas também que, se queremos praticar o que está na Palavra

de Deus, temos que guardar o sábado?

Page 45: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 45/76

Roberto toma a Bíblia das mãos de Maria e lê outras passagens: “...Até que o céu e a terra

passem, nem um jota ou til se omitirá da lei...” (Mateus 5:18); “Se queres entrar na vida,

guarda os mandamentos” (Mateus 19:17); “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, [Jesus]entrou num dia de sábado, segundo o Seu costume, na sinagoga...” (Lucas 4:16); “E asmulheres que tinham vindo com Ele da Galiléia... no sábado repousaram conforme o

mandamento” (Lucas 23:55-56); “E santificai os Meus sábados e servirão de sinal entre Mim evós” (Ezequiel 20:20); “Qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto torna-se

culpado de todos” (Tiago 2:10); “Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos” (João14:15).

O casal continuou estudando a Bíblia. Roberto visitou Guilherme mais umas duas ou três

vezes, quando finalmente decidiu-se guardar o sábado e a ser um novo proclamador dessa

mensagem. Em pouco tempo, as famílias Pollhein e Zabel já estavam unidas aos Fuckner,

professando a mesma fé.

No ano de 1898, o grupo de adventistas se reunia na sala da casa dos Fuckner, e as músicasque cantavam aos sábados eram ouvidas por alguns vizinhos. Um deles era Carlos Zabel, com

quem Roberto havia estudado a Bíblia em algumas ocasiões. “Que mal há em eu trabalhar nodia de sábado?” – justificava-se ele. “Lembre-se, Carlos” – dizia Roberto, – “Eva também

pensou em que mal havia comer um simples fruto. O mal não está no ato em si, mas na

desobediência à vontade de Deus. É nas pequenas coisas que o Senhor testa Seus filhos.” Mas

Zabel não se rendia aos argumentos do amigo.

Numa manhã de sábado, Carlos estava trabalhando na roça de aipim, num terreno elevado,quando ouviu o grupo adventista entoando hinos do hinário luterano (único à disposição na

época) Singet Dem Herrn (“Cantai ao Senhor”). Aquilo o comoveu. Carlos colocou a enxada sobre o ombro, desceu o morro e entrou em casa apressado. Sua esposa Alvina ficou surpresa.

– Já vieste da roça?! O que foi que aconteceu?

– Vai mudar de roupa, Mulher. Nós vamos lá na Escola Sabatina.

Os dois colocaram suas melhores roupas, foram até a casa dos Fuckner e dali para frente

passaram a pertencer à Igreja Adventista do Sétimo Dia, que cada vez mais se desenvolvia em

Lageado Baixo. Roberto Fuckner desempenhou a função de primeiro ancião do grupo, cargo

que passou, posteriormente, a seu filho Oswaldo.

Page 46: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 46/76

Page 47: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 47/76

Page 48: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 48/76

 

Logo a Terra renovada

Sim, será nossa morada.

E todos os sábados nos reuniremos,

Nosso Redentor louvaremos.

Vinde, jovens companheiros,

Ao encontro de Jesus.

Logo sempre viveremos

Com Jesus, na Sua luz.*

(*) Original em alemão: Christina Fuckner (1894–1976), batizada em 1910. Tradução: Helga

Nogueira.

Page 49: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 49/76

Capítulo 8 - Um exemplo de fé 

Mãos firmes nas rédeas. Os chicotes golpeiam os cavalos já ofegantes com a subida do morro

que leva a Gaspar Alto. É noite e os dois cavaleiros mal conseguem ver o estreito caminho.Mesmo assim, avançam determinados.

Georg Friedrich Adolfo Hort sempre teve fama de valentão. Desde que ouvira falar que um

grupo de famílias havia formado uma nova “seita” em Braunchweig (Gaspar Alto), tomara a

decisão de acabar com aquilo. Afinal, “religião de alemão é só a Luterana” – dizia.

Convidou um amigo e cavalgaram até o local onde ficava a pequena igreja. Apearam dos

cavalos e, de chicote em punho, estavam dispostos a invadir o templo e causar a maior

confusão. De repente, Adolfo se detém.

– Espere um pouco... Ouça o que o pregador está dizendo!

No momento em que os dois espiam pela janela, alguém lê as palavras do livro de 1 João,

capítulo um, verso sete: “Mas se andarmos na luz como Ele na luz está, temos comunhão uns

com os outros e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” 

Adolfo olha para o colega e diz:

– Isso me impressionou. Vamos embora.

Adolfo Hort era apenas um garotinho quando o pacote de revistas adventistas procedente dos

Estados Unidos foi aberto diante de seus olhos curiosos. Seu pai, Davi Hort, não se interessou

pelo conteúdo da revista que ganhara de Carlos Dreefke e deu-a à esposa Anna Dorothéa.

Aparentemente, a Mensagem Adventista não havia chamado a atenção da família Hort.Dorothéa ficara impressionada com a grande enchente do início da década de 1880,

interpretando-a como um dos sinais do fim do mundo. Mas isso fora tudo.

Adolfo agora tinha 27 anos e estava casado com Emma Kräft Hort. Ema era filha de August e

Caroline Wiedenhöft Kräft, imigrantes alemães muito pobres. Para sobreviver, trabalhou

como doméstica para os Hort. Ali conheceu Adolfo. Apaixonaram-se e casaram em 25 dejunho de 1891.

Depois do incidente em Gaspar Alto, Adolfo começou a pensar mais seriamente nas coisas queouvira falar sobre os adventistas. Dirigiu-se até o pastor luterano de Brusque e pediu

explicações, recebendo a promessa de que no domingo, durante o culto, seria explicada a

questão do sábado.

Adolfo e Emma sentaram-se na primeira fileira de bancos da igreja luterana, especialmente

atentos naquela manhã de domingo. Após alguns cânticos, o pastor dirigiu-se ao púlpito e

começou a falar:

– Prezados irmãos, têm surgido em nosso meio algumas dúvidas doutrinárias, devido a

existência dos tais adventistas do sétimo dia em nossa região. Primeiramente, é precisodeixar claro que a Bíblia realmente apresenta o sábado como dia santificado por Deus. Só que

Page 50: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 50/76

Page 51: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 51/76

Jaraguá do Sul, fechada alguns anos depois devido à mudança da família para Corupá. No dia

28 de novembro de 1918, Anna Dorothea morreu.

Em Corupá (distante uns 35 quilômetros de Jaraguá), Adolfo trabalhava como carpinteiro e

ajudou a construir, na década de 1930, a primeira igreja adventista da cidade. Sobre essa

época, sua neta Marta N. Hort Rocha, filha de Arthur Hort, conta muitas histórias.

Certa ocasião, Adolfo estava trabalhando sobre o telhado de um paiol. Pediu água à sua neta

Marta que, instantes depois, já estava com uma caneca cheia nas mãos. Adolfo pediu que a

menina lhe alcançasse a caneca. Vendo o esforço da filha, erguendo os bracinhos para cima

com a água, Arthur diz:

– Ah, mas assim, nem que nós te ergamos, tu não consegues alcançar!

– Então me ajuda, papai.

– Não, netinha. Quero que tu tragas a água para mim. Sobe nessa escada – diz Adolfo,

apontando para uma escada de madeira que, do ponto de vista da pequena Marta, eraenorme.

Como sempre teve medo de altura, Marta sobe a escada com todo cuidado, sob o olhar do pai

Arthur.

– Estás com medo, netinha? – pergunta Adolfo sorrindo. – A menina diz que sim, balançando acabeça, sem olhar para baixo.

– É, mas é bom tu aprenderes a não ter medo de almejar as alturas, pois para irmos para o

Céu, temos que subir de degrau em degrau na escada da santificação.

Tirar lições espirituais de coisas do cotidiano era prática comum para Adolfo. Em outrasocasiões, escondia uma das bonecas de sua neta Marta, ajudando-a, depois, a procurá-la.

Minutos depois, graças às pequenas pistas do avô, os dois encontravam o brinquedo e Adolfo

fazia uma “festa”. Em seguida, colocando a criança no colo, dizia: 

– Assim é com a Palavra de Deus. Temos que procurar, procurar e procurar sempre mais. E

sempre encontraremos coisas novas para nos ajudar no preparo para a volta de Jesus.

A fé de Adolfo era surpreendente. Certa vez, enquanto visitava os parentes em Brusque,

conversou com uma de suas sobrinhas que estava grávida. Ema era filha de Carlos Hort e disse

a Adolfo que uma benzedeira “profetizara” que ela não sobreviveria ao parto. Adolfo

convidou-a a fazer uma oração e disse que “em nome de Jesus, Ema não morreria”. Emapassou bem e nasceram-lhe duas gêmeas perfeitamente saudáveis: Elvira e Milita.

Posteriormente, as duas tornaram-se adventistas. Elvira casou-se com Arthur Sartotti e

tiveram um filho, o pastor Orlando Sartotti.

Sentindo o peso da idade e tendo todos os filhos já casados, Adolfo voltou com a esposa para

Jaraguá do Sul. Ali morou com o filho Bertoldo até falecer no dia 9 de fevereiro de 1944. Suaesposa Emma faleceu dois anos e meio depois.

Page 52: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 52/76

Page 53: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 53/76

Capítulo 9 - Das colônias alemãs para o Brasil 

São Leopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida de uma saga iniciada em 1824

com a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipadode Portugal. Por influência de José Bonifácio, dom Pedro I decidiu inaugurar com eles um

programa de imigração para o sul movido não apenas por questões de segurança nacional,diante das sucessivas disputas territoriais naquela então erma região fronteiriça, como

também por um casamento de interesses políticos, literalmente – filha de Francisco I, da

Áustria, a imperatriz Leopoldina tinha sangue germânico. A Alemanha de então era muito

diferente da atual. Havia dezenas de reinados, principados, ducados, todos independentes,mas unidos precariamente pelo idioma, que viriam a ser unificados por Bismarck, em 1871.

Bem antes disso começou o êxodo, impulsionado pela escassez de terras que apenas garantia

sua posse ao primogênito de cada família.

Desde a fundação de São Leopoldo, aproximadamente 300 mil alemães se instalaram no

Brasil, mas nem sempre fixaram raízes num único lugar. Depois de colonizar o Rio Grande doSul, ainda no século 19 eles subiram para Santa catarina, hoje o Estado com a maior

população de descendência alemã – mais de 20% do total –, e rumaram para o Espírito Santo,

marcando também presença no Paraná e, em menor escala, no Rio de Janeiro e em São

Paulo. Pelo caminho foram semeando descendentes e expressivas lideranças em todas as

áreas da vida nacional. Firmaram seu nome nessa galeria, entre outros, o ex-presidente

Ernesto Geisel, Lauro Müller, ex-ministro da Viação do presidente Rodrigues Alves, e JoãoHenrique Böhm, chefe do Exército de dom José I no Brasil.

Mas o mais importante: foi entre os alemães que a mensagem adventista inicialmente

encontrou guarida e fincou raízes no Brasil. Gradualmente, o adventismo começou a se

expandir alcançando os brasileiros de origem latina. Fundamental para isso foi o início da

publicação de O Arauto da Verdade, em 1900, na língua portuguesa. Tanto que E. H. Meyerschegou a considerar esse fato como “uma nova era para nossa obra na região de fala

portuguesa da América do Sul”.[1] 

José Lourenço Mendes, comerciante e rizicultor em Campestre, Santo Antônio da Patrulha,

RS, foi o personagem que marcou essa transição. Ele tinha cinco irmãs casadas: Maria José e

Clara moravam na Fazenda Nova, a seis quilômetros de distância de Campestre, Ludovina eSofia residiam em Rolante, no mesmo município de Santo Antônio, e Isabel, que além de não

aceitar o adventismo, mudou-se para longe dos irmãos. Certamente por influência dos pais,

esses irmãos conheciam a Bíblia e a amavam. Eram, portanto, terreno fértil à pregação doevangelho.

Em Taquara, mais ou menos a uns 20 quilômetros de Campestre, os adventistas já se haviamestabelecido. Não se sabe como se deu o primeiro contato deles com José Lourenço Mendes,

mas possivelmente tenha se dado por meio de colportores ou de algum membro da igreja de

Taquara. De qualquer forma, o nome e o endereço do comerciante de um jeito ou de outro

chegaram às mãos dos líderes da Obra.

Em 1904, o pastor Ernesto Schwantes foi a Campestre visitar José L. Mendes, que aceitou

prontamente a mensagem adventista. José, acompanhado pelo pastor e desejoso de levar aboa-nova a suas irmãs, dirigiu-se à casa de Saturnino Rabello de Oliveira, casado com Maria

Page 54: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 54/76

José, que igualmente abraçaram a fé adventista. Clara uniu-se a eles, embora o esposo

discordasse.

José L. Mendes era um homem inteligente e comunicativo. Logo transformou sua casa num

verdadeiro centro evangelístico e passou a pregar ardorosamente para seus fregueses,

convidando-os também para participar das reuniões que o pastor Schwantes passou a dirigirnuma das dependências da casa do comerciante. Muitos se interessaram, entre os quais Maria

Joana do Lago, cujo esposo, João Ferreira do Lago, vulgo João Bonito, fora carrasco de uma

das facções políticas que lutavam entre si, no passado. Dizem que, após degolar os vencidos – 

adultos e crianças –, ele lambia o sangue deles na lâmina da faca.

Certa noite, Maria Joana do Lago convidou o esposo para acompanhá-la a uma reunião na casa

de José L. Mendes. Os dois se assentaram nos primeiros lugares da frente, ao lado do

corredor. De repente, um perigoso desordeiro, deixando os capangas à entrada, foi à frente e

desferiu uma punhalada no pastor Ernesto Schwantes, que conseguiu se esquivar. João Bonito

deu um salto instintivo, ficando entre o bandido e o pregador. Apontou uma faca em direçãoao ventre do agressor que resolveu bater em retirada, juntamente com seus capangas. O

pastor Schwantes continuou o sermão.

Tão logo o adventismo penetrou em Campestre, Dalila Mendes de Souza (sobrinha de João

Lourenço) e o esposo visitaram a prima e amiga Maria Emília dos Passos (também sobrinha de

José), em Rolante, para falar-lhe sobre a nova religião de seu tio. Os Passos resolveram ir até

Campestre para ouvir a mensagem e a aceitaram. Ao regressar, contaram tudo o que haviam

aprendido a seus familiares. Como resultado, Adolfo Amador dos Reis, irmão de Maria Emília,também se converteu, tornando-se o líder espiritual de Rolante. A essa altura, o pastor

Ernesto Schwantes tinha dois locais de trabalho exclusivamente com brasileiros de origemlatina – em Campestre, com José L. Mendes, duas irmãs, os familiares e outros interessados; e

em Rolante, com as duas outras irmãs de José, os esposos e filhos, e outras famílias.

A nova religião surgida em Campestre e Rolante, entre os brasileiros propriamente ditos,distinguia-se das outras existentes, dentre outras coisas, pela guarda do sábado, crença na

mortalidade da alma, batismo por imersão de pessoas com idade suficiente para entender o

que estavam fazendo e abstenção de certos alimentos considerados impróprios para comer

(imundos). Além disso, combatiam o álcool, o fumo, os jogos de azar e ensinavam o

afastamento dos bailes. Consequentemente, surgiram muitos opositores que começaram a

perseguir esses novos crentes, considerando-os fanáticos e esquisitos.

Já no primeiro batismo, que deveria ser realizado no Rio dos Sinos, atrás do morro do

Barreiro, no Campestre, a situação ficou complicada. Como o ambiente estivesse muito tenso,

o delegado de polícia, a pedido de José Lourenço Mendes, mandou um tenente e seis soldados

para manterem a ordem. Reuniram-se no local do batismo uns 80 homens armados de

revólveres e facões para matar o oficiante e espancar os batizandos e demais adventistas.

Como medida de prudência, a cerimônia foi suspensa e o pastor saiu protegido pelos policiais,

voltando para Porto Alegre. Dias depois, entretanto, o batismo foi realizado discretamente.

Mas as perseguições continuaram.

A dependência da casa de José L. Mendes, onde as reuniões eram realizadas, ficava a 15metros da estrada pública. Os desordeiros jogavam foguetes, da estrada, para explodirem o

Page 55: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 55/76

Page 56: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 56/76

 

Da comunidade de Rolante, Irineu Amador dos Reis, Rodrigo Amador dos Reis Filho e José

Amador dos Reis saíram para colportar. Os dois primeiros logo voltaram às atividades

agrícolas, mas José continuou colportando. O filho de Rodrigo e Ludovina tinha habilidade

especial não só para colportar como também para explicar a Bíblia e pregar, por isso

convidaram-no para trabalhar como obreiro bíblico, recebendo a credencial em 1914,conforme o relatório da 9ª sessão da Conferência do Rio Grande do Sul, publicado em março

daquele ano. No dia 10 de abril de 1920, foi ordenado ao ministério, no fim da memorável 14ª

assembléia da Conferência do Rio Grande do Sul. Tornou-se, assim, o primeiro pastor

adventista ordenado no Brasil.

“Os esforços longamente expedidos nos primeiros anos de trabalho como colportor e obreirona campanha gaúcha, muitas vezes exposto aos rigores do clima de inverno, apanhando

chuva, dormindo em ambientes precários e se alimentando frugalmente, cobravam agora um

pesado tributo.”[2] José Amador dos Reis faleceu no dia 23 de maio de 1935, com 43 anos

incompletos, vítima de tuberculose. O valente soldado de Cristo tombou onde começou seuministério: em Rolante, RS.

 José Amador dos Reis, primeiro pastor ordenado no Brasil 

Depois das lutas, a vitória 

“Só em parte se pode apreciar quão amargos eram esses primeiros acontecimentos [relativos

ao início da Obra] naquela época, sendo que os isolados mensageiros, que trabalhavam em

lugares muito distantes uns dos outros, dificilmente podiam inteirar-se do progresso feito ouapreciar o significado de tais princípios.”[3] 

E as dificuldades e lutas enfrentadas pelos pioneiros ficam evidentes quando investigamos as

publicações e relatórios missionários da época. Relatos como estes eram típicos:

“Na manhã de Páscoa, quando eu e minha mulher estávamos de volta de uma visita a uma

família interessada, fomos de caminho agredidos a pedras por um grupo de sete pessoas.Entretanto, o Senhor não permitiu que aqueles nos atingissem... Algumas dessas pedras eram

de tamanho considerável... Parece às vezes que Satanás tomou posse completa deste povo.

Quando passamos pela estrada, fazem uma algazarra, dirigindo-nos de dentro de suas casaschufas e palavras injuriosas... Oxalá o Senhor nos ajude a permanecer fiéis e fazermos a Sua

Page 57: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 57/76

vontade” (Pastor Henrique Haefft.Revista Mensal, junho de 1916, p. 8 e 9).

“Posto que ainda não inteiramente restabelecido da minha enfermidade, empreendi todavia

fazer uma visita aos irmãos no município de Blumenau, sendo acompanhado nessa viagem por

minha mulher, que desejava conhecer os irmãos daquela região. Partimos a 6 de junho,

confiando num tempo sofrível que então fazia, mas que mudou completamente, chovendodurante os dez dias que gastamos para chegar a Benedito Novo. As estradas tornaram-se

praticamente intransitáveis, sendo muitas vezes necessário caminhar a pé, visto os animais

conseguirem tirar apenas o carro vazio” (Pastor Augusto Rockel. Revista Mensal, setembro de

1916, p. 9).

“Ao partir [de Lençol] deparamos com obstáculos ocasionados pela incessante chuva. Devido aum desmoronamento de barrancos ficou obstruída a linha da estrada de ferro, razão porque

enfim vimo-nos na conjectura de continuar nossa viagem a pé até Hansa. Passamos mal de

viagem – e não era para menos –, mas alcançamos o nosso destino, onde encontramos todos os

irmãos alegres” (Pastor Francisco Belz. Relatório de viagem na Revista Mensal, junho de1918, p. 8).

“Uma noite ao voltar para casa, fui inesperadamente assaltado por um jovem que, com mais

três outros, me vedava o caminho. Pondo-me a faca a distância de duas polegadas do peito,

mandou que lhe desse a minha palavra de não continuar com as conferências. Felizmente

escapei com vida. Mais tarde veio este mesmo moço acompanhado do inspetor a fim de pedir

desculpa, e prometer que nunca mais haveria de estorvar as nossas conferências” (Pastor

Francisco Belz, depois de dirigir uma palestra (conferência) em Jacu-Assu, SC. RevistaMensal, junho de 1919, p. 9).

Poderíamos prosseguir com relatos de outrora, mas já é o suficiente para perceber as lutas

que nossos antepassados enfrentaram. “Línguas desconhecidas, solidão, isolamento, chegada

de literatura com atraso, falta de dinheiro, matas intransitáveis, planícies desertas, lodo,

chuva, frio, calor, fome, doenças, açoites, furtos, prisão e a necessidade de ganhar o própriosustento, são palavras que, juntamente com muitas outras semelhantes, deveríamos usar para

nos referir à história dos primeiros esforços.”[4] 

“A existência de igrejas e grupos alemães de Muçuri e Teófilo Otoni, norte de Minas Gerais,

ao Rio Grande do Sul, a partir de 1895, o contato do pastor Ernesto Schwantes, em 1904, com

José Lourenço Mendes, do qual surgiram as igrejas de Campestre e Rolante (cujos membroseram todos de procedência latina), o funcionamento de uma escola paroquial em cada

congregação, grande ou pequena, para inculcar nas crianças os princípios cristãos e os ideais

missionários, a publicação do Arauto da Verdade em português e a mudança da Casa

Publicadora Brasileira para São Paulo, em 1907, em condições de fornecer a literatura

necessária, criaram condições para a pregação do adventismo de leste a oeste e de norte a

sul do vasto território nacional.”[5] 

Referências:

1. Meyers, E. H. Reseña de los Comienzos de la Obra en Sudamerica, Buenos Aires: CasaEditora Sudamericana, p. 19.

Page 58: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 58/76

Page 59: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 59/76

Capítulo 10 - A passos largos 

A obra adventista iniciada em Gaspar Alto e quase simultaneamente em outras partes do

Brasil avançou a passos largos. Na Igreja de Gaspar Alto foi estabelecida, em 1897, a primeiraescola missionária adventista brasileira, dirigida inicialmente por Guilherme Stein Jr. Dela

saíram colportores, professores e alguns pastores que, “unidos no mesmo ideal, trabalharamem regiões diversas espalhando a mensagem adventista pelo Brasil afora”.[1]  

Por volta de 1900 – cinco anos depois da sua organização – a Igreja de Gaspar Alto já tinha

mais de cem membros. O aumento crescente de interessados e novos conversos,principalmente nos estados sulinos, no Espírito Santo e Rio de Janeiro, levou a Associação

Geral a providenciar um pastor efetivo para o Brasil: Huldreich F. Graf.

Natural da Alemanha, Graf foi morar nos Estados Unidos, onde aceitou a mensagem

adventista, sendo ordenado pastor em 1891. Foi enviado ao Brasil pela Associação Geral,

chegando ao Rio de Janeiro em quatro de outubro de 1895. Durante 12 anos trabalhou comoevangelista, assumindo depois a presidência da Missão Brasileira e da Associação Rio-

Grandense.[2] Em maio de 1902, a Missão Brasileira passou a ser Associação Brasileira, então

com 900 membros, e o pastor Graf continuou como presidente. Em 1906 foi organizada a

União Sul-Americana, e a Associação Brasileira foi dividida em três áreas:

1. Associação Rio Grande do Sul (com mais de 300 membros), com o pastor Graf comopresidente.

2. Associação Santa Catarina-Paraná (com cerca de 400 membros), com Waldemar Ehlers

como presidente.

3. Missão de São Paulo, com sede em Rio Claro (com 20 membros), tendo como presidenteFrederick W. Spies.

Graf foi um grande exemplo de pioneiro. Seus trabalhos como pastor lhe custavam longas e

contínuas viagens. Os caminhos naquele tempo eram pouco conhecidos e difíceis, e os meios

de locomoção mais rápidos e seguros eram o cavalo, a mula ou o burro. Sobre sua viagem

mais longa escreveu um livro chamado Cem Dias no Lombo de Uma Mula. Foi nessa viagemque o pastor Graf encontrou a família Kümpel, na região de Passo Fundo, RS. Ali ficou durante

11 dias e batizou 40 pessoas, dentre as quais os cinco filhos do casal Guilherme e Helena

Kümpel, pioneiros da obra adventista no Rio Grande do Sul. Calcula-se que o pastor Graftenha viajado, durante seus 12 anos de ministério, cerca de 25 mil quilômetros em cima de

burro. Mais que meia volta ao mundo pela linha do Equador!

Em certa ocasião, viajava pela região de Taquari em busca de alguns crentes. À tarde

percorria uma trilha aberta em um bosque, quando a mula desviou para a esquerda por um

caminho estreito. O pastor Graf tentou fazer o animal voltar ao caminho principal, sem

sucesso. Conformado, disse ao animal:

– Eu não quero ser como Balaão. Vá por onde Deus te guiar.

Depois de mais ou menos uma hora, chega à casa de um colono.

Page 60: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 60/76

 

– Vim aqui por que a mula me indicou este caminho. Sou um missionário adventista e penso

que Deus me guiou à tua casa com algum propósito.

– Graças a Deus! – responde o colono entusiasmado. – Faz quase dois anos que estamos

pedindo ao Senhor que nos envie um missionário adventista!

O pastor Graf ficou três dias naquela casa, ao final dos quais realizou o batismo da família.

Mais tarde, organizou-se ali uma igreja.

Noutra ocasião – relata Héctor Peverini – Graf viajava perto da cidade de Cachoeira do Sul,

acompanhado por outro missionário. De repente, começou uma tormenta que obrigou os dois

a se refugiarem num bar. Os homens que estavam bebendo, ao notar que os dois eram

missionários, começaram a caçoar de Deus e da religião. O pastor Graf os repreendeu

suavemente:

– Meus amigos, vocês não deviam falar assim do Deus dos Céus.

– Se há um Deus no Céu – diz arrogantemente um homem com uma garrafa de cachaça numa

das mãos e um cigarro de palha apagado na outra, – quero ver Ele acender o meu cigarro.

Dizendo isso, estende a mão para fora da casa, no mesmo instante em que um raio o fulmina

completamente.

Anos mais tarde, quando o pastor Ernesto Roth dirigia uma série de conferências em Picada

do Rio, muitas pessoas ainda recordavam do trágico incidente que inspirou respeito a Deus e aSeus ministros. Mas as perseguições continuaram em outras regiões.

Certa ocasião, o pastor Graf, auxiliado pelo pastor Ernesto Schwantes, dirigia reuniões em

uma tenda, próxima à cidade de Rolante. Mas um caboclo da região não estava contente como grande número de pessoas que participavam dos encontros. Empenhou-se em impedir o

avanço da mensagem adventista. Numa quinta-feira à noite, quis impedir a entrada do povo à

tenda dizendo, aos gritos, que amarraria os missionários protestantes à cauda de um burro e

os arrastaria pela colônia até acabar com eles.

Na noite do sábado seguinte, o homem foi a um baile. De repente, começou uma briga. Umtiroteio. E o caboclo acabou sendo atingido por várias balas no ventre. No hospital, antes de

morrer, sussurrou: “Eu blasfemei contra Deus e contra os adventistas, por isso tenho que

morrer tão miseravelmente.” 

“Foi exatamente em Rolante (Fazenda Passos) que surgiu uma das mais fortes igrejas, que

produziu cerca de duas centenas de obreiros que ajudaram a levar a mensagem para todas as

fronteiras do Brasil.”[3] 

Huldreich Graf batizou mais de 1400 conversos e organizou mais de vinte igrejas durante seus

12 anos de trabalho no Brasil. Pôs em marcha várias escolas, uma das quais foi a base do

Instituto Adventista de Ensino (hoje Unasp, campus São Paulo) e contribuiu, também, para acriação da primeira casa editora do Brasil. Depois de retirar-se do trabalho por motivos de

Page 61: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 61/76

saúde e regressar aos EUA por algum tempo, voltou ao Brasil para passar aqui seus últimos

anos de vida.

Huldreich F. Graf foi o primeiro ministro designado para trabalhar no Brasil 

Outro homem que contribuiu grandemente para a consolidação da obra adventista no Brasil

foi Frederick Weber Spies. Spies chegou ao Brasil em 1896, um ano depois de Graf. Era norte-

americano de origem alemã. Aceitou a fé adventista em 1888, aos 22 anos, e trabalhou

quatro como colportor (vendedor de literatura religiosa). Foi enviado à Alemanha para dirigir

a obra de colportagem naquele país, de onde foi chamado à América do Sul.

Trabalhou os primeiros anos como pastor nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais. Em

1900 foi transferido para Santa Catarina. Viajou, às vezes acompanhado por sua esposa,

milhares de quilômetros nesse Estado, como também no Paraná e Rio Grande do Sul. Em 1903

foi para o Rio de Janeiro. De 1917 até 1923, foi presidente da União Sul-Brasileira. Oterritório foi dividido, então, em duas grandes unidades administrativas. Dirigiu também a

União Este do ano de 1923 a 1927. De 1927 a 1932 foi gerente da Casa Publicadora Brasileira.

Spies foi um dos principais dirigentes do movimento adventista no Brasil durante suas três

primeiras décadas. Foi também um dos pastores adventistas que mais viajaram pelo País nostempos em que os meios de locomoção eram precários. Em um período de quatro anos

percorreu 950 quilômetros por água, 800 de trem e 2.700 em lombo de burro.

“Aqueles dias primitivos” – escreveu Spies na Revista Mensal de setembro de 1924 – 

“requeriam sacrifícios de toda espécie: longas e penosas viagens em lombo de burro ou a

cavalo, e a ausência de casa de dois a seis meses cada vez. Eram poucas as semanas passadas

em casa em cada ano; porém, o trabalho não foi inútil... podemos exclamar: Quantas coisastem feito Deus!” 

Page 62: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 62/76

Frederick Weber Spies foi um dos principais dirigentes da

Igreja Adventista durante suas três primeiras décadas no Brasil 

A Mensagem Impressa 

No Brasil, a obra adventista deve seu início e expansão, sem dúvida, à página impressa e ao

trabalho dos colportores. Além do pioneiro Albert B. Stauffer, dois irmãos colportores – 

Alberto e Frederico J. Berger – iniciaram no Rio Grande do Sul, em 6 de agosto de 1895, o seu

plano de vendas de literatura nas colônias alemãs. Santa Catarina, Paraná, São Paulo e

Espírito Santo também foram trabalhados por esses dois homens.

Segundo o Dr. Gideon de Oliveira, em artigo publicado no livro História de Nossa Igreja,

“esses pioneiros da colportagem eram verdadeiros heróis que rasgavam o sertão em suas

montarias, levando seus livros, vivendo intrepidamente cada dia as surpresas e os percalços

da jornada aventureira – calor, fome, frio, chuva torrencial, lama, ventania. Muitas vezes

dormindo ao relento e expostos a animais perigosos, mas não desanimavam em sua nobremissão”. 

Nas pegadas desses pioneiros, seguiram Henrique Tonjes, Germano Conrado, Emílio Froeming,

Hans Mayr, Saturnino Mendes de Oliveira, Antônio L. Penha, José Negrão, Hermínio Sarli,

André Gedrath e muitos outros que propagaram a mensagem adventista nos diversos cantos

brasileiros.

A colportagem no Brasil começou a se desenvolver mais a partir do momento em que sepassou a publicar literatura em português. Inicialmente, foi impresso o Arauto da Verdade,

periódico editado de 1900 a 1913; foi substituído depois pela revista Sinais dos Tempos, até

1918, quando passou a ser publicada a revista O Atalaia e, depois, novamente Sinais dos

Tempos.

Page 63: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 63/76

 Grande impulso foi dado à evangelização com a publicação de revistas em português. Na

 foto, o primeiro número de O Arauto da Verdade, que se tornou posteriormente O Atalaia e

depois, novamente, Sinais dos Tempos 

Para melhor atender à obra de publicações, foi decidido o estabelecimento de uma editora

denominacional no Brasil. Por sugestão do pastor Graf, foi instalada junto à Escola Missionária

de Taquari, no Rio Grande do Sul. Assim, conseguiu-se economia de locação e proporcionou-se

trabalho aos alunos do colégio.

A fim de conseguir dinheiro e um prelo para dar início às publicações, o pastor John Lipke

viajou aos Estados Unidos e, em várias igrejas daquele País, falou sobre as necessidades da

Obra no Brasil. Seu apelo foi atendido: recebeu 1.500 dólares em donativos, e o Emmanuel

Missionary College, de Barrien Springs, doou um prelo manual para a imprensa a ser fundada

em Taquari.

Editora adventista em Taquari e a réplica do primeiro prelo, doado pelo Emmanuel

Missionary College 

George Sabeff, que fora aos Estados Unidos estudar Medicina, ganhava seu sustento

trabalhando na Sociedade Internacional de Tratados. Ouvindo o apelo de John Lipke, veio ao

Brasil trazendo consigo o material necessário ao funcionamento da editora. Com sua

experiência em tipografia, Sabeff montou o prelo, as instalações correspondentes e passou a

fazer a composição das primeiras publicações, tendo Augusto Preuss como ajudante. Augusto

Pages foi convidado para ser o gerente da Sociedade Internacional de Tratados do Brasil.

A editora de Taquari produziu a primeira edição do Arauto da Verdade em 10 de maio de

Page 64: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 64/76

1905. Outros periódicos se seguiram: o Advent Arbeiter ,Rundschau der Adventisten, para os

adventistas alemães e, a partir de 1906, a Revista Trimensal, precursora da Revista

Mensal (1908). A Revista Adventista começou a ser publicada em 1931. Um opúsculo de trinta

e duas páginas, A Segunda Vinda de Cristo, foi a primeira obra impressa; o primeiro livro foi A

Vinda Gloriosa de Cristo.

No fim de 1907, a tipografia mudou-se para São Bernardo (hoje Santo André, SP), num local

onde viria a funcionar a Casa Publicadora Brasileira, até ser transferida para Tatuí (em 1985),

onde se encontra até hoje. São Bernardo, por ser mais central, facilitava o transporte e a

divulgação da literatura nos vários Estados. Em 1908, chegaram dois prelos movidos com

motor a gasolina, acelerando a produção. Mas, mesmo assim, o trabalho não era nada fácil

pois “cada um tinha que, além de redigir, incumbir-se de traduzir e providenciar as

colaborações, também arrumar as ilustrações e incumbir-se de outras tarefas, hoje ao

encargo do departamento de arte e diagramação, cuja ausência naquele tempo fazia muita

falta, aumentando e dificultando muito nosso trabalho”[4], escreveu o pastor Luiz Waldvogel. 

Casa Publicadora Brasileira em Santo André (de 1907 a 1985) e em Tatuí 

Hoje a igreja na Divisão Sul-Americana conta com os serviços de duas publicadoras. A Editora

Sudamericana, em Buenos Aires, Argentina, é responsável pela literatura para os sete países

de língua hispânica no continente. A Casa Publicadora Brasileira, em Tatuí, SP, atende oBrasil e outros países de fala portuguesa.

A Obra Educacional 

Onde chega a mensagem adventista logo surgem escolas e colégios. No Brasil não foi

diferente. Já no ano de 1896, em Curitiba, PR, passou a funcionar o primeiro EducandárioAdventista dirigido pelo professor Guilherme Stein Jr., auxiliado por Vicente Schmidt,

chegando a alcançar uma matrícula de 120 alunos logo no primeiro ano de existência.

Page 65: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 65/76

 Escola Internacional de Curitiba, 1896 

Em 15 de outubro de 1897, foi fundada a primeira Escola Missionária no Brasil, em GasparAlto, sob a direção do professor Guilherme Stein Jr., substituído em 1900 por John Lipke, a

convite dos pastores Spies e Thurston.

O pastor Renato E. Oberg, juntamente com os pastores R. R. Figuhr e Rodolfo Belz, visitou

Gaspar Alto em fevereiro de 1944 – “a mais antiga comunidade adventista no Brasil”,escreveu ele na Revista Adventista de setembro de 1944, página 23. Na ocasião, conta o

pastor Oberg, eles tiveram o “prazer imenso de conversar com alguns daqueles irmãos que

viram os alvores da mensagem angélica em nosso torrão nacional”. 

Bernardo Loeschner, um dos pioneiros ainda vivo na época, mostrou aos pastores um caderno

bastante antigo, cujas páginas amareladas revelaram um conteúdo bastante precioso: era o

livro de registros que continha a ata da primeira reunião da Junta Escolar da primeira escola

paroquial adventista no Brasil. Abaixo, um trecho da ata:

“História da fundação da Escola Adventista de Brusque. 

“„Pois a sabedoria entrará no teu coração, e a ciência será suave à tua alma; o bom siso te

guardará e a inteligência te conservará.‟ Prov. 2:10 e 11. 

“No dia 15 de outubro de 1897 esteve reunida a igreja dos adventistas do sétimo dia, em

Brusque, na casa do irmão Augusto Olm, a fim de tratar da fundação de uma escola.

Assistiram a esta reunião os seguintes membros: Augusto Olm, ancião; Reinoldo Belz, diácono;

Francisco Belz, secretário; Guilherme Belz; Guilherme Belz Filho; Guilherme Wagner;

Francisco Peggau; Bernardo Loeschner; Ludovico Log; Frederico Peggau; H. F. Graf,superintendente do campo missionário brasileiro; A. L. Stauffer, missionário; e G. Stein,

professor.” 

Na escola de Gaspar Alto o ensino era ministrado em alemão. De manhã funcionava o nível

primário e à tarde, o secundário. O edifício escolar estava dividido em duas partes, uma para

a igreja e outra para as atividades do colégio. Em 1900, já dispunha de um dormitório paraalunos internos. Funcionava como escola agroindustrial, como os demais colégios adventistas

que posteriormente foram estabelecidos no Brasil. Os alunos trabalhavam 26 horas semanais e

conseguiam assim pagar seus estipêndios incluindo alojamento, pensão e estudo.[6]

William H. Thurston apresentou à Conferência Geral, em 1900, um relatório sobre a escola de

Page 66: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 66/76

Gaspar Alto: “Nossa Escola Missionária está localizada a cerca de 13 quilômetros da cidade

mais próxima, em um belo vale, pelo qual escoa um cristalino regato, e está circundada pela

influência celestial de uma grande igreja. ...Temos 60 acres de terra, um dormitório para

alojar adequadamente 40 alunos, e um edifício escolar, tudo já totalmente de nossa

propriedade.”[7] 

Primeira Escola Missionária do Brasil, 1897  

A segunda Escola Missionária foi fundada em Taquari, RS, em agosto de 1903, tendo comodiretor o professor Emílio Schenk. Posteriormente foi transferida para São Paulo, por sua

melhor localização. Entre os alunos que estudaram nessa escola missionária estavam Leopoldo

Preuss, Saturnino Mendes de Oliveira e José Amador dos Reis, o primeiro pastor brasileiro a

ser ordenado ao ministério.

Em 1915 foi estabelecido o Seminário Adventista, conhecido depois como Colégio Adventista

Brasileiro (CAB), Instituto Adventista de Ensino (IAE) e, atualmente, Centro UniversitárioAdventista, campus São Paulo. Seus fundadores foram John Lipke e John Boehm. O primeiro

professor foi Paulo Henning, que no dia 4 de agosto de 1915 ministrou a primeira aula a 12

alunos.

Hoje são três campi (São Paulo, Engenheiro Coelho e Hortolândia) que compõem o CentroUniversitário Adventista, aprovado pelo Governo Federal, cujo decreto foi publicado no Diário

Oficial da União, no dia 10 de setembro de 1999.

Colégio Adventista Brasileiro e o atual Unasp, campus Engenheiro Coelho 

Hoje a igreja no Brasil possui centenas de instituições de educação, entre escolas primárias,secundárias e universidades, que se somam às milhares de escolas e universidades adventistas

espalhadas pelo mundo.

Page 67: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 67/76

A Obra Médico-Missionária 

Paralelamente à pregação do evangelho e ao estabelecimento de escolas, o adventismo

procura ensinar ao povo os princípios de uma vida mais sadia, à base de alimentos naturais e

abstenção de tudo que seja prejudicial ao corpo.

Quando o pastor Huldreich Graf chegou ao Brasil – em 1895 – procurou ensinar a importância

dos tratamentos naturais, chegou mesmo a ministrá-los, quando não havia outros recursos

disponíveis.

Foi em 1900 que o Dr. Abel Gregory, médico e dentista norte-americano, veio ao Brasil como

missionário voluntário, para auxiliar no desenvolvimento da Obra no Rio Grande do Sul.

Graças a seus serviços foram derrubados muitos preconceitos contra a Igreja Adventista.

Ernesto Bergold, impressionado com os princípios de saúde adventistas, converteu-se ao

adventismo e decidiu manter por conta própria um hospital para administração dehidroterapia e tratamentos naturais, em Taquara, RS. O estabelecimento funcionou até 1928,

no local onde hoje se encontra o Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS). (Os filhos deErnesto – Adolfo e Ernesto – desempenharam importante papel no início das atividades da

empresa denominacional que viria a ser conhecida como Superbom, produtos alimentícios

naturais.)

O trabalho de assistência social aos povos do sertão e aos índios Carajás, na Missão do Rio

Araguaia, foi prestado em parte pelo Pastor A. N. Allen, em 1928. Maior impulso, contudo, foidado a este setor a partir do ano de 1953, quando foi inaugurada a lancha Pioneira, pilotada

pelo enfermeiro-missionário Lair Montebelo. Só no setor de Araguacema, em quatro anos deatividade, foram atendidas mais de 23 mil pessoas com tratamentos, instruções e

medicamentos.

No vasto Amazonas, a lancha médico-missionária Luzeiro I, pilotada pelo missionário Leo B.Halliwell e sua esposa Jessie, possibilitou também a execução de grande trabalho filantrópico

na região banhada pelo Rio Amazonas e seus afluentes. O pastor Halliwel e sua esposa, a

partir de 1931, dedicaram 25 anos ao trabalho entre os habitantes carentes do Vale do

Amazonas. Atenderam 250 mil pessoas, muitas das quais se converteram ao adventismo.

Ainda hoje o trabalho dos Halliwel é lembrado pelo povo da região.

Não havia ainda Igreja Adventista quando Leo e Jessie foram trabalhar no Rio Amazonas. Em

1956, porém, já havia 22 igrejas, 56 escolas sabatinas, três mil membros batizados, 15

escolas elementares, 15 professores que ensinavam cerca de mil alunos, um hospital, dois

médicos e enfermeiras, 15 pastores e evangelistas.

Em 1959 já eram quatro Luzeiro servindo no Vale do Amazonas e outra lancha atendendo aos

habitantes próximos ao Rio Parnaíba, na divisa do Maranhão com o Piauí.

Em 1946, no Rio São Francisco, a lancha Luminar, por dez anos pilotada pelo pastor Paulo

Seidl, prestou assistência a cerca de 46 mil doentes nos Estados da Bahia e Minas Gerais.

Quase na mesma época, Benito Ribeira atendia as populações pobres e doentes do Vale do RioRibeira, em São Paulo, com a lancha Samaritana.

Page 68: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 68/76

 

Leo e Jessie Halliwel, os missionários do Amazonas 

Em 1994, a Igreja Adventista contava com 25 instituições de saúde, 1.004 leitos e 3.862obreiros e funcionários. Em quatro anos (90-94) foram atendidos mais de 200 mil pacientes,

que tomaram conhecimento dos princípios de saúde adventistas.

Por mais de duas décadas a igreja promove o Dia Sem Fumar e Sem Beber. Esse programa foi

iniciado no Chile, pelos jovens adventistas, tendo se espalhado por toda a América do Sul.

Milhares de jovens, desbravadores e alunos das escolas adventistas saem às ruas nesse diaconvidando o povo a não fumar e não beber, expondo os males desses vícios.

Além disso, as Escolas de Recuperação de Alcoólatras, os Cursos Como Deixar de Fumar e

Beber, palestras sobre saúde e outras “tem ajudado milhares de pessoas a vencerem o vício

... e aceitarem a Cristo como seu Salvador Pessoal”.[8] 

*****

“Por alguns anos, os cientistas têm-se interessado em estudar a saúde dos adventistas... Por

mais de cem anos os adventistas têm insistido na importância da saúde e da dieta, e da

necessidade de moderação na ingestão de alimentos ricos em açúcar e gordura saturada... Em

quase todas as doenças de importância, os adventistas estão muito abaixo da média no quediz respeito ao risco. Algumas diferenças são surpreendentes, como por exemplo, na enorme

redução do risco do infarto do miocárdio para homens, que cuidadosamente seguem as idéias

de saúde de sua Igreja... Nas informações obtidas... podemos observar que um homem

adventista, cuja idade esteja entre 35 e 40 anos, na Califórnia, pode esperar viver seis anos

mais do que seu companheiro mediano. E ele não apenas vai viver mais, provavelmente vai

viver melhor durante esse período... Essa melhora, em expectativa de vida, é maior do quetodos os esforços em saúde pública conseguiram junto à população nos últimos setenta

anos.”[9] 

*****

“Ao recapitular a nossa história passada, havendo revisado cada passo do progresso até aonosso nível atual, posso dizer: louvado seja Deus! Ao ver o que Deus tem obrado, encho-me

de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos para recear quanto ao

futuro, a menos que nos esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos

que nos ministrou no passado” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 443).

Page 69: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 69/76

Referências: 

1. História de Nossa Igreja. Departamento de Educação da Associação Geral da IASD, 1959, p.

312.

2. Seventh-Day Adventist Encyclopedia, verbete Graf, Huldreich F., p. 473 – citado por Ruy

Carlos de Camargo Vieira em Vida e Obra de Guilherme Stein Jr . Tatuí, SP: Casa PublicadoraBrasileira, 1995, p. 142.

3. Moróz, David. “Origem e História dos Adventistas no Rio Grande do Sul”,Revista

 Adventista, janeiro/94, p. 35.

4. Waldvogel, Luiz. Memórias do Tio Luiz, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p.

142, 143.

5. Dados obtidos do relatório do pastor João Wolff sobre as atividades da Divisão Sul-

Americana da IASD no qüinqüênio 1990-94, Revista Adventista, junho/95, p. 7, 8.

6. Peverine, Héctor J. En Las Huellas de La Providencia, Argentina: Associacion Casa Editora

Sudamericana, 1988, p. 108.

7. General Conference Bulletin, v. IV, extra número 5, 1st quarter, 1901, p. 121 – citado porRuy Carlos de Camargo Vieira, op. cit., p. 155.

8. Relatório do pastor João Wolff sobre as atividades da Divisão Sul-Americana da IASD noqüinqüênio 1990-94, Revista Adventista, junho/95, p. 9.

9. Seis Anos a Mais. Instituto Adventista de Estudos em Saúde, São Paulo: 1988, p. 4-6.

Page 70: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 70/76

Page 71: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 71/76

Page 72: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 72/76

 

Disfarçados de comerciantes, esses jovens misturavam-se ao povo em busca de interessados

na Palavra de Deus. Quando encontravam algum, tiravam debaixo da roupa alguma porção das

Escrituras, liam, explicavam e vendiam. “Dessa maneira, esse exército de jovens motivadospelo maior dos ideais, a cruz de Cristo, e liderados pelo próprio Jesus, preparou o solo de

onde brotaria a semente da Reforma cristã do século XVI.”[2] 

Muitos séculos antes, outros jovens também se destacaram pela coragem e fidelidade a Deus.

Foram Daniel e seus amigos hebreus. Cativos na pagã Babilônia, esses hebreus foram

submetidos a muitas provas. “Daniel foi submetido às mais severas tentações que podemassaltar os jovens de hoje; contudo, foi leal para com a instrução religiosa recebida na

infância. Ele estava cercado por influências que subverteriam aqueles que vacilassem entre o

princípio e a inclinação; todavia, a Palavra de Deus o apresenta como um caráter

irrepreensível... Ele fazia de Deus a sua força e o temor do Senhor estava continuamente

diante dele em todos os acontecimentos de sua vida.”[3] 

Certo dia, o rei Nabucodonosor convoca todo o seu reino para reverenciar uma grande estátua

de ouro. Diante da majestosa imagem todos se prostram e adoram-na. Todavia, em meio àmultidão, três pessoas se destacam, pois permanecem em pé: Sadraque, Mesaque e Abede-

Nego, os amigos de Daniel. Severamente repreendidos, os três jovens são lembrados pelo rei

que, se não se prostrarem, serão jogados numa fornalha ardente. A resposta dos três é clara:

“Fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro

que levantaste” (Dn 3:18). Que coragem! Que fé! “Esses três hebreus possuíam genuína

santificação. O verdadeiro princípio cristão não pára a fim de pesar as conseqüências. Nãopergunta: „Que pensará o povo se eu fizer isto?‟ ou „Quanto afetará meus planos, se eu fizer

aquilo?‟ Com o mais intenso anseio os filhos de Deus desejam saber o que Ele quer que façam,para que suas obras O glorifiquem.”[4] 

No século 19, outros jovens se destacaram igualmente por sua coragem. Tiago White começou

a pregar o segundo advento em 1842, com a idade de 21 anos; John N. Andrews iniciou acarreira de pregador aos 14 anos e, aos 21, já era um profícuo escritor; John Loughborough

era conhecido como o “pregador adolescente”, aos 17 anos; Uriah Smith, aos 21 anos, foi

indicado para ser o redator da Editora Adventista nos Estados Unidos; Ellen G. White iniciou

seu ministério aos 17 anos, e por mais de 70 dedicou-se a pregar. Ellen, na ocasião de seu

chamado por Deus, tinha apenas o terceiro ano primário e era uma jovem muito frágil, devido

às doenças e dificuldades pelas quais havia passado na infância. Mas não olhou para suaslimitações, e sim para o que poderia fazer por Deus, pois “o Senhor não chama apenas os

capacitados, mas é fiel em capacitar aos que chama”. 

Diante disso tudo, tenho certeza de que Deus tem grandes planos para a juventude adventista

brasileira (tem grandes planos para você, também!). Assim como usou os pioneiros deste

movimento para dar início à proclamação da mensagem de advertência ao mundo, Ele quer

usar você e a mim para pôr fim à Obra, a fim de que Cristo possa logo voltar.

Em uma de minhas pesquisas em Gaspar Alto (em 1995), tive a oportunidade de conhecer o

“Cemitério da Esperança”. Lá, enquanto caminhava por entre os túmulos dos pioneiros, um

hino me veio à mente:

Page 73: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 73/76

"Quanta emoção, prazer nos traz

Só o lembrar a antiga fé

Que inspirou os nossos pais

Ante a dor e a morte até."

Muitos pioneiros da obra adventista no Brasil estão enterrados naquele cemitério. Ao lado dotúmulo do pastor Gustavo Storch existe um outro com a placa: “O Pioneiro”. É o túmulo deGuilherme Belz (1835 – 11/03/1912). Fico, então, imaginando o dia maravilhoso da volta de

Cristo, quando essas valorosas pessoas forem chamadas de volta à vida e tomarem

conhecimento do quanto seu trabalho frutificou e que seu esforço não foi “vão no Senhor”(1Co 15:58).

Cemitério da Esperança, em Gaspar Alto: pioneiros aguardam o dia da ressurreição

É claro que de nada adiantaria falar de homens e mulheres que colocaram a vida nas mãos deDeus e tudo fizeram por Sua obra, se isso não nos fizesse ver que essa missão está agora sobre

nossos ombros. Precisamos compreender a sagrada responsabilidade que temos por adotar o

nome de adventistas do sétimo dia e termos, agora, a “tocha da verdade” em nossas mãos.  

Essa bela história continua sendo escrita por nós. Avancemos com fé, confiantes de que “o

Deus de Israel ainda está guiando o Seu povo, e continuará com eles até o fim”.[5] Eaguardemos a “bem aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus  e nosso

Senhor Jesus Cristo” (Tt 2:13). Amém! 

Page 74: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 74/76

 Fiz esse desenho em 1999, para ilustrar meu livro A Chegada do Adventismo ao Brasil,

lançado pela Casa Publicadora Brasileira em 2000. Nele, procurei representar os principais

momentos da história do adventismo no Brasil: a chegada do pacote de revistas A Voz daVerdade a bordo de um navio; o casarão comercial de Brusque, onde o pacote foi aberto em

1884; o bêbado Dressler espalhando folhetos e revistas pela região da Colônia de Brusque;

Guilherme Belz tendo contato com a mensagem adventista e comparando o conteúdo dos

livros e folhetos com sua Bíblia; e o batismo de Guilherme Stein Jr., nas águas do rio

Piracicaba, em 1895. 

Referências: 

1. Chaij, Nicolas. O Colportor de Êxito, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, quarta edição,

1992, p. 25.

2. Reis, Denilson dos. “Como Tochas Ardentes”, Revista Adventista, julho/93, p. 35.

3. White, Ellen G. Santificação, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, sétima edição, 1988,p. 21, 22.

4. Idem, p.43.

5. White, Ellen G. Testemunhos Seletos, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, quinta edição,

1985, v. 3, p. 439.

Page 75: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 75/76

Desenvolvimento cronológico resumido 

1824 – Início da imigração alemã para o Brasil.

1884 – O pacote contendo dez revistas A Voz da Verdade, em alemão, chega a Brusque, SC.1890 – Surgem os primeiros observadores do sábado em Gaspar Alto, SC. Guilherme Belz é o

pioneiro.1893 – Albert B. Stauffer, primeiro missionário enviado ao Brasil pela Associação Geral, chega

em São Paulo.

1894 – (1) Albert Bachmeier encontra observadores do sábado em Brusque e em Gaspar Alto;

(2) William H. Thurston chega ao Rio de janeiro com dois caixotes de livros, estabelecendonaquela cidade um depósito de livros.

1895 – (1) Pastor Frank H. Westphal chega ao Rio de janeiro em fevereiro. Acompanhado por

Stauffer, inicia uma viagem realizando batismos em São Paulo e terminando com a cerimônia

batismal de Gaspar Alto, em junho; (2) em junho, a primeira igreja adventista do Brasil é

organizada em Gaspar Alto; (3) no mês de julho, os irmãos Berger chegam ao Brasil para

colportar; (4) pastor Huldreich F. Graf chega ao Brasil em agosto e, em dezembro, realiza obatismo em Santa Maria do Jetibá, no Espírito Santo; (5) é criada a Missão Brasileira da IASD.

1896 – (1) Pastor Frederick Spies chega ao Brasil e batiza 19 pessoas em Teófilo Otoni, MG;

(2) em julho começa a funcionar o Colégio Internacional de Curitiba, PR, a primeira escola

particular adventista.

1898 – Começa a funcionar a escola paroquial de Gaspar Alto, sob a direção de Guilherme

Stein Jr.

1900 – (1) Além da escola paroquial já existente em Gaspar Alto, tem início o curso superior,

sob a direção do pastor John Lipke; (2) começa a ser publicada a revista O Arauto da

Verdade, em português, mas ainda em tipografia secular. Guilherme Stein Jr. foi seu primeiro

editor.

1903 – Em agosto, o Colégio Superior de Gaspar Alto é transferido para Taquari, RS. A escola

paroquial da igreja de Gaspar Alto, entretanto, continuou funcionando.1904 – (1) O pastor Ernesto Schwantes visita o comerciante José Lourenço Mendes, em Santo

Antônio da Patrulha, RS. Surgem as igrejas de Campestre e Rolante e inicia-se a transição do

adventismo das colônias alemãs para todo o Brasil; (2) pastor Lipke consegue, nos EUA, a

doação de um prelo para o Brasil.

1905 – O prelo é montado no colégio de Taquari, RS. A Sociedade Internacional de Tratados

no Brasil (embrião da Casa Publicadora Brasileira) inicia suas atividades gráficas.1907 – A Casa Publicadora Brasileira (então conhecida como Tipografia Adventista de Taquari)

é transferida de Taquari para São Bernardo do Campo, São Paulo.

1911– (1) José Amador dos Reis, da Igreja de Rolante, ingressa na colportagem, passando

depois à obra bíblica, na qual foi ordenado ao ministério, tornando-se o primeiro pastor

adventista ordenado no Brasil (em 1920); (2) é organizada a União Brasileira, com sete

campos, 68 igrejas e 1.550 membros.

1915 – É fundado o Colégio Adventista Brasileiro, em São Paulo (hoje Unasp, campus São

Paulo).

1931 – No vasto Amazonas, a lancha médico-missionária Luzeiro I, pilotada pelo pastor Leo B.

Halliwell, inicia grande trabalho filantrópico na região.

1943 – O programa A Voz da Profecia começa a ser irradiado através de 17 emissoras, sob a

direção do pastor Roberto Rabello.

Page 76: A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

8/10/2019 A Chegada Do Adventismo Ao Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/a-chegada-do-adventismo-ao-brasil 76/76

Chegada do adventismo ao Brasil http://www.youtube.com/watch?v=rweEdK5trj4

FILME A MENSAGEM http://www.youtube.com/watch?v=8ByRPmDdgaw