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A arte do Ku Patsa. Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres em Moçambqiue Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane Teresa Cunha 1

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Page 1: A arte do Ku Patsa. Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres em Moçambqiue Centro de Estudos Africanos Universidade

A arte do Ku Patsa.

Dignidade, justiça e bom viver em

iniciativas sócio-económicas

engendradas por mulheres em

Moçambqiue

Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane

Teresa Cunha

1

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E quando as leoas começarem a contar a

estória de África … o que será ouvido, o

que faremos com as versões dos

caçadores e dos leões?

Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane

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The global construction of African women as poor, pregnant and beaten contains a germ of truth. Women work harder than ever, but remain poorer than ever. But we also continue to struggle for more just economies, which can support women beyond mere survival– to build on the way women continuously improvise and innovate, invent and create new ways of doing things.

Amina MamaAfrican Union 50th aniversary, Addis Ababa

25th of May, 2013

Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane

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A arte do Ku Patsa.

Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres em

Moçambique

Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane

1- Contexto institucional e académico da pesquisa

2- Ponto de partida

3- Marco teórico

4- Objetivos

5- Critérios analíticos

6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

7- Principais findings até este momento

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A arte do Ku Patsa.

Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

Centro de Estudos Africanos Universidade Eduardo Mondlane

1- Contexto institucional e académico da pesquisa

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Como investigadora associada do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane na área da sociologia feminista pós-colonial;

Como investigadora sénior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra integrada no projeto ‘ALICE. Espelhos estranhos, lições imprevistas’ dirigido pelo Professor Boaventura de Sousa Santos e financiado pelo European Research Council;

Como bolseira de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia;

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Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

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2- Pontos de partida

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a) A pesquisa de campo para a minha tese de doutoramento (2008 e 2009):

Para além de um Índico de desesperos e revoltas. Uma análise feminista pós-colonial das estratégias de poder e autoridade de mulheres de Moçambique e Timor-Leste

Que tem a sua versão em livro:Never Trust Sindarela. Feminismos, pós-colonialismos, Moçambique e Timor-Leste (2013)

b) Uma pesquisa financiada pela Fundação Caloust Gulbenkian sobre Xitique (2011) que conduziu à edição dos livros: Ensaios sobre a democracia. Justiça, dignidade e bem-viver e Elas no Sul e no Norte

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Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

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2- Pontos de partida

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A minha reflexão sobre os dados que recolhi conduziram-me a uma convicção central:

-O xitique praticado por uma massa muito significativa de mulheres na cidade de Maputo, tanto nas áreas populares como entre senhoras da burguesia, é muito mais do que um mero sistema de crédito rotativo.

-Então o que mais podemos discernir nesta prática social tão difundida e tão integrada no quotidiano de tantas mulheres tão diferentes?

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3- Marcos teóricos

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•As Epistemologias do Sul de Boaventura de Sousa Santos

Conhecimento não pode ser reduzido à versão ocidental do conhecimento. Por isso há muito mais conhecimentos e muito mais ignorâncias do que aquilo que nos habituámos a pensar. A partir desta premissa, interessa-me

-Aprender com o Sul não imperial

-Teorizar na retaguarda

-Fazer uma sociologia das emergências

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3- Marcos teóricos

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•Feminismos e estudos pós-coloniais destacando os trabalhos de: Isabel Casimiro, Ifi Amadiume, Amina Mama, Patricia MacFadden, Oyèrónké Oyewùmí, Gayatri Spivak, Haleh Afshar, Leela Gandhi, Vandana Shiva, dos quais me interessaram, sobretudo, as seguintes questões epistemológicas:

-A co-presença e a ecologia de saberes-As narrativas como textos autorais-A democracia retórica e discursiva-A desconstrução do caráter normativo dos feminismos ocientais e nortecêntricos: quem pode dizer quem é uma mulher emancipada-A reconceptualização do conceito de poder e autoridade-Silenciar-me para que as outras memórias, conhecimentos e subjetividades possam emergir nos seus próprios termos

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3- Marcos teóricos

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• Outras economias com os trabalhos de:

Karl Polany, Boaventura de Sousa Santos, Luciane Lucas dos Santos, Paul Singer, Samir Amin, Luís Brito, António Francisco, João Mosca, Denise António Cuamba, António David Cattani, Aline Mendonça, Amélia Souto, Isabel Casimiro, Catarina Trindade, entre outros.

As questões que me interessam, especialmente, são as seguintes: - Disputas sobre as razões da atual crise global: o fim do capitalismo ou acabar

com o capitalismo- O pós-capitalismo- Economias de miséria e economias de abundância: desconstrução do paradigma

de desenvolvimento- Resistências e alternativas socioeconómicas em curso- O bem-viver

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4- Objetivos da pesquisa pós-doutoral

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• Objetivo geral desta pesquisa é:- Realizar uma análise feminista pós-colonial que esteja em condições de contribuir

para teorizações inovadoras com base nas potencialidades heurísticas das práticas influenciadas pela ética do Ku Patsa.

•Os objetivos analíticos são:-Analisar práticas sociais baseadas em estratégias socioeconómicas não-capitalistas engendradas e lideradas por mulheres que têm como fundamento a ética do Ku Patsa;- Amplificar o conhecimento existente e alimentar a discussão científica sobre outras economias articulando e comparando várias experiências em curso em Moçambique (Maputo e Gaza), África do Sul (Gauteng) e Brasil (Sergipe e Rio Grande do Sul).

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5- Critérios analíticos

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a) As economias e as socioeconomias que não estão baseadas no lucro nem na acumulação das mais-valias;As economias e as socioeconomias que se baseiam na coesão social, na justa distribuição da riqueza, nas reciprocidades desiguais, na dignidade humana.

b) As economias e as socioeconomias que não se baseiam na sobre-exploração e consequente esgotamento de todos os tipos de recursos – materiais, energéticos, naturais e humanos;As economias e as socioeconomias que têm como fundamento uma relação de respeito e harmonia com todas as criaturas.

c) As economias e as socioeconomias que não estão interessadas na progressiva e totalitária mercadorização – de recursos, de relações sociais, memórias, identidades e espiritualidades;As economias e as socioeconomias que distinguem preço de valor e recusam o princípio de que tudo pode ser comprado e vendido.

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo que utiliza as narrativas de mulheres, e de alguns homens, como principal recurso epistemológico e analítico.

Este trabalho é realizado através de entrevistas em profundidade e co-construção de estórias de vida.

Estas entrevistas e estórias de vida são suplementadas pela participação nas atividades dos grupos de mulheres: xitique, cooperativas, associações locais e os diversos empreendimentos da sua autoria e liderança.

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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Até este momento foram realizadas 35 entrevistas em profundidade (32 mulheres e 3 homens) e estão a ser elaboradas, cooperativamente, duas estórias de vida com duas mulheres.

Estas 35 pessoas são responsáveis por atividades, iniciativas ou empreendimentos socioeconómicos que respondem aos critérios analíticos definidos e estão a ser desenvolvidos nos seguintes locais:

-Província de Inhambane: Inharrime-Província de Gaza: Chilembene, Machel, Lionde, Chókwè-Província de Maputo: Magude, Xinavane, Ilha Josina, Manhiça, Maxava, Matola e Maputo (bairros da Maxakene, Bagamoio, Magoanine, CMC, Xipamanine, Polana)

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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Este trabalho tem sido feito em quatro línguas:

-Changana-Ronga-Português-Inglês

O trabalho realizado em Changana e Ronga é feito com a assistência de três pessoas fluentes nas três línguas e que fazem a interpretação ou conduzem as entrevistas nas línguas nacionais. São ainda responsáveis pela transcrição, tradução e controlo sucessivo das traduções de Changana e Ronga para Português.

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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Note bem:

-O que tem valor e não tem preço neste trabalho.

-O que é pago e o que não pode ser vendido.

-Detalhes que são epistemologicamente relevantes: quem são estas/es tradutoras/es?

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Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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A autorreflexividade incluída

O diário de campo da Filizarda

desdobrado numa versão electrónica (130 p.) e uma em papel (145 p.)

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6- Metodologia e trabalho de campo em Moçambique

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As minhas estórias

Estória de um visto de chegadaMetan-mutin à cafreal

Mamã Fumo debaixo do cajueiro e o seu telefone celularA mulher que não viu a grande lua

Carrinho de bebé GTX turboO impensador

A linguagem do silêncioO novo acordar ortográfico

Os homens e a sombraA galinha do mato que acompanhou a irmã na vida e na morte

The living past

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔A impossibilidade de uma epistemologia hegemónica totalitária é a impossibilidade da existência de puras externalidades

As porosidadesAs articulaçõesAs zonas de contato e as buffer zonesAs sobreposiçõesAs cooptações retóricas e de conteúdos

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔O pluriverso das resistências e da criação de alternativas

- As que são de longuíssimo prazo como são o pluralismo económico, o pluralismo jurídico, os tabus, as línguas, entre outras;

- As de médio e longo prazo: as lutas pelas mudanças de regime político como a independência política e da criação de um estado nacional moderno e a constitucionalização de direitos e garantias, as respostas sociais e políticas à imposição do ajustamento estrutural neoliberal da economia, entre outras;

- As táticas e as de emergência, ou seja, de curtíssimo prazo como as ocupações de diferentes espaços públicos para marchar, reivindicar, negociar, bloquear, denunciar; a recriação contínua de identidades e tradições; fechar os ouvidos, cozer as sementes, furar as manilhas, e muitas outras.

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔O pluriverso das resistências e da criação de alternativas

- Uma nota de rodapé indispensável:

não existem resistências e alternativas de nenhum tipo nas quais as mulheres não participem como mentoras, fazedoras, e avaliadoras.

Contudo, é preciso sublinhar que, de maneira quase simétrica, elas são amplamente vitimizadas através das violências que lhes são especialmente dirigidas, geradas quer pelos processos, quer perpetradas pelos opressores quer pelos ‘libertadores’: raptos, escravidão sexual, casamentos prematuros, sobrecarga de trabalho, abandono, monoparentalidade, feminização do HIV/SIDA, fístulas obstétricas, a má nutrição, entre tantas outras.

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Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔As socioeconomias com fortes aspetos não mercantilizáveis e em que a arte do ku patsa é o seu diferencial normativo. São repertórios de dignidade humana, respeito, abundância, segurança, demo-democracia e as suas capacidades heurísticas para pensar as outras economias são notáveis

Economias da dádiva tanto familiares (privadas) como comunitárias (públicas) e sobretudo as suas intersecionalidades;Economias das artes: a criação artística, o pensamento criativo, ku landza;Economias de produção: cooperativas, associações de produtoras/es, kupfunana, mafunana;Economias de serviços: escolas comunitárias, grupos de aprendizagem de artes e ofícios, hospitais de cuidados paliativos;Economias de clandestinidade: o muqhero, os amores;

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔O xitique - uma sociologia das emergências sub-teorizada

Xitique

Kupfunana

Xitoco

Tsima

Ntimo

Kurhimela

Matsoni

Xivunga

Thôthôtho

Kuthekela

Kuverkhelissa

Ovaliha

Kixikila

Abota

Tontine

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔O xitique – uma sociologia das emergências sub-teorizada

Uma resistência e alternativa de longuíssimo prazo, plástica, flexível, coletiva,

polissémica, atrativa, vascularizada;

Pode-se monetizar mas não se mercantiliza em aspetos essenciais;

Engendrada e liderada sobretudo por mulheres;

Congrega a gratificação pessoal e a coesão coletiva;

Envolve um largo espectro de competências pessoais e sociais em ação e em

permanente recriação e concretização;

Cria espaços-tempos de democracia discursiva, democratização da autoridade,

reconhecimento, dignidade, respeito nos seus próprios termos e gestão da

abundância de e para mulheres, na sua maioria, empobrecidas, vulnerabilizadas,

invisíveis ou subalternizadas;

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔‘Economia Solidária’ é uma hermenêutica por traduzir em Moçambique nos seus próprios termos e numa perspetiva pós-colonial

* A cooptação discursiva e do ‘politicamente correto’

* As economias de miséria e as versões assistencialistas do ‘empowerment’

* As Drag-Queen do capitalismo ‘solidário’ emergente

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔São economias de mulheres, com sensibilidade ao género, feministas, ou o quê?

• Rompem com as epistemologias das lágrimas, das esfarrapadas e dos ranhos• Reinventam economias de abundância, dignidade e bem-viver versus as

economias da eterna escassez• Trocam poder por valentia• Sublinham as narrativas autorais sobre outras economias para além de

economistas desenvolvimentistas e outros especialistas - animahaka, namwina hi tsihike hiyanha automi lahina!

• Elas estão em maioria nesta economia real e sem bolhas!

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔Sem açúcar e sem afeto: o atual reajustamento estrutural a ocorrer em Moçambique

• A extração maciça de recursos minerais e energéticos de vários tipos; a sobre-exploração da terra para culturas intensivas; o deslocamento forçado de populações; a privatização de recursos vitais como orlas marinhas e ribeirinhas, acesso à água de irrigação e para consumo biológico; o abate de florestas, a destruição de savanas e corredores da biodiversidade na terra e no mar; a reestruturação fundiária através dos planos de concessões; a especulação imobiliária; a financerização da economia e o colapso dos mercados de trocas de pequena escala e de proximidade; o aprofundamento das desigualdades sociais; a erosão da democracia e dos sistemas de representação, governo e controlo pelas/os cidadãs/ãos; a suspensão não-dita das garantias constitucionais e jurídicas a vários níveis; a nova retórica desenvolvimentista, entre outras.

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7- Alguns dos meus principais findings – ou seria melhor dizer, alguns dos meus principais encontros (?)

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✔Sem açúcar e sem afeto: o atual reajustamento estrutural a ocorrer em Moçambique

Caminho caminho caminho e vejo passeios e ruas a serem tomadas pelo capital financeiro dos bancos. Saem os lojistas familiares, vai-se à falência por dá lá aquele aumento de renda, atiram-se para longe as lojas de rua, as filas de sapatos, as cadeiras feitas de palha in loco, os vernizes de unhas ao seu dispor, os óculos de todas as traficâncias possíveis, alfaiates e mukumes, raminhos de coentros, castanha batata doce de polpa alaranjada, mais as calamidades de tapetes, saias ou vestidos conforme se queira e se precise. Tudo daí para fora! Tudo para o raio que vos parta. Tudo para, LÁ!Ficam as ruas com a areia e o pó à vista mas ficam também as agências bancárias com paredes e pretextos modernos e só aparentemente limpos. Ficam buracos que se refazem e multiplicam todos os dias à entrada de lojas com sapatos impossíveis de calçar ou tampos de sanitas a 300 contos de sonhos o metro quadrado!

In ‘A mulher que não viu a grande lua’

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Dignidade, justiça e bom viver em iniciativas sócio-económicas engendradas por mulheres

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Khanimambo, muito obrigada.

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[email protected] ou [email protected]

Publicação recente:Teresa Cunha (2012) - ‘Para além da ortodoxia nacionalista timorense: a estória de Bi-Murak’, in E-cadernos – A manipulação xenófoba e política dos direitos das mulheres, Centro de Estudos Sociais, 16, p. 143 – 169.

Próximas atividades:UPMS – Universidade Popular dos Movimento Sociais, Mumemo, Maputo de 25 a 27 de Julho de 2013Oficina de formação – A economia EmPoder delas. Alternativas, justiça e bem-viver.Fórum Mulher, dia 2 de Agosto de 2013 das 9h às 15h30 & WLSA, dia 5 de Agosto de 2013 das 9h às 15h30