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As publicações do selo A Casa de Asterion podem serlivremente copiados digitalmente ou por fotocopiadoras.No entanto, não podem ser vendidos. Os autoresdisponibilizam estas publicações como esforço dedemocratização da informação e do conhecimento.

Discutindo asmudanças no capitalismo

Marcos Cordiolli

A Casa de Asterion

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Discutindo as mudanças nocapitalismo

Marcos Cordiolli

A Casa de Asterion

Curitiba - 2006

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© Marcos Cordiolli

Fotos: Marcos CordiolliDiagramação: Shelby Programação Visual

Contatos com o autor:email: [email protected]: +55 (41) 9962 5010home page: cordiolli.wordpress.comhome page: marcos.cordiolli.sites.uol.com.brtwitter: twitter.com/marcoscordiollimyspace: www.myspace.com/marcoscordiollifacebook: marcos cordiolli

Discutindo as mudanças no capitalismo /Marcos Cordiolli �Curitiba: A Casa de Astérion, 2006.

I. mudanças no capitalismo, II. neoliberalismo, III.reestruturação produtiva, fordismo, IV. modo deacumulação flexível e integrado. I. Marcos Cordiolli.

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

Um processo de transição no capitalismo............................9

Novo Paradigma de Mercado ............................................13

O regime de acumulação flexível e integrado ...................17

A Ideologia.........................................................................19

Uma breve conclusão.........................................................25

Referências Bibliográficas .................................................27

Notas ..................................................................................29

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Títulos do autor pelo selo ACasa de Asterion

Currículo, cultura escolar e gestão do trabalho pedagógico [2004];

A formação de valores e padrões de conduta na sala de aula (notaspara um debate conceitual sobre transversalidade) [2006];

Os projetos como forma de gestão do trabalho pedagógico emSala de Aula [2006];

A relação entre disciplinas emSala deAula (a interdisciplinaridade,a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade) [2002];

Saber e conhecimento: um contraste necessário (para formulaçãodas propostas curriculares e a gestão do trabalho pedagógico)[2006];

Ética, cidadania e formação de valores na sala de aula [2009];

A legislação Curricular Brasileira [2009].

Publicado como: CORDIOLLI, Marcos. Discutindoas mudanças no capitalismo. Revista Paranaense deGeografia, Curitiba, n.2, 1997. p. 74-82.

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Provavelmente nenhuma sabedoria convencionalconseguiu um predomínio tão abrangente desde o

início do século como o neoliberal hoje.

Perry Anderson, historiador Inglês.

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Sobre o Autor

Marcos Cordiolli é graduado em História (UFPr, 1988) e mestreem Educação: história e filosofia da educação (PUC-SP, 1997).

É professor universitário de graduação (desde 1994), deespecialização latu senso (emmais 20 IES); demestrado (em umaIES); atua na qualificação docente (desde 1994 e prestou serviçospara mais 50 redes públicas e dezenas de escolas particulares em18 estados);

É consultor em gestão do trabalho pedagógico e proposiçõescurriculares na Educação Básica (com serviços prestados paradezenas de instituições) e Superior (com trabalhos prestados paramais de 20 IES);

É palestrante e conferencista (atuou em mais 300 eventos);consultor técnico de publicações didáticas (prestou serviços paramais de uma dezena de editoras) e de sistemas de ensino (prestouserviços para a maioria dos grandes empresas do país);

É consultor pedagógicona área deEducaçãoCorporativa (prestouserviços para empresas na área de refinodepetróleo emontadorasautomotivas).

Publicou artigos, livros emateriais didáticos (na áreade informáticae história e geografia para Ensino Fundamental e médio).

É cineasta. Produtor Associado do filme O Sal da Terra (Brasil,2008) de Eloi Pires Ferreira. Diretor de Produção (com ElóiPires Ferreira) de Conexão Japão (Brasil, 2008) de Talício Sirino.ProdutorExecutivo deCuritibaZeroGrau (Tigre Filmes eLabo),Brichos: a floresta é nossa (Tecnokena) ainda em produção.

Contato com aAutor

email: [email protected]: +55 (41) 9962 5010home page: cordiolli.wordpress.comhome page: marcos.cordiolli.sites.uol.com.brtwitter: twitter.com/marcoscordiollimyspace: www.myspace.com/marcoscordiollifacebook: marcos cordiolli

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UUUUUMMMMM PROCESSOPROCESSOPROCESSOPROCESSOPROCESSO DEDEDEDEDE TRANSIÇÃOTRANSIÇÃOTRANSIÇÃOTRANSIÇÃOTRANSIÇÃO NONONONONO

CAPITCAPITCAPITCAPITCAPITALISMOALISMOALISMOALISMOALISMO

Este artigo é resultado de uma sistematização de leituras,apontando pontos do debate entre alguns autoresmarxistas que procuram entender os nexos do processode mudanças em curso no capitalismo. Procuramos,também, discutir uma categorização do processo emcurso, para então esboçar os elementos constitutivos dosnovos paradigmas do mercado mundial e, a partir daí,apresentar os fundamentos do modo de regulação queestá se esboçando.Porúltimo, procuramospromoverumadiscussão entre asmudançasna estrutura e superestrutura,visandoentenderopapeldasproposiçõesneoliberaisnesseprocesso.

Onosso tempoestá assistindoà consolidaçãodeumnovoperíodo na história do capitalismo, gestada nascontradições e na crise do regime de acumulação fordista/ taylorista e resultante de necessidades históricascolocadas ao sistema capitalista.

O capitalismo, enquanto sistema econômico, mantém oseu funcionamento a partir do equilíbrio entre osmecanismos anárquicos de fixação de preços pelosmercados e de controle sobre a força de trabalho comoformade aumentar a adição de valor e, por conseqüência,os lucros. Essa teoria de Marx ajuda a compreender adinâmica do capitalismo, que precisa construir novosarranjos em diferentes momentos de sua história, bemcomo em configurações regionais.

Esses �arranjos� do capitalismo podem ser analisados apartir daTeoria daRegulação, comopropõeHarvey [cf. 1994,p. 117], para o qual regime de acumulação é o que estabelece

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a correspondência entre as condição de produção e ascondiçõesde reproduçãodosassalariadosemodode regulaçãoé o conjunto dos hábitos, normas, leis, redes, etc., quenormatiza e regula a ação dos indivíduos (ou grupos deindivíduos) que conformam as classes capitalistas etrabalhadoras.

Vivemos um processo, ainda continuando com Harvey,emque omodo de regulação keynesiano / fordista está cedendoseu lugar para o regime acumulação flexível e integrado. Harveyconsidera que a acumulação flexível é uma transformaçãosólida, porém, aindanãoconcluída (portanto,numperíodode transição) [cf. p. 179]. Mas o geógrafo estadunidensetambém considera que a trajetória do desenvolvimentodo capitalismo �[...] não é previsível em nenhum sentido comumexatamente porque sempre se baseou na especulação� [p. 307], deforma que as condições ou atividades e imaginaçãohumanas podemcombinar num rol infinito de elementosgerados pela própria dinâmica da capitalismo. Nestaperspectiva, não há garantias de que as mudanças nocontrole do trabalho não sejam irreversíveis [cf. p. 179] etampouco, que o fordismo esteja condenado à extinção,pois o grau de fordismo e de flexibilidade varia em épocae lugares em função da capacidade de lucro que cadasistemapodegerar numaconfiguração específica [Harvey,1994, p. 308].

As dificuldades do fordismo / keynesianismo podem sercompreendidas �por uma palavra: rigidez� [cf. Harvey,1994, p. 135-136]:

� � Rigidez de investimentos: o capital fixo para produçãode massas requeria rigidez de planejamento ecrescimento relativamente estável do mercado deconsumo;

� � Rigidez na distribuição de mercados;� � Rigidez nos contratos de trabalho;� � Rigidez nos compromissos estatais com a seguridadesocial e serviços públicos.

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Esse processo gerou uma crise - a estagflação - cujosdesdobramentos apontampara a constituiçãodeumnovoregime de acumulação e de um novomodo de regulaçãodo capital. Os investimentos se flexibilizaram, levando àfinanceirização das empresas.Os executivos profissionaispassaram a ter que fazer dinheiro, sobre o qual deveriamprestar conta aos seus investidores.

Aprodução emmassa cedeu lugar à produção emescopo.As mercadorias são produzidas em diferentes lotes, comimportantes variações demodelos, visando atender a umasegmentação cada vez maior domercado e do consumo.

Oscontratosde trabalho, que almejavamoplenoempregoe a permanência cada vez maior do empregado naempresa, estão sendo substituídos por uma teia muitodistinta de vínculos trabalhistas, incluindo as dostrabalhadores fixos, dos temporários, dos prestadores deserviço e dos terceirizados.Damesma forma, compôs-seuma rede de empresas, entre terceirizadas e fornecedoras,formando distritos industriais.

Por último, o Estado passou a abandonar oscompromissos com a seguridade social e os serviçospúblicos, adotandoumanovapostura, segundoFernandes[cf. 1995, p. 55-56] de desuniversalização, desestatizaçãoe desregulamentação:

� Desestatização: privatização dos setores estatizados nopós-guerra: marca uma ruptura com uma políticaindustrial anterior, baseada nas empresas estatais comoinstrumentos de desenvolvimento econômico;� Desregulamentação: crescente tendência àdesregulamentação das atividades econômicas esociais e à intervenção estatal, justificadas na suposta�superioridade do mercado� em relação ao�burocratismo do Estado�;

� �Desuniversalização: reversão dos padrões universaisdos sistemas de proteção social. Estes são reduzidosem função da pressão da crise fiscal dos Estados.

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Isto está promovendo uma remercantilização dos benssociais (particularmente a saúde, a educação e a seguridadesocial). Também está reprivatizando as relações sociais,transferindodoâmbitopúblicopara oprivado a regulaçãodo trabalho, do consumo e dos investimentos.

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NNNNNOOOOOVVVVVOOOOO PPPPPARADIGMAARADIGMAARADIGMAARADIGMAARADIGMA DEDEDEDEDE MMMMMERCADOERCADOERCADOERCADOERCADO

Ocapitalismo sempre adotou uma dinâmica demercadoglobal, mas até meados da década de 1970, prevaleceuum forte grau de mediação dos Estados e dos mercadosnacionais. As novas relações que se esboçaram passaramaconstituir umanovadinâmica, tantodaproduçãoquantodo consumo, com forte grau de autonomia frente aosmercados ou Estados nacionais.

As mudanças na dinâmica do mercado fizeram com queas empresas estabelecessem uma nova divisãointernacional do trabalho e da produção, agindo numadinâmica realmentemundial.As empresasmultinacionaisse transformaram em empresas mundiais, ou seja,deixaram de ser apenas multinacionais com atuação emdiferentes países1 . As empresas, agora, traçam as suasestratégias de mercados acima das reservas de mercadonacionais, instalando uma rede produtiva em diversospaíses2 , dispondo de quase todo omercadomundial. Istopromoveu grandes deslocamentos dos setores deprodução, inclusive de países capitalistas centrais rumo aoutras regiõesdomundocomcustosdeproduçãomenor3 .

As empresas, com a perspectiva mundial começaram aimplementar políticas de ampliação de seus potenciaisatravésde fusões, fazendocomqueosgruposeconômicosefetivamente se tornassem transnacionais. Esse processose expressou numa ligopolização intensa, com grandeconsumode tecnologia e intensomovimentode comérciointra-empresa4 . Essas empresas efetuam grande consumode tecnologia e implementamnovos paradigmas técnico-econômico de biotecnia, micro-eletrônica,telecomunicações, automação e informação.

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O crescimento vertiginoso do mercado tensionoufortemente as barreiras alfandegárias, requerendo a livrecirculação de mercadorias e capital. Esse processoestimulou formação de estrutura de poder transnacional,que começou a integrar as Organizações Internacionais(OI)5 e as grandes corporações econômicas (agoratransnacionais). Estes novos organismos de poderpassaram a minar o poder dos Estados Nacionais e,apoiados na propaganda da globalização e dadesregulamentação de mercado, impulsionaram grandesmudanças nas relações internacionais.

Os instrumentos constitutivos dos mercados nacionaiscederam lugar aos blocos de países, visando garantir umamelhor situaçãonosprocessosdediscussãocomosgruposeconômicosea formulaçãode regrasdemercadonoplanointernacional. Logo surgiram zonas de livre comérciocomo o Nafta e o Mercosul, numa velocidadeimpressionante, quando comparada aos seuspredecessores como o Benelux e União Européia6 .

Os Estados Nacionais mergulharam numa forte crise,devido aos seus modelos rígidos de funcionamento e àsdificuldades de financiamento. Nesta situação, ficaramfragilizados diante das proposições liberais e, em muitoscasos, adotarammodelos de reestruturação centrados naprivatização de empresas estatais, na liberação deconcessões privadas de serviços públicos e na supressãode mecanismo de controle do mercado.

A grande parte da acumulação de capital passou a ocorreratravés do sistema financeiro, que graças à flexibilidadede seu mercado, pode entrar e sair de qualquer região doplaneta conforme a conveniência (processo auxiliadograças aos grandes avanços da informática e dastelecomunicações). A integração global dosmercados decâmbio e de títulos financeiros somada àinternacionalização do circuito financeiro, permitiu que aacumulação e a reproduçãode capital se desseplenamenteno plano internacional.

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Esse novo modelo de regulação integra diferentesprocessos produtivos, com um grau de flexibilidade nasrelações jamais visto.

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OOOOO REGIMEREGIMEREGIMEREGIMEREGIME DEDEDEDEDE AAAAACUMULAÇÃOCUMULAÇÃOCUMULAÇÃOCUMULAÇÃOCUMULAÇÃO

FLEXÍVELFLEXÍVELFLEXÍVELFLEXÍVELFLEXÍVEL EEEEE INTEGRADOINTEGRADOINTEGRADOINTEGRADOINTEGRADO

O novo modelo de acumulação é composto a partir deum núcleo dinâmico, constituído pela empresa flexível eintegrada. Esta é caracterizada por um setor produtivo(serviços emanufaturas) e umsetor financeiro.Hoje,maisdoquegarantir a suaproduçãoeo seumercado, a empresaprecisa apresentar lucratividade, pois é dirigida porexecutivos profissionais, cujo emprego e remuneraçãodependem diretamente dos resultados apresentados aoquadrode acionistas. Poroutro lado, as açõesdemercadostornam-se mais complexas, pois devem ser pensadas naperspectivas do mercado mundial.

Na esfera produtiva, as empresas adotam umenxugamento das atividades produtivas integrando-as,através da articulação de um conjunto deempresas-parceiras - terceirizadas ou fornecedoras. Essasempresas podem ser tanto grandes grupos econômicoscomo pequenas empresas familiares, que passaram aformar sistemas de trabalhodoméstico, artesanal, familiare paternalista [cf. Harvey, 1994, p. 145]. Também, seconstata a formação de um �fordismo periférico eintegrado�, pois esta reestruturação não se constitui numprocesso simultâneo e homogêneo no mundo todo [cf.Hirata, 1994: 130]. A dinâmica da empresa integrada eflexível interdepende tanto da propriedade familiar comode grandes sistemas de produção baseadas no fordismo.

Tradicionalmente, têm sido apresentadas duasmudanças:inovações organizacionais e tecnológicas, as quaispodemos acrescentar mais uma: a gerencial. Nestaperspectiva, apontamos para a introdução de novastecnologias, somadas aos novos paradigmas de gestão e

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contratação de mão-de-obra. Mas são perceptíveis asmudanças gerencias frente à financeirizaçãodas empresase das suas relações com o mercado.

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A IA IA IA IA IDEOLDEOLDEOLDEOLDEOLOGIAOGIAOGIAOGIAOGIA

Esse processo viu ganhar peso uma nova ideologia - onovo liberalismo -, que constitui a suahegemonianoplanomundial. O liberalismo enquanto formulação política-ideológica, já existia antes das grandes transformaçõesem curso, particularmente no que diz respeito àglobalização da economia e à reestruturação produtiva.Mas é no contexto dessas transformações que oliberalismo reconquistou espaço e retomou a ofensivapolítica. No debate acadêmico, há um consenso de que éo liberalismo quem informa as principais políticaseconômicas em curso, e que o modelo keynesiano decapitalismo reformado e osmodelos socialistas e sociais-democratas clássicos estão em crise. Para Therborn, �(...)o neoliberalismo é uma superestrutura ideológica e política queacompanha uma transformação histórica do capitalismo moderno�[1995, p. 39]. Neste sentido, se constituindo num

[�] projeto sério e racional, [n]uma doutrinacoerente e [n]uma teoria vinculada e reforçada porcertos processos históricos de transformação docapitalismo. É uma doutrina, pelo menos de fato,conectada com uma nova dinâmica tanto tecnológicae gerêncial quanto financeira dos mercados e dacompetição [Therborn, 1995, p. 182].

Anderson [1995], aponta tambémnomesmosentido, umavez que o considera como

[�] um movimento ideológico, em escalaverdadeiramentemundial, como o capitalismo jamaishavia produzido no passado. Trata-se de um corpode doutrina coerente, autoconsciente, militante,lucidamente decidido a transformar todo o mundo àsua imagem, em sua ambição estrutural e sua

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extensão internacional. Eis aí algo mais parecido aomovimento comunista de ontem do que aoliberalismo eclético e distendido do século passado[Anderson, 1995, p. 22].

Therborn aponta que amudança em curso �[�] tem dadoalento à força ideológica dos partidos e dos intelectuais neoliberais,mas não é um efeito produzido por estes� [Therborn, 1995b,p. 140]. Para o mesmo autor, o neoliberalismo está seesgotando enquanto projeto ideológico e político, aexpectativa de sua continuidade se assegura apenas noslaços que articula comogigantescoprocesso demudançaem curso [Therborn, 1995b, p. 141].

Anderson, no entanto, contesta essa posição; para ele, sóé possível falar de uma hegemonia neoliberal porque aspolíticas econômicas são definidas por esta doutrina.Apenas o neoliberalismo se apresenta como �proposiçãointelectual efetiva para o ordenamento das economias capitalistasmodernas� [1995b, p. 149]. Para afirmar que oneoliberalismo está superado, seria preciso que houvesseumaoutra doutrina substituindo-o, oquenãoocorre; pelocontrário, �o neoliberalismo foi e é uma doutrina completa ecoerente� [1995c, p. 148], possuindo uma força formidáveldo ponto de vista intelectual. A formulação doneoliberalismo tem em Hayek o responsável pelodesenvolvimento de sua epistemologia completa ecoerente, enquanto em Friedman, seu �técnico epropagandista.

Ocontextodeconcorrência internacional - quepromoveuo �surgimento, pela primeira vez, de um mercado genuinamentemundial� em que as empresas estão perdendo o poderdosmercados individuais, e osEstados, opoder reguladorsobre as economias nacionais -, vai emdireção à doutrinateórica do neoliberalismo, que �valoriza sistematicamente opapel do mercado às custas do Estado e também das grandesempresas� [cf. Anderson, 1995c, p. 147]. E portanto, este�processo subjacente de mudança estrutural-histórica na própria

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natureza do capitalismo, (...) tem escorado a possibilitado o sucessoideológico do neoliberalismo� [Anderson, 1995c, p. 147].

Borón - que prefere conceituar estemomento comooda�emergência de uma nova etapa de capitalismo competitivo, com umnovo papel e umanova dinâmica para osmercados� [1995b, p. 160]-, tambémconsidera que este processo não é fruto de umprojeto ideológico e político determinado, mas foi nestecontexto, que o neoliberalismo emerge como umacorrente particular.

Nesse movimento ideológico, é possível distinguir duasvertentes: uma dura e outra branda [Fernandes, p. 54-6]. Aversão dura e original do neoliberalismo é que define omercado com regulador eficaz da economia e soluçãopara os problemas fundamentais da modernidade,classificando toda intervenção estatal como danosa. Esteprojeto no original, não é aplicado em nenhum país domundo [Fernandes, 1995, p. 54]; o que se tem são versõesbrandas constituídas em cada situação particular,considerando os componentes sociais, econômicos epolíticos no contexto de sua implementação7 .

Há de se promover a diferenciação entre a doutrinaneoliberal mais elaborada e as políticas econômicas emexecução, sendo importante assinalar a forte conexãoentreambas. �Há (. . . ) uma relação funcional entre o espaço teóricomais amplo e o espaço domesticado, datado, onde as idéias se traduzemem medidas práticas� [Anderson, 1995b, p. 165]. Ohistoriador inglês alerta que a maioria dos dirigentespolíticos e governamentais, que implementam essasproposições, possuem uma forte formação teórica, poisleram e consideram as obras de Hayek e Friedman8 .

Enquanto projeto político, a nova onda liberal concebeno máximo uma rede de proteção social para os maispobres dos pobres - a sagetynet [cf. Borón, 1995b, p. 161].As correntes neoliberais têm tentado tornar os direitossociais mais seletivos e particularizados, pois, segundo ospostulados liberais �as pessoas que recebem proteção

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social tendemapermanecer nessa situação doque buscarum emprego mal remunerado�. Isto é denominado de�armadilha da pobreza� ou poverty traps [cf. Borón, 1995b,p. 161-2].

Nesta perspectiva, Laurell [1995] elabora um modeloexplicativo das novas políticas liberais, no qualfundamentalmente, sepretendeconstruir umnovopadrãode acumulaçãodo capital, quenecessariamente passa pelodesmonte das instituições do Estado de bem-estar.

A primeira vertente deste processo é a supressão dedireitos sociais e conseqüentemente, a obrigação doEstado em garantir o acesso de todos os cidadãos a eles[cf. p. 169]. Isso implica em remercantilizar os benspúblicos, através da privatização do financiamento e dosserviços [cf. p. 163]. Para os liberais, esse processopermitiria uma expansão das ações da iniciativa privada,combinada à concepção de que o Estado deve provercom seus benefícios, apenas os que se encontram nacondição de indigentes; para os demais, todo tipo debenefício deve corresponder a uma contrapartida comoo pagamento ou o desempenho de um trabalho.

A segunda vertente é redução do gasto social público [cf.p. 169], priorizandoa canalizaçãodos recursos sociais paraos grupos mais carentes [p. 163] e a descentralização dosserviços, que

�[�] não tem por objetivo democratizar a açãopública, mas, principalmente, permitir a introduçãode mecanismos gerenciais e incentivar os processosde privatização, deixando em nível local a decisão arespeito de como financiar, administrar e produzirserviços� [Laurell, 1995, p. 174].

Oelemento articulador da estratégia é a privatização, poisesta

�[�] atende ao objetivo econômico de abrir todasas atividades econômicas rentáveis aos investimentos

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privados, com o intuito de ampliar os âmbitos daacumulação, ao objetivo político-ideológico deremercantilizar o bem-estar social [Laurell, 1995, p.167].

É importante lembrar, no que diversos autoresconcordam, que o neoliberalismo foi legitimado pela viademocrática9 . Mas Netto [1995] assinala que há um limitepara a legitimaçãodemocrática doneoliberalismo: o limiteobjetivo da �capacidade de tolerância� [cf. p. 31-2]. Poisos êxitos sociais do neoliberalismo, que promove asdesigualdades sociais, faz emergir traços ideológico-culturais, que servem de esteio para a xenofobia, oparticularismoe ashostilidades étnicas.A�ofensiva neoliberaltem sido, no plano social, simétrica à barbarização da vida societária�.Há no entanto, valores culturais incorporados por largasparcelas da população que podem conter esse avanço doneoliberalismo [Netto, 1995, p. 32].

Na América Latina a hiperinflação (apontado porAnderson), se soma à desesperança (apontada porOliveira), como caldo de cultura favorecedor da ofensivaneoliberal. Esta constatação é importante, pois comolembra Netto [1995], a redemocratização não ofereceu àpopulação nada além da liberdade política [cf. p. 32].

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As teorias liberais, contrárias à regulaçãodomercadopeloEstado, voltaram a ter visibilidade social. Iniciou-se umlongo processo em que as idéias e as mudanças naestrutura interagiram na transição para umnovomodelo.A crise permitia a ação das idéias; as idéias apontavampara novas práticas que incidiam sobre a estrutura, queem mudança, pareciam justificar as idéias.

Estava aberto um período de transição, com diversaspossibilidadesemdisputa.ADireçãoCultural da sociedadeestava em crise e as classes sociais, assim como osdiferentes grupos sociais, passaram a semovimentar paradisputar a direção desse processo.

Nessa disputa, a estrutura e a superestrutura se combiname interagem. Enquanto as mudanças na estruturapermitem o florescimento de idéias que as impulsioname as legitimam, a estrutura - ao implementar açõespropostas pelas idéias - as legitima e permite que estas serenovem, apontando novos caminhos ou novos ajustes.

Para alguns, parece que a idéias conduziram a estrutura.Para outros, foi a estrutura que permitiu as idéias. Noentanto, esse período parece nos confirmar que idéias eestruturas não são independentes.Elas se lançam numainterdependência que nos fica difícil perceber ondetermina a influência de uma e começa a da outra, se é queisso é possível�

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RRRRREFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIAS BBBBBIBLIOGRÁFICASIBLIOGRÁFICASIBLIOGRÁFICASIBLIOGRÁFICASIBLIOGRÁFICAS

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FERNANDES, Luis. Neoliberalismo e reestruturação produtiva.In: SADER, Emir & GENTILE, Pablo (org). Pósneoliberalismo: as políticas sociais e o Estadodemocrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 54-61.

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1 Um empresa automobilística, por exemplo, possuía umaestratégia mundial baseada na ação em diferentes países:instalava fábricas em alguns países que exportavammercadorias para outros. Isto fazia com que mercadosnacionais fossem privilégio de algumas ou fechada (as vezescompletamente) para outras. Omercado automobilístico doBrasil era de domínio de empresas estadunidenses, suecase alemãs, estando excluídas, por exemplo, as japonesas efrancesas, também com grande participação no mercadomundial.

2 Alguns produtos eletrônicos e automóveis possuemcomponente originários demais de uma dezena de diferentespaíses.

3 Hoje, por exemplo, nenhuma marca importante de tênisdos Estados Unidos possui linha de produção nesse país.

4 Algumas estatísticas apontam que o comércio intra-empresas já representa cerca de 70% do comércio mundial.

5 Órgãos como a ONU, OMC, FMI e BIRD.

6 O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula queatualmente há 34 acordos de integração econômica em vigore mais 19 em estruturação [Kunzler eMaciel, 1994, p. 94].

7Apresentamos uma breve sistematização da implementaçãodestas políticas na América Latina, América do Norte,EuropaOcidental e Leste daÁsia emCORDIOLLI,Marcos.O Estado de bem-estar e os neoliberais. São Paulo: PUC/

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SP, 1996.

8 Cita como exemplo: Miguel Bouer e Carlos Solchaga(estrategistas econômicos do PSOE, no Estado Espanhol);Feldt (Social-democrata, ministros das finanças da Suécia);VlackKlaus (daRepublicaTcheca, que vive citandoHayek);Roberto Campos (que já possuiu grande poder decisóriono Brasil, certamente leu Hayek); Fernando HenriqueCardoso, (certamente leu Hayek e Friedman); e MarioVargas Llosa (do Peru, que confessou-se admirador deHayek e Friedman, ao próprioAnderson) [Anderson, 1995b,p. 166].

9 Apenas dois governos aplicaram os modelos neoliberaisferindo os preceitos democrático: o de Pinochet no Chile eo de Fujimori no Peru. No entanto, no Chile, as políticasneoliberais continuam sendo aplicados pelos sucessores dePinochet eleitos democraticamente. Enquanto no Peru,quando as eleições diretas foram convocadas, todos ospartidos que se apunham aomodelo neoliberal não atingiramjuntos 10% dos votos.

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Nota do autor

O autor agradece:1. a comunicação de erros.2. opiniões sobre o texto, inclusive sobre passagens comredação inadequada.3. o envio de textos dos leitores no qual o autor foi citado.

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