a arbitragem na legislação brasileira como forma

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução dos conflitos de interesses 1 Ednei Moreira Mangabeira 2 , Geraldo Rodrigues da Silva. 3 Resumo: O presente artigo tem o objetivo apresentar a Lei 9.307/96 que disciplina a arbitragem no Brasil como forma alternativa, eficaz e célere na resolução de conflitos na sociedade. Tem por finalidade demonstrar as vantagens e desvantagens da referida legislação, bem como a escolha desse instituto pelos cidadãos na resolução dos conflitos de interesses. No entanto, ainda explana sobre os pontos a serem aperfeiçoados na citada lei, e traz, intrinsecamente, o descaso do legislador em deixar a lei sem as atualizações e revisões necessárias. Foi feito estudos e pesquisas doutrinárias, jurisprudências e de campo na atuação das cortes de arbitragem. Discute-se, também, a natureza jurídica da arbitragem em diferentes correntes defendidas pelos doutrinadores e operadores do direito. Ademais, apresentam-se alternativas para solucionar os problemas do descrédito da sociedade em se submeter ao procedimento arbitral, isto é, descrédito arraigado na cultura brasileira que vê no juiz togado a solução absoluta dos conflitos desencadeados. Enfim, demonstrar que a arbitragem exalta a autonomia da vontade dos contratantes na escolha do procedimento, bem como a sua liberdade na escolha das regras a serem aplicadas, e também, os julgadores na resolução dos conflitos. Palavras Chaves: Arbitragem (Lei 9.307/06). Procedimento arbitral. Vantagens. Desvantagens. The Brazilian legislation on arbitration as an alternative means of resolving conflicts of interest Abstract: This article aims to present the Law 9.307/96 which governs the arbitration in Brazil as an alternative, effective and speedy resolution of conflicts in society. Its purpose is to demonstrate the advantages and disadvantages of such legislation, and the choice of this instrument by citizens in resolving conflicts of interest. However, further explains about the points to be improved in the said law, and brings intrinsically the neglect of the legislature to make law without the necessary updates and revisions. Studies and research was done doctrinal jurisprudence and field work in the courts of arbitration. We discuss also the legal status of arbitration in different streams advocated by scholars and law professionals. Furthermore, we present alternatives to solve the problems of society in disbelief to submit to arbitration, ie, discredit rooted in Brazilian culture that sees the judge robin the absolute solution of conflicts triggered. Finally, to demonstrate that the arbitration exalts freedom of choice of contractors to choose the procedure as well as their freedom in the choice of rules to be applied, and also, the judges in resolving conflicts. Keywords: Arbitration (Law 9.307/06). The arbitration proceedings. Advantages. Disadvantages. 1 Trabalho de conclusão do curso de Direito da Faculdade Montes Belos. 2 Acadêmico do curso de Direito da Faculdade Montes Belos. 3 Professor orientador da FMB.

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Page 1: A arbitragem na legislação brasileira como forma

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução dos conflitos

de interesses1

Ednei Moreira Mangabeira2, Geraldo Rodrigues da Silva.

3

Resumo: O presente artigo tem o objetivo apresentar a Lei 9.307/96 que disciplina a arbitragem no Brasil como

forma alternativa, eficaz e célere na resolução de conflitos na sociedade. Tem por finalidade demonstrar as

vantagens e desvantagens da referida legislação, bem como a escolha desse instituto pelos cidadãos na

resolução dos conflitos de interesses. No entanto, ainda explana sobre os pontos a serem aperfeiçoados na

citada lei, e traz, intrinsecamente, o descaso do legislador em deixar a lei sem as atualizações e revisões

necessárias. Foi feito estudos e pesquisas doutrinárias, jurisprudências e de campo na atuação das cortes de

arbitragem. Discute-se, também, a natureza jurídica da arbitragem em diferentes correntes defendidas pelos

doutrinadores e operadores do direito. Ademais, apresentam-se alternativas para solucionar os problemas do

descrédito da sociedade em se submeter ao procedimento arbitral, isto é, descrédito arraigado na cultura

brasileira que vê no juiz togado a solução absoluta dos conflitos desencadeados. Enfim, demonstrar que a

arbitragem exalta a autonomia da vontade dos contratantes na escolha do procedimento, bem como a sua

liberdade na escolha das regras a serem aplicadas, e também, os julgadores na resolução dos conflitos.

Palavras Chaves: Arbitragem (Lei 9.307/06). Procedimento arbitral. Vantagens. Desvantagens.

The Brazilian legislation on arbitration as an alternative means of resolving conflicts of interest

Abstract: This article aims to present the Law 9.307/96 which governs the arbitration in Brazil as an

alternative, effective and speedy resolution of conflicts in society. Its purpose is to demonstrate the advantages

and disadvantages of such legislation, and the choice of this instrument by citizens in resolving conflicts of

interest. However, further explains about the points to be improved in the said law, and brings intrinsically the

neglect of the legislature to make law without the necessary updates and revisions. Studies and research was

done doctrinal jurisprudence and field work in the courts of arbitration. We discuss also the legal status of

arbitration in different streams advocated by scholars and law professionals. Furthermore, we present

alternatives to solve the problems of society in disbelief to submit to arbitration, ie, discredit rooted in Brazilian

culture that sees the judge robin the absolute solution of conflicts triggered. Finally, to demonstrate that the

arbitration exalts freedom of choice of contractors to choose the procedure as well as their freedom in the

choice of rules to be applied, and also, the judges in resolving conflicts.

Keywords: Arbitration (Law 9.307/06). The arbitration proceedings. Advantages. Disadvantages.

1 Trabalho de conclusão do curso de Direito da Faculdade Montes Belos.

2 Acadêmico do curso de Direito da Faculdade Montes Belos.

3 Professor orientador da FMB.

Page 2: A arbitragem na legislação brasileira como forma

2 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

1.0. Introdução

Frente à morosidade do Poder Judiciário em

resolver os conflitos de interesse de maneira célere,

eficaz e satisfatória, a Lei 9.307/96, que disciplina a

arbitragem brasileira, se revela um dos instrumentos

alternativos para solucionar conflitos entre os

cidadãos na sociedade, conflitos que envolvam

direitos disponíveis respeitando a autonomia das

partes em escolher os seus julgadores e a forma

como os litígios, uma vez deflagrados, poderão se

processar. A autonomia das partes está relacionada

com a liberdade no procedimento escolhido, em que

o modo de processamento por si só já possibilita

uma atmosfera propícia para composição das lides

entre as partes ou adequação de um laudo arbitral

satisfatório e equável.

A evolução história do instituto da

arbitragem na legislação brasileira mostra como o

legislador demorou a reconhecer e dar mais

autonomia ao procedimento, como a dispensa de

homologação da sentença arbitral pelo Judiciário.

No entanto, esta autonomia vem de encontro como

um dos fatores, que em dias atuais a arbitragem

abarca desconfiança e impedimentos que levam a

sociedade preferirem a sentença judicial proferida

por juízes togados. Sendo assim, percebe-se que o

mesmo fator que se

buscou ao longo da história em se reconhecer um

laudo arbitral independente, sem necessidade de

homologação judicial, é também um dos entraves

que o instituto traz para sua credibilidade. Por isso

faz-se necessário dispor de opções para

aperfeiçoamento do procedimento arbitral, que

inclui dentre eles: a participação, fomentação mais

efetiva do poder judiciário e uma atenção maior

quanto à formação dos árbitros e dos tribunais

arbitrais para escolha por parte da sociedade pelo

procedimento arbitral, não devendo esquecer a

reformulação legislativa para que este anseio se

materialize.

Certamente, o procedimento arbitral

disseminado irá contribuir com o desafogamento da

justiça estatal e para a prevenção de conflitos de

interesses eventualmente desencadeados,

contribuindo juntamente com as cortes de

conciliação e procedimentos especiais (Lei

9.099/05) uma resposta à sociedade mais rápida e

eficiente.

A arbitragem como meio alternativo que

deverá ser incentivado e aperfeiçoado pelo Poder

Judiciário é demonstrado pelo estudo teórico da lei

e seu procedimento, em que os jurisdicionados,

fugindo da morosidade e ao apego às

instrumentalidades do procedimento, buscam na

arbitragem a solução dos conflitos de interesses que

envolvam direitos disponíveis, de maneira rápida e

eficaz, não ficando refém da demorada solução

estatal materializada na sentença do juiz togado.

2.0. História da arbitragem no direito brasileiro

O surgimento da arbitragem no Brasil tem

relatos desde a colonização Portuguesa, nas

Ordenações Filipinas em 1603, sob a denominação

dos Juízes Árbitros, prevista no Livro III, Título

XVI.

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3 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

Na Constituição Política do Império do

Brasil de 1824, o juízo arbitral foi referido

expressamente no Título VI, Do Poder Judicial,

Capítulo Único, Dos Juízes e Tribunais de Justiça.

Na evolução dos dispositivos da arbitragem, esta

constituição previa a nomeação pelas partes de um

juiz arbitral para conflitos cíveis com decisões

irrecorríveis.

A Lei nº 1.350 de 14 de setembro de 1866

revogou a arbitragem compulsória, sem contestação

à época, já que a utilidade do juízo arbitral

obrigatório nunca foi realmente reconhecida, ao

contrário, sua existência, como ressalta

MAGALHÃES (1988, p. 100), repugna à própria

natureza do instituo, embasado na vontade das

partes contratantes.

Com o decreto nº 3.900 de 26 de junho de

1867 houve significativas mudanças na arbitragem

no Brasil, pois vieram regular as alterações sofridas

pela jurisdição arbitral, disciplinando, sem

precedentes a forma expressa no direito pátrio, a

cláusula arbitral, declarando, ainda, a cláusula

compromissória, sobre litígios futuros que possuiria

somente valor de promessa, resolvendo-se em

perdas e danos.

Após a Constituição de 1891, vários

Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas

Gerais e Rio Grande do Sul incluíram em seus

Códigos de Processo Civil, regras específicas sobre

o juízo arbitral.

O Código de Processo Civil de 1939 deu

uma maior atenção à arbitragem dedicando-se

dezesseis artigos distribuídos em três Capítulos:

Disposições Gerais; Do Andamento da Causa e do

Julgamento; e Da Homologação. Porém, o referido

diploma legal, manteve a obrigatoriedade da

homologação do laudo arbitral por um juiz togado.

No tocante a cláusula compromissória, esta ficou

mais uma vez negligenciada, sendo disciplinada

somente no Código de Processo Civil de 1973.

Por último, com a entrada em vigor do

Código Processual Civil de 1973, houve finalmente

a previsão da cláusula compromissória,

estabelecendo a harmonia no que se refere à

arbitragem, entre o Código Civil.

O notório desuso do instituto jurídico da

arbitragem em nosso País não deve ser atribuído à

inexistência de legislação atinente ao tema, pois, se

fez presente desde as Ordenações Filipinas.

A justificativa histórica para a ausência

efetiva de utilização e consequente falta de tradição

do instituto no Brasil, segundo ensina o doutrinador

FIGUIEIRA JUNIOR (1999, p. 123) é dada

principalmente pelos entraves criados pela

legislação ao logo do tempo ao qual também não foi

capaz de desenvolver ou introduzir a cultura de

composição amigável dos conflitos entre

particulares por meio da arbitragem.

Como último marco do aperfeiçoamento da

arbitragem no Brasil, registra-se apresentação de

alguns projetos de lei, dos quais apenas um vingou:

a Lei de arbitragem atual, a conhecida Lei 9.307/96.

2.1. Projeto de Lei 9.307/96

Para elaborar a Lei de Arbitragem, o

legislador se pautou na Lei-Modelo sobre

Arbitragem Comercial Internacional da Comissão

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das Nações Unidas - UNCITRAL, para o

Desenvolvimento do Comércio Internacional, criada

em 1966, com sede em Viena, na África, que tem

como função principal harmonizar o direito do

comércio Internacional.

Ao invés de se optar pela unificação da

matéria arbitral através de uma convenção

internacional, preferiu-se buscar a harmonização

das diversas legislações internas discutindo-se,

durante três anos, os termos de uma Lei – Modelo.

Esse trabalho foi realizado por um comitê formado

por representantes de 58 países, incluindo o Brasil.

Esse projeto, cujo texto final, somente foi aprovado

pela Assembléia Geral das Nações Unidas, é

atribuído, justamente, ao seu caráter universal.

Ainda segundo LEMES (1999, p.33) umas

das principais disposições da Lei-Modelo, que estão

incorporadas à legislação interna brasileira são:

“Ampla autonomia das partes para fixação das

regras procedimentais; reconhecimento do caráter

obrigatório e efeito vinculante da cláusula

compromissória e executoriedade; os princípios da

autonomia da cláusula compromissória e da

competência previstos no art. 16 da Lei – Modelo;

Procedimento para indicação e aceite dos árbitros; o

princípio do devido processo legal; os árbitros

deverão fundamentar suas decisões, exarada na

sentença arbitral; reconhecimento e execução de

sentença arbitral estrangeira”.

Finalmente, em novembro de 1991,

conforme relata Carmona, integrante da comissão

relatora, por iniciativa do Instituto Liberal de

Pernambuco, foi nomeada a comissão relatora

integrada por Selma M. Ferreira Lemes, Pedro

Antônio Batista Martins e Carlos Alberto Carmona,

equipe de estudiosos da matéria e excelentes

professores, em que buscaram aproveitar de

interessante no que já havia sido discutido nos

projetos de lei anteriores.

Nessa ordem, pela iniciativa do Senador

Marco Maciel, originou-se o Projeto de Lei

terminando por transformar no novo e tão esperado

sistema de arbitragem materializada pela Lei 9.307,

de 23 de setembro de 1996.

3.0. Aplicação e estudo teórico da Lei 9.307/96

3.1. Conceito

A arbitragem é um instituto em que as

partes estabelecem em contrato a dissolução dos

conflitos por meio da arbitragem que consiste na

nomeação de um ou mais árbitros para solução da

demanda. Assim ainda define CARMONA (1993,

p.35): “É um meio extrajudicial de resolução capaz

de dirimir contendas entre particulares, podendo ser

determinada na elaboração do contrato, pela

cláusula arbitral ou depois do surgimento da

questão controvertida, pelo compromisso arbitral,

ambos dando inicio ao que se convencionou chamar

de juízo arbitral, sendo também obrigação das

partes a indicação de um ou mais terceiros para

serem árbitros”.

Strenger (1987, p.197) assim define o

instituto da arbitragem: “a arbitragem é a instância

jurisdicional, praticada em função de regime

contratualmente estabelecido para dirimir

controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou

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5 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

público, com procedimentos próprios e força

executória perante tribunais estatais”.

Portanto, entende-se que a arbitragem é

uma forma alternativa na solução de conflitos que

envolvam direitos disponíveis; convencionando as

partes, que devem ser maiores e capazes; a cláusula

arbitral no contrato escrito, determinando que o

contrato seja submetido à arbitragem para dirimir

eventuais conflitos provenientes do mesmo, com a

indicação de árbitros pelos contratantes.

3.2. Aspectos constitucionais da arbitragem

Alterações trazidas com a nova Lei

9.307/96 que incluem a dispensa de homologação

judicial da sentença arbitral e a irrecorribilidade da

mesma trouxeram à tona discussões sobre a sua

constitucionalidade no que se refere à ofensa aos

princípios da inafastabilidade do controle

jurisdicional presente no artigo 5º, inciso XXXV, da

Constituição Federal de 1988 e ao princípio do juiz

natural.

Contudo, deve-se falar em ofensa ao juiz

natural quando se vislumbra um tribunal de exceção

criado após um conflito para julgá-lo

especificamente este caso, mas a lei de arbitragem

prevê a cláusula arbitral como forma de estabelecer

um procedimento padrão, com regras e julgadores

escolhidos ou não no momento da celebração da

cláusula arbitral, respeitando a autonomia da

vontade. No que se refere ao procedimento arbitral

instituído após o conflito não há de que se falar em

afronta ao juiz natural, pois as partes previamente

acordaram a forma e os julgadores das lides.

Os que advogam esta possível

incompatibilidade constitucional não levaram em

conta o momento histórico em que a constituição se

materializou, pois o legislador constituinte primário

não previa abominar a arbitragem no país, mas sim

repudiar a ação de governos totalitários em criar as

suas regras e tribunais a “ferro e fogo” de um

Estado ditatorial, que foi justamente um momento

anteriormente vivido antes de a constituição ser

promulgada.

O incidente de inconstitucionalidade

discutido em agravo regimental no Supremo

Tribunal Federal pôs fim à discussão da

inconstitucionalidade da lei de arbitragem no Brasil,

entendendo a ministra Gracie apud Marco Aurélio

(2004, p. 114): “não vejo renúncia à tutela judicial

neles, mas uma mudança no foco e na ocasião em

que se dará o apelo ao judiciário. O cidadão pode

invocar o judiciário para solucionar os conflitos,

mas não está de acessar outros meios”.

Esta foi uma importante decisão jurídica

que contribuiu muito com a arbitragem para

combater às desconfianças daqueles que vêem a

solução de conflitos somente com a contenda

judicial, pois antes da decisão do Supremo Tribunal

Federal, os opositores da Lei de arbitragem

exaltavam e divulgavam o instituto da arbitragem

como um instrumento inconstitucional e advogando

para a decretação da inconstitucionalidade da

arbitragem, com a verdadeira extinção da lei do

nosso ordenamento jurídico.

3.3 Cláusula arbitral e compromisso arbitral

distinção

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

A cláusula compromissória ou como

alguns autores a tratam de cláusula arbitral é o

compromisso que as partes estipulam de se

submeterem ao procedimento da arbitragem para

solucionar eventuais conflitos decorrentes do

contrato celebrado. Esta cláusula é inserida no

momento da celebração do contrato, portanto,

anterior ao eventual conflito.

A cláusula compromissória deverá vir

expressa em contrato, sendo o contrato de adesão, a

iniciativa deverá ser do aderente ou senão,

concordá-lo expressamente com visto específico

para a cláusula de que trata sobre o procedimento

arbitral.

A cláusula compromissória é autônoma em

relação ao contrato em que estiver inserida, de

modo que a nulidade do mesmo não implica,

necessariamente, a nulidade da cláusula

compromissória.

O compromisso arbitral como ensina o art.

9º da Lei, é a convenção das partes em submeter um

litígio ao procedimento arbitral. A iniciativa das

partes de submeter ao procedimento surge

justamente depois de instaurada a pretensão

resistida, o litígio.

3.4. Natureza jurídica

A natureza jurídica da arbitragem

certamente é uma das questões mais polêmicas

sobre assunto, uma vez que não podendo confiar a

solução dos conflitos ao bom senso de cada ser

humano que compõe a sociedade, o Estado trouxe

para si o monopólio da jurisdição, haja vista, ainda,

conferi-la o caráter coercitivo, próprio do Estado.

Por outro lado, quando disciplinou a

arbitragem após o advento da Constituição

Brasileira de 1988, o Estado reconheceu

mecanismos alternativos de solução dos conflitos,

harmonizando o ordenamento jurídico na matéria

em questão.

A questão divide os doutrinadores em duas

correntes opostas, existindo ainda entendimentos

intermediários. Os que defendem que a arbitragem

tem natureza jurídica privada, apartada da função de

julgar estatal são os privatistas ou também

conhecidos como os contratualistas. Na oposição

temos os chamados publicistas que entendem a

arbitragem como exercício jurisdicional.

Os contratualistas valorizam o ato

voluntário entre as partes de contratar em um

negócio jurídico de natureza privada que se

materializa na cláusula arbitral ou no compromisso

arbitral.

Para esta corrente os árbitros não exercem

jurisdição, alegando ser monopólio do Estado,

contestando a falta da qualidade de coerção e

execução das sentenças arbitrais, pois para lhes

conferirem imposição/execução é preciso recorrer

ao Judiciário, entendendo, deste modo, ser um mero

procedimento.

Os publicistas encaram a arbitragem pelo

aspecto teleológico que desempenha, tendo a

finalidade pública de pacificação social,

desempenhando os juízes árbitros responsabilidades

equivalente aos juízes estatais. Neste sentido o

ilustre argentino RIVAS (1997), traz uma exemplar

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definição de jurisdição em comento ao assunto,

concluindo que a celeuma sobre a natureza jurídica

da arbitragem reside na definição ampla ou restrita

de jurisdição.

A jurisdição estatal é formada pelas

características de notio (conhecimento), vocatio

(chamamento), coertio (coerção), judicium

(julgamento), executio (execução). A arbitragem

não possui a qualidade de coertio e executio

defendida pela corrente contratualista. Para Rivas

(1997, p. 45), o fato do árbitro reunir três dos cincos

elementos da jurisdição, configura no mínimo o

exercício de jurisdição fragmentada, ensinando

ainda: “Se a decisão arbitral é condenatória, esta

terá, como a sentença similar proferida pelo juiz

togado, força executiva em sentido potencial, ou

seja, a possibilidade jurídica de se provocar o uso

da força, entretanto, para levar a efeito o uso da

força, isto é, para que possa exercer controle da

regularidade formal da sentença arbitral e a sua

compatibilidade com a ordem pública”.

Percebe-se que a decisão arbitral, apesar de

não possuírem os cinco elementos da jurisdição ela

carrega força executiva em potencial.

Existem, ainda, os que conclamam o meio

termo da discussão como o entendimento de

algumas autoridades especializadas, dizendo ser

uma jurisdição pactuada entre as partes, configura-

se com isso uma natureza mista, contratual e

jurisdicional.

Sendo assim, observa-se que a natureza

jurídica da arbitragem é de notórias discordâncias

que justificam e se fundamentam com consistência

tanto para ser de natureza contratual ou

jurisdicional, rezando ainda o seu caráter misto.

4.0. Os árbitros

A composição dos árbitros é explicitada no

art. 13, capítulo III da Lei de arbitragem que diz:

Art. 13 – “Pode ser árbitros qualquer pessoa capaz e

que tenha a confiança das partes”.

Neste caso, os árbitros são livremente

escolhidos pelas partes, bastando que preencha os

requisitos objetivos da capacidade, além de outros

fatores subjetivos que é a confiança sem margem

para a alegação da suspeição, ou impedimento nos

mesmos.

Conforme preceitua o art. 134 do CPC, o

juiz é impedido de atuar em quaisquer tipos de

processos. Veja o que diz o artigo: “É defesa ao juiz

exercer as suas funções no processo contencioso ou

voluntário: I – de que for parte; II – em que

interveio como mandatário da parte, oficiou como

perito funcionou como órgão do Ministério Público,

ou prestou depoimento como testemunha; III – que

conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe

proferido sentença ou decisão; IV – quando nele

estiver postulando, como advogado da parte, o seu

cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou

afim, em linha reta; ou na linha colateral até o

segundo grau; V – quando cônjuge, parente,

consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em

linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; VI –

quando for órgão de direção ou de administração de

pessoa jurídica, parte na causa”.

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O art. 135 do CPC menciona que o juiz

não poderá atuar no processo se for arguida a sua

suspeição. Veja o que menciona o referido artigo:

“Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do

juiz, quando: I – amigo íntimo ou inimigo capital de

qualquer das partes; II – alguma das partes for

credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de

parentes destes, em linha reta ou na colateral até o

terceiros grau; III – herdeiro presuntivo, donatário

ou empregador de alguma das partes; IV – receber

dádivas antes ou depois de iniciado o processo

aconselhar alguma das partes acerca do objeto da

causa, ou subministrar meios para atender às

despesas do litígio; V – interessado no julgamento

da causa em favor de uma das partes”.

Esta regra se justifica, pois o árbitro

nomeado deve proceder no desempenho de suas

funções com imparcialidade, independência,

competência, diligência e descrição.

As partes poderão escolher um ou mais

árbitros, devendo ser em número ímpar, no segundo

caso deverá escolher um árbitro presidente.

O árbitro é juiz de fato e de direito, sendo

que a sentença proferida não fica sujeita a

homologação ou recurso ao poder judiciário.

5.0. O procedimento arbitral

O procedimento arbitral é matéria de

direito processual, pois trata a maneira que a

arbitragem se desenvolverá, ela está estritamente

ligada a convenção de arbitragem ou o

compromisso arbitral em que as partes submetem o

conflito ao procedimento escolhendo os árbitros, se

será julgado por critério de equidade, direito ou

legislação especial aplicável, o prazo para proferir a

sentença entre outras questões atinentes ao

procedimento. Uma boa cláusula arbitral deve

conter detalhes do procedimento arbitral.

O procedimento da arbitragem que

convencionar a aplicação de regras de direito estará

subordinado a aplicar normas de direito que as

partes previamente adotarem. Escolhendo de forma

expressa na convenção, o procedimento pela

equidade, as partes eximem-se de regras e dão mais

liberdade aos árbitros para resolver a questão, bem

como na condução dos trabalhos que devem

prevalecer os bons costumes e a ética.

No parágrafo segundo do art. 2º da Lei de

arbitragem assim dispõe: “Poderão, também, as

partes convencionar que a arbitragem se realize com

base nos princípios gerais de direito, nos usos e

costumes e nas regras internacionais de comércio”.

Percebe-se mais uma vez que o instituto

exaltou a liberdade das partes quando se escolhe as

diversas maneiras de se resolver um possível

conflito deflagrado. O parágrafo segundo, art. 2º, da

Lei supramencionada previu a possibilidade de

inserção de regras atinentes ao direito internacional,

tratados, convenções, pactos, declarações ou até

mesmo utilizarem as normas da Comissão das

Nações Unidas para o Direito Comercial

Internacional (Uncitral). Este dispositivo vem de

encontro ao caráter universal da Lei de arbitragem e

acompanham-se as tendências da globalização.

As regras do procedimento estabelecido

pelas partes poderão se reportar às de um órgão

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

(Câmara) arbitral institucional ou entidade

especializada.

Se os árbitros ou o árbitro tiverem alguma

dúvida sobre o disposto na convenção, poderá

exigir explicações formalmente.

Às partes é dado arguir questões de

suspeição, impedimentos, competências, nulidade

da convenção de arbitragem na primeira

oportunidade que tiver de se manifestar após a

instituição de arbitragem.

Serão sempre respeitados no procedimento

da arbitragem, os princípios do contraditório, da

igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e

sobre seu livre convencimento para decidi-lo,

podendo, ainda, as partes postularem por meio de

advogados.

No exercício arbitral os árbitros poderão

tomar depoimentos das partes e ouvir testemunhas,

podendo, também, determinar a realização de

perícias por pedido das partes ou de ofício, caso

seja necessário, sendo estes atos resguardados pelo

sigilo, assim como todo o procedimento da

arbitragem.

A sentença arbitral deverá ser proferida no

prazo de seis meses se não for estipulado pelas

partes outro prazo, contados a partir da instituição

da arbitragem. Nela deverá conter o relatório, com

os nomes das partes, resumo do conflito, os

fundamentos da decisão com a indicação expressa

do julgamento por equidade se forem o caso, bem

como os dispositivos em que os árbitros resolveram

as questões, o prazo do cumprimento da sentença, a

data e o lugar em que foi proferida.

Não existem recursos contra a sentença

arbitral, no entanto, poderá a parte interessada

valer-se do Poder Judiciário competente para

requerer a decretação da nulidade da sentença se

não preencherem os requisitos existentes no art. 32

da Lei de Arbitragem, a saber: “For nulo o

compromisso; II- emanou de quem não podia ser

arbitro; III- não contiver os requisitos do art. 26

desta Lei (requisitos da sentença); IV- for proferida

fora dos limites da convenção de arbitragem; V-

não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;

VI- comprovado que foi proferida por prevaricação,

concussão ou corrupção passiva; VII- proferida fora

do prazo, respeitada o disposto no art. 12, III, desta

Lei; e VIII forem desrespeitados os princípios de

que trata o art. 21, § 2º, desta Lei (sentença que não

considere a desídia da parte)”.

A sentença arbitral poderá, ainda, ser

atacada quando for executada no judiciário por

meio de embargos à execução, sendo possível a

interposição de embargos de declaração para sanar

obscuridades, dúvidas ou contradições.

5.1. Modelo espanhol

Na esteira de um procedimento já

amadurecido e que tem a sua eficácia consolidada,

cita-se a idéia do modelo espanhol de arbitragem,

que consiste na atuação estatal como ensina

EVANDRO ZULLIANI (2004, p.), as juntas serão

compostas por um presidente e um auxiliar

secretário funcionários da administração publica

que ainda complementa: “Incubem às juntas nomear

o Presidente de cada colégio arbitral designado para

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

a solução de dado litígio em particular, que deverá

ser funcionário da administração de bacharel em

direito. A composição de cada colégio arbitral é

sempre de três membros. Escolhido o presidente

pelo critério já mencionado, os outros dois devem

pertencer a uma associação de empresários e de

consumidores respectivamente. As juntas mantêm

listas atualizadas com os nomes das pessoas

autorizadas a funcionarem como árbitros ou

presidente em colégio arbitral”.

Como se vê pelo modelo proposto pela

Espanha, o Estado tem meios de fiscalizar a atuação

e procedimentos das cortes de arbitram não

interferindo de modo intransigente na autonomia da

vontade, na solução pelos cidadãos de conflitos

eventualmente envolvidos.

6.0. Quanto custa a arbitragem

Tomando como parâmetro as custas

processuais do Estado de Goiás (vide tabela

abaixo), que tem as custas de processo mais altas do

país e os valores da arbitragem por uma câmara de

mediação de arbitragem (Cammercosul) com

sucursais em várias cidades do Estado de Goiás e

sede em Goiânia/GO, a arbitragem vista pelo ponto

de vista econômico-benefício, se torna ainda mais

atraente, como seja visto na comparação a seguir:

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11 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

TABELA DE CUSTAS DE ARBITRAGEM

CAMMERSUL

Colunas1 Colunas2 Colunas3

Valor da Causa Custas Iniciais Honorários dos Arbitros

de 0,01 a 250,00 R$ 20,00 20% do acordo

de 250,01 a 500,00 R$ 30,00 20% do acordo

de 500,01 a 1.000,00 R$ 38,00 20% do acordo

de 1.000,01 a 2.000,00 R$ 40,00 20% do acordo

de 2.000,01 a 3.500,00 R$ 45,00 20% do acordo

de 3.500,01 a 5.000,00 R$ 50,00 20% do acordo

de 5.000,01 a 7.000,00 R$ 60,00 20% do acordo

de 7.000,01 a 10.000,00 R$ 70,00 20% do acordo

de 10.000,01 a 15.000,00 R$ 80,00 20% do acordo

de 15.000,01 a 20.000,00 R$ 90,00 20% do acordo

de 20.000,01 a 30.000,00 R$ 100,00 20% do acordo

de 30.000,01 a 40.000,00 R$ 110,00 20% do acordo

de 40.000,01 a 60.000,00 R$ 125,00 20% do acordo

de 60.000,01 a 100.000,00 R$ 150,00 20% do acordo

de 100.000,01 a 300.000,00 R$ 250,00 20% do acordo

de 300.000,01 a 500.000,00 R$ 500,00 20% do acordo

acima de 500.000,01 R$ 750,00 20% do acordo

Observa-se uma causa no valor de R$

100.000,00 e se levar em conta apenas as custas

processuais, a diferença entre as custas do Tribunal

de Justiça do Estado de Goiás e Corte de

Arbitragem Cammercosul, em porcentagem chega a

mais de 85%, pois nas custas estatais o valor

cobrado é de R$ 2.197,55 nas causas com valor de

até 150.000,00 e na Corte de arbitragem o valor das

custas cobrado com uma causa do mesmo valor é de

R$ 250,00. No entanto, a de se levar em conta,

ainda, os honorários dos árbitros, que chegam a

20% do valor do acordo ou da causa.

Há muito se associou a arbitragem a uma

justiça privada em que somente as pessoas com

maior poder aquisitivo usariam o referido instituto.

Como se podem observar os valores regionalmente

cobrados busca e atrai as pessoas,

independentemente do poder aquisitivo elevado,

quebrando o paradigma do alto custo da arbitragem

no Brasil.

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12 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse

Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

Certamente, ao analisarem-se os custos,

levando em consideração os honorários dos árbitros

a arbitragem se torna equiparada ao processo

judicial e em determinados casos ficará mais

onerosa, quando, por exemplo, se verificar a

constituição de um tribunal arbitral em que se

indicará mais de um árbitro para o deslinde da

controvérsia perante a corte de arbitragem, elevando

consideravelmente os custos da arbitragem, apesar

de se aumentar a segurança na decisão final no

procedimento arbitral. Este ponto é apontado como

uma desvantagem da arbitragem.

7.0. Vantagens e desvantagens da arbitragem

A arbitragem no âmbito da autonomia da

vontade possibilita alternativa na solução de

conflitos envolvendo partes contratantes de forma

rápida e com maior liberdade para escolher a forma

de procedimento na solução da controvérsia.

Os conflitos atinentes à arbitragem são os

de direito disponíveis, assim se enquadram as

relações referentes aos contratos de compra e

venda, locação, trânsito, seguro, contratos

comerciais, que envolvam multinacionais e de

serviços em geral.

Uma das vantagens que se destaca no

procedimento arbitral é a celeridade do

procedimento, uma vez que o arbitro ou tribunal

arbitral deverá, a princípio, decidir o conflito no

prazo de seis meses, respondendo os árbitros pelos

danos causados pela procrastinação do laudo

arbitral. Essa celeridade não deve ser interpretada

como cerceamento do contraditório, pois a Lei traz

em seu art. 21, § 2º, como princípio a ser respeitado

pelo procedimento. Certamente, é a vantagem mais

almejada aos que procuram solucionar seus

conflitos de maneira alternativa, haja vista, ser

notório a lentidão e a sobrecarga da jurisdição

estatal.

A arbitragem ainda traz o desapego ao

formalismo exagerado do judiciário, em que muitas

vezes se discute mais o processo do que o direito

em si, podendo as partes que optar pela arbitragem

escolher a forma (regra) e o árbitro para a solução

do conflito, conferindo flexibilidade na condução

dos trabalhos, eliminando com isso a desconfiança

quando à sentença arbitral. É a razão pela qual não

se admite recurso à sentença arbitral, evitando a

infinidade de recursos às partes insatisfeitas com a

resposta da sentença estatal.

A escolha do árbitro de confiança não traz

imparcialidade ao julgamento, pelo contrário, faz do

laudo arbitral uma sentença técnica, pois em

determinados casos as partes podem escolher dentre

os árbitros um que tenha conhecimento técnico

sobre o assunto, não necessitando com isso a

nomeação de perito para trazer conhecimento sobre

a causa ao processo como ocorre no judiciário.

Outra vantagem importante na arbitragem

é a confidencialidade do processo arbitral, podendo

as partes dispor de forma diversa quanto ao sigilo.

O dispositivo se torna atraente às empresas que

possuem sigilo empresarial.

O custo médio da arbitragem aplicado no

Brasil é relativamente alto, o que revela uma das

principais desvantagens e motivo pelo qual a

arbitragem ainda se encontra pouco conhecida e

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

utilizada no país, apesar dos números mostrarem

significativo crescimento após sua legalização.

Contudo, deve se buscar o custo-benefício na opção

de se escolher o procedimento, pois com a demora

de se resolver os conflitos no judiciário a demanda

se torna cada vez mais onerosa.

Desde modo, o custo do procedimento na

arbitragem deve ser levado em conta, no entanto,

atentar-se que não é o único fator a ser perseguido

na escolha do procedimento, mais também outras

vantagens apresentadas pelo instituto.

Outra desvantagem, peculiar no Estado de

Goiás, são os Centros de Pacificação Social (CPS)

instituído pelo Tribunal de Justiça do Estado de

Goiás, são Centros que se estabelece como pré-

requisito para as partes, não conseguindo a

conciliação no Centro de Pacificação, entrará com

uma ação no Juizado Especial Cível e Criminal. São

procedimentos e instrumentos criados pelos órgãos

jurisdicionais para prevenir uma demanda judicial.

O modelo criado pelo Tribunal Judicial de Goiás foi

abraçado pelo Conselho Nacional de Justiça como

sendo a forma de aproximação e acesso à justiça

pelo cidadão, sendo incentivada a implantação do

seu modelo a outros estados do Centro oeste e

Sudeste

O modelo de Pacificação social diferencia

do modelo arbitral principalmente pela sua

gratuidade. No entanto, os centros de pacificação

social, na prática funcionam como cortes de

conciliação prévia, em que se buscam uma

conciliação das partes antes delas procurarem o

judiciário e mais especificamente os juizados

especiais.

8.0. Dados estatísticos sobre a arbitragem

A pesquisa de âmbito nacional intitulada

com a Arbitragem e Poder Judiciário, realizada em

parceria pela Escola de Direito de São Paulo da

Fundação Getúlio Vargas e o Comitê Brasileiro de

Arbitragem (CBAr) realizada em 2006, trouxe uma

verdadeira radiografia do instituto no Brasil desde

da promulgação da Lei, como disposto no gráfico a

diante:

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

Como se infere da leitura do gráfico, a

pesquisa mostrou a eficácia da convenção arbitral

ou como alguns autores chamam de compromisso

arbitral, neste sentido exalta-se a importância de se

elaborar uma cláusula arbitral clara, objetiva e

completa, surge então o imprescindível papel dos

operadores do direito, o advogado, com a função de

elaborar e fiscalizar as realizações de negócios

jurídicos materializados em contratos que prevejam

o procedimento arbitral.

Outro dado interessante apresentada na

pesquisa é o índice de satisfação presentes nas

sentenças arbitrais, pois a pesquisa mostra um

percentual de 6% de execução das sentenças

demonstrando que as partes na grande maioria

cumprem as sentenças exaradas pelo procedimento

arbitral.

9.0. Considerações finais

A Lei 9.307/96 que instituiu a Arbitragem

brasileira sofreu grandes evoluções ao logo da

história, e como o Estado pouco fomentou a

aplicação desse instituto na composição das lides,

ela foi ficando negligenciada com doutrinadores

advogando contra a Arbitragem invocando a sua

natureza jurídica contratual.

Nota-se que a Lei de arbitragem encontra

entrave não só de natureza legislativa, mas também

de cunho sociológico, haja vista ser as razões que o

procedimento arbitral ainda se encontra incipiente

no Brasil e pouco conhecido entre os brasileiros,

carregando a imagem de ser a justiça privada de

ricos, de corporações e multinacionais abastardas.

Essa imagem se dá não só pela cultura

intrínseca que o brasileiro traz, quando busca

resolver os conflitos atinentes da interação social,

mas também pela falta de aperfeiçoamento e

negligência legislativa que traz a lei eminentemente

de iniciativa privada não inserindo meios de

controle estatal em seu procedimento arbitral,

excluindo em seus procedimentos a estatização,

ainda que mitigada, pois essa iniciativa trará ao

instituto mais credibilidade e fomento na prevenção

dos conflitos e não na sua remediação.

A arbitragem traz um propósito eficaz e

transparente para dirimir os conflitos existentes nas

mais diversas formas de convivência na sociedade,

contudo, pertinente se faz que o legislador dê mais

atenção e aperfeiçoamento à lei, para que ela se

torne mais usual e comum na sociedade,

desmonopolizando a jurisdição e apresentando

alternativas ao cidadão, pois o Estado em sua

grande complexidade já provou por dados históricos

e atuais que não é tão eficaz na pacificação social.

Na pesquisa feita pela Escola de Direito de

São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e o Comitê

Brasileiro de Arbitragem (CBAr), ressalta ainda o

percentual de 15% das sentença arbitrais são

invalidadas por não cumprir o que dispõe o art. 32

da Lei que está estritamente ligado com a formação

e conhecimento técnico do árbitro.

O aperfeiçoamento no procedimento

arbitral consiste em incentivos aos jurisdicionados

para optar pelo rito arbitral, exigindo o

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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012

conhecimento jurídico dos árbitros e a presença de

funcionários estatais na condução dos trabalhos nas

cortes de arbitragem, a exemplo do que se busca

nos cartórios extra-oficializados e ainda, a exemplo

do modelo de arbitragem espanhol.

Há de se disseminar na sociedade a cultura

preventiva de conflitos como busca o judiciário

moderno lançando ferramentas que filtram os

conflitos, conhecido como Centros de pacificação

social, bem como as bancas permanentes de

conciliação. A arbitragem vem nessa corrente para

aperfeiçoar e auxiliar o judiciário em sua função

precípua de dizer o direito e pacificar a sociedade

para o convívio harmônico entre os cidadãos. Isso

não significa a extinção do papel do advogado, pois

na alternativa de se buscar o direito fora da

exacerbada processualista atual, se discute direito

em que o advogado é o seu operador.

"Que os primeiros juízes sejam aqueles que

o demandante e o demandado tenham eleito, a quem

o nome de árbitros convém mais que o de juízes;

Que o mais sagrado dos tribunais seja aquele que as

partes mesmas tenham criado e eleito de comum

acordo". (Platão). “Justiça tardia nada mais é do que

injustiça institucionalizada”. (Rui Barbosa).

10.0. Referências bibliográficas

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