a casa nobre rural dos séculos xvi-xviii no concelho de

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163 OPPIDUM número 2 - 2007 Resumo O presente artigo explora a realidade arquitectónica do concelho de Lousada no que concerne às habitações nobres dos séculos XVI a XVIII. A primeira parte do artigo que agora se publica, debruça-se sobre o Solar de Juste, a Casa da Bouça e a Casa do Campo, solares de estilo barroco, com características que lhes conferem unidade de estilo como a presença de pedras de armas, de escadarias e motivos decorativos com volutas ou folhas de acanto. Todos estes edifícios apresentam, no entanto, elementos de diferentes épocas, sendo essas características diferenciadoras de uma identidade que lhes determina a especificidade histórica que subsidia a própria história concelhia. Abstract: The present article explores the architectonic reality of the council of Lousada as far as the nobles’ dwellings, from the XVI to the XVIII centuries, are concerned. The first part of the article is about Solar de Juste, Casa da Bouça and Casa do Campo, baroque style manor-houses, whose characteristics convey a unique style, such as the presence of arms stones, staircases and decorative motives with volutes or acanthus leaves. However, all these buildings present elements from different times, which confer them with differentiating characteristics of an identity that determines their historic specificness that supports the council’s own history. A Casa Nobre Rural dos Séculos XVI-XVIII no Concelho de Lousada Rita Pedras * * Investigadora. Técnica Superior de História de Arte 1. Introdução O presente artigo pretende dar a conhecer e ana- lisar a arquitectura civil para fins habitacionais da nobreza entre os séculos XVI e XVIII no território que compreende o concelho de Lousada, estabele- cendo pontos comuns entre as diferentes casas, fa- zendo sobressair os elementos recorrentes do tipo de arquitectura utilizado nos séculos aqui tratados, e que correspondem, grosso modo, na arquitectura

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Page 1: A Casa Nobre Rural dos Séculos XVI-XVIII no Concelho de

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OPPIDUM número 2 - 2007

ResumoO presente artigo explora a realidade arquitectónica do concelho de Lousada no

que concerne às habitações nobres dos séculos XVI a XVIII. A primeira parte doartigo que agora se publica, debruça-se sobre o Solar de Juste, a Casa da Bouça e aCasa do Campo, solares de estilo barroco, com características que lhes conferemunidade de estilo como a presença de pedras de armas, de escadarias e motivosdecorativos com volutas ou folhas de acanto. Todos estes edifícios apresentam, noentanto, elementos de diferentes épocas, sendo essas características diferenciadorasde uma identidade que lhes determina a especificidade histórica que subsidia aprópria história concelhia.

Abstract:The present article explores the architectonic reality of the council of Lousada

as far as the nobles’ dwellings, from the XVI to the XVIII centuries, are concerned.The first part of the article is about Solar de Juste, Casa da Bouça and Casa doCampo, baroque style manor-houses, whose characteristics convey a unique style,such as the presence of arms stones, staircases and decorative motives with volutesor acanthus leaves. However, all these buildings present elements from differenttimes, which confer them with differentiating characteristics of an identity thatdetermines their historic specificness that supports the council’s own history.

A Casa Nobre Rural dos Séculos XVI-XVIIIno Concelho de Lousada

Rita Pedras*

* Investigadora. Técnica Superior de História de Arte

1. Introdução

O presente artigo pretende dar a conhecer e ana-lisar a arquitectura civil para fins habitacionais danobreza entre os séculos XVI e XVIII no território

que compreende o concelho de Lousada, estabele-cendo pontos comuns entre as diferentes casas, fa-zendo sobressair os elementos recorrentes do tipode arquitectura utilizado nos séculos aqui tratados,e que correspondem, grosso modo, na arquitectura

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civil portuguesa à corrente artística do barroco.Contudo, pelo carácter dos imóveis analisados, epelo tipo de informações recolhidas, não há aquilugar para a pretensão do estabelecimento rigorosoe científico de uma tipologia, mas, sim, de uma des-crição exacta e pormenorizada de cada elemento quecompõe as diferentes casas, depois de uma obser-vação atenta de cada elemento in situ.

Este artigo é apenas um excerto do trabalho deseminário em História da Arte apresentado em De-zembro de 2004, na Faculdade de Letras da Uni-versidade de Coimbra com o título “A Casa NobreRural e Urbana dos Séculos XVI-XVIII no Vale doSousa”, trabalho esse que nasceu motivado pelo fac-to na realidade artística e arquitectónica do Vale doSousa merecer ser conhecida e analisada com todoo cuidado porque, não se pode esquecer, foi nestaregião e à volta dela que começaram a aparecer osprimeiros solares nobres aquando da fundação danacionalidade. Os mesmos foram edificados a man-do dos principais elementos da nobreza portugue-sa, que se proliferaram de geração em geração eque possibilitaram as mudanças de algumas casas;os seus acrescentos e ainda o nascimento de algunssignificativos imóveis de raiz dão a conhecer o ní-vel de erudição em termos artísticos dos seus pro-prietários e sobretudo como é que as mensagens decariz artístico eram veiculadas e interpretadas, prin-

cipalmente no século XVIII, época que confere aunidade de estilo dos imóveis analisados.

A região do Vale do Sousa irradia nobreza econtém documentos arquitectónicos dignos de notaque documentam toda a história da vida do homem,da sua vida social e dos seus gostos artísticos, poristo merece ser conhecida e reconhecida.

Deste modo, é possível conhecer neste artigo a des-crição de nove casas nobres lousadenses integradasno território do Vale do Sousa, todas de cariz rural.

De notar que nesta revista serão conhecidos ape-nas três imóveis, representando, por isso, uma 1.ªparte do trabalho.

2. Casas Nobres do Concelho de Lousada

2.1. Casa de Juste

A casa de Juste é um solar nobre que se encon-tra na freguesia de Torno. O seu enquadramento érural e está em óptimo estado de conservação tendosido adaptado para Turismo de Habitação. Como amaioria das outras casas nobres, apresenta elemen-tos de várias épocas e portanto, de diferentes gostosartísticos. A sua datação primitiva remonta aoséculo XIV, mas a casa que se apresenta nestemomento é sem dúvida marcada pelo estilo arqui-

tectónico de finais do séculoXVII, inícios do século XVIIII.(Fig.1)

Este solar terá tido três eta-pas construtivas, sem contarcom algumas alteraçõesefectuadas no século XX, deque se trata no final. Destemodo, esta casa apresentavestígios de uma construçãomedieval que poderá ter sidouma torre de defesa datada doséculo XIV, que terá desapa-recido no século XVI aquan-do da ampliação do corpo quea continha e que correspondeao corpo lateral direito em re-lação à fachada que se vêhoje. Aqui, e na face que seFigura 1. Fachada Principal da Casa de Juste

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encontra voltada para o jardim interior (Fig.2), vis-lumbra-se a porta original da torre, rematada porum elemento decorativo com volutas já acrescen-tado nos finais do século XVI. (Fig.3) Está patenteainda, como testemunho deste período a parte decima do que teria sido uma pilastra, rodeada agora

Figura 2. Panorâmica do jardim e das traseiras da casa

de um aparelho de alvenaria simplese cujas oscilações e diferentes tonali-dades atestam bem as mudanças nasdiferentes épocas. Ainda de destacarneste corpo o seu remate com um fri-so simples e uma fina cornija estriadaou com meia-cana. De registar no pri-meiro andar a abertura de três janelassimples e já de fábrica moderna, norés-do-chão, e a acompanhar a portaque seria da torre do seu lado esquer-do, uma janela simples de guilhotina.Do seu lado direito outra janela deguilhotina mais pequena, e a seguir aesta, outra janela com a particulari-dade de ter a encimá-la um elementodecorativo com a forma de três triân-gulos incisos em cadeia, enquadrados

num rectângulo também ele inciso na parede. (Fig.4)Ainda neste corpo, na parede que estabelece a

ligação entre a face que dá para o jardim interior e aface que dá para o lado contrário, vê-se uma janelade sacada com uma moldura de cantaria simples queremata apenas com um leve pronunciamento côn-

Figura 3. Porta original da torre Figura 4. Janela com pormenor decorativo

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cavo, terminando em cantos rectos. A varanda des-ta janela tem ainda a rematá-la inferiormente como,se fosse uma mísula, um suporte em gradação dediferentes frisos. Por baixo desta encontra-se outrajanela de guilhotina, também ela de fábrica recen-te. Estão presentes, também, janelas de sacada iguala esta que foi descrita na face exterior deste corpo,em número de quatro estando estas ladeadas por ummodilhão de rolo de cada lado, excepto a última quefica encostada à parede, sendo por isso um total desete modilhões, isto no primeiro andar. No rés-do--chão alinham-se duas portas de moldura simples eduas janelas de guilhotina também de moldura sim-ples, dispostas com a seguinte sequência: uma por-ta, as duas janelas seguindo-se depois aoutra porta. Esta última terá sido, no en-tanto, um vão, pois possui uma moldu-ra que não chega ao chão. Deste modo,este corpo vai desembocar a norte nafachada principal e a sul na parede quecorresponderá à cozinha com uma cha-miné que não se dissocia da parede àqual está ligado um portal encimado poruma ameia que dá para o jardim interi-or (Fig.5). Do outro lado está tambémligado a este pequeno portal um anexo.Ainda de notar é o tanque que se encon-tra perto deste anexo, encimado por umelemento decorativo constituído porparras e cachos de uvas, folhas de acanto

no remate e uma forma sinuosa na par-te inferior destas.

A fachada principal (Fig.6) é lon-gitudinal de corpo rectangular com li-gação à capela através do corpo quese ergue nas traseiras da mesma, umavez que a capela se encontra recuadaem relação ao corpo principal. Assim,a fachada principal é constituída poro rés-do-chão e primeiro andar. É aquivisível uma maciça escadaria de umsó lanço que faz a ligação para o pri-meiro andar, esta possui um embasa-mento saliente a toda à volta tendo nocomeço do lanço dois motivos deco-rativos com volutas ou em espiral, umde cada lado. No começo do patamar

estão presentes outros dois motivos iguais. Nestemesmo patamar ou soleira vê-se uma espécie debalaustrada, como um pequeno varandim que en-quadra a porta de entrada do primeiro andar. Aquisão visíveis quatro curiosos elementos decorativos,dispostos dois de cada lado que possuem uma for-ma sinuosa que desemboca em ponta de seta. Esteselementos, julgam-se ser precisamente do mesmoperíodo e do mesmo local que a porta de entrada doprimeiro andar que se pensa estar datada entre oséculo X e o século XII. Terá, pertencido, segundoinformação do proprietário, a um mosteiro da re-gião. A sua forma é muito interessante dando a su-gestão de portal reentrante bem característico de um

Figura 5. Portal com ameia e corpo arquitectónico correspondente à cozinha

Figura 6. Fachada principal da casa

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mosteiro medieval, os seus toros geminados seguempara o seu centro formando duas meias-luas,estriadas criando uma gradação de estrias. Este por-tal tem ainda uma moldura em forma de arco abati-do que tem ao centro e no seguimento da junçãodas duas meias-luas, um elemento decorativo incisona pedra. Deste modo, o portal encontra-se ao cen-tro da fachada principal e consequentemente doandar nobre. Tem a acompanhá-lo, neste andar, umapequena janela quadrilobada, um modilhão, umajanela de sacada, outro modilhão, outra janelaquadrilobada, o próprio portal enquadrado pelovarandim, outra janela quadrilobada, novamente ummodilhão, uma janela de sacada, novamente ummodilhão e por último outra janela quadrilobada: éesta a sequência da constituição do andar nobre daesquerda para a direita. Assim, estão presentes qua-tro janelas quadrilobadas, quatro modilhões que en-quadram as duas janelas de sacada e, que por suavez, tem a seguinte constituição: uma moldura decantaria simples que remata com um pronunciamen-to côncavo ou em arco abatido terminando em can-tos rectos, tal como se verifica nas janelas da pare-de que se encontra do lado direito do edifício, coma única diferença de que o remate é de moldura sa-liente. A varanda destas janelas tem ainda a rematá-las inferiormente como se fosse uma mísula, umsuporte em gradação de diferentes frisos, tal comoas varandas da outra parede já referida. Por baixodo suporte encontram-se ainda curiosos elementosdecorativos em relevo com a forma de seis pontasde cada lado de um losango deitado. Este elementojá faz parte, no entanto, do rés-do-chão, onde se re-gistam ainda dois vãos médios rectangulares. A se-quência do rés-do-chão é portanto, o vão rectangu-lar, o relevo, a escadaria, o outro relevo e o outrovão, sendo por isso muito mais simples que o pri-meiro andar. Por fim é de referir o remate da facha-da principal que é o que se verifica à volta de todo oedifício, ou seja, um friso simples e uma fina cornijaestriada ou com dupla-cana. A encimar o telhadoexistem ainda dois curiosos elementos decorativos,iguais aos que se observam no varandim, sendo, noentanto, neste caso, o primeiro deles mais grosso;verifica-se depois ao centro e no seguimento da li-nha do portal uma pequena pedra também ela coma forma de arco abatido que comporta duas pedras

de armas, tendo assim: na parte superior que nos dáa forma do arco uma primeira pedra de armas deprincípios do século XVII que “foi mandada colo-car na primitiva casa de Juste por Paulo da CunhaCoutinho, Sr. da casa pelo seu casamento comVicência Borges de Sequeira. Assim nesta pedra aface heráldica consideremo-lá um campo que temao meio um escudete ovalado, o qual contêm cincoescudetes postos em cruz, encimados por uma cu-nha, e que esta ladeado por oito cunhas, quatro acada lado, estas alinhadas em duas faixas, postasduas a duas, as quatro cunhas superiores alinha-das em faixa com a cunha contida no escudete e asquatro cunhas inferiores alinhadas em faixa comos cinco escudetes contidos no mesmo, o qualescudete afigura-se-me estar rematado por um co-ronel, muito rudimentar, de que parece sair umpaquife encimando as cunhas exteriores ao escu-dete, e com timbre. Na parte inferior do campo pa-rece haver um elemento decorativo” (Nóbrega,1999:58). Quanto à segunda pedra de armas, é pos-sível dizer que desperta algumas dúvidas, sendo porisso avançadas duas interpretações para a mesma.Antes de avançar para estas interpretações de ArturVaz-Osório da Nóbrega há que referir que esta pe-dra foi mandada esculpir por Heitor Borges Barreto,então senhor da casa de São João da Macieira (sé-culo XVII). Na primeira interpretação estabelece-se a possibilidade de Heitor Borges Barreto ter re-cebido uma Carta de Brasão de Armas, com as ar-mas dos Barretos, plenas, tendo por diferença umcrescente, ou um minguante. O canteiro que teráfeito este brasão terá podido recorrer apenas, aoexemplo da descrição e não à iluminura que lhecorresponde, colocando assim o crescente (ou ominguante) na parte inferior do escudo, - “e no casode se tratar de um crescente, este ficaria ao con-trário para facilitar uma melhor acomodação des-ta figura em relação às três mosquetas postas emroquete” (Nóbrega, 1999:67). Na segunda interpre-tação vemos a hipótese de Heitor Barreto não teruma carta de armas e “pretendendo mandar escul-pir uma pedra de armas, compôs o escudo com asarmas de Barreto, por seu pai, Heitor BorgesBarreto, e as de Pinto, por sua mãe [...] CatarinaPinto Teixeira [...]. Pela possível ignorância he-ráldica de Heitor Borges Barreto, e por dificulda-

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des do canteiro, resultaram umas armas plenas comas seguintes peças: três mosquetas das armas dosBarreto, postas em roquete, e um crescente das ar-mas dos Pinto, posto ao contrário em ponta”(Nóbrega, 1999:68). Deste modo poderá chegar-seà conclusão de que através do casamento se junta-ram as famílias da casa de São João da Macieira eda Casa de Juste, isto durante cerca de dois séculos.É possível ver através desta análise que a descodi-ficação deste brasão não se apresentou fácil, nempara um especialista em heráldica, no entanto, a suacomposição formal é mais facilmente perceptível“tendo assim um escudo francês moderno, com cor-reia de suspensão desapertada, com elmo grossei-ramente representado gradeado, voltado a trêsquartos para a direita”, rodeado por ornatos emforma de folhas de acanto que em heráldica chama-mos paquife. “Sem ter timbre, por mutilação. Con-tém dentro do escudo as armas dos Barretos repre-sentadas somente por três mosquetas postas emroquete, e as armas dos Pintos representadas so-mente por um crescente, posto ao contrario (min-guante) em ponta.” (Nóbrega,1999:63-64)

Continuando agora a descrição da fachada prin-cipal temos a seguir à pedra de armas mais dois curi-osos elementos decorativos iguais aos primeiros re-feridos, sendo agora o último mais grosso. A rematara fachada lateralmente e a ligá-la às paredes lateraisobservam-se as pilastras ou cunhais lisos que possu-em na parte superior um fino colarinho, um equinoliso e um ábaco estriado que termina no friso lisoque rodeia o edifício. A ligar as paredes laterais àparede traseira encontramos a mesma solução decunhais. Antes de passar para a descrição de outraparte do edifício, é pertinente ainda mencionar, queoutrora a fachada principal tivera do seu lado direitoem cima do telhado, um compartimento, uma espé-cie de águas-furtadas que possuía duas simples jane-las de guilhotina, espaço que já não existe.

Na parede do lado esquerdo da fachada está pre-sente uma janela manuelina (Fig.7), que se acreditaencontrar-se neste local, devido a uma cobrança feitapelo então dono da casa o capitão-mor de Lousada

que teria direitos, até, sobre Vila do Conde. Assima janela seria o pagamento de uma divida ao capi-tão-mor.1 Esta janela encontra-se em destaque umavez que é o único elemento desta parede. É consti-tuída por três molduras, a primeira a contar de den-tro para fora é uma moldura em forma de corda,usada nas caravelas portuguesas, da época dos des-cobrimentos e por isso tipicamente manuelina, quetermina ao centro numa carranca ou cabeça de ser-pente, que representa os animais encontrados nosnovos continentes descobertos, e que por sua vez,se encontra ladeada por duas cruzes gregas releva-das, uma de cada lado, de carácter invulgar, umavez que os seus braços além de serem iguais são emforma de pequenos losangos. A outra moldura é empontas de diamante salientes, a última é por sua vez,lisa e incisa na pedra de uma forma côncava. A for-ma da janela, e por sua vez das molduras, é semi-quadrangular, porque termina em forma de dois se-micírculos. Em cima da junção dos dois semicírcu-los está inciso um pequeno losango interrompido,que por sua vez será o remate do que parece ser umastrolábio inciso, instrumento que tanto ajudou os

1 Informação prestada pelo proprietário, Sr. Fernando Guedes.

Figura 7. Janela Manuelina

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navegadores portugueses. Por cima deste vão e aladear o possível astrolábio, estão presentes aindadois elementos decorativos incisos em forma devolutas nas pontas. A parede onde se encontra estajanela vai terminar lateralmente num cunhal de li-gação, mas, no entanto, vai também entroncar como começo da fachada da capela.

Quanto ao corpo que corresponde às traseirasda casa, é constituído por uma grande balaustradade construção recente ao nível do primeiro andar eque é rica em elementos soltos e dispersos com in-teresse artístico de várias épocas. Assim a parededas traseiras contém três portas com moldura sim-ples, tendo a segunda, da esquerda para a direita,um elemento decorativo inciso já muito apagado,mas que parece ser a cruz da ordem de malta, queterá também a ladeá-la em cada um dos lados umelemento decorativo em forma de flor de lis, tam-bém ele inciso, que representava a concessão de umgrau hierárquico elevado a uma pessoa em particu-lar dentro da ordem. Na terceira porta encontra-setambém uma cruz de Cristo, incisa. À frente destaparede e sobre o rés-do-chão que é por isso maislargo que o primeiro andar, ergue-se a balaustradasuportada por colunas ou pilares boleados e de for-mas desiguais, que se pensa serem medievais e nãopertencerem de todo, à realidade da arquitectura ci-vil, mas sim à da arquitectura religiosa, podendomesmo ser do mesmo local da porta da fachada prin-cipal. De acesso à balaustrada, dois lanços de esca-da, um de cada lado, de fabrico já recente, que par-tem, portanto, do rés-do-chão para o andar nobre.Quando terminam têm uma espécie de soleira queestabelece precisamente a ligação e que se encontrajá no andar nobre, contendo inferiormente um es-paço aberto e vazio que vai desembocar ao fundonuma porta de acesso ao rés-do-chão, isto em cadaum dos lados respectivamente. No início desteslanços vêem-se ainda dois motivos decorativos comvolutas enroladas parecendo em espiral, um de cadalado, sendo portanto, iguais aos que se encontramna escadaria da fachada principal, diferindo apenasno remate, tendo estes uma concha de vieira cadaum, que pode representar a família Vieira de Meloou então constituirem elementos alusivos aos ca-minhos de Santiago. No rés-do-chão está presenteainda, uma porta ao centro que se encontra ladeada

de quatro janelas quadrilobadas, mais especifica-mente, duas de cada lado. Dos elementos soltos queaqui se encontram, observam-se: um pedestal quemais parece uma coluna, e que se encontra na “so-leira” do lanço do lado direito, também ao cimo destelanço encontramos no que terá sido uma das janelasda capela agora tapada, e que serve precisamentepara albergar, uma curiosa estatueta de aspectomuito rudimentar e antigo, assemelhando-se mes-mo com as deusas dos tempos pré-históricos. Ante-riormente encontravam-se ainda na balaustrada duasestátuas que parecem ser neoclássicas e que estãoactualmente no salão de eventos da casa. Da ba-laustrada é perceptível uma panorâmica para o jar-dim que se divide em três partes, numa primeira, acontar da balaustrada, vislumbra-se um pequenojardim labiríntico estilo francês, na segunda parteencontramos uma zona relvada que contém no meiotrês pequenos lagos artificiais rectangulares em es-cada e cuja água provém de um grande tanque(Fig.8) que faz parte da terceira parte do jardim eque se pauta pela sua simplicidade, tendo apenas a

Figura 8. Altar barroco da capela da casa

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portanto, uma tapada como já se teve oportunidadede constatar e outra cumprindo ainda a sua funçãonatural.

Depois de descrito o exterior desta capela, é per-tinente fazer pelo menos um breve apontamentosobre o seu interior, que constitui uma maravilhaartística e um deleite para os apaixonados e apre-ciadores da arte barroca, isto porque vamos depa-rar-nos com um altar de talha dourada e policromadabarroco (Fig.9), do chamado estilo nacional aindaem excelente estado de conservação. Esta capelaterá duas épocas, o principio e o fim do barroco, oprincipio é marcado pela talha que se encontra aocentro e que terá vindo de outra capela, o que ro-deia o centro será já talha dos finais do barroco.Ainda no interior desta capela observa-se pintadono tecto o brasão da família.

2.2. Casa da Bouça

A casa da Bouça é um solar nobre que se situana freguesia de Nogueira. (Fig.10) O seu enqua-dramento é rural e encontra-se em razoável estadode conservação.

Para entrar neste solar passa-se por um grandeportão, à frente do qual se vislumbra uma grandealameda que conduz até ao corpo da casa e seusjardins. (Fig.11) Logo que se chega ao portão tem-se a percepção de algo grandioso, vendo-se ao fun-

encimá-lo três ameias curiosamentetodas de formas diferentes, formas es-sas que se vão repetir ao longo de todoo muro deste jardim que possui igual-mente estas ameias. De referir que asmesmas são recentes e meramente de-corativas.

Quanto ao interior da casa, possuiuma pintura em madeira recortada como brasão da família, e duas cómodasantigas.

Por fim merece atenção, talvez oelemento mais significativo desta casa,a magnífica capela que no exterior éconstituída da seguinte forma: encon-tra-se como já foi referido com o corporecuado em relação à fachada princi-pal, é marcadamente do século XVIII, tem ao cen-tro uma porta de moldura muito simples e no segui-mento da mesma vemos um pequeno óculo. Arematá-la ao cimo vemos uma moldura triangular aacompanhar a forma do telhado que nasce em cadaum dos lados do équino liso e que se encontra inter-rompida ao centro onde vemos um arco sineiroencimado por uma pequena cruz latina ao centro ea ladeá-la dois pequenos pináculos, iguais aos quevemos também a encimar os cunhais que rematamlateralmente a capela, tanto na fachada como naparede traseira, no entanto, estes pináculos tem umpequeno pedestal a elevá-los. Os cunhais possuemcolarinho, que se alonga formando a cornija estriadaao longo das paredes laterais da capela, por baixodeste, está também presente um friso liso que seprolonga do mesmo modo, criando assim destamaneira o mesmo friso e a mesma cornija do corpoprincipal da casa. O équino do cunhal ergue-se já,por isso, acima da linha do telhado da capela. Aci-ma deste vê-se um ábaco estriado que serve de baseao pináculo. Na parede traseira da capela observam-se cunhais com a mesma estrutura com os mesmospináculos e com a mesma moldura triangular, masjá não interrompida, ao centro desta e a encimá-latambém uma pequena base sinuosa onde se ergueuma alta cruz latina. A parede em si é, no entanto,isenta de qualquer tipo de decoração sendo por issolisa, tal como a parede lateral esquerda. Quanto àparede lateral direita possui dois vãos, duas janelas

Figura 9. Tanque ameado do jardim interior

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Figura 10. Fachada principal da Casa da Bouça

Figura 11. Portão que dá acesso à casa

do da alameda o fontanário barroco de uma só taça,que se localiza precisamente à frente da fachadaprincipal, no imenso terreiro que aí se encontra.(Fig.12) De notar que os elementos significativosnão se encontram só ao fundo desta alameda, mastambém a meio do seu percurso, onde é possívelver à esquerda uma pequena fonte de estrutura ar-quitectónica com uma decoração central, com uma

Figura 12. Fontanário Barroco

vieira incisa e abaixo desta uma carranca como bica.No que respeita à casa em si, enquanto estruturaarquitectónica, é difícil precisar a época exacta dosvários corpos que compõem o solar, uma vez que asua estrutura foi sujeita a muitas alterações eacrescentos. Deste modo, torna-se também impos-sível estabelecer um número exacto de etapas cons-trutivas. Contudo, pode-se afirmar que o corpo que

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se encontra adossado à fachada posterior, é semdúvida o mais antigo, pelas suas características.(Fig.13) É, desta forma, constituído por janelas deguilhotina no primeiro andar, ao qual se acede poruma escadaria de um só lanço cujo patamar é co-berto por um alpendre sustentado por colunas. Res-ta referir que é todo em granito, sem qualquer tipode pintura. Atrás deste corpo, alinha-se um outrocorpo ou bloco que possui uma torre de “prestígio”,uma vez que é do século XIX e não medieval. Estatorre alinha-se do lado direito do referido corpo,(visto da fachada principal destecorpo) que, por sua vez é consti-tuído por um alpendre com ba-laustrada que possui pilares quesuportam o mesmo alpendre.(Fig.14) Assim a parede que seencontra atrás da balaustrada pos-sui um lambrim de azulejos de fi-gura avulsa pintados a azul e bran-co, (Fig.15) que são apenas inter-rompidos por três portas de mol-dura recta e lisa na verga supe-rior, que segue para os lados es-treitando a mesma a partir deaproximadamente um quinto.Uma das portas, alinha-se na pa-rede lateral direita, para quem vêo corpo de frente. A dar acesso a

esta balaustrada uma escadaria deum só lanço que remata no iníciodo mesmo, do lado esquerdo numelemento decorativo com volutas,sendo a voluta superior mais peque-na e recuada e do lado direito, porsua vez, num pedestal com uma es-pécie de pináculo ovalado que se-gue para o seu lado direito numa ba-laustrada semicircular, compostapor balaústres e que vai terminarigualmente com o mesmo tipo desolução de pedestal e pináculo, ele-mento decorativo este, que encimae marca o patamar de outra escada-ria que dá acesso da casa para o jar-dim e vice-versa. Deste modo vis-lumbra-se assim a presença de ou-

tra escadaria que faz ligação com a primeira peloseu patamar. Esta segunda escadaria é também deum só lanço e possui no início dos corrimões sobreo segundo degrau um elemento decorativo comvolutas, sendo a segunda mais pequena e recuada,tal como se verificou, no inicio do lanço do ladoesquerdo da outra escadaria. A mesma permite,como já foi mencionado, o acesso ao jardim, mastambém a toda a parte da casa que corresponde àlocalização da torre, torre esta que alberga a cozi-nha. No interior da mesma é possível observar, nas

Figura 13. Corpo mais antigo da casa

Figura 14. Corpo Lateral Direito da casa e Torre de Prestigio

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suas paredes, azulejos de figura avulsa policromos(azul e amarelo), com cercadura. No exterior, à es-querda da porta da torre (direcção: de frente para a

Figura 15. Azulejos de figura avulsa de estéticaazul e branca

Figura 16. Espaldar de um grande tanque com azulejospolicromos e duas carrancas

porta), está presente um grande tanque com espal-dar muito recortado com volutas e preenchido comazulejos de padrão policromo e duas bicas com car-

rancas (Fig.16).Observando, agora com mais

atenção o jardim a que uma das es-cadarias dá acesso, pode dizer-seque este se encontra num plano in-ferior em relação ao corpo princi-pal da casa, e que constitui um dosexemplos de estrutura de um jardimbarroco, labiríntico por excelência,com a presença de elementosescultóricos e de azulejos. (Fig.17)Contudo, é de salientar que as está-tuas que se podem observar, dispos-tas por este jardim são do séculoXIX e são obra de Teixeira Lopes.2Deste modo resta agora referir o querepresentam cada uma destas está-tuas e como se encontram dispos-

2 Teixeira Lopes é um grande escultor dos séculos XIX e XX (1866-1942), natural de Vila Nova de Gaia, cidade onde existeactualmente uma Casa-Museu dedicada ás suas obras. “Artista de técnica poderosa e subtil e de profundo sentimento plásticoembebido de lirismo, foi um interprete admirável da dor humana, da beleza feminina e da graça infantil. Tendo recebido oinfluxo dos neoflorentinos, soube traduzir na sua arte os caracteres mais fortes e as emoções mais vivas e mais altas através daperfeita harmonia das formas. A palpitante humanidade de toda a sua obra atinge assim nobre estesia”. Uma das estátuascontém a assinatura do escultor.

Figura 17. Vista central do jardim

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tas. Ao entrar no jardim é de imediato visualizada aestátua do “Douro”, (Fig.18) ao prosseguir pelo jar-dim vê-se ao centro uma grande fonte composta peloseu tanque circular que ao meio possui uma estru-tura escultórica com um pedestal decorado en-cimado por um grande vaso, pedestal este, que temadossado a si e a rodeá-lo quatro esfinges. (Fig.19)

Figura 18. Estátua de “Douro”

Figura 19. Tanque circular com esfinges

À volta desta fonte circular dispõem-se, atrás dassebes, quatro estátuas que representam as quatroestações. Deste modo, pode-se ver primeiro, (nosentido de quem entra para o jardim) a estatua doInverno do lado direito (Fig.20), a do Outono dolado esquerdo (Fig.21), prosseguindo vê-se depoisoutra estátua do lado direito que será a Primavera(Fig.22) e do lado esquerdo alinha-se o Verão ouEstio (Fig.23) como se lia na base da estátua. Sain-do do espaço central e seguindo em frente encon-tra-se uma outra estátua que se designa por “Tejo”(Fig.24), sendo esta a última estátua que se podever neste jardim. Esta mesma tem o olhar voltadopara o lado esquerdo (no sentido de quem a olha defrente), onde se encontra precisamente, colado àparede, um magnifico azulejo de grandes dimen-sões do século XVIII, de estética azul e branca, do-minante na azulejaria portuguesa entre o séculoXVII e o século XVIII. (Fig. 25) Este azulejo re-presenta um dos continentes, neste caso a Améri-ca, representada por uma dama sentada num co-che, segurando as rédeas do cavalo. A acompanhá-la, pousado numa das extremidades do coche, umcúpido. Toda esta composição figurativa central é

Figura 20. Estátua do “Inverno”

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Figura 21. Estátua do “Outono”

Figura 22. Estátua da “Primavera”

Figura 23. Estátua do “Verão”

Figura 24. Estátua do “Tejo”

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rodeada por uma cercadura, que é em cada um doscantos representada pela figura de meninos aladosou “putti” que parecem suportar todas asenvolventes folhagens que se representam nestacercadura. Para finalizar a análise deste azulejo, restasalientar que se encontra em progressivo estado dedegradação. De salientar, ainda, que no interior dacasa se encontram painéis de azulejos como este,representando os restantes continentes.

No que respeita agora à parte arquitectónica maissignificativa da casa, a fachada principal, ela é da-tada de finais do século XVIII e composta por rés-do-chão e primeiro andar3. Ao nível do rés-do-chãopode observar-se, na sequência da esquerda para adireita, três janelas de guilhotina com moldura lisa,de verga superior recta, que se alonga lateralmente,afunilando depois, seguindo para baixo onde quasea chegar aos cantos da verga inferior, se volta a alon-gar fazendo, deste modo, os cantos com ângulo rectosaliente, que volta mais uma vez a afunilar, destavez para dentro, para formar a moldura, agora rectada verga inferior. De referir também que estas ja-nelas possuem um resguardo em ferro forjado. A

3 Embora a data da casa e muitas das suas características a insiram estilo barroco, ela evidencia-nos já, algumas características degosto neoclássico, o que nos deixa adivinhar a erudição e o conhecimento das novos formas artísticas por parte do arquitectodeste imóvel. Assim são visíveis, alguns elementos neoclássicos, como por exemplo, o frontão triangular.

Figura 25. Azulejo de estética azul e branca

seguir, alinha-se a porta de entradaprincipal com a verga superior emforma de arco abatido com cantosrectos e com duas molduras, ou, du-pla-moldura, uma vez que estas duasmolduras lisas são demarcadas porum finíssimo friso de meia-cana sa-liente que marca também a formado arco abatido com cantos rectos eque tem ao centro uma chave emforma de cunha. Os pés-direitos des-ta porta imitam inferiormente umapilastra sobre um altíssimo plinto,com uma escócia, apenas sugeridapelo arredondamento dos cantos.Depois da porta de entrada estãopresentes ainda mais três janelas deguilhotina iguais às outras três refe-

ridas o que perfaz, deste modo, um total de seis ja-nelas alinhadas no rés-do-chão. No que diz respei-to ao primeiro andar, alinham-se nove janelas desacada, tendo as três centrais a sacada geminada.Estas janelas de sacada são compostas por uma ver-ga superior recta que se alonga lateralmente umpouco, afunilando depois, seguindo para baixo, ondequase a chegar aos cantos da verga inferior se voltaa alongar, tal como as molduras das janelas do rés-do-chão, apenas com a diferença de que inferior-mente já não faz ângulo recto, mas segue até à sa-cada ou varanda. Por sua vez, esta última tem umsuporte com moldura estriada suportado por duasmísulas de rolo com uma espécie de friso inferiorcom decoração de três gotas. As mísulas posi-cionam-se uma de cada lado do suporte da sacada.A varanda possui um resguardo de ferro forjado.Todas as janelas do primeiro andar têm esta estru-tura, menos as três centrais que possuem toda a sa-cada geminada, como já foi referido, e das mísulasserem apenas quatro, quando deveriam ser num to-tal de seis, se cada janela tivesse a sua sacada sepa-radamente, como acontece com as três janelas do

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lado esquerdo e direito. De notar que o facto destasjanelas centrais serem geminadas pela sacada temum propósito concreto, que é precisamente o dedestacar a parte central da fachada que possui, paraalém desta forma construtiva de destaque, outra quese vai verificar noutras casas do Vale do Sousa, queé o centro estar separado dos seus lados por pilastras,que percorrem todo o rés-do-chão e o primeiro an-dar. Estas pilastras, formam uma espécie de moldu-ra, ligando-se superiormente por um friso que partedo seu équino liso. Quanto ao seu ábaco, é estriadoe alarga-se formando a moldura do frontão triangu-lar que se ergue a coroar a parte central do edifício.De salientar que estas pilastras têm ainda uma ou-tra pilastra debaixo de si sendo apenas visível damesma metade. Esta possui, por sua vez, uma es-trutura diferente, parecendo mesmo mais antiga doque aquela que se lhe sobrepõem, deixando a dúvi-da se eventualmente a moldura não será um elemen-to posterior à construção da fachada. Estas pilastraspartem de uma altíssima base ou plinto e têm umaescócia de cantos arredondados.

Por conseguinte, resta em relação à fachada, des-crever de uma forma mais pormenorizada o frontãoe referir os remates que limitam a mesma.

Assim, e no que diz respeito ao frontão, ergue-se ao centro do edifício e sobre a moldura criada apartir das pilastras, como já foi mencionado. O seutímpano possui ao centro um brasão de armas, queaí foi colocado na segunda metade do século XIX, amando do Dr. Henrique Cabral de Noronha eMeneses, na altura proprietário da Casa da Bouça.Este brasão é de granito e é constituído por “um es-cudo francês moderno, assente numa cartela deco-rativa. Tem elmo gradeado, voltado a três quartospara a direita, com timbre de metal dos Castelo-Branco. De trás do motivo decorativo inferior aoescudo surgem as pontas, com fivela e biqueira, deuma suposta correia de suspensão desapertada. Oescudo é de composição esquartelada, possuindo oprimeiro quartel as armas dos Castelo-Branco – umleão; o segundo quartel as armas dos Cabrais – duascabras passantes, uma sobre a outra; o terceiroquartel as armas dos Araújos – aspa carregada decinco besantes e no quarto quartel as armas dosMeneses (moderno) – são as suas armas: de ouro,com a sombra de um anel e nele encostado um rubi

que está voltado para o cantão sinistro da ponta,enquanto que na pedra de armas o anel tem o rubivoltado para o chefe – o que confere com a cartade brasão de armas” (Nóbrega, 1999:7-8).

Para finalizar a descrição da fachada resta salien-tar os remates. Deste modo a rematar lateralmentea fachada está presente a solução de cunhais em cadaum dos lados constituídos por pilastras, compostasinferiormente por um grosso dado, um plinto liso euma escócia de cantos arredondados e superiormen-te por um fino colarinho, um équino liso e um ábacoestriado. Acima do ábaco vê-se um friso liso e umacornija estriada, que se salienta no seguimento dapilastra e que parece formar outro équino e outroábaco. Este friso e esta cornija são assim o rematesuperior da fachada só interrompida pela molduraque antecede o frontão na parte central. A rematarainda as pilastras, acima da linha do telhado obser-va-se um pináculo pontiagudo sobre peanha.

Assim se conclui a descrição da fachada princi-pal passando agora para a parede lateral esquerdaque é constituída de uma forma peculiar por trêssecções, sendo a segunda secção correspondente aocorpo da capela. Desta forma se analisará a primei-ra e terceira secção juntas, individualizando a des-crição da segunda secção que corresponde à capela.Por conseguinte, ao nível do rés-do-chão estão pre-sentes três janelas de moldura exactamente igual àmoldura das janelas do rés-do-chão da fachada prin-cipal. A primeira e a segunda janela (no sentido daesquerda para a direita) são de guilhotina e possu-em resguardo de ferro forjado, enquanto a terceirapossui só a moldura, encontrando-se tapada. Ao ní-vel do primeiro andar é possível encontrar mais trêsjanelas de guilhotina iguais à primeira do rés-do--chão, não possuindo, no entanto, resguardo de fer-ro. Quanto à capela (Fig.26) posiciona-se de umaforma avançada e destaca-se pela pintura de cor di-ferente da casa, sendo esta última pintada de bran-co e a capela pintada de amarelo-torrado. É com-posta por um porta de entrada com a verga superiorem forma de arco abatido com cantos rectos, cujospés-direitos se alongam um pouco desde que par-tem da verga superior, afunilando depois, seguindopara baixo até ao chão. A ladear esta porta regis-tam-se duas janelas quadrilobadas, uma de cadalado. Acima da porta ergue-se também, uma janela,

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mas desta vez polilobada. A rematar superiormentea fachada da capela vislumbra-se um frontão trian-gular, com o tímpano vazio. A coroar este frontão aocentro, no seu vértice, uma cruz latina, e a ladeá-lodois vasos sobre peanha. A rematá-la, observa-se ajá referida solução de cunhais, constituídos porpilastras, exactamente iguais do ponto de vista da es-trutura, às pilastras dos cunhais da fachada princi-pal. A capela possui estes cunhais porque, uma vez,que se encontra avançada em relação à parede ondeestá inserida, cria portanto paredes laterais ainda quemuito estreitas. Na sua parede do lado direito vê-semesmo um pequeno vão em arco pleno com cantosrectos e que contém no seu interior o sino. Há quereferir ainda que, à frente da capela, adossado aomuro, se vê a entrada para o que parece ser uma pas-sagem subterrânea ou simplesmente um poço. Estaentrada tem a encimá-la uma espécie de frontão delanços formado por folhagens.

Quanto à parede lateral direita da fachada prin-cipal, verificam-se também janelas de guilhotina ede sacada, exactamente com a mesma estrutura dasjá referidas até aqui, não merecendo por isso agorauma descrição pormenorizada. É apenas de salien-

Figura 26. Fachada da Capela da casa

tar que aqui se encontra um elemento decorativonovo, que parte do friso que remata a parede, e quetem a configuração da parte de cima de uma pilastracom équino e ábaco, mas que não segue até ao chão,terminando como uma mísula numa formacontracurvada, que converge para o meio num pin-gente. Esta parede liga com o corpo com balaustra-da que por sua vez liga com a torre.

Como foi possível observar, esta casa é um con-junto de corpos de vários tamanhos, feitios e de di-ferentes espaços temporais. A sua dinâmica de con-junto é a de volumes escalonados e mesclados entresi, sendo a abertura de vãos absolutamente surpre-endente, especialmente na fachada principal. Con-tudo, não se fica por a conjunção de corpos e repar-te-se por espaços amplos como o do terreiro, e es-paços verdes, repletos de obras de arte, como é ocaso do jardim.

2.3. Casa do Campo

A Casa do Campo, como é vulgarmente conhe-cida, é uma casa nobre que se situa na freguesia deNogueira (Fig.27). O seu enquadramento é rural eisolado, encontrando-se em péssimo estado de con-servação.

Esta casa apresenta indícios de ser de finais doséculo XVII, inícios do século XVIII. Era seu se-nhor no século XVIII Sebastião Carneiro de Carva-lho e Vasconcelos, que aqui nasceu em 5-3-1731 eque mandou esculpir a pedra de armas que se en-contra no portão da casa. (Nóbrega, 1999:17)

Este imóvel é de pequenas dimensões, tendoapenas rés-do-chão. No entanto, apresenta algumrequinte nos seus elementos decorativos, que paraas dimensões da casa se poderão considerar abun-dantes. Deste modo, a casa contém, na sequênciada esquerda para a direita, um portal rasgado na pa-rede que dá seguimento à fachada principal (Fig.28).O mesmo tem uma forma recta ao cimo que arre-donda os cantos para dentro, cantos estes, que vãode encontro a um bloco de pedra, que possui agar-rado a si uma faixa de azulejos de estética azul ebranca com motivos vegetalistas ou fitomórficos.Estão presentes a rematá-lo lateralmente duas fai-xas de azulejos, uma de cada lado (Fig.29), iguais àmencionada anteriormente, mudando apenas na for-

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Figura 28. “Portal” armoriado

Figura 27. Fachada Principal da Casa do Campo

ma do azulejo na parte de cima, que se apresentaagora com um recorte arredondado, assemelhando-se ao bojo de um vaso. Também na parte inferior omotivo é diferente, estando assim desenhado umaespécie de base ou pequeno vaso, que serve de iní-cio ao motivo vegetalista. Portanto, evidencia-seneste azulejo uma sequência lógica de início e fim

Figura 29. Faixa de azulejos de estética azul e branco

de um vaso com as suas folhas. Resta pois, aludirao facto deste portão ser rematado por uma pedrade armas, já mencionada, contudo, reclamando ain-da uma justa descrição. Trata-se de uma pedra dearmas em granito, de meados do século XVIII, comcomposição esquartelada. “No primeiro quartel ve-mos as armas dos Vasconcelos – três faixas veiradas,

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no segundo as armas dos Carvalhos – uma estrela deoito pontas, encerrada numa quaderna de crescen-tes; no terceiro as armas dos Carneiros - uma bandacarregada de três flores-de-lis e acompanhada de doiscarneiros passantes que nesta pedra de armas apre-senta uma barra e os dois carneiros estão postos ealinhados em banda; no quarto quartel as armas dosSilvas – um leão. Este escudo é de fantasia, com cor-reia de suspensão, e elmo gradeado, posto de frente,assentes numa cartela de inspiração rocaille.”(Nóbrega, 1999:14-17) De referir, ainda, que este bra-são tem a rematá-lo inferiormente um relevo que aocentro possui uma saliente folha de acanto.

Prosseguindo agora com a descrição da fachadaprincipal, esta é constituída apenas por duas jane-las e uma porta que se alinha ao centro e, por isso,no meio destas. Contudo, estas janelas e a porta nãosão vulgares. As janelas são em forma de arcoconopial ou contracurvado com as molduras reves-tidas por uma faixa de azulejos de estética azul ebranca, iguais aos já referidos e tem ainda um res-guardo em ferro a envolvê-las. Quanto à porta, tam-bém é em forma de arco conopial, de moldura sim-ples que parece alargar-se em sentido ascensionalpara formar o friso liso, que por sua vez, tem ime-diatamente acima uma cornija estriada que acaba,do seu lado esquerdo, numa pequena voluta, quedenuncia mesmo, o chamado olho de voluta e quevem entroncar com a pedra de armas. A porta prin-cipal vê ainda erguer-se à sua frente, para lhe daracesso, uma escadaria semicircular de um só lanço.A rematar a fachada acima da linha do telhado ve-mos seis ameias.

3. Conclusão

Chegando ao fim do estudo urge tirar ilaçõessobre o que foi proposto, para que se possa assimcumprir os objectivos iniciais.

Deste modo, há que estabelecer elementos co-muns entre as casas analisadas e elementos que pre-dominam de uma forma mais ou menos sistemáticana maioria delas. No entanto, é preciso salientar que,nesta 1.ª parte do estudo, foram apresentados apenastrês imóveis, pelo que a observação do estudo seráainda um pouco limitada por parte do leitor, ficando

desde já aqui a promessa, da publicação da descri-ção dos restantes imóveis numa próxima edição.

Antes de evidenciar os elementos comuns entreos imóveis convém, que esclarecer alguns pontosque tem apresentado problemas de interpretação aquem se debruça sobre o estudo da arquitecturanobre.

Concomitantemente, a classificação de uma casacomo quinta ou solar nem sempre é suficientemen-te claro ou estanque. Casas todos os imóveis são,pois é precisamente, um “edifício destinado à ha-bitação de uma ou várias famílias” (Teixeira,1985:56). Quintas, já só são aquelas “proprieda-des rústicas, cercadas ou não de árvores, com ter-ra de semeadura e geralmente casa de habitação”(Almeida, Sampaio, 1982:1183), ou seja, é todo oconjunto da casa de habitação que possua à sua voltaterra de cultivo. A designação de solar é que levan-ta mais problemas, tendo varias definições. “O so-lar é uma construção arquitectónica mais ou me-nos importante, residência principal onde, em prin-cípio, os senhores de uma propriedade rural habi-tavam. Por vezes ficaria no centro da propriedade,outras vezes próximo da estrada ou caminho, con-soante as zonas, as épocas e o gosto dos proprietá-rios. [...]os grandes solares, [...]ficam no meio dasterras senhoriais e alguns pequenos junto à estra-da.” (Binney, 1987:6) Portanto, “não era pois, umamansão palaciana ou o paço realengo [geralmen-te situados em contexto urbano], mas a casaarmoriada de linhas tradicionais e que pelo seucarácter rude ou castiço revela um tipo de arqui-tectura que define e marca uma corrente de artebem portuguesa”.

Deste modo, todas elas são casas, mas só algu-mas solares ou quintas.

Uma vez que o estilo dominante é o barroco doséculo XVIII, com algumas heranças do séculoXVII, é inevitável usar como base e sustentaçãodesta análise as características avançadas para ascasas e solares deste período pelo estudioso Carlosde Azevedo, na sua obra “Solares Portugueses”.Assim começa por constatar-se que a divisão derés-do-chão utilizada para arrecadações e o primeiroandar ou andar nobre que é utilizado para residên-cia por excelência, revela-se de forma muito evi-dente nestas casas, apresentando um segundo an-

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dar muito raramente. No que toca às plantas dasmesmas, começam a apresentar maior regularida-de, desenvolvendo-se em comprimento, a partir doséculo XVII, chegando mesmo ao que Carlos Aze-vedo chama de “planta comprida”, no século XVIII,verificando-se precisamente na região em estudoplantas rectangulares alongadas. Em suma, longasfachadas, repartem-se por dois andares – rés-do-chão e primeiro andar e seguem em comprimentocomo já foi referido. No entanto, a sua plantaalongada vai geralmente de encontro a uma capelaque se dispõe a um dos lados, sendo assim o tipo deplanta mais frequente o de “casa com capela nafachada”, como podemos observar, por exemplo,na Casa de Real.

Conhecido já o tipo de estrutura a nível de anda-res, urge referir o tipo de disposição e dinâmica dasaberturas e vãos que assim se repetem estando en-caixadas na fachada num esmagador alinhamento esequência de fenestração, observando-se assim múl-tiplas aberturas, geralmente janelas de guilhotina norés-do-chão e janelas de sacada no andar nobre, istopara enobrecer este mesmo andar, destacando-o. Otipo de molduras de janelas predominantes, são asde forma de arco abatido com cantos rectos, tendologo a seguir a solução de vergas rectas, e depois averga superior em forma de arco conopial ou contra-curvado, uma forma mais requintada e, por isso, dastrês, a mais rara. É ainda visível a utilização de pe-quenas janelas quadrilobadas essencialmente na fa-chada da capela adossada à casa.

É, desta forma, evidente que estas casas se iden-tificam claramente com as características do séculoXVIII de uma sequência rítmica das janelas que seimprimem mecanicamente em direcção ao centroda fachada. Este movimento é ainda aqui acentua-do em algumas casas por pilastras que ladeiam es-tas janelas e geralmente a porta principal que se ali-nha ao centro, dividindo a fachada e os seus vãosem secções que evidenciam e destacam a parte cen-tral. O rés-do-chão e primeiro andar são tambémdiferenciados por um friso. É possível ver esta ca-racterística na Casa de Ronfe, por exemplo. As es-cadarias apresentam-se por sua vez, em profundi-dade, sendo aqui dominante a forma de um só lan-ço, rareando a solução de dois lanços opostos combalaústres, visível apenas na Casa de Vila Verde.

Muitas destas escadarias apresentam as guardas,com um elemento decorativo em forma de voluta,como se pode ver, por exemplo, na casa da Ar-gonça.

No século XVIII há ainda um gosto pela mo-numentalidade e pelas formas pronunciadas. No en-tanto, as casas nobres rurais portuguesas são de pe-quenas dimensões, como esclarece mais uma vezCarlos Azevedo, atestando o presente estudo issomesmo, na região e no concelho em questão. Ob-servam-se mesmo alguns pequenos exemplos de rarabeleza, como é o caso da Casa do Campo, aindaque actualmente em ruínas.

Decoração exuberante não é nesta região muitofrequente, atestando, por isso, o carácter conserva-dor e simples da arquitectura solarenga do Norte,tendo apenas, quando existe, lugar na fachada ouno interior da capela.

Há ainda a registar que a pedra de armas ou bra-são é um elemento fundamental, nesta época (Aze-vedo, 1993:6), na casa nobre, oscilando na sua lo-calização de colocação entre o portão principal e ofrontão da fachada principal. Quando colocado numportão, confere ao mesmo o nome específico deportão armoriado, quando colocado na fachada, des-taca a parte central da mesma, onde geralmente sedispõe dentro de um frontão e para onde converge asequência das aberturas.

As pedras de armas motivam o aparecimento,por isso, de frontões de forma geralmente contracurvado que confere um movimento ondulante à fa-chada, solução muito explorada na época barroca.(Azevedo, 1993:10). O brasão assenta geralmentenuma cartela rocaille.

Quanto aos remates destes edifícios é frequen-te, superiormente, um frontão, ou um friso liso euma cornija estriada ou então os dois juntos, bifur-cando-se muitas vezes o frontão para formar o ditofriso e a dita cornija. Quanto aos remates lateraisverifica-se a solução de cunhais constituídos porpilastras com dado, plinto liso e escócia boleada e,na parte de cima da mesma, um colarinho fino, uméquino liso e um ábaco estriado.

Resta, por último, mencionar, os jardins, geral-mente labirínticos, repletos de estátuas e azulejos,como é possível ver na Casa de Ronfe e na Casa daBouça.

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