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1 A BUSCA PELA UNIDADE ENTRE O CONHECIMENTO SISTEMATIZADO E A PRÁTICA SOCIAL 1 Maria Joana Almeida Kramer Sens E-mail: [email protected] 2 Solange Aparecida de Oliveira Collares E-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta a sistematização das experiências vivenciadas na implementação do projeto de intervenção pedagógica no Curso Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Colégio Estadual Prof. Mário E. Morski. Buscou-se identificar as ações que permeiam a prática pedagógica no cotidiano escolar, no que se refere à disciplina Estágio Supervisionado. Na realização do presente artigo buscou-se embasamento teórico em PIMENTA(2000) e PICONEZ (2001). Encontramos, assim, subsídios para reafirmar que o Estágio Supervisionado, como eixo-articulador entre a teoria e a prática, necessita de uma reflexão na busca dessa unidade. Realizou-se uma pesquisa entre os professores do Curso, chegando à seguinte problemática: o curso carece de teoria e, mais ainda, de prática. Devido a inúmeros fatores, observa-se uma realidade em que há uma prática sem reflexão e uma reflexão que não retorna à prática ou, na palavra dos docentes, “a teoria é uma coisa, a realidade é outra”, frustrando a busca por uma práxis, fator essencial para uma formação crítica e transformadora. Objetiva-se contribuir com um fazer pedagógico mais efetivo, rompendo com a dicotomia entre a teoria e a prática e instrumentalizar o professor que atua na prática de formação, por meio de material pedagógico adequado à disciplina. PALAVRAS-CHAVE: Estágio Supervisionado. Práxis pedagógica. Colégio Estadual Prof. Mário E. Morski ___________________________________ 1 Pedagoga, com Especialização na Área de Educação pela Universidade do Centro- Oeste (UNICENTRO/GUARAPUAVA – PARANÁ). Professora do Curso de Formação de Docentes de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, no Município de Pinhão. 2 Professora Mestre pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professora do Departamento de pedagogia da Universidade Estadual do Centro Oeste.

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1 A BUSCA PELA UNIDADE ENTRE O CONHECIMENTO SISTEMATIZADO

E A PRÁTICA SOCIAL

1 Maria Joana Almeida Kramer Sens E-mail: [email protected]

2 Solange Aparecida de Oliveira Collares

E-mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho apresenta a sistematização das experiências vivenciadas na implementação do projeto de intervenção pedagógica no Curso Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Colégio Estadual Prof. Mário E. Morski. Buscou-se identificar as ações que permeiam a prática pedagógica no cotidiano escolar, no que se refere à disciplina Estágio Supervisionado. Na realização do presente artigo buscou-se embasamento teórico em PIMENTA(2000) e PICONEZ (2001). Encontramos, assim, subsídios para reafirmar que o Estágio Supervisionado, como eixo-articulador entre a teoria e a prática, necessita de uma reflexão na busca dessa unidade. Realizou-se uma pesquisa entre os professores do Curso, chegando à seguinte problemática: o curso carece de teoria e, mais ainda, de prática. Devido a inúmeros fatores, observa-se uma realidade em que há uma prática sem reflexão e uma reflexão que não retorna à prática ou, na palavra dos docentes, “a teoria é uma coisa, a realidade é outra”, frustrando a busca por uma práxis, fator essencial para uma formação crítica e transformadora. Objetiva-se contribuir com um fazer pedagógico mais efetivo, rompendo com a dicotomia entre a teoria e a prática e instrumentalizar o professor que atua na prática de formação, por meio de material pedagógico adequado à disciplina.

PALAVRAS-CHAVE: Estágio Supervisionado. Práxis pedagógica. Colégio Estadual

Prof. Mário E. Morski

___________________________________ 1 Pedagoga, com Especialização na Área de Educação pela Universidade do Centro-

Oeste (UNICENTRO/GUARAPUAVA – PARANÁ). Professora do Curso de Formação de Docentes de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, no Município de Pinhão.

2 Professora Mestre pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professora do Departamento de pedagogia da Universidade Estadual do Centro Oeste.

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INTRODUÇÃO

O Projeto de Intervenção Pedagógica no Curso Formação de Docentes

no Colégio Morski, tem como parâmetro, a Proposta Pedagógica Curricular do

Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do

Ensino Fundamental, em nível Médio, na modalidade Normal. Esta Proposta

tem como referência os princípios que devem perpassar a formação inicial dos

professores, entre eles o Trabalho como Princípio Educativo.

Entende-se o trabalho como centro da formação humana em todo o

ensino médio. Compreendê-lo numa perspectiva emancipadora e

transformadora, significa que, por meio dele, o ser humano não só modifica o

meio que o rodeia, mas também modifica o próprio trabalho e a si mesmo.

Saviani (2003, p.7)) atesta que “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta

e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida

histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”.

Vive-se numa sociedade em que o trabalho é pensado a serviço do

capital e da acumulação de bens. Torna-se um trabalho alienado por parte do

trabalhador, no sentido de que aquele que produz não tem acesso àquilo que

produziu. Pensar o trabalho como princípio educativo é pensá-lo num outro

contexto social, em que o produto do trabalho seja igualmente redistribuído,

de forma que o trabalhador produza não apenas para uma determinada classe

social, mas que ele também tenha acesso ao que ajudou a construir.

Ao pensar a escola como instituição onde se produz conhecimento,

torna-se necessário refletir se esse conhecimento é destinado a todos que dela

participam ou se somente para os poucos bem sucedidos dentro do ambiente

escolar. É necessário pensar, nesse contexto educacional, sobre qual é o

conhecimento produzido na escola. Dessa forma, torna-se imprescindível

pensar a educação na concepção histórico-crítica, sobre a qual Saviani

comenta:

3 Em outros termos, o que eu quero traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica é o empenho em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento histórico objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão de pedagogia histórico-crítica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana (SAVIANI,2003, p.88).

Pensar a educação numa concepção histórico-crítica, é entender a

escola como local onde o saber é democratizado. Não se trata somente do

saber improvisado, espontâneo, concreto; mas da democratização do saber

produzido e acumulado historicamente pela humanidade, o saber científico, o

saber clássico. Ao trazer esta reflexão sobre trabalho como princípio educativo

e sobre a concepção da Pedagogia Histórico-Crítica, faz-se uma ponte de

ligação na busca da unidade entre a teoria e prática, na disciplina de Estágio

Supervisionado.

Diante desse contexto, é desenvolvido o Projeto de Intervenção

Pedagógica com a turma de primeira série, nível médio, na modalidade Normal,

no Colégio Morski. Constata-se que o referido Colégio tem encontrado

dificuldades em manter estável o número de alunos na turma, ocorrendo vários

casos de interrupções no curso por parte dos alunos, em turmas anteriores,

principalmente nas primeiras séries. Partindo dessa realidade observada, dá-se

início a uma reflexão sobre o que motivou os alunos a optarem pelo referido

Curso. São realizadas algumas atividades com os alunos, por meio de textos e

com a pergunta sobre o que despertou neles o desejo de fazerem aquele

curso. Os motivos foram: os pais queriam, o sonho de ser professor, gostar de

ensinar e querer ser um bom professor, arrumar um emprego. Este último, foi o

motivo que mais se destacou. Observa-se, nessa turma de primeira série do

Curso Integrado, uma certa alienação do processo educativo que envolve a

docência. Constata-se o desconhecimento por parte dos alunos do real

significado da profissão para a qual estão se

preparando. Iniciam, inspirados naquele ideal “romântico” sobre o curso, o qual

acreditam, lhes dará uma segurança profissional futura, sem ter a ideia ou

mesmo o interesse em entender o que seja a práxis que envolve o processo

ensino-aprendizagem. São alunos com a característica de quem recém saiu do

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Ensino Fundamental. Ocorre daí um problema, constatado a seguir: muitos

desistem de continuar ou mudam para a educação geral, à medida que vão

entendendo o compromisso a ser assumido, especialmente em relação a

Estágio Supervisionado. É um desafio a ser enfrentado pela escola e uma

situação em que ela se vê impossibilitada de desenvolver uma ação a tempo,

pois sem a presença do aluno que já se foi, não há como reverter uma situação

já definida. Ao tratar das primeiras séries do Curso com Aproveitamento de

Estudos, constata-se que tornam-se as melhores turmas a concluírem a

formação. Obviamente são alunos mais amadurecidos, os quais já concluíram

a Educação Básica; além do fato de o currículo estar voltado exclusivamente

para as ciências da educação, colabora para melhoria dos resultados nessas

turmas. Constata-se que alguns alunos são trabalhadores, sejam como

aprendizes ou em setores do comércio, ou como babás, ou “oficce-boys” entre

outros. Esses alunos encontram dificuldades quando são impedidos de

ausentarem-se do trabalho para a realização dos estágios. Nesses casos a

escola faz o intermédio entre o patrão e o aluno, mas nem sempre consegue

convencer o empregador na liberação do aluno, levando-o (a) a optar pela

interrupção do curso. Outras situações se fazem presentes, entre elas há casos

de alunos matricularem-se visando conseguir trabalho como estagiários,

através dos agentes de integração entre a Prefeitura e a escola. No entanto

nem sempre torna-se possível conseguir o estágio remunerado, levando-o a

interromper o curso. A escola busca, nesse caso, uma solução preventiva,

proporcionando várias etapas para a matrícula no curso, com entrevistas,

palestras com os futuros alunos e com os pais ou responsáveis, e só efetiva a

matrícula após uma longa e criteriosa seleção, diminuindo consideravelmente

ou quase se extinguindo as desistências no Curso.

No desenvolvimento do Projeto de Intervenção, posteriormente, é

desenvolvida outra atividade com a turma, chamada de “memória educativa”,

baseada no texto de Kenski (1994), em que através de relatos orais e escritos

a respeito da vivência escolar dos estagiários, busca-se a concepção que eles

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têm de professor. Optou-se por esta atividade, porque as práticas pedagógicas

nas primeiras séries têm como ponto de partida “os sentidos e significados do

trabalho do professor/educador”, possibilitando a observação do trabalho

docente pelos alunos. Kenski (1994), ao desenvolver seu projeto, relata que (...) tentamos iniciar o projeto, dentro de sua história de vida, das lembranças que tinham de diferentes situações ligadas à época em que foram alfabetizados. Em um trabalho conjunto com os alunos procuramos investigar questões relativas ao primeiro contato que tiveram com a escola, à maneira como foram alfabetizados, lembrança que tinham de seus professores, das atividades formais e informais desenvolvidas, da disciplina e da forma de avaliação efetuadas (KENSKI,1994, p.44).

Por meio da história de vida escolar de cada um, desde a alfabetização

ou até antes dessa fase, os alunos são levados a refletir até onde sofrem a

influência de seus primeiros professores ao formar sua própria concepção.

Transparece, nas histórias relatadas, algumas marcas pessoais, positivas e

negativas, como o relato da aluna que na primeira série , não teve dificuldade

na alfabetização, mas marcou o fato de, num dia de muito frio, a professora

não permitir que ela fosse ao banheiro. A aluna, muito tímida na época, não

insistiu e, sem querer, fez “xixi” na carteira onde estava, passando por um

vexame que lhe marcou a vida escolar.

Outro relato foi da aluna cuja letra era considerada “horrível” pelos

professores pelos quais passava; parecia um caso perdido de caligrafia. Ocorre

que, na terceira série, passa a ter, como professora , uma jovem muito

simpática, que conquista a aluna pela forma gentil, paciente e carinhosa com

que tratava seus alunos. Justamente nessa série, a letra da aluna se

transforma, passa a ter forma redondinha e delicada, não mais aqueles

“garranchos”, motivo de chacota dos colegas e de familiares. A aluna acredita

que não foi coincidência, e que a mudança na letra, foi devido influência

positiva da professora, a qual lhe passava segurança e afeto. Ela, a aluna,

continua seu relato de que, ao chegar na quarta série, teve uma professora

totalmente oposta à professora anterior. Era muito rígida, tinha fama de

“terrível” e causava medo nos alunos. Ao olhar o seu caderno, esta professora

fez a pergunta, em voz alta: “o que será que “fulana” fez pra você mudar tua

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letra?” referindo-se à professora anterior. A aluna que já tinha adquirido uma

boa dose de segurança graças à professora da terceira série, não se abalou, e

ficou em silêncio. Já adulta, a aluna analisa que poderia ter respondido à

pergunta da professora, dizendo o que a professora anterior tinha feito para

que sua letra melhorasse: tratou-a com respeito, tolerância, estímulos e amor.

Após a realização das atividades aplicadas com as alunas do Colégio,

constatou-se a importância de fazer esta “viagem no tempo”, resgatando as

lembranças que marcaram a vida escolar de cada um. Pôde-se constatar

como é forte a influência dos professores que passaram por nossas vidas ao

formar a nossa concepção de educador. Reflete-se, com os alunos, sobre uma

forma de selecionar, por meio da memória educativa, as imagens positivas e

negativas dos seus vínculos construídos no ambiente escolar. De forma que

não venha a se repetir em sua futura prática profissional as imagens, as quais,

muitas vezes aceitas como posturas a serem seguidas, na verdade,

necessitam serem mudadas. Kenski (1994) salienta: O que quero dizer é que o professor fica de certa forma atrelado a modelos retirados de exemplos de prática docente de professores que marcaram sua vivência escolar (nem sempre positiva), e passa a considerá-los “sua identidade”, tornando-se personagem que interpreta um papel de professor. Dessa forma ele não consegue dar o “salto”, estabelecer seu espaço crítico, e criar, através de identificações e separações, a sua própria identidade de mestre (KENSKI, 1994. p.42).

Em relação aos professores de Estágio Supervisionado do Colégio

Morski, realizaram-se encontros para leituras, reflexões e trocas de

experiências. Foi solicitado que relatassem suas impressões a respeito da

disciplina. Os professores constatam que o currículo atual do Curso Formação

de Docentes mostra avanços no sentido de que teoria e prática não estão

dissociadas, fazendo parte desde o início da formação, sem interrupção,

percorrendo o curso até o final. Supera-se, dessa forma, aquela concepção de

divisão, onde se realizam os estudos teóricos no início do curso e a parte

prática nas últimas séries.

Segundo Piconez,

7 O contexto relacional entre prática-teoria-prática apresenta importante significado na formação do professor, pois orienta a transformação do sentido da formação do conceito de unidade, ou seja, da teoria e prática relacionadas e não apenas justapostas ou dissociadas (PICONEZ, 1994, p.16).

Contudo, não tem sido fácil para professores e alunos a busca pela

prática unitária. Embora ela nunca tenha deixado de existir no cotidiano

escolar, aprendeu-se a vê-la de forma dissociada da teoria.

A dificuldade se manifesta na elaboração da sistematização reflexiva da

prática observada para, posteriormente, voltar a esta prática de forma

inovadora e embasada em fundamentação teórica específica.

Especialmente no desenvolvimento dos relatórios de estágios, persiste a

concepção tradicional , na qual o fazer um relatório significa produzir um texto

formalizado, sem reflexão, onde há mais preocupação com as formas estéticas

do que o conteúdo em si. Assim, observa-se na realidade escolar, que o

caminho percorrido carece de aperfeiçoamentos, de ambas as partes: do

professor e dos alunos. Relatar um contexto observado e vivido de forma

reflexiva e crítica significa teorizar a prática; busca-se transformá-la de forma

reflexiva e chegar à práxis pedagógica e curricular.

Torna-se necessário refletir sobre qual significado é atribuído ao Estágio

Supervisionado, pois se constata que a discussão é feita, mas nem sempre

com a prática da reflexão.

Os professores de estágio foram unânimes em manifestar preocupação

com as dificuldades encontradas referentes ao desenvolvimento da teoria clara

e de prática objetiva. A frase mais comum foi: “a teoria na prática é outra”, ou “a

teoria é uma coisa, a realidade da escola é outra”. Ou seja, que se estuda uma

teoria em sala de aula, leva-se os alunos às escolas para os estágios de

observação, de participação ou de regência, e coloca-os em confronto com

uma prática pedagógica, que nada tem a ver com a teoria estudada.

Conclui-se que nem poderia ser diferente. Refletir a prática pedagógica,

significa promover o diálogo entre os campos opostos, e a busca pela

compreensão unitária dessas oposições.

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Segundo Pimenta, no cerne da afirmação popular “na prática a teoria é

outra” (PIMENTA, 2001, p.52) significa que a concepção de estágio requer uma

dimensão do conhecimento, nos momentos em que se trabalha a reflexão

sobre a atividade profissional e vice-versa. Dimensão esta, até então ausente

nos cursos de formação, sendo carente tanto de teoria quanto de prática.

Propõe-se entre os professores de estágio, que se dê continuidade com

esse encontros no próximo ano letivo para, de forma coletiva, organizar-se uma

metodologia de ação para a disciplina de Estágio abordando, inclusive a

sistematização dos relatórios. É por meio deles que se faz teorização da prática

observada para que, posteriormente, haja o retorno teórico a essa mesma

prática, de forma a transformá-la na produção de um novo saber.

Está posto o desafio para o Curso Formação de Docentes: superar o

tradicionalismo, e assumir a prática reflexiva da sistematização crítica, caminho

que começa a ser percorrido, em busca de unidade entre o conhecimento

teórico e a prática, seja escolar, seja social.

DESENVOLVIMENTO

Volta-se este trabalho, de pesquisa e de reflexão, para a formação do

professor da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental, cujo

seu eixo norteador está na disciplina de Estágio Supervisionado. Disciplina

esta, regida por leis específicas, as quais vêm sofrendo transformações,

conforme a realidade sócio-política e econômica do país. Iniciando-se pela Lei

nº 5692/71, a seguir a Lei Federal nº 6497/77 com o Decreto Federal nº

87497/82, e por último, a LDB nº 9394/96 e a Deliberação nº 010/99.

Especialmente a educação formal ou sistemática, ou seja, o sistema escolar é

formado na sua essência por leis, as quais determinam como deve ser

organizado.

O sistema educacional brasileiro é regulamentado pela Lei de Diretrizes

e Bases da Educação. A primeira LDB foi concluída em 1961 recebendo o

número de 4024/61, sendo substituída dez anos depois pela Lei nº 5692/71.

Atualmente a educação nacional é normatizada pela LDB nº 9394/96, de 20 de

dezembro de 1996.

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Cada Estado define suas próprias leis, sempre em consonância com a

LDB, abrangendo os níveis de ensino e suas modalidades, as instituições de

ensino, cursos, enfim o seu sistema educacional. E assim procede cada

município, cada instituição de ensino, que elabora coletivamente suas leis na

forma do Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar, Proposta

Pedagógica, apresentando a proposta de Estágio Supervisionado na disciplina

que compete a formação de professor.

No presente contexto em que é abordada a Prática de Formação, torna-

se necessário tomar conhecimento de que, nos cursos profissionalizantes, o

Estágio Supervisionado é regido por leis e deliberações. Para entender a

normatização que rege a disciplina de Estágio Supervisionado, faz-se uma

análise reflexiva a respeito das principais normas que vigoraram desde a

década de setenta, com a implantação da Lei nº 5692/71 até chegar às leis

atuais. Busca-se dessa forma, resgatar as origens da legislação específica de

estágio, a partir da referida década. Embora já existissem documentos

anteriores que se referiam a Estágio, não eram específicos à disciplina, e não

lhe atribuíam a devida importância não sendo obrigatório nos cursos existentes

do Magistério.

Entretanto, não ocorreram avanços no Curso Normal e há estudos

mostrando que a partir da referida lei, houve um desmonte no Curso. A esse

respeito, Pimenta, (2001) demonstra que [...] a solução curricular que foi proposta, na prática, concorreu para dissolver o pouco de especificidade que restava no ensino Normal, que mais ou menos tinha no ensino primário uma certa referência, embora não pudesse assegurar nem que os ingressantes tivessem aspiração no magistério. Por outro lado, a deterioração do curso Normal, como vimos, também foi no sentido de que o curso não contribuía para formar, no seu decorrer, uma possível opção ao exercício profissional do magistério (PIMENTA, 2001, p.46).

A Lei Federal nº 5692/71 viria servir aos interesses surgidos no contexto

político e sócio-econômico da época, em que a sociedade dominada por uma

mentalidade tecnicista entendia a educação simplesmente como fornecedora

de mão-de-obra.

Após a promulgação da LDB de 1971, houve a necessidade de

regulamentação específica para a disciplina de Estágio, que na época era

Estágio Profissional Supervisionado. Elaborou-se então a Lei Federal nº

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6497/77 que regulamentou os estágios profissionais supervisionados na

educação superior e no ensino de segundo grau, definindo regras para orientar

esses estágios. Em seguida o Decreto Federal 87497 de 18 de agosto de 1982,

regulamenta a Lei 6497/77.

No relatório da Câmara de Educação Básica sobre a organização e

realização de estágios de alunos no ensino médio e da educação profissional,

de 2003, encaminhado ao MEC, tendo como relatores Francisco Aparecido

Cordão e Ataíde Alves, o artigo 2º do referido Decreto Federal considera como

estágio curricular as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural

proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e

trabalho, sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas

de direito público e privado que lhe ofereçam oportunidade e campos de

estágio, outras formas de ajuda, de forma a colaborar no processo educativo.

Significa que o Estágio é sempre curricular e supervisionado, integrando

assim a proposta pedagógica da escola, sendo necessário que tenha uma

coordenação para o Curso e uma coordenação para o Estágio, pois é

necessária a supervisão e orientação do estagiário, bem como o

acompanhamento e atendimento aos professores da referida disciplina. As

principais funções da coordenação são: participar na elaboração do currículo

do curso, orientar e coordenar as atividades, como por exemplo, juntamente

com os professores estabelecer os critérios para seleção de instrumentos de

avaliação; realizar reuniões e grupos de estudo periodicamente; coordenar a

elaboração e a implementação dos planejamentos das disciplinas, junto aos

professores. Além disso compete ainda à coordenação de estágio: elaborar

com o Corpo Docente, o horário de estágio nas escolas, realizando os

contatos junto aos mantenedores das instituições onde ocorrem os estágios;

coordenar reuniões para o aperfeiçoamento constante do pessoal envolvido

nos estágios, assessorando e promovendo a integração entre os professores

de estágio com os do núcleo e parte específica; participar das capacitações

referentes a Estágio Supervisionado: seminários, cursos, grupos de estudo e

outros eventos.

Ainda, segundo os relatores, o Artigo 4º, do Decreto Federal nº 87497/82

incumbe às instituições de ensino em relação a inserção do estágio curricular,

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pensar sobre a programação didático-pedagógica; a carga horária, duração e

jornada de estágio curricular, e as condições essenciais para a caracterização

e definição dos campos de estágios curriculares; referentes a sistemática de

organização, orientação, supervisão e avaliação de estágio curricular.

Definindo que a escola tem a responsabilidade de fazer constar no

Projeto Político Pedagógico todo o processo de organização referente ao

estágio, bem como a sua Proposta Curricular e o Regulamento de Estágio, o

qual também deve estar inserido no Regimento Escolar. O Regulamento de

Estágio deve ser organizado pelo corpo docente juntamente com os estagiários

para que ocorra a compreensão do exercício da docência.

De acordo com Gasparin (2005), esse fazer pedagógico é uma forma

que permite compreender os conhecimentos em suas múltiplas faces dentro do

todo social. Cada conteúdo é percebido não de forma linear, mas em

suas contradições, em suas ligações com outros conteúdos da mesma

disciplina ou de outras disciplinas. Assim cada parte, cada fragmento do

conhecimento só adquire seu sentido pleno , à medida que se insere no todo

maior de forma adequada, atrelado a outros conteúdos, numa forma

interdisciplinar.

Assim o estágio passa a ser concebido como um ato educativo de

competência da escola, portanto, exige-se que ela organize os campos de

estágios para a sua realização com o devido acompanhamento dos

profissionais designados pela mesma.

A escola é um sistema organizado de ensino e a documentação

referente ao curso, ao seu Corpo Docente e Discente precisam estar em

ordem. Desde a matriz curricular, as matrículas dos alunos, a distribuição das

aulas, documentação referente à coordenações, bem como os registros

escolares e os cronogramas constando a carga horária dos estágios,

caracterizando assim o estágio como componente curricular do Curso. Por

meio das coordenações de curso e de estágio, a escola organiza os critérios de

avaliação de estágio, as atividades a serem desenvolvidas, inclusive a sua

duração e carga horária diária, observando que esta divisão da carga horária

seja bem distribuída, de forma que não venha causar transtornos ou prejudicar

a organização das outras disciplinas do Curso.

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O Decreto Federal nº 87497/82, ao caracterizar o estágio supervisionado

como estágio curricular vincula-o à prática escolar do educando e, no artigo 5º

define que será necessário estabelecer um instrumento jurídico periodicamente

re-examinado, onde estarão acordadas todas as condições de realização

daquele estágio, inclusive a transferência de recursos à instituição de ensino,

quando for o caso. É de responsabilidade do órgão mantenedor através de

seus representantes verificar o andamento do Curso, bem como prestar

atendimento às necessidades da Instituição de Ensino.

O Artigo 6º reafirma que “a realização do estágio curricular por parte do

estudante não acarretará vínculo empregatício”. Somente poderão fazer

estágios alunos regularmente matriculados nos cursos supracitados que

tenham o estágio previsto em seu Projeto Político Pedagógico, seja obrigatório

ou não.

O estágio poderá ser obrigatório ou não obrigatório, conforme

determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino

e do projeto pedagógico do curso.

O estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja

carga horária é requisito para aprovação e obtenção do diploma.

O Artigo 7º regulamenta que a instituição de ensino poderá recorrer aos

serviços de agentes de integração, públicos e privados, entre os sistemas de

ensino e os setores de produção, serviço, comunidade e governo, mediante

condições acordadas em instrumento jurídico adequado.

A escola pode fazer parcerias com empresas ou organizações, as quais

deverão também fazer o acompanhamento das atividades do estagiário na

Instituição Escolar, campo de estágio. Esses estágios estão previstos na Lei, e

são intermediados por empresas que fazem a integração entre a escola, o

estudante e o local de trabalho através dos centros de integração, entre eles o

CIEE e o CINE. Esses órgãos fazem a identificação dos locais de trabalho, o

cadastramento dos estudantes, a contratação mediante instrumento jurídico

próprio, a captação dos recursos necessários e a execução dos pagamentos

aos estagiários contratados, sempre em sistema de parceria com a escola e

instituição de estágio.

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Os estágios intermediados por estes órgãos têm seu pontos positivos e

negativos. Entre os positivos, está a facilitação de acesso do estudante ao

mundo do trabalho e com remuneração, bem como a cooperação existente

entre os órgãos responsáveis por esses estágios e a instituição formadora. Os

pontos negativos vão se manifestando no decorrer dos acontecimentos. Um

deles é a não exigência em Lei, de carteira assinada e a ausência de seus

consequentes benefícios, o que vem gerar ações equivocadas de alguns

governantes, especialmente em municípios onde se contrata grande número de

estagiários, livrando-se de vínculos empregatícios e suas exigências legais.

Ocorrendo que, na falta ou carência de um professor habilitado, este é suprido

por estagiários, contrariando a LDB nº 9394/96, a qual determina que o

professor regente de turma deve ter a habilitação na profissão de docente. E

consequentemente, provocando também o adiamento de novos contratos com

vínculos empregatícios ou de novos concursos públicos. Há as situações de

“apadrinhamentos” de estagiários, usando-se esta forma de contratação para

benefícios eleitorais.

Visa-se combater esses pontos negativos, ao se estabelecer critérios na

contratação, de forma transparente e justa, e contribui-se dessa forma com

uma educação que busca ser igualitária na prática escolar, social e profissional

do educando.

No caso do menor aprendiz que já possui vínculo de emprego, não o é

caracterizado como estágio, isto significa que mesmo que este aluno esteja

trabalhando, não pode aproveitar a carga horária de seu trabalho para contar

como carga horária de Estágio.

Na busca da superação da discriminação e do acolhimento à

diversidade, a escola pública, a partir de 1994 oportuniza, a todos, o acesso à

educação profissional, incluindo, na forma de lei, os portadores de

necessidades especiais. Por meio da Lei Federal nº 8.859/94 que vem

modificar a legislação que vigorava até então, é estendido também aos alunos

de educação especial o direito de participar dos estágios, sendo que estes

estagiários têm direito também a serviços de apoio com profissionais

especializados. Embora a Lei venha atender aos anseios da escola no

atendimento a esta clientela, a escola se depara com dificuldades em oferecer

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o atendimento especializado, pois ainda não é suficiente o número de

profissionais habilitados na área e, em muitos casos, a escola não pode contar

com o serviço de apoio adequado às necessidades de atendimento a seus

alunos portadores de necessidades especiais.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, define:

Art. 61 e 67 a formação dos profissionais da educação. No que se refere ao

ensino básico, a lei aponta a obrigatoriedade da formação e nível superior. A

formação de professores para a educação infantil e para as quatro primeiras

séries do ensino fundamental é admitida em nível médio, na modalidade

normal (art. 62). Entretanto, a LDB de 1996 pouco se refere a estágio

supervisionado na modalidade Normal, constando que a educação profissional

não é parte diversificada do ensino médio, e desvinculando a educação

profissional da educação básica, com a ampliação dos objetivos e da

abrangência do estágio supervisionado. Prevê-se a melhoria na qualidade dos

estágios, como consequência também na melhor distribuição da carga horária

dessa disciplina, oportunizando melhores resultados na busca da unificação

entre a teoria e a prática.

Entende-se que a LDB nº 9394/96 cria este espaço destinado à

formação docente na modalidade Normal, Ensino Médio, porém, de acordo

com esta mesma lei, prevê-se a formação docente no Ensino Superior,

referente à disciplina de Estágio, para os profissionais que atuam na Educação

Básica. Atualmente já contamos com muitas universidades que oferecem

o Curso Superior, no caso Pedagogia com a formação de professor para a

área de Educação Infantil e as Séries Iniciais, o qual é bastante procurado,

mesmo por alunos que já concluíram o nível médio nessa modalidade.

Em 1999, vigoram as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso

Formação de Docentes para a Educação Infantil e as Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal.

As Diretrizes Curriculares Nacionais são normas estabelecidas pelo

Conselho Nacional de Educação, por meio da Câmara de Educação Básica,

caracterizando-se como normas obrigatórias e que servem como orientação

para os sistemas de ensino e para as escolas na construção do planejamento

de suas ações. Podendo-se definir o papel regulamentador dessas normas

15

entendemos também, que as diretrizes vieram regulamentar uma prática de

ensino. As DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais), em consonância com a

LDB atual, mantêm a exigência da vinculação entre a prática escolar e a prática

social do educando, principalmente tratando-se do mundo do trabalho.

Em consonância com essas Diretrizes, o Conselho Estadual de

Educação do Paraná elabora as Normas Complementares para o Curso, as

quais estão presentes na Deliberação nº 010/99, aprovada em 04/08/99.

De acordo com essa Deliberação, o Curso Normal, em nível Médio, tem

como objetivo formar docentes para atuarem na Educação Infantil e nas séries

iniciais do Ensino Fundamental. Isto significa que ao concluir o curso, o aluno

sairá com um diploma de professor, ou seja, terá uma formação profissional.

Esta formação é mais abrangente que na legislação anterior, em que se

formavam professores para atuar apenas de primeira a quarta séries, ou teria

que fazer uma complementação para ampliá-la. A formação atual habilita o

professor, a trabalhar desde a Educação Infantil, possibilitando esta ampliação

no Curso Normal, Ensino Médio.

Para que o Curso possa funcionar, a instituição formadora deve oferecer

dependências físicas adequadas, possuir acervo bibliográfico específico e

atualizado, ter no quadro profissional, professores com formação

em nível superior, com um limite de três disciplinas em sua atuação no Curso,

necessitando, de uma equipe composta de Coordenação de Curso e

Coordenação para o Estágio Supervisionado, cujos requisitos são básicos para

um curso de qualidade. Sem tais exigências prescritas em lei, corre-se o risco

de se deparar com cursos que existam somente no papel, com instituições sem

condições reais de fazê-lo funcionar com a mínima qualidade necessária.

O Curso terá a duração de quatro anos, com um mínimo de 3.200 horas,

ou duração de três anos, desde que, com jornada diária em tempo integral.

Observa-se que as escolas, em sua maioria, têm optado pelo curso de

quatro anos, provavelmente devido à impossibilidade do aluno para poder

estudar em tempo integral, visto que o aluno de Ensino Médio, em grande parte

dos casos é, também, um aluno trabalhador, até mesmo como estagiário, com

horário de trabalho a cumprir.

16

As turmas devem ser formadas com o máximo de 36 (trinta e seis)

alunos, sendo divididas em duas turmas para a Prática de Formação, sendo 18

(dezoito) o número máximo de alunos em cada turma de Estágio

Supervisionado.

Torna-se necessária a organização do plano de capacitação e formação

continuada aos docentes e o plano de avaliação do Curso. A educação está em

constante evolução e é imprescindível o aperfeiçoamento constante dos

profissionais.

O Curso Normal, nível Médio pode ser ofertado em outras instituições

escolares com estruturas próprias, desde que apresente organização

adequada à proposta pedagógica da SEED.

O aluno que optar pelo Curso Médio, de formação geral, poderá concluí-

lo mas sem direito à certificação para exercer a profissão. É possível ocorrer

que o aluno, após ter cursado por um ou dois anos o Curso Normal, deseje

mudar para o curso de educação geral; ele aproveita as disciplinas da Base

Nacional Comum, mas as específicas do Curso Normal não são aproveitadas

para a carga horária do outro Curso.

Entre as exigências legais a serem cumpridas pelas instituições

escolares, está a construção da Proposta Pedagógica, documento este a ser

elaborado e construído de forma coletiva, onde constam todas as ações da

escola, disciplinas e conteúdos, seus objetivos, metodologia de ação,

concepção e formas de avaliação. Enfim, na Proposta Pedagógica estão os

princípios norteadores adotados pela instituição escolar, os quais estão

alinhados com a LDB, com as Diretrizes Curriculares, e os conteúdos escolares

são trabalhados de forma articulada e contextualizada. Compõe-se da

formação básica para o ensino médio da formação específica para a educação

profissional.

A formação específica relativa à formação de Docentes deve partir das

Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e do Ensino

Fundamental. Diretrizes estas compostas por duas áreas curriculares: a gestão

pedagógica, de forma contextualizada abrangendo as disciplinas que fazem

parte dos fundamentos da educação, incluindo as metodologias de ensino, e a

prática de ensino, na forma de Estágio Supervisionado. Reforça-se, nesta

17

Deliberação, a importância de trabalhar a unidade teoria e prática; da reflexão

sistemática sobre a prática, ou vice-versa, pois a prática, de forma reflexiva,

volta à teoria.

Em nosso entendimento, o elemento que faz imbricamento entre a

teoria e a prática é o processo de pesquisa que se desenvolve ao longo de

toda formação profissional. Com isso assumimos que não há formação

completa quando se extinguem dos cursos os processos investigativos

constitutivos do saber docente.

A partir do momento em que tomarmos a pesquisa, como eixo sobre o

qual se articula a relação teoria e prática, levaremos o estagiário a perceber

que sua prática educativa é fonte tanto da atividade reflexiva, como da prática

investigativa.

Nesse sentido o professor deve contribuir para orientar o estagiário no

processo de desenvolvimento de competências, sobretudo metodológicas,

necessárias à realização da pesquisa em educação.

Deve ser direcionado também quanto a aquisição de atitudes básicas

para pesquisa em contexto educativo, no entendimento como um momento

privilegiado de reflexão sobre a ação e no reconhecimento de que a

perspectiva interdisciplinar é fundamental na compreensão tanto dos

problemas e desafios vividos na escola como na realização de uma pesquisa.

O Parecer nº 21, de 2001, do Conselho Nacional de Educação, define o

Estágio Curricular como um tempo de aprendizagem que, por meio de um

período de permanência, alguém se demora em algum ou ofício para aprender

a prática do mesmo para, depois poder exercer uma profissão ou ofício. Assim,

o estágio supõe uma relação pedagógica entre um profissional de ensino num

ambiente institucional de trabalho, e um aluno estagiário possibilitando um

momento em que se torna efetivo o de processo de ensino/aprendizagem que,

se tornará concreto e propiciador de autonomia quando da profissionalização

desse estagiário, por meio da pesquisa-ação.

Conforme a Resolução CNE/CP 01 de 2002, dentro da matriz curricular

do curso de formação de professores, a prática não poderá ficar reduzida a um

espaço isolado, que a restrinja apenas ao estágio, desarticulado do restante do

curso.

18

A prática é reveladora de um modo de ser professor, especialmente

porque é por ela que poderemos nos certificar das teorias implícitas que as

sustentam no espaço pedagógico.

Por isso o plano de estágio elaborado pelo estabelecimento de ensino,

deve ser de conhecimento dos alunos e de todos os professores do curso,

como também a fundamentação teórica adotada pela Secretaria Municipal de

Educação do Município pertinente ao (lócus) destino dos estagiários em

ambiente escolar. Somente assim se efetiva a concretização da prática,

quando é conciliado a teoria e a prática.

Considero importante registrar inquietação pessoal a respeito da escola

pública em meio às novas atribuições, entre elas ensinar os alunos a respeitar,

a tolerar as diferenças, a coexistir, a comunicar, a cooperar, a mudar, a agir de

forma eficaz. Além dessa inquietação, a constatação de que alguns

municípios, por entenderem que a verdadeira função da escola é social, vêm

reformulando a sua proposta pedagógica.

É preciso superar um modelo de formação que considera o professor

apenas como transmissor de conhecimentos; que se preocupa somente com a

formação de atitudes de obediência, de passividade e de subordinação nos

alunos; que trata os alunos como assimiladores de conteúdos, a partir de

simples práticas de adestramento que tomam como mote as memorizações e

repetições de conhecimentos que pouco têm a ver com a realidade dos

alunos.

A educação paranaense busca pautar-se nas orientações da pedagogia

histórico-crítica, então presentes nas políticas da SEED-PR, sendo necessário

maior tempo para criarem raízes nas escolas, conforme consta na Proposta

Pedagógica Curricular do Curso Formação de Docentes da Educação

Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível Médio, na modalidade

Normal (SEED-PR, 2006).

Saviani (2003, p.88), salienta que “ a pedagogia histórico-crítica, é o empenho

em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento

histórico objetivo”.

E que “a função primordial da escola, é proporcionar o acesso ao saber

universal". Torna-se necessário “transformar o saber elaborado em saber

19

escolar” o que significa selecionar os conteúdos que fazem parte do

saber sistematizado e que são imprescindíveis para o “crescimento

intelectual” do aluno. São conteúdos históricos construídos e

reconstruídos por muitas gerações. Para a Pedagogia Histórico-Crítica é

importante que tais conteúdos sejam “organizados numa forma e sequência

que possibilitem sua assimilação pelos alunos” (SAVIANI, 2003, p.75). Procura-

se por uma metodologia adequada ao processo pedagógico, que envolve

o papel da pedagogia escolar, a qual “organiza e busca formas adequadas”

para atingir o objetivo da escola, que é tornar o saber científico assimilável

pelos alunos (SAVIANI,2003, p.75). Alunos estes, que estão

atravessando uma etapa histórica de suas vidas, em que sofrem as influências

da sociedade de seu tempo e necessitam de formação intelectual, na

construção desse homem histórico presente na sociedade. Para isso torna-se

necessário ao professor compreender a realidade escolar historicamente; como

se formou este ser humano presente no contexto escolar. Ou seja, reconhecer

o aluno como ser histórico, suas condições de vida, forma de viver em

sociedade, as influências sofridas e vividas no meio social em que está

inserido. A escola pode assim, transformar o conhecimento do aluno, ao

lhe proporcionar a aquisição do conhecimento científico, necessário

e importante para a busca de transformação do seu meio, refletindo na

sociedade em geral.

Assim a Pedagogia Histórico-Crítica entende que é essencial resgatar a

valorização e a função da escola, buscando através dela proporcionar o acesso

irrestrito a todos ao saber, à instrução (SAVIANI,2003, p.98).

É necessário, portanto, compreender a educação no seu processo de

desenvolvimento no aspecto histórico e objetivo, que resulta na possibilidade

de a educação desenvolver propostas de ensino que tenham como objetivo a

formação de pessoas críticas, criativas, responsáveis, capazes de lutar pela

transformação da sociedade. Compreendendo o momento histórico e a forma

como a educação escolar é desenvolvida, mas não desconsiderando a

20

transformação pela qual ela passou porque não está desarticulada da história.

Compreendendo também que o homem é o mesmo da história, que tem a

mesma necessidade de continuar produzindo sua existência.

Pode-se considerar pertinente resgatar tal conceito na abordagem que

empreendemos nesta pesquisa, em face da necessidade de que os futuros

professores tenham uma conceituação ao mesmo tempo que arejada, também

consciente de educação e, além disso, devem ter presente e de forma clara o

seu papel como professor e construtor no processo ensino-aprendizagem de

seus alunos e a função da escola onde exerce o seu papel. É possível afirmar

sem o risco de erro que o desconhecimento da importância desses papéis e a

falta de um apurado exercício de reflexão que considere de fato que o processo

que se desenvolve formalmente como ensino é muito mais que teórico,

conteudístico, curricular ou metodológico. É isso também mas é, sobretudo

formação humana que se processa por caminhos que, responsavelmente,

professor e escola vão apontando e orientando os alunos a percorrerem na

construção do conhecimento, do caráter, das relações, da ética, do respeito, da

descoberta do valor de si mesmo e de suas capacidades, enfim a construção

para a vida, para a cidadania.

A formação inicial do professor, incluindo o estágio tem a função de

aproximar o futuro discente dos conceitos essenciais que servirão como

diretrizes para o seu fazer pedagógico; de proporcionar-lhes situações para

reflexões pontuais de todos os aspectos envolvidos no processo de ensino-

aprendizagem, de forma a prepará-los para o desempenho a contento da

função de professor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de estudo, pesquisa e reflexão, foi desenvolvido durante o

PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional implantado pela Secretaria

de Educação do Estado do Paraná, objetivando o aperfeiçoamento e a

capacitação dos profissionais da Educação Básica no Estado, de forma que

21

ocorra também a integração entre os profissionais das Universidades e os

professores dos outros níveis e modalidades de ensino.

Os resultados obtidos desenvolveram-se por meio da fundamentação

teórica obtida e aprofundada nos cursos e simpósios nas Universidades

Públicas, entre elas , a UNICENTRO, Universidade do Centro Oeste do

Paraná.

Posteriormente ocorreu o Projeto de Intervenção na escola de atuação,

culminando com a realização deste artigo que trata do Estágio Supervisionado

no Curso Formação de Docentes, e que por ser um curso profissionalizante,

percebeu-se que está diretamente ligado a um contexto maior, que envolve as

políticas públicas em educação.

No contato com os professores e alunos do Curso constata-se a

angústia presente em relação à teoria e à prática, nas quais não encontram

coerência e unidade ao trabalhar a disciplina de Estágio.

Entretanto, a busca é ininterrupta, por parte dos profissionais do Curso,

que têm percorrido este caminho rumo à unidade entre a teoria e a prática, na

formação de novos professores de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino

Fundamental.

Concluímos que o elemento que faz imbricamento entre a teoria e a

prática é o processo de pesquisa que se desenvolve ao longo de toda

formação profissional. Com isso assumimos que não há formação completa

quando se extinguem dos cursos os processos investigativos constitutivos do

saber docente.

A capacitação docente perpassa todo o curso de licenciatura. No entanto

é imprescindível que não se perca de vista que a pesquisa é o eixo sobre o

qual se articula a relação teoria e prática. Dessa forma, é necessário

encaminhar o estagiário a perceber que sua prática educativa será mais

eficiente e produtiva à medida que se tornar tanto atividade reflexiva quanto

prática investigativa.

REFERÊNCIAS

22

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 3ª

ed. Campinas, SP : Autores Associados,2005.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Proposta Curricular do Curso Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do

Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal.

Departamento de Educação Profissional. Curitiba : SEED, 2006. 100 p.

PICONEZ, Selma G. (Org.) A prática de ensino e o Estágio Supervisionado.

6ª ed. São Paulo : Papirus, 2001. p.39-51.

PIMENTA, Selma G. O Estágio na Formação de Professores: unidade

teoria e prática? 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

PIMENTA, Selma G. (org.). Professor reflexivo: Construindo uma crítica. In:

PIMENTA, Selma G.; GHEDIN, Evandro (org.s). Professor reflexivo no

Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

PIMENTA. Selma G. Saberes Pedagógicos e atividade docente. 2ª ed. São

Paulo: Cortez, 2000.

SAVIANI, Dermeval Saviani. Pedagogia Histórico-Crítica. 8ª ed. Revista e

ampliada. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.