a black music como elo nas relações raciais brasil – estados unidos

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Universidade de São Paulo Daniela Fernanda Gomes da Silva 1 Conexões diaspóricas a black music 2 como elo nas relações raciais Brasil-Estados Unidos 3 Trabalho apresentado durante o Colóquio Internacional Culturas Jovens Afro-Brasil América: Encontros e Desencontros Realizado pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo São Paulo 2012 1 Jornalista graduada pela Universidade Metodista de São Paulo, especialista em Mídia, informação e Cultura pelo Celacc/ ECA - USP e mestranda no programa de Pós Graduação em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. [email protected]/[email protected] http://afroatitudes.blospot.com 2 Neste artigo utiliza-se o termo black music em referência a gêneros produzidos nos EUA por cantores negros entre a década de 70 e os anos 2000 entre eles o rhythm and blues, o rap, o hip hop e a soul music. 3 Este artigo é parte de pesquisa intitulada O Som da Diáspora A influência da black music norte- americana na juventude negra paulistana realizada no programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, no mestrado em Estudos Culturais sob orientação do Prof. Livre Docente Mauro de Mello Leonel Junior.

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Page 1: a black music como elo nas relações raciais Brasil – Estados Unidos

Universidade de São Paulo

Daniela Fernanda Gomes da Silva1

Conexões diaspóricas

a black music2 como elo nas relações raciais Brasil-Estados

Unidos3

Trabalho apresentado durante o Colóquio

Internacional Culturas Jovens Afro-Brasil

América: Encontros e Desencontros

Realizado pela Faculdade de Educação da

Universidade de São Paulo

São Paulo

2012

1 Jornalista graduada pela Universidade Metodista de São Paulo, especialista em Mídia, informação e

Cultura pelo Celacc/ ECA - USP e mestranda no programa de Pós Graduação em Estudos Culturais da

Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

[email protected]/[email protected] http://afroatitudes.blospot.com 2 Neste artigo utiliza-se o termo black music em referência a gêneros produzidos nos EUA por cantores

negros entre a década de 70 e os anos 2000 entre eles o rhythm and blues, o rap, o hip hop e a soul

music. 3Este artigo é parte de pesquisa intitulada O Som da Diáspora – A influência da black music norte-

americana na juventude negra paulistana realizada no programa de Pós-Graduação em Estudos

Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, no mestrado em

Estudos Culturais sob orientação do Prof. Livre Docente Mauro de Mello Leonel Junior.

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ABSTRACT

This work aims to observe the relationship between the Sao Paulo

Black youth and the American black music, where it works as a

link between two people of the African diaspora. The

comprehension of this phenomenon involves more than the study of

simple cultural manifestations, but also presents some social and

political aspects which influence in the formation of this group

identity. In a dynamic that started early in the 1970’s and extends

till nowadays, the participation in the named “black parties” works

as a link in the racial relations between Brazil and The United

States of America. Observing this phenomenon involves researches

about subjects as diaspora, and the creation of black people identity.

As methodology I use the bibliographical research, through books,

videos, sites and also observations through personal experiences.

Key Words: identity, black music, diaspora, black, cultura

RESUMO

O presente trabalho propõe uma observação da relação entre a

juventude negra paulistana e a black music norte-americana, onde

esta se apresenta como elo entre os povos da diáspora africana. A

compreensão desse fenômeno envolve mais do que o estudo de

simples manifestações culturais, mas apresenta também aspectos

sociais e políticos que influenciam na formação da identidade desse

grupo. Em uma dinâmica que tem início ainda na década de 1970 e

se estende até o presente momento, a participação nas chamadas

“festas blacks” serve como elo nas relações raciais entre Brasil e

Estados Unidos. Para observação desse fenômeno realiza-se

pesquisa sobre temas como diáspora e formação da identidade do

povo negro. Utilizo como metodologia a pesquisa bibliográfica, por

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meio de livros, vídeos e websites e também observações realizadas

por meio de experiências pessoais.

Palavras-chave: identidade, black music, diáspora, negros, cultura.

Ao se refletir sobre a diáspora africana, uma das questões que se faz

presente no imaginário de pesquisadores em diferentes áreas

envolve quais são os possíveis elos que fazem com que povos

negros em diferentes países se sintam conectados de diferentes

maneiras e apresentem características semelhantes no que se refere

tanto a sua maneira de ser e agir, quanto aos problemas enfrentados

na sociedade.

Nesse contexto surgem estudos que envolvem diferentes áreas e

tornam significativa a observação das manifestações culturais como

chave para entender a conexão existente entre povos

afrodescendentes nas mais variadas localidades.

A importância dessa observação tem sido colocada em pauta por

pensadores desde que nomes, como W.E.B Dubois, definiram a

cultura como um dos principais elementos para a compreensão do

mundo negro.(GORDON, ANDERSON, 1999, p.285).

A partir da perspectiva das manifestações culturais como elemento

fundamental para o entendimento da diáspora este artigo apresenta

a conexão criada entre jovens negros paulistanos e a cultura urbana

afro-americana a partir de uma relação com o que foi denominado

por este próprio grupo como black music.

Entende-se aqui que esta ligação se deve ao uso da cultura como

instrumento para produção de uma identidade negra, dentro de uma

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perspectiva política ou ideológica, em busca de uma proposta de

transformação da realidade desse grupo (MUNANGA, 2004, p. 33).

Nesse contexto, observa-se um fenômeno que ainda que não seja

novo, considerando-se que a relação entre a comunidade negra no

Brasil e os bailes já se desenvolvesse muito antes e que mesmo a

ligação com a música negra norte-americana também tenha tido

início pouco antes do período aqui abordado, mostra-se como um

marco importante da formação da identidade do povo negro no

Brasil.

A dinâmica que observamos aqui se desenvolve de modo contínuo

em festas espalhadas pela cidade e também na região metropolitana

de São Paulo desde a década de 1970 e apresenta características

peculiares a cada geração. Mas em todos esses anos a relação com a

black music ainda se mostra como um elo.

Dentre as características desta dinâmica está uma identificação

existente não apenas com seus ídolos, mas também e

principalmente com a imagem que eles transmitem de uma

comunidade negra forte, desenvolvida e que alcançou conquistas

que ainda são almejadas pela população negra no Brasil. Ainda que

esta imagem não corresponda totalmente à verdade, trouxe com o

passar dos anos uma influência na formação da identidade desses

jovens, principalmente no que se refere à formação do pensamento

racial no país, a partir de ícones afro-americanos.

Dentre outros fatores observa-se uma relação de espelhamento,

onde jovens que nunca se encontraram, se sentem próximos de

outros, que ainda que vivenciem realidades diferentes possuem

histórias de vida semelhantes.

Sendo assim, temas como o histórico de escravidão nos dois países,

a luta pela inclusão e pelo fim do racismo em todas as suas formas,

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a exclusão social e a pobreza, a imagem da população negra na

mídia entre outros, são fatores que ocorrem em ambos os países e

tornam possível que esses jovens vivenciem experiências em

comum.

Outro ponto que merece ser aprofundado está no fato dessa conexão

se estender por mais de uma geração, considerando-se que os

jovens paulistanos de hoje diferem de seus pais em mais de um

aspecto, o que não impede que a relação com a black music tenha

continuidade.

Destacam-se entre os aspectos que diferenciam esse grupo,

mudanças ocorridas não apenas no seio da própria comunidade,

mas fatores que envolvem a sociedade brasileira como um todo,

como uma mudança na economia e na política, que ainda que não

tenham acabado com o abismo social entre brancos e negros no

Brasil, deu a esses jovens um novo poder de consumo, poder esse

que também envolve o consumo dos produtos da indústria cultural.

Procura-se assim traçar aqui um panorama histórico da relação

entre a black music norte-americana e a juventude negra de São

Paulo como símbolo do elo existente entre os povos da diáspora,

pessoas que trazem em sua trajetória um passado comum não

apenas de escravidão e exclusão, mas também de força e

resistência.

Para um melhor aprofundamento nos conceitos aqui explicitados

utilizo os pensamentos sobre a diáspora de Stuart Hall, Paul Gilroy

e Franz Fannon, os conceitos de identidade trabalhados por Manuel

Castells, Kabengele Munanga, Ricardo Franklin Ferreira e Muniz

Sodré, somam-se a esses os conceitos de hibridação cultural de

Néstor Garcia Canclini, além de autores que se debruçam

especificamente sobre o tema como os estudos do Center for Black

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Music Research, da Columbia College Chicago e também estudos

realizados por pesquisadores brasileiros como João Batista Félix,

Márcio Macedo, Márcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro e Rosangela

Malachias, entre outros.

Tambores Conectados

Ao se observar os jovens negros que frequentam as chamadas festas

blacks que ocorrem na cidade de São Paulo torna-se possível notar

características comuns ao grupo, características que ultrapassam

uma percepção estética relacionada ao uso de penteados e

vestimentas e envolve além dos usos e costumes do grupo a

formação de sua identidade.

Inspirados pela imagem refletida por artistas afro-americanos, esse

grupo tem nas festas um local de autoafirmação, onde cores,

músicas, estilos e atitudes atuam como símbolos identitários.

Contudo, ainda que não haja novidade em se observar o cotidiano

dessas festas, considerando-se que como dito anteriormente, as

mesmas ocorrem de modo contínuo desde a década de 1970, e

levando-se em consideração também o fato de que estas veem

sendo observadas separadamente por pesquisadores de diferentes

áreas do conhecimento há algum tempo, o estudo desse fenômeno

sob a ótica de uma ligação entre os povos da diáspora ainda se faz

raro.

E é a partir deste conceito de conexão dispórica que esse tema será

tratado aqui. A legitimação do estudo das manifestações culturais

como elo entre os povos da diáspora se faz presente em Stuart Hall

(2003, p.342) que explicita que o povo da diáspora negra tem

fundamentado sua forma e estrutura cultural na música.

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Com visão semelhante, Paul Gilroy (2001, p. 61) afirma que

examinar o lugar da música nesse contexto envolve examinar as

relações sociais que esta tem produzido e reproduzido como cultura

expressiva única.

Dessa maneira, o início dessa dinâmica se dá ainda na década de

1970, época em que os bailes eram realizados nos quintais de casas

espalhadas por diferentes bairros da periferia de São Paulo.

Inspirados por uma movimentação que ocorria em outra grande

metrópole brasileira, o Rio de Janeiro, os jovens negros paulistanos

passavam a ter seu primeiro contato com a soul music.

O ritmo que tinha entre seus principais representantes o pai do soul,

James Brown, logo virou febre entre os jovens da época e trazia

consigo os primeiros passos para a formação de uma identidade

negra diaspórica, que envolvia aspectos culturais e políticos.

Sendo este um período de grande efervescência política e cultural

nos Estados Unidos, o contato com a black music e as

manifestações ocorridas naquele país tem influencia direta sobre a

formação identitária dos jovens negros da época, caracterizando o

pensamento de Manuel Castells (1996, p.22) de que identidade

pode ser definida como “o processo de construção de significado

com base em um atributo cultural”

A partir do pensamento explicitado por Kabengele Munanga (2009,

p.20), entendemos que nesse contexto a identidade buscada pelo

grupo não se refere apenas às diferentes tonalidades de pele, mas e,

principalmente, a uma história comum aos grupos considerados

negros ao redor do mundo.

Privados de referenciais positivos para que pudessem se espelhar o

contato com essa nova dinâmica faz com que os jovens brasileiros

passem a ver a luta e as conquistas do povo negro norte-americano

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como fonte de inspiração e passem a reproduzir esta dinâmica no

Brasil, ainda que esta ganhe características próprias.

Exemplificando o conceito explicitado por Ricardo Franklin

Ferreira (2004, p.47) de que “identidade é uma referência em torno

da qual a pessoa se constitui”, os jovens negros paulistanos veem

nos ícones da black music uma base para a construção de sua

identidade. Isso se justifica principalmente, pela deficiência na

formação da identidade afro-brasileira, que se dá principalmente

pela invisibilidade do negro brasileiro não somente durantes os 300

anos em que perdurou a escravidão, mas também nos 124 anos pós-

abolição, propiciada por diferentes faces do racismo.

Somados a esses fatores, as poucas opções de lazer para os jovens

da época, também colaboram para que as festas realizadas nos

fundos dos quintais se mostrassem extremamente atrativas e

passassem a atrair mais pessoas do que o esperado. Com isso,

surgem em diferentes pontos da cidade, grupos de amigos que

decidem locar espaços para a realização de seus bailes.

Nesse contexto, a inspiração mais uma vez surge das festas souls

cariocas que já contavam com grandes equipes de bailes e

inspiraram a formação de equipes em São Paulo.

A trilha sonora composta principalmente pelos grandes nomes da

música negra norte-americana chegava aos organizadores por meio

de contatos que trabalhavam nas companhias aéreas, por regiões

portuárias, como Santos e o próprio Rio de Janeiro e em raros

momentos por alguns dos organizadores das equipes que iam aos

Estados Unidos e traziam material para os bailes.

As grandes lojas de disco no centro de São Paulo também serviam

como local de busca de novidades para os bailes e era nas capas dos

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discos, que eles passavam a descobrir outros lançamentos e

sucessos.

A divulgação das festas ocorria por meio de circulares, hoje

denominadas flyers, que eram feitas pelos próprios participantes e

distribuídas em lugares que eram pontos de encontro dos jovens

negros como as grandes galerias na Rua 24 de maio e o Viaduto do

Chá.

Contudo, a música não era a única coisa partilhada pelos

organizadores e frequentadores dos bailes. Em busca de material

para os bailes por muitas vezes os jovens da época acabavam por

ter contato com revistas importadas que traziam em seu conteúdo

informações sobre as manifestações políticas ocorridas naquele

país. Dessa maneira obtinham conhecimento sobre temas como o

movimento pelos direitos civis, o movimento Black Panthers e

Black Power e líderes como Martin Luther King e Malcom X.

Ainda que este conhecimento fosse obtido por poucos, o baile

passava então a se tornar um local não apenas para diversão, mas

também para uma formação política, que acontecia principalmente

por meio de mensagens transmitidas informalmente pelos

organizadores.

Porém, essa identificação só se tornou possível devido às

semelhanças existentes na luta destes dois povos da diáspora pela

inclusão da população negra na sociedade.

Alguns fatos podem exemplificar como apesar de viverem em

contextos históricos diferenciados, o racismo e a luta da população

negra existentes nos dois países provocam uma identificação entre a

comunidade negra brasileira e a americana.

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Como exemplos mais concretos, podemos comparar o fato de que

enquanto as décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, foram

marcadas por lutas como o fim da segregação e a integração de

jovens negros nas escolas (que apesar de ter tido início na década

de 1950, ainda não se fazia completa), no Brasil (país que não

possuía nenhuma lei que autorizasse a segregação), o movimento

negro surgia a partir de protestos contra a expulsão de quatro jovens

que haviam sido agredidos por desejar fazer parte de um time de

vôlei, em um clube em São Paulo.

Da mesma maneira, enquanto nos Estados Unidos, o movimento

Black Panthers tem como principal bandeira a defesa da população

negra contra a brutalidade policial, a população negra em São Paulo

realiza um protesto em frente ao teatro municipal, contra a morte de

um jovem negro dentro de uma delegacia em Guaianazes, o que

marca o início da organização que se tornou conhecida

posteriormente como Movimento Negro Unificado.

Ressalta-se, porém, que as manifestações de resistência da

comunidade negra no Brasil, não tiveram início com a presença da

black music nos bailes, estas existiram desde que os povos

africanos foram sequestrados e trazidos como escravos para o país.

O que se intensifica com a black music é a inspiração em ícones

afro-americanos, para uma formação de uma negritude brasileira.

A afirmação acima pode gerar dúvida sobre por qual razão esse

grupo não buscou então referenciais nessa resistência negra

brasileira e foi buscar exemplos em outro país. A resposta pode

estar na afirmação de Michel Wieviorka (2007, p.117) de que não

se pode analisar o racismo contemporâneo sem se avaliar o papel

que a mídia desempenha nesse contexto, seja para sua difusão ou

para a regressão do fenômeno.

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A partir deste pensamento destacamos aqui a pouca

representatividade na mídia de uma imagem positiva do negro

brasileiro, o que interferiu diretamente na formação identitária

desse grupo (SODRÉ, 1999, p.246) e contribuiu de maneira intensa

para que este passasse a buscar referenciais na cultura afro-

americana.

A identificação com esses ícones contribuiu não apenas para o

surgimento dos grandes bailes, mas também para o sucesso que

estes obtiveram em pouco tempo.

Em épocas áureas dos grandes bailes os organizadores contavam

com um público que variava entre 10 e 20 mil pessoas, que lotavam

casas de show e espaços como o Ginásio do Palmeiras. Nesse

período a ligação com a black music se confirma, quando grandes

shows são realizados e tem como principais atrações, ídolos negros

americanos que faziam grande sucesso entre o público frequentador

dos bailes, como James Brown, DJ Cash Money & Marvelous,

Whodini, Gloria Gaynor entre outros.

De acordo com Márcio Macedo (2007, p. 18), em São Paulo, “Para

captar esse turbilhão de coisas novas não era necessário ler livros

ou viajar para lugares distantes, bastava se produzir e frequentar um

baile da Chic Show” Essa afirmação tenta traduzir a realidade dos

bailes da época, em razão destes ocorrerem em um período em que

a maioria da população negra brasileira, ainda era uma minoria

sócio econômica e não possuía os recursos financeiros necessários

para realizar viagens internacionais.

Em meados da década de 1980, os grandes bailes perdem um pouco

de sua força, mas isso não impede que dentre seus organizadores e

frequentadores surjam nomes que se tornaram referências não

apenas na memória da comunidade negra paulistana, mas também

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na trajetória da black music no Brasil. Entre estes se destacam a

equipe Chic Show, responsável por grande parte dos eventos

realizados na época e figuras lendárias como o pernambucano

Nelson Triunfo que se tornou destaque ao apresentar coreografias

no melhor estilo soul music, com o grupo Funk Cia.

Os grandes bailes se estenderam até o final da década de 1980,

quando ainda que não deixassem de existir perderam sua força e

não atraiam mais multidões.

O final da era dos bailes, porém não significou o fim da relação

entre juventude negra e black music em São Paulo. Como

explicitado por Paul Gilroy (1991, p.154), a cultura negra possui

como característica a capacidade de se criar e recriar

constantemente e dessa maneira, a geração dos grandes bailes

blacks dá lugar a uma nova geração da juventude negra paulistana

que chegou a conhecer os bailes, mas passa a se relacionar com

outra vertente da música afro-americana.

Inspirados no movimento criado nos guetos nova iorquinos na

década de 1970, surge em São Paulo em meados da década de 1980

indícios do que se tornaria o movimento hip hop no Brasil.

A partir de reuniões ocorridas nos vãos da estação São Bento do

Metrô, nomes como Racionais MCs, Rappin Hood e Thaíde que se

tornariam figuras ilustres do rap nacional, mas que na época eram

apenas jovens que desejavam se divertir, se reuniam com outros

tantos anônimos e reproduziam em território nacional cenas que há

algum tempo já aconteciam nos Estados Unidos.

Nesses encontros os jovens aproveitavam para realizar passos de

break dance, herança dos grandes bailes, e faziam uso de um estilo

que na época era denominado pelos mesmos de tagarela, mas que

hoje já se internacionalizou como rap, palavra que em inglês

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significa ritmo e poesia (rhythm and poetry) para denunciar as

agruras e mazelas sofridas pelos jovens negros na periferia de São

Paulo.

Nessa época o movimento hip hop, que hoje possui extrema

importância no cenário sociocultural do país, se desenvolveu sem

nenhum tipo de atenção positiva por parte da mídia e das classes

superiores exemplificando o que Stuart Hall (2003, p. 338) intitula

como vozes das margens.

A marginalidade acompanhou o rap e o movimento hip hop no

Brasil em toda sua primeira fase, não apenas pelas denúncias

existentes em suas letras, mas também em sua forma de divulgação

e comercialização, que se deu principalmente por meio de rádios

comunitárias e mídias alternativas, conhecidos popularmente como

CDs “piratas” que eram vendidos durante os shows realizados em

casas noturnas na periferia da cidade.

Com relatos que narravam desde a miséria e a fome, até o descaso

dos governantes para com os bairros periféricos e a violência

policial, intercalados a frases que referenciavam uma

conscientização do lugar que a população negra ocupava na

sociedade, as letras de rap desse período se tornaram a voz dos

excluídos, fossem eles pobres ou até mesmo aqueles vistos como

criminosos pela sociedade.

As denúncias incomodaram a mídia que em um primeiro momento

passou a imagem dos adeptos do hip hop como seres à margem da

sociedade, como inimigos da moral e dos bons costumes,

principalmente devido às gírias e palavrões presentes nas letras.

Mas foi essa marginalidade que impulsionou o crescimento do

movimento não apenas em São Paulo, mas em todas as periferias

brasileiras, pois trouxe aos que se sentiam excluídos a sensação de

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pertencimento, por verem seu reflexo em jovens que haviam

vivenciado a mesma realidade.

Com essa atuação política, misturada a uma manifestação cultural,

o que era uma posição marginal se se tornou um espaço produtivo,

como resultado das políticas culturais da diferença (HALL, 2003, p.

338).

Esse caráter de denúncia que o rap nacional ganhou nesse primeiro

momento, se apresenta mais uma vez como herança da relação dos

jovens negros paulistanos com a música negra norte-americana, já

que estas tinham como principal característica na época as

denúncias sofridas pela população negra nos guetos do país.

Em outras palavras ainda que em pontos diferentes do atlântico a

população negra nos dois países, em especial em seus grandes

centros urbanos estava vivenciando realidades semelhantes.

Como exemplo de como nesse contexto a música também se mostra

como um elo entre os povos da diáspora apresenta-se aqui uma

comparação entre letras de dois grupos de rap conhecidos tanto no

cenário nacional como internacional.

Do rap nacional escolhe-se um de seus principais referenciais, o

grupo paulistano Racionais MCs. Liderado pelo rapper, Mano

Brown, o grupo foi pioneiro ao introduzir o caráter de denúncia em

suas letras e agrega legiões de fãs em todo o Brasil.

Da cena norte-americana apresenta-se o Public Enemy, grupo que

serviu de fonte de inspiração para muitos jovens brasileiros, entre

eles os próprios integrantes do Racionais MCs.

Ao se comparar letras de algumas músicas desses dois grupos se

mostra perceptível a semelhança em seu conteúdo.

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Enquanto na letra 911 is a Joke, o grupo norte-americano narra o

descaso do serviço de emergência nos Estados Unidos, ao afirmar

“Now I dialed 9-1-1 a long time ago Don't you see how late they're

reactin' They only come and they come when they wanna” (Eu

disquei 911 há muito tempo atrás e você não vê o quanto eles estão

atrasados em responder, eles só vem quando eles querem), em O

homem na estrada, o grupo brasileiro narra a violência e o descaso

policial ao cantar a polêmica frase “Não confio na polícia, raça do

caralho. Se eles me acham baleado na calçada, chutam minha cara e

cospem em mim”.

Outro exemplo em músicas dos mesmos grupos, mas que dessa vez

marcam fatos históricos ocorridos nos dois países, estão nas letras

de Burn Holywood burn, que faz referência aos levantes ocorridos

na cidade de Los Angeles, em 1992 e em Diário de um detento, que

narra o massacre do Carandiru ocorrido em São Paulo, também em

1992.

Em ambos os exemplos, o tom de protesto denuncia a violência do

Estado contra a comunidade negra, ainda que em países diferentes.

Exemplifica também, como diferentes pontos da diáspora estão

conectados, pois nesse caso a música, que se enquadra dentro da

cultura está diretamente ligada à denúncia do racismo e da

opressão.

Essa característica contestadora e a maneira como o hip hop se

espalhou pelas periferias brasileiras refletem o pensamento do

diretor do Center for Black Music Research, da Columbia College

Chicago, Samuel Floyd Jr. (1995, p. 227), que em seu livro The

power of Black Music afirma que “A música Afro Americana

sempre refletiu uma série de batalhas e de realizações”.

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As realizações geradas em meio à juventude negra paulistana

ganham nova roupagem quando entre meados da década de 1990 e

o início do novo milênio, se faz possível notar mais uma vez o

quanto as mudanças ocorridas no cenário da black music nos

Estados Unidos exercem influência sobre a juventude negra que

frequenta as festas em São Paulo.

Nesse momento, o hip hop norte-americano ganha novo formato ao

ser absorvido pela indústria cultural. Com o fim da disputa entre as

costas leste e oeste4, marcado principalmente pela morte dos

cantores Tupac e Notorious BIG, os músicos norte-americanos que

estão presentes na grande mídia deixam os tons de protesto de lado

e passam a ostentar riqueza e sensualidade.

Surge também nesse período novos nomes do Rhythym and Blues,

ou simplesmente R&B, canções que tem como principal

característica as letras românticas e dançantes e que tem como

adeptos diversas divas femininas da música afro-americana.

Essas mudanças fazem com que a black music e os artistas

relacionados a estas se tornem fenômenos mundiais, com recordes

de vendas e fãs espalhados nos quatro cantos dos planetas que lhes

garantem recordes de público durante suas apresentações.

Essas mudanças refletem o poder que segundo Stuart Hall (2003,

p.254) as indústrias culturais possuem de se remodelar e ajustar as

definições de “nós mesmos” às descrições da cultura dominante.

Em outras palavras a indústria cultural remodelou a imagem não

4 Durante os anos 90 o hip hop norte-americano apresentou uma disputa entre músicos da costa oeste

(Califórnia) e costa leste (Nova Iorque), que ultrapassou as fronteiras da cultura e se tornou uma guerra

sangrenta entre os chamados gangsta rappers o que culminou na morte dos principais representantes de cada lado. Tupac Shakur e Notorius BIG.

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apenas da black music, mas também dos ícones desse ritmo, que

servem como espelho para jovens negros em todo o mundo.

Em São Paulo, não foi diferente e o Rhythm and Blues passou a ser

um atrativo para jovens negros que frequentavam as chamadas

festas blacks espalhadas pela cidade. Mas nesse contexto uma peça

fundamental passa a mudar as características desse grupo.

Com a visibilidade garantida pela indústria cultural para a black

music, esta se torna um fenômeno e passa a ser uma garantia de

sucesso. Motivados por essa realidade, os proprietários de

danceterias de casas de elite em São Paulo, que até o momento

tinham como público alvo jovens brancos de classe média e classe

média alta, passam a contratar conhecidos DJs do cenário black e a

oferecer em seu repertório noites regadas a black music, para

agradar seu público fiel que também foi atingido por esta novidade.

Contudo, ainda que essa mudança na agenda das casas noturnas não

tivesse como alvo os jovens negros da periferia, esses acabam

sendo atingidos e dominando o cenário das festas blacks em clubes

de classe média.

Atraídos pelas facilidades, os jovens da nova geração, que

diferentemente das gerações anteriores vivem um novo momento

econômico do país, onde apesar da desigualdade que ainda persiste,

a população negra passa a ter um maior acesso aos bens de

consumo e com isso passam a cruzar a ponte e serem figuras

constantes em casas de bairros como Vila Madalena, Jardins e Vila

Olímpia, lugares que anteriormente não constava da rota de bailes.

Ainda que a imagem transmitida pelos videoclipes não corresponda

a uma verdade absoluta da realidade vivida pelos afro-americanos,

esta se torna símbolo de uma sociedade onde a população negra se

destaca por possuir um poder aquisitivo maior e ascensão social e

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faz com que os jovens negros que frequentam as festas paulistanas

tenham desejo de se aproximar o máximo possível da imagem

transmitida por eles.

Esta realidade caracteriza o pensamento de Márcio Macedo (2007,

p. 22), de que a globalização econômica foi a responsável pela

divulgação de um conceito que envolve um estilo de vida e uma

estética referentes à população negra.

Dentre esses jovens, muitos, se não a grande maioria são filhos ou

possuem um grau de parentesco direto com aqueles que

frequentaram as tradicionais festas blacks das décadas de 1970 e

1980.

Além de um maior poder aquisitivo, outras características, porém

os diferenciam das gerações anteriores, entre estas está o acesso às

informações sobre o que acontece nos Estados Unidos que se dá de

modo muito mais rápido com o uso da internet, em especial das

redes sociais.

No novo milênio, os membros da geração y tem acesso

praticamente instantâneo a qualquer informação e com os jovens

frequentadores das festas blacks isso também acontece.

O acesso às músicas e videoclipes que antes precisava ser

intermediado pelos organizadores de bailes, no cenário atual estão

disponíveis para qualquer pessoa que tenha acesso a internet.

Além do repertório, criam-se a partir da internet, conexões com

pessoas de outras partes do globo e principalmente dos Estados

Unidos, para partilhar informações e receber novidades.

Essa ferramenta se mostra útil não apenas para os frequentadores,

mas também para os DJs que passam a ter seu trabalho facilitado

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pelos avanços tecnológicos e em muitos casos tem em programas

de computador um substituto para os discos de vinil.

Nesse contexto, as diferenças existentes na realidade dos

frequentadores de bailes e os jovens negros afro-americanos não

tem grande interferência na maneira como esses se relacionam o

que se torna possível, pois de acordo com Nestor Garcia Canclini

(2008, p. 53) na internet são construídos “grupos de iguais através

da sociabilidade na rede, em que os contatos são cada vez mais

seletivos e autônomos”. O que passa a esses jovens uma sensação

de pertencimento.

Essa sensação de pertencimento se reflete também ao se observar a

maneira como esses jovens se vestem, no linguajar que usam, nos

esportes que praticam, todos claramente inspirados nos ícones afro-

americanos e na imagem que eles transmitem em seus videoclipes.

Nesse contexto, nem o idioma que poderia ser uma barreira entre os

jovens negros daqui e a cultura afro-americana, interfere na

dinâmica, pois o idioma que no passado era conhecido de poucos,

com a globalização passou a fazer parte do cotidiano de grande

parte dos jovens ainda que estes tenham apenas um conhecimento

básico. A globalização faz assim que o inglês deixe de ser um

idioma estrangeiro e passe a se tornar uma condição de

modernidade (ORTIZ, 2006, p. 17 e 24).

Mas a chegada do novo milênio e a face comercial do cenário black

em São Paulo não atingiram toda a massa de consumidores de

black music da mesma maneira. Ainda que as festas nas casas de

classe média tenham seguido a dinâmica da indústria cultural, um

grupo grande de seguidores do hip hop ainda frequenta festas que

são regadas pelo rap nacional e músicas que fazem parte da

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denominada old school, ou velha escola, do hip hop norte-

americano.

Estas se diferem, pois ainda que os jovens possuam as mesmas

características dos frequentadores de festas blacks, estes se mantém

fiéis ao caráter contestador do hip hop, ainda apresentam no som

que produzem o tom de denúncia e buscam um contato maior com

ícones de uma militância política.

A linha que separa os dois grupos é tênue e não é difícil encontrar

jovens que caminham pelos dois tipos de festa. Como característica

em comum os dois grupos possuem o contato com ícones da música

e da militância afro-americana, o que corrobora a perspectiva da

influência diaspórica existente.

Considerações Finais

Observa-se neste artigo que a conexão existente entre os povos da

diáspora envolve também as manifestações culturais e a maneira

como essas influenciam os indivíduos em diferentes países.

Tomando como ponto de partida a existência de uma influência da

black music norte-americana na juventude negra que frequenta

festas blacks da cidade de São Paulo, aponta-se aqui como essa

conexão se faz possível.

Sob uma perspectiva histórica, compreende-se que esta

manifestação cultural teve início na década de 1970 e se mantém

ativa até o presente momento, ainda que apresente novas

características.

Observa-se também, que a black music norte-americana

desempenha a função de elo entre a juventude negra paulistana e o

ideal de uma população negra com oportunidades representada pela

sociedade afro-americana. Esta relação iniciada dentro das

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danceterias se aprofunda e ganha novas proporções ao refletir no

cotidiano desses jovens.

Nota-se essa absorção de usos e costumes de várias maneiras, a

mais perceptível por uma mudança no que diz respeito à moda,

roupas, cabelos e utensílios. Mas também são visíveis ao se

observar uma postura diferenciada, traduzida em atitudes e

apropriações de expressões idiomáticas e práticas que são

associadas às imagens de uma sociedade bem sucedida. O que se

torna um desejo de consumo desse grupo.

Mais do que entender a maneira como certas manifestações

culturais se desenvolvem, o estudo desse fenômeno busca mostrar

que para os povos da diáspora africana, a cultura se apresenta

também como uma forma de combate ao racismo e como meio para

a construção de uma identidade negra, ainda que em alguns

momentos essa formação identitária seja superficial.

Longe de apresentar uma conclusão, o estudo deste fenômeno ainda

está no início e irá se desenvolver em outros trabalhos de maneira

mais minuciosa e profunda.

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