a arbitragem na legislação brasileira como forma
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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução dos conflitos
de interesses1
Ednei Moreira Mangabeira2, Geraldo Rodrigues da Silva.
3
Resumo: O presente artigo tem o objetivo apresentar a Lei 9.307/96 que disciplina a arbitragem no Brasil como
forma alternativa, eficaz e célere na resolução de conflitos na sociedade. Tem por finalidade demonstrar as
vantagens e desvantagens da referida legislação, bem como a escolha desse instituto pelos cidadãos na
resolução dos conflitos de interesses. No entanto, ainda explana sobre os pontos a serem aperfeiçoados na
citada lei, e traz, intrinsecamente, o descaso do legislador em deixar a lei sem as atualizações e revisões
necessárias. Foi feito estudos e pesquisas doutrinárias, jurisprudências e de campo na atuação das cortes de
arbitragem. Discute-se, também, a natureza jurídica da arbitragem em diferentes correntes defendidas pelos
doutrinadores e operadores do direito. Ademais, apresentam-se alternativas para solucionar os problemas do
descrédito da sociedade em se submeter ao procedimento arbitral, isto é, descrédito arraigado na cultura
brasileira que vê no juiz togado a solução absoluta dos conflitos desencadeados. Enfim, demonstrar que a
arbitragem exalta a autonomia da vontade dos contratantes na escolha do procedimento, bem como a sua
liberdade na escolha das regras a serem aplicadas, e também, os julgadores na resolução dos conflitos.
Palavras Chaves: Arbitragem (Lei 9.307/06). Procedimento arbitral. Vantagens. Desvantagens.
The Brazilian legislation on arbitration as an alternative means of resolving conflicts of interest
Abstract: This article aims to present the Law 9.307/96 which governs the arbitration in Brazil as an
alternative, effective and speedy resolution of conflicts in society. Its purpose is to demonstrate the advantages
and disadvantages of such legislation, and the choice of this instrument by citizens in resolving conflicts of
interest. However, further explains about the points to be improved in the said law, and brings intrinsically the
neglect of the legislature to make law without the necessary updates and revisions. Studies and research was
done doctrinal jurisprudence and field work in the courts of arbitration. We discuss also the legal status of
arbitration in different streams advocated by scholars and law professionals. Furthermore, we present
alternatives to solve the problems of society in disbelief to submit to arbitration, ie, discredit rooted in Brazilian
culture that sees the judge robin the absolute solution of conflicts triggered. Finally, to demonstrate that the
arbitration exalts freedom of choice of contractors to choose the procedure as well as their freedom in the
choice of rules to be applied, and also, the judges in resolving conflicts.
Keywords: Arbitration (Law 9.307/06). The arbitration proceedings. Advantages. Disadvantages.
1 Trabalho de conclusão do curso de Direito da Faculdade Montes Belos.
2 Acadêmico do curso de Direito da Faculdade Montes Belos.
3 Professor orientador da FMB.
2 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse
Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
1.0. Introdução
Frente à morosidade do Poder Judiciário em
resolver os conflitos de interesse de maneira célere,
eficaz e satisfatória, a Lei 9.307/96, que disciplina a
arbitragem brasileira, se revela um dos instrumentos
alternativos para solucionar conflitos entre os
cidadãos na sociedade, conflitos que envolvam
direitos disponíveis respeitando a autonomia das
partes em escolher os seus julgadores e a forma
como os litígios, uma vez deflagrados, poderão se
processar. A autonomia das partes está relacionada
com a liberdade no procedimento escolhido, em que
o modo de processamento por si só já possibilita
uma atmosfera propícia para composição das lides
entre as partes ou adequação de um laudo arbitral
satisfatório e equável.
A evolução história do instituto da
arbitragem na legislação brasileira mostra como o
legislador demorou a reconhecer e dar mais
autonomia ao procedimento, como a dispensa de
homologação da sentença arbitral pelo Judiciário.
No entanto, esta autonomia vem de encontro como
um dos fatores, que em dias atuais a arbitragem
abarca desconfiança e impedimentos que levam a
sociedade preferirem a sentença judicial proferida
por juízes togados. Sendo assim, percebe-se que o
mesmo fator que se
buscou ao longo da história em se reconhecer um
laudo arbitral independente, sem necessidade de
homologação judicial, é também um dos entraves
que o instituto traz para sua credibilidade. Por isso
faz-se necessário dispor de opções para
aperfeiçoamento do procedimento arbitral, que
inclui dentre eles: a participação, fomentação mais
efetiva do poder judiciário e uma atenção maior
quanto à formação dos árbitros e dos tribunais
arbitrais para escolha por parte da sociedade pelo
procedimento arbitral, não devendo esquecer a
reformulação legislativa para que este anseio se
materialize.
Certamente, o procedimento arbitral
disseminado irá contribuir com o desafogamento da
justiça estatal e para a prevenção de conflitos de
interesses eventualmente desencadeados,
contribuindo juntamente com as cortes de
conciliação e procedimentos especiais (Lei
9.099/05) uma resposta à sociedade mais rápida e
eficiente.
A arbitragem como meio alternativo que
deverá ser incentivado e aperfeiçoado pelo Poder
Judiciário é demonstrado pelo estudo teórico da lei
e seu procedimento, em que os jurisdicionados,
fugindo da morosidade e ao apego às
instrumentalidades do procedimento, buscam na
arbitragem a solução dos conflitos de interesses que
envolvam direitos disponíveis, de maneira rápida e
eficaz, não ficando refém da demorada solução
estatal materializada na sentença do juiz togado.
2.0. História da arbitragem no direito brasileiro
O surgimento da arbitragem no Brasil tem
relatos desde a colonização Portuguesa, nas
Ordenações Filipinas em 1603, sob a denominação
dos Juízes Árbitros, prevista no Livro III, Título
XVI.
3 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse
Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
Na Constituição Política do Império do
Brasil de 1824, o juízo arbitral foi referido
expressamente no Título VI, Do Poder Judicial,
Capítulo Único, Dos Juízes e Tribunais de Justiça.
Na evolução dos dispositivos da arbitragem, esta
constituição previa a nomeação pelas partes de um
juiz arbitral para conflitos cíveis com decisões
irrecorríveis.
A Lei nº 1.350 de 14 de setembro de 1866
revogou a arbitragem compulsória, sem contestação
à época, já que a utilidade do juízo arbitral
obrigatório nunca foi realmente reconhecida, ao
contrário, sua existência, como ressalta
MAGALHÃES (1988, p. 100), repugna à própria
natureza do instituo, embasado na vontade das
partes contratantes.
Com o decreto nº 3.900 de 26 de junho de
1867 houve significativas mudanças na arbitragem
no Brasil, pois vieram regular as alterações sofridas
pela jurisdição arbitral, disciplinando, sem
precedentes a forma expressa no direito pátrio, a
cláusula arbitral, declarando, ainda, a cláusula
compromissória, sobre litígios futuros que possuiria
somente valor de promessa, resolvendo-se em
perdas e danos.
Após a Constituição de 1891, vários
Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul incluíram em seus
Códigos de Processo Civil, regras específicas sobre
o juízo arbitral.
O Código de Processo Civil de 1939 deu
uma maior atenção à arbitragem dedicando-se
dezesseis artigos distribuídos em três Capítulos:
Disposições Gerais; Do Andamento da Causa e do
Julgamento; e Da Homologação. Porém, o referido
diploma legal, manteve a obrigatoriedade da
homologação do laudo arbitral por um juiz togado.
No tocante a cláusula compromissória, esta ficou
mais uma vez negligenciada, sendo disciplinada
somente no Código de Processo Civil de 1973.
Por último, com a entrada em vigor do
Código Processual Civil de 1973, houve finalmente
a previsão da cláusula compromissória,
estabelecendo a harmonia no que se refere à
arbitragem, entre o Código Civil.
O notório desuso do instituto jurídico da
arbitragem em nosso País não deve ser atribuído à
inexistência de legislação atinente ao tema, pois, se
fez presente desde as Ordenações Filipinas.
A justificativa histórica para a ausência
efetiva de utilização e consequente falta de tradição
do instituto no Brasil, segundo ensina o doutrinador
FIGUIEIRA JUNIOR (1999, p. 123) é dada
principalmente pelos entraves criados pela
legislação ao logo do tempo ao qual também não foi
capaz de desenvolver ou introduzir a cultura de
composição amigável dos conflitos entre
particulares por meio da arbitragem.
Como último marco do aperfeiçoamento da
arbitragem no Brasil, registra-se apresentação de
alguns projetos de lei, dos quais apenas um vingou:
a Lei de arbitragem atual, a conhecida Lei 9.307/96.
2.1. Projeto de Lei 9.307/96
Para elaborar a Lei de Arbitragem, o
legislador se pautou na Lei-Modelo sobre
Arbitragem Comercial Internacional da Comissão
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das Nações Unidas - UNCITRAL, para o
Desenvolvimento do Comércio Internacional, criada
em 1966, com sede em Viena, na África, que tem
como função principal harmonizar o direito do
comércio Internacional.
Ao invés de se optar pela unificação da
matéria arbitral através de uma convenção
internacional, preferiu-se buscar a harmonização
das diversas legislações internas discutindo-se,
durante três anos, os termos de uma Lei – Modelo.
Esse trabalho foi realizado por um comitê formado
por representantes de 58 países, incluindo o Brasil.
Esse projeto, cujo texto final, somente foi aprovado
pela Assembléia Geral das Nações Unidas, é
atribuído, justamente, ao seu caráter universal.
Ainda segundo LEMES (1999, p.33) umas
das principais disposições da Lei-Modelo, que estão
incorporadas à legislação interna brasileira são:
“Ampla autonomia das partes para fixação das
regras procedimentais; reconhecimento do caráter
obrigatório e efeito vinculante da cláusula
compromissória e executoriedade; os princípios da
autonomia da cláusula compromissória e da
competência previstos no art. 16 da Lei – Modelo;
Procedimento para indicação e aceite dos árbitros; o
princípio do devido processo legal; os árbitros
deverão fundamentar suas decisões, exarada na
sentença arbitral; reconhecimento e execução de
sentença arbitral estrangeira”.
Finalmente, em novembro de 1991,
conforme relata Carmona, integrante da comissão
relatora, por iniciativa do Instituto Liberal de
Pernambuco, foi nomeada a comissão relatora
integrada por Selma M. Ferreira Lemes, Pedro
Antônio Batista Martins e Carlos Alberto Carmona,
equipe de estudiosos da matéria e excelentes
professores, em que buscaram aproveitar de
interessante no que já havia sido discutido nos
projetos de lei anteriores.
Nessa ordem, pela iniciativa do Senador
Marco Maciel, originou-se o Projeto de Lei
terminando por transformar no novo e tão esperado
sistema de arbitragem materializada pela Lei 9.307,
de 23 de setembro de 1996.
3.0. Aplicação e estudo teórico da Lei 9.307/96
3.1. Conceito
A arbitragem é um instituto em que as
partes estabelecem em contrato a dissolução dos
conflitos por meio da arbitragem que consiste na
nomeação de um ou mais árbitros para solução da
demanda. Assim ainda define CARMONA (1993,
p.35): “É um meio extrajudicial de resolução capaz
de dirimir contendas entre particulares, podendo ser
determinada na elaboração do contrato, pela
cláusula arbitral ou depois do surgimento da
questão controvertida, pelo compromisso arbitral,
ambos dando inicio ao que se convencionou chamar
de juízo arbitral, sendo também obrigação das
partes a indicação de um ou mais terceiros para
serem árbitros”.
Strenger (1987, p.197) assim define o
instituto da arbitragem: “a arbitragem é a instância
jurisdicional, praticada em função de regime
contratualmente estabelecido para dirimir
controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou
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público, com procedimentos próprios e força
executória perante tribunais estatais”.
Portanto, entende-se que a arbitragem é
uma forma alternativa na solução de conflitos que
envolvam direitos disponíveis; convencionando as
partes, que devem ser maiores e capazes; a cláusula
arbitral no contrato escrito, determinando que o
contrato seja submetido à arbitragem para dirimir
eventuais conflitos provenientes do mesmo, com a
indicação de árbitros pelos contratantes.
3.2. Aspectos constitucionais da arbitragem
Alterações trazidas com a nova Lei
9.307/96 que incluem a dispensa de homologação
judicial da sentença arbitral e a irrecorribilidade da
mesma trouxeram à tona discussões sobre a sua
constitucionalidade no que se refere à ofensa aos
princípios da inafastabilidade do controle
jurisdicional presente no artigo 5º, inciso XXXV, da
Constituição Federal de 1988 e ao princípio do juiz
natural.
Contudo, deve-se falar em ofensa ao juiz
natural quando se vislumbra um tribunal de exceção
criado após um conflito para julgá-lo
especificamente este caso, mas a lei de arbitragem
prevê a cláusula arbitral como forma de estabelecer
um procedimento padrão, com regras e julgadores
escolhidos ou não no momento da celebração da
cláusula arbitral, respeitando a autonomia da
vontade. No que se refere ao procedimento arbitral
instituído após o conflito não há de que se falar em
afronta ao juiz natural, pois as partes previamente
acordaram a forma e os julgadores das lides.
Os que advogam esta possível
incompatibilidade constitucional não levaram em
conta o momento histórico em que a constituição se
materializou, pois o legislador constituinte primário
não previa abominar a arbitragem no país, mas sim
repudiar a ação de governos totalitários em criar as
suas regras e tribunais a “ferro e fogo” de um
Estado ditatorial, que foi justamente um momento
anteriormente vivido antes de a constituição ser
promulgada.
O incidente de inconstitucionalidade
discutido em agravo regimental no Supremo
Tribunal Federal pôs fim à discussão da
inconstitucionalidade da lei de arbitragem no Brasil,
entendendo a ministra Gracie apud Marco Aurélio
(2004, p. 114): “não vejo renúncia à tutela judicial
neles, mas uma mudança no foco e na ocasião em
que se dará o apelo ao judiciário. O cidadão pode
invocar o judiciário para solucionar os conflitos,
mas não está de acessar outros meios”.
Esta foi uma importante decisão jurídica
que contribuiu muito com a arbitragem para
combater às desconfianças daqueles que vêem a
solução de conflitos somente com a contenda
judicial, pois antes da decisão do Supremo Tribunal
Federal, os opositores da Lei de arbitragem
exaltavam e divulgavam o instituto da arbitragem
como um instrumento inconstitucional e advogando
para a decretação da inconstitucionalidade da
arbitragem, com a verdadeira extinção da lei do
nosso ordenamento jurídico.
3.3 Cláusula arbitral e compromisso arbitral
distinção
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A cláusula compromissória ou como
alguns autores a tratam de cláusula arbitral é o
compromisso que as partes estipulam de se
submeterem ao procedimento da arbitragem para
solucionar eventuais conflitos decorrentes do
contrato celebrado. Esta cláusula é inserida no
momento da celebração do contrato, portanto,
anterior ao eventual conflito.
A cláusula compromissória deverá vir
expressa em contrato, sendo o contrato de adesão, a
iniciativa deverá ser do aderente ou senão,
concordá-lo expressamente com visto específico
para a cláusula de que trata sobre o procedimento
arbitral.
A cláusula compromissória é autônoma em
relação ao contrato em que estiver inserida, de
modo que a nulidade do mesmo não implica,
necessariamente, a nulidade da cláusula
compromissória.
O compromisso arbitral como ensina o art.
9º da Lei, é a convenção das partes em submeter um
litígio ao procedimento arbitral. A iniciativa das
partes de submeter ao procedimento surge
justamente depois de instaurada a pretensão
resistida, o litígio.
3.4. Natureza jurídica
A natureza jurídica da arbitragem
certamente é uma das questões mais polêmicas
sobre assunto, uma vez que não podendo confiar a
solução dos conflitos ao bom senso de cada ser
humano que compõe a sociedade, o Estado trouxe
para si o monopólio da jurisdição, haja vista, ainda,
conferi-la o caráter coercitivo, próprio do Estado.
Por outro lado, quando disciplinou a
arbitragem após o advento da Constituição
Brasileira de 1988, o Estado reconheceu
mecanismos alternativos de solução dos conflitos,
harmonizando o ordenamento jurídico na matéria
em questão.
A questão divide os doutrinadores em duas
correntes opostas, existindo ainda entendimentos
intermediários. Os que defendem que a arbitragem
tem natureza jurídica privada, apartada da função de
julgar estatal são os privatistas ou também
conhecidos como os contratualistas. Na oposição
temos os chamados publicistas que entendem a
arbitragem como exercício jurisdicional.
Os contratualistas valorizam o ato
voluntário entre as partes de contratar em um
negócio jurídico de natureza privada que se
materializa na cláusula arbitral ou no compromisso
arbitral.
Para esta corrente os árbitros não exercem
jurisdição, alegando ser monopólio do Estado,
contestando a falta da qualidade de coerção e
execução das sentenças arbitrais, pois para lhes
conferirem imposição/execução é preciso recorrer
ao Judiciário, entendendo, deste modo, ser um mero
procedimento.
Os publicistas encaram a arbitragem pelo
aspecto teleológico que desempenha, tendo a
finalidade pública de pacificação social,
desempenhando os juízes árbitros responsabilidades
equivalente aos juízes estatais. Neste sentido o
ilustre argentino RIVAS (1997), traz uma exemplar
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definição de jurisdição em comento ao assunto,
concluindo que a celeuma sobre a natureza jurídica
da arbitragem reside na definição ampla ou restrita
de jurisdição.
A jurisdição estatal é formada pelas
características de notio (conhecimento), vocatio
(chamamento), coertio (coerção), judicium
(julgamento), executio (execução). A arbitragem
não possui a qualidade de coertio e executio
defendida pela corrente contratualista. Para Rivas
(1997, p. 45), o fato do árbitro reunir três dos cincos
elementos da jurisdição, configura no mínimo o
exercício de jurisdição fragmentada, ensinando
ainda: “Se a decisão arbitral é condenatória, esta
terá, como a sentença similar proferida pelo juiz
togado, força executiva em sentido potencial, ou
seja, a possibilidade jurídica de se provocar o uso
da força, entretanto, para levar a efeito o uso da
força, isto é, para que possa exercer controle da
regularidade formal da sentença arbitral e a sua
compatibilidade com a ordem pública”.
Percebe-se que a decisão arbitral, apesar de
não possuírem os cinco elementos da jurisdição ela
carrega força executiva em potencial.
Existem, ainda, os que conclamam o meio
termo da discussão como o entendimento de
algumas autoridades especializadas, dizendo ser
uma jurisdição pactuada entre as partes, configura-
se com isso uma natureza mista, contratual e
jurisdicional.
Sendo assim, observa-se que a natureza
jurídica da arbitragem é de notórias discordâncias
que justificam e se fundamentam com consistência
tanto para ser de natureza contratual ou
jurisdicional, rezando ainda o seu caráter misto.
4.0. Os árbitros
A composição dos árbitros é explicitada no
art. 13, capítulo III da Lei de arbitragem que diz:
Art. 13 – “Pode ser árbitros qualquer pessoa capaz e
que tenha a confiança das partes”.
Neste caso, os árbitros são livremente
escolhidos pelas partes, bastando que preencha os
requisitos objetivos da capacidade, além de outros
fatores subjetivos que é a confiança sem margem
para a alegação da suspeição, ou impedimento nos
mesmos.
Conforme preceitua o art. 134 do CPC, o
juiz é impedido de atuar em quaisquer tipos de
processos. Veja o que diz o artigo: “É defesa ao juiz
exercer as suas funções no processo contencioso ou
voluntário: I – de que for parte; II – em que
interveio como mandatário da parte, oficiou como
perito funcionou como órgão do Ministério Público,
ou prestou depoimento como testemunha; III – que
conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe
proferido sentença ou decisão; IV – quando nele
estiver postulando, como advogado da parte, o seu
cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou
afim, em linha reta; ou na linha colateral até o
segundo grau; V – quando cônjuge, parente,
consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em
linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; VI –
quando for órgão de direção ou de administração de
pessoa jurídica, parte na causa”.
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O art. 135 do CPC menciona que o juiz
não poderá atuar no processo se for arguida a sua
suspeição. Veja o que menciona o referido artigo:
“Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do
juiz, quando: I – amigo íntimo ou inimigo capital de
qualquer das partes; II – alguma das partes for
credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de
parentes destes, em linha reta ou na colateral até o
terceiros grau; III – herdeiro presuntivo, donatário
ou empregador de alguma das partes; IV – receber
dádivas antes ou depois de iniciado o processo
aconselhar alguma das partes acerca do objeto da
causa, ou subministrar meios para atender às
despesas do litígio; V – interessado no julgamento
da causa em favor de uma das partes”.
Esta regra se justifica, pois o árbitro
nomeado deve proceder no desempenho de suas
funções com imparcialidade, independência,
competência, diligência e descrição.
As partes poderão escolher um ou mais
árbitros, devendo ser em número ímpar, no segundo
caso deverá escolher um árbitro presidente.
O árbitro é juiz de fato e de direito, sendo
que a sentença proferida não fica sujeita a
homologação ou recurso ao poder judiciário.
5.0. O procedimento arbitral
O procedimento arbitral é matéria de
direito processual, pois trata a maneira que a
arbitragem se desenvolverá, ela está estritamente
ligada a convenção de arbitragem ou o
compromisso arbitral em que as partes submetem o
conflito ao procedimento escolhendo os árbitros, se
será julgado por critério de equidade, direito ou
legislação especial aplicável, o prazo para proferir a
sentença entre outras questões atinentes ao
procedimento. Uma boa cláusula arbitral deve
conter detalhes do procedimento arbitral.
O procedimento da arbitragem que
convencionar a aplicação de regras de direito estará
subordinado a aplicar normas de direito que as
partes previamente adotarem. Escolhendo de forma
expressa na convenção, o procedimento pela
equidade, as partes eximem-se de regras e dão mais
liberdade aos árbitros para resolver a questão, bem
como na condução dos trabalhos que devem
prevalecer os bons costumes e a ética.
No parágrafo segundo do art. 2º da Lei de
arbitragem assim dispõe: “Poderão, também, as
partes convencionar que a arbitragem se realize com
base nos princípios gerais de direito, nos usos e
costumes e nas regras internacionais de comércio”.
Percebe-se mais uma vez que o instituto
exaltou a liberdade das partes quando se escolhe as
diversas maneiras de se resolver um possível
conflito deflagrado. O parágrafo segundo, art. 2º, da
Lei supramencionada previu a possibilidade de
inserção de regras atinentes ao direito internacional,
tratados, convenções, pactos, declarações ou até
mesmo utilizarem as normas da Comissão das
Nações Unidas para o Direito Comercial
Internacional (Uncitral). Este dispositivo vem de
encontro ao caráter universal da Lei de arbitragem e
acompanham-se as tendências da globalização.
As regras do procedimento estabelecido
pelas partes poderão se reportar às de um órgão
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(Câmara) arbitral institucional ou entidade
especializada.
Se os árbitros ou o árbitro tiverem alguma
dúvida sobre o disposto na convenção, poderá
exigir explicações formalmente.
Às partes é dado arguir questões de
suspeição, impedimentos, competências, nulidade
da convenção de arbitragem na primeira
oportunidade que tiver de se manifestar após a
instituição de arbitragem.
Serão sempre respeitados no procedimento
da arbitragem, os princípios do contraditório, da
igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e
sobre seu livre convencimento para decidi-lo,
podendo, ainda, as partes postularem por meio de
advogados.
No exercício arbitral os árbitros poderão
tomar depoimentos das partes e ouvir testemunhas,
podendo, também, determinar a realização de
perícias por pedido das partes ou de ofício, caso
seja necessário, sendo estes atos resguardados pelo
sigilo, assim como todo o procedimento da
arbitragem.
A sentença arbitral deverá ser proferida no
prazo de seis meses se não for estipulado pelas
partes outro prazo, contados a partir da instituição
da arbitragem. Nela deverá conter o relatório, com
os nomes das partes, resumo do conflito, os
fundamentos da decisão com a indicação expressa
do julgamento por equidade se forem o caso, bem
como os dispositivos em que os árbitros resolveram
as questões, o prazo do cumprimento da sentença, a
data e o lugar em que foi proferida.
Não existem recursos contra a sentença
arbitral, no entanto, poderá a parte interessada
valer-se do Poder Judiciário competente para
requerer a decretação da nulidade da sentença se
não preencherem os requisitos existentes no art. 32
da Lei de Arbitragem, a saber: “For nulo o
compromisso; II- emanou de quem não podia ser
arbitro; III- não contiver os requisitos do art. 26
desta Lei (requisitos da sentença); IV- for proferida
fora dos limites da convenção de arbitragem; V-
não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;
VI- comprovado que foi proferida por prevaricação,
concussão ou corrupção passiva; VII- proferida fora
do prazo, respeitada o disposto no art. 12, III, desta
Lei; e VIII forem desrespeitados os princípios de
que trata o art. 21, § 2º, desta Lei (sentença que não
considere a desídia da parte)”.
A sentença arbitral poderá, ainda, ser
atacada quando for executada no judiciário por
meio de embargos à execução, sendo possível a
interposição de embargos de declaração para sanar
obscuridades, dúvidas ou contradições.
5.1. Modelo espanhol
Na esteira de um procedimento já
amadurecido e que tem a sua eficácia consolidada,
cita-se a idéia do modelo espanhol de arbitragem,
que consiste na atuação estatal como ensina
EVANDRO ZULLIANI (2004, p.), as juntas serão
compostas por um presidente e um auxiliar
secretário funcionários da administração publica
que ainda complementa: “Incubem às juntas nomear
o Presidente de cada colégio arbitral designado para
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a solução de dado litígio em particular, que deverá
ser funcionário da administração de bacharel em
direito. A composição de cada colégio arbitral é
sempre de três membros. Escolhido o presidente
pelo critério já mencionado, os outros dois devem
pertencer a uma associação de empresários e de
consumidores respectivamente. As juntas mantêm
listas atualizadas com os nomes das pessoas
autorizadas a funcionarem como árbitros ou
presidente em colégio arbitral”.
Como se vê pelo modelo proposto pela
Espanha, o Estado tem meios de fiscalizar a atuação
e procedimentos das cortes de arbitram não
interferindo de modo intransigente na autonomia da
vontade, na solução pelos cidadãos de conflitos
eventualmente envolvidos.
6.0. Quanto custa a arbitragem
Tomando como parâmetro as custas
processuais do Estado de Goiás (vide tabela
abaixo), que tem as custas de processo mais altas do
país e os valores da arbitragem por uma câmara de
mediação de arbitragem (Cammercosul) com
sucursais em várias cidades do Estado de Goiás e
sede em Goiânia/GO, a arbitragem vista pelo ponto
de vista econômico-benefício, se torna ainda mais
atraente, como seja visto na comparação a seguir:
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TABELA DE CUSTAS DE ARBITRAGEM
CAMMERSUL
Colunas1 Colunas2 Colunas3
Valor da Causa Custas Iniciais Honorários dos Arbitros
de 0,01 a 250,00 R$ 20,00 20% do acordo
de 250,01 a 500,00 R$ 30,00 20% do acordo
de 500,01 a 1.000,00 R$ 38,00 20% do acordo
de 1.000,01 a 2.000,00 R$ 40,00 20% do acordo
de 2.000,01 a 3.500,00 R$ 45,00 20% do acordo
de 3.500,01 a 5.000,00 R$ 50,00 20% do acordo
de 5.000,01 a 7.000,00 R$ 60,00 20% do acordo
de 7.000,01 a 10.000,00 R$ 70,00 20% do acordo
de 10.000,01 a 15.000,00 R$ 80,00 20% do acordo
de 15.000,01 a 20.000,00 R$ 90,00 20% do acordo
de 20.000,01 a 30.000,00 R$ 100,00 20% do acordo
de 30.000,01 a 40.000,00 R$ 110,00 20% do acordo
de 40.000,01 a 60.000,00 R$ 125,00 20% do acordo
de 60.000,01 a 100.000,00 R$ 150,00 20% do acordo
de 100.000,01 a 300.000,00 R$ 250,00 20% do acordo
de 300.000,01 a 500.000,00 R$ 500,00 20% do acordo
acima de 500.000,01 R$ 750,00 20% do acordo
Observa-se uma causa no valor de R$
100.000,00 e se levar em conta apenas as custas
processuais, a diferença entre as custas do Tribunal
de Justiça do Estado de Goiás e Corte de
Arbitragem Cammercosul, em porcentagem chega a
mais de 85%, pois nas custas estatais o valor
cobrado é de R$ 2.197,55 nas causas com valor de
até 150.000,00 e na Corte de arbitragem o valor das
custas cobrado com uma causa do mesmo valor é de
R$ 250,00. No entanto, a de se levar em conta,
ainda, os honorários dos árbitros, que chegam a
20% do valor do acordo ou da causa.
Há muito se associou a arbitragem a uma
justiça privada em que somente as pessoas com
maior poder aquisitivo usariam o referido instituto.
Como se podem observar os valores regionalmente
cobrados busca e atrai as pessoas,
independentemente do poder aquisitivo elevado,
quebrando o paradigma do alto custo da arbitragem
no Brasil.
12 E. M. Mangabeira & G. R. Silva A arbitragem na legislação brasileira como forma alternativa de resolução de conflitos de interesse
Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
Certamente, ao analisarem-se os custos,
levando em consideração os honorários dos árbitros
a arbitragem se torna equiparada ao processo
judicial e em determinados casos ficará mais
onerosa, quando, por exemplo, se verificar a
constituição de um tribunal arbitral em que se
indicará mais de um árbitro para o deslinde da
controvérsia perante a corte de arbitragem, elevando
consideravelmente os custos da arbitragem, apesar
de se aumentar a segurança na decisão final no
procedimento arbitral. Este ponto é apontado como
uma desvantagem da arbitragem.
7.0. Vantagens e desvantagens da arbitragem
A arbitragem no âmbito da autonomia da
vontade possibilita alternativa na solução de
conflitos envolvendo partes contratantes de forma
rápida e com maior liberdade para escolher a forma
de procedimento na solução da controvérsia.
Os conflitos atinentes à arbitragem são os
de direito disponíveis, assim se enquadram as
relações referentes aos contratos de compra e
venda, locação, trânsito, seguro, contratos
comerciais, que envolvam multinacionais e de
serviços em geral.
Uma das vantagens que se destaca no
procedimento arbitral é a celeridade do
procedimento, uma vez que o arbitro ou tribunal
arbitral deverá, a princípio, decidir o conflito no
prazo de seis meses, respondendo os árbitros pelos
danos causados pela procrastinação do laudo
arbitral. Essa celeridade não deve ser interpretada
como cerceamento do contraditório, pois a Lei traz
em seu art. 21, § 2º, como princípio a ser respeitado
pelo procedimento. Certamente, é a vantagem mais
almejada aos que procuram solucionar seus
conflitos de maneira alternativa, haja vista, ser
notório a lentidão e a sobrecarga da jurisdição
estatal.
A arbitragem ainda traz o desapego ao
formalismo exagerado do judiciário, em que muitas
vezes se discute mais o processo do que o direito
em si, podendo as partes que optar pela arbitragem
escolher a forma (regra) e o árbitro para a solução
do conflito, conferindo flexibilidade na condução
dos trabalhos, eliminando com isso a desconfiança
quando à sentença arbitral. É a razão pela qual não
se admite recurso à sentença arbitral, evitando a
infinidade de recursos às partes insatisfeitas com a
resposta da sentença estatal.
A escolha do árbitro de confiança não traz
imparcialidade ao julgamento, pelo contrário, faz do
laudo arbitral uma sentença técnica, pois em
determinados casos as partes podem escolher dentre
os árbitros um que tenha conhecimento técnico
sobre o assunto, não necessitando com isso a
nomeação de perito para trazer conhecimento sobre
a causa ao processo como ocorre no judiciário.
Outra vantagem importante na arbitragem
é a confidencialidade do processo arbitral, podendo
as partes dispor de forma diversa quanto ao sigilo.
O dispositivo se torna atraente às empresas que
possuem sigilo empresarial.
O custo médio da arbitragem aplicado no
Brasil é relativamente alto, o que revela uma das
principais desvantagens e motivo pelo qual a
arbitragem ainda se encontra pouco conhecida e
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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
utilizada no país, apesar dos números mostrarem
significativo crescimento após sua legalização.
Contudo, deve se buscar o custo-benefício na opção
de se escolher o procedimento, pois com a demora
de se resolver os conflitos no judiciário a demanda
se torna cada vez mais onerosa.
Desde modo, o custo do procedimento na
arbitragem deve ser levado em conta, no entanto,
atentar-se que não é o único fator a ser perseguido
na escolha do procedimento, mais também outras
vantagens apresentadas pelo instituto.
Outra desvantagem, peculiar no Estado de
Goiás, são os Centros de Pacificação Social (CPS)
instituído pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Goiás, são Centros que se estabelece como pré-
requisito para as partes, não conseguindo a
conciliação no Centro de Pacificação, entrará com
uma ação no Juizado Especial Cível e Criminal. São
procedimentos e instrumentos criados pelos órgãos
jurisdicionais para prevenir uma demanda judicial.
O modelo criado pelo Tribunal Judicial de Goiás foi
abraçado pelo Conselho Nacional de Justiça como
sendo a forma de aproximação e acesso à justiça
pelo cidadão, sendo incentivada a implantação do
seu modelo a outros estados do Centro oeste e
Sudeste
O modelo de Pacificação social diferencia
do modelo arbitral principalmente pela sua
gratuidade. No entanto, os centros de pacificação
social, na prática funcionam como cortes de
conciliação prévia, em que se buscam uma
conciliação das partes antes delas procurarem o
judiciário e mais especificamente os juizados
especiais.
8.0. Dados estatísticos sobre a arbitragem
A pesquisa de âmbito nacional intitulada
com a Arbitragem e Poder Judiciário, realizada em
parceria pela Escola de Direito de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas e o Comitê Brasileiro de
Arbitragem (CBAr) realizada em 2006, trouxe uma
verdadeira radiografia do instituto no Brasil desde
da promulgação da Lei, como disposto no gráfico a
diante:
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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
Como se infere da leitura do gráfico, a
pesquisa mostrou a eficácia da convenção arbitral
ou como alguns autores chamam de compromisso
arbitral, neste sentido exalta-se a importância de se
elaborar uma cláusula arbitral clara, objetiva e
completa, surge então o imprescindível papel dos
operadores do direito, o advogado, com a função de
elaborar e fiscalizar as realizações de negócios
jurídicos materializados em contratos que prevejam
o procedimento arbitral.
Outro dado interessante apresentada na
pesquisa é o índice de satisfação presentes nas
sentenças arbitrais, pois a pesquisa mostra um
percentual de 6% de execução das sentenças
demonstrando que as partes na grande maioria
cumprem as sentenças exaradas pelo procedimento
arbitral.
9.0. Considerações finais
A Lei 9.307/96 que instituiu a Arbitragem
brasileira sofreu grandes evoluções ao logo da
história, e como o Estado pouco fomentou a
aplicação desse instituto na composição das lides,
ela foi ficando negligenciada com doutrinadores
advogando contra a Arbitragem invocando a sua
natureza jurídica contratual.
Nota-se que a Lei de arbitragem encontra
entrave não só de natureza legislativa, mas também
de cunho sociológico, haja vista ser as razões que o
procedimento arbitral ainda se encontra incipiente
no Brasil e pouco conhecido entre os brasileiros,
carregando a imagem de ser a justiça privada de
ricos, de corporações e multinacionais abastardas.
Essa imagem se dá não só pela cultura
intrínseca que o brasileiro traz, quando busca
resolver os conflitos atinentes da interação social,
mas também pela falta de aperfeiçoamento e
negligência legislativa que traz a lei eminentemente
de iniciativa privada não inserindo meios de
controle estatal em seu procedimento arbitral,
excluindo em seus procedimentos a estatização,
ainda que mitigada, pois essa iniciativa trará ao
instituto mais credibilidade e fomento na prevenção
dos conflitos e não na sua remediação.
A arbitragem traz um propósito eficaz e
transparente para dirimir os conflitos existentes nas
mais diversas formas de convivência na sociedade,
contudo, pertinente se faz que o legislador dê mais
atenção e aperfeiçoamento à lei, para que ela se
torne mais usual e comum na sociedade,
desmonopolizando a jurisdição e apresentando
alternativas ao cidadão, pois o Estado em sua
grande complexidade já provou por dados históricos
e atuais que não é tão eficaz na pacificação social.
Na pesquisa feita pela Escola de Direito de
São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e o Comitê
Brasileiro de Arbitragem (CBAr), ressalta ainda o
percentual de 15% das sentença arbitrais são
invalidadas por não cumprir o que dispõe o art. 32
da Lei que está estritamente ligado com a formação
e conhecimento técnico do árbitro.
O aperfeiçoamento no procedimento
arbitral consiste em incentivos aos jurisdicionados
para optar pelo rito arbitral, exigindo o
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Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012
conhecimento jurídico dos árbitros e a presença de
funcionários estatais na condução dos trabalhos nas
cortes de arbitragem, a exemplo do que se busca
nos cartórios extra-oficializados e ainda, a exemplo
do modelo de arbitragem espanhol.
Há de se disseminar na sociedade a cultura
preventiva de conflitos como busca o judiciário
moderno lançando ferramentas que filtram os
conflitos, conhecido como Centros de pacificação
social, bem como as bancas permanentes de
conciliação. A arbitragem vem nessa corrente para
aperfeiçoar e auxiliar o judiciário em sua função
precípua de dizer o direito e pacificar a sociedade
para o convívio harmônico entre os cidadãos. Isso
não significa a extinção do papel do advogado, pois
na alternativa de se buscar o direito fora da
exacerbada processualista atual, se discute direito
em que o advogado é o seu operador.
"Que os primeiros juízes sejam aqueles que
o demandante e o demandado tenham eleito, a quem
o nome de árbitros convém mais que o de juízes;
Que o mais sagrado dos tribunais seja aquele que as
partes mesmas tenham criado e eleito de comum
acordo". (Platão). “Justiça tardia nada mais é do que
injustiça institucionalizada”. (Rui Barbosa).
10.0. Referências bibliográficas
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