a busca da Água no sertão - convivendo com o semiárido

Upload: ronaldo-pereira

Post on 10-Jan-2016

196 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Água

TRANSCRIPT

  • 5Avenida das Naes, 04 - Bairro Castelo Branco

    Caixa Postal 21, 48907-218 Juazeiro - BA

    Tel: (0XX74)3611-6481Fax: (0XX74)3611-5385www.irpaa.org / e-mail: [email protected]

    Coordenao do IRPAA: Ademilson da Rocha, Lucineide Martins Araujo e HaroldoSchistek

    a. Edio, ampliada e revisada - 2011Triagem: 60.000 - 80.000 exemplares

    Texto, mapas e grficos: Joo Gnadlinger.Desenhos: Ivomar de S Pereira

    Capa: GecelAlves Sobrinho

    Diagramao: Dio Fonseca

    IRPAA

    Instituto Regional da PequenaAgropecuriaApropriada

    O contedo desta cartilha pode ser reproduzido, desde que seja citada afonte. Pedimos tambm a remessa de um exemplar da reproduo para oendereo acima.

    Cartilha impressa em papel plen, produzido sem cloro.

    CONVIVENDO COM O SEMIRIDO

  • Assunto

    Apresentando a Quinta edioConviver no Semirido - A vida no Serto vivel

    Como usar esta cartilha na comunidade?Salmo 104: Louvor a Deus, o CriadorA origem da chuvaA distribuio da chuva no NordesteMedindo a chuvaA distribuio mensal da chuva em Juazeiro- BAA chuva anual em Juazeiro - BAA quantidade de chuva que cai no Semirido durante um anoCada regio do Brasil tem um clima diferenteOutras regies do mundo com um clima como no SertoCanto: A triste partidaA convivncia com o SemiridoAs secas so previsveisMudanas do tempo durante "El Nio#Mudanas do tempo durante "La Nia#

    A perda de gua por causa da evaporaoNecessidades de gua para o consumoDe quanta gua precisa uma famlia durante a poca da secaA colheita de gua de chuva em cisternas

    A gua no subsolo de rocha cristalinaA gua no subsolo de arenitoA gua no subsolo de calcrioA gua embaixo da terra no Semi-ridoComo cuidar de uma cacimbaA bomba d'gua popular (BAP)

    As cincolinhas de luta pela gua

    Levantamento dos recursos de guaCanto: gua de chuva

    Pgina

    0506070910121416182022242728303234

    38404244464850525456

    62

    58

    64687072747678

    80

    8482

    86

    A terra do povo de DeusGnesis 26, 15-22: A luta pela guaNmeros 20, 1-13: Deus d gua at no deserto1 Reis 17, 1-16: Elias e a viuva ensinam a conviver com a secaCanto: ProcissoJeremias 38, 1-13: Jeremias orienta o povo num tempo difcilJoo 4, 1-15: Jesus e a samaritanaNmeros 13, 1-33: Coragem para tomar posse de uma terra rica e grandiosa

    BibliografiaOnde fica a gua no nosso planeta?

    Canto: Planeta gua

    O abastecimento de de um municpiogua

    88

    Avaliao da qualidade da gua de uma cisterna e o risco de contaminao da gua

    89

    Como o efeito estufa aquece a terra 36

    A gua filtrada evita doenas 60

    78

    CONVIVERCOMOSEMIRIDO-A VIDA NOSERTOVIVEL!

    1-Afonte principal da gua no semi-rido brasileiro a gua da chuva.2-Aquantidade de chuva vai diminuindo do Litoral para o Interior do Nordeste.3- O comportamento da chuva diferente em cada ano, seja na quantidade, seja nadistribuio.4-Amaior parte da chuva que cai, evapora.5- As secas grandes voltam de tempo em tempo e por isso as esperamos sem medo epreparados.6- Nem por isso o semi-rido brasileiro fica sem soluo, ele vivel!7- Devemos colher e armazenar a gua da chuva em caxios, caldeires, cisternas,tanques, barragens e audes, para garantir a gua para as famlias e as comunidades.8- Devemos lutar por obras maiores como audes ou poos para providenciar guapara as secas grandes.9- Sobretudo nas reas de arenito do Nordeste existe gua em abundncia embaixoda terra, que pode ser aproveitada atravs de poos rasos ou profundos.10- Por pessoas sensveis, podem ser detectados pela hidroestesia os lugares parapoos, onde a gua bastante e de boa qualidade.11- O comportamento irregular da chuva nos leva a confiar mais na criao de animaisdo que na lavoura.12- A lavoura sempre fica arriscada, a no ser que escolhamos culturas adaptadas aum clima seco como sorgo, guandu, mamona, capim bfalo, leucena, etc.13- Devemos rejeitar a "politicagem da seca" com que os grandes enganam o povo,distribuindo esmolas ou construindo obras inviveis.14. Vamos fazer um levantamento de gua e elaborar um "plano de gua#para umabastecimento completo do municpio, mesmo em anos de seca.15- Em nossas comunidades, escolas, sindicatos e municpios vamos nos engajar poruma "poltica da gua" que busca conviver com o clima do Semi-rido e resolver asnecessidades do povo.16- O processo para chegar a conviver com estes desafios, riscos e incertezas dasmudanas climticas no Semirido Brasileiro essencialmente o mesmo com e semmudanas climticas, mas necessrio conhecer melhor o ecosistema. O desafiopara ns aprimorar a Convivncia com o Semirido (preservar e recuperar aCaatinga, captar a gua da chuva, plantar forrageiras, etc.) e incluir nisso as mudanasclimticas.17- Em tudo isso, o povo nordestino recebe uma grande fora pela experincia do povode Deus na Bblia, que conseguiu resolver o problema da gua num pas com umanatureza, clima, criao, lavoura e problemas semelhantes ao Nordeste.18- Assim no precisamos ver o serto como inimigo do povo que obriga a gente sairda terra natal, mas um lugar onde homens e mulheres, crianas, jovens e velhos(as),constrem uma vida feliz, porque aprendem a conviver com o semi-rido.19- Acreditamos que o Nordeste uma "terra prometida onde corre leite e mel" quens nordestinos e nordestinas at agora nem conquistamos.

    mesmo, compadre, se a gente faz tudo isso e vive assim prevenido, onordestino pode agentar at trs secas, uma seguindo a outra, como disse onosso Padim Ccero.

    05

  • .Esta cartilha resultado de convivncia com a realidade e o povo do Nordeste, demodo especial de "Encontros sobre a em vrios lugaresdo serto da Bahia (Pilo Arcado, Campo Alegre de Lourdes, Ccero Dantas e BaixaGrande) durante o ano de 1991.A se mostrou necessrio ter nas comunidades, para discutir aquesto da gua, do clima, da seca e descobrir, juntos com a comunidade, maneirasprprias de resolver o problema da gua no serto.

    Esta cartilha deve ser uma ferramenta nas mos de "agentes da gua#que ajudam opovo na Busca da gua no Serto.Ao mesmo tempo o povo toma conscincia das propriedades do clima e das condiesdo Nordeste para a criao de animais e para a lavoura do sequeiro.

    Assim, temos a esperana que o povo nordestino, um dia, possae superao da seca,

    substituindo assim uma politicagem da seca como est sendo feita at hoje.

    Juazeiro - BA, 24 de Janeiro de 1992

    Passaram-se quase vinte anos desde a primeira edio da apostila "A Busca da guano Serto#e 60.000 exemplares impressos. Mudou muita coisa no semi-rido destetempo para c, e mudou para o melhor. Quando a gente falou na introduo para a 1edio em convivncia com o clima, isso era novidade. Hoje com o slogan"Convivncia com o Semi-rido# resume-se toda a viso e programa para o futurosustentvel desta regio: ningum mais fala em "combater a seca#, falamos emconviver com o nosso clima, como as plantas e animais na caatinga nos ensinam. Vinteanos atrs o STR de Campo Alegre de Lourdes comeou a construir as primeirascisternas, hoje so mais de 4000 neste municpio e est em andamento todo umprograma de construir um milho de cisternas no semi-rido pela ASA - Associao noSemirido com dinheiro do governo (que do povo) para resolver o problema da guade beber. Outros programas de Convivncia com o Semirido esto seguindo. osinal de uma transformao mais profunda que est acontecendo. Para ns do IRPAA, uma satisfao continuar poder contribuindo para esta viso e mudana positiva doSerto. Hoje no so mais somente os (as) lavradores(as) que querem conhecermelhor o semi-rido, mas tambm professores(as), polticos(as), crianas e jovens,pessoas da cidade.

    Nesta nova edio ficou o contedo bsico. Introduzimos uma viso libertadora dognero. Atualizamos em parte os desenhos e acrescentamos alguns temas novos,mas no mudamos a explicao simples e o mtodo didtico prtico, visto que aspessoas que criam e plantam no Serto continuam sendo as primeiras destinatrias.Esta apostila um instrumento de mudana que deve ser usado, a responsabilidadede us-lo ou no sua.

    Juazeiro - BA, 04 de outubro de 2011Dia de So Francisco, Padroeiro do Meio Ambiente

    Dia do "Descobrimento#do Rio Opara / So Francisco

    Busca da gua no Serto

    "Agentes da gua"

    defender umapoltica da gua que leve convivncia com o clima

    a.

    APRESENTANDO A 1EDIO

    APRESENTANDO A 5.EDIO

    06

    COMOUSARESTA CARTILHA NACOMUNIDADE?

    As pessoas que so agentes da gua j devem ter participado, com outraspessoas da comunidade, de um encontro sobre a Busca da gua no Serto.A partir disso, elas tm condies de transmitir as experincias companheirada, na comunidade. Nas reunies, esta cartilha ajuda a passaro assunto s demais pessoas.

    Cada assunto tem duas pginas:

    1.Apgina com o desenho, que deve ser mostrada ao grupo reunido.

    2. A pgina com o texto, que ajuda a pessoa coordenadora a explicar oprocesso, a explicar o desenho, a ela deve fazer sempre estas trsperguntas:

    O que a gente est vendo? - O que significa isso? - O que a gente aprendedisso?

    Os textos bblicos podem ser refletidos no comeo e no final da reunio.Eles ligam a luta pela gua do povo do Serto com a luta pela gua do povode Deus.

    De antemo agradecemos por todas as indicaes que possam ajudar amelhorar esta cartilha.

    Um bom trabalho.

    AGRADECIMENTOS

    Esta apostilha foi preparada num mutiro.Recebemos muitas idias das experincias dos (das) participantes dos cursos quedemos nestes anos sobre "ABusca da gua no Serto".Aprendemos muito nas visitas nas comunidades pelo Semirido.Agradecemos aos (s) colegas do IRPAA, sobretudo do Eixo gua, por valiosassugestes.Agradecemos a valiosa contribuio dos autores que citamos na bibliografia.

    07

  • OraoparadarincioouencerrarumEncontrosobreagua,

    aNaturezaeoSerto.

    Durante o curso descobriremos que a terra do povo da Bblia se assemelha em muitoao Serto. Trazemos nas apostilas as experincias do povo de Israel no que se refere luta pela terra, providncia de gua para o tempo da seca, criao de cabras eovelhas, lavoura de sequeiro, s relaes do gnero (homens e mulheres). Assim oSerto, a terra onde vivemos, torna-se para ns tambm "uma terra onde corre leite emel" que por um lado recebemos de Deus como presente, mas que deve serconquistada, trabalhada e cuidada em cada momento.O Salmo 104 uma orao que o povo de Deus e Jesus rezavam. O texto, um louvor aDeus Criador, mostra como Deus criou o mundo bem feito, tudo no seu lugar: a gua, oar, as montanhas, o mato, os passarinhos e os animais.Cabe ao homem e mulher conviverem com a natureza e no a destruir. Assim agente contribui para fazer a criao de Deus ainda mais bonita.

    !"#$%&'()*

    Pode-se rezar esta orao em voz alta, dois grupos ou duas pessoas se revezando. Num cochicho,pode-se conversar sobre as perguntas. Finalmente, quem quiser, pode louvar a Deus pela gua epela natureza ou pedir perdo pela destruio da natureza.

    +,# - .#$ & /0!.1& 2& $#&.13&3# 3) 4#516$13)7

    Muitos dos que participam dos cursos tem uma experincia nas comunidades de base.Assim evidente que procuramos ligar o nosso trabalho com o povo de Deus na Bblia. Porisso trazemos para os cursos as experincias dos israelitas no que se refere luta pela terra, providncia de gua para o tempo da seca, criao de cabras e ovelhas, lavoura desequeiro, o cuidado com a natureza. Ns chamamos isso de viso mstica da realidade:

    Ela fortalece o nosso compromissoAnima a luta do povoSensibiliza as pessoas um aspecto esquecido da Convivncia com o Semirido (CSA)Amstica nos diferencia dos projetos do EstadoCria uma identidade e d sentido vidaIndica que existe algo maior que o visvel a unio com o sagradoExpulsa as energias do malAmstica mais que rezarMostra que existe algo mais que o saber cientfico.

    As passagens da Bblia quando as colocamos na realidade do semirido, se tornam muito fortes,porque o povo da Bblia viveu numa terra com um clima semelhante ao nosso: assim o Semirido,a terra, onde vivemos, torna-se para ns "uma terra onde corre leite e mel", que por um ladorecebemos de Deus como presente, mas que deve ser conquistada, trabalhada, cuidada em cadamomento.

    08

    Refro:

    Refro:

    1 - minha alma, louve ao Senhor!2 - Senhor meu Deus, como s grande!

    1 - Ests vestido de majestade e de glria,e te cobres de luz como num manto.

    2 - Estendes os cus como se fossem uma barraca,e constris a tua casa sobre as guas de l de cima.

    1 - Usas as nuvens como teu carro de guerra,e voas nas asas do vento.

    2 - Fazes dos ventos os teus mensageiros,e dos relmpagos os teus servos.

    1 - Tu puseste a terra bem firme sobre seus alicerces,assim ela nunca ser abalada.

    2 - Cobriste a terra com o mar, como se ele fosse umaroupa,e as guas ficaram acima das montanhas.

    1 - Porm, quando repreendeste as guas, elas fugiram;quando ouviram teu grito de comando, saram correndo.

    2 -As guas correram pelos montes e desceram os vales,indo para o lugar que preparaste para elas.

    1- Tu puseste um limite para as guas no passarem,para no cobrirem de novo a terra.

    2 -Tu fazes surgirem nascentes, nos vales,e fazes a gua dos rios correr entre os montes.

    1 - Dessa gua bebem todos os bichos do mato,e com ela os jumentos matam a sede.

    2 - Nas margens dos rios, os pssaros fazem os seusninhos,e cantam entre os galhos das rvores.

    1 - Dos cus tu envias chuvas para os montes,e a terra fica cheia das tuas bnos.

    2 - Fazes crescer capim para o gado,e verduras e legumes para o uso do homem,e assim ele tira da terra o seu alimento.

    1 - Fazes a terra produzir o vinho, que deixa a gente feliz,o azeite que alegra e o po que d foras.

    2 - Muita chuva cai sobre as rvores de Deus,sobre os cedros do Lbano, que ele plantou.

    1 -Ali os pssaros fazem os seus ninhos,e as aves constrem as suas casas no seu topo.

    2 -As cabras vivem no alto das montanhas,e os coelhos do mato se escondem nas grutas.

    1 - Que os pecadores desapaream da terra,e os injustos nunca mais existam.

    !"#$%&'"()*%+%(%$%+"+",+(-$"&

    "%).%-%.%(#%)"&*/%

    0,&,1("%.(-*23,))"+"4(,&5,))"+67#89:;