a aÇÃo do vento em galpÕes industriais de duas Águas
TRANSCRIPT
1
A AÇÃO DO VENTO EM GALPÕES INDUSTRIAIS DE DUAS ÁGUAS
CONFORME A ABNT NBR 6123:1988
Natália de Souza Santos 1 - UNITOLEDO
Prof ͦ Emerson Alexandro Bolandim 2 - UNITOLEDO
RESUMO
Em edificações leves, como os galpões estruturados em aço para usos gerais,
normalmente as forças devido à ação do vento prevalecem sobre as demais, e são as principais
causas de colapso neste tipo de estrutura. Para a determinação destas, faz-se necessária a
definição da posição geográfica, do relevo e obstáculos no entorno do edifício, bem como a sua
forma e dimensões da estrutura que se deseja analisar. Para que o projeto deste tipo de estrutura
seja prático e, esteja dentro dos requisitos aceitáveis de segurança, a norma brasileira ABNT
NBR 6123:1988 apresenta uma metodologia simplificada, tendo como base procedimentos
analíticos e coeficientes empíricos, obtidos por meio de medições em campo e resultados de
modelos reduzidos em túnel de vento. O objetivo deste trabalho é apresentar tal metodologia de
cálculo por meio de uma aplicação prática, apontando os pontos mais relevantes na
determinação das forças resultantes devidas ao vento neste tipo de estrutura.
Palavras-chave: Ação do vento; Estruturas de aço; Galpões industriais.
_________________________________________________
1 Graduanda em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Toledo (2018) 2 Mestre em Engenharia Civil pela USP (2011)
2
1. Introdução
Os galpões ou edifícios industriais são construções, normalmente estruturadas em aço,
geralmente de um único pavimento, constituídos de sistemas estruturais compostos por pórticos
planos regularmente espaçados, com cobertura superior apoiada em sistemas de terças e vigas
ou tesouras e treliças, com grandes áreas cobertas e destinadas para uso comercial (lojas,
estacionamentos, centros de distribuição, centro de convenções, entre outros), uso industrial,
agrícola ou outras aplicações (PRAVIA; DREHMER; JÚNIOR 2010, p.10).
Um dos grandes desafios deste tipo de construção em aço, está relacionado a ação do
vento, pois por serem estruturas leves, com grandes vãos e possuírem uma grande área de
fechamento, ficam suscetíveis à grandes forças devido às ações variáveis desta natureza, que
podem facilmente provocar a ruína da estrutura, caso estas não sejam devidamente analisadas.
Segundo Ching, Onouye e Zuberbuler (2014 apud Nascimento et al., 2016, p. 5), os
principais efeitos que o vento pode causar a uma estrutura são as solicitações laterais. Esses
efeitos são a combinação da pressão direta, pressão de sucção e esforços de fricção. A pressão
direta ocorre quando a superfície esta perpendicular a direção do vento. Já a pressão de sucção
acontece quando a superfície é “puxada”, o que pode levar a danos principalmente em coberturas
e fachadas. Por fim, as forças de fricção longitudinal surgem, devido às forças de atrito que são
geradas pelo fenômeno da fricção, que ocorre quando o ar em movimento não para ao atingir a
edificação e o fluxo se distribui em torno da mesma.
Entretanto, com os avanços da Engenharia do Vento, cada vez mais estudos sobre o
assunto estão sendo disseminados pelo mundo. Gerando uma visão mais crítica, e resultando na
elaboração de procedimentos e normas cada vez mais confiáveis para o dimensionamento da
ação do vento em edificações.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a ASCE 7-10, que apresenta para a
determinação da ação do vento três procedimentos: o primeiro método, chamado de
simplificado, o segundo é o analítico, e a edificação não se enquadrando em nenhum dos dois
métodos anteriores, a norma recomenda o terceiro método, o Túnel de Vento.
Na Europa, existe o EN-1991-1.4, cujo enquadramento da edificação depende de
parâmetros como posição geográfica, condições topográficas e meteorológicas, dimensões e
características da estrutura.
3
No Brasil, existe a norma ABNT NBR 6123:1988, que apresenta procedimentos para o
cálculo e levantamento das forças devidas ao vento em edificações, cujo procedimento é escopo
do presente trabalho.
2. VENTO
2.1 Definição
O vento pode ser definido como o movimento de massas de ar no sentido horizontal, que
é ocasionado pela diferença de pressão e temperatura entre duas regiões.
Regiões com maior disponibilidade de energia radiante apresentam ascensão de massas
de ar formando os chamados centros de baixa pressão. Regiões mais frias, com menor
disponibilidade energética, apresentam estagnação das massas de ar junto à superfície formando
os centros de alta pressão. O vazio deixado pela massa de ar aquecido, que ascende e forma um
centro de baixa pressão, é sempre preenchido pelo ar oriundo dos centros de alta pressão,
impulsionando o deslocamento horizontal do ar (MARIN et al., 2008) – vide Figura 01.
2.2 Ação do vento nas edificações
“A ação do vento em edificações depende necessariamente de dois aspectos:
meteorológicos e aerodinâmicos.” (GONÇALVES et al., 2004, p. 11). Este primeiro tem por
Figura 01 - Processo de formação dos ventos.
Fonte: Adaptado de ÁLVARO, I. R. (2015)
4
objetivo, através de análises de local, tipo de terreno, rugosidade do terreno, altura da edificação
e tipo de ocupação, determinar a velocidade de vento que será considerada no projeto. Já os
aspectos aerodinâmicos, são referentes a forma da edificação.
Para melhor visualização da alteração da trajetória do vento ao incidir sobre um edifício
com cobertura de duas águas, podem ser utilizadas linhas de fluxo. O esquema a seguir permite
também, verificar de forma intuitiva, os carregamentos de vento no entorno da edificação – vide
Figura 02.
3. ABNT NBR 6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações
3.1 Definição
Esta norma, publicada em 1988, e corrigida em 2013, apresenta recomendações à
respeito da consideração das forças devidas à ação estática e dinâmica do vento, para efeitos do
cálculo de edificações, mostrando ainda algumas orientações gerais relativas às dimensões da
estrutura ou localização fora do comum, apontando referências a serem utilizadas e estudos
especiais a serem realizados para a determinação das forças atuantes devido ao vento e seus
efeitos.
Figura 02 – Linhas de fluxo representando a trajetória do vento.
Fonte: Adaptado de GONÇALVES et al (2004).
5
3.2 Procedimento para a determinação da pressão dinâmica do vento
3.2.1 Velocidade básica do vento V0
O procedimento para a determinação das forças devidas ao vento parte da definição da
velocidade básica do vento (V0), definida pela norma, como a velocidade de uma rajada de três
segundos de duração, a dez metros de altura, em campo aberto e plano, ultrapassada em média,
uma vez a cada 50 anos, obtida a partir do mapa de isopletas, conforme Figura 03 a seguir.
Esta velocidade multiplicada pelos fatores de S1, S2 e S3, definidos adiante, resultam na
velocidade característica do vento.
3.2.2 Fator topográfico S1
O S1, fator topográfico, leva em consideração as variações do relevo do terreno:
• terrenos planos ou fracamente acidentados: S1 = 1,0;
• taludes e morros:
- taludes e morros alongados nos quais pode ser admitido um fluxo de ar
bidimensional soprando no sentido indicado na Figura 04;
- no ponto A (morros) e nos pontos A e C (taludes): S1 = 1,0;
Figura 03 – Mapa de isopletas do vento.
Fonte: Autor (2018).
6
- no ponto B: S1 = S1(z)
𝜃 ≤ 3°: 𝑆1(𝑧) = 1,0 (3.1)
6° ≤ 𝜃 ≤ 17°: 𝑆1(𝑧) = 1,0 + (2,5 −𝑧
𝑑) tg(θ-3°)≥1,0 (3.2)
𝜃 ≥ 45°: 𝑆1(𝑧) = 1,0 + (2,5 −𝑧
𝑑) 0,31 ≥ 1,0 (3.3)
onde,
z = altura medida a partir da superfície do terreno no ponto considerado
d = diferença de nível entre a base e o topo do talude ou morro
θ = inclinação média do talude ou encosta do morro
nota: entre A e B e entre B e C, o fator S1 é obtido por interpolação linear.
• vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção: S1 = 0,9.
3.2.3 Fator de rugosidade S2
O S2, fator de rugosidade, considera o efeito combinado da rugosidade do terreno, da
variação da velocidade do vento com a altura acima do terreno e das dimensões da edificação
ou parte da edificação em consideração.
Figura 04 – Fator topográfico S1.
Fonte: ABNT NBR 6123:1988 (1988).
7
No que se refere ao item de rugosidade, a ABNT NBR 6123:1988 estabelece uma
classificação em cinco diferentes condições, onde se pode verificar em qual situação se encontra
a obra ou projeto que se está desenvolvendo. A Tabela 01 adiante apresenta as cinco diferentes
condições citadas.
Tabela 01 – Classificação de categorias de terrenos
CATEGORIA I: Superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de 5 km de extensão,
medida na direção e sentido do vento incidente (mar calmo, lagos e rios, pântanos sem
vegetação).
CATEGORIA II: Terrenos abertos em nível ou aproximadamente em nível, com poucos
obstáculos isolados, tais como árvores e edificações baixas (zonas costeiras planas, pântanos
com vegetação rala, campos de aviação, pradarias e charnecas, fazendas sem sebes ou muros).
A cota média dos obstáculos é considerada inferior ou igual a 1,0 m.
CATEGORIA III: Terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como sebes e muros,
poucos quebra-ventos de árvores, edificações baixas e esparsas (granjas e casas de campo –
com exceção das partes com matos, fazendas com sebes e/ou muros, subúrbios a considerável
distância do centro com casas baixas e esparsas). A cota média dos obstáculos é considerada
igual a 3,0 m.
CATEGORIA IV: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco espaçados, em zona
florestal, industrial ou urbanizada (zonas de parques e bosques com muitas árvores, cidades
pequenas e seus arredores, subúrbios densamente construídos de grandes cidades, áreas
industriais plena ou parcialmente desenvolvidas). A cota média dos obstáculos é considerada
igual a 10,0 m.
CATEGORIA V: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes, altos e pouco
espaçados (florestas com árvores altas de copas isoladas, centros de grandes cidades,
complexos industriais bem desenvolvidos). A cota média dos obstáculos é considerada igual
ou superior a 25,0 m.
Quanto as dimensões da edificação, segundo Neto (2007, p. 2.10), essas são relacionadas
com a rajada de vento que deverá envolver o edifício. Quanto maior for o edifício maior deve
ser a rajada ou turbilhão que o envolverá e, por conseguinte, menor deverá ser a velocidade
Fonte: Adaptado de ABNT NBR 6123:1988 (1988)
8
média do vento nessas condições. A Tabela 02 a seguir apresenta as classes existentes para
classificação da edificação.
Tabela 02 – Classificação da classe da edificação
CLASSE A: Toda edificação na qual a maior dimensão horizontal ou vertical não exceda
20 m.
CLASSE B: Toda edificação ou parte da edificação para a qual a maior dimensão horizontal
ou vertical da superfície frontal esteja entre 20 m e 50 m.
CLASSE C: Toda edificação ou parte da edificação para a qual a maior dimensão horizontal
ou vertical da superfície frontal exceda 50 m.
O fator S2 pode ser calculado pela equação:
𝑆2 = 𝑏. 𝐹𝑟. (𝑍 10⁄ )𝑝 (3.4)
Os parâmetros b e p que permitem determinar S2 para as cinco categorias apresentadas
na Tabela 01 são apresentados na Tabela 03 a seguir.
Tabela 03 – Parâmetros para determinar o fator S2
Categoria
Zg (m)
Parâmetros
Classes
A B C
I 250 b 1,10 1,11 1,12
p 0,06 0,065 0,07
II 300
b 1,00 1,00 1,00
Fr 1,00 0,98 0,95
p 0,085 0,09 0,10
III 350 b 0,94 0,94 0,93
p 0,10 0,105 0,115
IV 420 b 0,86 0,85 0,84
p 0,12 0,125 0,135
V 500 b 0,74 0,73 0,71
p 0,15 0,16 0,175
Fonte: Adaptado de ABNT NBR 6123:1988 (1988)
Fonte: ABNT NBR 6123:1988 (1988)
9
Os valores de S2 para as diversas categorias de rugosidade do terreno e classes de
dimensões das edificações definidas pela ABNT NBR 6123:1988, podem ser extraídos também,
da Tabela 2 da Norma.
3.2.4 Fator estatístico S3
O S3, fator estatístico, é baseado em conceitos estatísticos, e considera o grau de
segurança requerido e a vida útil da edificação, devendo ser obtido a partir da Tabela 04 a seguir.
Tabela 04 – Fator estatístico S3
GRUPO DESCRIÇÃO S3
1 Edificações cuja ruína total ou parcial pode afetar a segurança ou possibilidade
de socorro a pessoas após uma tempestade destrutiva (hospitais, quartéis de
bombeiros e de forças de segurança, centrais de comunicação, etc.)
1,10
2 Edificações para hotéis e residências, Edificações para comércio e indústria com
alto fator de ocupação 1,00
3 Edificações e instalações industriais com baixo fator de ocupação (depósitos,
silos, construções rurais, etc.) 0,95
4 Vedações (telhas, vidros, painéis de vedação, etc.) 0,88
5 Edificações temporários, Estruturas dos grupos 1 a 3 durante a construção 0,83
3.2.5 Velocidade característica do vento Vk
A velocidade característica do vento é calculada pela seguinte expressão:
𝑉𝑘 = 𝑉0. 𝑆1. 𝑆2. 𝑆3 (3.5)
3.2.6 Pressão dinâmica q
A pressão dinâmica pela equação:
𝑞 = 0,613. 𝑉𝑘2 (3.6)
Sendo, q em N/m2 e Vk em m/s.
3.3 Determinação dos coeficientes aerodinâmicos
Os Coeficientes Aerodinâmicos são divididos em duas categorias: Coeficientes de
Pressão e de Forma Externos (Ce) e Coeficientes de Pressão Interno (Cpi). E é a partir destes,
que a pressão dinâmica do vento, age na estrutura da edificação. Sendo, seus valores
determinados através de tabelas específicas.
Fonte: ABNT NBR 6123:1988 (1988)
10
3.3.1 Coeficientes de pressão externos (Ce)
Devido as características da edificação, para definição dos coeficientes externos, serão
utilizadas as Tabelas 4 e 5 da ABNT NBR 6123:1988, que apresentam os coeficientes de pressão
e de forma, externos, para paredes de edificações de planta retangular; e os coeficientes de
pressão e de forma, externos, para telhados com duas águas, simétricos, em edificações de planta
retangular, respectivamente – vide Tabelas 05 e 06.
Tabela 05 – Coeficientes de pressão e de forma, externos, para paredes de edificações de planta retangular
Altura relativa
Valores de Ce para
Cpe
médio
𝜶 = 𝟎° 𝜶 = 𝟗𝟎°
A1 e
B1
A2 e
B2 C D A B
C1
e
D1
C2
e
D2
ℎ
𝑏≤
1
2
1 ≤𝑎
𝑏≤
3
2 -0,8 -0,5 +0,7 -0,4 +0,7 -0,4 -0,8 -0,4 -0,9
2 ≤𝑎
𝑏≤ 4 -0,8 -0,4 +0,7 -0,3 +0,7 -0,5 -0,9 -0,5 -1,0
1
2<
ℎ
𝑏≤
3
2
1 ≤𝑎
𝑏≤
3
2 -0,9 -0,5 +0,7 -0,5 +0,7 -0,5 -0,9 -0,5 -1,1
2 ≤𝑎
𝑏≤ 4 -0,9 -0,4 +0,7 -0,3 +0,7 -0,6 -0,9 -0,5 -1,1
3
2<
ℎ
𝑏≤ 6
1 ≤𝑎
𝑏≤
3
2 -1,0 -0,6 +0,8 -0,6 +0,8 -0,6 -1,0 -0,6 -1,2
2 ≤𝑎
𝑏≤ 4 -1,0 -0,5 +0,8 -0,3 +0,8 -0,6 -1,0 -0,6 -1,2
Para vento incidindo a 0°, nas partes A3 e B3 da Figura 05, a NBR 6123 (1988)
recomenda que o coeficiente de forma Ce tenha:
• Para a/b = 1: mesmo valor das partes A2 e B2;
• Para a/b ≥ 2: Ce = -0,2;
• E para 1< a/b < 2: interpolar linearmente.
Fonte: ABNT NBR 6123:1988 (1988)
11
Tabela 06 – Coeficientes de pressão e de forma, externos, para telhados com duas águas, simétricos, em
edificações de planta retangular
Altura
relativa 𝜽
Valores de Ce para Cpe médio
𝜶 = 𝟗𝟎° 𝜶 = 𝟎°
EF GH EG FH
ℎ
𝑏≤
1
2
0° -0,8 -0,4 -0,8 -0,4 -2,0 -2,0 -2,0 -
5° -0,9 -0,4 -0,8 -0,4 -1,4 -1,2 -1,2 -1,0
10° -1,2 -0,4 -0,8 -0,6 -1,4 -1,4 - -1,2
15° -1,0 -0,4 -0,8 -0,6 -1,4 -1,2 - -1,2
20° -0,4 -0,4 -0,7 -0,6 -1,0 - - -1,2
30° 0 -0,4 -0,7 -0,6 -0,8 - - -1,1
45° +0,3 -0,5 -0,7 -0,6 - - - -1,1
60° +0,7 -0,6 -0,7 -0,6 - - - -1,1
1
2<
ℎ
𝑏≤
3
2
0° -0,8 -0,6 -1,0 -0,6 -2,0 -2,0 -2,0 -
5° -0,9 -0,6 -0,9 -0,6 -2,0 -2,0 -1,5 -1,0
10° -1,1 -0,6 -0,8 -0,6 -2,0 -2,0 -1,5 -1,2
15° -1,0 -0,6 -0,8 -0,6 -1,8 -1,5 -1,5 -1,2
20° -0,7 -0,5 -0,8 -0,6 -1,5 -1,5 -1,5 -1,0
30° -0,2 -0,5 -0,8 -0,8 -1,0 - - -1,0
45° +0,2 -0,5 -0,8 -0,8 - - - -
60° +0,6 -0,5 -0,8 -0,8 - - - -
Figura 05 – Legenda para Tabela 05.
Fonte: Adaptado de ABNT NBR 6123:1988 (1988).
12
3
2<
ℎ
𝑏≤ 6
0° -0,8 -0,6 -0,9 -0,7 -2,0 -2,0 -2,0 -
5° -0,8 -0,6 -0,8 -0,8 -2,0 -2,0 -1,5 -1,0
10° -0,8 -0,6 -0,8 -0,8 -2,0 -2,0 -1,5 -1,2
15° -0,8 -0,6 -0,8 -0,8 -1,8 -1,8 -1,5 -1,2
20° -0,8 -0,6 -0,8 -0,8 -1,5 -1,5 -1,5 -1,2
30° -1,0 -0,5 -0,8 -0,7 -1,5 - - -
40° -0,2 -0,5 -0,8 -0,7 -1,0 - - -
50° +0,2 -0,5 -0,8 -0,7 - - - -
60° +0,5 -0,5 -0,8 -0,7 - - - -
Conforme a NBR 6123 (1988), para vento incidindo a 0°, nas partes I e J da Figura 06,
o coeficiente de forma Ce tem os seguintes valores:
• Para a/b = 1: mesmo valor das partes F e H;
• Para a/b ≥ 2: Ce = -0,2;
• E para 1 < a/b < 2: interpolar linearmente.
3.3.2 Coeficientes de pressão internos (Cpi)
Já para os coeficientes de pressão interna a Norma considera que se a edificação for
totalmente impermeável ao ar, a pressão no seu interior será invariável no tempo e independente
da velocidade da corrente de ar externa. Porém, usualmente as paredes e/ou a cobertura normais
Figura 06 – Legenda para Tabela 06.
Fonte: Adaptado de ABNT NBR 6123:1988 (1988).
Fonte: ABNT NBR 6123:1988 (1988)
13
de serviço ou como consequência de acidentes, permitem a passagem do ar, modificando-se as
condições ideais supostas nos ensaios.
Para a determinação dos coeficientes de pressão interna vide a Tabela 07.
Tabela 07 – Coeficientes de pressão e de forma internos em edificações de planta retangular
CASO DESCRIÇÃO OU CONDIÇÃO Cpi
A Duas faces opostas igualmente permeáveis, as
outras faces impermeáveis -
A.1 Vento perpendicular a uma face permeável +0,2
A.2 Vento perpendicular a uma face impermeável -0,3
B Quatro faces igualmente permeáveis -0,3 ou 0
C Abertura dominante em uma face, as outras de
igual permeabilidade -
C.1
Abertura dominante na face de barlavento -
As = 1 +0,1
As = 1,5 +0,3
As = 2 +0,5
As = 3 +0,6
As ≥ 6 +0,8
C.2 Abertura dominante na face de sotavento Adotar o valor de Ce
correspondente a esta face
C.3 Abertura dominante em uma face paralela ao
vento
Adotar o valor de Ce
correspondente a esta face
C.4 Abertura dominante não situada em zona de alta
sucção externa
Adotar o valor de Ce
correspondente a esta face
C.5
Abertura dominante situada em zona de alta
sucção externa -
Ad = 0,25 -0,4
Ad = 0,50 -0,5
Ad = 0,75 -0,6
Ad = 1,0 -0,7
Ad = 1,5 -0,8
Ad ≥ 3 -0,9
Segundo a ABNT NBR 6123:1988, entende-se por:
Fonte: Adaptado de ABNT NBR 6123:1988 (1988).
14
• Impermeáveis: elementos construtivos e de vedação: lajes e cortinas de concreto
armado ou protendido; paredes de alvenaria, de pedra, de tijolos, de blocos de
concreto e afins, sem portas, janelas ou quaisquer outras aberturas,
• Permeáveis: todos os demais elementos construtivos são considerados permeáveis
e deve-se à presença de aberturas tais como juntas entre painéis de vedação e entre
telhas, frestas em portas e janelas, ventilações em telhas e telhados, vãos abertos
de portas e janelas, chaminés, lanternins, etc.
• Barlavento: região de onde sopra o vento, em relação à edificação.
• Sotavento: região oposta àquela de onde sopra o vento, em relação à edificação.
E para o presente trabalho, foi adotada a nomenclatura:
• As: proporção entre a área de todas as aberturas na face de barlavento e a área total
das aberturas em todas as faces submetidas a sucções externas.
• Ad: proporção entre a área da abertura dominante (ou área das aberturas situadas
nesta zona) e a área total das outras aberturas situadas em todas as faces submetidas
a sucções externas.
3.3.3 Coeficientes resultantes
Após os coeficientes externos e internos serem obtidos, o coeficiente resultante é
calculado por meio da Equação (3.7) a seguir:
𝐶 = 𝐶𝑒 − 𝐶𝑝𝑖 (3.7)
Coeficientes resultantes com valores negativos correspondem a ventos de sucção,
definido pela norma brasileira como uma pressão efetiva abaixo da pressão atmosférica de
referência. Enquanto os valores positivos correspondem a ventos de sobrepressão, que conforme
a norma, é uma pressão efetiva acima da pressão atmosférica de referência – vide Figura 07.
Figura 07 - Ação externa do vento em edificações.
Fonte: LEÃO, M.; ARAGÃO, M. (2013)
15
3.4 Forças de vento resultantes
A determinação das forças de vento resultantes, para cada situação, será realizada pela
Equação (3.8) a seguir:
𝐹 = 𝐶. 𝑞 (3.8)
Onde:
F é a força por unidade de área;
C é o coeficiente de força resultante;
q é a pressão dinâmica do vento.
4. Exemplo prático
Afim de demonstrar a metodologia descrita na NBR 6123:1988, será desenvolvido um
exemplo, que consiste na determinação das forças devidas ao vento em um galpão, com
cobertura em duas águas, localizado na cidade de Araçatuba/SP, para fins de armazenamento de
materiais de construção. Com planta retangular de 21,2 m de largura e 50 m de comprimento,
com altura de 8,5 m. A cobertura terá inclinação aproximada de 15°, com fechamento apenas
nas fachadas laterais e pórticos transversais espaçados a cada 5,0 m.
4.1 Velocidade básica do vento (V0)
Para a cidade de Araçatuba (SP), conforme mapa de isopletas que consta na ABNT NBR
6123:1988, a velocidade básica de 40 m/s foi adotada.
4.2 Fator topográfico (S1)
Devido a topografia da região, o fator S1 será 1,0. Definido pela norma, para terrenos
planos ou fracamente acidentados.
4.3 Fator de rugosidade (S2)
Para um terreno de Categoria III, classe B, segundo a Tabela 03, os valores dos
parâmetros b e p, são 0,94 e 0,105 respectivamente. E calculado pela Equação (3.4):
𝑆2 = 0,94 . 0,98 . (11,34 10⁄ )0,105 = 0,93
4.4 Fator estatístico (S3)
Conforme Tabela 04, exposta anteriormente, a edificação classifica-se no grupo 03, que
possui um fator estatístico de 0,95.
16
4.5 Velocidade Característica (Vk)
Calcula-se Vk, a partir da Equação (3.5):
𝑉𝑘 = 40 . 1,0 . 0,93 . 0,95 = 35,47 𝑚/𝑠
4.6 Pressão dinâmica do vento (q)
A pressão dinâmica do vento é determinada a partir da Equação (3.6):
𝑞 = 0,613 . 35,472 = 771,23 𝑁/𝑚2(𝑜𝑢 0,771 𝑘𝑁 𝑚²⁄ )
4.7 Coeficientes aerodinâmicos
4.7.1 Coeficientes de pressão externa para as paredes (Ce)
Para a localização, na Tabela 05, dos valores de coeficientes de pressão e de forma,
primeiramente foi calculada a altura relativa:
ℎ/𝑏 = 0,40 𝑒 𝑎/𝑏 = 2,36
Portanto, serão utilizados os valores da segunda linha da Tabela 05, conforme Figura 08.
4.7.2 Coeficientes de pressão externa para os telhados (Ce)
Para a determinação dos coeficientes de pressão e de forma para os telhados, foi
verificada primeiramente, a altura relativa (h/b), e posteriormente definido os coeficientes
conforme a inclinação do telhado (θ). Os valores obtidos na Tabela 06 e a partir da condição de
a/b > 2, descrito no item 3.3.1, foram representados na Figura 09.
Figura 08 – Ce para paredes – vento a 0° (à esquerda) e vento a 90° (à direita).
Fonte: Autor (2018).
17
4.7.3 Coeficientes de pressão interna
Devido a configuração dos fechamentos laterais dada no exemplo, conforme Tabela 07,
Cpi 1 e Cpi 2, terão os valores 0,2 e -0,3 respectivamente.
4.7.4 Coeficientes resultantes (C)
Em posse dos coeficientes de pressão externos e internos, são feitas as combinações
destes, visto que os mesmos não atuam de forma isolada na estrutura.
Para o exemplo em questão, por simplicidade e a favor da segurança, serão abordados
apenas os pórticos localizados nas regiões com os maiores valores de Ce, pois são estas
normalmente, as mais afetadas pela ação do vento. E as combinações realizadas conforme
equação (3.7) – vide as Figuras 10, 11, 12 e 13.
4.7.4.1 Caso 01: Ce para vento 0° + Cpi 1
4.7.4.2 Caso 02: Ce para vento 0° + Cpi 2
Figura 11 – Combinação de coeficientes – Ce para vento 0° + Cpi -0,30.
Fonte: Autor (2018).
Figura 10 – Combinação de coeficientes – Ce para vento 0° + Cpi 0,20.
Fonte: Autor (2018).
Figura 09 – Ce para telhados – vento a 0° (à esquerda) e vento a 90° (à direita).
Fonte: Autor (2018).
18
4.7.4.3 Caso 03: Ce para vento 90° + Cpi 1
4.7.4.4 Caso 04: Ce para vento 90° + Cpi 2
4.8 Esforços resultantes
Para o cálculo dos esforços resultantes na pior situação, a Equação (3.8) foi utilizada, de
modo que o carregamento de atuação do vento fosse encontrado. Para determinação do
carregamento distribuído sobre os pórticos, o resultado obtido anteriormente foi multiplicado
pela distância entre pórticos. Os resultados obtidos para o modelo estão apresentados nas
Figuras 14, 15, 16 e 17.
4.8.1 Caso 01
Figura 14 – Forças resultantes – Ce para vento 0° + Cpi 0,20.
Fonte: Autor (2018).
Figura 13 – Combinação de coeficientes – Ce para vento 90° + Cpi -0,30.
Fonte: Autor (2018).
Figura 12 – Combinação de coeficientes – Ce para vento 90° + Cpi 0,20.
Fonte: Autor (2018).
19
4.8.2 Caso 02
4.8.3 Caso 03
4.8.4 Caso 04
5. Conclusão
O presente trabalho buscou apresentar de forma sucinta o procedimento de cálculo
descrito pela norma brasileira ABNT NBR 6123:1988 para a determinação das forças devidas
ao vento em galpões industriais de duas águas, demonstrando, de forma simplificada, as forças
resultantes mais críticas que podem atuar na estrutura principal desse tipo de edificação.
Figura 17 – Forças resultantes – Ce para vento 90° + Cpi -0,30.
Fonte: Autor (2018).
Figura 16 – Forças resultantes – Ce para vento 90° + Cpi 0,20.
Fonte: Autor (2018).
Figura 15 – Forças resultantes – Ce para vento 0° + Cpi -0,30.
Fonte: Autor (2018).
20
Referências Bibliográficas
ÁLVARO, ISAAC R. Slideplayer.com.br. SlidePlayer, 2015. Disponível em:
<https://slideplayer.com.br/user/6739973/>. Acesso em: 03 dez. 2018.
AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS – ASCE. ASCE 7-10 - Minimum Design Loads for Buildings
and Other Structures, Reston, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR-6123 – Forças devidas ao Vento em
Edificações. Rio de Janeiro, 1988.
CHING, Francis D. K., ONOUYE, Barry S., ZUBERBULER, Douglas. Sistemas Estruturais Ilustrados:
Padrões, Sistemas e Projeto. 2ª Ed. 2014. Bookman. Porto Alegre – RS.
EN-1991-1-4 – Eurocódigo 1 – Acções em estruturas, Parte 1-4: Acções gerais e acções do vento (versão
portuguesa). Lisboa, 2010.
GONÇALVES, Roberto M.; SALES, José J. de; MALITE, Maximiliano; NETO, Jorge M. Ação do vento nas
edificações – Teria e Exemplos. São Carlos: EESC-USP, 2004.
LEÃO, M.; ARAGÃO, M. Apresentação para a disciplina de Estruturas Metálicas, 2013. Disponível em:
<http://aquarius.ime.eb.br/~moniz/metalica/estruturas_metalicas_2013_3.pdf>. Acesso em 03 dez. 2018.
MARIN, Fábio R.; ASSAD, Eduardo D.; PILAU, Felipe G. Clima e ambiente: introdução à climatologia para
ciências ambientais. Campinas: Embrapa, 2008.
NASCIMENTO, Breno M.; MORATTI, Dalmon G.; JUNIOR, Jairo L. O.; SCOTÁ, Nadia M. D.; BROETTO,
Raiza B.; SAGRILO, Ricardo G. V.; FERREIRA, W. G. Abordagem didática e prática da ação do vento em
edificações. In. CONSTRUMETAL 2016, 7, 2016, São Paulo. Anais do 7º Congresso Americano de
Construção Metálica. São Paulo: ABCEM, 2016. p. 29-50.
NETO, A. C. Estruturas Metálicas II – Notas de aulas 2007. CEATEC – PUC-CAMPINAS, 2007.
PRAVIA, Z. M. C.; DREHMER, G. A.; JÚNIOR, E. M. Manual de Construção em Aço – Galpões para Usos
Gerais, Rio de Janeiro: IABr/CBCA, 2010.