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www.ts.ucr.ac.cr 1 A atualidade da pós-graduação na área de Serviço Social no Brasil Denise Bomtempo Birche de Carvalho 1 Maria Ozanira da Silva e Silva 2 Eje Temático: Nuevas formas de rearticulación organizativa de las escuelas de Trabajo Social de Latinoamérica a nivel de grado y posgrado. Palavras chaves: Serviço Social, pós-graduação, qualificação profissional, produção de conhecimento, atualidade. 1 INTRODUÇÃO: contextualizando o Serviço Social no Brasil Numa retrospectiva histórica sobre a institucionalização e consolidação do Serviço Social no Brasil, a vasta literatura 3 sobre o assunto aponta a vinculação inicial da profissão ao surgimento de grandes instituições assistenciais, estatais paraestatais e autárquicas implantadas no país na década de 1940. Isso ocorre em decorrência do desenvolvimento do processo de industrialização crescente no país a partir dos anos 1920, ocorrendo a superação do modelo de desenvolvimento capitalista centrado na economia agro-exportadora para uma economia industrial de substituição de importação, o que também favoreceu o aprofundamento do modelo corporativista do Estado brasileiro. Nesse contexto, ocorre a supremacia da burguesia industrial que, aliada a grandes proprietários rurais, passa a ter significativo poder no Estado. Ocorre também o crescimento do proletariado urbano, mediante a liberação de fluxos populacionais da agricultura ,de modo a atender a demanda do modelo urbano -industrial de desenvolvimento. A partir da Revolução de 1930, institui-se o Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas, que é pressionado por duas demandas: “absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, legitimação 1 Assistente Social, Doutora em Sociologia, professora da Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil e representante da Área de Conhecimento do Servi ço Social na Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES/Brasil,. [email protected] 2 Doutora em Serviço Social, coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, São Luís, Maranhão, Brasil; representante adjunta do Serviço Social na Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES/Brasil e Membro do Comitê Assessor de Serviço Social e Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPQ/Brasil.. [email protected] XVIII Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La cuestión Social y la formación profesional en Trabajo Social en el contexto de las nuevas relaciones de poder y la diversidad latinoamericana. San José, Costa Riva, 2004. 3 Sobre a institucionalização e desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, veja, entre outros autores: IAMAMOTO; CARVALHO (1982); SILVA, (2002).

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A atualidade da pós-graduação na área de Serviço Social no Brasil

Denise Bomtempo Birche de Carvalho 1 Maria Ozanira da Silva e Silva 2

Eje Temático: Nuevas formas de rearticulación organizativa de las escuelas de Trabajo Social de Latinoamérica a nivel de grado y posgrado. Palavras chaves: Serviço Social, pós-graduação, qualificação profissional, produção de conhecimento, atualidade. 1 INTRODUÇÃO: contextualizando o Serviço Social no Brasil Numa retrospectiva histórica sobre a institucionalização e consolidação do Serviço Social no Brasil, a vasta literatura 3 sobre o assunto aponta a vinculação inicial da profissão ao surgimento de grandes instituições assistenciais, estatais paraestatais e autárquicas implantadas no país na década de 1940. Isso ocorre em decorrência do desenvolvimento do processo de industrialização crescente no país a partir dos anos 1920, ocorrendo a superação do modelo de desenvolvimento capitalista centrado na economia agro-exportadora para uma economia industrial de substituição de importação, o que também favoreceu o aprofundamento do modelo corporativista do Estado brasileiro. Nesse contexto, ocorre a supremacia da burguesia industrial que, aliada a grandes proprietários rurais, passa a ter significativo poder no Estado. Ocorre também o crescimento do proletariado urbano, mediante a liberação de fluxos populacionais da agricultura ,de modo a atender a demanda do modelo urbano-industrial de desenvolvimento. A partir da Revolução de 1930, institui -se o Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas, que é pressionado por duas demandas: “absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, legitimação

1 Assistente Social, Doutora em Sociologia, professora da Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil e representante da Área de Conhecimento do Servi ço Social na Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES/Brasil,. [email protected] 2 Doutora em Serviço Social, coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, São Luís, Maranhão, Brasil; representante adjunta do Serviço Social na Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES/Brasil e Membro do Comitê Assessor de Serviço Social e Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPQ/Brasil.. [email protected] XVIII Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La cuestión Social y la formación profesional en Trabajo Social en el contexto de las nuevas relaciones de poder y la diversidad latinoamericana. San José, Costa Riva, 2004. 3 Sobre a institucionalização e desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, veja, entre outros autores: IAMAMOTO; CARVALHO (1982); SILVA, (2002).

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política” (SILVA, 2002: 240), além da função primordial de dotar o país de infra -estrutura para permitir o desenvolvimento da indústria emergente. Para responder as questões emergentes, o Estado instituiu ações normativas e assistenciais como mecanismo de atendimento das novas demandas coletivas, tendo também como perspectiva o controle e esvaziamento da mobilização da classe operária em expansão. As medidas assistenciais serviam também como mecanismo de rebaixamento do custo da mão-de-obra trabalhadora. Nesse contexto, o Serviço Social se estrutura e se desenvolve como profissão, sendo criada a primeira escola para formação profissional de assistentes sociais em São Paulo, em 1936, estendendo-se para o Rio de Janeiro, localidades onde o capitalismo encontrava-se mais avançado. Num primeiro momento de sua institucionalização, o quadro de referência do Serviço Social pode ser assim resumido: seu objeto era o homem carente; seus objetivos, o atendimento da pobreza, mediante ações assistenciais, prestação de serviços e orientação individual; a base de seus conhecimentos era o neotomismo, com conteúdo marcadamente moral, filosófico e religioso. Não dispondo ainda de um método de trabalho estruturado, sua prática é desenvolvida basicamente pelo emprego das técnicas da entrevista e da visita domiciliar (SILVA, 1995: 10). Com o desenvolvimento industrial e a ampliação da classe operária, o Serviço Social é cada vez mais absorvido pelo Estado passando as disfunções individuais e sociais a se constituírem no objeto da intervenção profissional, sendo que o foco dos objetivos profissionais era a integração social, verificando-se convergência entre objetivos profissionais e institucionais. A doutrina social da Igreja Católica cede lugar para a introdução de correntes psicológicas, principalmente a psicanálise, e para correntes sociológicas, com destaque ao positivismo e o funcionalismo. Estruturam-se progressivamente os métodos tradicionais de trabalho, expressos pelo Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Organização e Desenvolvimento de Comunidade. A ação profissional começa a deslocar seu eixo de preocupação do indivíduo para o grupo e a comunidade, passando a adotar novas técnicas como a reunião, a nucleação de grupos e a mobilização social. Permanece a orientação dos valores humanistas no desenvolvimento da profissão, sendo que na formação profissional se registra um forte movimento para o avanço técnico da profissão, cada vez mais demandada por ação profissional eficaz cujo significado era sobretudo voltar-se para o ajustamento do indivíduo a uma sociedade vista como harmônica e em busca da modernização (SILVA, 1995: 13). Não resta dúvida que no início dos anos 1960, segmentos, embora minoritários, de assistentes sociais participaram efetivamente da dinâmica de efervecência política que ocorria no Brasil, sendo esse movimento político interrompido pelo Golpe Militar de 1o de Abril de 1964, levando o país a viver sob regime ditatorial durante vinte e um anos. Ocorreu, no âmbito do Serviço Social brasileiro, no inicio dos anos 1960, portanto, o esboço de um movimento de construção de projeto profissional comprometido com mudanças na sociedade

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brasileira, logo interrompido pela repressão da ditadura que se instalou no país, tendo em vista garantir as condições para o desenvolvimento do capitalismo agora na sua fase monopolista e de internacionalização. Durante a Ditadura Militar, o Serviço Social foi cada vez mais demandado para se aperfeiçoar tecnicamente tendo em vista assumir a implementação dos programas sociais em grande expansão no país nesse período, até para compensar a repressão aos movimentos e organizações dos trabalhadores, estudantes e moradores de favelas. Isso direciona a profissão para uma prática voltada para implementação de programas sociais instituídos pelo Estado para manter o controle social e corrigir os problemas e distorções geradas pela adoção de uma política de repressão e de arrocho salarial. Assume uma prática profissional essencialmente burocrática, utilizando-se de velhos instrumentos operacionais. A partir da segunda metade da década de 1970, o Serviço Social passa a se engajar fortemente no movimento de rearticulação política da sociedade brasileira, num confronto direto com a Ditadura Militar que já enfraquecida, no final da década de 1970, começa a propor medidas de distenção ou abertura política tendo que enfraquecer o forte movimento de repressão que vinha adotando. Nesse contexto, o Serviço Social procura reverter a tendência modernizadora assumida até então no âmbito do seu Movimento de Reconceituação, passando a buscar referências teórico-metodológicas no campo marxista, na busca de assumir uma perspectiva dialética, orientada, principalmente, pela concepção de Estado ampliado, a partir de 1978, quando Antônio Gramsci começou a ser traduzido no Brasil, procurando superar uma opção anterior de rechaço ao trabalho profissional nas instituição, postura inspirada na corrente estruturalista do marxismo, cujo representante mais influente foi Althusser. Ocorre então um movimento no interior da profissão que se intensifica nos anos 1980 e 1990 na busca da construção de um Projeto Profissional de Ruptura, cujas marcas era direcionar o compromisso da profissão para a construção de uma sociedade democrática e mais igualitária, privilegiando o apoio e compromisso profissional com as classes sociais populares, apontadas como sujeitos principais desse processo4. Esse Projeto Profissional, ainda hegemônico no Serviço Social brasileiro, vem se desenvolvendo com avanços e recuos, visto considerar que a profissão, ao se situar no âmbito das relações sociais, é sujeito social, mas também sofre as determinações postas em cada conjuntura. O certo é que o rebatimento do Projeto profissional de Ruptura do Serviço Social brasileiro imprimiu novos traços nas três dimensões configurativas da profissão: a dimensão organizativa, a dimensão acadêmica (formação profissional e produção científica) e a dimensão de intervenção na realidade social, quer no âmbito das instituições estatais, das organizações não governamentais, como junto aos movimentos sociais e sindicais. Naturalmente 4 Sobre o Projeto Profissional de Ruptura do Serviço Social, veja: NETTO (1990) e SILVA (2002).

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não se trata de rebatimentos homogêneos, mas que permitem identificar os seguintes avanços no Serviço Social brasileiro na atualidade:

Salto qualitativo na área da formação profissional com o desenvolvimento de um projeto de formação profissional a partir das novas alternativas de intervenção profissional em construção; da inserção do Serviço Social no contexto universitário; do avanço da produção acadêmica e da pós-graduação;

Significativo avanço da participação dos assistentes sociais brasileiros em

atividades de pesquisa e na produção de conhecimento, passando estas a serem consideradas, no âmbito da profissão, como atribuição profissional fundamental tendo como resultado uma rica produção científica sobre as políticas sociais, sobre a profissão e sobre questões sociais relevantes, o que faz com que o Serviço Social seja considerado área específica de conhecimento no campo das ciências Sociais Aplicadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, onde temos atualmente 48 doutores integrando o quadro de pesquisadores dessa instituição nacional de fomento à pesquisa;

A consolidação da ação profissional no campo das Políticas Públicas de

corte social, constituindo-se sujeito ativo do processo político que culminou com a Constituição Brasileira de 1988, onde ficou instituída a Seguridade Social no país, compondo-se da Política da Saúde, da Previdência Social e da Política de Assistência Social, passando esta, por conseguinte, a assumir o status de Política Pública;

Participação direta na luta pela inclusão da participação social como

princípio constitucional, permitindo a instituição de conselhos de gestão direcionados ao desenvolvimento do controle social nas Políticas Públicas, o que representa, na atualidade, campo relevante de prática para os profissionais de Serviço Social;

Avanço significativo no campo da pós-graduação stricto sensu, iniciada no

Brasil na década de 1970, impulsionada por professores motivados pelo ideal de desenvolver a vida acadêmica e a produção científica, com pesquisa qualificada, significando, essencialmente, romper com a postura positivista de separação entre as esferas do pensar e do agir, que durante décadas situou os assistentes sociais como meros sujeitos da intervenção profissional e consumidores de teorias construídas por outras disciplinas profissionais. Assim, em 1972, foi criado o primeiro Mestrado em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro-PUC/RJ, seguindo-se, no mesmo ano, pelo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo -PUC/SP. Em 1988, iniciou-se, o primeiro Doutorado em Serviço Social da América Latina na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. O avanço na pós-graduação no Serviço Social brasileiro prosseguiu na década de 1990 e nos primeiros anos do presente século, registrando-se atualmente, no país, 18 Cursos de Mestrado e 08 de Doutorado em

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funcionamento, além de mais 02 cursos de mestrados recém-criados, em fase de implantação.

A Pós-Graduação na área do Serviço Social é o objeto principal desse

trabalho, conforme o desenvolvimento desse texto, a seguir. O objetivo central desse estudo, efetuado, mediante análise de literatura e

documentação sobre o Serviço Social brasileiro, e especificamente mediante levantamento de informações e dados sobre a pós-graduação em Serviço Social junto à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES, é publicizar a Pós-Graduação em Serviço Social em desenvolvimento no Brasil, articulando seu conteúdo com a formação de pessoal de alto nível e verificando a contribuição e significado da pós-graduação para a construção do conhecimento no âmbito do Serviço Social, em particular, e das Ciências Sociais. 2 A PÓS-GRADUAÇÃO NA ÁREA DO SERVIÇO SOCIAL NO Brasil: uma breve caracterização A Pós-Graduação stricto sensu se inicia no Brasil nos anos 1960, sendo a atual Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, entidade pública, vinculada ao Ministério da Educação, criada em 1951. Todavia, o Sistema Nacional de Pós-Graduação só foi instituído em 1975, sendo a CAPES transformada em Fundação de direito público em 1992.

A CAPES tem sua atuação institucional circunscrita a três áreas de atuação: Formulação da Política Nacional de Pós-Graduação; Apoio aos Programas de Pós-Graduação-Graduação; Acompanhamento e Avaliação dos Programas de Pós-Graduação.

Conforme mencionada acima, a implantação do primeiro curso de pós-

graduação, em nível de mestrado, no Serviço Social, ocorreu na PUC/Rio de Janeiro, em 1972, e o primeiro doutorado foi criado pala PUC/São Paulo, em 1988. Atualmente, o Serviço Social constitui-se área específica de pós-graduação no âmbito da CAPES, congregando, conforme o quadro abaixo, 18 Programas de Pós-Graduação. São 16 cursos de mestrado e 08 de doutorado em funcionamento, além de 02 cursos de mestrado, já recomendados pela CAPES, em fase de implantação.

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Quadro n. 01 Distribuição dos Programas de Pós-Graduação na Área do Serviço Social por Universidades e Regiões do País Programa Nível do (s)

Curso (s) Universidade Região

Serviço Social Mestrado Universidade Federal do Pará

Norte

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Universidade Federal de Pernambuco

Nordeste

Serviço Social Mestrado Universidade Federal da Paraíba

Nordeste

Serviço Social Mestrado Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Nordeste

Serviço Social Mestrado Universidade Federal de Alagoas*

Nordeste

Políticas Públicas Mestrado Universidade Federal do Piauí

Nordeste

Políticas Públicas Mestrado e Doutorado

Universidade Federal do Maranhão

Nordeste

Política Social Mestrado e Doutorado

Universidade Nacional de Brasília

Centro-Oeste

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Sudeste

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Sudeste

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Universidade Estadual Paulista/Franca

Sudeste

Política Social Mestrado Universidade Federal Fluminense

Sudeste

Serviço Social Mestrado Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Sudeste

Política Social Mestrado Mestrado Universidade Federal do Espírito Santo*

Sudeste

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Sudeste

Serviço Social Mestrado e Doutorado

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Sul

Serviço Social Mestrado Universidade Federal de Santa Catarina

Sul

Serviço Social e Política Social

Mestrado Universidade Estadual de Londrina

Sul

* Programas já recomendados pela CAPES e em fase de implantação. Fonte: CAPES, 2004 Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004.

O quadro acima evidencia ainda que, quanto à natureza dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social, 12 são de Serviço Social; 03, de Política Social; 02 são de Políticas Públicas e 01, de Serviço Social e Política Social. Fica

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então posto que as Políticas Públicas de corte social representam espaço privilegiado da intervenção profissional, constituindo-se também objeto de estudo de grande destaque para a produção de conhecimento no âmbito da profissão.

O quadro acima demonstra também que todos os Programas de Pós-

Graduação em Serviço Social no Brasil estão vinculados a uma Universidade, sendo que 12 encontram-se em universidades federais; 03 em Universidades Católicas e 03 em Universidades Estaduais, verificando-se, por conseguinte, a predominância de programas em Universidades Públicas.

Em relação à distribuição geográfica dos Programas, o quadro acima

demonstra que a maior concentração geográfica encontra-se na Região Sudeste, com 08 cursos de mestrado e 04 de doutorado, seguida da Região Nordeste, com 06 cursos de mestrado e 02 de doutorado; a Região Sul com 02 cursos de doutorado; a Região Centro-Oeste com 01 mestrado e 01 doutorado e a Região Norte com apenas 01 curso de mestrado. É relevante destacar o número significativo de cursos de mestrado e doutorado na Região Nordeste, apesar desta Região ser a mais pobre do país. Todavia, verifica-se que dos 18 programas, apenas 03 se situam em outras cidades que não são capitais (Franca/SãoPaulo, Londrina/Paraná e Niterói/Rio de Janeiro), cidades estas situadas na Região Sudeste, a mais rica do país, onde também se concentra o maior número de Programas. Os demais Programas encontram-se em capitais de 14 Estados brasileiros e no Distrito Federal. Isso significa que 12 dos 26 Estados brasileiros não contam com Programas de Pós-Graduação em Serviço Social, mesmo nas suas capitais.

Uma análise do desenvolvimento histórico dos Programas de Pós-

Graduação em Serviço Social no Brasil nos permite apontar as seguintes tendências:

Crescimento, descentralização e amadurecimento da área de Serviço

Social na CAPES;

Ampliação de convênios para intercâmbios acadêmicos com instituições nacionais e internacionais; Ampliação da produção intelectual da maioria dos programas, com destaque à produção técnica;

Corpo docente composto, na sua totalidade, de doutores, vários com pós-

doutorado desenvolvido no Brasil e no exterior; Expressiva participação de outros participantes nos programas, representados principalmente por docentes de outros programas nacionais e internacionais de pós-graduação;

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Tendências de constituição, organização e fortalecimento de grupos e núcleos de pesquisa, com vários grupos consolidados e altamente produtivos; Articulação sistemática dos programas com cursos de graduação, contribuindo para a elevação do padrão de qualidade da graduação, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de atividades de pesquisa;

Diminuição do tempo médio de titulação dos alunos com aproximação do

requerido pela CAPES5; Inserção internacional de alguns Programas, com destaque aos Programas da

PUC/São Paulo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros, que mantém a extensão de seus cursos de mestrado e doutorado para alunos de países da América Latina e Portugal;

Desenvolvimento de estágios de pós-doutorado, principalmente junto aos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que evidência o avanço no campo da pós-graduação em Serviço Social no Brasil.

Em termos quantitativos, o quadro abaixo permite visualizar o tamanho do Sistema de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil em relação ao seu corpo docente e discente.

Quadro n. 2 Tamanho do Corpo Docente e Discente dos Programas de Pós-Graduação no Brasil (Ano Base 2002) Especificação da Informação Quantidade Total de docentes nos Programas 198 Número médio de alunos nos cursos de Mestrado 552 Número médio de alunos nos cursos de Doutorado 287 Total Geral de discentes 1.099 Fonte: Data/CAPES, 2002 Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004.

O exposto permite considerar uma Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil em expansão, contribuindo também para o avanço da produção do conhecimento no campo específico do Serviço Social e das Ciências Sociais, conforme veremos, a seguir. 3. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: indicações a partir das áreas de concentração e linhas de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação

5 A CAPES fixa a duração de um curso de mestrado em 24 meses e de um doutorado em 48 meses.

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No desenvo lvimento das reflexões aqui apresentadas sobre os Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil, partimos do pressuposto que as Áreas de Concentração e suas respectivas Linhas de Pesquisa constituem o eixo central a partir do qual são construídos e implementados o Plano de Curso e a Proposta Pedagógica de cada Programa. Nesse sentido, as Áreas de Concentração e as Linhas de Pesquisa orientam a definição das disciplinas e demais atividades curriculares; as temáticas geradoras de projetos de pesquisa dos docentes e pesquisadores e os projetos de dissertação e tese dos alunos. O quadro abaixo nos permite visualizar o conjunto das Áreas de Concentração e das Linhas de Pesquisa que compõem a Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil, o que significa a identificação dos grandes eixos temáticos privilegiados pelo Serviço Social brasileiro. Quadro n. 03 Distribuição das Áreas de Concentração e Linhas de Pesquisa pelos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil Programa

Áreas de Concentração Linhas de Pesquisa

Serviço Social Universidade Federal do Pará

SERVIÇO SOCIAL, POLÍTICA SOCIAL E CIDADANIA

-Serviço Social, Gestão de Políticas e Direitos sociais; -Questão Agrária/Questão Urbana e Meio Ambiente no Contexto da Amazônia

Serviço Social/Universidade Federal de Pernambuco

SERVIÇO SOCIAL, MOVIMENTOS SOCIAIS E DIREITOS SOCIAIS

-Estado, Política Social e Ação Social; -O Processo de Organização e Mobilização Popular; -Relações de Trabalho e Práticas Sociais de Classes; -Relações Sociais e Alternativas de Trabalho Comunitário no Nordeste;

Serviço Social/ Universidade Federal da Paraíba

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO -PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL; POLÍTICA SOCIAL

-História, Formação e Prática Profissional do Serviço Social; -Processos Participativos e Organizativos; -Relações Sociais e Processos de Trabalho no Mundo Contemporâneo; -Subjetividade, Cultura, Práticas Sociais; -Estado, Direitos Sociais e Política Social

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Serviço Social/Universidade Federal do Rio Grande do Norte

SERVIÇO SOCIAL, CULTURA E RELAÇÕES SOCIAIS; SERVIÇO SOCIAL, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, TRABALHO E PROTEÇAÕ SOCIAL

-Questão social, Relações de Poder e Cultura; -Serviço Social, Sociabilidade, Cotidiano, Cultura e Violência; -Trabalho, Proteção social e Cidadania

Serviço Social/Universidade Federal de Alagoas

SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO E DIREITOS SOCIAIS

-Questão Social, Direitos Sociais e Serviço Social; -Trabalho, Política e Sociedade

Políticas Públicas/Universidade Federal do Piauí

ESTADO, SOCIEDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS

-Cultura, Identidades e Processos Sociais; -Estado, Políticas Públicas e Movimentos Sociais

Políticas Públicas/Universidade Federal do Maranhão

POLÍTICAS PÚBLICAS E MOVIMENTOS SOCIAIS; POLÍTICAS SOCIAIS E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS SOCIAIS

-Estado e Cultura; -Estado e Movimentos Sociais; -Estado, Questão Agrária e Conflito; -Estado, Trabalho e Políticas Públicas; -Avaliação de Políticas e Programas Sociais; -Seguridade Social e Pobreza; -Serviço Social e Formação Profissional; -Violência, Família, Criança e Gênero

Política Social/Universidade de Brasília

ESTADO, POLÍTICAS SOCIAIS E CIDADANIA

-Movimentos Sociais e Cidadania; -Política Social: Estado e Sociedade; -Trabalho e Relações Sociais; -Questão Social, Instituições e Serviços Sociais

Serviço Social/Pontifícia Universidade católica de São Paulo

SERVIÇO SOCIAL: POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS; SERVIÇO SOCIAL: FUNDAMENTOS E PRÁTICA PROFISSIONAL

-Assistência Social e Seguridade Social; -Política Social: Estado, Movimento Social e Associativismo Civil; -Serviço Social: Identidade, Formação Profissional e Prática

Serviço Social/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL, DIREITOS SOCIAIS

-Cultura, Representações Sociais e Políticas Sociais; -Trabalho, Gênero e Política Social; Violência, Família e Direitos Sociais; -Questões Sócio-Ambientais, Estudos Culturais e Desenvolvimento Sustentável

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Serviço Social/Universidade Estadual Paulista

TRABALHO E SOCIEDADE -Políticas Sociais Públicas, Estado e Sociedade; -Serviço Social: Mundo do Trabalho; Serviço Social: Formação e Prática Profissional

Política Social/Universidade Federal Fluminense

PROTEÇAÕ SOCIAL E PROCESSOS INTERVENTIVOS

-Sistemas de Proteção Social: regimes, história e sujeitos sociais; -Serviço Social, Avaliação e Gestão de Políticas Sociais

Serviço Social; Universidade do Estado do Rio de Janeiro

POLÍTICA SOCIAL E TRABALHO

-Política Social; -Trabalho e Representação Social; -Cultura e Identidades Sociais

Política Social/Universidade Federal do Espírito Santo

POLÍTICA SOCIAL, ESTADO E SOCIEDADE

-Política social, Cultura e Práticas sociais; -Política Social, Questão Social e Gestão de Serviços Sociais

Serviço Social/Universidade Federal do Rio de Janeiro

SERVIÇO SOCIAL, INSTITUIÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS; SERVIÇO SOCIAL, POLÍTICA SOCIAL E CIDADANIA

-Serviço Social, Poder Local e Movimentos Sociais; -Serviço Social, Processos Políticos e Políticas Sociais; -Análise Institucional e Avaliação de Programas e Recursos; -Globalização, Estado Nação e Serviço Social; -Serviço Social, Processo de Trabalho e Políticas Empresariais; -História Concepções Contemporâneas do Serviço Social e Teoria Social

Serviço Social/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

SERVIÇO SOCIAL, POLÍTICAS E PROCESSOS SOCIAIS; DEMANDAS E POLÍTICAS SOCIAIS; METODOLOGIAS DO SERVIÇO SOCIAL

-Fundamentos do Serviço Social e Relações Sociais; -Gerontologia Social; -Política Social, Trabalho e Exclusão Social

Serviço Social/Universidade Federal de Santa Catarina

SERVIÇO SOCIAL, DIREITOS HUMANOS E QUESTÃO SOCIAL

-Estado, Sociedade Civil e Política Social; -Serviço Social, Exclusão, Violência e Cidadania

Serviço Social e Política Social/ Universidade Estadual de Londrina

SERVIÇO SOCIAL E POLÍTICA SOCIAL

-Gestão de Políticas Sociais; -Serviço Social e Processos de Trabalho

Fonte: CAPES, 2004 Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004. A partir do quadro acima, podemos identificar a incidência das temáticas que configuram as Áreas de Concentração e Linhas de Pesquisa apresentadas, conforme indicação do quadro abaixo.

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Quadro n. 04 Incidência das temáticas presentes na ares de concentração e linhas de pesquisa dos Programas Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil – 1998/2002 Especificação da Temática F Política Social/Políticas Públicas/Avaliação de Políticas Sociais 41 Serviço Social 28 Estado/Instituições 19 Trabalho/Processos de Trabalho/Relações de Trabalho 14 Movimentos Sociais / Processos Organizativos/Associativismo/Sujeitos Sociais 14 Direitos Sociais/Cidadania/Direitos Humanos 14 Representações Sociais 02 Sociedade/Processos Sociais / Relações Sociais/Reprodução Social 14 Cultura 10 Questão Social 06 Formação Profissional 06 Fundamentos do Serviço Social/Teoria e História 06 Prática Profissional 05 Práticas Sociais/Ação Social 04 Violência 04 Exclusão Social/Pobreza 03 Identidade/identidades Sociais 03 Questão Agrária 02 Proteção Social 02 Família 02 Seguridade Social 02 Gênero 02 Globalização 01 Análise Institucional 01 Políticas Empresariais 01 Cotidiano 01 Gerontologia Social 01 Desenvolvimento Sustentável 01 Assistência Social 01 Metodologias do Serviço Social 01 Conflitos 01 Subjetividade 01 Poder Local 01 Relações de Poder 01 Teoria Social 01 Trabalho Comunitário 01 Processos Políticos 01 Questão Urbana 01 Meio Ambiente 01 Questão Urbana 01 Criança 01 Fonte: CAPES, 2004 Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004.

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O quadro acima evidencia que, mediante uma análise das Áreas de Concentração e Linhas de Pesquisa que compõem as propostas dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil, as temáticas mais prevalentes, por incidência de indicação, são: Política Social/Políticas Públicas/Avaliação/Gestão de Políticas Sociais (41 indicações); Serviço Social (28 indicações); Estado/Instituições (19 indicações); Trabalho/Processos de Trabalho/Relações de Trabalho (14 indicações); Movimentos Sociais/Processos Organizativos/Associativismo/Sujeitos Sociais (14 indicações); Direitos Sociais/Cidadania/Direitos Humanos (14 indicações)Sociedade/Processos Sociais/Relações Sociais/Reprodução Social (11 indicações); Cultura (10 indicações); Questão social (06 indicações); Formação Profissional (06 indicações); Fundamentos do Serviço Social/ Teoria e História (06 indicações) Prática Profissional (05 indicações) . Verifica-se que esses temas têm constituído historicamente um conjunto articulado de preocupações do Serviço Social brasileiro no campo da intervenção e da produção do conhecimento, tornando-se efetivamente hegemônicos no âmbito do desenvolvimento do Projeto Profissional de Ruptura, referenciado anteriormente, a partir da segunda metade dos anos 1970 e com mais intensidade nas décadas 1980 e 1990. Apenas a temática do Trabalho, também destacada acima, entra na agenda do Serviço Social, com maior incidência, só nos anos 1990, quando o Brasil insere-se definitivamente no mundo da economia globalizada e a questão do trabalho passa a assumir a relevância posta internacionalmente desde os anos 1970/1980.

Merece considerar a fragmentação de temas postos a partir das Áreas de

Concentração e Linhas de Pesquisa, revelando também a pouca incidência com que temas relevantes para o Serviço Social foram indicados, como: Exclusão Social e Pobreza, Assistência Social, Seguridade Social, que vêm polarizando o debate profissional a partir dos anos 1980, além dos temas Gênero, Família, Criança e Adolescente, todos relevantes nesse debate. O tema Envelhecimento, que recebeu apenas uma indicação mediante Gerontologia Social, merece especial atenção, se considerarmos a relevância que essa temática vem assumindo na contemporaneidade, inclusive em nosso país. Ressaltamos, porém que a baixa incidência de indicação nesses temas não significa que não venham sendo tratados, com certa relevância, no âmbito dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil, o que pode ser verificado nas disciplinas e no desenvolvimento de projetos de pesquisa dos Programas.

Com as indicações acima, fica reafirmado o eixo central que mobiliza os

Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil: Serviço Social e Política Social, seguido do tema Estado/Instituições enquanto espaço da prática do próprio Serviço Social e das Políticas Sociais e os Direitos Sociais enquanto expressão das Políticas Sociais e produto da prática do Serviço Social, com destaque também aos Movimentos Sociais, sujeitos privilegiados das Políticas Sociais e dos processos sociais em geral.

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A produção intelectual dos Programas pode ser expressa também, em termos quantitativos, pelo quadro, a seguir, que indica o conjunto dessa produção durante o ano de 2002, último ano de avaliação desenvolvida pela CAPES6. Quadro n. 05 Indicações Quantitativas sobre a Produção de Conhecimento a partir dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil – ano Base 20027

Especificação da Produção Intelectual Quantidade Dissertações de Mestrado defendidas 116 Teses de Doutorado defendidas 33 Total de Projetos de Pesquisa concluídos ou em andamento 532 Produção Bibliográfica: -Artigos em Periódicos -Trabalhos em Anais de eventos científicos (completos e resumos) -Capítulos de livros -Livros integrais -Coletâneas

256 697 85 37 17

Produção Técnica: -Ser viços Técnicos (assessoria, elaboração de projeto, pareceres, etc.) -Cursos de curta duração -Elaboração de materiais didáticos e instrucionais -Editorias de Revistas e Livros -Organizações de eventos -Programas de Rádio e TV -Relatórios de pesquisa -Apresentação de trabalho (conferências, mesas redondas, comunicações, palestras, etc.)

354 156 60 55 217 50 88 999

Fonte Data/CAPES 2002 Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004. Os dados acima revelam o volume significativo que a produção intelectual do Serviço Social vem alcançando no Brasil, destacando-se o número de mestres (116) e doutores (33) formados em 2002, alcançando não só assistentes sociais, mas também profissionais de diferentes campos, o que vem permitindo a ampliação e a interdisciplinariedade do diálogo dos assistentes sociais com outros campos do saber. É significativo o número de artigos publicados em periódicos por professores e alunos da Pós-Graduação no Brasil (256, em 2002), bem como os livros, textos integrais, capítulos de livros e coletâneas, totalizando 139, em 2002, além 697 trabalhos publicados em anais de eventos científicos no país e no

6 A próxima avaliação da CAPES, que vem ocorrendo anualmente, será desenvolvida em 2004, referente ao ano base de 2003. 7 A CAPES desenvolve avaliação anual sobre os Programas de Pós-Graduação em desenvolvimento no Brasil. Essa avaliação ocorre do final do primeiro semestre para o início do segundo, referente ao exercício anterior. Portanto, a última avaliação desenvolvida foi sobre o desempenho dos programas no ano de 2002.

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exterior, no mesmo ano, o que revela a mobilização e a contribuição dos corpos docentes e discentes da Pós-Graduação para o avanço científico da profissão no país. A produção técnica, reveladora da inserção da profissão na sociedade, é também um ponto relevante na produção intelectual de docentes e discentes da Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil, merecendo destaque o número de serviços técnicos desenvolvidos junto a instituições públicas, privadas, organizações não-governamentais e movimentos sociais e sindicais (354, em 2002); os eventos organizados (217, em 2002), envolvendo não só pessoas da Pós-Graduação, mas também de cursos de graduação e da sociedade, em geral . Nesse mesmo campo, é relevante o número de cursos de curta duração realizados para a comunidade acadêmica e para sujeitos sociais de várias categorias (156, em 2002). O diálogo com a comunidade científica e a sociedade de modo geral se expressa largamente pelo número significativo de conferências, comunicações, palestras, participação em seminários, painéis, mesas redondas e outros, desenvolvidas pelo corpo docente e discente da Pós-Graduação brasileira em Serviço Social (999, em 2002).

A produção do conhecimento no Serviço Social brasileiro, na Pós-Graduação, é, a seguir, considerada a partir das teses e dissertações produzidas pelo corpo discente, sob a orientação dos professores dos referidos Programas. 4. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: indicações a partir das teses de doutorado e dissertações de mestrado

O Serviço Social, área de conhecimento integrante da grande área de Ciências Sociais Aplicadas, produz conhecimentos estreitamente articulados com a possibilidade de intervir na realidade social. No caso brasileiro, face ao agravamento da questão social, cujas manifestações mais visíveis são os indicadores de desigualdade e pobreza, o Serviço social vem acumulando conhecimentos e pesquisas que expressam a particularidade de sua inserção na sociedade. Seja no âmbito da realidade nacional, seja internacional, a área de conhecimento de Serviço Social vem se especializando no tratamento de questões relacionadas à política do Estado e às iniciativas da sociedade civil no campo do enfrentamento de demandas e necessidades sociais da população.

No período de 1998 a 2002 foram produzidas 760 teses de doutorado e

dissertações de mestrado no âmbito dos Programas de Pós-graduação. Os conteúdos das produções acadêmicas foram analisados por meio da “análise de conteúdo temático”, a partir das classificações temáticas elaboradas no VII Encontro de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS), realizado em 2000, e nas temáticas mais relevantes do último 10º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, também realizado em 2000. As teses de doutorado e as dissertações de mestrado dos Programas de Pós-graduação refletem a inserção do Serviço Social

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não somente na produção de conhecimento, mas, sobretudo evidenciam sua inserção na sociedade.

Como se pode verificar, no Quadro nº 6, a temática da criança, do

adolescente e da família e sua inserção na sociedade, é a mais estudada pelo corpo discente dos Programas, no período de 1998 a 2002. Os objetos de estudo tentam captar a realidade dos problemas sociais que envolvem crianças e adolescentes no Brasil, mesmo após mais de dez anos da institucionalização do Estatuto da Criança e do Adolescente. Esta temática representa 14,21% do total das teses e dissertações defendidas no período. Analisando-se os temas que compõem a referida temática encontramos: a) trabalho infantil; b) crianças e adolescentes em situação de rua; c) serviços sociais de atendimento às famílias de atenção a crianças em situação de rua, como por exemplo, o SOS criança; c) adolescentes autores de ato infracional e aplicações de medidas sócio-educativas, como semiliberdade; casas de convivência; d) o processo saúde-doença em crianças e adolescentes, principalmente aquelas em condições de internação em unidades hospitalares de atenção terciária em saúde; e) educação e profissionalização de adolescentes de comunidades pobres, visando sua inserção no mercado de trabalho; f) violência doméstica ou intrafamiliar contra crianças e adolescentes; g) análise de políticas e programas para a saúde da mulher e de crianças e adolescentes, como é o caso do Programa de Saúde da Família desenvolvido desde 1998 pelo Ministério da Saúde do Brasil; h) análise critica das práticas institucionais com adolescentes em Unidades de internamento para autores de ato infracional (Fundações Estaduais do Menor); i) estudo dos movimentos sociais de defesa dos direitos de crianças e adolescentes; j) estudos relativos ao papel dos conselhos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes, além da análise específica do trabalho dos conselhos tutelares na defesa dos direitos de crianças e adolescentes em nível municipal.

Reestruturação produtiva, trabalho, condições de vida, pobreza e exclusão são uma temática trabalhada no contexto das teses de doutorado e dissertações de mestrado dos Programas de Pós-graduação, sobretudo a partir de 1999. Os temas pesquisados dizem respeito às transformações no mundo do trabalho, devido às inovações tecnológicas na indústria e seus impactos na vida dos trabalhadores, tais como precarização da força de trabalho, desemprego, aumento do trabalho informal. Analisa-se também o cooperativismo como estratégia de precarização das condições de trabalho e a economia solidária como alternativa às transformações no mundo do trabalho. Outra tendência verificada refere-se aos estudos sobre as atuais demandas postas ao trabalho do assistente social frente às transformações do mundo e trabalho e nas expressões da questão social, objeto de trabalho do assistente social, conforme quadro a seguir:

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Quadro n. 06 Produções do corpo discente dos Programas de Pós-graduação em Serviço social: indicações a partir das teses de doutorado e dissertações de mestrado – 1998/ 2002

PROGRAMAS TEMÁTICAS

PUC RIO

PUC RS

PUC SP

UFMA UFPB UFPE UFRJ UNB UNESP UERJ TOTAL

1. Infância, juventude, família e sociedade.

12 10 41 12 5 7 7 10 4 108 14,21%

2. Política Social – Estado, Sociedade.

6 1 3 10 1,31%

3. Política Social – Saúde

7 16 25 5 5 9 7 7 8 89 11,71%

4. Política Social – Previdência Social

1 2 1 4 0,52%

5. política Social – Assistência Social

6 4 19 2 6 7 2 9 4 2 61 8,02%

6. Questão urbana, movimentos sociais, meio ambiente.

5 10 17 5 10 16 7 7 1 78 10,26%

7. Questão agrária, movimentos sociais, meio ambiente.

1 1 5 6 12 2 1 1 29 3,81%

8. Ética, cultura, política, direitos humanos.

1 3 1 2 1 8 1,05%

9. Etnia, gênero, orientação sexual.

3 2 10 2 7 4 6 1 35 4,60%

10.Avaliação de políticas, programas e projetos sociais.

3 3 1 1 8 1,05%

11. PPNE - Terceira idade – processo de envelhecimento

2 11 8 1 2 5 2 4 35 4,60%

12.Serviço Social e formação profissional

2 4 16 3 3 1 6 35 4,60%

13.Serviço Social, trabalho e prática profissional.

6 18 39 1 3 8 11 18 104 13,68%

14.Trabalho, reestruturação produtiva, condições de vida, pobreza.

4 8 14 2 4 4 13 3 17 4 73 9,60%

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16.Cultura, ident. práticas sociais

4 2 3 4 1 4 7 10 35 4,60%

17. Terceiro setor 1 2 6 1 1 5 3 4 23 3,02%

18. outros 1 6 8 1 6 1 1 1 25 3,28%

TOTAL 54 7,2%

95 12,6%

224 29,5%

31 4,07%

39 5,13%

72 9,47%

82 10,8%

54 7,2%

96 12,8%

13 1,7%

760 100%

Fonte: Relatórios dos Programas de Pós-graduação em Serviço social – DATACAPES, 1998-2002. Elaboração: Carvalho, Denise & Silva, Maria Ozanira, Brasília, Abril/2004.

A temática relativa ao trabalho do assistente social, tanto em instituições governamentais como não governamentais está contemplada em 13,68% das teses de doutorado e dissertações de mestrado. Trata-se de pesquisas sobre a prática profissional em diversos campos de atuação tais como: a)empresas de calçados, indústria e mobiliário, cooperativas de saúde, Correios (gestão de recursos humanos, qualidade total, filantropia empresarial); b) criança e adolescente (análise da prática profissional do assistente social no campo da prevenção da violência doméstica e/ou intrafamiliar); c) saúde (trabalho do assistente social em unidade hospitalar de psiquiatria com crianças portadoras de câncer; tratamento das questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas, programas de prevenção e tratamento de usuários de drogas injetáveis e portadores do HIV/Aids,); d) habitação (programas de auto -gestão de moradia, programas de habitação e saneamento básico); e) prática profissional do assistente social em sistemas sócio-jurídicos (penitenciária, tribunais (elaboração de laudos periciais), processos de destituição de pátrio poder); f) atuação do assistente social na gestão de Fundos de Pensão; h) o trabalho do assistente social em organizações não governamentais (associações de pais de portadores de lábios-palatais); i) o trabalho do assistente social com pessoas em processo de envelhecimento); j) o trabalho político dos assistentes sociais no fortalecimento do projeto ético político profissional, no âmbito dos conselhos profissionais da categoria; l) a composição do mercado de trabalho do assistente social, ressaltando-se a atuação do assistente social na gestão pública municipal; m) a interlocução entre Serviço Social e educação ambiental, n) a qualificação da prática profissional do assistente social no resgate de suas competências teórica, técnica e política; o) reflexões sobre os instrumentais técnico-operativos do assistente social, tais como: plantão social e visita domiciliar; p) reflexões sobre a atuação do assistente social em equipe multidisciplinar no campo educacional em nível municipal. Finalmente é expressivo o número de pesquisas que resgatam o trabalho do assistente social no âmbito dos conselhos federal, estaduais e municipais de saúde, assistência social e conselhos de direitos de crianças e adolescentes, no fortalecimento e defesa dos direitos de cidadania dos usuários dos serviços sociais.

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Outra temática bastante relevante extraída da análise das produções científicas do corpo discente dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social, no período de 1998 a 2002 refere-se aos estudos sobre “Questão urbana, movimentos sociais e meio ambiente”. Esta temática representa 10,26% das produções analisadas, decompondo-se em temas tais como: a) descentralização das políticas sociais na década de noventa, com a experiência da implantação do orçamento participativo, como estratégia de democratização do poder local; b) luta de moradores por habitação e políticas habitacionais em âmbito municipal; c) estratégias de sobrevivência de moradores de rua e sua organização em movimentos sociais pelo direito à moradia; d) as diversas configurações da pobreza urbana e seus rebatimentos nas políticas sociais de habitação, saúde, emprego, renda, etc; e) estudos dos diversos movimentos sociais e movimento sindical (docentes, metalúrgicos, bancários camelôs, construção civil), bem como análises teórico-históricas sobre o refluxo dos movimentos sociais a partir da década de noventa. Cabe destacar que no marco de análise dos movimentos sócias ainda encontramos produções vinculadas aos processos de participação política de estudantes em contexto universitário; f) segregação sócio-espacial e constituição do espaço urbano foram bastante explorado no âmbito da temática, com ênfase nas análises das políticas de remoção, assentamento e urbanização de favelas, os movimentos sociais por regularização fundiária, moradia e saneamento básico. Neste contexto, encontramos ainda pesquisas sobre violência e políticas de segurança pública; g) questão ambiental e a participação social da sociedade civil na gestão de recursos hídricos, na participação comunitária em projetos de saneamento básico, e a gestão ambiental em nível municipal; h) estudos sobre o movimento de mulheres, particularmente dos movimentos feministas por direitos humanos e sociais.

A análise de políticas sociais no contexto da relação Estado e sociedade é

outra temática de grande interesse dos estudantes dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social. Isto porque a materialização do trabalho do assistente social se concretiza via serviços sociais oriundos da execução de políticas, programas e projetos sociais, principalmente no contexto da Seguridade Social, como padrão de proteção social no Brasil (Saúde, Previdência e Assistência Social). Assim, as políticas sociais no campo da saúde concorrem com 11,71% e as de assistência social com 8,02%. Os temas de interesse na área de saúde revelam cinco grandes eixos de análise, a saber: a) os temas ligados à saúde do trabalhador, acidentes de trabalho, doenças do trabalho (DORT/LER), reabilitação profissional e reinserção social no caso de trabalhadores alcoolistas, e o processo de morte no ambiente de trabalho. b) A reforma psiquiátrica como estratégia de desinstitucionalização dos serviços de saúde mental no Brasil. As políticas de saúde mental como direitos dos usuários. Modelos, práticas e políticas de intervenção em saúde mental em âmbito hospitalar. Análise do alcoolismo como uma das expressões da questão social na contemporaneidade. O Serviço Social e o trabalho do assistente social no campo da saúde mental no Brasil. c) Implantação do Sistema Único de Saúde e suas implicações nos processos de

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descentralização político-administrativa, municipalização, publicização, controle social dos usuários sobre as ações do Estado, no campo da saúde. Ênfase nas análises do papel das conferências de saúde como estratégia de publicização das questões referentes à concepção, gestão e financiamento das políticas de saúde e o importante papel dos conselhos estaduais e municipais de saúde na construção da cidadania dos usuários, a partir da implementação do SUS na década de noventa. d) Análise do Programa Saúde na Família como alternativa a saúde pública no Brasil e a relevância do trabalho do agente comunitário em saúde. e) O Serviço Social frente à epidemia do HIV/Aids e estratégias de intervenção: Aids e gestação, Aids no contexto penitenciário, as representações sociais dos portadores do HIV/Aids. Os direitos dos portadores de HIV/Aids no Sistema de Atenção Integral à Saúde.

A análise da temática referente à política de Assistência Social revela as

contribuições do corpo discente na análise da implementação da Lei Orgânica da Assistência Social, iniciada em 1993, a implantação dos conselhos federal, estaduais e municipais de assistência social no marco do processo de descentralização político-administrativa instaurado no País a partir da Constituição Federal de 1988. Análise da Política de Assistência Social em termos de concepção, gestão e financiamento e cobertura de serviços assistenciais para os diferentes públicos-alvo das ações.

As demais temáticas estudadas são relevantes e perpassam as expressões

da questão social na contemporaneidade, como a questão do papel da mulher, os movimentos feministas, a questão dos direitos humanos e a discriminação positiva, a questão da violência e a necessidade de políticas de segurança pública. Com base na análise realizada podemos comprovar a importante contribuição dos Programas de Pós-graduação no estudo das manifestações da questão social e a inserção na profissão não só na critica de políticas, programas e estratégias de intervenção na busca de soluções às demandas socialmente colocadas ao Serviço Social como profissão que produz conhecimento para a intervenção na realidade. 5 CONCLUSÕES Nessas reflexões finais, interessa-nos contextualizar a Pós-Graduação brasileira em Serviço Social no âmbito mais geral da sociedade, considerando a dinâmica histórica do desenvolvimento econômico e político da sociedade brasileira, considerando-se as demandas socialmente problematizadas por diferentes sujeitos sociais e o desenvolvimento da profissão, expresso pela construção de projetos profissionais em resposta e em consonância com as determinações sociais e a capacidade dos assistentes sociais em formular respostas profissionais às demandas postas pela sociedade, pelo Estado e pela a classe empresarial, também demandante dos serviços profissionais.

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Partindo dessa contextualização, verificamos que a profissão e o conhecimento que a fundamenta e, nesse bojo, a Pós-Graduação, só podem ser compreendidos no movimento histórico de mudanças sócio-econômicas e políticas na sociedade brasileira e na inserção, construção e reconstrução da profissão nesse âmbito, mediante um movimento que não é homogêneo nem linear. Nesse contexto, surge a Pós-Graduação na busca de renovação e de aprofundamento das dimensões organizativas, interventiva e acadêmica da profissão, contribuindo, especificamente, para a formação de pesquisadores e docentes capazes de faze r avançar a formação profissional, a contribuição do Serviço Social na construção das Ciências Sociais no Brasil e o diálogo da profissão com outros campos profissionais, favorecendo maior visibilidade do Serviço Social no âmbito acadêmico e da sociedade brasileira. Um outro aspecto que se coloca é a necessidade de se poder pensar o Serviço Social na sua articulação Pós-Graduação/Graduação, com a sociedade brasileira e com a construção do conhecimento, tendo como desafio a produção de saberes que efetivamente contribuam para o fortalecimento das lutas sociais, na construção de uma sociedade democrática, tendo em vista a repartição da riqueza socialmente produzida, a inserção social de todos e a construção de um padrão de vida digna e socialmente aceitáve l. Isso coloca o Serviço Social no âmbito de um movimento contra-hegemônico, na busca de enfraquecer a hegemonia do projeto neoliberal e com ele o aumento do desemprego, da precarização e informalização do trabalho, da desmobilização do movimento social e sindical, do desmonte dos direitos sociais e da elevação dos níveis da pobreza. Nesse contexto, temos que considerar que se alteram as relações de trabalho, a questão social, as relações sociais e, conseqüentemente, os conteúdos das profissões bem como as demandas postas. Não podemos esquecer que a Pós-Graduação, no Brasil, bem como o ensino superior brasileiro em geral vive um forte movimento de “publicização” e proliferação desordenada do ensino superior privado8, com apoio do Estado brasileiro, acompanhado do sucateamento e da precarização das condições de trabalho na Universidade Pública brasileira, sob a influência das políticas privativistas do Banco Mundial. Esses aspectos têm impactos diretos nos programas de Pós-Graduação em Serviço Social, por se situarem, majoritariamente, em Universidade Públicas, como apontado anteriormente. Por último, ressaltamos que a Pós-Graduação tem importante papel na qualificação e no avanço do Projeto Ético-Profissional do Serviço Social, hegemônico, no Brasil, desde os anos 1980, enquanto expressão do movimento de ruptura no Serviço Social brasileiro, conforme qualificado por NETTO (1990), e

8 Para se ter uma idéia do fenômeno da privatização do ensino superior brasileiro, em 2000, existiam 79 cursos de Serviço Social; em 2003, estes já eram 147, sendo apenas 30 localizados em instituições públicas e 117, em instituições privadas.

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SILVA (2002), fazendo avançar a formação profissional, a interlocução com a realidade social e a produção do conhecimento no âmbito da profissão e das Ciências Sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CFE 005/83 - Fixa normas de funcionamento e credenciamento dos cursos de pós-graduação stricto sensu. Brasília, 1983. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de Área/Avaliação dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social (Mestrado e Doutorado). Representação de Área/Serviço Social. Brasília, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. IV Plano Nacional de Pós-graduação. Brasília, Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES), 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Portaria CAPES 029/98 - Sistemática de avaliação de novos Programas de Mestrado ou Doutorado. Brasília, 1998. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de Área/Avaliação dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social (Mestrado e Doutorado). Representação de Área/Serviço Social. Brasília, 1998. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Critérios de Avaliação dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social (Mestrado e Doutorado). Representação de Área/Serviço Social. Brasília, 2002. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Relatório de Avaliação dos Programas de Pós-Graduação da Área de Serviço Social, Brasília, 2001. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Relatório de Avaliação dos Programas de Pós-Graduação da Área de Serviço Social, Brasília, 2002. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Relatório de Avaliação dos Programas de Pós-Graduação da Área de Serviço Social, Brasília, 2003.

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BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Avaliação Continuada dos Programas de Pós-graduação em Serviço Social (Mestrado e Doutorado). Documento da Representação de Área/Serviço Social, 2002/2003. CAPES. Brasília, 2003. CARVALHO, D.B.B., Macedo, M. A., Silva, S.B. (Orgs.). VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social. Brasília: ABESS/CEDEPSS, 1998. CARVALHO, D.B.B., Ferreira, I (Orgs.). VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social. Brasília: ABEPSS, 2000. IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez/CELATS, 1982. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1990. SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Formação Profissional do Assistente Social. 2a ed. São Paulo: Cortez, 1995. SILVA, Maria Ozanira da Silva e. O Serviço Social e o Popular: resgate teórico-metodológico do projeto profissional de ruptura. 2a ed. São Paulo: Cortez, 2002.