a biblioteca como fator de estÍmulo À leituraexerce o papel de primeira e mais importante...
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
A BIBLIOTECA COMO FATOR DE ESTÍMULO À LEITURA
CURITIBA
DEZEMBRO/2009
A BIBLIOTECA COMO FATOR DE ESTÍMULO À LEITURA
Marilda de Paula Soares1
RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa quantitativa
aplicada aos alunos de 5a séries do Colégio Estadual Prof. Mário Brandão Teixeira
Braga, de Piraquara, PR, a fim de verificar de que forma o espaço da biblioteca da
escola vem sendo utilizado de modo a estimular no aluno o gosto pela leitura. Dentre
as conclusões às quais se chegou, a principal foi a de que, mesmo entre os poucos
alunos que tomam livros emprestado da biblioteca, quase nenhum a frequenta.
A partir das análises realizadas, pretende-se estabelecer algumas estratégias
pedagógicas através de atividades a serem realizadas com o objetivo de que a
mesma seja conhecida, percebida como um espaço importante no ambiente escolar
e, assim, assuma a sua real função.
Palavras-chave: Leitura. Biblioteca escolar.
RESUMEN: El artículo presenta los resultados de una investigación quantitativa
realizada con alumnos de 5ª series del Colegio Estadual Profesor “Mario Brandão
Teixeira Braga”, situado en Piraquara – Pr, con el objetivo de verificar de que
manera el espacio de la biblioteca escolar es utilizado. Las principales conclusiones
a que se ha llegado es que pocos alumnos la utilizan para emprestimos de libros, los
mismos casi no la visitan.
A partir de los análisis realizados, se pretiende estabelecer algunas
estrategias pedagogicas, a través de actividades que serán realizadas con el
objetivo de que la misma sea conocida, percibida como un espacio importante en el
ambiente escolar y, así, asuma su real función.
1 Professora participante do PDE:2008, orientada pelo professor Adão de Araújo, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
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1 INTRODUÇÃO
Vivemos num processo de constante transformações, a chamada era da
informação e do conhecimento. Diante desta enorme quantidade de informações
que se processam de forma muito rápida, a escola deve utilizar todos os recursos
disponíveis para que essas informações se processem. Entre os recursos, está a
biblioteca escolar, uma vez que ela também exerce uma função sócio-educativa.
Entretanto, para que ela exerça a contento sua função, muitos obstáculos de
ordem física e estratégica devem ser superados, dadas as evidentes precariedades,
como espaço físico inadequado, acervo insuficiente e falta de um profissional
qualificado para atuar.
Sabemos também que a escola vive um momento em que a crise da leitura é
evidente, crise constatada pelos professores, que asseveram o aluno apenas
soletrar as palavras, sem fazê-las ter sentido. Quem atua na escola percebe o
distanciamento dos alunos dos livros e a dificuldade em fazê-los entender a
necessidade da leitura para o desenvolvimento da aprendizagem.
Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em maio de 2008,
cujo objetivo principal foi diagnosticar e medir o comportamento leitor da população,
revelam que a escola exerce um papel extraordinariamente poderoso no
desenvolvimento da leitura e sinaliza os caminhos para fomentar sua prática fora
dela e pela vida afora dos leitores. Tais dados confirmam a necessária e estreita
relação entre leitura e educação e, objetivamente, com a escola, primeira
encarregada da alfabetização e do letramento. Esse vínculo torna-se imperativo num
país com as desigualdades sociais como as verificadas no Brasil, onde a família não
exerce o papel de primeira e mais importante definidora do valor da leitura. Com
relação aos dados levantados sobre o uso de bibliotecas, a pesquisa mostra que
muitos dos entrevistados sequer conhecem este espaço, e ela é vista como um lugar
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desinteressante.
A situação das bibliotecas despertou o interesse em saber de que maneira ela
é vista pelo aluno no contexto escolar e buscar alternativas que contribuam para a
formação do leitor.
Dessa forma, este artigo propõe-se a refletir sobre uma questão fundamental
que poderá contribuir para uma nova maneira de ver a biblioteca. Apresenta o
resultado de uma pesquisa quantitativa implementada entre os alunos de 5a. série
do período da manhã e tarde, a fim de procurar identificar de que forma o espaço da
biblioteca vem sendo utilizado para, então, criar alternativas para que ela seja
conhecida e frequentada e assuma a sua real função dentro do espaço da escola.
Além disso, procurará apresentar novas possibilidades para que a escola apresente
projetos voltados à leitura.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A leitura na escola
Já é proverbial a falta de leitura na escola e a dificuldade em compreender um
texto lido. Com freqüência, ouve-se pessoas afirmar que não lêem com assiduidade.
Entretanto se perguntarmos sobre a importância da leitura, ninguém afirmará o
contrário, indicando que ela não é importante para a transformação sócio-
econômica, uma experiência enriquecedora de conhecimento e satisfação pessoal e
se constitui fator primordial no processo educativo.
Segundo Zilberman (2003, p. 16), “a sala de aula é um espaço privilegiado
para o desenvolvimento do gosto pela leitura”. Não só a sala de aula, mas toda a
escola deveria ser esse espaço privilegiado para se promover o hábito de ler. Ela
deve assumir verdadeiramente a sua responsabilidade na constituição do sujeito
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leitor. Nesse aspecto, o espaço da biblioteca é de suma importância no contexto
escolar. Quem atua na escola percebe o distanciamento dos alunos dos livros e a
dificuldade em fazê-los entender a necessidade da leitura para o desenvolvimento
da aprendizagem.
Oferecer possibilidades para que se promova a leitura é um compromisso que
deve ser assumido por toda a sociedade, criando condições para que as escolas e
as bibliotecas desenvolvam atividades que se destinam ao cultivo do interesse pelo
livro, só assim é possível também pensar no prazer de ler. Apenas afirmar que o
aluno não lê, não resolverá o problema. Ele precisa perceber a importância da
leitura, sentir o prazer em ler, estar em contato com o objeto livro, e, obviamente,
com a literatura uma vez que ela é a representação de uma cultura.
Na sala de aula e nos outros espaços de encontro com os alunos, professores de Língua Portuguesa e Literatura têm o papel de promover o amadurecimento do domínio discursivo da oralidade, da leitura e da escrita, para que os estudantes compreendam e possam interferir nas relações de poder com seus próprios pontos de vista fazendo deslizar o signo verdade-poder em direção a outras significações que permitam, ao mesmos estudantes, a sua emancipação e a autonomia em relação pensamento e às
práticas de linguagem imprescindíveis ao convívio social. ( PARANÁ, 2008, p.29)
Outro fator importante que deve ser levado em conta é o papel do professor
enquanto mediador dos processos de leitura. É necessário estar comprometido com
a formação do leitor, só assim o aluno será capaz de agir frente à realidade de
maneira crítica e, principalmente, se posicionar diante dessa realidade tão
diversificada.
Ao mesmo tempo, afirma Silva (1983, p. 59), “é infantilidade atribuir
exclusivamente à escola a culpa pela não formação de leitores”. Para o autor, as
raízes do problema estão em todo o corpo social. Só será possível o
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amadurecimento do leitor quando houver o questionamento da alienação imposta e
ele for levado a ler mais criticamente a realidade. Há, também, três condicionantes
da leitura: tempo, poder aquisitivo e a presença de bibliotecas.
É necessário, pois, refletir de que maneira o espaço escolar está contribuindo
para a leitura, se a concepção do professor sobre o assunto influencia a sua prática
em sala e como é cultivado o gosto pela leitura.
Há muito, também, se vem inquirindo a respeito da gênese da leitura, e
muitos são os conceitos que a definem, desde a formação do leitor até o ato de ler.
Pesquisas e estudos sobre a leitura escolarizada cresceram no país a partir dos
anos 80, gerando várias concepções e possibilidades de promovê-la no ambiente
escolar. Com essa crescente popularização do tema devido aos estudos
linguísticos, a leitura recebeu atenção de maneira especial. Há muito se conhece a
importância da formação do hábito ou do gosto pela leitura já nos primeiros anos de
vida de uma criança.
Apesar de tantos se debruçarem sobre o assunto, o que se verifica ainda é a
precariedade ou a inexistência dessa formação. Essa “crise da leitura” apresenta
inúmeras dificuldades, principalmente no campo da educação escolar, e, mais
diretamente, evidencia as deficiências no processo de alfabetização.
Segundo SILVA (1983, p. 58), “sem dúvida que, modernamente, a escola se
transformou no principal órgão responsável pela formação e desenvolvimento de
leitores”. O autor também afirma que a leitura é capaz de combater a alienação e é
uma atividade de conscientização e de libertação. Desse modo, a leitura, além de
suporte do conhecimento, é capaz de desempenhar a função social de promover a
transformação do sujeito, a sua emancipação e assimilação de valores. Outro
questionamento ainda é se a circulação do livro se processa democraticamente para
toda a população, e se a mesma permite a presença de leitores críticos e
transformadores.
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Sobre a importância do ato de ler, Freire (2005, p. 11) afirma que “a leitura
não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita,
mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”. Isso significa que o leitor
não exerce um papel passivo diante da leitura. O mesmo conceito está explícito nas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p.35), ao se referirem à prática
da leitura como um ato dialógico: O aluno/leitor, nesse contexto, passa a ter um
papel ativo no processo de leitura, é o responsável por “reconstruir o sentido do
texto”.
Outros autores também concebem a leitura a partir do ponto de vista do leitor,
que é capaz de relacionar o que leu com outros textos. Para Lajolo, ler:
[...] não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É a partir do texto ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os textos significativos para cada um reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista
(LAJOLO,1988, p. 59).
Outro autor que atribui ao leitor o papel de dar sentido ao texto é Foucambert
(1994, p. 5):
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte de novas informações ao que já se é.
Nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, ao abordarem o ensino da
literatura, estão presentes os pressupostos teóricos da Estética da Recepção. Nessa
perspectiva de ensino, o leitor não é passivo, há uma relação entre ele e a obra, um
confronto entre a representação do mundo do autor com o mundo desse leitor, no
ato ao mesmo tempo solitário e dialógico da leitura. Aquele que lê amplia o seu
universo, mas amplia também o universo da obra a partir da sua experiência cultural.
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Outro aspecto bastante discutido é que, mesmo se a leitura deve ser um
hábito, deve ser também fonte de prazer, nunca uma atividade obrigatória, cercada
de ameaças, castigos ou encarada como uma imposição dos adultos. Para ler, é
preciso gostar de ler. Eis o desafio da escola.
Esse é um objetivo: sabemos que a leitura é uma forma altamente ativa de lazer. Em vez de propiciar sobretudo repouso e abnegação (daí massificação), como ocorre em formas passivas de lazer, a leitura exige um grau maior de consciência e atenção, uma participação afetiva do recebedor leitor. Seria, pois, muito importante que a escola procurasse desenvolver no aluno formas ativas de lazer, aquelas que tornam o indivíduo crítico, mais consciente e produtivo. (CUNHA, 1985, p. 40)
A leitura não é uma técnica que visa à informação e educação simplesmente;
deve ser mais um prazer desencadeante de identificações e compensações, para
uma inserção mais rápida na realidade.
A leitura de mundo da criança inicia antes da leitura da palavra, através de
histórias narradas, brincadeira e outras atividades. Paulo Freire relata experiências
de sua infância que contribuíram para o desenvolvimento da sua primeira leitura, “a
leitura do seu mundo”, para depois a leitura da palavra. Portanto, o gosto pela leitura
começa na infância, muito antes de se aprender a ler.
A escola é o espaço em que são criadas as condições ao professor, através
de programas, para promover a leitura ou, retomando ainda o conceito de
Foucambert (1994, p.5): ler é “poder ter acesso à escrita”. Desse modo, seria
possível o contato do aluno com bens culturais, principalmente aqueles conservados
através da linguagem escrita.
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(...) a escola é, às vezes, a única oportunidade que as crianças têm de entrar em contato com a leitura. Se a gente contar o número absoluto de crianças que lêem ou que tiveram acesso à leitura, vai ver que um grande número teve acesso à leitura através da escola(GARCIA, 1988, p.15)
Para Machado (1999, p.36), a escola é a principal, senão a única fonte de
contato com o livro. Para ele, grande parte da população só vai se tornar leitora se
tiver contato com uma boa bibliografia. Assim sendo, a escola deve, através do
professor, bibliotecário e todos os envolvidos no processo, selecionar textos de
qualidade e desenvolver atividades que funcionem como estímulo à leitura e levem o
leitor à reflexão.
A proposta de que a leitura seja reintroduzida na sala de aula significa o
resgate de sua função primordial, buscando sobretudo a recuperação de contato do
aluno com o livro.
À escola, não cabe apenas “ensinar a ler” ou fornecer informações, mas
enriquecer o aluno com a aquisição de instrumento para o seu processo permanente
de autoformação. A leitura é uma forma de “dar voz ao cidadão e é preciso prepará-
lo para tornar sujeito do ato de ler” (Freire, 1985, p.51). Por conseguinte, deverá a
escola fornecer condições de acesso ao livro, para que este leve à leitura
interpretativa da vida, que ajudará o indivíduo na transformação do mundo.
Por que nossos alunos não lêem? Entre os vários os fatores está a família,
que geralmente não estimula a criança, porque também não lê. Outro fator que pode
provocar problemas de diversas natureza é a própria escola que, com a
responsabilidade de introduzir a criança no mundo dos livros, preocupa-se com uma
avaliação do produto leitura e, quando a inclui em suas atividades, o faz de forma
impositiva e desestimuladora, o que fortalece o quadro alarmante do não saber, não
gostar e não querer ler. Uma obra apresentada de forma impositiva perde seu valor
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artístico e, se utilizada pelo professor como portadora de informações prontas e
acabadas, limita o conhecimento do aluno.
A atividade com a literatura infantil - e, por extensão, com todo o tipo de obra de arte ficcional - desemboca num exercício de hermenêutica, uma vez que é mister dar relevância ao processo de compreensão, complementar à recepção, na medida que não apenas evidencia a captação de sentido, mas as relações que existem entre essa significação e a situação atual e histórica do leitor. (ZILBERMAN, 2003. p. 28)
Outro problema que afasta o aluno da leitura são as cobranças de
interpretações através da prova e de ficha de leitura, quase sempre com as mesmas
questões, o que torna o texto mero pretexto de questões acessórias, não deixando o
aluno sentir o texto e fazer seus próprios questionamentos. O texto passa a ser o
que o professor “manda ler”. Oferecem-se, muitas vezes, o livro didático e as
chamadas leituras obrigatórias, formando-se, assim, só leitores passivos, sem
condições de analisar criticamente as idéias contidas nos textos. Não há ousadia,
invenção, criação no trabalho com o livro, o que o torna algo desinteressante e
cansativo, tanto para o professor como, principalmente, para o aluno, que acaba
perdendo o interesse pela leitura.
2.2 A leitura na biblioteca
Como mencionado anteriormente, não cabe somente à escola a
responsabilidade pela formação do leitor, mas depende de uma serie de condições
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objetivas, dentre as quais a biblioteca é instrumento de apoio pedagógico e cultural.
Devido a sua estreita relação com o ensino, ela deve estar intimamente ligada ao
trabalho dos educadores. Infelizmente, na prática, as bibliotecas escolares estão
longe de exercer a sua real função: a de ser um instrumento motivador de leitura e
pesquisa ou, nas palavras de Lourenço Filho, citado por Silva (1995):
Ensino e biblioteca são instrumentos complementares [...], ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a alternativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será por seu lado, instrumento vago e incerto.
Machado (1999, p.36) também afirma que a escola é a principal, senão a
única fonte de contato com o livro. Para ele, grande parte da população só vai se
tornar leitora se tiver contato com uma boa bibliografia, por isso a escola, através do
professor, bibliotecário e todos os envolvidos no processo deve selecionar textos de
qualidade e desenvolver atividades que funcionem como estímulo à leitura e
reflexão.
Se todo o bom leitor é conseqüência da atmosfera reinante no seu contexto
social, principalmente daquela presente na escola e na biblioteca, esta assume um
papel de suma importância para a promoção da leitura. É um local para apresentar a
leitura como atividade natural e prazerosa, visto que, para muitos, trata-se da única
oportunidade de acesso a livros que não são didáticos.
Na biblioteca, entre as várias instâncias mediadoras da leitura, o professor, de
qualquer disciplina, deveria assumir o papel direto e imediato no processo. Esse
recinto deve ser visto, não como um anexo da escola, mas como espaço ativo do
conhecimento.
Borges (1982, p.3) estabelece, para a biblioteca escolar, duas funções de vital
importância: "a função educativa e a função cultural, justificadas pela preocupação
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de integrar a biblioteca aos objetivos, metas e planos da escola". Porém, muitas
vezes, não é o que vemos nas escolas:
(...) as escolas enfrentam inúmeras dificuldades para organizar uma biblioteca, manter - mesmo precariamente - as que existem ou ainda para tentar integrá-las no processo educacional." Com isso, milhões de alunos ficam privados de material bibliográfico, leitura e de outras fontes de informação além do próprio professor e do material didático. Em última análise, então, educandos sem acesso a uma biblioteca em sua própria escola correm mais o risco de ficar à margem de um ensino
democratizado.(FRAGOSO, 2002, p. 126)
Experiências com projetos de leitura revelam que é possível, através de
atividades mediadas pelo professor, articuladas com o bibliotecário e tendo como
objetivos o cultivo do gosto pelo livro, formar novos leitores com capacidade de
contextualizar o assunto dentro de sua realidade. Sabe-se, também, que, num
projeto de leitura, os resultados não são imediatos e exigem envolvimento de vários
segmentos da escola. Entretanto, suscitar a curiosidade, promover o contato com
textos de qualidade e levar o educando a frequentar o espaço da biblioteca já é um
bom começo neste processo de formação de leitores.
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3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
A metodologia utilizada para a pesquisa foi a pesquisa-ação. Para Moreira e
Caleffe (2006, p. 89-90), “pesquisa-ação é uma intervenção e pequena escala no
mundo real e um exame muito de perto dos efeitos dessa intervenção”. Como o
objetivo da pesquisa é verificar uma situação específica, num determinado espaço,
justifica-se tal modelo. Ainda, segundo os autores, “a pesquisa-ação é situacional -
está preocupada com o diagnóstico do problema em um contexto específico para
tentar resolvê-lo nesse contexto” (2006, p. 91). Com o resultado, será possível obter
informações que serão úteis ao desenvolvimento de futuros projetos de leitura a
serem implantados na escola.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário com
questões fechadas. O público investigado foram 148 alunos de 5ª série, do Colégio
Professor Mário Brandão Teixeira Braga. A pesquisa foi realizada em novembro de
2008; portanto, os alunos já frequentavam a escola havia quase um ano. Antes,
porém, o questionário foi submetido a um teste-piloto, ou seja, as questões foram
aplicadas a outros alunos - pequeno número - que não faziam parte da população-
alvo da pesquisa, com o objetivo de verificar a clareza ou não das perguntas, se a
ordem de apresentação estava adequada, evitar distorções, etc. Com o resultado do
pré-teste, fez-se a revisão do questionário. No instrumento de coleta de dados, em
anexo, os seguintes itens foram contemplados: características do aluno pesquisado;
gostos e preferências de leituras; se a escola proporciona momentos de leitura,
mediada pelo professor; a utilização da biblioteca (se o aluno frequenta e com qual
objetivo); acesso à leitura fora do ambiente escolar.
O projeto foi criado com sugestões de atividades direcionadas ao público de
5ª série. Durante o ano de 2009, aulas semanais de leitura foram realizadas na
biblioteca, com atividades direcionadas, e outras atividades foram desenvolvidas em
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sala de aula.
Os dados foram apresentados para a coordenação pedagógica e a direção, a
fim de que traçar estratégias para o ano letivo de 2009, tendo por base a pesquisa
realizada. Professores interessados em apoiar o projeto, a partir de um plano de
aula, elaboraram e executaram atividades com seus alunos na biblioteca.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A proposta do trabalho foi levar os envolvidos no processo educacional a uma
reflexão sobre o papel que a biblioteca exerce no espaço escolar. Algumas
atividades foram sugeridas com a finalidade de romper com a visão de que ela é
apenas uma anexo da escola, transformando-a num espaço de apoio ao educador
em suas ações e propiciando ao aluno interagir de forma cativante a esse mundo de
informações. Foi uma tentativa de mostrar a real função de uma biblioteca escolar,
de que pode ser um ambiente dinâmico, valorizando-a e aproximando o aluno do
livro, da leitura.
O questionário, a partir de perguntas simples, tinha como objetivo saber se o
aluno de 5ª série, já frequentando havia quase um ano a escola, conhecia a
biblioteca e de que maneira utilizava aquele espaço.
Os gráficos seguintes demonstram o resultado da pesquisa:
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GRÁFICO 1 – GOSTA DE LER?
GRÁFICO 2 – A LEITURA NA FASE INICIAL DE ESCOLARIDADE
0
20
40
60
80
100
120
140
Na escola onde estudou na 4ª série lia livros?
Sim - 121
Não - 27
Percebeu-se que o aluno de 5ª série gosta de ler. Diante desse resultado,
estabelecer estratégias de leitura no interior da escola se torna mais fácil.
A maioria dos pesquisados não conhece a biblioteca da cidade, fato que leva
a crer que a escola é realmente onde o aluno tem acesso ao livro.
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GRÁFICO 3 – CONHECE A BIBLIOTECA PÚBLICA?
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
C onhece abiblioteca pública
da cidade?
S im-135
Não - 13
GRÁFICO 4 - PREFERÊNCIA DE LEITURA
No primeiro contato dos alunos com a biblioteca, no processo de
sensibilização e conhecimento das normas de funcionamento, houve a confecção da
carteirinha, e imediatamente muitos passaram a fazer empréstimos, e foi grande o
interesse pelos gibis e livros de poesias. Os dados do questionário, portanto,
16
confirmam a preferência do leitor.
Analisando os gráficos 5 e 6, abaixo, percebe-se que o aluno entrevistado vai
pouco à biblioteca, e o percentual que a frequenta não o faz com o intuito de
emprestar livros para leitura em casa ─ um número relativamente alto a utiliza com o
objetivo de fazer trabalhos de pesquisa.
GRÁFICO 5 – UTILIZAÇÃO DA BIBLIOTECA DA ESCOLA
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GRÁFICO 6 – CONTATO COM A LEITURA EM SALA
Interessante observar que, dos 148 alunos que responderam ao questionário,
124 afirmam que o professor de outras disciplinas lêem para eles em sala de aula.
Porém, não foi perguntado o tipo de texto lido. Acredita-se que estão incluídos os
livros escolares (didáticos). Em relação aos dados abaixo (gráfico 7), os mesmos
alunos afirmam que o professor de Português leva poucos livros para leitura em
sala. Esses dados podem revelar que estimular a leitura em sala também se faz
necessário.
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GRÁFICO 7 – LEITURA EM SALA PELO PROFESSOR DE PORTUGUÊS
Perguntados sobre o acesso ao livro fora da escola, dos 148 respondentes,
95 afirmam que não têm nenhuma outra forma de acesso, constatação interessante,
que corrobora a tese de muitos especialistas, de que a escola é a principal ─ senão
a única ─ forma de contato da criança com livros.
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GRÁFICO 8 – POSSIBILIDADE DE LEITURA FORA DO ESPAÇO ESCOLAR
A partir da pesquisa, formou-se um Grupo de Apoio ao projeto, integrado por
professores e funcionários, com os objetivos de: socializar com educadores o
Projeto de leitura; debater o tema e o papel dos envolvido no processo de incentivo
à leitura, seja no âmbito da escola/biblioteca, seja no da família; analisar indicadores
apresentados em pesquisas realizadas em nível nacional, estadual e na própria
escola sobre o tema leitura; promover ações de melhorias de acesso ao livro na
biblioteca da escola; identificar de que maneira a leitura estava presente na sala de
aula. Além da leitura de textos teóricos sobre o tema, foram realizadas atividades
práticas a partir de um plano de aula que cada professor elaborou, com o objetivo de
incentivar o uso da biblioteca, promovendo a aproximação entre o aluno e o livro. Foi
importante a ação das responsáveis pela biblioteca.
Os alunos envolvidos no projeto tiveram aulas semanais de leitura na
biblioteca, além do incentivo aos empréstimos. As atividades previstas, e realizadas,
no projeto (levantamento do acervo bibliográfico de acordo com o grupo/tema de
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interesses dos alunos; sinopses das obras; leitura dos alunos com mediação da
bibliotecária e professora; atividades direcionadas com diferentes tipos de textos ─
poemas, contos, crônicas, narrativas mais longas...) deverão ter continuidade. As
“rodas de leitura” também foram interessantes para apresentação do livro.
Durante o período de desenvolvimento do projeto (ano de 2009), os
participantes, alunos de 5ª série, afirmaram terem sido muito interessantes as aulas
de leitura na biblioteca e as atividades realizadas. Tais comentários estão
registrados num diário elaborado com essa finalidade.
O projeto propiciou uma conscientização da importância da leitura, uma nova
forma de encarar a Biblioteca e sua funcionalidade; a oportunidade de aproximação
a acervo bibliográfico interessante; do hábito de frequentar este espaço, não como
forma de preencher a aula vaga, mas para usá-la com racionalidade. Durante o
desenvolvimento das atividades, observou-se uma mudança do tratamento dos
professores em relação à biblioteca escolar, que passou a ser vista como um local
de aprender e que existe para se obter informação e conhecimento.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa mostraram dados a respeito da presença da leitura
na vida dos entrevistados e do uso que fazem da biblioteca da escola. Apesar de,
muitas vezes, ser a única possibilidade de acesso ao livro, muitos não a frequentam
e, quando isso ocorre, fazem-no com outro objetivo, que não o empréstimo de livros.
Interessante observar que a leitura está presente na vida de alguns deles, que
afirmam gostar de ler.
Desse modo, atividades realizadas na biblioteca poderiam despertar mais o
interesse pelo livro.
Diante do exposto, constata-se ser necessário biblioteca e escola estarem em
sintonia para que os objetivos sejam alcançados. O uso desse espaço tão
importante deve ser incentivado de forma positiva, integrando ao currículo
atividades, ajudando no desenvolvimento criativo e crítico do educando e auxiliando
o professor no processo de aprendizagem.
Este trabalho defende a proposta de que a biblioteca escolar seja utilizada
como mais um ambiente de incentivo à leitura. Espera-se, também, que venha a
suscitar reflexões em todos os profissionais que contribuem na formação do leitor e
nos que atuam diretamente nas bibliotecas. Ressalta-se a contribuição do
profissional que trabalha na biblioteca para o desenvolvimento das atividades e na
execução do projeto. Vale lembrar que as atividades não se restringem ao período
de implementação do trabalho, pois o mesmo terá continuidade.
Espera-se que, no ano letivo de 2010, a leitura possa ser mais valorizada, que
haja continuidade do projeto e que outros relacionados ao tema sejam
desenvolvidos e, finalmente, que a biblioteca se torne um espaço, não somente para
realizar trabalhos e pesquisas, mas que seja um lugar acolhedor e atrativo e que a
presença do aluno seja uma constante.
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APÊNDICE - FORMULÁRIO DE PESQUISA
COLÉGIO ESTADUAL Professor “Mário Brandão Teixeira Braga”
PESQUISA – LEITURA
1 - Idade:( ) 10 anos ( ) 11 anos ( ) 12 anos ou mais2 - Sexo:( ) masculino ( ) feminino3 - Gosta de ler?( ) sim ( ) Não4 - Numere de 1 a 4 na ordem de sua preferência o que mais gosta de ler.( ) contos/fábulas( ) poemas( ) didáticos( ) gibis4 - Na escola onde estudou na 4ª série lia livros?( ) sim ( ) não5 - Conhece a biblioteca pública da cidade?( ) sim ( ) não6 - Costuma ir à biblioteca deste colégio?( ) sim ( ) raramente ( ) não7 - Quando vai à biblioteca deste colégio é para:( ) fazer trabalho/pesquisa( ) emprestar livros para leitura( ) emprestar livro didático para fazer trabalho ou pesquisa( ) outra finalidade ( entregar material para o/a professor(a), conversar, etc)( ) não vai à biblioteca8 - O/A professor(a) de qualquer disciplina/matéria lê para os alunos em sala?( ) sim ( ) não9 - O/A professora de Português leva livros que não seja o didático para osalunos lerem em sala?( ) sim, sempre ( ) às vezes ( ) não10 - Já foi obrigado(a) a ler um livro para ser avaliado (a)?() sim ( ) não11 - Fora da escola há outras possibilidades de leitura (comprar, ganhar livros,acesso a internet.....)( ) sim ( ) não
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