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  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    1/24

    A

    utonomi priv d

    como

    princpio

    fund ment l d ordem jurdic

    DorQnal"t iV : I IQ oo t r l lh N: I e

    f

    _

    .

    n.c,io,n,_..

    ...

    ,.

    ___

    ---

    - - -

    FRANC SOO oos SANTOs AMARAL NETo

    Professor de

    Dl em . . . ._. .

    ao

    Prof. Doutor Antnio l"em T

    Correta.

    o 11. lf l.

    lrallla

    o. 26 n. 102

    abr./J-. 1989 207

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    2/24

    I

    Introduo. crise do direito a

    necessria

    reviso das fontes e a con-

    venincia

    de

    uma reflexo sobre a funo alua/ da autonomia

    privada

    Reiteradas afirmaes e uma generalizada convico de que o direito

    est em crise (

    1

    ,

    causando nos juristas um estado de perplexidade e incer

    teza que os torna vulnerveis ao sentimento comum de angstia contempo

    rnea (

    2

    ,

    e a certeza de que,

    ao

    refletir sobre essa crise, mister

    se

    torna dedi

    car significativo espao

    ao

    tema das fontes do direito, pois que reciproca

    mente implicadas a prpria concepo do direito e a teoria das fontes (

    8

    ,

    tornam conveniente, se no necessria ao jusprivatista, uma reflexo sobre

    a autonomia privada, enfrentando o problema de saber

    se

    e em que medida,

    1)

    A crise

    do

    direito

    um processo que se evidencia de v rioa modoa. Uns

    afirmam que o direito est em decl nlo (OEORGES RIPERT,

    "Le dei n du

    droit in etuaes sur la

    LgUllation Contemporaine, Paris, L.GD.J. 1949), outros

    pregam

    o

    seu

    desaparecimento \K.

    STOY

    ANOVITCH,

    "La thorle marxlste du

    deprlssement

    de l 'Etat

    et du droit",

    Archtves de Ph.tlosophte du Droit

    n

    8,

    Paris, Sirey, 1963,

    E. B.

    PASUKANIS, a Thorie

    Gnrale

    du

    Drot et

    le Mar-

    :risme

    Paris, EDI,

    1970 e a corrente marxista em geral),

    tudo

    isso

    como produto

    da insegurana gerada pelo desenvolvimento do direito no aps-guerra e a cor

    respectiva inflao legislativa,

    a

    atestar que, mais do que nunca. o racionalismo

    jurldico obedece

    s

    leis de um

    racionalismo econmlco

    e aos

    Imperativos

    poUticos

    vigentes. Outros reconhecem que o direito reduziu o seu campo de atuaio e a

    sua

    prpria

    lmportncla, perdendo a dogmtica o seu ideal de panjurlsmo (JEAN

    CARBONNIER, "L'hypothse

    du

    non-droit,

    Archtves

    l

    Phllosophte

    clu

    Droff,

    8,

    Paris, Sirey, 1963), em face do crescimento das demais cincias socla Js

    OUtros ainda contestam o prprio sistema juridico e o tunc\ont.mento do Poder

    Judicirio, pondo em evidncia as contrad.Jes entre o discurso do direito e a

    sua prtica, sedimentando-se a opinio de que o direito e a justia no corres

    pondem s condies da vida atual. Podem identificar-se nesse posicionamento

    critico, de modo geral, trs questes: a contestao da ideologia juridJca subja

    cente ao direito atual,

    isto

    a tendncia a justificar a existncia e a eficcia

    do ordenamento juxidico com base em valores morais

    que

    apenas ocultam os

    valores poUtico-econmicos e os sistemas de pensamento que verdadeiramente lhe

    servem

    de suporte

    ideolgico

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    esse princpio pode realizar-se como fonte de direito, em face do conflito

    atual

    da

    doutrina individualista

    com

    as tendncias sociais que mantm em

    aberto a velha oposio entre a idia individual e a idia social no direito

    privado. Alm disso, a apregoada crise

    do

    direito abrange tambm a proble

    mtica da autonomia privada, 'c bem que

    de

    forma diversa, e at surpreen

    dente, pois, se de um lado limita crescentemente o seu exerccio e alcance,

    pela presena atuante do Estado nos setores de natureza econmica, por

    outro lado reafirma a sua importncia e funo com o "recrudescimento

    da mstica contratual" ('), e o uso crescente do negcio jurdico, o instru

    mento por excelncia

    de

    sua realizao.

    Justifica-se ainda a escolha do tema pelo reduzido interesse que tem

    suscitado nas obras jurdicas

    de

    Portugal e

    do

    Brasil (') diversamente do

    que se tem verificado cm outros sistemas onde a produo bibliogrfica

    realmente expressiva (

    .

    Razes

    de

    natureza histrico-cultural, a encobrir

    valores polticos e at religiosos, devem poder justificar tal posicionamento

    doutrinrio, que no "" coaduna, potm, com o ptoce$SO de intensa tenc.va

    o legislativa que vem marcando o direito portugus e o direito brasileiro

    d s ltimas dcadas.

    ( ' ) ORLANDO

    GOMES, Novo Ttmw

    e Dirmtn

    Civil. Rio de Janeiro, Forense,

    ~

    p.88.

    (,5)

    ANA PRATA, A Tutela ConstitucionaZ

    da

    Autonomia Privada, COlmbra,

    Livraria Almedina, 1982, p. 5; v. ainda, MARIO BIGO'ITE CHORAO,

    Tem.as

    Fun4amentais do Direito Coimbra., Livr&r:a Almedina, L986, pp. ~ 1 e segs. No

    direito brasileiro, ORLANDO GOMES, Autonomta privada ln Enciclopdia Saraiva

    do Direito

    vol.

    9,

    S-

    Paulo,

    1977. p. 258: FRANCISCO DOS SANTOS AMARAL

    NETO,

    Da

    Trretroatividade da Condio

    S u s ~ n s i v a

    Rio

    de Janeiro, Forense,

    lsa&l, pp 4.3

    e segs.,

    c

    ainda, "A autonomia privada como poder jw1dlco",

    : n

    ~ t u d o

    Jrlr1ico3

    em

    homenagem ao

    Projestor

    CAIO MARIO DA

    SILVA PEREIRA,

    lo de Janeiro, Forenae,

    1984.

    (6) Cfr. entre outros, para o direito alemAo, KARL LARENZ,

    AUgemeiner Teil

    des deut.schen Bilrgerlichem Rechts, 4. Anflage, Mncher:., 1:977,

    VERLAG

    C.H.

    BECK., par 2, II,

    e);

    WER.NER

    PLUME,

    AUqemeiner Teil r es deutschen Bilr-

    gerUc1u:n

    Rechll.

    Da.t

    Rechti{Jchft 2. Anflage, Berlin-Heidelberg, Ney York,

    11175,

    p

    1:

    FRANZ

    BYDLINBKI,

    PrivatautanomJe

    und

    objekttve Grundlogen ler

    'Der;:J/= c.':.ttr..tkr. :achtaguchiiftes, Weill, 1967; FRITZ VON HIFFEL, Da.t Froblem

    der

    rechtlguchltftlichen

    Privatautanomie Berl n,

    1936;

    ALFR.E:DO

    MANIOK,

    Die

    Priuatautonomie

    tn Aufbau der Rechuquellen, BerUn, 1935: HANS MER:l,

    Prit'a

    tautonomte heute. Grun48atz ttnd

    Wirklich

    Keit, 1970; para c direito italiano,

    LUIGI

    PERRI,

    L'A.u.tonomta

    PTivata, Milano, Giu fr,

    1959

    t

    EMILIO BETI'I,

    "".Autonomia Privata , Novi81imo Dlgeata ItaliAno

    Torino,

    UTET, 1974;

    SAL-

    VATORE

    ROMANO, Autonomia prhat&, Rtv. Trim.

    Dtr. Pubbl., 1956, VI;

    LUIGI

    CARIOTA-l"ERRARA,

    Negozfo

    Glurldico nel Dtritto Priooto

    Italiano Napoll,

    Morano Editare,

    19411;

    SALVATORE PUGLIATI'I, "Autonomia

    prtvat&", Enciclo-

    ~ e d t a

    ele Dtritto IV, M lano

    Giuffr,

    1009; FRANCESCO SANTORO-PASSARELLI,

    L Autonomia dei Prtvati nel Diritto d U'Economia, Saggl. di Dirftto

    C i v i ~ ,

    NapoU,

    Ca... Edlt. IWGENIO JOVENE, 1961, I, GIUSEPPE STOLFI, Tecria

    del

    Negazo

    Giuridlco Padova, 19i7; RENATO SCOONAMIQLIO, Contributo aUa Ttorla

    del

    Nl l/azo Gluridico

    Napoll,

    Casa Edil. EUGENIO JOVENE, 19 111; para o direito

    franc&, por todos, JAQU i:S GHESTIN, Tratt

    du

    Droit

    Civil -

    le

    Ccmtrat,

    Parla,

    LGDI.

    1900; para o

    direito

    espanhol, JOB : ANTONIO DORAL Y MIGUEL

    ANGEL

    DEL ARCO, El Negocio Juridtca

    Madrid, Trivium,

    1982; PEDERICO DB CASTRO

    Y

    BRAVO,

    E Negocio

    Jurldloo,

    Madrid, INGY, 1911.

    8 .1 l l

    1- - . l . . . l

    D - - - < 1 1 _ z

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    I - ' l l l l l f t

    n a :IWT . . .

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    . . . . . .

    u

    ..V n , IV.& Ull ro(

    JIMI

    1 7 U 7

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    4/24

    Por sua formao histrico-filosfica, a explicitar-fie adiante, a autoDO-

    mia privada problematiu as relaes entre a vontade e a n o r m a ~ lovauckl

    a concepes doutrinrias diversas, confonne se polarize sobre

    11

    primeira;

    de

    natureza subjetiva, em que

    ae

    se

    d

    proeminBncia aos intcrei Set do

    g -

    te, ou sobre a segunda, em que se visam oe interesses gerais da eomnmdade,

    realados pelo carter objetivo da declarao normativa. E liga-ae ainda, c

    portanto, ao conceito de poder ou de autoridade, que tamb6m ae

    viDI:ula

    .ao

    de liberdade. Fundamenta-se, assim, a afirmativa de que o tema eiCOibido,

    na problemtica de sua el

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    conceito

    de

    autonomia como expresso do poder jurgeno dos particulares,

    cristalizado nas estruturas coerentes, unitrias e hierarquizadas da dogm

    tica positivista, deve utilizar-se uma perspectiva funcional prpria,

    na

    qual

    o direito seja produto da experincia jurdica geral (e no de uma classe)

    livre, inovadora, realstica e, acima de tudo, pluralstica,

    na

    eleio e

    na

    concretizao normativa de seus valores. Ora, num sistema aberto tm

    cada vez mais importncia as fontes extralegislativas (

    11

    ,

    contrariando-se

    assim um dos mais caros dogmas do positivismo, a lei como nica ou prin

    cipal fonte do direito. E abrem-se

    as

    portas

    para os

    pluralismos sociais, pol

    ticos e jurdicos, expressos em correlatas subsistemas, todos inter e comple-

    xamente relacionados entre si (

    . nesse aspecto de vinculaes que situa

    mos a autonomia privada, como princpio normativo-jurdico fundamento

    da

    .civilstica contempornea, em funo do debate que

    se

    trava entre a

    tendnCia individualista e a tendncia social (1'), do que se infere a hiptese

    de que o que est em crise no propriamente a autonomia em si, mas uma

    determinada concepo ou perspectiva sua.

    2

    Pressupostos conceituais.

    O

    papel

    d

    vontade na nomognese juridica.

    Vontade liberdade autonomia d vontade e autonomia privada

    A atividade espiritual do homem desenvolve-se de dois modos diversos,

    o conhecer e o querer. Pela primeira, apreendem-se os objetos, faz-se a sua

    captao mental (

    14

    ;

    pelo segundo, exercita-se uma faculdade em direo

    a um fim ou valor.

    Sob o ponto de vista psicolgico, a vontade , assim, uma faculdade

    espiritual do homem que manifesta uma tendncia, um impulso para algo,

    a realizao de um valor intelectualmente conhecido.

    Mas no s psicologicamente se pode apreciar a vontade. A tica, a

    filosofia, o direito, so outros campos de conhecimento em que a vontade

    se torna objeto de considerao.

    Eticamente, a vontade traduz-se em uma atitude ou disposio moral

    para querer algo. Metafsica ou filosoficamente, uma entidade a que se

    atribui absoluta subsistncia e se converte, por isso, em substrato de todos

    os fenmenos

    ( ).

    11)

    NORBERTO

    BOBBIO, Dalla Struttura alla Funzione. Nuovt Studi

    di

    Teoria

    del Diritto Milano, Ed. Comunit, 1977,

    p.

    51.

    02) ORIANNE, op. cit.

    pp.

    145

    e

    segs.

    13) GIOELE SOLARI, Filosofia del

    Diritto

    Privato I Individualismo e Diritto

    Privato

    Torino, Giappicheli, 1959, pp. 24 e segs.

    (14) JAIME M. MANS PUIGARNAU,

    Lgica para iuristas

    Barcelona, Bosch,

    Casa

    Editorial

    8/A, 1978

    p.

    167. WALTER

    BRUGGER, icionrio e FUosoJla

    trad. portuguesa de Antonio

    Pinto de

    Carvalho, S. Paulo, Herder, 1962, pp. 557

    e 558.

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    A vontade aparece, assim, como um motor, impulsionando e dirigindo

    o movimento em todo o reino das faculdades (

    18

    .

    Em razo do

    fiiD

    propo1to,

    a vontade movese a si mesma.

    Para o direito, a vontade reveste-se de especial importncia pela

    cir-

    cunstncia de constituir-se em um dos principais elementos do ato jurdico.

    Manifestando-se de acordo com os preceitos legais, a vontade produz deter

    minados efeitos, criando, modificando ou extinguindo relaes jurdicas,

    caracterizando, assim, a vontade jurdica.

    Vontade psicolgica e vontade jurdica no so, porm, coincidentes.

    Enquanto que a psicologia conhece a vontade como "tipo especial de ten

    dncia psquica, associada representao consciente de um fim e de meios

    eficientes para realiz-lo", estudando-a no campo do ser, o direito aprecia-a

    no campo do devet set, no .:.ampo da

    d ~ t i . : . a

    }undi.

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    7/24

    o direito obrigacional, aquele em que o agente pode dispor como lhe aprou

    ver, salvo disposio cogente

    em

    contrrio. E quando nos referimos especi

    ficamente ao poder que o particular tem de estabelecer as regras jurdicas

    de seu prprio comportamento, dizemos, em vez de autonomia da vontade,

    autonomia privada. Autonomia da vontade, como manifestao de liberdade

    individual no campo do direito, psicolgica

    19

    . autonomia privada, po er

    de criar, nos limites da lei, normas jurdicas

    20

    .

    Se quisermos tornar mais

    especfico o tema, podemos dizer que, subjetivamente, autonomia privada

    o poder de algum de dar a

    si

    prprio um ordenamento jurdico e, objetiva

    mente, o carter prprio desse ordenamento, constitudo pelo agente, em

    oposio ao carter dos ordenamentos constitudos por outros ( ).

    A autonomia privada constitui-se, portanto, no mbito do direito priva

    do, em uma esfera de atuao jurdica do sujeito, mais propriamente um

    espao de atuao que lhe concedido pelo direito imperativo, o ordena

    mento estatal, que permite, assim, aos particulares, a auto-regulamentao

    de sua atividade jurdica. Os particulares tornam-se, desse modo e nessas

    condies, legisladores sobre sua matria jurdica, criando normas juridicas

    vinculadas, de eficcia reconhecida pelo Estado. Tratando-se de relaes

    jurdicas de direito privado, os particulares so os que melhor conhecem

    seus interesses e valores e, por isso mesmo. seus melhores defensores .

    Diretamente conectada

    concepo da autonomia da vontade como

    poder jurdico est a teoria normativa do negcio jurdico,

    pela

    qual este,

    como instrumento de realizao da autonomia privada, declarao de

    vontade criadora

    de

    normas jurdicas.

    3.

    Autonomia privada. Conceito e natureza em uma perspectiva estrutural

    e dogmtica

    Por tudo o que foi dito, a autonomia privada surge como o poder que

    os particulares tm de regular, pelo exercicio de sua prpria vontade,

    as

    rela

    es de que participam, estabelecendo-lhes a respectiva disciplina jurdica.

    Sin5nimo de autonomia da vontade para grande parte da doutrina con

    tempornea, com ela, porm, no se confunde, existindo entre ambas sens

    vel diferena que se reala com o enfoque do fenmeno em apreo na pers

    pectiva da nomognese jurdica. Poder-se-ia logo dizer que a expresso auto

    nomia da vontade tem uma conotao mais subjetiva, psicolgica, enquanto

    que a autonomia privada marca o poder da vontade de um modo objetivo,

    concreto e real, como j referido.

    (19)

    GI SEPPE

    STOLF I, Teoria del Negozlo Giuridico trad. esp.

    de

    JAihtE

    SANTOS

    BRIZ,

    Madrid,

    1959, p. XII.

    20) LUIGI PERRI, L Autonomia

    Prlvata,

    Mllano, G l u f f r ~ 19S9, p. 5.

    (2ll BANTI

    ROMANO,

    Frtimmenti

    di

    un DiZion Jrlo

    Giurl4tco,

    Mltano

    tuffr

    Edltore, 1983 pp.

    24

    e segs.

    22l GARCIA AMIGO, op.

    clt.,

    p. 209.

    ll

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    8/24

    ob

    0

    ponto de vista institucional e catnrtural,

    t r a i c i o ~ n t e

    dOm

    nante na teoria

    geral

    do direito, pois que se tm preocupado maiS

    ll

    teri

    cos

    em

    saber como o direito

    feito

    do

    que, na verdade, ~ r a

    ~ u e

    li

    se Ve

    ( ;

    a

    autonomia privada eo;nstitui:se em

    um_

    d ~ s

    p ~ C i p o B

    fuO:

    damentais em torno do que se orgamza o stllterna

    d t ~ t t o p n v a ~

    c o ~ t e m

    prineo ("') num reconhecimento, pelo sistema JUrdico,

    ~ ~ ~ s t l t c l a _

    de

    u m mbito particular,

    uma

    esfera privada de a t u ~ o com eficCia

    n o ~ a t l v a

    Trata-se, efetivamente,

    de uma

    verdadeita proJeio, na ordem

    Jllt"bca. do

    personalismo tico, concepo axiolgica da pe85oa como centro e destina

    trio da ordem jurldca privada( , sem o que a

    pessoa

    humana, embora

    formalmente revestida de titularidade jurldica. nada

    mais

    seria do que mero

    instrumento

    a

    servio da sociedade ( .

    Sob o ponto de vista tcnico, a autonomia privada funciona

    como 'lerdadeiro

    pader

    jurdico particular, traduzido na

    po sibllidade

    de

    o

    sujeito agir com a inteno de criar, modificar ou extinguir situaesjutidl

    cas prprias ou de outrem. Tal poder nfio ,

    par6m,

    originrio. Deriva do

    ordenaJiJento jurldico estatal, que o reconhece, e e ~ e r c e s e nos limiteS que

    esse

    fixa, limites crescentes pelo aumento das

    fun()es

    estatais enl virtude

    da

    passagem do

    Estado de direito para

    o

    Estado IntervenCionista e assis

    tencial.

    Quanto sua natureza, a autonomia privada verdadeiro poder jurldi

    co que se traduz na possibilidade de o sujeito atuar para o fim de modificar

    situaes jurdicas subjetivas, prprias ou

    dr

    outrem

    i'').

    O poder

    jurdico( ')

    realizase alravs da criao de normas jurfdcas,

    quer pelos particulares, no exerccio da autonomia privada, quer pelo Estado,

    no exerccio da sua competncia que a lei maior lhe confere e regula. No

    primeiro caso, o poder

    normativo, e realizase atravs de negcios jurdi

    cos, podendo aer tambm no-normativo, aluando por meio de atai juridi

    otcm

    ae1110

    estrito, ou aes materiais, que no constit\kCill manifestaes

    de autono ia.

    De

    qualquer modo,

    o

    poder jurdico

    sempre manifesu1o

    de

    capacidade jurdica, pressuposto das relaes e dos dircitqs subjetivos (

    .

    ~

    sendo furtio

    do

    jurista

    o

    estudo do poder; seu DBjCimento e

    u:erclcio, interessa-lhe, porm, a relao que existe entre o poder e o direito,

    CAl BOBBIO, 01>. Clt,, ]>. 83.'

    C:H P :.UMJ:,

    op.

    clt., ]>, 1.

    C215l

    LARENZ, op.

    clt.

    p,

    211.

    Cl tll JO.S. ANTONIO DORAL

    e MIGUEL

    ANOEL DEL

    ARCO,

    E

    Negoob

    Juriclioo Wa4rlc1,

    'l'tlvlum, p.

    11.

    (21)

    vrrroruo

    PROSINI,

    Potere (Teoria

    Ger\er lel",

    ln Nisstm btqero

    Italiano Torlno,

    'U'I'El',

    XIII. 1931, p. 440.

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    9/24

    duas faces da mesma moeda, pois o poder nasce da norma jurdica e produz

    normas, e a norma nasce do poder e produz outros poderes (

    00

    .

    Tal correlao justifica o interesse do jurista pelas questes que a gnese

    e

    o

    exerccio do poder

    l e v a n t c : ~ m .

    considerando-se que o

    cxcn.:du

    Ua au

    tonomia privada uma questo de exerccio de poder, dentro dos limites e

    na esfera de compctnciu que o ordenamento jurdico estabelece. Ora, o

    problema da autonomia privada. na sua existncia e eficcia,

    apcnRs

    um

    problema de limites (

    31

    .

    As normas jurdicas no nascem do nada. Elas sempre resultam de um

    processo de constituio e positivaco do direito, em que se destacam os aros

    praticados pelo sujeitos no

    ~ x e r c c i o

    do poder jurdico que o sistema lhe

    oonfere O direito s existe e

    eficaz. portanto, em virtude de um poder que

    o cria e legitima, sendo que no mhiro das relaes pessoais e patrimoniais,

    o particulares detm o chamado poder negocial, que exercem como os

    negcios jurdicos. Esse poder que aos particulares se reconhece de estabele-

    cerem, por ato de vontade prpria, a disciplina jurdica das relaes

    uc

    que

    participam.

    o que se denomjna, como acima referido, de autonomia

    privada. Difere da autonomia pblica no sentido de ser esta um poder atri-

    l?ufdo ao Estado. ou a seus rgo i, de criar rlircitos nos limites de sua compe

    tncia,

    com

    o

    rim

    de proteiio

    dos

    interesses fundamentais da sociedade.

    Seu llbjetivo de natureza pblica c seu poder originrio e discricionrio.

    JA na autonomia privada, o:; intcrc::>sc:; so

    p a r t i c u l a r e ~

    c seu cx.crccio

    m a n i ~ s t a o de libcrdad

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    10/24

    das

    pessoas

    ( .

    .

    Pode assim caracterizar-se como sendo aquele actor

    do

    ordenamento jurldo CIIl que se exercita

    ou

    lCllliza a autonomia reconhedda

    os sujeitos de direito, e que se constitui em principio fundamental embora

    limitado pelas modernas

    exigt1neias

    de

    sociabilidade e

    do

    bem

    wmum.

    O principio da autonomia privada baseia-se, portanto,

    ou

    tem como

    pressuposto a liberdade individual ( . que, filosoficamente, se entende como

    a

    p083ibilidade de opo, como liberdade

    de

    fazer

    ou de

    livre arbftrio, ou

    ainda, sociologicamente, como ausencia de condicionamentos materiais e

    saciaia. Sob o ponto de vista juridico, a liberdade o poder de fazer ou Dlo

    fazer, ao arbftrio do sujeito,

    todo

    o ato

    no

    ordenado liCIII proibUo

    par

    lei ("')

    e,

    de

    modo positivo, o poder

    ~ as peSIIOU em

    do opiM'

    entre o

    exerofcio e o no exerofcio de seus direitos subjctiVOI (M).

    A

    liberdade

    con-

    siste, portanto, sob o ponto

    de

    visbl jurlclico,

    em

    uma faeuldade

    de

    optar

    entre o

    e ~ t e r l i o

    ou

    no dos

    direilo6

    subjetivO l

    ou das

    faculdades

    de que

    o agente dispe. Da liberdade jurldica, ou liberdade

    oomo

    direito, dlstin

    guMe

    a liberdade da vontade, liberdade como poder(

    .

    .

    Como

    direito, a

    liberdade faculdade de opo entre ates nem ordenadoa nem ptOibidol,

    como poder

    a

    faculdade de atuao dentro

    da

    esfera jurdica.

    A liberdade,

    como

    valor jurdico, permite ao individuo a atuiiio

    cam

    eficcia jurdica, ou melhor, a atuao livre com transced&tcia jurdica(")

    que se concreta em

    duu

    manifestaes fundamentais,

    UIDI,

    aubjetin, que

    6 o estabelecimento, modificao ou extino

    de rela5es

    jurfdic.a, e CIUin,

    objedva, que

    a

    normativizao ou

    regulao

    jurdica deliiU

    ~

    Conf"tgUramse, desse modo, duas facetas da liberdade jurdica, uma,

    a

    liber

    dade de criar, modificar

    ou

    extinguir relaes jurdicas,

    outra,

    a de eatabo

    lecer as normas jurdicas disciplinadoras deaa atividade,

    que

    6 a autonomia

    privada, definvel, enfun, como podar jurdico de criar, t\011

    l mltes

    lepl

    rnente estabelecidos,

    norma'

    de direito.

    A autooom a privada signlflca, assim, que o ordenamento estatal deixa

    um

    espao llvre ao exerccio do poder jurdico dos particutuee, IIIJIIIO -

    que 6 a esfera de atuaio com

    eflcAc a

    jurdica. Reconbeco-ee, portanto,

    que, tratando-e de rele9 a jurdicas de direito privado, lllo

    01

    )11111cu1

    rea

    que

    melhor

    conhecem seus

    intare8sell

    e a

    melhor

    forma de

    felllli-lol

    Jurdcamente.

    1112l R06AIUO NIOOLO, "DDI11to ei.Uo, ln . w n e ~ c Z , - I a lfol Dlrltfo Vol. lDI,

    p.

    DM.

    CIIBAJtl : ~

    e troO

    C M D

    AIJ, Dirttto elvllo", IIi

    NOI>fallllo

    D ~ Q o t o Itallllno, apondlce D, pp.

    1150

    e IIOC

    STOLPI, op. e Ice. c .

    IM IIDUARDO GARCIA MAYNBZ, Ftloro.lla dei

    l>erec/lo llloo, lldltorlal

    Porra&

    SIA, 19'14,

    p.

    3

    l

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    11/24

    O princpio

    da

    autonomia privada est hoje submetido a um processo

    ele

    reviso critica, em que se manifesta a reduo do campo de sua aplica

    o,

    embora permanea como e Sncia do negcio jurdico, particularmen

    te

    de

    sua pdncipel categoria o conttato, dentro

    de

    um

    novo sistema

    econ

    mioo, 1 ecoiUllllia

    conoertada pela interveno crescenle do Estado.

    Tal

    crise por6m, maia

    quantilativa do que qualitativa.

    5. A

    fortrulf4o

    ldstdric do conceito Faiores

    lfiQrai8 pollticos

    e

    econb-

    micos

    qu

    Plftidlram

    ll sua

    formao

    O

    princpio

    da

    autonomia privada histrico e relati\'O, no sentido

    'Ck que fatores de vAria natureza, nomeadamente

    de

    ordem moral, poltica

    c econmica, contriburam para a sua configurao histrica, at se con

    Ubltmclat"em

    DO priadplo fo.mdamental da ordem

    jur:dica

    privada.

    A com

    preetJiio

    de

    aua

    nliUreza

    e

    ftmio exige,

    assim,

    o

    conhec:imento

    pr6vio

    da CODdillea hiRrl.cu o

    cultums

    em que surgiu e se deaenvolveu.

    PodHc COJIIiderar,

    de

    maneira geralmente ac:eitl, que aeu antecedenre

    imediato

    o

    Individualismo, doutrina segundo

    a

    qual se concede pcasoa

    lwmana

    um primado,

    uma

    supervalorizao relativamenle scciedadc.

    O

    illdlvfduo como

    fonte

    o cauu fmal de todo o direito.

    Dilerenres aspectos

    ou

    vemmla podem-se visualizar nessa doutrina,

    todoa elea direta e CODjuntamente lipdos ao proceaso de

    formafio

    hist

    rlea do conceito de autonomia

    ~

    sob o ponto de vista estrutural, e

    tamb6m

    quanto

    funo

    que

    ele pode

    desempenhar no conlexto poltico.

    jurdico pert naue. F D o a o f i ~ o Individualismo explica os fCilill0-

    1108 hlltrico8 e

    aocals

    como

    decon8ncla da

    atividadc

    "consciente

    e

    inte

    llll&da doa

    Indivduos". Neaae -tido,

    contrapo-se

    ao materialismo hJ a

    l6rico que

    v

    a "Blqllk:alio doe fentne"OB

    aociais

    nas correntes de massa

    de

    oripn

    puramenlc lntemlada

    o 11111terial"

    (

    .

    .

    Politicamente, o indlvi

    duallsmo

    ope

    e ao estatiSIIIO o l IDierwnio do Estado. Por outro lado,

    ope- e t . i ~ ~ ao eofcnnilm

    _,

    tradfeionalimo. Para ele, a

    socicd

    de nlo um fim em l i

    DMWJ111,

    n.a o inltrumento de um ftm superior aos

    indivdUOI que a c:omplem. s ~ aociais

    devem

    ter por

    fim

    a

    feli

    cidade e a perfeio dos individuo...(). Significa, ento, o individualismo,

    uma

    "tendncia a

    colocar

    81

    w t l ~

    polftil:as

    juridicas

    e

    sociais

    de

    um

    pas ao IICI"vio doe Intel dos individues que compem

    a populaio, de preferncia

    aos

    it

    1 ;

    coletivos"

    (

    0

    ) .

    Sob o ponto de

    vata ecoo&nico, advoga que o

    Jaodtt(rlbo

    deve gozar do mxime de liber

    dade

    para atuar

    no campo

    e c o ' " b n l ~ ; Ope, a9Sim, ao

    dirigismo estatal,

    e

    nCISC

    particular, confunde-se com o liberalismo. Defende o livre jogo das

    IIII)

    KARCBL

    WALLINll:,

    L l to4 C-e

    ot

    le DTO ,

    deu> ftne d Uon,

    Paris,

    :8dltlon Il

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    12/24

    atividades econmicas individuais; com o mnimo de interveno do Esta

    do no domnio cconmico, l i m i t n n d o - ~ e esse a garantir a liberdade de trlt

    balho e do comrcio e o beneficio da propriedade dos

    bensistema jurdico que resulta da atividade individual".

    Para JUGUIT, uma doutrina de direito natural que pretende fun

    dar a legitimidade do direito objctivu na nacessidade de garantir os direi

    tos

    naturab

    inatos dos indivduos ('").

    Em face da diversidade de cor.cepes dos autores. o individualismo

    jurdico pode considerar-se em funo da teoria das fontes do direito, da

    finalidade do direito. e em funv do rcccnhecimento dos direitos inatos do

    homem impostos sociedade e

    por ela

    conhecidos e respeitados. Pode assim

    concc.bcrse o individualismo jurdico, primeiro, como

    um

    sistema cm que

    se admite que o indivduo

    a

    nica fonte de rodas

    as

    regras do direito, a

    causa final de toda atividade jurdica das instituies, notadamente do

    Estado".

    E, cm

    segundo lugar, uni sistema em

    que

    o indivduo

    seria a

    fonte

    das rep.ras de direito. ou de uma

    p a r t ~

    entre elas. Ou. ainda, llm ~ i ~ t e r r i a

    em

    que

    a

    legislao sofre a influncia do individualismo poJti:o e C

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    13/24

    portante, tambm, que no se configure o enriquecimento injusto, donde as

    idias da leso e de usura consagrados pelos canonistas. preciso, enfim,

    que no se tenha dado a palavra por nada ou por uma causa ilcita ou

    imoral, donde a origem da teoria da causa, to importante no regime dos

    contratos (

    46

    . Reconhecendo como pecado a violao da palavra dada, o

    direito cannico consagra o acordo de vontades como fonte de obrigaes

    morais e religiosas.

    Com os glosadores, principalmente BARTOLO DE SAXOFERRA

    TO

    (

    ,

    firma-se o princpio da autonomia da vontade do direito interna

    cional privado, reconhecido aos particulares o poder de escolher a lei apli

    cvel aos seus contratos. A vontade particular passa a estabelecer o critrio

    de soluo dos conflitos de leis em matria contratual e, assim, a ser fonte

    de direito. tambm no direito civil que

    se

    passou a reconhecer a vontade

    particular como poder de estabelecer

    as

    regras

    de

    sua atuao jurdica, o

    que se consagra no art. 1.134 do Cdigo Francs, segundo o qual as con

    venes legalmente estabelecidas fazem lei entre

    as

    partes . O que era

    para os internacionalistas uma noo puramente tcnica passou a ser para

    os civilistas um conceito terico (

    48

    , traduzindo a convico de que a von

    tade pode, como a lei, criar direito .

    Com a escola do direito natural, a idia da origem divina do direito

    substitui-se pela das liberdades naturais, que

    se

    consideram fundamento e

    fim do direito. Declara-se que existem leis da natureza descobertas pela

    razo que devem dominar as legislaes. Essas leis fundamentam e favore

    cem a sociedade dos homens. Ora no h regra mais favorvel sociedade

    dos homens que aquela que consiste em dizer que se obrigado pelo con

    trato e porque se quis isso. O contrato

    a manifestao da vontade huma

    na, e a liberdade contratual uma das liberdades naturais (

    49

    .

    Tambm a teoria do contrato social, de JEAN-JACQUES ROUSSEAU,

    contribui, no plano filosfico, para a teoria da autonomia da vontade. O

    homem

    naturaimente iivre; a via em sociedade exige, todavia, um cett

    abandono desta liberdade, mas este abandono no

    se

    concebe seno quando

    livremente consentido, nos limites e nas condies que esse contrato

    social determinou ('

    0

    . Segundo essa teoria, a autoridade pblica tem por

    (46) ALEX 'VEIL

    et

    FRANOIS T E R R ~ Droit Civil, les Obbltgations, Paris

    Dalloz, 1975, p. 51.

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    base a concordncia dos sujeitos de direito, unindo-se uns aos outros para

    formar sociedade e abandonando

    pelo

    contrato social uma parte dos

    dlref.

    tos subjetivos que a natureza lhe tinha dado. A vida em sociedade nlo aeria

    possvel se cada um quisesse exercer ao

    mximo

    sua liberdade individual,

    seodo preciso renunciar a alguns direitos pelo contrato social". A conven

    o, o acordo, a base de toda autoridade entre os homens,

    seodo

    que a

    prpria autoridade pblica extrai seu poder de uma conveno.

    Com a filosofia de KANT, que teve definitiva influncia, a autonomia

    da

    vontade adquire

    conotao

    dogmtica, passando a Imperativo

    categ rico

    de ordem moral, afirmando-se

    na Me/Qjfsica do

    Direito (1796) que

    a

    von

    tade individual a nica fonte de toda obrigao jurdica" (

    11

    ) . Na

    Alo-

    manha, suas idias serviram de substrato famosa Wlenstheom e na

    Frana, a traduo

    de

    seu livro consagra defmitivamente a autonomia

    da

    vontade.

    A prpria expresso

    tirada da obra

    Critica

    d Razo Prdtica.

    Argumentos decisivos da autonomia da vontade como principio e

    for-

    ma de poder jurdico encontram-se ainda no campo econmlco, impondo-se

    em toda a sua plenitude com a doutrina do liberalismo "pelo qual o livre

    jogo das vontades particulares assegura o mximo de produo e os preos

    mais baixos, como efeito da livre concorr&lcia" (""). O instrumento

    6

    o

    con-

    trato que deve ser preservado como produto da liberdade Integral de IU88

    partes, afastados os obstculos livre circulao dos bens. e o princpio do

    laissez-jaire laissez-passer

    laissez-contracter.

    e porm, na elaborao do Cdigo Civil francs que t l princpio tem

    a sua mxima positivao, realizando-se

    no

    art.

    1.134,

    como

    acima refo.

    rido, e efetivando os princpios dele decorrentes, da liberdade contratual,

    do consensualismo, da fora obrigatria do contratual e do efeito relativo

    do contrato.

    Na Alemanha e na Itlia, o notvel desenvolvimento da doutrina

    levou o princpio da autonomia da vontade a uma nova dimenlio com

    significado at diverso para alguns juristas (

    11

    )

    que passaram a

    CODiido-

    r-lo, objetivamente, como verdadeiro poder jurdico dos particulares,

    do-

    nominando-se,

    por

    isso, autonomia privada, poder de estabelecer normas

    jurdicas Individuais para regulamentar sua prpria atlvidade jurdica, ma-

    nifestada a vontade por meio de figura especfica, o negcio jurdico.

    (51> EMMANUEL KANT,

    Grun41ung zur

    metaphualk

    der Sitten

    trad. de Paulo

    Qulntela, BAo Paulo, Abril Cultural,

    1 110,

    p. l Sobre a. ortgem da. ~

    cfr.

    VERONIQUE

    RANOUIL, op. clt., pp. 42,

    76

    e

    84.

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

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    6. uno histrica

    da

    autonomia da vontade

    Fundamento

    ideolgico

    A concepo terica da autonomia privada produto do individualismo

    que rene e consolida tendncias anteriores

    j

    verificadas no direito romano,

    no direito cannico, no contrato social e no liberalismo econmico, e que

    se manifesta, historicamente, no jusnaturalismo.

    Seu

    fundamento bsico a liberdade como poder jurdico, e sua funo

    se deduz das condies econmicas e sociais em que se firmou como poder

    jurdico. Importante, pois,

    para

    explicitar-se

    t l

    funo, no propriamente

    a ideologia individualista do jusnaturalismo, mas o processo econmico em

    que nasceu e se desenvolveu o princpio da liberdade, ou melhor,

    do

    poder

    individual como fonte normativa.

    Com o desenvolvimento do comrcio e da indstria, a diviso do traba

    lho e a especializao, aumenta o intercmbio

    de

    bens e servios e o princ

    pin da autonomia

    da

    vontade toma-se extremamente til para o desenvolvi

    mento desse processo, acreditando o pensamento econmico liberal, na sua

    expresao mais pura

    que

    a lei econmica da oferta e da procura responde

    aos interesses da sociedade.

    Breve reviso histrica mostra-nos que o dogma

    da

    vontade nasce

    tambm do direito de propriedade. Na Idade Mdia, a fonte principal da

    riqueza e produo era a terra, e o direito principal, a propriedade. A evolu

    o politica e econmica tomou, porm, distinta a propriedade da terra da

    dos demais bens de produio, bale do comrcio e da indstria, e de que

    eram titulares os construtores

    da

    ecooomia

    capitalista, os burgueses,

    int -

    ressados

    no

    desenvolvimento do intcn:llmbio comercial. Esse processo levou

    juriadicizao

    du

    relaes

    de

    troca, isto , a um sistema jurdico que per

    mitiase a livre circulao dos be111 e dos sujeitos,

    na

    dinmica do prprio

    sistema. A

    generalizao

    das ttocaa configura uma nova fora,

    um

    novn

    poder, que se destaca do direito de propriedade, e que , precisamente, o

    poder da vontade que se realiza na liberdade de troca e na liberdade de

    atua;c no mercado, correspcmdente

    o

    qe hoje

    denom.in.ams

    de berd e

    de iniciativa econmica.

    A autonomia da vontade traduz o poder de disposiio diretamente

    ligado ao direito

    de

    propriedade,

    dentro do sistema

    de

    mercado

    da

    circulao

    dos bens por meio da troca, e de

    que

    o instrumento jurdico prprio o

    negcio jurdico. Essa autonomia significa, conseqentemente, que o sujeito

    livre de contratar, escolher com quem contratar e estabelecer o contedo

    do contrato. A autonomia priv d teria, 1m. como fundamento prtico, a

    propriedade privada, e como funlo, a

    livro

    circulao de bens (

    14

    .

    A vontade apresenta-se, deae

    modo,

    como o elemento fundamental da

    dinmica do mundo jurdico BA ICELLONA, OJJ. clt.,

    p.

    :aDl.

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    16/24

    A autonomia privada rcvea-se, portanto, como produto e como instru

    mento de um processo poltioo c econmico baseado na liberdade e na igual

    dade i ormal, com positivao jurdica nos direitos subjetivos de propriedade

    e de liberdade de

    initiva

    econmica. Seu fundamento ideolgico ,

    r-

    tanto, o liberalismo, como doutrina que, entre outras formulaes, faz dii

    liberdade c princpio orientador da nomognese jurldica no mbito do

    direito privadc, pelo menos no seu campo maior que o do dil:l'ito das

    obriga;cs. Cem a interveno posterior do Estado, e a respectiva legiliao

    especial, limita-se a autonomia da vontade e visa-se estabelecer outro tipo

    de igualdade, a

    malerial.

    O princpio

    da

    autonomia perde seu absolutismo,

    mas, rersiste ainda como principio bsico da andem jurdica pri,vada (

    10

    . O

    interesse geral e a justia pem-se acima

    da

    liberdade ip.dividual, mas

    Q

    direito objetivo respeita o direito subjetivo, pois a superioridade daquele

    direito no incompatvel com o reconhecimento da autonomia dos par

    ticulares. A questo , apenas, de limites

    ( ).

    Permanece, como regra, a

    liberdade de contratar e de estabelecer o contedo do contrato. A exceio

    a interveno do Estado criando a obrigao de contratar e inserindo,

    automaticamente, clusulas c preos fixados

    ( ).

    "justificando-se tom o

    carter excepcional das circunstncias que alteram o modelo concorrencial".

    7 .

    onseqncias

    iurldicas

    da

    insero do

    principio da atonomia

    privada

    no sistema

    jurdico

    Conseqncias imediatas da aceitao da autonomia privada sfo, em

    matria constitucional, a garantia da liberdade de iniciativa econmica, e,

    :10

    campo contratual, que

    o seu campo por excelncia, os princpios da

    1

    ibcrdade contratual. da fora obrigatria dos contratos, do efeito relativo

    dos contratos, do consensualismo e da natureza supletiva ou dispositivo da

    :nnioria das r.ormas estatais do direito das obrigaes, e ainda a teoria dos

    vcios do consentimento. No campo sucessrio, a libendade de testar e de

    estabelecer o contedo do testamento. E para os que aceitam a vontade

    como poder jutdico (autonomia privada), a concepo normativa do

    neg-

    cio jmdico, a consideiao do negcio como fonte de normas jurdicas.

    A liberdade de iniciativa econmica a expresso da autonomia priva

    da no campo constitucional. So conceitos correlatas mas no coincidentes,

    na

    medida em que a primeira focaliza o aspecto econOmico e a segunda, o

    jurdico, do mesmo fenmeno. havendo entre eles uma relaio instru

    mental ('"l.

    A liberdade contratual manifesta-se nos seguintes aspectos: liberdade

    de contratar, de escolher as partes com quem contratar, de estabelecer o

    contddo, a forma e os efeitos do contrato.

    O

    consensualismo significa que

    l56J OHESTIN. O J.

    cit. p

    119.

    57 PERRI. op

    e

    loc

    cit.

    lM J BARCELLONA, op. clt. p 226.

    f59l PRANCESCO

    OALGANO,

    Rapporti

    Economic i t Commentarlo deDa O l-

    tittlzione a cura di Giuseppe Branca> Bologna, a n ~ c h e l l l Ed.ltore, 191l p 6

    222

    R.

    lnf.

    . . . . . .

    8-l l la

    a. 26

    n,

    181 ..... joo. 19?

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    17/24

    h ~ $ t a

    o.

    onsentimenw o

    o.lcordo

    de vontades, para que o contrato se cstabe

    l : ~ a

    c as obrigaes nasam, no sendo preciso forma especial. Os vcios do

    c ~ n & c n t i m - c n t o revestem-se de grande imponncia pelo fato de que, "se o

    consentimento

    no

    livre",

    a

    manifestao

    de

    vontade

    defeituosa

    c

    portanto. anu1io;cl.

    Por outro Jade, no

    i n t e r e s ~ a m os

    motivos da declarao

    de vontade. Sendo o comratc manifestao de liberdade, no importam os

    motivos que levoram

    n

    tal manifestao. A ' o n t a d ~ vale por ela mesmo,

    sendo Jidto

    o

    respec:ivo objcto. O pricijlio da

    ;cra

    obrigatria dos contra

    toS ::;i n.ific que, sendc a vumade panicu]ar aut6:1om.a.

    da

    c s t a ~ e l e c e a

    ]ei entn;

    partes

    contratann::s, vin.;::ulanJo-S(

    ao

    cumprimento

    das

    obriga

    t;L':::

    cstabclcddas por c ~ s a

    Vntadc.

    ;J o deito relativo dos ;;ontratos signi

    f ca. por sua

    "YC7..

    que a dictcia

    do

    contrato, as

    obrigaes

    e

    as regras

    e ' a b e l e ~ i d a s

    pora o seu

    c u m p r i m e ~ t o

    produzem efeitos apenas entre os

    participamos, as partes do

    contrJto,

    no a f c ~ a n d o

    terceiro:::.

    A ttulcnomir..

    privada m a n i f c ~ t a - s c

    c

    realiza-se no :;ampo das relaes

    }uri.licas

    pntrimoniais

    1

    que o setor por excdfo r:cia

    da

    esfera de

    :;oberania

    individual, .compreendendo os relaes jurdicas obrigadonais

    c

    ' reais.

    Seu .instrumento

    o ncgc'c juridico, fonte por cxcdncia das obrigaes,

    :ncluindo os ~ o n t r a t c s . ui d ~ d r . r a c s unilaterais de vontade e, no campo

    das succssacs', o test;unento, manifestao volitiva com que u pessoa dispe

    de seus bens para depois do su,; morte.

    Para os que vem r.a vontade individual um poder jurgeno, aceitando

    o princpio da

    .:mtona:nia

    privGda, o

    negcio jurfdicu, seu

    instrumt:nto.

    L-cm

    eficcia

    n o r r n a : i ~ a ,

    vale dizer. " :nanilc;tao de vontade

    tome autnomaJub

    regras

    j u r d i t : ~ ~

    que,

    ao IJdo

    das cstabdcddaf ~ : m Jd.

    disciplinam,

    regulam, as obrigaes na.cidas desse c.cg6do. As regrJs que nascem da

    dedan:i\o C:c vontade so jurdica,,

    oo

    ludo

    da;

    que nascem do poder esta

    tal. ou < ios

    coslUme.>. ou doo

    princpios gerais do direito. "Qualitativamente

    no h dHcrt.:na cm as distintas

    ft.:nt :::i

    norma:ivas que integram o comple

    xo regulador

    da

    relao jurdica

    concrda,

    air.da que se ~ s t a b e k a uma

    hierarquia entre a norma procedente de cada fonte"("''). E no processo c

    roviso d.l Caria. d

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    18/24

    tudo isso acompanhado de criticas autonomia da vontade, a clemclllllrar o

    seu del:lnio.

    Tais crticas so, tamb6m. como os fatores que a fizeram

    CI CICCr,

    de

    ordem filosfica, moral e econl ..ica.

    Sob o ponto de vista filosfico, constata-se facilmente que ao indivi

    dualismo se contrapem as tendncias sociais da idade contemporAnea.

    O homem um ser social, vive necessariamente em grupo, do que

    lhe

    a dm

    inevitveis relaes e condicionamentos que reduzem a sua capacidade de

    agir individualmente, no seu exclusivo interesse.

    Sob o ponto de vista moral, tem ficado demonstrado que 01 principio&

    da liberdade e da igualdade, fundamentaa

    no

    direito civil, no 10 naJi M

    harmonicamente. A igualdade perante a lei meramente formal; no campo

    material, as desigualdades so profundas, gritantes. O exerccio da liber

    dade contratual, por exemplo, pode levor os segmentos sociais mais

    carenta

    de recursos e, por

    isso

    mesmo, desprovidos

    do

    poder de confronto

    ou

    de

    negociao, a acentuados desnveis econmicos, do que exemplo a milria

    das claases menos favorecidas. ll por isso que o Estado intervm no direito

    dos contratos, a fim de equilibrar o poder das

    parta

    contratantes,

    estai

    lecendo normas imperativas

    em

    matria de ordem pblica

    ou

    de

    bom COfo

    tumes. O legislador limita, assim, a autonomia

    da

    vontade t ~ a n o fim de

    proteger os plos mais fracos da relao jurfdica patrimonial, principal

    mente em matria de contratos (locao, emprstimos, seguros etc.).

    Sob o ponto de vista econmico, reconhece-se que o individualismo

    deu lugar ao socialismo, em sentido amplo. Advoga-se a intervenlo crea

    cente do Estado na organizao e disciplina dos setores bicos da eco

    nomia, alegando-se a inconveniencia, a impossibilidade at6 de se deixar

    s foras do mercado a conduo da economia nacional, principalmente

    nos pases em vias de desenvolvimento, onde so mais flagranta as dilpa-

    ridades econmicas e sociais. Sendo assim, os valores fundamentais da

    ordem jurdica, segurana,

    justi.e, o bem

    c_.nmum iberffade. igual-

    dade e a paz social exigem uma presena cada vez maior do

    alldo atumte

    no sentido de equilibrar as foras econmicas e soclaia em conflito. Nlo

    M

    admite mais a economia liberal, na sua forma mais pura, tpica

    do

    s6culo

    XI, que d lugar a uma economia concertada, com uma intervenio

    cre.

    cente do Estado. Essa interveno realiza se primeiro na proteio daa cat -

    gorias sociais menos favorecidas, como os trabalhadora aasalariados, e

    depois, na organizao da produo e distribuio dos bens e ~ e r v i o a

    com um conjunto de medidas cuja disclpHna jurdica toma o nome de

    ordem pblica econOmica.

    Finalmente,

    um

    argumento de natureza ideolgica. O principio

    da

    autonomia da vontade encontra sua razio de ser na

    expreaio maia

    pura do

    liberalismo econ6mico, na

    ~ p o c a

    em que o Estado tinha uma

    funio maia

    politica do que econ6mica ou social. Era o Eatado de Direito, organizedo

    juridicamente

    para

    garantir o respeito

    801

    direitos

    i n d i v i d u a i ~

    cm rua pio-

    R. . teglol.

    Z

    102

    .....

    tn

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    19/24

    nitude. Com a revoluo industrial e tecnolgica, e os problemas soaat'

    dela

    decorrentes,

    oom guerras mundiais de permeio, surgiu o Estado IIOCiel

    interveucionista, destinado o r g n i z ~ e disciplina da vida econmica,

    protegendo os retores sociais mais desfavorecidos, e diligenciando

    no

    sen

    tido de criar iguais oportunidades de a:esso aos bens e vantagens da socie

    dade contempornea. No :ampo do direito privado. a w c i l i z ~ o do

    direito civil ('").

    9. ii evoluo

    do

    direito civil A interveno

    do

    Estado e os limites

    d

    autonomio privada

    Sendo o direito civil produto histrico de uma larga experincia j ur

    dica, tanto no seu upec:to normativo quanto no de sua prpria

    ~ l b o r -

    o cientifica, a sua dogmtica atual refietc as profundas mudanas que a

    revoluo industrial e tecnolgica tem

    c&usado

    na

    sociedade, tomando

    mais complexas as suas relaes e mais especfica e assistemtica a sua

    disciplina jurdica. E no quadro atual dessas modificaes, a nota caracte

    rfsrica que soi>ressai, a marcar indelevelmente a civilstica contempornea,

    a presena crescente do Estado na disciplina da matria

    de

    direito

    priYa

    do, absorvendo-lhe cs princpios cardeais em tomo dos quais

    se

    edifica

    ram, ao longo

    06 sculos,

    a cincia e o sistema do direito comum, dando

    lhe

    os foros de superioridade que levariam juristas a afinnar estarmos em

    face da publicizao do direito civil

    (").

    O individualismo dos Olrocentos, =nltan.te das concepes jusnatu

    ralistas e iluministas que tio bem se positivaram no Cdigo de Napoleo

    e no B.G.B.,

    nos

    quais a

    pessoa

    humana,

    com

    sua liberdade e autonomia,

    era o centro por e x c e l ~ n c i do universo jurdico, e o direito civil "a garan

    tia dos fins individuais relativos famlia e aos

    bens"(

    .. ), foi-se redu

    zindo gradativamente a partir do

    comeo

    do sculo e, acentuadamente,

    com a Segunda Guerra Mundial, I1ICI'CI

    duma progressiva interveno do

    Estado, que limita a autonomia da vcmtade. quando no a elimina total

    mente, s relaes da microeconomia. A interveno estatal na matria

    econmico-jurfdica demonstra, IISI im, a definitiva superao do individua

    lismo do sculo XIX. e a coosoqente dccadr.cia do liberalismo econmico

    e politico pela ingerncia do Estado, com princpios autoritrios, na eco-

    nomia privada e na vida

    jurfdq

    em geral ( . Advoga-se o predomnio

    dos interesses gerais sobre

    os

    particularea e sobrepe-se o esprito da sacia

    idade e da justia social ao do PlltO individualismo dos Cdigos Civis,

    exigindo-se destes no mais a tradicjpaal postura dogmtica adequada o

    Estado de Direito, mcs o carter ~ de utilidade prprio do Es

    lado social. Ora a passagem do Esta4o- -liberal para o Estado intervencio-

    (tlll JBAll' CARBONN lm, rolt C'llll, l l f

    *lltkln, Pari ,

    P.U.F., 1971, p. 69.

    1 5 3 ~ R.ENa SAVATIER u DroU llrU lltl Drott Pubiic Paris, L.CJ.D.Y. 1960

    pp. 13

    """'

    ( 1) GRASSE'I'l'I, op. ci .,

    p.

    118Z.

    (elll PR.ANCESCO MEBBUiiiO,

    ~ a o a ~ . I, J.III DQ. O l u f f ~ 1MI,

    p. IICI.

    L .lf 1-llo 26 n. 112

    J;

    1989

    22S

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    20/24

    Dista, com a sua crescente ingerncia na organizao da vida econmica,

    conduz ao declnio da concepo liberal da economia e a uma conseqente

    crtica ideolgica

    do

    dogma da vontade, principalmente da doutrina

    mar-

    xista(

    .

    .

    As conseqentes e inevitveis modificaes no sistema de direito civil

    podem-se agrupar em trs significativas vertentes:

    1) as

    fontes do direito

    civil; 2

    os

    seus institutos fundamentais (personalidade, famlia, proprie

    dade, contrato e responsabilidade civil); e 3 a atuao do Estado e de

    grupos intermedirios (partidos polticos, sindicatos, associaes de consu

    midores etc.) nas atividades tipicamente de direito privado (

    87

    .

    No

    que tange s fontes, alm das modificaes profundas que o

    digo Civil sofreu, em grande parte derrogado por abundante legislao

    especfica que lbe tomou a disciplina

    dos

    principais institutos, pondo

    em

    cheque o ideal oitocentista da unidade legal

    do

    direito privado e levando

    juristas de nomeada a constatar ter-se passado da era da codificao (

    88

    )

    para a dos microssistemas jurdicos, h

    um

    aspecto de suma relevncia,

    que a c o n s ~ g r o de princpios constitucionais pertinentes ao direito

    privado, diret;vas bsicas

    de

    natureza constitucional sempre vistas como

    normas programticas sem eficcia normativa, como os princpios da liber

    dade, da propriedade, da iniciativa econmica. Alm

    de reconhecidos

    como

    princpios normativos, pois que incorporados a textos constitucionais

    mo-

    dernos, como o italiano, o portugus, o brasileiro, o que

    os

    toma integran

    tes do sistema poltico e lhes confere uma implcita garantia contra eventuais

    abusos do legislador ordinrio,

    tm

    o efeito

    de

    reduzir o campo das

    dife-

    renas entre o direito pblico e o direito privado, hoje conjugados na

    ao

    comum de prover

    ao

    bem-estar social. Ora,

    se

    por um lado, vemos a redu

    o

    ou

    anulao do individualismo subjacente

    aos

    postulados liberais do

    direito civil burgus, por outro lado, temos o reconhecimento constitu

    cional desses mesmos postulados, hoje revestidos de uma dimenso pblica,

    geral e funcional, no sentido de que, integrados na ordem econmica e

    social, se utilizem come instrumentos de desenvolvimento e justia social.

    Reconhecida constitucionalmente a liberdade de iniciativa econmica,

    indiretamente

    se

    garante a autonomia privada, em face da ntima relao

    de instrumentalidade existente entre ambas. Conceitos conexos,

    mas

    no

    coincidentes, a autonomia privada tem carter instrumental em

    face

    da

    liberdade de iniciativa econmica, pelo que

    as

    limitaes que a esta

    se

    impem tambm aluam quanto quela. E esses limites so a ordem pblica,

    na sua espcie de ordem pblica e social de direo,

    sob

    a forma de inter

    vencionismo neoliberal ou de dirigismo econmico, e os bons costumes,

    (66) C. MASSINO BIANCA, Diritto Civile l contralto, M lano, Oluffr, 1984,

    p 27.

    (67)

    GRASSETI I, loc. cit.

    (68) ORLANDO GOMES, A Caminho dos microssistemas 1n NOfXJ ema e

    Direito

    Civil,

    pp .O

    e sega.

    NATALINO IRTI

    L Et

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    21/24

    as regras morais, sendo que o intervencionismo neoliberal no se ope

    liberdade contratual nem

    livre concorrncia, apenas visa evitar a que

    for desleal. e a proteger o consumidor, enquanto que o dirigismo, opondo-se

    liberdade contratual, submete-a s exigncias

    da

    planificao econmica,

    imperativa ou indicativa

    10

    .

    Tudo isso implica na reduo do mbito de atuao da autonomia

    privada. Como princpio fundamental da ordem jurdica civil, teve maior

    importncia nas pocas de mais acentuado individualismo, mas com as

    tendncias sociais em matria de contrato, a proliferao das leis especiais,

    as

    crescentes restries liberdade contratual. decorrentes, como assina

    lado, da ordem pblica, dos bons costumes, e ainda, da boa f, da eqi

    dade, da estandardizao dos contratos etc., assiste-se reduo de seu

    campo, embora permanecendo como princpio fundamental do direito

    privado, aplicvel nos setores

    cm

    que o direito estatal permite, que

    ,

    quase que exclusivamente, o direito das obrigaes. O problema da auto

    nomia privada , portanto e somente, um problema de limites como, por

    exemplo, o dever ou a proibio de contratar, a necessidade de aceitar

    regulamentos pr-determinados, a insero ou substituio de clusulas con

    tratuais, o princpio da

    boa

    f, os preceitos de ordem pblica. os bons

    costumes, a justia contratual, as disposies sobre abuso de direito etc.,

    tudo isso a representar

    as

    exigncias crescentes de solidariedade e de so

    cialidade.

    IO. A

    funcionalizao

    dos

    institutos

    de direito privado A autonomia

    privada

    num

    perspectiva

    funcional Concluso

    No s6 a constitucionalizao dos princpios e dos institutos bsicos

    do direito privado tm real significado para o nosso tema, na panormica

    do

    direito civil moderno. Outro aspecto a salientar, no mais no campo especfi

    co das fontes de direito civil, mas

    no

    da sua matria concreta, o da fun

    cionalizao de seus principais institutos. a propriedade e o contrato, ambos

    c.omo expresso de liberdade, o segundo; especificamente: da autonomia

    privada.

    Que significa a funcionalizao de tais institutos?

    Deve-se, em primeiro lugar, dizer que, para a concepo estrutural,

    dogmtica, do direito, a ci@ncia jurdica no deve ocupar-se com as funes

    desse, mas somente com os seus elementos estruturais, deixando-se a anlise

    funcional para a sociologia e a filosofia, (

    0

    . O recurso

    s

    ciencias sociais

    para melhor compreenso e poeitivaio do fenmeno jurdico revela, p o r ~ m

    ntima relao entr-e a teoria estrutura do direito e o ponto de vista tcoico

    jurfdco, de um lado, e a teoria funcioaal do direito e o ponto de vista socio

    lgico, de outro. Ora, tal conexo uma, das caractersticas dos estudos jur-

    GHBSTIN,

    op cit pp. 83/86:

    oaa AR D PARJARD,

    Droit EconomiQVe

    Paris, P.U.P.,

    1 ~ p.

    10.

    10) BOBBIO, OJJ.

    cit.

    p. 90.

    227

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    22/24

    dicos contemporneos, considerand(}-se essencial para o jurista sahcir no

    apenas como o direito feito, maa tambm para o que

    ~ C I W ,

    Ylle diJlcr,

    a sua causa final. Assim aparece o conceito de funo em direito, delli;nan-

    do o papel que

    um

    princpio, norma ou instituto

    d e ~ e m p e n h a

    no imerior

    de um sistema ou estrutura, de partes interdependentes(").

    A referncia funo social ou econmieo-social de um princJpio, um

    instituto, uma categoria jurdica, nomeadamente a autonomia privada e o

    seu instrumento de positivao, o negcio jurdico, significa o

    pproccic

    do

    direito com as demais cincias sociais, a sociologia, a economia, a

    c i o ~

    poltica, a antropologia, numa resposta s solicitaes que a sociedade con

    tempornea f IZ

    ao

    jurista, considerado no mais como a "figura tradiciooal

    de cultor do direito privado, ancorado aos dogmas das tradicionais caractm'8-

    ticas civilsticas", mas atento realidade do seu tempo, a exigir-lhe uma

    postura crtica perante a inrcia do sistema tradicional em prol de uma

    ordem mais justa na sociedade

    ('

    2

    .

    A funcionalizao dos institutos jurdicos significa ento que o direito

    em particular e a sociedade em geral comearam a interessar-se pela

    efic6-

    cia das normas e dos institutos vigentes, no s6 no tocante ao controle ou

    disciplina social mas tambm no que diz respeito

    organizao e dlrolo

    da sociedade, atravs do eerccio de funes distributivas, promocionais

    ou

    inovadoras, abandonand(}-se a costumeira funo repressiva, principalmente

    na relao do direito com a economia. Da falar-se na funo econflmico..

    social dos institutos jurdicos

    (' ')

    inicialmente em matria de propriedade e,

    depois, de contrato. Representa, assim, a funo econmico-social a preocupa

    o com a eficcia social

    do

    instituto e, no caso particular

    da

    autonomia

    privada, significa que o reconhecimento e o exerccio desse poder, ao reali-

    zar-se na promoo da livre circulao de bens e servios e na auto-regula

    mentao das relaes disso decorrentes, condiciona-se utilidade sociaf que

    tal circulao possa representar, por ser o meio mais adequado satisfaio

    das necessidades sociais, com vistas ao bem comum e ao seu objetivo

    de

    igualdade material para todos em face das exigncias de justia social, idia

    essa que

    use

    desenvolve paralelamente evoluo do

    Estttdo ii:Jdemo

    como

    ente ou legislador racional"(").

    De tudo isso resulta que a funcionalizao de um princpio, norma,

    illlitiluto ou direito implica, na sua positivao normativa, no

    e a t a b ~ e e i m e n -

    to de limites que o ordenamento jurdico, ou alguns de seus principias vin

    culo.ntes, estabelecem

    ao

    exerccio das faculdades subjetivas (em fau d.e

    situaes concretas) que possa caracterizar abuso de direito, como se verifllll

    na prpria estatuio do Cdigo Civil portugus, no 5eu art. 334.

    (71)

    J. DURAO BARROSO,

    Funpo Polls-Bnciclopedla Verbo, 2,

    p,

    1101.

    (72)

    CASTANHEIRA

    NEVES, O

    direito como

    alternativa , . . . ,_ . , , oootedDalr.

    no IV concre O de Direito Comparado

    LWiO-Braollelro, Rlo

    de JGelro, UI' ',

    p. 40.

    (73:> Cfr KARL

    REIDt..'"ER,

    ne

    echtdnstitute

    cU

    Privatrech:t8 1Cnd Ul re JO:di:Je

    Funktlon Tllblngen, J. C. B. Mohr Paul

    Siel>eck", 1929, p. 48.

    7 ~ ) GINO GORLA, I Conlratto Mllano, Oluffr,

    1 ~

    I, p

    JI O.

    ll

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    23/24

    Emprertar ao direito uma funo social significa considerar que a socie

    dade se sobrepe ao interesse individual, o que justifica a aiio do Estado

    no

    sentido

    de

    promover a igualdade material e acabar com as injustias

    sociais. Funo social significa niio individual, sendo critrio de valorizao

    de situaes jurdicas conexas ao desenvolvimento das atividade da ordem

    econmica. Seu objetivo o bem comum, o bem-estar econmico coletivo.

    A id6ia

    de

    funo

    social

    deve entender-se, portanto, em relao

    ao

    quadro

    ideo16gico e sistemiitico

    em

    que se desenvolve. Ideologicamente, representa a

    teorizao do bem comum {

    70

    ,

    abrindo a discusso em torno da possibilidade

    de se realizarem os interesses sociais, sem desconsiderar, ou eliminar at, a

    propriedade privada. Sistematicamente, atua no mbito dos fins bsicos da

    propriedade, da garantia de liberdade e, conseqentemente, da afirmao

    da

    pessoa. E ainda historicamente, o recurso funo social demonstra a

    conscincia poltico-jurdica de se realizarem os interesses pblicos de modo

    diverso do at ento proposto pela dogmtica tradicional do direito privado,

    liberal

    e capitalista. Neste particular, pode-se dizer que "revoga

    um

    dos

    pontos cardeais da dogmtica privatista, o direito subjetivo modelado sobre

    a

    e trutura

    da propriedade absoluta", o que poderia sugerir uma certa incom

    patibilidade entre a idia de funo social c a prpria natureza do direito

    s u b ~ t i v o Mas o que se assenta, ao final das contas, que a funo social se

    configura como princpio superior ordenador da disciplina da propriedade e

    do contrato, legitimando a interveno legislativa do Estado e a aplicao de

    normas excepcionais, operando ainda como critrio de interpretao das leis.

    A funo social ,

    por

    tudo isso,

    um

    princpio geral de atuao jurdica,

    um

    verdadeiro

    standard

    jurdico, uma diretiva mais

    ou

    menos flexvel, uma indi

    cao programtica que no colide nem ineficaciza os direitos subjetivos,

    apenas orienta o respectivo exerccio na direo mais consentnea com o

    bem comum e a justia social. Podem assim coexistir o direito subjetivo e

    o

    standard

    jurdico, e conceitos at ento considerados incompatveis, como

    direito

    e

    funo

    coeJstem

    na

    realidade legislativa, em nvel de princpios.

    A teoria da funo econmico-eocial dos institutos jurdicos

    ,

    enfim,

    produto .dntese das tendncia ;;Jinl6gica.s

    oontemporneas

    qe le-vam

    chamada economia dirigida. E precisamente o contrato, instrumento da

    (75) QALGANO,

    op. clt.

    p.

    115.

    Hbtorlcamente,

    o recuroo funo OCial oerve

    para

    destacar \UD& dtmendo segundo L qual o awnento

    da

    compreensAo dos

    podolrel doo

    proprtetal.rlol

    por

    e elto

    lntuvenlo

    do Estado

    acompanhado

    da

    oonvlcAo

    de que

    tal

    acontece pela

    neceoaldade

    de realizarem-se Interesses

    pblicos

    d.e modo diverao do tradJcional. Conceitualme-nte revoga um dos eixos da dogm-

    tlca privada, o

    do dJrelto

    subjeUvo modelado precisamente sobre a estrutura.

    da

    propriedade t.bioluta. I4eolooicam.en.td abre a d.l.cusso em torno da poss1b1li

    dad.e

    de

    rea.J1zallo verdadeira

    de interesaea

    &Oclais

    sem

    ellmlnar-se integralmente

    & propriedade privada

    doa bens . STEPANO

    RODOTA, Rappm-ti

    Economici,

    p. 112.

    Al oma

    da tunio

    da

    au AJnomla prt.- e do nogllclo Jurldlco no direi italiano,

    otr.

    RlllNATO

    SCOONAMIQLIO, rJl/a Toori

  • 7/25/2019 A Autonomia Privada Como Principio Fundamental Da Ordem Juridica - Perspectivas Estrutural e Funcional_ocr

    24/24

    autonomia privada, o campo de maior aceitao dessa teoria, acolhida pri

    meiramente no Cdigo Civil italiano, art. 1.322, segundo o qual podem as

    partes determinar livremente o contedo do contrato nos limites impostos

    por lei, e celebrar contratos atpicos ou inominados, desde que destinados

    a realizar interesses dignos de tutela, segundo o ordenamento jurdico . Do

    mesmo modo e de forma idntica a consagra o Cdigo Civil portugus no

    seu art. 405., ao dispor que as partes podem livremente fixar o contedo do

    contrato, nos limites da lei, e celebrar contratos diferentes dos previstos no

    mesmo Cdigo, completando-se esse dispositivo com o art. 280. que fixa limi

    tes ao exerccio da autonomia privada, estabelecendo a nulidade do negcio

    jurdico contrrio ordem pblica ou aos bons costumes. Por seu turno, o

    projeto de Cdigo Civil brasileiro dispe, no art.

    421

    que a liberdade de

    contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato .

    Consagrada assim a funo econmico-social do contrato e, implicita

    mente, a autonomia privada, reconhece-se, porm, que o exerccio deste poder

    jurdico, consubstanciado em um dos princpios fundamentais da ordem jur

    dica contempornea de ideologia liberal, deve limitar-se pela ordem pblica

    e pelos bons costumes, de modo geral, e em particular, pela utilidade que

    possa ter na consecuo dos interesses gerais da comunidade, com vistas ao

    desenvolvimento econmico e ao seu bem-estar, promovendo a justia, na

    sua modalidade distributiva ou na dimenso de justia social.

    Ora precisamente para esta ltima dimenso que a autonomia privada

    pode e deve direcionar-se. A idia de justia que se realiza na dimenso

    comutativa, entre particulares, e distributiva, entre os elementos da comuni

    dade, aparece agora com nova perspectiva, a justia social. Resultante da

    conexo entre a conscincia moral e a conscincia social, exige que a ordem

    jurdica

    se

    mantenha ligada

    ordem moral, superando-se com isso o indi

    vidualismo jurdico em favor dos interesses comunitrios, corrigindo-se os

    excessos da autonomia da vontade dos primrdios

    do

    liberalismo. O direito

    , assim, c h ~ ~ d o a exercer u ~ funo corretor? de equilfi?rio dos inte

    resses dos var1 s

    setores da sociedade

    para

    o

    que

    hrr..tta em

    matcr

    ou menor

    grau de intensidade, o poder jurdico do sujeito, mas sem desconsider-lo,

    j que ele

    em ltima anlise, o substrato poltico-jurdico do sistema neo

    liberal em vigor nas sociedades democrticas e desenvolvidas do mundo con

    temporneo que se caracterizam, precisamente, pela conjuno da liberdade

    individual com a justia social e a racionalidade econmica.

    Se bem que, do ponto de vista tcnico-jurdico, a autonomia privada

    se apresente como princpio jurgeno fundamental da ordem jurdica privada,

    profundamente limitada nas possibilidades de seu exerccio pela ingerncia

    do Estado na economia, hoje em dia menor pelo sentimento de privatizao

    e de desregulamentao que perpassa pelas naes desenvolvidas do mundo

    ocidental, por outro lado, sob o ponto de vista poltico, constitui-se em um

    mbito de atuao poltico-jurdico individual com eficcia jurdica, como

    garantia de sobrevivncia e realizao dos postulados bsicos de liberdade

    e de reconhecimento do valor jurdico da pessoa humana.

    23

    R.

    lnf. legisl. Braslia a.

    26

    n.

    1 2

    abr./jUII.

    1989