a bela catherine: dos contos maravilhosos para a … · novos modelos de sociedade, e sua paradoxal...
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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
A BELA CATHERINE: DOS CONTOS MARAVILHOSOS PARA A SÉRIE
Resumo: Para compreender como histórias seculares e de que forma personagens e relações são ressignificadasde Beauty and the beast, analisandocomo é representada a personagem principal, a detetive CathVincent Keller que, por causa de uma experiência no Afeganistão, tornasão fundamentais as reflexões sobre a literatura popular, revendo as estruturas narrativas que fundamentaram os gêneros populares, como o conto maravilhoso onde localizamos a tradição da história de A Bela e a Fera. Também é importante opara à cena a historicidade e a ideologia subjacente às práticas discursivas sociais. Palavras-chave: Relações de Gênero; Literatura Popular; Séries de Televisão; Conto Maravilhoso
Os contos populares desenvolveram
mudando seu status, mas mantendo uma função social importante. De antigas narrativ
objetivo era preencher o tempo ocioso entre as atividades laboriosas e apresentar modelos de
comportamento social e instruções normativas de convivência na comunidade, até a transformação
em narrativas voltadas para crianças, que mantiveram o fim e
permaneceram no imaginário das pessoas. Novos meios de comunicação e de entretenimento
trouxeram também outros formatos narrativos, mas também incorporaram as antigas histórias que,
transformadas ou adaptadas, voltam a s
que se apropriam de elementos desses textos, tais como as mais recentes
Beast, que fazem isso com uma referência direta, anunciando um diálogo intertextual.
Essas séries, que leio aqui como narrativas de ficção, embora o formato que se adequa às
novas tecnologias desenvolva-se como um gênero próprio, têm permanecido como opção de lazer e
entretenimento, mantendo-se com uma grande audiência, o que as faz contin
temporadas. O gênero se consolidou ao longo de sua história que caminha quase
história da televisão. No Brasil, as séries conseguem também segura audiência, mesmo com a
hegemonia das telenovelas, especialmente, após o adven
independentes, as séries não precisam ser acompanhadas dia a dia, no entanto seus consumidores
1 Professora Adjunta da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013
Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
CATHERINE: DOS CONTOS MARAVILHOSOS PARA A SÉRIE DE TELEVISÃO
Alvanita Almeida Santos
compreender como as atuais narrativas ficcionais televisivas apropriamhistórias seculares e de que forma personagens e relações são ressignificadas
, analisando-a a partir das perspectivas feministas, considerando a forma como é representada a personagem principal, a detetive Catherine Chandler, em sua relação com
que, por causa de uma experiência no Afeganistão, torna-se uma fera. Neste estudo, são fundamentais as reflexões sobre a literatura popular, revendo as estruturas narrativas que
ulares, como o conto maravilhoso onde localizamos a tradição da Também é importante o suporte da análise crítica do discurso que traz
para à cena a historicidade e a ideologia subjacente às práticas discursivas sociais.
chave: Relações de Gênero; Literatura Popular; Séries de Televisão; Conto Maravilhoso
Os contos populares desenvolveram-se ao longo da história, atravessando os séculos,
mudando seu status, mas mantendo uma função social importante. De antigas narrativ
objetivo era preencher o tempo ocioso entre as atividades laboriosas e apresentar modelos de
comportamento social e instruções normativas de convivência na comunidade, até a transformação
em narrativas voltadas para crianças, que mantiveram o fim educativo; as histórias maravilhosas
permaneceram no imaginário das pessoas. Novos meios de comunicação e de entretenimento
trouxeram também outros formatos narrativos, mas também incorporaram as antigas histórias que,
transformadas ou adaptadas, voltam a ser visitadas. Assim, são produzidas novas séries de televisão
que se apropriam de elementos desses textos, tais como as mais recentes Grimm
, que fazem isso com uma referência direta, anunciando um diálogo intertextual.
Essas séries, que leio aqui como narrativas de ficção, embora o formato que se adequa às
se como um gênero próprio, têm permanecido como opção de lazer e
se com uma grande audiência, o que as faz contin
temporadas. O gênero se consolidou ao longo de sua história que caminha quase
história da televisão. No Brasil, as séries conseguem também segura audiência, mesmo com a
hegemonia das telenovelas, especialmente, após o advento da TV por assinatura.
independentes, as séries não precisam ser acompanhadas dia a dia, no entanto seus consumidores
Professora Adjunta da Universidade Federal da Bahia (UFBA) - [email protected]
SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
1
CATHERINE: DOS CONTOS MARAVILHOSOS PARA A SÉRIE
Alvanita Almeida Santos 1
narrativas ficcionais televisivas apropriam-se de histórias seculares e de que forma personagens e relações são ressignificadas, apresento um estudo
a a partir das perspectivas feministas, considerando a forma erine Chandler, em sua relação com
se uma fera. Neste estudo, são fundamentais as reflexões sobre a literatura popular, revendo as estruturas narrativas que
ulares, como o conto maravilhoso onde localizamos a tradição da suporte da análise crítica do discurso que traz
para à cena a historicidade e a ideologia subjacente às práticas discursivas sociais.
chave: Relações de Gênero; Literatura Popular; Séries de Televisão; Conto Maravilhoso
se ao longo da história, atravessando os séculos,
mudando seu status, mas mantendo uma função social importante. De antigas narrativas cujo
objetivo era preencher o tempo ocioso entre as atividades laboriosas e apresentar modelos de
comportamento social e instruções normativas de convivência na comunidade, até a transformação
ducativo; as histórias maravilhosas
permaneceram no imaginário das pessoas. Novos meios de comunicação e de entretenimento
trouxeram também outros formatos narrativos, mas também incorporaram as antigas histórias que,
er visitadas. Assim, são produzidas novas séries de televisão
Grimm e Beauty and the
, que fazem isso com uma referência direta, anunciando um diálogo intertextual.
Essas séries, que leio aqui como narrativas de ficção, embora o formato que se adequa às
se como um gênero próprio, têm permanecido como opção de lazer e
se com uma grande audiência, o que as faz continuarem em várias
temporadas. O gênero se consolidou ao longo de sua história que caminha quase pari passu com a
história da televisão. No Brasil, as séries conseguem também segura audiência, mesmo com a
to da TV por assinatura. Com episódios
independentes, as séries não precisam ser acompanhadas dia a dia, no entanto seus consumidores
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
mais fieis acompanham a vida dos personagens, ao longo das várias temporadas, que podem se
suceder durante anos, conforme a audiência se mantenha. Algumas delas já chegaram a durar vinte
anos. Aceitas pelo público, vão se renovando. Outras não conseguem tanto sucesso e vão sendo
substituídas. O público mantém-se fiel, provavelmente, porque há algo com que se identifica nessas
produções.
Beaute and the Beast, agora na segunda temporada, parece estar agradando ao público, a se
considerar os comentários postados nos sites que se ocupam da série. E a história de amor de
Vincent e Catherine, pano de fundo das tramas diárias que env
precisa resolver como detetive, parece ser o principal atrativo.
As Belas
A história da Bela e da Fera povoa
II (d.C.), conforme estudou a professora Doralice
demonstrando que o motivo do conto popular, que envolve um personagem (homem ou mulher)
transformado em fera por algum motivo e um personagem por quem se apaixona e com quem
desenvolve uma relação, manteve
alterações, ao ser transmitido oralmente de geração a geração, muitas foram as versões da história,
cuja origem está perdida no tempo.
Alcoforado (2008) localizou o tema já
Cupido e Psiquê, a qual já trazia o tema do amante que aparece como animal e da jovem,
pode vê-lo durante o dia e, ao desobedecer essa ordem, acaba afastando
série de tarefas, para que tudo volte a
Bahia, Alcoforado observou a diversidade
transformando-se em animais diferentes.
como os contos populares repercutiram na Europa, sobretudo com o advento da prensa, que fez se
ampliar a circulação dos textos, chegando ao Brasil, mais tarde, no processo de colonização. Essa
divulgação dos contos de fada acabou por fazê
pessoas, da mesma forma que acontece com a televisão, responsável, neste caso, pela divulgação do
tema, através das séries, que recuperam esses temas dos contos populares.
refletir com Martín-Barbero sobre a importância h
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mais fieis acompanham a vida dos personagens, ao longo das várias temporadas, que podem se
a audiência se mantenha. Algumas delas já chegaram a durar vinte
anos. Aceitas pelo público, vão se renovando. Outras não conseguem tanto sucesso e vão sendo
se fiel, provavelmente, porque há algo com que se identifica nessas
, agora na segunda temporada, parece estar agradando ao público, a se
considerar os comentários postados nos sites que se ocupam da série. E a história de amor de
Vincent e Catherine, pano de fundo das tramas diárias que envolvem os crimes que a protagonista
precisa resolver como detetive, parece ser o principal atrativo.
istória da Bela e da Fera povoa a imaginação das pessoas desde, pelo menos,
, conforme estudou a professora Doralice Alcoforado, em sua tese "As Belas baianas",
demonstrando que o motivo do conto popular, que envolve um personagem (homem ou mulher)
transformado em fera por algum motivo e um personagem por quem se apaixona e com quem
, manteve-se na tradição oral popular, chegando aos nossos dias
alterações, ao ser transmitido oralmente de geração a geração, muitas foram as versões da história,
cuja origem está perdida no tempo.
localizou o tema já no texto de Apuleio, que registrou a história de
e Psiquê, a qual já trazia o tema do amante que aparece como animal e da jovem,
lo durante o dia e, ao desobedecer essa ordem, acaba afastando-o, tendo que
série de tarefas, para que tudo volte ao normal. Tendo se concentrado nas versões localizadas na
Bahia, Alcoforado observou a diversidade de formas que o/a amante assumia, conforme a região,
animais diferentes. A autora também apresenta um estudo em que mostra
populares repercutiram na Europa, sobretudo com o advento da prensa, que fez se
ampliar a circulação dos textos, chegando ao Brasil, mais tarde, no processo de colonização. Essa
divulgação dos contos de fada acabou por fazê-los exercer função importante n
pessoas, da mesma forma que acontece com a televisão, responsável, neste caso, pela divulgação do
éries, que recuperam esses temas dos contos populares.
Barbero sobre a importância hoje dos meios de comunicação.
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mais fieis acompanham a vida dos personagens, ao longo das várias temporadas, que podem se
a audiência se mantenha. Algumas delas já chegaram a durar vinte
anos. Aceitas pelo público, vão se renovando. Outras não conseguem tanto sucesso e vão sendo
se fiel, provavelmente, porque há algo com que se identifica nessas
, agora na segunda temporada, parece estar agradando ao público, a se
considerar os comentários postados nos sites que se ocupam da série. E a história de amor de
olvem os crimes que a protagonista
, pelo menos, o século
Alcoforado, em sua tese "As Belas baianas",
demonstrando que o motivo do conto popular, que envolve um personagem (homem ou mulher)
transformado em fera por algum motivo e um personagem por quem se apaixona e com quem
tradição oral popular, chegando aos nossos dias. Sofrendo
alterações, ao ser transmitido oralmente de geração a geração, muitas foram as versões da história,
registrou a história de
e Psiquê, a qual já trazia o tema do amante que aparece como animal e da jovem, que não
tendo que realizar uma
o normal. Tendo se concentrado nas versões localizadas na
assumia, conforme a região,
A autora também apresenta um estudo em que mostra
populares repercutiram na Europa, sobretudo com o advento da prensa, que fez se
ampliar a circulação dos textos, chegando ao Brasil, mais tarde, no processo de colonização. Essa
los exercer função importante na formação das
pessoas, da mesma forma que acontece com a televisão, responsável, neste caso, pela divulgação do
éries, que recuperam esses temas dos contos populares. Assim, é importante
oje dos meios de comunicação.
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... o que estamos tentando pensar é a sociedade: a comunicação convertida no mais eficaz motor de desengate e de inserção das culturas mercado e nas tecnologias globais. No mesmo sentido, estamos necessitando pensar o lugar estratégico que passou a ocupar a novos modelos de sociedade, e sua paradoxal vinculação tanto com o relançamento da modernização desconcertada e tateante experiência da tardomodernidade. (MARTÍN2003, p. 13)
As narrativas que tratam do tema do noivo
compõem: o par amoroso, um dos quais transforma
assim, um segredo que não pode ser conhecido, a descoberta do segredo causando um problema que
será resolvido a partir da realização de uma série de tarefas e o final em que o encant
desfeito.
O tema, além de ter sido retomado nas histórias escritas visando à educação de crianças, no
século XX, foi também transformado em filme, várias vezes. Um dos mais famosos, à época, foi o
de Jean Cocteau, em 1946. Também teve bastante rep
teve por base o texto de Mme. de Beaumont (século XVIII)
vez que, como educadora que era
Alcoforado avalia o padrão que se evidencia na história do século XVIII e que se repete no filme do
século XX.
Para a mulher, a marca da beleza encontrahabilidade e paciência, enquanto a marca de virilidade para o homem deve estar no controle de si, na cortesia, no uso da razão e na perseverança.
Já naquele momento, o propósito de estabelecer os padrões sociais e preservá
tom do que seria veiculado para a comunidade, de forma a controlar os modelos estabelecidos para
os sujeitos sociais. As histórias que percorriam as casas dos aristocratas e da burguesia ascendente,
retiradas das narrativas orais populares, foram adaptadas e utilizadas como forma de deixar claro e
bem estabelecidos os espaços sociais, para as mulheres em especia
ser.
2 MARTÍM-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações
Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Editora URFJ, 2003.3 ALCOFORADO, Doralice. Belas e feras baiana
2008. p. 24-25.
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... o que estamos tentando pensar é a hegemonia comunicacionalsociedade: a comunicação convertida no mais eficaz motor de desengate e de inserção das culturas — étnicas, nacionais ou locais —mercado e nas tecnologias globais. No mesmo sentido, estamos necessitando pensar o lugar estratégico que passou a ocupar a comunicaçãonovos modelos de sociedade, e sua paradoxal vinculação tanto com o relançamento da modernização — via satélites, informática, videoprocessadores desconcertada e tateante experiência da tardomodernidade. (MARTÍN2003, p. 13)2
As narrativas que tratam do tema do noivo-animal apresenta elementos básicos que
amoroso, um dos quais transforma-se em fera, um encantamento que o tornou
assim, um segredo que não pode ser conhecido, a descoberta do segredo causando um problema que
será resolvido a partir da realização de uma série de tarefas e o final em que o encant
O tema, além de ter sido retomado nas histórias escritas visando à educação de crianças, no
século XX, foi também transformado em filme, várias vezes. Um dos mais famosos, à época, foi o
de Jean Cocteau, em 1946. Também teve bastante repercussão a animação da Disney,
teve por base o texto de Mme. de Beaumont (século XVIII) , de cunho altamente moralizante,
que era, produziu e adaptou a história pensando em
o que se evidencia na história do século XVIII e que se repete no filme do
Para a mulher, a marca da beleza encontra-se na submissão, obediência, humildade, habilidade e paciência, enquanto a marca de virilidade para o homem deve estar no
le de si, na cortesia, no uso da razão e na perseverança.
Já naquele momento, o propósito de estabelecer os padrões sociais e preservá
tom do que seria veiculado para a comunidade, de forma a controlar os modelos estabelecidos para
sociais. As histórias que percorriam as casas dos aristocratas e da burguesia ascendente,
retiradas das narrativas orais populares, foram adaptadas e utilizadas como forma de deixar claro e
bem estabelecidos os espaços sociais, para as mulheres em especial, definindo o que e como deveria
Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Trad. Ronaldo Polito e Janeiro: Editora URFJ, 2003. p. 13
Belas e feras baiana: um estudo do conto popular. Salvador: Fundação Pedro Calmon,
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hegemonia comunicacional do mercado na sociedade: a comunicação convertida no mais eficaz motor de desengate e de
— no espaço/tempo do mercado e nas tecnologias globais. No mesmo sentido, estamos necessitando
comunicação na configuração dos novos modelos de sociedade, e sua paradoxal vinculação tanto com o relançamento
satélites, informática, videoprocessadores — quanto com a desconcertada e tateante experiência da tardomodernidade. (MARTÍN-BARBERO,
elementos básicos que as
se em fera, um encantamento que o tornou
assim, um segredo que não pode ser conhecido, a descoberta do segredo causando um problema que
será resolvido a partir da realização de uma série de tarefas e o final em que o encantamento é
O tema, além de ter sido retomado nas histórias escritas visando à educação de crianças, no
século XX, foi também transformado em filme, várias vezes. Um dos mais famosos, à época, foi o
ercussão a animação da Disney, de 1991, que
, de cunho altamente moralizante, uma
adaptou a história pensando em fins pedagógicos.
o que se evidencia na história do século XVIII e que se repete no filme do
se na submissão, obediência, humildade, habilidade e paciência, enquanto a marca de virilidade para o homem deve estar no
le de si, na cortesia, no uso da razão e na perseverança.3
Já naquele momento, o propósito de estabelecer os padrões sociais e preservá-los dava o
tom do que seria veiculado para a comunidade, de forma a controlar os modelos estabelecidos para
sociais. As histórias que percorriam as casas dos aristocratas e da burguesia ascendente,
retiradas das narrativas orais populares, foram adaptadas e utilizadas como forma de deixar claro e
l, definindo o que e como deveria
: comunicação, cultura e hegemonia. Trad. Ronaldo Polito e
: um estudo do conto popular. Salvador: Fundação Pedro Calmon,
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A Bela Catherine da Série
Em 1987, foi desenvolvida uma versão da Bela e a Fera, em uma série de televisão:
"Beauty and The Beast". Em alguns aspectos, semelhante à série atual, como os nomes escolhidos
para os protagonistas: Catherine e Vincent. A primeira tinha um caráter mais fantástico, colocando
os personagens entre dois mundos: a Nova York onde vivia Catherine, uma experiente promotora; e
um mundo subterrâneo onde vivia Vincent
quando a atriz que interpretava Catherine (Linda Hamilton) decidiu que iria deixar a série. Na
trama, a personagem morre, deixando um filho de Vincent. A quebra do par amoroso acabou por
provocar o declínio da audiência que foi fin
Com uma trama romântica, o objetivo de boa parte das narrativas permanece, a indicação
de que o que importa é o que a pessoa é por dentro, não sua imagem. E que o verdadeiro amor não
vê o belo ou feio, que não depende do que a pessoa é na aparên
um animal. Os instintos violentos são compensados com um bom caráter e um coração benevolente
que se compraz de ajudar os outros.
A nova série que estreou em outubro de 2012 está agora na segunda temporada, o que
indica aceitação do público. A trama busca uma explicação menos fantástica para a situação da fera.
O ex-soldado Vincent Keller, que lutou no Afeganistão, foi uma espécie de cobaia para uma
experiência militar para produzir super
morrendo. Vincent é dado como morto
detetive, na adolescência, assiste ao assassinato de sua mãe e
também. Ela vai reencontrá-lo anos depois, em
segredo e, na busca por respostas para o assassinato de sua mãe, alia
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a Série
Em 1987, foi desenvolvida uma versão da Bela e a Fera, em uma série de televisão:
. Em alguns aspectos, semelhante à série atual, como os nomes escolhidos
protagonistas: Catherine e Vincent. A primeira tinha um caráter mais fantástico, colocando
os personagens entre dois mundos: a Nova York onde vivia Catherine, uma experiente promotora; e
subterrâneo onde vivia Vincent, um mítico, nobre fera. Teve três temporadas e acabou
quando a atriz que interpretava Catherine (Linda Hamilton) decidiu que iria deixar a série. Na
trama, a personagem morre, deixando um filho de Vincent. A quebra do par amoroso acabou por
provocar o declínio da audiência que foi finalizada.
Com uma trama romântica, o objetivo de boa parte das narrativas permanece, a indicação
de que o que importa é o que a pessoa é por dentro, não sua imagem. E que o verdadeiro amor não
feio, que não depende do que a pessoa é na aparência, mesmo que seja semelhante a
s são compensados com um bom caráter e um coração benevolente
que se compraz de ajudar os outros.
A nova série que estreou em outubro de 2012 está agora na segunda temporada, o que
itação do público. A trama busca uma explicação menos fantástica para a situação da fera.
soldado Vincent Keller, que lutou no Afeganistão, foi uma espécie de cobaia para uma
experiência militar para produzir super-soldados. A experiência não deu certo e os soldados acabam
morrendo. Vincent é dado como morto, mas é o único sobrevivente. Catherine Chandler, uma
assiste ao assassinato de sua mãe e Vincent a salva de ser assassinada
lo anos depois, em uma investigação policial, acaba por descobrir seu
segredo e, na busca por respostas para o assassinato de sua mãe, alia-se a ele e acaba descobrindo
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Em 1987, foi desenvolvida uma versão da Bela e a Fera, em uma série de televisão:
. Em alguns aspectos, semelhante à série atual, como os nomes escolhidos
protagonistas: Catherine e Vincent. A primeira tinha um caráter mais fantástico, colocando
os personagens entre dois mundos: a Nova York onde vivia Catherine, uma experiente promotora; e
três temporadas e acabou
quando a atriz que interpretava Catherine (Linda Hamilton) decidiu que iria deixar a série. Na
trama, a personagem morre, deixando um filho de Vincent. A quebra do par amoroso acabou por
Com uma trama romântica, o objetivo de boa parte das narrativas permanece, a indicação
de que o que importa é o que a pessoa é por dentro, não sua imagem. E que o verdadeiro amor não
cia, mesmo que seja semelhante a
s são compensados com um bom caráter e um coração benevolente
A nova série que estreou em outubro de 2012 está agora na segunda temporada, o que
itação do público. A trama busca uma explicação menos fantástica para a situação da fera.
soldado Vincent Keller, que lutou no Afeganistão, foi uma espécie de cobaia para uma
o e os soldados acabam
. Catherine Chandler, uma
salva de ser assassinada
uma investigação policial, acaba por descobrir seu
se a ele e acaba descobrindo
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que sua mãe esteve envolvida com a experiência que o tinha deixado daquela forma.O desafio
passa, então, a ser encontrar um antídoto para que ele se torne apenas humano novamente. O
primeiro passo é controlar a raiva, o estopim para sua transformação em fera.
Diferentemente da série de 1987, o personagem não tem já a forma animal. Naquela série,
Vincent é caracterizado com um rosto que remete à figura do leão e não se transforma ao longo dos
episódios. O personagem da versão mais nova apresenta
em uma fera que não remete a um animal específico, mas o rosto transforma
as pessoas. No seu estado humano,
Ambas as séries mantêm o fio condutor da narrativa de Mme Deaumont e das diferentes
versões dos contos orais populares: o motivo do "noivo" anima
a beleza interior da fera não se importando com sua aparência física, o segredo que não pode ser
descoberto sob pena de ter que pagar por isso, o personagem responsável pelo "encantamento".
No episódio inicial, há outro
quando Catherine é perseguida pelos assassinos da mãe, ela entra em uma floresta escura (o fato
acontece à noite) o que torna o ambiente assustador e Vincent sai das sombras dessa floresta para
salvá-la, embora isso a tenha assustado também, por causa da transformação que ele assume quando
está com raiva4.
Catherine, a bela, tem uma irmã e o pai que a adora, semelhante ao conto na versão de
Mme Beaumont. Como a produção da série opta por uma versão que alia a história conhecida à
função de detetive, a personagem não é uma frágil moça, mas uma mulher decidida que atua na
investigação de crimes e lida com bandidos.
os vilões na série, tendo mesmo algum sucesso, embora, sendo acuada no final para ser salva por
4 Essa ideia da raiva que provoca a transformação do heroi está em outra série que fez muito suce
1970 e início dos anos 1980: O incrível Hulk.
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que sua mãe esteve envolvida com a experiência que o tinha deixado daquela forma.O desafio
ser encontrar um antídoto para que ele se torne apenas humano novamente. O
primeiro passo é controlar a raiva, o estopim para sua transformação em fera.
Diferentemente da série de 1987, o personagem não tem já a forma animal. Naquela série,
cterizado com um rosto que remete à figura do leão e não se transforma ao longo dos
episódios. O personagem da versão mais nova apresenta-se como um ser humano e se transforma
em uma fera que não remete a um animal específico, mas o rosto transforma-se em
as pessoas. No seu estado humano, o único sinal que resta de diferente é apenas uma cicatriz.
m o fio condutor da narrativa de Mme Deaumont e das diferentes
versões dos contos orais populares: o motivo do "noivo" animal (a "fera"), a boa moça que enxerga
a beleza interior da fera não se importando com sua aparência física, o segredo que não pode ser
descoberto sob pena de ter que pagar por isso, o personagem responsável pelo "encantamento".
No episódio inicial, há outro aspecto que remete para os antigos contos de encantamento:
quando Catherine é perseguida pelos assassinos da mãe, ela entra em uma floresta escura (o fato
acontece à noite) o que torna o ambiente assustador e Vincent sai das sombras dessa floresta para
la, embora isso a tenha assustado também, por causa da transformação que ele assume quando
Catherine, a bela, tem uma irmã e o pai que a adora, semelhante ao conto na versão de
. Como a produção da série opta por uma versão que alia a história conhecida à
função de detetive, a personagem não é uma frágil moça, mas uma mulher decidida que atua na
investigação de crimes e lida com bandidos. São vários os momentos em que ela luta so
os vilões na série, tendo mesmo algum sucesso, embora, sendo acuada no final para ser salva por
Essa ideia da raiva que provoca a transformação do heroi está em outra série que fez muito suce: O incrível Hulk.
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que sua mãe esteve envolvida com a experiência que o tinha deixado daquela forma.O desafio
ser encontrar um antídoto para que ele se torne apenas humano novamente. O
Diferentemente da série de 1987, o personagem não tem já a forma animal. Naquela série,
cterizado com um rosto que remete à figura do leão e não se transforma ao longo dos
se como um ser humano e se transforma
se em algo que assusta
apenas uma cicatriz.
m o fio condutor da narrativa de Mme Deaumont e das diferentes
l (a "fera"), a boa moça que enxerga
a beleza interior da fera não se importando com sua aparência física, o segredo que não pode ser
descoberto sob pena de ter que pagar por isso, o personagem responsável pelo "encantamento".
aspecto que remete para os antigos contos de encantamento:
quando Catherine é perseguida pelos assassinos da mãe, ela entra em uma floresta escura (o fato
acontece à noite) o que torna o ambiente assustador e Vincent sai das sombras dessa floresta para
la, embora isso a tenha assustado também, por causa da transformação que ele assume quando
Catherine, a bela, tem uma irmã e o pai que a adora, semelhante ao conto na versão de
. Como a produção da série opta por uma versão que alia a história conhecida à
função de detetive, a personagem não é uma frágil moça, mas uma mulher decidida que atua na
São vários os momentos em que ela luta sozinha com
os vilões na série, tendo mesmo algum sucesso, embora, sendo acuada no final para ser salva por
Essa ideia da raiva que provoca a transformação do heroi está em outra série que fez muito sucesso no final dos anos
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Vincent, que sempre aparece quando ela está em apuros, afinal ele desenvolveu super sentidos, por
causa dos experimentos.
Sua apresentação física suge
Um elemento importante na representação da personagem, que contrasta com a sua parceira na
delegacia, é a expressão do rosto: apesar de mostrar, quando na atuação como policial, um olhar
forte e decidido, há momentos em que o olhar e os gestos do rosto sugerem um mi
e fragilidade, como vemos na imagem a seguir, uma cena do episódio 3.
É nesse elemento que compõe também o discurso que podemos ler os significados que
perpetuam um determinado perfil para a personagem. É assim que podemos observar que sinais
estão sendo veiculados através dessas narrativas, mesmo que a personagem não pronuncie uma
palavra. Entendo, aqui, que o discurso ultrapassa a questão da linguagem verbal, embor
um elemento fundante em nossa sociedade. Acompanhando Fairclough, considero importante
pensar no discurso como prática social, para assim discutir como são representados os diferentes
sujeitos sociais.
Ao usar o termo ‘discurso’, proponho conside prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir sobrespecialmente sobre os outros, como também modo de representação. (...) Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social...
Mas a palavra, o aspecto linguístico do discurso, também terá seu papel, uma vez que é a
forma mais usual de apreensão do mundo. A série faz uso de um recurso narrativo já consolidado. A
personagem, no início e no fim do episódio
oralmente. Ela conversa com a mãe morta, mas como se
5 FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social
2001. p. 90.
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Vincent, que sempre aparece quando ela está em apuros, afinal ele desenvolveu super sentidos, por
física sugere essa caracterização, além das posturas nas cenas da série.
Um elemento importante na representação da personagem, que contrasta com a sua parceira na
delegacia, é a expressão do rosto: apesar de mostrar, quando na atuação como policial, um olhar
decidido, há momentos em que o olhar e os gestos do rosto sugerem um mi
, como vemos na imagem a seguir, uma cena do episódio 3.
É nesse elemento que compõe também o discurso que podemos ler os significados que
determinado perfil para a personagem. É assim que podemos observar que sinais
estão sendo veiculados através dessas narrativas, mesmo que a personagem não pronuncie uma
Entendo, aqui, que o discurso ultrapassa a questão da linguagem verbal, embor
um elemento fundante em nossa sociedade. Acompanhando Fairclough, considero importante
pensar no discurso como prática social, para assim discutir como são representados os diferentes
Ao usar o termo ‘discurso’, proponho considerar o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir sobrespecialmente sobre os outros, como também modo de representação. (...) Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social...
Mas a palavra, o aspecto linguístico do discurso, também terá seu papel, uma vez que é a
orma mais usual de apreensão do mundo. A série faz uso de um recurso narrativo já consolidado. A
personagem, no início e no fim do episódio 1 e 2, apresenta um comentário, com formato epistolar,
oralmente. Ela conversa com a mãe morta, mas como se escrevesse um diário ou uma carta.
Discurso e mudança social. coord. Trad. Izabel Magalhães. Brasília: Ed. UNB,
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Vincent, que sempre aparece quando ela está em apuros, afinal ele desenvolveu super sentidos, por
re essa caracterização, além das posturas nas cenas da série.
Um elemento importante na representação da personagem, que contrasta com a sua parceira na
delegacia, é a expressão do rosto: apesar de mostrar, quando na atuação como policial, um olhar
decidido, há momentos em que o olhar e os gestos do rosto sugerem um misto de delicadeza
É nesse elemento que compõe também o discurso que podemos ler os significados que
determinado perfil para a personagem. É assim que podemos observar que sinais
estão sendo veiculados através dessas narrativas, mesmo que a personagem não pronuncie uma
Entendo, aqui, que o discurso ultrapassa a questão da linguagem verbal, embora, seja ela
um elemento fundante em nossa sociedade. Acompanhando Fairclough, considero importante
pensar no discurso como prática social, para assim discutir como são representados os diferentes
derar o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também modo de representação. (...) Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social...5
Mas a palavra, o aspecto linguístico do discurso, também terá seu papel, uma vez que é a
orma mais usual de apreensão do mundo. A série faz uso de um recurso narrativo já consolidado. A
, apresenta um comentário, com formato epistolar,
ário ou uma carta.
alhães. Brasília: Ed. UNB,
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
Os diálogos, especialmente, entre as parceiras, Catherine e Tess, buscam formar o perfil
dessas mulheres, muito próximas, mas com pensamento diferentes, além de também refletir alguma
coisa da problemática das relações e
comentário sobre os homens, quanto Tess afirma que Catherine não sabe escolher, sempre escolhe
cafajestes. Isto porque o homem com quem estava se relacionando
mensagem de texto, alegando que não suporta seu tipo de atividade, que a ocupa em momentos
pouco convencionais. Diz a personagem:
Tess: Você sente atração cafajeste. Agora estou longe dos homens.
Embora se apresente como
algum aspecto da mulher que precisa de proteção acaba por se evidenciar. Vincent sempre aparece
para ajudá-la e salvá-la em momentos em que corre perigo, tornando
perseguidores para protegê-la. É assim que, quando todos pensam nele como um monstro, ela
afirma que ele a salvou e salvou outras pessoas e que não é um monstro.
Pensando nas diferentes relações que a personagem estabelece com os demais personagens,
observo que ela interage com Vincent, obviam
parceira e amiga; J.T. Forbes, amigo de Vincent e quem o mant
A mãe está no primeiro episódio e permanece depois como lembrança e como in
Há ainda o pai com quem, embora não conviva diariamente, tem um relação bastante próxima.
Envolve-se e casa-se com uma mulher que tem quase a idade de Catherine.
Comparar Catherine com a parceira e amiga acaba por ser inevitável, porque, apesar de
serem muito parecidas fisicamente, são construídas com elementos fortes de diferenciação,
especialmente, na postura de Tess,
abaixo, verificamos a semelhança física entre as duas. Quase não se distinguem. De pé, a amiga é
um pouco mais alta, mas cabelos, rosto e forma de vestir são muito próximos.
também corresponde à profissão, embora lembre um pouco
1970.
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15 a 17 de Maio de 2013
Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
Os diálogos, especialmente, entre as parceiras, Catherine e Tess, buscam formar o perfil
dessas mulheres, muito próximas, mas com pensamento diferentes, além de também refletir alguma
coisa da problemática das relações entre homens e mulheres: no primeiro episódio, por exemplo, o
comentário sobre os homens, quanto Tess afirma que Catherine não sabe escolher, sempre escolhe
o homem com quem estava se relacionando termina com ela por uma
texto, alegando que não suporta seu tipo de atividade, que a ocupa em momentos
Diz a personagem:
Tess: Você sente atração por cafajestes. Quando eu namoro um eu sei que ele é cafajeste. Agora estou longe dos homens.
e como uma mulher decidida e forte, na sua relação com Vincent,
algum aspecto da mulher que precisa de proteção acaba por se evidenciar. Vincent sempre aparece
em momentos em que corre perigo, tornando-se mais vulnerável a seus
É assim que, quando todos pensam nele como um monstro, ela
afirma que ele a salvou e salvou outras pessoas e que não é um monstro.
Pensando nas diferentes relações que a personagem estabelece com os demais personagens,
Vincent, obviamente seu principal interlocutor;
J.T. Forbes, amigo de Vincent e quem o mantém escondido;
A mãe está no primeiro episódio e permanece depois como lembrança e como in
pai com quem, embora não conviva diariamente, tem um relação bastante próxima.
se com uma mulher que tem quase a idade de Catherine.
Comparar Catherine com a parceira e amiga acaba por ser inevitável, porque, apesar de
serem muito parecidas fisicamente, são construídas com elementos fortes de diferenciação,
de Tess, mais contundente enquanto detetive. Observand
abaixo, verificamos a semelhança física entre as duas. Quase não se distinguem. De pé, a amiga é
um pouco mais alta, mas cabelos, rosto e forma de vestir são muito próximos.
também corresponde à profissão, embora lembre um pouco a produção das
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Os diálogos, especialmente, entre as parceiras, Catherine e Tess, buscam formar o perfil
dessas mulheres, muito próximas, mas com pensamento diferentes, além de também refletir alguma
ntre homens e mulheres: no primeiro episódio, por exemplo, o
comentário sobre os homens, quanto Tess afirma que Catherine não sabe escolher, sempre escolhe
termina com ela por uma
texto, alegando que não suporta seu tipo de atividade, que a ocupa em momentos
cafajestes. Quando eu namoro um eu sei que ele é
mulher decidida e forte, na sua relação com Vincent,
algum aspecto da mulher que precisa de proteção acaba por se evidenciar. Vincent sempre aparece
se mais vulnerável a seus
É assim que, quando todos pensam nele como um monstro, ela
Pensando nas diferentes relações que a personagem estabelece com os demais personagens,
ente seu principal interlocutor; Tess Vargas, sua
ém escondido; e sua irmã, Heather.
A mãe está no primeiro episódio e permanece depois como lembrança e como interlocutora ausente.
pai com quem, embora não conviva diariamente, tem um relação bastante próxima.
Comparar Catherine com a parceira e amiga acaba por ser inevitável, porque, apesar de
serem muito parecidas fisicamente, são construídas com elementos fortes de diferenciação,
mais contundente enquanto detetive. Observando a imagem
abaixo, verificamos a semelhança física entre as duas. Quase não se distinguem. De pé, a amiga é
um pouco mais alta, mas cabelos, rosto e forma de vestir são muito próximos. A caracterização
panteras da década de
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J.T Forbes foi quem conseguiu
tomavam por morto. Desconfiado, o que é compreensível, considerando o seu papel, ele procura
alertar Vincent para o perigo do seu relacionamento com Catherine, pois percebe que é mais do que
a vontade dela de descobrir porque a mãe foi assassinada e mais do que a vontade dele de conseguir
um antídoto para voltar a ser humano.
O impedimento para a personagem da série
conhecer o segredo no passado de Vincent
mãe dela. Como as personagens dos contos de encantamento, ela é muito curiosa e determinada a
descobrir o que aconteceu, o que faz
vilão na história, porque quer impedir que seja divulgado o projeto fracassado de criar super
soldados. Ela não podia saber no que a mãe trabalhava e o que havia acontecido com Vincent e os
demais soldados.
Retomando um tema que conseguiu manter
para o reforço de alguns modelos que já tinham sido questionados pelas mulheres e há que se
atentar para como vão sendo incutidos nas pessoas essas informações, como bem lembra Ivia.
Parto de uma assertiva, de uma afirmação: Estou completamente segura que muitos paradigmas e alinhamentos sociais que estão, atualmente, normatizando a sociedade passam para nós quando lazer. Seja uma revista, seja um programa de televisão ou até músicas. A “baixa da guarda” não nos deixa refletir ou pensar criticamente sobre a situação e é por aí que vão sendo inculcadas algumas normachar certas e outras erradas, pois esses discursos já são dados prontos.
Ao assistirmos as séries, tomando
conta de que estamos bombardeados com informações que
6 ALVES, Ívia. A mídia, as mulheres, o corpo e os modelos. In:
graduação em Crítica Cultural. n. 2, Alagoinhas/BA: UNEB, 2011. p. 29
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J.T Forbes foi quem conseguiu proteger e esconder Vincent por 9 anos, quando todos o
tomavam por morto. Desconfiado, o que é compreensível, considerando o seu papel, ele procura
o do seu relacionamento com Catherine, pois percebe que é mais do que
a vontade dela de descobrir porque a mãe foi assassinada e mais do que a vontade dele de conseguir
um antídoto para voltar a ser humano.
O impedimento para a personagem da série, elemento apropriado do conto popular,
o segredo no passado de Vincent e, consequentemente, o que envolve o assassinato da
. Como as personagens dos contos de encantamento, ela é muito curiosa e determinada a
descobrir o que aconteceu, o que faz com que seja perseguida pelo FBI. O FBI aparece com
vilão na história, porque quer impedir que seja divulgado o projeto fracassado de criar super
soldados. Ela não podia saber no que a mãe trabalhava e o que havia acontecido com Vincent e os
Retomando um tema que conseguiu manter-se, atravessando os séculos, a série contribui
para o reforço de alguns modelos que já tinham sido questionados pelas mulheres e há que se
vão sendo incutidos nas pessoas essas informações, como bem lembra Ivia.
Parto de uma assertiva, de uma afirmação: Estou completamente segura que muitos paradigmas e alinhamentos sociais que estão, atualmente, normatizando a sociedade passam para nós quando “baixamos a guarda”, e isso quer dizer, através do lazer. Seja uma revista, seja um programa de televisão ou até músicas. A “baixa da guarda” não nos deixa refletir ou pensar criticamente sobre a situação e é por aí que vão sendo inculcadas algumas normatizações que, sem pensar, passamos a achar certas e outras erradas, pois esses discursos já são dados prontos.
Ao assistirmos as séries, tomando-as apenas como lazer e entretenimentos sem nos darmos
conta de que estamos bombardeados com informações que acabam entranhando
ALVES, Ívia. A mídia, as mulheres, o corpo e os modelos. In: Pontos de Interrogação. Revista do Programa de Pósgraduação em Crítica Cultural. n. 2, Alagoinhas/BA: UNEB, 2011. p. 29-39. p. 30
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proteger e esconder Vincent por 9 anos, quando todos o
tomavam por morto. Desconfiado, o que é compreensível, considerando o seu papel, ele procura
o do seu relacionamento com Catherine, pois percebe que é mais do que
a vontade dela de descobrir porque a mãe foi assassinada e mais do que a vontade dele de conseguir
o apropriado do conto popular, é
e, consequentemente, o que envolve o assassinato da
. Como as personagens dos contos de encantamento, ela é muito curiosa e determinada a
com que seja perseguida pelo FBI. O FBI aparece como um
vilão na história, porque quer impedir que seja divulgado o projeto fracassado de criar super
soldados. Ela não podia saber no que a mãe trabalhava e o que havia acontecido com Vincent e os
se, atravessando os séculos, a série contribui
para o reforço de alguns modelos que já tinham sido questionados pelas mulheres e há que se
vão sendo incutidos nas pessoas essas informações, como bem lembra Ivia.
Parto de uma assertiva, de uma afirmação: Estou completamente segura que muitos paradigmas e alinhamentos sociais que estão, atualmente, normatizando a
do “baixamos a guarda”, e isso quer dizer, através do lazer. Seja uma revista, seja um programa de televisão ou até músicas. A “baixa da guarda” não nos deixa refletir ou pensar criticamente sobre a situação e é por aí
atizações que, sem pensar, passamos a achar certas e outras erradas, pois esses discursos já são dados prontos.6
as apenas como lazer e entretenimentos sem nos darmos
acabam entranhando-se em nossas
Revista do Programa de Pós-
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mentes, vamos deixando espaço para tais assimilações.
circulando hoje pelos diversos meios, sobretudo pela internet, de onde se pode retirar quase tudo,
observo que há algumas rasuras nos discursos hegemônicos, mas ainda não se conseguiu uma
mudança profunda na estrutura. Desestabilizam
permanecer. Isso se evidencia na cultura de um certo tipo de corpo, por exemplo, se lembramos das
duas detetives da série, magras como modelos de passarela,
tratados, considerando que seria difícil manter isso na sua profissão. É bem verdade que não são
loiras, mas parece-me o único item que destoa do modelo.
Também é possível pensar sobre o comportamento da personagem principal, Catherine,
que atua com destreza como policial, mas é bem comportada, tentando, inclusive satisfazer a
família, ao inventar um acompanhante para o casamento do pai, porque todos estavam preocupad
que ela estivesse sozinha, não tivesse um namorado: incompleta, portanto.
A retomada dessas histórias populares para as telas da televisão demonstram mais do que
falta de assunto e, talvez, de criatividade dos novos produtores. Revelam, pelos comentário
da série (que se dizem apaixonadas por Vincent, considerado lindo, forte, além de sua grande
compaixão para com os que estão em perigo), que ainda há muito que pensar sobre como esses
produtos veiculados pelos grandes meios de comunicação
Obs.: As imagens que constam do texto foram retiradas da internet e de cenas dos episódios da série e estão sendo usadas apenas para ilustrar a interpretação feita.
Referências
ALCOFORADO, Doralice. Belas e feras baianaPedro Calmon, 2008.
ALVES, Ívia. A mídia, as mulheres, o corpo e os modelos. In: Programa de Pós-graduação em Crítica Cultural. n. 2, Alagoinhas/BA: UNEB, 2011. p. 29
BRIGGS, Asa & BURKE, Peter. rev. e ampl. Trad. Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Zahar, 2006
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas, Poderes Oblíquos. In: _____. estratégias para entrar e sair da modernidade. 3. ed. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 2000. p. 283
ECKERT, Penelope & McCONNELhabitam linguagem, gênero e poder (1992). In: OSTERMANN, Ana Cristina &
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mentes, vamos deixando espaço para tais assimilações. Da leitura dos produtos da mídia, que estão
circulando hoje pelos diversos meios, sobretudo pela internet, de onde se pode retirar quase tudo,
ras nos discursos hegemônicos, mas ainda não se conseguiu uma
mudança profunda na estrutura. Desestabilizam-se algumas certezas, mas os modelos insistem em
permanecer. Isso se evidencia na cultura de um certo tipo de corpo, por exemplo, se lembramos das
as detetives da série, magras como modelos de passarela, cabelos longos, lisos e muito bem
tratados, considerando que seria difícil manter isso na sua profissão. É bem verdade que não são
me o único item que destoa do modelo.
ssível pensar sobre o comportamento da personagem principal, Catherine,
que atua com destreza como policial, mas é bem comportada, tentando, inclusive satisfazer a
família, ao inventar um acompanhante para o casamento do pai, porque todos estavam preocupad
que ela estivesse sozinha, não tivesse um namorado: incompleta, portanto.
A retomada dessas histórias populares para as telas da televisão demonstram mais do que
falta de assunto e, talvez, de criatividade dos novos produtores. Revelam, pelos comentário
da série (que se dizem apaixonadas por Vincent, considerado lindo, forte, além de sua grande
compaixão para com os que estão em perigo), que ainda há muito que pensar sobre como esses
produtos veiculados pelos grandes meios de comunicação tratam as informações.
Obs.: As imagens que constam do texto foram retiradas da internet e de cenas dos episódios da série e estão sendo usadas apenas para ilustrar a interpretação feita.
Belas e feras baiana: um estudo do conto popular. Salvador: Fundação
ALVES, Ívia. A mídia, as mulheres, o corpo e os modelos. In: Pontos de Interrogação. graduação em Crítica Cultural. n. 2, Alagoinhas/BA: UNEB, 2011. p. 29
eter. Uma História Social da Mídia: de Gutenberg à Internet. 2. ed. rev. e ampl. Trad. Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Zahar, 2006
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas, Poderes Oblíquos. In: _____. ar e sair da modernidade. 3. ed. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza
Cintrão. São Paulo: EDUSP, 2000. p. 283-350.
ECKERT, Penelope & McCONNEL-GINET, Sally. Comunidades de práticas: lugar linguagem, gênero e poder (1992). In: OSTERMANN, Ana Cristina &
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Da leitura dos produtos da mídia, que estão
circulando hoje pelos diversos meios, sobretudo pela internet, de onde se pode retirar quase tudo,
ras nos discursos hegemônicos, mas ainda não se conseguiu uma
se algumas certezas, mas os modelos insistem em
permanecer. Isso se evidencia na cultura de um certo tipo de corpo, por exemplo, se lembramos das
cabelos longos, lisos e muito bem
tratados, considerando que seria difícil manter isso na sua profissão. É bem verdade que não são
ssível pensar sobre o comportamento da personagem principal, Catherine,
que atua com destreza como policial, mas é bem comportada, tentando, inclusive satisfazer a
família, ao inventar um acompanhante para o casamento do pai, porque todos estavam preocupados
A retomada dessas histórias populares para as telas da televisão demonstram mais do que
falta de assunto e, talvez, de criatividade dos novos produtores. Revelam, pelos comentários das fãs
da série (que se dizem apaixonadas por Vincent, considerado lindo, forte, além de sua grande
compaixão para com os que estão em perigo), que ainda há muito que pensar sobre como esses
as informações.
Obs.: As imagens que constam do texto foram retiradas da internet e de cenas dos episódios da série
popular. Salvador: Fundação
Pontos de Interrogação. Revista do graduação em Crítica Cultural. n. 2, Alagoinhas/BA: UNEB, 2011. p. 29-39
: de Gutenberg à Internet. 2. ed.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas, Poderes Oblíquos. In: _____. Culturas Híbridas: ar e sair da modernidade. 3. ed. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza
Comunidades de práticas: lugar onde co-linguagem, gênero e poder (1992). In: OSTERMANN, Ana Cristina &
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Linguagem, gênero, sexualidade: clássicos traduzidos. Trad.Ostermann, Beatriz Fontana et alii. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Trad. Ronaldo Polito e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Editora URFJ, 2003.
Discurso e Poder. Trad. Judith Hoffnagel e Karina Falcone (orgs.). São
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10
. coord. Trad. Izabel Magalhães. Brasília:
: clássicos traduzidos. Trad. Ana Cristian
: comunicação, cultura e hegemonia. Trad.
. Trad. Judith Hoffnagel e Karina Falcone (orgs.). São