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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
ISMAEL CARLOS MAFRA
Itajaí, Junho de 2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
ISMAEL CARLOS MAFRA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc: Clóvis Demarchi
Itajaí, Junho de 2008
AGRADECIMENTOS
A Deus pela existência, vida, saúde e por estar sempre presente em todos os momentos, me renovando para prosseguir nessa caminhada difícil, permitindo-me a conclusão com êxito.
Aos meus amáveis pais Carlos e Domingas (in memorian).
A Maria Rosa, minha querida esposa, que foi de suma importância para a conclusão do curso, que esteve sempre presente em todas as ocasiões me
ajudando e apoiando em minhas decisões.
Ao Professor Mestre Clóvis Demarchi, meu orientador, que com dedicação, me ajudou e
apoiou na conclusão desta monografia.
Obrigado a todos, a todos mesmos, que me ajudaram.
iii
DEDICATÓRIA
Aos meus filhos Robson, Fabiana, Elaine, aos meus genros, Adriano, Messias, a minha nora Jeane, e a minha neta Gabriella, pelo carinho,
incentivo e apoio dedicados á mim durante todo período acadêmico.
Aos Pastores José Zezuíno e Antonio Nemer Bordim, pelo apoio, e liberação para que eu
pudesse estar concluindo o curso no período matutino.
Aos meus irmãos, cunhados, e amigos.
Às amizades cultivadas durante os cinco anos de Universidade
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, Junho de 2008
ISMAEL CARLOS MAFRA Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Ismael Carlos Mafra, sob o título
Alteração do Regime de Bens no Ordenamento Jurídico Brasileiro, foi submetida
em 13 de junho de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes
professores: Clóvis Demarchi (presidente) e Emanuela Andrade (examinadora) e
aprovada com a nota 9,3 (nove inteiros e três décimos).
Itajaí, Junho de 2008
Prof. MSc. Clóvis Demarchi Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
vi
vii
...cada homem tenha sua mulher e cada mulher seu marido. Que o marido cumpra seu dever em relação à mulher e igualmente a mulher em relação ao marido. A mulher não dispõe de seu corpo, mas sim o marido. Igualmente o marido não dispõe de seu corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro... (1ª Coríntios 7, 2-5)
viii
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Ampl. Ampliada
Art. Artigo
Atual.
CC
Atualizada
Código Civil
CF Constituição Federal
CGJ Corregedora Geral de Justiça
CRB Constituição da República do Brasil
CPP Código de Processo Civil
D.O.U. Diário Oficial da União
Dec. Decreto
DJ Decisão Judicial
Des./Desa. Desembargador, Desembargadora
DJSP Decisão Judicial de São Paulo
EC Emenda Constitucional
Ed. Edição
Exma.
Exmo.
Excelentíssima
Excelentíssimo
Fl. Folha
MG Minas Gerais
MP Ministério Público
Min. Ministro
nº, n. Número
NCCB Novo Código Civil Brasileiro
p. Página
Rec. Recurso
Rel. Relator
PR Paraná
Rev. Revisada
RS Rio Grande do Sul
SC Santa Catarina
ix
SP São Paulo
TJ Tribunal de Justiça
Ver. Versão, verificada
x
ROL DE CATEGORIAS
Rol das categorias1 que o autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos2 operacionais:
BENS
Conjunto de coisas que tendo um valor apreciável, formam o patrimônio ou a
riqueza de uma pessoa física ou jurídica, de direito privado ou público, como
móveis, imóveis, semoventes, valores, ações, direitos, etc.3
CASAMENTO OU MATRIMÔNIO
É o contrato legal de união entre um homem e uma mulher.
“É o casamento a mais importante e poderosa de todas as instituições de direito
privado, por ser uma das bases da família, que é a pedra angular da sociedade”4
CASAMENTO CIVIL
É a união formal entre sujeitos de sexos diversos entre si, perante a autoridade
investida por lei, que representa o Estado, para a realização da cerimônia.5
CASAMENTO RELIGIOSO
É a união matrimonial entre pessoas de sexo diversos entre si, desprovido de
autorização estatal, pois é celebrado tão-somente perante a autoridades
eclesiástica.6
1 "Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia".
PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 6. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40.
2 “Quando nós estabelecemos ou propormos uma definição para uma palavra ou expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expomos, estamos fixando um Conceito Operacional”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 6. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 108.
3 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 5ª ed. rev. e atual. São Paulo: Ridel, 2003. p. 125. 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 22. ed. rev. e atual de
acordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5. p.35. 5 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. v. 3. p.91. 6 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 98.
xi
COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS
É o regime matrimonial por meio do qual todos os bens anteriores e posteriores à
data do casamento são comunicados ao outro cônjuge, que deles passa a se
tornar meeiro. 7
COMUNHÃO PARCIAL DE BENS
O regime da comunhão parcial é o que prevalece se os consortes não fizerem
pacto antenupcial, ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz (CC, art. 1.640, caput).
Por essa razão, é chamado também de regime legal ou supletivo (...).
Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao passado (bens que cada
cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro (bens
adquiridos na constância do casamento) (...).8
CÔNJUGE Diz-se de cada parte do casal, isto é, da pessoa em relação à outra com quem
está casada, os esposos, em relação um ao outro. 9
DIVÓRCIO Dissolução completa da sociedade conjugal, desfazimento absoluto do vínculo
jurídico do matrimônio, ficando os cônjuges, após sua homologação e registro,
aptos a contrair novas núpcias. 10
MONOGAMIA União matrimonial legitima entre um homem e uma mulher. 11
7 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. 3. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. v. 3. p. 161. 8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume VI: direito de família. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007. p. 420-421 9 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. p. 195. 10 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. p. 268. 11 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. p. 401.
xii
MUTABILIDADE Qualidade de mutável. Mutação. Mudança sofrida por alguém ou por alguma
coisa. 12
NUBENTE Que é noivo ou noiva. Pessoa que vai se casar. 13
PACTO ANTENUPCIAL
É o negócio jurídico celebrado entre os nubentes cuja eficácia somente recairá
sobre os cônjuges a partir da celebração do casamento civil. 14
PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQÜESTOS
É o regime de bens em que cada cônjuge possui o seu patrimônio próprio,
submetendo-se os bens adquiridos posteriormente à data do matrimônio à partilha
no caso de dissolução da sociedade conjugal. 15
REGIME DE BENS
É o conjunto de regras que disciplina as relações econômicas dos cônjuges, quer
entre si, quer no tocante a terceiros, durante o casamento. Regula, especialmente
o domínio e a administração de ambos ou de cada um sobre os bens anteriores e
os adquiridos na constância da união conjugal. 16
SEPARAÇÃO JUDICIAL
É a causa de dissolução da sociedade conjugal, não rompendo o vínculo
matrimonial, de maneira que nenhum dos consortes poderá convolar novas
núpcias. 17
12 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. rev. e aumentada. 12ª impressão. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986. p. 1175 13 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. p. 1203. 14 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 165. 15 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
p. 391. 17 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 180
xiii
SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS
Em razão da igualdade jurídica entre o homem e a mulher, afigura-se a separação
de bens como regime de futuras uniões conjugais ou estáveis, na medida em que
cada um dos cônjuges ou conviventes irá concorrer com as suas economias
pessoais para atender às cargas específicas da sociedade afetiva, mantendo
intactos os seus bens ou as suas fortunas no caso de separação. 18
UNIÃO ESTÁVEL
É a relação íntima e informal, prolongada no tempo e assemelhada ao vínculo
decorrente do casamento civil, entre sujeitos de sexos diversos (convenientes ou
companheiros), que não possuem qualquer impedimento matrimonial entre si. 19
RELAÇÃO MONOPARENTAL
É a entidade familiar constituída por ascendente e o seu descendente. 20
18 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil:- Do regime de bens entre os
cônjuges -coordenação Maria Berenice Dias e Rodrigo da Cunha Pereira. 3. ed., 2. tir., ver. atul. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 224
19 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 213. 20 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 261.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................... XVI INTRODUÇÃO..................................................... ................................1 CAPÍTULO 1 DO CASAMENTO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................... .................................................4
1.2 CONCEITO .......................................................................................................8
1.3 HABILITAÇÃO ...............................................................................................10
1.4 IMPEDIMENTOS ............................................................................................13
1.4.1 IMPEDIMENTOS ABSOLUTOS ............................................................................14
1.4.2 IMPEDIMENTOS RELATIVOS OU CAUSAS SUSPENSIVAS ......................................17
1.5 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO ....................................................19
1.6 CARACTERISTICAS DO CASAMENTO........................................................20
1.7 PRINCÍPIO DO DIREITO MATRIMONIAL......................................................22
1.8 CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO...............................................................23 CAPÍTULO 2 DOS REGIMES LEGAIS DE BENS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
2.1 CONCEITO DE REGIME LEGAL DE BENS .................................................26
2.2 EFEITOS JURÍDICOS PATRIMONIAIS DO MATRIMÔNIO..........................27
2.2.1 REGIME DE BENS ENTRE O MARIDO E A MULHER................................................27
2.2.2 PRINCÍPIOS DO REGIME DE BENS ENTRE O MARIDO E A MULHER .........................28
xv
2.3 DOS REGIMES DE BENS..............................................................................30
2.3.1 DO REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL ...........................................................30
2.3.2 COMUNHÃO PARCIAL DE BENS ........................................................................32 2.3.2.1 Administração dos Bens na Comunhão Parcial...................................36 2.3.2.2 Dissolução da comunhão de bens ........................................................37
2.3.3 SEPARAÇÃO DE BENS .....................................................................................38 2.3.3.1 Da obrigatoriedade do regime de separação de bens .........................40 2.3.3.2 Tipos de separação de bens ..................................................................41 2.3.3.3 Sub-Rogação de Bens ............................................................................41 2.3.3.4 Bens Reservados ....................................................................................41
2.3.4 DO REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTOS ......................................42 2.3.4.1 Quanto a administração .........................................................................43 2.3.4.2 Da incomunicabilidade dos débitos efetivados durante a vigência matrimonial..........................................................................................................43 2.3.4.3 Da apuração do montante dos aqüestos ..............................................43
2.4 A EVOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL .......................................46
2.4.1 OS DIREITOS E DEVERES DO COMPANHEIRO ......................................................48
2.4.2 A DISCRIMINAÇÃO DO COMPANHEIRO FRENTE AO CÔNJUGE ...............................48 CAPÍTULO 3 DA ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
3.1 ENTENDIMENTO LEGAL ..............................................................................50
3.1.1 ALTERAÇÃO CONCEDIDA POR JUIZ ...................................................................51
3.1.2 RAZÕES RELEVANTES E FUNDAMENTADAS PARA O PEDIDO ................................51
3.1.3 VONTADE DE AMBOS OS CÔNJUGES .................................................................52
3.1.4 PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TERCEIROS..........................................................52
3.2 ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO .................................................................54
3.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL.........................................................59 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 67 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 71
RESUMO
A presente monografia trata da Alteração do Regime de
Bens no Ordenamento Jurídico Brasileiro. O casamento civil é regido, em relação
aos bens dos cônjuges, por quatro regimes de bens, que são: Comunhão
Universal de Bens, Comunhão Parcial de Bens, Separação de Bens e
Participação Final dos Aqüestos. A monografia está dividida em três capítulos:
O primeiro trata da instituição do Casamento. O segundo capítulo aborda sobre o
Regime de Bens no Ordenamento Brasileiro e expõe os efeitos jurídicos
patrimoniais do matrimônio. O terceiro capítulo, e último, trata da Alteração do
Regime de Bens no Ordenamento Jurídico Brasileiro. O Código Civil de 2002
dispôs a possibilidade de alteração do regime de bens, até então proibido pelo
ordenamento jurídico. Esse dispositivo veio de encontro às mudanças que
ocorreram nas relações pessoais das famílias brasileiras. Para a realização da
pesquisa utilizou-se o método indutivo.
Palavras chave: Casamento. Regime de bens. Alteração do regime de bens.
INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como objeto abordar a Alteração
do Regime de Bens no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Seus objetivos são:
institucional - produzir uma Monografia para obtenção do Título de Bacharel em
Direito Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; o objetivo geral é o de analisar a
possibilidade de alteração no regime de bens frente ao ordenamento jurídico
brasileiro.
A sociedade mundial evoluiu muito desde o CC de 1916. As
relações entre o homem e a mulher sofreram influências das mais diversas e isto
acarretou em mudanças radicais no comportamento dos casais. Hoje a família é
constituída de diversas maneiras e a sociedade teve que se adequar para poder
sanar as necessidades destas novas relações familiares que surgiram.
Este tema é atual e engloba não só os casais que buscam a
mudança no regime de bens de seu casamento, mas também os familiares e
terceiros que indiretamente vão ser influenciados pela alteração. A introdução no
Código Civil de 2002 da possibilidade de alteração do regime de bens foi um
grande avanço que ocorreu na legislação brasileira, até então, sobre este
assunto.
A monografia está dividida em três capítulos, sendo:
O primeiro capítulo trata da instituição do Casamento.
Inicialmente faz-se um histórico deste instituto. Ressalta-se que o casamento é
uma importante instituição da sociedade. Neste primeiro capítulo analisaram-se
os requisitos, impedimentos e procedimentos indispensáveis para a sua
realização.
O segundo capítulo aborda sobre os Regimes de Bens no
Ordenamento Brasileiro e expõe os efeitos jurídicos patrimoniais do matrimônio.
De acordo com o Código Civil de 2002, há quatro opções de regimes de bens. A
2
Comunhão Universal de Bens; da Comunhão Parcial de bens; do regime de
Separação Total de bens e da Participação Final dos Aqüestos.
O terceiro capítulo trata da Alteração do Regime de Bens no
Ordenamento Jurídico Brasileiro. O Código Civil de 2002 dispôs a possibilidade
de alteração do regime de bens, até então proibido pelo ordenamento jurídico.
Esse dispositivo veio de encontro às mudanças que ocorreram nas relações
pessoais das famílias brasileiras. Trouxe uma nova perspectiva aos que optaram
– ou não – por determinado regime de bens e, devido à fatos e acontecimentos,
precisam que o regime seja alterado.
Nas considerações finais serão expostas as conclusões e
análises gerais do contexto apresentados na monografia. Através desta análise, é
possível identificar determinados problemas e sugerir soluções.
Para o desenvolvimento da pesquisa, fez se os seguintes
questionamentos:
a) Qual a finalidade dos regimes de bens?
b) Quais os regimes de bens que podem sofrer alterações
após o casamento?
A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes
hipóteses:
a) a finalidade do regime de bens é a garantia dos consortes
quanto a divisão de bens após o fim da união conjugal.
b) todos os regimes de bens previstos no ordenamento
jurídico brasileiro são passíveis de alteração após o casamento.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação21 foi utilizado o Método Indutivo22, na Fase de Tratamento de
21 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente
estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.
3
Dados o Método Cartesiano23, e, o Relatório dos Resultados expresso na
presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente24, da Categoria25, do Conceito Operacional26 e da
Pesquisa Bibliográfica27.
22 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma
percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.
23 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
24 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.
25 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.
26 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.
27 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.
CAPÍTULO 1
DO CASAMENTO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O casamento nasceu na antiguidade e desde então vem
percorrendo o mesmo caminho trilhado pela história da humanidade, cercado de
mudanças significativas e acontecimentos que transformaram a sociedade civil
com o passar dos anos.
Surgiu da necessidade de se viver junto, de compartilhar a
vida junto ao outro. Os seres humanos precisam viver em sociedade, precisam
viver em grupos; não são sozinhos.
Explica Lisboa28 que:
Inicialmente, a união entre o homem e a mulher era vista como um dever cívico, para os fins de procriação e de desenvolvimento das novas pessoas geradas, que serviriam aos exércitos de seus respectivos países, anos depois, durante a juventude.
Diante desse objetivo, a prole masculina era muito mais esperada que a feminina, tendo-se a perspectiva do fortalecimento dos exércitos, de novas conquistas e da segurança da nação, com a preponderância dos nascimentos de crianças do sexo masculino.
E complementa:
Com o decorrer do tempo, tal conceituação foi sendo paulatinamente substituída pelos ideais de continuidade da entidade familiar, concebendo-se a família e o casamento para os fins de perpetuação da espécie, com o nascimento de filhos.
28 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. 3. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. v. 3. p. 33.
5
Dias29 diz que “(...) até então a única forma de casamento
era o religioso”, tanto para os católicos como para os não católicos,
permanecendo assim até 1890, quando foi instituído o casamento civil. .
Ensina Brandão30 que “o casamento civil foi instituído no
Brasil pelo Decreto 181, de 24 de janeiro de 1890, de autoria de Ruy Barbosa.”
Disciplinava o art. 108, in verbis:
Art. 108. Esta lei começará a ter execução desde o dia 21-05-1890, e desta data por diante só serão considerados válidos os casamentos celebrados no Brasil se forem de acordo com suas disposições.
Par. Único. O casamento civil, único válido nos termos do art. 108 do Dec. 181, de 24 de janeiro último, procederá sempre às cerimônias religiosas de qualquer culto, com que desejem soleniza-las os nubentes.
Percebe-se no parágrafo único a obrigatoriedade da
precedência do ato civil à cerimônia religiosa.
Assim, o casamento tornou-se uma entidade com direitos e
deveres, passando a ser disciplinado por regras jurídicas.
Segundo os ensinamentos de Dias31
Quando da edição do Código Civil de 1916, era de tal ordem a sacralização da família, que havia uma única e exclusiva forma de constituir uma família legítima: pelo casamento. Durante 87 anos, a regra era a seguinte: ‘O regime dos bens entre cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento, e é irrevogável.’ – art. 230. A família tinha viés patriarcal, e as regras legais refletiam esta realidade. Somente era reconhecida a família ungida pelos sagrados laços do matrimônio. Não havia outra modalidade de
29 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2006. p. 127 30 BRANDÃO, Débora Vanessa Cáus. Do casamento religioso com efeitos civis e o novo
código civil. Publicado em 03/12/2001 no O Neófito, informativo jurídico. Disponível em www.neófito.com.br/artigos/art03/civil_pdf001_neofito.pdf. p. 4.
31 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 130.
6
convívio aceitável. Aqueles que não se enquadrassem nesta modalidade sofriam as sanções penais. A partir da Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil de 193432, o casamento religioso com efeito civil tornou-se válido, onde se
reconheceu seus efeitos através do artigo 146:
Art 146 - O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa, cujo rito não contrarie a ordem pública ou os bons costumes, produzirá, todavia, os mesmos efeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo da oposição sejam observadas as disposições da lei civil e seja ele inscrito no Registro Civil. O registro será gratuito e obrigatório. A lei estabelecerá penalidades para a transgressão dos preceitos legais atinentes à celebração do casamento.
As demais Constituições brasileiras conservaram tal
concessão, tornando o casamento religioso um sacramento tão importante como
o casamento civil até os dias de hoje.
Até 1977, o casamento era considerado indissolúvel33. Com
a Emenda Constitucional nº. 9 que instituiu a Lei do Divórcio34, implantou-se uma
nova ordem no Direito de Família. Assim, o desquite transformou-se em
separação, passando a existir duas formas de romper o casamento: a separação
e o divórcio.
Essa nova realidade alterou consideravelmente a estrutura
social familiar, fazendo com que a Constituição de 198835 abrisse novos caminhos
para outras formas familiares, como, por exemplo, as famílias monoparentais, 32 BRASIL, Constituições do Brasil: 1824,1891, 1934, 1937, 1946 e 1967 e suas alterações.
Índice: Ana Valderez A.N. de Alencar, Leyla Castello Branco Rangel. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1986. 2 v., p. 175.
33 Com exceção da nulidade ou anulação do casamento, previstas na legislação brasileira. 34 BRASIL. Código civil. Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de
dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências.
35 BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília/DF: Senado. 1988.
7
formadas por apenas um dos pais e seus filhos (art. 226, §4) e a união estável,
relação de homem e mulher não formalizada pelo matrimônio (art. 226, § 3).
Barboza36 faz observação a respeito:
Verifica-se, assim, que a Constituição Federal, alterando o conceito de família, impôs novos modelos. Embora a família continue a ser a base da sociedade e a desfrutar da especial proteção do estado, não mais se origina apenas do casamento, uma vez que, a seu lado, duas novas entidades familiares passaram a ser reconhecidas: a constituída pela união estável e a formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
Mas nova realidade se impôs, acabando por produzir
profunda revolução na própria estrutura social. Tornou-se tão saliente o novo
perfil da sociedade, que a Constituição de 1988 alargou o conceito de família para
além do casamento. Passou a considerar como entidade familiar relacionamentos
outros. Foi assegurada especial proteção tanto aos vínculos monoparentais –
formados por um dos pais com seus filhos – como à união estável – relação de
um homem e uma mulher não sacralizada pelo matrimônio (art. 226 § 3º, CF).
Com isso deixou de ser o casamento o único marco a
identificar a existência de uma família. O Código Civil, com vigência desde 2003
(Lei 10.406/2002), e que tramitou no Congresso Nacional por 25 anos, trouxe a
possibilidade jurídica de uma possível mudança.
No atual estágio da sociedade, soa bastante conservadora a
legislação que, em sede de direito de família, limita-se a regulamentar, de forma
minuciosa e detalhada, exclusivamente o casamento, como se fosse o destino de
todos os cidadãos. Como diz Colares37, “o casamento parece fundar-se em um
ideal de estabilidade e institucionalização de papéis fixos”.
36 BARBOZA, Heloísa Helena. O direito de família brasileiro no final do século XX. In: A nova
família: problemas e perspectivas. Coordenação de Vicente Barreto. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. p. 104.
37 COLARES, Marcos . A sedução de ser feliz: uma análise sócio-jurídica dos casamentos e separações. São Paulo: Letraviva, 2000. p.62.
8
1.2 CONCEITO
Inúmeras são as definições de casamento. Segundo
Venosa38, “não há, por conseqüência, uniformidade nas legislações e na
doutrina.”
Rodrigues39, declarando já sua preferência pela natureza
jurídica do fenômeno, com base na lei define casamento como “ contrato de
direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de
conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da
prole comum e se prestarem mútua assistência”.
É o casamento a mais importante e poderosa de todas as
instituições de direito privado, por ser uma das bases da família, que é a pedra
angular da sociedade. Logo, o matrimônio é a peça chave de todo sistema social,
constituindo o pilar do esquema moral, social e cultural do país40. Souza41 afirma
que o casamento é o “fundamento da sociedade, base da moralidade pública e
privada”
Para Pereira42, o “casamento é a união do homem e da
mulher com o fim de criar uma comunidade de existência”. Reforça essas idéias a
clássica definição de Beviláqua43:
O casamento é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legitimando por ele suas relações sexuais; estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer.
Dentre os fins do matrimônio estão de acordo com Diniz44:
38 VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 6. p. 39. 39 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1998. v. 3. p. 18. 40. ESPÍNDOLA, Eduardo. A família no direito civil brasileiro. Rio de Janeiro: Conquista, 1957.
p.239. 41. SOUZA, Carlos Aurélio Mota de. O novo código civil: estudos em homenagem a Miguel
Reale. São Paulo: LTr, 2002, p.38.. 42 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito de família. 5. Ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1956,. p. 27. 43 BEVILÁQUA, Clovis. Direito de Família . Edição histórica. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976. p.
123.
9
a) A instituição da família matrimonial, que é uma unidade originada pelo casamento e pelas inter-relações existentes entre marido e mulher e entre pais e filhos (CC, art. 1.513). b) A procriação dos filhos, que é uma conseqüência lógico-natural e não essencial do matrimônio (art. 226, § 7º, Lei n. 9263/96, CF/88). A falta de filhos não afeta o casamento, uma vez que não são raros os casais sem filhos. A lei permite uniões de pessoas que, pela idade avançada ou por questões de saúde, não têm condições de procriar. Se aceitar a procriação como fim essencial do casamento, ter-se-á de anular todos os matrimônios de que não advenha prole, o que perturbaria a estabilidade e a segurança do lar. c) A legalização das relações sexuais entre os cônjuges, pois dentro do casamento a satisfação do desejo sexual, que é normal e inerente à natureza humana, apazigua a concupiscência; a aproximação dos sexos e o convívio natural entre marido e mulher desenvolvem sentimentos afetivos recíprocos45. Pondera Lima46 que a comunicação sexual dos cônjuges é o
prazer, a co-participação, prólogo e seguimento de uma vida a dois, plenificação
suprema de dois seres que se necessitam interação dinâmica entre marido e
mulher, pois casamento é amor.
d) A prestação do auxílio mútuo, que é corolário do convívio entre os cônjuges. O matrimônio é uma união entre marido e mulher para enfrentar a realidade e as expectativas da vida em constante mutação; há, então, um complemento de duas personalidades reciprocamente atraídas pela força do sentimento e do instinto que se ajudam mutuamente, estabelecendo-se entre elas uma comunhão de vida e de interesses tanto na dor como na alegria. e) O estabelecimento de deveres patrimoniais ou não entre os cônjuges, como conseqüência necessária desse auxílio mútuo e recíproco. P. ex.: o dever legal de caráter patrimonial que têm os cônjuges de prover na proporção dos rendimentos do seu trabalho e de seus bens a manutenção da família (CC, art. 1568) e o não patrimonial, que eles têm de fidelidade recíproca, respeito e consideração mútuos (CC, art. 1.566, I e V). f) A educação da prole, pois no matrimônio não existe
apenas o dever de gerar filhos, mas também de criá-los e educá-los para a vida,
44 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 38-39 45 RODRIGUES, Silvio. Direito civil; direito de família. São Paulo: Saraiva, 1980. v.6. p.20 46 Apud. FRANÇA, Rubens Limongi (coord.) Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo:
Saraiva, 1977. v. 13. p. 394.
10
impondo aos pais a obrigação de lhes dar assistência (CC art. 1634, e Lei n.
8.069/90, art. 22).
g) A atribuição do nome ao cônjuge (CC, art. 1.565, § 1º) e
aos filhos; a reparação de erros do passado recente ou não; a regularização de
relações econômicas; a legalização de estados de fato entre outros.
O casamento engloba diversas disposições de convivência
que devem ser respeitadas para haver harmonia na relação conjugal.
1.3 HABILITAÇÃO
Para os atos da vida civil em geral presume-se a aptidão.
Alguns atos e a posição subjetiva das partes perante estes podem exigir um plus
na capacidade que dessa forma se conceitua como legitimação.
O casamento é daqueles atos de direito privado para os
quais os interessados devem demonstrar uma aptidão específica, legitimação
para contrair matrimônio. O Código de 1916, sob a epígrafe “das formalidades
preliminares”, disciplinava o procedimento que devia ser seguido pelos cônjuges a
fim de se legitimarem a celebração do casamento. O Código de 2002 trata da
matéria sob a epígrafe “Do processo de habilitação para o casamento” (arts.
1.525 ss). A matéria também é regulada pela Lei dos Registros Públicos, Lei nº
6.015/73, arts. 67 a 69.
Para Lisboa47 “Habilitação de casamento é a autorização
conferida pelo juiz de paz para a realização do casamento civil.”
A habilitação é um procedimento que busca habilitar o ato,
pois é preciso que não haja impedimentos matrimoniais entre os nubentes. O art.
67 da Lei n. 6.01548 diz que:
47 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. p. 91 48 BRASIL. Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências.
11
Art. 67. Na habilitação para o casamento, os interessados, apresentando os documentos exigidos pela lei civil, requererão ao oficial do registro do distrito de residência de um dos nubentes, que lhes expeça certidão de que se acham habilitados para se casarem. § 1º Autuada a petição com os documentos, o oficial mandará afixar proclamas de casamento em lugar ostensivo de seu cartório e fará publicá-los na imprensa local, se houver, Em seguida, abrirá vista dos autos ao órgão do Ministério Público, para manifestar-se sobre o pedido e requerer o que for necessário à sua regularidade, podendo exigir a apresentação de atestado de residência, firmado por autoridade policial, ou qualquer outro elemento de convicção admitido em direito § 2º Se o órgão do Ministério Público impugnar o pedido ou a documentação, os autos serão encaminhados ao Juiz, que decidirá sem recurso. § 3º Decorrido o prazo de quinze (15) dias a contar da afixação do edital em cartório, se não aparecer quem oponha impedimento nem constar algum dos que de ofício deva declarar, ou se tiver sido rejeitada a impugnação do órgão do Ministério Público, o oficial do registro certificará a circunstância nos autos e entregará aos nubentes certidão de que estão habilitados para se casar dentro do prazo previsto em lei. § 4º Se os nubentes residirem em diferentes distritos do Registro Civil, em um e em outro se publicará e se registrará o edital. § 5º Se houver apresentação de impedimento, o oficial dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem em três (3) dias prova que pretendam produzir, e remeterá os autos a juízo; produzidas as provas pelo oponente e pelos nubentes, no prazo de dez (10) dias, com ciência do Ministério Público, e ouvidos os interessados e o órgão do Ministério Público em cinco (5) dias, decidirá o Juiz em igual prazo. § 6º Quando o casamento se der em circunscrição diferente daquela da habilitação, o oficial do registro comunicará ao da habilitação esse fato, com os elementos necessários às anotações nos respectivos autos.
Apesar de sua ineficiência material, o sistema de publicação
de proclamas persiste praticamente de forma geral no direito ocidental. Esse
procedimento preparatório tem três fases distintas: a habilitação, que se processa
nas circunscrições do registro civil perante o juiz; a publicidade nos órgãos locais;
12
e por fim a almejada celebração.
O art. 1.525, do CC49 estipula que “o requerimento de
habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio
punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I- certidão de idade ou prova equivalente; II- autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; III- declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhece-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; IV- declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; V- certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transita em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.”
Ainda se tratando da habilitação, o art. seguinte do CC
determina que “a habilitação será feita perante oficial do Registro Civil e, após a
audiência do Ministério Público, será homologada pelo juiz.”50
Já o art. 1.565, § 1º, informa que com o requerimento de
habilitação de casamento “qualquer um dos nubentes, querendo, poderá acrescer
ao seu sobrenome do outro”, ou seja, qualquer um poderá manifestar o desejo de
acrescentar ao seu o sobrenome do outro.
Após isso, de acordo com o art. 1.527 CC, “Estando em
ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze
dias nas circunstâncias do Registro Civil de ambos os nubentes, e,
obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver.”
49 BRASIL, Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 50 BRASIL, Código Civil. BRASIL, Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o
Código Civil. Art. 1526.
13
Em casos de urgência, como grave enfermidade, viagem
inadiável, o juiz pode dispensar a obrigatoriedade de publicação de proclamas,
após a ouvida do Ministério Público, e se apresentados os documentos exigidos
pelo art. 1.525 do Código Civil, conforme expressa o art. 1.527, parágrafo único.
Decorrido o prazo de edital de proclamas, o Oficial do
Registro Civil deverá antes da remessa ao Ministério Público, certificar, nos autos,
a regularidade de todos os papéis e documentos. Se este der o parecer favorável
e entender ter sido preenchido todas as formalidades, será encaminhada para o
juiz, que homologará o processo de habilitação, (art. 1.526, CC).
O art. 1.528 diz que “é dever do oficial de registro esclarecer
os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do
casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens”.
A eficácia da habilitação, de acordo com o art. 1.532 CC,
“será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado”.
Assim, após este período, se o casamento não se
concretizar, será necessário a solicitação, por parte dos noivos, da revalidação do
mesmo.
1.4 IMPEDIMENTOS
Diante da expressão “impedimentos matrimoniais” não se
pode confundir incapacidade para o matrimônio com impedimentos matrimoniais.
Aquele que é impedido de casar não é incapaz de contrair casamento. Assim,
pode-se dizer que incapacidade é geral e o impedimento apenas circunstancial.
Impedimento matrimonial é a ausência de requisitos para o casamento.
Diz Gonçalves51 que
Os impedimentos visam preservar a eugenia (pureza da raça) e a
51 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 4. ed. VI vol. Direito de Família. São Paulo: Editora Saraiva. 2007. p. 53.
14
moral familiar, obstando a realização de casamentos entre parentes consangüíneos, por afinidade e adoção (...), a monogamia (...), não permitindo o casamento de pessoas já casadas, e evitar uniões que tenham raízes no crime (...). (grifo do autor).
De acordo com o CC, existem duas ordens de impedimentos
matrimoniais. Os impedimentos de caráter absoluto, expressos no art.1.521, e os
impedimentos relativos, que são chamados de causas suspensivas, expressos no
art. 1.523. Desatendida a vedação legal do art. 1.521 “não podem casar”, o
casamento é nulo (CC 1.548 II). A infringência à recomendação de “não devem
casar” torna o casamento anulável (art. 1.550, CC).
1.4.1 Impedimentos Absolutos
Impedimentos são fatos que efetivamente vedam a união
civil pelo casamento, impossíveis de serem supridos ou sanados. Diz o art. 1.521,
CC que:
Art. 1.521 – Não podem casar:
�� I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
15
Não se trata de incapacidade para o casamento, diz
Rodrigues52, mas apenas de impedimento para casar com certa pessoa, estando
livre, no entanto, para casar com quem lhe aprouver.
A falta de plena capacidade pode ensejar ou a nulidade do
casamento (art.1.548, I, CC), isto é, quando contraído por enfermo mental sem o
necessário discernimento para os atos da vida civil; ou a sua anulabilidade
(art.1.550, III e IV, CC), se houver vício de vontade ou incapacidade de consentir
ou manifestar de modo inequívoco o consentimento.
O impedimento expresso no CC também estende-se
também à união estável (art. 1.595, § 2º, CC). Assim, o ex-companheiro não pode
casar com a filha da companheira com quem viveu em união estável. Igualmente,
durante a vigência da união estável, não é possível o casamento entre os filhos
dos companheiros advindos das uniões anteriores, pois são reconhecidos como
irmãos (parentes em segundo grau).
A referência aos filhos adotivos (art.1.521 III e V, CC) de
forma distinta se justifica. Explica Gonçalves53 que
O impedimento resultante do parentesco civil, existente entre adotante e adotado (...), é justificado pelo fato de a adoção imitar a família. Inspira-se, pois, em razões de moralidade familiar. O adotante apresenta-se em face do adotado, aos olhos da sociedade, no lugar de pai. Seria, por isso, “repugnante ao sentimento moral da coletividade admitir um casamento entre as pessoas do adotante e do adotado. (...)”. A adoção gera duas ordens de impedimentos, tanto em
relação à família anterior como diante da nova família. As razões éticas são as
mesmas. Ainda que a Constituição proíba discriminações com referência à filiação
(art. 227 § 6º, CF), e o adotado se torne filho igual ao natural, persistem os
impedimentos decorrentes da filiação biológica (art.1.626, CC). Por isso, o
52 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 37. 53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 54.
16
adotado sofre duplo impedimento matrimonial (art.1.521, I a V, CC).
Também são impedidos tios e sobrinhos, conforme
esclarece Gonçalves54:
Tios e sobrinhos são colaterais de terceiro grau, impedidos de casar. No direito pré-codificado o impedimento compreendia apenas o segundo grau, permitindo assim, livremente, as uniões conjugais entre tio e sobrinha. O Código Civil de 1916 estendeu-o ao terceiro, atendendo ao reclamo da doutrina. (...) Mesmo que seja proibido o casamento de parentes até o
terceiro grau (art.1.521, IV, CC), por exemplo, complementa Delgado55, entre tio e
sobrinha, o DL 3.200/1941 suaviza a vedação, tornando possível a sua realização
mediante autorização judicial. Como dita lei não foi revogada, modo expresso,
não havendo incompatibilidade com o Código Civil, persiste a possibilidade do
casamento com a chancela judicial.
Em relação à pessoas já casadas, salienta Gonçalves56
Não podem casar, ainda “as pessoas casadas” (...). Procura-se, assim, combater a poligamia e prestigiar a monogamia, sistema que vigora nos países em que domina a civilização cristã. A vedação a que pessoas casadas casem (art. 1.521 VI, CC)
enquanto existir o vínculo conjugal, ou seja, antes do divórcio, da anulação do
casamento ou da morte de um dos cônjuges, decorre da adoção do regime
monogâmico, tanto que a bigamia constitui crime (art. 235, CP). Esse é o motivo
de o viúvo não poder casar com quem matou ou tentou matar o outro cônjuge e
foi condenado por homicídio ou tentativa de homicídio (art. 1.521 VII, CC).
Gonçalves57 também expressa sobre o crime, onde destaca
que “(...) abrange somente o homicídio doloso. (...) No homicídio culposo não há o
intuito de eliminar um dos cônjuges para desposar o outro e, por esta razão, não
54 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 55. 55 DELGADO, Mário Luiz. ALVES, Jones Figueiredo. Questões controvertidas no direito de
família e das sucessões. v.3.São Paulo: Método, 2005. p. 316. 56 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 59. 57 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 63.
17
se justificaria punir o autor com a proibição.”
Os impedimentos podem ser suscitados por qualquer
pessoa legitimada, antes da realização do casamento. Expressa o art. 1.529 que
“tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em
declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a
indicação do lugar onde possa ser obtidas.”
Celebrado o matrimônio, mesmo que seja nulo (art. 1.548 II,
CC), somente os interessados ou o Ministério Público podem, a qualquer tempo,
buscar sua anulação (art. 1.549, CC). No entanto, não declina a lei quem são os
“interessados”, ou melhor, quem são os legitimados para propor a ação de
anulação de casamento. Somente faz referência ao menor, seus representantes e
ascendentes (art. 1.552, CC), mas para a hipótese de casamento anulável, e não
em se tratando de casamento nulo. Nas demais hipóteses, por falta de referendo
legal, não se sabe a quem conferir legitimidade extraordinária para a demanda.
1.4.2 Impedimentos Relativos ou Causas Suspensivas
Sob a advertência de que não devem casar traz a lei um rol
de hipóteses em que não proíbe, mas recomenda que as pessoas não casem.
Gonçalves58 expressa que
Causas suspensivas são determinadas circunstâncias ou situações capazes de suspender a realização do casamento, se argüidas tempestivamente pelas pessoas legitimadas a fazê-lo, mas que não provocam, quando infringidas, a sua nulidade ou anulabilidade. Apesar da expressão “causas suspensivas”, são causas
penalizadoras na esfera patrimonial dos contraentes, sem invalidar o ato
matrimonial. Assim, são, de acordo com Luz59, causas restritivas, pois, na prática,
58 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 67. 59 LUZ, Valdemar da. Comentários ao Código Civil: direito de família. Florianópolis: OAB, 2004.
v. 5. p. 30.
18
não se verifica nenhuma suspensão, mas mera restrição de caráter econômico.
São meramente punitivas. Quando o amor fala mais alto e as pessoas mesmo
assim casam, sujeitam-se a uma sanção: o casamento não gera efeitos de ordem
patrimonial. É imposto o regime da separação de bens com o intuito de que não
ocorra o embaralhamento de patrimônios (art.1.641 I ,CC).
Não devem casar (art.1.523, CC):
I – o viúvo ou a viúva que tiver filho com o cônjuge falecido, enquanto não for feito o inventário e a partilha; III – o divorciado, antes de homologada ou decidida a partilha de bens; IV – o tutor ou o curador e seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com o tutelado ou o curatelado, enquanto não cessar a tutela ou a curatela e não estiverem saldadas as respectivas contas.
Em todas essas hipóteses o interesse é exclusivamente de
ordem patrimonial.
Também não devem casar (art. 1.523, CC):
II – a viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por nulidade ou anulação, até 10 meses depois do começo da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal. Durante esse período existe a presunção de que o filho é do marido (art. 1.597 II,CC). Em se tratando do § acima, levando em consideração as
idéias expressas por Luz60, pode-se dizer que somente a morte se presta para o
efeito de estabelecer o momento do início do referido prazo. Tanto a anulação do
casamento, como a dissolução da sociedade conjugal dependem de ação judicial
e só produzem efeito após o trânsito em julgado da sentença. Às claras que não
pede ser este o marco de início do lapso temporal para definir a paternidade por
presunção. É a separação de fato que leva ao fim da convivência ou, ao menos,
gera a presunção da ausência de contatos sexuais e, em conseqüência, da
possibilidade da gravidez.
Não se aplica a causa suspensiva a partir do momento em 60 LUZ, Valdemar da. Comentários ao Código Civil: direito de família. p. 31.
19
que for provada a inexistência de gravidez. Ocorrendo o casamento antes desse
prazo, se o filho nascer antes de 300 dias, presume-se que é do primeiro marido.
Se nascer depois desse prazo, será considerado filho do novo cônjuge (art. 1.598,
CC).
Nenhum desses impedimentos veda a celebração do
matrimônio, nem desfaz o matrimônio. Podem ser desconsideradas, por
autorização judicial e, se infringidas, não constituem motivo para invalidação do
ato. Desatendida a recomendação legal, o casamento não é nulo nem anulável.
As seqüelas são exclusivamente patrimoniais.
A lei impõe o regime de separação de bens (art. 1.641 I,CC).
Ocorrendo o casamento antes da partilha dos bens do anterior matrimônio (art.
1.523 I,CC), é assegurado aos filhos hipoteca legal sobre os imóveis do pai ou da
mãe que passar a outras núpcias antes de fazer o inventário do casamento
anterior (art. 1.489, II, CC).
O juiz pode autorizar o casamento sem aplicar as causas
suspensivas (art. 1.523,CC, parágrafo único) se os nubentes provarem a ausência
de prejuízo. Assim, além de ficar afastado o regime legal de bens, também a
hipoteca legal se esvai.
A argüição das causas suspensivas à celebração do
matrimônio só é permitida aos parentes em linha reta e aos colaterais até o
segundo grau de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins (art.
1.524,CC). Deve ser feita por escrito e com as provas do fato alegado (art.
1.529,CC).
1.5 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO
Segundo Gomes61, o problema da natureza jurídica do
casamento desdobra-se em duas importantes questões:
61 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 63-64.
20
1. se é instituto de direito público (normas de ordem pública o disciplinam, há necessidade da participação de uma autoridade judicial – mas não convencem, os interesses em jogo são particulares, embora com reflexos coletivos, e a participação do juiz é para simplesmente chancelar – declarar – a vontade já manifestada das partes, de acordo com a lei) ou de direito privado (é o que prevalece); 2. se é ou não um contrato.
A natureza jurídica do casamento, segundo Venosa62, é um
dos temas nos quais medram tradicionalmente muitas opiniões doutrinárias.
O que confere a um ato a natureza contratual não e a
determinação de seu conteúdo pelas partes, mas sua formação por manifestação
de vontade livre e espontânea. Gomes63 conclui que o casamento é, porém, um
contrato com feição especial, “a que não se aplicam as disposições legais dos
negócios de direito patrimonial que dizem respeito: (a) à capacidade dos
contraentes; (b) aos vícios de consentimento; (c) aos efeitos”.
Pode-se afirmar que o casamento-ato é um negócio jurídico;
o casamento-estado é uma instituição.
1.6 CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO
Dentre as características para casamento, observando a
legislação em vigor e o que expressa Diniz64, pode-se apresentar a liberdade de
escolha, a solenidade do ato nupcial, o fato da legislação sobre o assunto ser
pública, a união permanente, e a união exclusiva.
A liberdade de escolher a pessoa do sexo oposto é elemento
natural do ato nupcial, que requer diversidade de sexos. A interferência da família
restringe-se tão somente à orientação, mediante conselhos, salvo nos casos em
62 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 3 ed.São Paulo: Atlas, 2003. p. 40 63 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 68. 64 Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 42
21
que a legislação exige o consentimento dos pais.65
A solenidade do ato nupcial, uma vez que a norma jurídica
reveste-o de formalidades que garantem a manifestação do consentimento dos
nubentes, a sua publicidade e validade. Não basta a simples união do homem e
da mulher, com a intenção de permanecerem juntos e gerarem filhos; é
imprescindível que o casamento tenha sido celebrado, conforme a lei que o
ampara e rege.66
O fato de ser a legislação matrimonial de ordem pública e
assim, estar acima das convenções dos nubentes.67
A união permanente, indispensável para a realização dos
valores básicos da sociedade civilizada. Só à lei cabe questionar a
admissibilidade da ruptura da sociedade ou vínculo conjugal. Se duas pessoas
contraem matrimônio, não o fazem por tempo determinado, mas por toda a vida;
mesmo que venham a separar-se ou divorciar-se e tornem a se casar novamente
existe sempre, em regra, um desejo íntimo de perpetuidade, ou seja, de
permanência da ordem conjugal e familiar.68
A união era exclusiva, até o advento da Lei n. 11.106, de 28
de março de 2005, pois, em determinadas circunstâncias, tinha-se o crime de
adultério, que constituía violação dessa norma (art. 240 do CP, ora revogado). O
adultério, apesar de não ser mais delito penal, continua sendo ilícito civil, Por ser
uma das causas de separação judicial (art. 1.573, I ,CC), pois a fidelidade
conjugal é exigida por lei (art. 1.566, I CC), por ser o mais importante dos deveres
conjugais, uma vez que é a pedra angular da instituição, pois a vida em comum
entre marido e mulher só será perfeita com a recíproca e exclusiva entrega dos
corpos. 69
65 Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 42 66 Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 42 67 Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 42 68 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 42/43 69 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 65.
22
1.7 PRINCÍPIOS DO DIREITO MATRIMONIAL
Para Gomes70, três são os princípios que regem o
casamento, ou seja: a livre união dos cônjuges, a monogamia e a comunhão
indivisa.
A livre união dos futuros cônjuges, pois o casamento advém
do consentimento dos próprios nubentes, que devem ser capazes para manifestá-
lo. Impossível é a substituição do consentimento dos contraentes, bem como a
autolimitação de suas vontades pela condição ou por termo71.
A monogamia, pois, embora alguns povos admitam a
poliandria e a poligamia, a grande maioria dos países adota o regime da
singularidade, por entender que a entrega mútua só é possível no matrimônio
monogâmico, que não permite a existência simultânea de dois ou mais vínculos
matrimoniais contraídos pela mesma pessoa, punindo severamente a bigamia. P.
ex., o Código Civil, art. 1.521, VI, estatui: “Não podem casar as pessoas casadas”;
com a violação dessa disposição legal, autoriza a norma que se decrete a
nulidade do casamento. 72
Realmente, estabelece o Código Civil no art. 1.548, II, que “é
nulo o casamento contraído por infringência de impedimento”, e que se aplique
uma pena ao transgressor, como dispõe o Código Penal no seu art. 235: “Contrair
alguém, sendo casado, novo casamento. Pena: reclusão de 2 a 6 anos”. Com
isso, nossa ordem jurídica consagra a monogamia, cuja violação autoriza a
aplicação de duas sanções: a nulidade do ato praticado e a pena ao violador.
A comunhão indivisa, que valoriza o aspecto formal da união
sexual de dois seres, visto ter o matrimônio por objetivo criar uma plena
comunhão de vida entre os cônjuges, que pretendem passar juntos as alegrias e
70 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 65. 71 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 65. 72 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 65.
23
os dissabores da existência (CC, art. 1.511)73.
1.8 CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO
Na época do Império, apenas conhecia-se o casamento
católico, por ser essa religião a oficial do Estado. Com a presença crescente da
imigração e de pessoas que professavam religiões diversas, instituiu-se, ao lado
do casamento eclesiástico, o de natureza civil, permitindo a união de casais de
seitas dissidentes, por lei de 1861. A partir de então, passou-se a permitir, além
do casamento religioso católico oficial do Estado, o casamento misto, entre
católicos e não católicos, realizados também sob disciplina canônica, e o
casamento de pessoas de outras religiões, em obediência às respectivas seitas74.
Apenas no período republicano é introduzido o casamento
civil obrigatório, pelo Decreto nº 181, de 24-1-1891, como conseqüência da
separação da igreja do Estado, situação consolidade pela promulgação do Código
Civil. Houve dificuldade de assimilação do sistema pelo clero e pela população de
maioria católica na época. Com isso, generalizou-se no país o costume do duplo
casamento, civil e religioso, que persiste até hoje.
O legislador buscou modificar a situação, procurando atribuir
efeitos civis ao casamento religioso, conforme a Constituição de 1934. A lei
1.110/50 disciplina que o casamento religioso equivale ao civil quando os
consortes promoverem o devido processo de habilitação perante o oficial de
registro, na forma da lei civil. Ultimado o casamento religioso, sua inscrição
poderá ser efetivada. O legislador foi mais além, contudo, ao permitir que a
habilitação ocorra posteriormente ao casamento religioso, com a apresentação
dos documentos legalmente exigidos, sem a prévia habilitação civil.
Válido o matrimônio oficiado por ministro de confissão religiosa reconhecida (católico, protestante, muçulmano, israelita). Não se admite, todavia, o que se realiza em terreiro de macumba, centros
73 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 65 74 VENOSA,Sílvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família. p.43-44.
24
de baixo espiritismo, seitas umbandistas, ou outras formas de crendices populares, que não tragam a configuração de seita religiosa reconhecida como tal.75. Monteiro76 sintetiza os quatro sistemas na legislação
mundial na atualidade:
(a) países nos quais apenas o casamento civil é válido, ressalvada a possibilidade de realização do casamento religioso, como ocorre no Brasil (e em quase todos os países latino-americanos); (b) países que permitem a escolha entre o casamento civil e o religioso, ambos com o mesmo valor legal, como ocorre nos Estados Unidos; (c) países que mantêm a proeminência do casamento religioso, na religião oficial do Estado, facultando às pessoas de outras religiões o casamento civil (Espanha e países escandinavos); e (d) países nos quais persiste apenas o casamento religioso, como Líbano e Grécia. A tendência universal, contudo, é da secularização do matrimônio conforme o primeiro sistema.
Mantendo a mesma idéia o Código de 2002 estabelece no
art. 1515 a validade do casamento religioso que atender às exigências da lei para
a validade do casamento civil, equiparando-se a este, desde que registrado,
produzindo efeitos legais a partir da data de sua celebração. Nem por isso há que
se imaginar que a sociedade passe a adotar com mais freqüência esse
procedimento.
Na Igreja Católica, a doutrina sobre o matrimónio diz que ele
é, ao mesmo tempo, uma instituição natural e um sacramento.
Segundo ela, Deus criou o ser humano varão e mulher, com
o encargo de procriar e de se multiplicarem: "Homem e mulher os criou, e Deus
abençoou-os dizendo-lhes: Crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra"77. Foi neste
momento que Deus instituiu o Matrimônio, fazendo-o para povoar a Terra e para
que o homem e a mulher se ajudassem e apoiassem mutuamente: "Não é bom
75 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família. p. 32. 76 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 35 ed., São Paulo: Saraiva, 1999,
v. 2. p. 16-17. 77 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução por Centro Bíblico de São Paulo. São Paulo: Ave Maria,
1966. Gen. 1,28.
25
que o homem esteja só; vou dar-lhe uma companheira semelhante a ele". 78
De acordo com o Novo Testamento, pode-se dizer que:
Jesus Cristo atribuiu ao próprio Deus as palavras que figuram no Gênesis: "Não
ouvistes que, no princípio, o Criador os fez varão e mulher? Disse: por isso
deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à mulher, e serão dois numa só
carne."79. Com efeito em Genesis observa-se80 : "O homem deixará seu pai e sua
mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão dois numa só carne." e, ainda, "não
separe o homem o que Deus uniu"81
O Código Civil expressa em seu art. 1.516, § 1º, que “o
registro do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias da
sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por
iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente
a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá
de nova habilitação.” O antigo Código não fazia referência ao casamento
religioso.
No próximo capítulo será apresentado os tipos de Regimes
bens presentes no ordenamento brasileiro, como a Comunhão Universal de Bens,
a Comunhão Parcial de Bens - que é o Regime Legal no Brasil -, a Separação de
Bens e o Regime de Participação Final dos Aqüestos. Também fará parte de
análise neste segundo capítulo a União Estável.
78 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Gen. 2,18. 79 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Mt. 19, 4-5. 80 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Gen. 2,24. 81 BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Mt. 19,6
CAPÍTULO 2
DOS REGIMES LEGAIS DE BENS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
2.1 CONCEITO DE REGIME LEGAL DE BENS
Regime legal de bens é entendido como aquele que rege, da
melhor forma possível, as relações patrimoniais do casamento.
É o conjunto de determinações que regem as relações
patrimoniais entre o casal, no período em que durar o casamento. Podem ser
legais ou convencionais, obrigatórios e alteráveis. ode ser denominado, ainda,
como sendo um estatuto patrimonial dos consortes.
O Regime Legal de bens no ordenamento jurídico é, de
acordo com Venosa82, determinado pelo Código Civil Brasileiro. Considera-se o
regime legal do CC o da comunhão limitada de bens, ou seja, comunhão parcial
de bens, de acordo com o artigo 1.640, parágrafo único, a seguir:
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.
De acordo com Hioronaka83,
82 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado. São Paulo: Atlas,
2007. 83 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Disponível em http://www.flaviotartuce
.adv.br/secoes/artigosc/Giselda_Casamento.doc
27
Antes do advento desta Lei, prevalecia, entre nós, o regime legal da comunhão universal de bens, estabelecendo a comunicação de todo o conjunto patrimonial dos cônjuges, quer fossem bens aprestos, vale dizer, os bens adquiridos antes da celebração das núpcias, quanto bens aqüestos, vale dizer, os bens adquiridos na constância do casamento, talvez porque, como se referem os doutrinadores históricos, foi sempre muito acentuada e forte a influência da Igreja nas relações matrimoniais, imaginando-as contraídas para se perpetuarem por toda a existência dos nubentes.
Rizzardo84 atribui ao caráter contratual do casamento o fato
de se ter eleito, como regime legal, este que encerra a preservação do patrimônio
de cada cônjuge, já existente antes de casar, admitindo a comunicação apenas
dos bens amealhados na vigência da relação conjugal como fruto do esforço
comum do marido e da mulher.
Assim, pode-se observar que, se os nubentes não
manifestarem a opção pelo Regime de Bens, automaticamente, lhes é introduzido
o regime de comunhão parcial de bens, que é a divisão em partes iguais de tudo
que os indivíduos conquistaram durante o curso do casamento, caso ocorra uma
separação.
2.2 EFEITOS JURÍDICOS PATRIMONIAIS DO MATRIMÔNIO
2.2.1 Regime de Bens entre o marido e a mulher
De acordo com Gomes85
Na falta de pacto em contrário prevalece o regime da comunhão parcial ou limitada, sob a forma de comunhão de aqüestos. Considera-se o casamento feito segundo esse regime, se não houver convenção em contrário. Dantes, o regime legal era o da comunhão universal de bens, mas a chamada lei do divórcio o substituiu pelo regime da comunhão parcial, que se denominava de simples separação de bens antes do Código Civil.
84 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 275-276. 85 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 160.
28
Nesta relação entre marido e mulher pode-se destacar o que
diz o art. 1.64286, CC:
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647; II - administrar os bens próprios; III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647; V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.
Destaca-se que o artigo 1.642 apresenta a igualdade entre
os cônjuges. O dispositivo legal não acrescenta novidades em relação ao código
anterior, apenas dá nova redação aos artigo 246 e 248 até então vigente do CC.
2.2.2 Princípios do Regime de Bens entre o marido e a mulher
Os princípios que regem os Regimes de Bens, de acordo
com Diniz87, são:
a) O da Variedade de regime de bens: podem os nubentes
optar por 4 (quatro) regimes diferentes: comunhão universal de bens, comunhão
parcial de bens, separação de bens e participação final dos aqüestos.
86 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado. 87 Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 151-156.
29
b) O da Liberdade dos pactos antenupciais: aos nubentes
cabe a escolha do regime que lhes convier (artigo 1.639 C.C.), devendo ser feita
através de pacto antenupcial, que é um contrato solene para a escolha do regime
de bens que vigorará durante o matrimônio, a ser realizado antes do casamento,
conforme os arts. 1.640, 1.653 a 1.657, do CC, devendo ser feito por escritura
pública (art. 1.653, CC) e registrado no Cartório de Registro de Imóveis (6015/73
e art. 1.657, CC) para ter validade contra terceiros e efeito "erga omnes"88. Se não
for feito desta maneira implicará na sua nulidade legalmente, mantendo seu efeito
somente perante os cônjuges e herdeiros. Um dos requisitos para a validade do
pacto nupcial é que ocorra o casamento. Se os nubentes forem empresários,
deverá ser averbado no Cartório de Registros Públicos de Empresas Mercantis,
art. 979, CC.
É importante destacar que o pacto nupcial tem efeitos
somente no que se refere ao patrimônio do casamento. Não é um contrato
regulado no direito das obrigações, pois é de ordem institucional. Após o
matrimônio, o casamento é regido por normas de ordem pública.
c) O da Mutabilidade do regime adotado: desde que com
justificação. Se o regime de bens foi escolhido e o casamento celebrado, há
possibilidade de que, a pedido dos nubentes perante autoridade judicial (artigo
1.639, § 2°, CC), aconteça a alteração do regime de bens, mediante motivo justo.
No CC de 1916, esta possibilidade não existia, visto que uma vez adotado o
regime de bens, este não poderia mais ser modificado (artigo 230 do C.C./1916).
Sobre este assunto tratar-se-á com mais detalhes no
próximo capítulo.
88 A expressão erga omnes, de origem latina (latim erga, "contra", e omnes, "todos"), é usada
principalmente no meio jurídico para indicar que os efeitos de algum ato ou lei atingem todos os indivíduos de uma determinada população ou membros de uma organização, para o direito internacional. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Erga_omnes
30
2.3 DOS REGIMES DE BENS
2.3.1 Do Regime de Comunhão Universal
Até 1977, de acordo com Lisboa89, tinha-se o que se pode
dizer, uma idéia romântica sobre o casamento, pois estava baseado em uma
ordem histórica e moral, onde a união do homem e da mulher e a união de seus
patrimônios eram consideradas uma coisa só. Assim, o regime de comunhão
universal de bens era o regime legal no Brasil.
Com o advento da Lei que introduziu o divórcio (Lei nº
6.515/77), alterou-se a corrente doutrinária conservadora daquela época, que
colocava o marido como regente da sociedade conjugal. Aos poucos se notou que
este regime legal poderia beneficiar apenas um dos cônjuges, dissipando os bens
comuns, como, por exemplo, do marido que mantinha o controle dos bens de
ambos e com o rompimento do casamento continuaria com este controle, e da
mulher que entraria no casamento por mero interesse financeiro. Conforme
Monteiro90, "o regime da comunhão era ainda aquele que melhor favorecia as
ambições dos caça-dotes e das pescadeiras de maridos ricos".
Pensando nas hipóteses acima citadas algumas disposições
continuam vigentes no Código Civil de 2002, como aquelas referentes ao regime
dotal, como a fiança prestada pelo marido sem o consentimento da mulher e a
figura do bem reservado, ora desaparecido do direito brasileiro, com a
constitucional igualdade dos cônjuges.
No Código Civil91, o Regime de Comunhão Universal de
bens é disciplinado no Capítulo IV, entre os artigos 1667 a 1671.
Na Comunhão Universal há uma unificação. A
universalização patrimonial de todos os bens do marido e da mulher, ou seja,
tanto o patrimônio adquirido no estado civil anterior, quanto patrimônio havido
89 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Direito da família e das sucessões. p. 161/162. 90 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p. 155. 91 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado.
31
após a data do casamento, através de compra, recebido por doação como
adiantamento de herança, por herança em inventário ou por qualquer outra forma
de aquisição. Tanto o marido quanto a mulher têm a posse e propriedade em
comum de todos os bens, móveis e imóveis, cabendo a cada um deles exatos
50% (cinqüenta por cento).
Para Lisboa92: “Comunhão universal de bens é o regime
matrimonial por meio do qual todos os bens anteriores e posteriores à data do
casamento são comunicados ao outro cônjuge, que deles passa a se tornar
meeiro”.
Destaca Diniz93 que
Por meio do pacto nupcial os nubentes podem estipular que o regime matrimonial de bens será o da comunhão universal, pelo qual não só todos os seus bens presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do matrimonio, mas também as dívidas passivas tornam-se comuns, constituindo uma só massa.
Para que os nubentes possam se casar sob este regime de
bens é preciso que se firme um pacto antenupcial, que se dá mediante a lavratura
de escritura pública para que seja válido. Se não houver o casamento o pacto
perderá sua eficácia.
Apesar de ser “comunhão universal” este regime possui
algumas exceções quanto a determinados bens adquiridos e dívidas contraídas.
São excluídos da comunhão determinados bens e situações,
de acordo com o art. 166894, a seguir:
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
92 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 161. 93 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.
170. 94 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado.
32
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
O artigo Art. 1.65995 nos seus incisos de V a VII estabelece:
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os
proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos,
montepios e outras rendas semelhantes.
Em relação aos bens excluídos pode-se dizer que os débitos
anteriores ao casamento serão de exclusiva responsabilidade do cônjuge
devedor, sendo efetivados com os bens particulares ou com os bens trazidos pelo
mesmo à comunhão conjugal, salvo se provar serem dívidas de despesas com os
preparativos do casamento, compra dos móveis, enxoval ou festa. Em outros
casos, como em empréstimos para comprar imóvel do futuro casal ou para a
viagem de núpcias, a dívida contraída foi em benefício de ambos e assim terá que
ser efetivada por ambos96.
Pensão é a quantia recebida mensalmente por lei (Lei n°
8255/64), por decisão judicial, por ato inter vivos ou causa mortis, por
determinada pessoa, visando sua subsistência.
Meio-soldo corresponde à metade do soldo, que é o que os
militares reformados recebem do Estado (Dec. Lei .698/46, art. 108).
2.3.2 Comunhão Parcial de Bens
Foi introduzido, conforme Gonçalves97, pela Lei nº 6.515/77
e é o regime legal de bens que vigora nos casamentos desde então. Caso, ao
entrar com o processo de habilitação os nubentes não optarem por determinado
95 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado. 96 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado. 97 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 420-421
33
regime de bens, será automaticamente considerado o regime de comunhão
parcial. Neste regime não é necessário o pacto antenupcial.
Conceitua Lisboa98: “Comunhão parcial ou limitada de bens
é aquela que somente importa na comunicação dos bens adquiridos durante a
vigência do casamento.”
Ensina Gonçalves99 que
O regime da comunhão parcial é o que prevalece se os consortes não fizerem pacto antenupcial, ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz (CC, art. 1.640, caput). Por essa razão, é chamado também de regime legal ou supletivo (...). Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao passado (bens que cada cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro (bens adquiridos na constância do casamento) (...).
Sobre a Comunhão Parcial de Bens, o Código Civil100
estabelece que:
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.
Comunhão parcial de bens consiste na propriedade comum
dos bens do casal após a união formalizada. Tudo que os cônjuges adquirirem
depois de casados pertence a ambos. Neste regime reserva-se apenas o
patrimônio pessoal que cada um adquiriu antes do casamento.
98 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 160. 99 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 420-421. 100 Lei 10.406/2002, disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm
34
A comunhão parcial de bens é o regime onde os cônjuges
tem direitos iguais sob os bens adquiridos com o esforço de ambos, ficando os
bens trazidos de suas famílias resguardados.
Complementando, Madaleno101, em conformidade com o art.
1.658102 do CC, diz: “Nesse regime formam-se três massas de bens: os bens do
marido, os bens da mulher e os bens comuns.”
E afirma Gonçalves103: “Constitui, portanto, um regime misto,
formado em parte pelo da comunhão universal e em parte da separação.”
Entram na comunhão parcial, conforme o art. 1.660:
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
São excluídos da comunhão parcial, de acordo com o CC,
art. 1.659:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III - as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
101 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil - Do regime de bens entre os
cônjuges 3. ed., 2. tir., ver. atul. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.210. 102 "no regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevieram ao casal, na
constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes". 103 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 421
35
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Assim, se um dos nubentes firmar um compromisso de
compra e venda de um imóvel antes de contrair o matrimônio, mesmo que a
escritura definitiva for firmada depois do casamento, este será considerado como
bem pessoal deste, salvo se o outro nubente provar que contribuiu
financeiramente para o negócio104.
Em caso de doação de bens como adiantamento de
herança, por afinidade, sem a contemplação do cônjuge e por herança sem
inventário, a lei diz que são bens exclusivos daquele que os recebeu.
Santos105 acrescenta que
[...] desta divisão se exclui os bens que já existiam antes do casamento, aqueles que foram comprados com o dinheiro da venda do bem particular, os bens de uso pessoal, o rendimento do trabalho, e os bens recebidos por herança ou doações de terceiros.
Quando, por exemplo, um dos nubentes é herdeiro
necessário e seu pai lhe faz uma doação, há uma expectativa de direito, sem ter
que partilhar com o outro nubente.
Quando um dos nubentes antes de contrair o matrimônio
possuía um bem qualquer, vendendo-o posteriormente ao casamento, e
adquirindo uma casa com a renda desta venda, o imóvel em questão permanece
de sua exclusiva propriedade.
Em se tratando de obrigações contraídas pelo cônjuge
anteriores ao casamento, fica sua inteira responsabilidade, sendo respondidas
com seus bens exclusivos.
104 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 421. 105 SANTOS, Magda Raquel Guimarães Ferreira dos. Direito de família – O regime de bens no
casamento – disponível em http://www.clubedobebe.com.br/Palavra%20dos%20Especialistas/df-07-04.htm, acesso em 23 de nov. 2007.
36
Da mesma forma o cônjuge que praticou qualquer ato ilícito
responde sozinho por este, com seu patrimônio pessoal se a situação convier. Se
provar que o outro cônjuge também tirou proveito do ato, respondem ambos.
2.3.2.1 Administração dos Bens na Comunhão Parcial
O Código Civil de 2002 cita que “a administração do
patrimônio comum compete a qualquer dos cônjuges”, como manda o art. 1.663:
§1o As dívidas contraídas no exercício da administração obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os administra, e os do outro na razão do proveito que houver auferido. § 2o A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem cessão do uso ou gozo dos bens comuns.
§ 3o Em caso de malversação dos bens, o juiz poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges.
Explica Diniz106 que no § 2° que não será válido o comodato
de um imóvel do casal a terceiro, se não tiver o consentimento de se ambos. Se
não acordarem a respeito, o negócio será nulo.
No § 3" malversar significa fazer má administração, dilapidar
bens. Se o cônjuge responsável pela administração dos bens colocando em risco
o patrimônio comum, pode ser afastado do seu posto, igualmente como numa
sociedade empresária, através de decisão judicial, ficando obrigado a reparar o
dano, de acordo com o art. 186 (art. 159 do CC de 1916), independentemente de
situações que gerem uma possível indenização com a ruptura do vínculo do
casamento. Numa situação destas é justificado uma possível modificação do
regime de bens no curso do casamento (art. 1.639, § 2º).
Neste sentido, Diniz107 explica que:
106 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 174.
37
Qualquer dos cônjuges poderá administrar o patrimônio comum, sendo que pelas dívidas contraídas na gestão respondem os bens comuns e os particulares do cônjuge administrador. Os bens do outro consorte apenas responderão se se provar que este obteve algum lucro. Para que se ceda gratuitamente, o uso e gozo de bens comuns, será imprescindível a anuência de ambos os cônjuges. Se houver malversação, dilapidação ou desvio dos bens, o órgão judicante atribuirá a administração do patrimônio comum a um dos consortes.
No Código Civil, art. 1.664, “os bens comuns responderão
pelas obrigações contraídas pelo marido e pela mulher para atender aos encargos
da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal.”
Mas, por outro lado, compete ao cônjuge que tem a propriedade a administração
dos bens constitutivos do patrimônio particular, salvo se disposto em pacto
nupcial (art. 1.665).
De acordo com Venosa108, o art. 1.666 do CC destaca que
“as dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens
particulares e em benefício destes, não obrigam os bens comuns.”
Percebe-se, portanto, que no pacto antenupcial é possível
dispor que a administração ou a alienação dos bens particulares somente podem
ser realizadas com a autorização de ambos.
2.3.2.2 Dissolução da comunhão de bens
De acordo com o CC, art. 1.571, “A dissolução da sociedade
conjugal termina:
a) pela morte de um dos cônjuges; b) pela sentença que anula o casamento; c) pela separação judicial; d) pelo divórcio.”
107 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 174. 108 VENOSA, Silvio de Salvo; AZEVEDO, Álvaro Villaça. Código Civil anotado
38
Independentemente de qualquer das situações acima
citadas, a comunhão só será de fato extinta com a partilha dos bens. Se for
preciso, uma decisão judicial poderá indicar um dos cônjuges, ou um terceiro,
para administrar o patrimônio, sendo que os rendimentos dos negócios deverão ser
igualmente partilhados.
No entendimento de Venosa109 sobre este assunto:
Se o desfazimento da sociedade conjugal decorrer de separação ou divórcio, a partilha pode decorrer de mútuo acordo. Extinta a comunhão com a partilha, isto é, a divisão do ativo e do passivo, como decorrência lógica cessará a responsabilidade de cada cônjuge para com os credores do outro.
Para Pedroni110 a Dissolução do Vínculo Conjugal
[...] somente foi possível no Direito Brasileiro a partir da Emenda Constitucional nº 9, que instituiu o Divórcio no Brasil, gerando a Lei 6.515/77, a qual implantou uma nova ordem no Direito de Família, pois, anteriormente a ela, o Vínculo Matrimonial era indissolúvel durante a vida dos cônjuges, com exceção das possibilidades previstas na legislação quanto à nulidade ou anulação do Casamento.
A dissolução da comunhão de bens tem como efeito a partilha do
patrimônio comum, acarretando na cessão dos efeitos civis do casamento.
2.3.3 Separação de Bens
Conceitua Diniz111:
O regime de separação de bens (CC, art. 1.687) vem a ser
aquele que cada consorte conserva, com exclusividade, o domínio, posse e
109 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de Família. p. 126. 110 PEDRONI, Ana Lúcia. Dissolução do Vínculo Matrimonial – (des)necessidade da separação
judicial ou de fato com registro prévio para obtenção do divórcio no direito brasileiro. p. 82 111 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 183.
39
administração de seus bens presentes e futuros e a responsabilidade pelos
débitos anteriores e posteriores ao matrimônio.
No regime de separação, os bens adquiridos durante o
casamento pertencem a cada um, ou seja, durante o matrimônio cada qual
conserva o domínio de seus bens presentes e futuros, administrando e decidindo
sobre eles independente da vontade do outro, salvo exceções prevista em lei.
O regime da separação de bens apresenta, de acordo com
Lisboa112, duas condições básicas para a sua efetivação: a manifestação de
vontade dos nubentes (por pacto antenupcial, igual ao da comunhão universal) e
a imposição legal (quando há a obrigatoriedade de se optar por este regime).
Através do pacto antenupcial se estabelece quais os bens
que irão se comunicar, como por exemplo, a residência do casal, casa na praia,
carros, etc.113
O regime da separação torna-se obrigatório quando o
casamento se faz por força de sentença judicial (quando necessária a intervenção
do juiz de direito para suprir idade inferior à autorizada pela lei, para suprir
consentimento de pais e quando o consentimento é dado ao nubente menor, por
tutor legalmente nomeado), quando um ou outro nubente - seja o homem, seja a
mulher - tem idade superior a 60 anos. 114
Se qualquer dos pretendentes ao matrimônio for viúvo, e
houver patrimônio a partilhar da união anterior, obrigatoriamente deve-se optar
pelo regime de separação de bens, a fim de não prejudicar os direitos dos
herdeiros.115
Diz o Código Civil no Capítulo VI:
112 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p.
162/163. 113 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 114 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 115 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163.
40
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real. Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial.
É certo salientar que na separação de bens não é preciso
seguir ao “pé da letra” o que acima foi citado.
2.3.3.1 Da obrigatoriedade do regime de separação de bens
De acordo com o CC, é obrigatório o regime da separação
de bens no casamento, art. 1.641:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II - da pessoa maior de sessenta anos; III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Se a pessoa maior de 60 anos, provém de união estável
superior a 10 anos ou se tiveram filhos, esta regra não se aplica, fazendo com
que possam optar livremente o regime matrimonial de bens (art. 45 da Lei nº
6.515/77).116
A súmula 377 do STF117 afirma que no regime da separação
obrigatória deverão comunicar-se os bens adquiridos na constância do
matrimônio a título oneroso, como no regime da comunhão parcial de bens.
116 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 117 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 377.
41
2.3.3.2 Tipos de separação de bens
No pacto antenupcial há a opção da comunicabilidade ou
incomunicabilidade dos bens. Assim, de acordo com Gomes118, a separação de
bens pode ser:
a) Pura ou absoluta: estabelece que todos os bens adquiridos antes e depois do matrimônio são incomunicáveis, bem como os frutos e rendimentos. b) Limitada ou relativa: relaciona-se aos bens presentes, onde comunicam-se os frutos e rendimentos futuros como bem quiser.
O regime convencional da separação admite modificações
nos traços que o caracterizam em sua pureza, sem que por isso, se desnature,
transformando-se em regime comunitário.
2.3.3.3 Sub-Rogação de Bens
Acontece quando um dos cônjuges decide vender um bem
que lhe é exclusivo e que não se comunica no Regime de Bens, para ser aplicado
na aquisição de outro bem. Este bem adquirido permanece incomunicável, ou
seja, é tido como bem particular deste cônjuge119.
2.3.3.4 Bens Reservados
De acordo com Diniz120, estabelece a lei que a mulher que
exerce atividade lucrativa diferente da do marido poderá usar seus recursos na
aquisição de bens que serão reservados e por isso não se comunicam. Este
privilégio faz com que se criem diferentes situações possibilitando à mulher ter
seu patrimônio incomunicável, ainda que no Pacto Antenupcial o Regime de Bens
seja Comunhão Universal.
118 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 202/203 119 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 443 120 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 199/200.
42
Para alguns doutrinadores esta disposição legal contraria
dispositivo constitucional que estabelece entre o homem e a mulher igualdade de
direitos e deveres.
Salienta Diniz121 que a jurisprudência em geral tem admitido
que, pelo esforço comum dos cônjuges, mesmo se casados pelo regime de
separação de bens no estrangeiro, a comunicação destes bens adquiridos
durante o casamento. Não seria nada justo que esse patrimônio que é fruto do
trabalho dos mesmos, só pertencesse ao marido, por exemplo, apenas porque foi
ele quem fez a respectiva aquisição.
2.3.4 Do Regime de Participação Final nos Aqüestos
O Código Civil Brasileiro, conforme Gonçalves122, em seu
art. 1.672, inseriu este regime de bens, que é semelhante ao da comunhão
parcial, com uma diferença: os bens comprados durante o casamento pertencem
exclusivamente a quem os comprou, contudo, são divididos em partes iguais na
separação. Aqüestos são os bens adquiridos na vigência do matrimônio.
Lisboa123 conceitua:
Participação final nos aqüestos é o regime de bens em que cada cônjuge possui o seu patrimônio próprio, submetendo-se os bens adquiridos posteriormente à data do matrimônio à partilha no caso de dissolução da sociedade conjugal.
Já Gonçalves124 expressa que “Trata-se de um regime
híbrido, pois durante o casamento aplicam-se as regras da separação total e,
após a sua dissolução, as da comunhão parcial.”
O Código Civil, em seu Capítulo V, apresenta uma série de
disposições que visam disciplinar a apuração dos bens partíveis na separação
121 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. p. 188/189. 122 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 438 123 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 163. 124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 438.
43
dos cônjuges, evitando assim qualquer espécie de lesão ao direito do cônjuge que
até então figurava como não-proprietário e não-administrador.
2.3.4.1 Quanto a administração
Se não for feito um pacto antenupcial constando as regras
quanto ao patrimônio, cada cônjuge administrará os bens adquiridos
anteriormente e posteriormente ao matrimônio, tendo a liberdade de alienar bens,
salvo se estes bens forem móveis tendo que ter a autorização do outro cônjuge
(1.656, CC).
2.3.4.2 Da incomunicabilidade dos débitos efetivados durante a vigência
matrimonial
Relativamente às dívidas contraídas posteriormente ao
casamento, por um dos cônjuges, este responderá pelas mesmas, salvo se provar
que o crédito fora tomado também em favor do outro, total ou parcialmente,
fazendo com que ambos respondam pela dívida juntos (art. 1.677)125.
Se um dos cônjuges solver dívida contraída pelo outro e em
seu benefício exclusivo, poderá imputar tal dívida paga à meação do devedor
beneficiado com seus bens exclusivos (art. 1.678)126.
2.3.4.3 Da apuração do montante dos aqüestos
Conforme Lisboa127, no art. 1.674 o CC destaca os bens que
se qualificam como bens aqüestos:
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios: I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram; II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
125 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 126 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 127 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164.
44
III - as dívidas relativas a esses bens. Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis.
De acordo com os ensinamentos de Lisboa128, a participação
dos aqüestos trata-se de um regime misto, pois pode-se encontrar características
de outros dois regimes:na vigência do casamento, aplicam-se normas
semelhantes ao do regime da separação de bens (em que cada cônjuge
administra livremente os bens que tenha trazido para a sociedade conjugal, assim
como aqueles que adquirir, por si e exclusivamente, durante o matrimônio) e, ao
final do matrimônio, são aplicadas as regras que se assemelham ao regime da
comunhão parcial (quando da dissolução da sociedade conjugal por separação,
divórcio ou morte de um dos cônjuges).
No art. 1679 e seguintes encontramos que devem ser
partilhados em quotas iguais os créditos estabelecidos com o trabalho conjunto
dos cônjuges, bem como determina o condomínio em mesmas condições na
hipótese dos bens terem sido adquiridos na constância do casamento com o
montante recebido deste trabalho. Aos cônjuges será lícita a administração
conjunta destes bens e, em caso de dissolução do matrimônio, a dissolução do
condomínio nos modos legais. Se não houver acordo entre os cônjuges, que se
faça a venda e a divisão igual do valor auferido. Observa-se que as coisas móveis
pertencentes à um dos cônjuges que é devedor deverão servir para pagar seus
credores, salvo se o cônjuge não devedor conseguir provar que o bem sob litígio
é também bem de seu uso pessoal, como uma linha telefônica utilizada
exclusivamente pelo não-devedor, uma linha de telefonia móvel nessas mesmas
condições, um veículo automotor utilizado da mesma forma.129
Já em relação aos bens imóveis o Código respeita o velho
princípio de que titular do domínio é aquele que constar do registro, mas
excepciona no parágrafo único do art. 1.681, dispondo que uma vez impugnada a
128 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 129 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164.
45
titularidade do bem (por um credor do cônjuge não-proprietário, por exemplo),
caberá ao proprietário provar a aquisição regular do bem ou dos bens.130
Quando da verificação do montante dos bens aqüestos,
aqueles ora doados por um dos cônjuges em detrimento da meação de outro
terão seu valor apurado de acordo com a data do momento da dissolução do
matrimônio, sendo computado ao monte como forma de se repor a parte lesada.
O cônjuge prejudicado ou seus herdeiros podem optar por reivindicar o bem
doado (art. 1.675) e, se for o caso, requerer a compensação do bem doado por
outro do mesmo valor. O mesmo se dá com os bens alienados em detrimento da
meação (art. 1.676)131.
Em qualquer hipótese, como na dissolução da sociedade
conjugal por morte, nem o cônjuge, nem os herdeiros do devedor, podem sanar
as dívidas exclusivas daquele cônjuge que sejam superiores à sua meação,
conforme dispõe o art. 1.686132.
De acordo com Lisboa133, após se verificar o montante a ser
partilhado e forem descontadas as dívidas imputáveis em comum ou a cada qual
dos cônjuges pelas regras da lei, faz-se a partilha. De acordo com o art. 1.684,
“se não for possível nem conveniente a divisão de todos os bens em natureza,
calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para reposição em dinheiro ao
cônjuge não-proprietário. Parágrafo único. Não se podendo realizar a reposição
em dinheiro, serão avaliados e, mediante autorização judicial, alienados tantos
bens quantos bastarem.”
130 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 131 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 132 LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164. 133LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 164.
46
2.4 A EVOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL
De acordo com Gonçalves134, a evolução da União Estável
se deu em 1919 com a lei 3.724 (acidente de trabalho). Tratava da união estável
equiparando a figura do companheiro com a do cônjuge, estabelecendo que se
fosse comprovado que a companheira era sustentada pelo homem, esta seria
equiparada à esposa.
E complementa: a Lei da Previdência Social, lei 3.807 de
1960, nesta mesma linha de pensamento, permitiu que fosse incluída a
companheira como dependente desde que o falecido não tivesse expressamente
declarado a existência de dependentes.
Em 1973, com a Lei de Registros Públicos, autorizou-se que
a mulher que fosse solteira, separada judicialmente ou viúva, companheira de
homem que se enquadrasse em uma dessas condições, pudesse requerer a
averbação do nome do companheiro em seu registro.
Até então era preciso o reconhecimento da sociedade de
fato para que a união entre o homem e a companheira surtisse efeitos legais.
Com a Constituição de 1988, a Lei Maior do país, em seu
art. 226, §3º, ocorreu o reconhecimento da união estável como entidade familiar,
equiparando-a ao casamento, onde claramente se expressa a existência de
direitos do companheiro. Assim traçaram-se as primeiras linhas deste instituto.
Conceitua-se União Estável como a “relação íntima e
informal, prolongada no tempo e assemelhada ao vínculo decorrente do
casamento civil, entre sujeitos de sexos diversos (convenientes ou
companheiros), que não possuem qualquer impedimento matrimonial entre si”135.
No CC de 2002, o TÍTULO III, art. 1723 ao 1727, trata da
União Estável da seguinte forma. Vejamos o art. 1723 e seus incisos 1º e 2º:
134 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito de família. p. 540. 135LISBOA, Roberto Senise. Manual do direito civil: direito de família e das sucessões. p. 213.
47
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.
De acordo com o art. 1.725 do CC, na união estável aplica-
se as regras do regime de comunhão parcial de bens. A exceção é se o casal faz
um contrato escrito entre os companheiros.
Em conformidade com o art. 226, §3º da Constituição
Federal136, o art. 1726 do CC permite, através de pedido judicial e assento em
Registro Civil, a conversão da união estável em casamento, embora seja de
jurisdição voluntária.
O elemento primordial para a caracterização da união
estável, é a não eventualidade, ou seja, a continuidade da relação. Tem que
haver o desejo de se constituir família, levando em consideração determinados
elementos prescritos em lei. Caso isso não aconteça, prevalece o art. 1.727, onde
“as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar,
constituem concubinato”. Nestes casos a constituição de uma união estável fora
do casamento tem que ser caracterizada pela separação de fato do(s) cônjuge(s).
Os bens adquiridos na constância da união estável, por um
ou por ambos os conviventes, são considerados frutos do trabalho e da
colaboração de ambos. Numa separação, serão divididos em partes iguais, salvo
estipulação contrária por escrito.
136 BRASIL. Constituição Federal do Brasil. 1998.
48
2.4.1 Os direitos e deveres do companheiro
Somente em 1994, com o advento da Lei 8.971, é que se
reconheceu os direitos do companheiro. O art. 2º dizia que aqueles que viviam
como pessoa solteira, separada judicialmente, divorciada ou viúva participariam
da sucessão do companheiro, observadas algumas condições:
a) Enquanto não fosse constituída nova união, o companheiro sobrevivente teria direito ao usufruto da quarta parte dos bens do de cujus, se tivesse filhos desse ou comuns; b) Se não houvesse filhos, teria direito ao usufruto de metade dos bens, mesmo havendo ascendentes sobreviventes; e c) Na falta de descendentes e ascendentes, o companheiro teria direito à totalidade dos bens.
Assim, para estabelecer definitivamente a igualdade entre
cônjuge e companheiro a Lei 9.278 de 1996, em seu art. 1º, reconheceu como
entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e
uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.
No que diz respeito aos deveres do companheiro, cita o art.
1724 do CC que “as relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos
deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação
dos filhos”, ou seja, ela prevê que os companheiros têm o dever de respeito e
consideração mútuos e para com os filhos zelar pela saúde e educação.
2.4.2 A discriminação do companheiro frente ao cônjuge
Apesar do Código Civil de 2002 dar destaque para a união
estável e equipará-la ao regime da comunhão estável, nota-se que o companheiro
ainda não é reconhecido como cônjuge. No caso de não haver contrato escrito,
no que diz respeito às relações patrimoniais, o cônjuge é denominado herdeiro
49
necessário. Já o companheiro, na união estável é considerado herdeiro
ordinário.
Na união estável, o companheiro fará jus a 1 quota
equivalente, que equivale a mesma que for atribuída por lei ao filho, se concorrer
com filhos comuns. Em casos de descendentes apenas do autor da herança, o
companheiro terá direito à metade do que couber a cada descendente, se
concorrer com estes. Se, por sua vez, o companheiro concorrer com os outros
parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança.
Apesar disso, em relação ao direito à alimentos recíproco
(art. 1694, CC), o companheiro equipara-se ao cônjuge. Em outros aspectos, cita-
se o acréscimo o do patrimônio do companheiro ao seu, bem como a de proceder
à adoção.
No próximo capítulo analisar-se-á a possibilidade de
alteração do Regime de Bens no ordenamento jurídico brasileiro. Seus
entendimentos legais, doutrinários e jurisprudenciais.
CAPÍTULO 3
DA ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
3.1 ENTENDIMENTO LEGAL
Durante 87 anos vigorou no Brasil a legislação que impedia
a alteração do Regime de Bens adotado antes matrimônio. Isso se deve à
preocupação dos legisladores da época, em relação aos bens comuns e
individuais do casamento. Era uma forma de proteção. Numa sociedade machista,
onde a mulher ocupava um papel secundário e o marido era tido como membro
superior do matrimônio, a imutabilidade do Regime era uma ferramenta de grande
importância137.
De acordo o Código Civil de 1916138, vigente até 2002, o
Regime de Bens era imutável, ou seja, após a realização do casamento não era
permitido a mudança (art. 230), não importando se o mesmo tivesse sido
escolhido pelos nubentes ou imposto pelo Código Civil, como ainda acontece
quando os nubentes não expressam a escolha por um dos regimes disponíveis.
A única forma de alteração do Regime, de acordo com
Magalhães139 era que somente com o divórcio ainda seria possível alterar o
primitivo regime de bens, desde que os ex-cônjuges casassem novamente,
adotando regime diverso do anterior.
A evolução da sociedade civil e dos costumes em geral fez
com que os legisladores percebessem que as normas jurídicas tinham que se 137 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo Código Civil brasileiro. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 230 138 BRASIL, Código Civil. Lei n. 3.071, de 01 de janeiro de 1916. Regula os direitos e obrigações
de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações. 139 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo Código Civil brasileiro. p. 230-231.
51
adequar a todas estas mudanças que vinham acontecendo. Mesmo assim, a Lei
que instituiu o Novo Código Civil Brasileiro140, por 29 anos tramitou no Congresso
Nacional até ser promulgada pelo Presidente da República em 10 de janeiro de
2002 (D.O.U. de 11 de janeiro de 2002).
Assim, com o advento do Código Civil de 2002 esta
necessidade tornou realidade e a opção de mudança do Regime de Bens válida,
a partir de então. Diz o CC, em seu art. 1.639, § 2º que “É admissível a alteração
do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os
direitos de terceiros”.
Para que seja possível a mudança do Regime de Bens é
preciso que se preencham alguns requisitos, de acordo com Motta141, quais
sejam: que a alteração do regime de bens seja concedida por um Juiz; que haja
razões relevantes e fundamentadas para o pedido; que a alteração seja vontade
de ambos os cônjuges e que sejam protegidos os direitos de terceiros, como, por
exemplo, eventuais credores do casal.
3.1.1 Alteração concedida por juiz
O pedido de mudança do Regime de bens é feito através de
advogado habilitado, de acordo com o Código de Processo Civil142, sendo
necessário procuração com poderes especiais, sendo o requerimento feito em
conjunto – pelo marido e pela mulher.
3.1.2 Razões relevantes e fundamentadas para o pedido
As razões que levam os cônjuges a entrarem com o pedido
de Alteração do Regime de bens devem ser fundamentadas de acordo com os
interesses de ambos. Esses interesses têm que ir de encontro aos preceitos que
indiquem a necessidade de alteração. Deve ter justificativa plausiva e coerente
140 BRASIL. Novo código civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 141 MOTTA, Adriana Villarino Dantas. Alteração de regime de bens de união antiga evita
fraudes. Revista Consultor Jurídico, 13 de setembro de 2005. Disponível em <http//www.conjur.estadao.com.br/static/text/37827,1>. Acesso em 08 mai 2008.
142 BRASIL. Código de Processo Civil. Decreto-lei n. 3.689, de 03 de outubro de 1941.
52
com a condição dos cônjuges, respeitando a vontade de cada um para uma
mesma causa. Podem variar dependendo das circunstancias que motivam o
pedido dentro do âmbito familiar. O que importa é que sejam suficientes para o
exame e decisão do juiz, dentro dos critérios da razoabilidade.
3.1.3 Vontade de ambos os cônjuges
O pedido deve expressar a vontade de ambos, não pode ser
uma vontade unilateral. Ou seja, se a mulher não concordar com a mudança, o
marido não poderá fazer nada, e vice-versa. O interesse também deve ser
comum.
Esta restrição é analisada por Madaleno143 diz que
Se tal fato não ocorresse, acabaria por permitir aquilo que o legislador sempre buscou evitar, o temor de um cônjuge fazer prevalecer coativamente a sua vontade, pouco importando se a alteração do regime deva ser justificada e que o magistrado necessite verificar da procedência das razões por ele aventadas.
3.1.4 Proteção dos direitos de terceiros
É de se deixar claro que o pedido de Alteração não deve
afetar os direitos de terceiros, que podem ser credores dos cônjuges ou
determinados contratantes. Se isso for comprovado o pedido será nulo. Sendo
assim, é preciso que o profissional incumbido do pedido seja cuidadoso
remetendo às fazendas públicas das três esferas de governo os ofícios referente
à regularidade fiscal dos cônjuges (sine qua non).
O CC não especifica claramente quais os provimentos
devem ser observados pelo magistrado para o devido pedido de Alteração do
Regime de Bens em nome dos cônjuges.
Sobre estes provimentos esclarece Oliveira144 que
143 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil - Do regime de bens entre os
cônjuges. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 202.
53
Além dessas questões preliminares, outros problemas surgem quanto à alteração do regime de bens, como o procedimento que deverá ser adotado e o modo de resguardar o direito de terceiros. Visando sanar estas dificuldades, alguns Tribunais de Justiça, como o da Bahia e o do Rio Grande do Sul, editaram provimentos estabelecendo diretrizes que deverão ser observadas pelo magistrado.
Em síntese, os provimentos estabelecem que:
- o procedimento será de jurisdição voluntária;
- deverá ser publicado edital com prazo de 30 dias, a fim de imprimir a devida publicidade e resguardar direito de terceiros;
- a intervenção do Ministério Público será obrigatória;
após o trânsito em julgado da sentença, deverão ser expedidos mandatos de averbação aos cartórios de registro Civil e de Imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis;
- a competência para modificação do regime de bens é do Juízo de Família.
Apesar da omissão nos provimentos analisados, será imprescindível que os cônjuges declarem os bens comuns e particulares, pois, dependendo do regime para o qual requererão a alteração, deverá ser feita a partilha dos bens previamente, sendo a mesma homologada judicialmente e registrada nos cartórios competentes.
Deste modo, podemos dizer que se forem observados os
requisitos iniciais e seguidos os provimentos estabelecidos, resta-se o aguardo da
decisão do juiz.
144 OLIVEIRA, Rebeca Vieira Barros de. Implicações da modificação do regime de bens para
casados. Editado em 16/11/2006. Disponível em http://www.trinolex .com/artigos _view.asp?icaso=artigos&id=3034. Acesso em 16 mai 2008. p. 2.
54
3.2 ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO
A alteração do Regime de Bens trouxe entre os
doutrinadores idéias questionadoras a respeito do tema. Neste sentido, expressa
Dias145:
O tema ganha especial interesse porque, nas disposições finais e transitórias (CC. 2.039), de forma singela, é estabelecida a permanência do regime de bens dos casamentos celebrados na vigência do Código Civil de 1916. Ora, o que foi determinado foi a mantença do regime que existia, e não a sua imodificabilidade... mutabilidade representa, em verdade, característica do regime matrimonial de bens no casamento, e não efeito do regime. A alegação de que se estaria desrespeitando o ato jurídico perfeito e o direito adquirido acaba por reconhecer, ao fim e ao cabo, a aquisição não de um direito, mas de restrição a um direito.
Dias146 continua sua observação
Evidentemente, o legislador não fora atento ao posicionamento tomado com relação à Lei do Divórcio (Lei 6.515/77), que permitiu divorciarem-se casais unidos por casamentos anteriores a ela. Cabe, agora, à jurisprudência construir um posicionamento de segurança jurídica para todos.
Realmente o CC de 2002 deixa dúvidas sobre os
casamentos celebrados sob vigência do CC de 1916. Neste sentido, Madaleno147
faz seu comentário
(...) considero que o legislador poderia ser suficientemente claro e pontual, e ditar no artigo 2.039 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que os casamentos celebrados sob a autoridade do Código de 1916 seguiriam com seu regime de bens imutável.
145 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 189. 146 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 190. 147 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil - Do regime de bens entre os
cônjuges. p. 203
55
Contudo não faz essa ressalva e nem assim permite concluir o artigo 2.039 sob comento e mais do que isso, o próprio § 2º, do artigo 1.639, do atual Código Civil não restringe a alteração do regime de bens somente aos casamentos celebrados a contar da sua vigência.
Começa que o novo Código Civil, no seu artigo 2.045 revoga inteiramente a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – o Código Civil anterior. Logo, não há como imigrar para o artigo 230 (CC de 1916), abrogado, a partir da ressalva extraída do artigo 2.039 do novo Código Civil, quando diz que os regimes anteriores continuarão sendo respeitados e regulados pelos princípios da legislação passada, mas nada impede que possam ser alterados pela legislação presente.
Apesar destes percalços a posição dos doutrinadores é uma
só: todos acreditam que a mutabilidade do Regime de Bens é totalmente válida,
inclusive o ilustre Madaleno148 que nos ensina que a restrição que acerca o
pedido (vontade mútua dos cônjuges) faz com que a igualdade do homem e da
mulher prevaleça.
Considerando a igualdade dos cônjuges e dos sexos, consagrada pela Carta Política de 1988, soaria sobremaneira herege aduzir que em plena era de globalização, com absoluta identidade de capacidade e de compreensão dos casais, ainda pudesse um dos consortes, apenas por seu gênero sexual, ser considerado, mas frágil, mais ingênuo e com menor tirocínio mental do que o seu parceiro conjugal. Por esse prisma, desacolhe a moderna doutrina a defesa intransigente da imutabilidade do regime de bens, pois homem e mulher devem gozar da livre autonomia de vontade para decidirem acerca da mudança incidental do regime patrimonial de bens, sem que o legislador possa seguir presumindo que um deles possa abusar da fraqueza do outro.
148 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil - Do regime de bens entre os
cônjuges. p. 199.
56
A Mutabilidade do Regime de bens é um assunto bem
difundido lá fora. Enquanto que no Brasil, durante a vigência do CC de 1916 até a
introdução do Novo CC de 2002, a imutabilidade era proibida, em países como a
Itália era permitida desde a década de 40. É o que nos explica Passarelli149:
Fazendo uma rápida referência ao Direito comparado, na Itália, essa alteração é possível desde 1943, com o Código Civil italiano. A modificação da convenção patrimonial anterior ou sucessiva ao matrimônio não gera efeitos se o ato não for estipulado com o consentimento de todas as pessoas que participaram da mesma convenção ou de seus herdeiros. Na Itália, não se exige intervenção judicial para essa modificação.
Na Espanha, também é possível essa modificação. Segundo o artigo 1.317 do Código Civil espanhol, a modificação do regime econômico matrimonial realizado durante o matrimônio, não prejudicará em nenhum caso os direitos adquiridos por terceiros. No entanto, o ato é feito por escritura pública e averbado no registro civil.
Na França, de acordo com o artigo 1396 do Código Civil francês, a alteração do regime de bens pode ser feita quantas vezes o casal quiser, e pode ser feita por notário, porém, depende de homologação judicial. Numa peculiaridade da legislação francesa, a modificação do regime de bens deve ser levada ao registro civil e só produzirá efeitos três meses após a ação.
Na Alemanha, o regime de bens também pode ser livremente modificado, ressalvados os direitos de terceiros, segundo o parágrafo 1.415 do Código Civil alemão, e também deve ser levado aos registros públicos para terem oponibilidade erga omnes, segundo o parágrafo 1.412, alínea II, do BGB. Durante a realização dessa pesquisa, não encontrei elementos para identificar se o registro público de que trata esse artigo seria o registro civil ou o registro de imóveis.
149 PASSARELLI, Luciano Lopes. Alteração do regime de bens e o registro de imóveis.
Palestra do IX Seminário de Direito Notorial e Registral . Disponível em <http://www.irib.org.br/notas _noti/boletimel2879.asp>. Acesso em 08 mai 2008.
57
Sousa e Costa150 salientam que a Alteração do Regime de
Bens se faz mediante a aceitação mútua do marido e da mulher e que o pedido
deverá ser avaliado por um juiz para só assim ter validade legal. Afirmam:
De acordo com o novo texto legal, a alteração do regime de bens não pode se dar por iniciativa de apenas um dos cônjuges, ou seja, se a mulher não concordar com a mudança, o marido nada pode fazer – e vice-versa. Essa foi a forma encontrada pelo legislador para não fomentar demandas entre cônjuges.
Além disso, é importante ressaltar que não basta que o casal concorde em alterar o regime matrimonial. É imprescindível, pois, que essa pretensão seja submetida à apreciação de um Juiz de Direito, que, além de analisar a relevância das razões que ensejam o pedido, deverá certificar-se de que o seu deferimento não resultará em prejuízos a terceiros ou mesmo a um dos consortes. Essa foi a forma encontrada pelo legislador para evitar fraudes e pressões contra a parte mais fraca da relação, quer seja do ponto de vista econômico, quer do psicológico.
Sobre o pedido de alteração, Dias151 alerta que:
o pedido motivado de ambos os cônjuges, visando à mudança do regime do seu casamento, deverá merecer o mesmo tratamento dos proclamas: ser dado a publicidade, tanto mediante edital afixado à porta do oficial do registro como, também, na imprensa. Fora daí, é clandestinidade! É perigo de fraude...Lesão a terceiros! Os casamentos são ostensivamente públicos...Pois que a mudança do regime de bens também não o seja!
E Madaleno152 complementa
Todas as cutelas advertidas por Orlando Gomes foram consideradas no § 2º do artigo 1.639, ao exigir autorização judicial por requerimento conjunto, uma vez apurada a procedência das
150 SOUSA, Mário Márcio de Almeida e COSTA, Rafael Lima da. O novo código civil e a
possibilidade de mudança do regime matrimonial. 2003. Disponível em <http//www.tre-ma.gov.br/servicos/artigos/Novo_CC_matrimonial.pdf>. Acesso em 08 mai 2008.
151 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 190. 152 MADALENO, Rolf. Direito de família e o novo código civil - Do regime de bens entre os
cônjuges. p. 199.
58
razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Diante das dificuldades Rizzardo153 afirma
[...] não será fácil a passagem de um regime para outro, e não se estendendo a faculdade a um pedido isolado de um dos cônjuges, por mais perdulário que seja o outro, e sequer interessado se todo o patrimônio formado é fruto da atividade de um deles somente.
É certo destacar que há situações que podem impedir a
alteração do Regime de Bens, de acordo com Oliveira154
(...) a mudança será permitida desde que não haja violação à norma cogente. Dito diversamente, em alguns casos os cônjuges não poderão alterar seu regime de bens, como, por exemplo, se forem casados pelo regime da separação obrigatória, nos casos estabelecidos nos incisos I e III do artigo 1.641, referentes a violação de causas suspensivas e à dependência de suprimento judicial para contrair matrimônio.
A imposição do regime da separação obrigatória de bens pelo legislador visa a proteção dos cônjuges ou de terceiros, sendo considerada pela doutrina como uma sanção patrimonial à inobservância dos requisitos legais à celebração do matrimônio. Uma vez não mais presentes os motivos que determinam a imposição desse regime, poderão os cônjuges requerer a alteração do regime obrigatório de bens, desde que cessados os impedimentos que geraram a imposição dessa sanção.
O artigo 1.641, inciso II, impõe o regime de separação obrigatória de bens para as pessoas que se casarem com mais de 60 anos. Sendo certo que já há pronunciamento judicial (Apelação Cível 70004348769 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) no sentido da norma em referência violar o princípio da dignidade da pessoa humana (CRB/1998, art. 1º, III), poderão os cônjuges solicitar a alteração do regime , com fundamento na inconstitucionalidade do artigo 1. 641, II, do Código Civil de 2002
153 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família (de acordo com a Lei 10.406, DE 10.01.2002. 2. ed.
São Paulo: Forense, 2004, p. 630. 154 OLIVEIRA, Rebeca Vieira Barros de. Implicações da modificação do regime de bens para
casados. Editado em 16/11/2006. Disponível em http://www.trinolex .com/artigos_view.asp? icaso=artigos&id=3034. Acesso em 16 mai 2008. p. 2.
59
acima mencionado.
Outro exemplo destacado pela doutrina, de violação à norma cogente que impedirá a modificação do regime de bens, dá-se quando em virtude da alteração o cônjuge deixa de ser herdeiro necessário de seu consorte. Isso ocorre, por exemplo, na mudança do regime da separação total ou comunhão parcial para a comunhão universal. Nestes casos, o cônjuge estaria perdendo a qualidade de herdeiro necessário, na hipótese de concorrer na sucessão com descendentes do falecido. Esse posicionamento não é imune a críticas, pois se argumenta que o cônjuge teria apenas um direito eventual em relação à herança de seu consorte, já que só há efetivamente direitos hereditários com a abertura da sucessão.
A Alteração do Regime de Bens é um tema que apresenta –
e ainda apresentará - discussões e questionamentos quanto ao exposto em lei.
Acredita-se que os legisladores ainda podem mudar certos conceitos e, de
alguma forma, tornar o disposto em lei mais direitos e objetivos. Enquanto
aguardamos as soluções resta-nos estabelecer certas diretrizes através das
jurisprudências e assim fazer o que é certo e justo.
3.3 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL
Os tribunais brasileiros têm-se mostrado atuantes em
relação aos pedidos judiciais de Alteração do Regime de bens. Isso mostra que
muitos brasileiros estão se beneficiando da norma jurídica em favor de suas
questões matrimoniais.
Motta155 relata com detalhes as primeiras decisões
favoráveis da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás, onde o relator do
recurso foi o Des. Rogério Arédio Ferreira (Apelação cível 200402376204, j.
155 MOTTA, Adriana Villarino Dantas. Alteração de regime de bens de união antiga evita fraudes.
Revista Consultor Jurídico, 13 set 2005. Disponível em <http//www.conjur. estadao.com.br/static/text/37827,1>. Acesso em 08 mai 2008.
60
23.06.2005) e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, 6ª Câmara
Cível, sendo relator o des. Mário Roberto Manheimer (Apelação Cível
22378/2004, j. 12.07.2005).
Um dos primeiros casos de alteração de regime de bens de
casamentos com fundamento no artigo 1.639, parágrafo 2º julgados em nosso
país foi apreciado pela 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás
(apelação cível 200402376204, j. 23.06.2005), que decidiu pela procedência do
pedido formulado pelos cônjuges, autorizando a alteração do regime de
comunhão universal de bens de um casal para o regime da separação de bens,
resguardando eventuais direitos de terceiros.
Não se pode admitir que, com a entrada em vigor do
Estatuto Civil, passe a existir distinção entre pessoas que vivam sob o mesmo
instituto – o casamento – sob pena de se infringir o princípio da isonomia,
consagrado constitucionalmente.
Naquela hipótese, os cônjuges alegavam que seriam
casados sob o regime de comunhão universal de bens e que constituíram uma
sociedade por cotas de responsabilidade limitada, em que cada um dos sócios
detém um porcentual de 50% das cotas do capital. Segundo alegavam os
cônjuges, o novo Código Civil, no artigo 977, proibiria que os cônjuges contratem
sociedade, entre si ou com terceiros, quando o casamento for celebrado sob o
regime da comunhão universal de bens, razão pela qual seria indispensável, para
a manutenção da sociedade, a alteração do regime de bens para o da separação
total de bens.
O juiz de primeiro grau rejeitou o pedido de alteração do
regime de bens e o casal recorreu ao Tribunal de Justiça de Goiás. O
desembargador Rogério Arédio consignou em seu voto que restou demonstrando
nos autos satisfatoriamente que não existe qualquer prejuízo ao casal ou a
terceiros com a mudança e que o novo Código Civil não impede a mudança do
regime de bens para casamentos celebrados antes da vigência do atual Código
de 2002, e sim “preserva, na íntegra, os regimes de bens vigentes quando da
edição do novo Código Civil, na medida em que foram introduzidas algumas
61
pequenas alterações ao disciplinar os regimes matrimoniais, não podendo a lei
nova ferir direitos já consolidados”.
Por sua vez, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro também decidiu recentemente favoravelmente à possibilidade de
alteração do regime de bens em hipótese em que os cônjuges, igualmente, eram
únicos cotistas de uma sociedade limitada. O julgamento em questão foi proferido
pela 6ª Câmara Cível, sendo relator o desembargador Mário Roberto Manheimer
(Apelação Cível 22378/2004, j. 12.07.2005).
Em seu voto, o desembargador relator ressaltou que a regra
do parágrafo 2º do artigo 1.639 do Código Civil de 2002 é regra de efeitos
meramente patrimoniais e que não interfere no vínculo matrimonial dos cônjuges,
não contrariando, portanto, as regras de proteção à família e filiação
contemplados na Constituição Federal.
Além disso, ressaltou o desembargador Mário Roberto
Manheimer que, diante do artigo 977 do Novo Código Civil, que veda a sociedade
entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de bens, a alteração
do regime de bens em alguns casos se tornou medida essencial à preservação de
direitos e, em especial, à manutenção de sociedades comerciais entre os
cônjuges.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
decidiu através da desembargadora Maria Berenice Dias acolher o Processo n°
70011082997, de 01/06/2005, de pedido de alteração do Regime de Bens de
casamento celebrado na vigência do Código Civil de 1916, a saber:
EMENTA: REGISTRO CIVIL. REGIME DE BENS. ALTERAÇÃO. CASAMENTO CELEBRADO NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.
A POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO REGIME MATRIMONIAL DE BENS CONFERIDA AOS CÔNJUGES PELO CÓDIGO CIVIL NÃO AFRONTA O ATO JURÍDICO PERFEITO E O DIREITO ADQUIRIDO. HOUVE UMA OTIMIZAÇÃO DO
62
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE DO CASAL, CONSAGRADO NO PRINCÍPIO DA LIVRE ESTIPULAÇÃO DO PACTO (ART. 1.639 DO CÓDIGO CIVIL), DE FORMA QUE SE REVELA DESCABIDO AFASTAR TAL AMPLIAÇÃO DE DIREITOS DOS CASAMENTOS CELEBRADOS SOB A ÉGIDE DO ANTIGO ESTATUTO CIVIL. APELO PROVIDO156.
O Tribunal de Justiça do PR, através da relatora Exma. Sra.
Ministra Nancy Andrighi, através do Recurso Especial n. 821.807-PR
(2006/0036029), deu parecer contrário ao Apelo provido acima:
EMENTA: CIVIL - REGIME MATRIMONIAL DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL - CASAMENTO OCORRIDO SOB A ÉGIDE DO CC⁄1916 (LEI Nº 3.071) - POSSIBILIDADE - ART. 2.039 DO CC⁄2002 (LEI Nº 10.406) - CORRENTES DOUTRINÁRIAS - ART. 1.639, § 2º, C⁄C ART. 2.035 DO CC⁄2002 - NORMA GERAL DE APLICAÇÃO IMEDIATA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO157.
O Tribunal de Justiça de MG deu seu parecer sobre o pedido
de alteração do regime de bens. Vejamos:
EMENTA: CIVIL CASAMENTO - CELEBRAÇÃO NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL ANTERIOR - REGIME DE BENS - ALTERAÇÃO - POSSIBILIDADE APELAÇÃO CÍVEL Nº - COMARCA DE POÇOS DE CALDAS - RELATOR: DES. MOREIRA DINIZ - NÃO OBSTANTE CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL DE 1916, O CASAMENTO PODERÁ TER SEU REGIME DE BENS ALTERADO, DESDE QUE SATISFEITOS OS REQUISITOS DO § 2º DO ART. 1.639 DO ATUAL CÓDIGO CIVIL, NA MEDIDA EM QUE ALI NÃO SE EXCEPCIONARAM OS CASAMENTOS ANTERIORES, TAMBÉM NÃO O FAZENDO O ART. 2.039, SALVO NO TOCANTE À
156 PORTO ALEGE. Tribunal de Justiça. AC nº 70011082997 - sétima câmara cível de vacaria.
desa. maria berenice dias (relatora-presidente), julgado em 01 jun 2005. revista de jurisprudência nº 247. disponível em <http// http://www.tj.rs.gov.br/site_php/noticias /mostranoticia.php?assunto=1&categoria=1&item=37878>. acesso em 15 mai 2008.
157 CURITIBA. Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 821.807-pr (2006/0036029-5). relator: ministra nancy andrighi. julgado em 19 out 2006. disponível em < http://www.cc2002. com.br/noticia.php?id=354>. acesso em 15 mai 2008.
63
RESSALVA DA INALTERABILIDADE AUTOMÁTICA DO REGIME. DESAPARECENDO A MOTIVAÇÃO QUE IMPEDIA A ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS DO CASAMENTO, NÃO SE JUSTIFICA A DISTINÇÃO ENTRE CASAMENTOS NOVOS E ANTIGOS, UMA VEZ QUE O INSTITUTO É ÚNICO E, EM SE TRATANDO DE SITUAÇÃO QUE EXIGE REQUERIMENTO CONJUNTO, NÃO HAVERÁ PREJUÍZO PARA OS CÔNJUGES. A SENTENÇA É IRRESPONDÍVEL. NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO. 158
Em Santa Catarina o TJ, através do Relator Des. Luiz Carlos
Freyesleben, deu Recurso Desprovido a Apelação cível nº 2002.024914-4, de 27
de Março de 2003:
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGIME MATRIMONIAL DE BENS. PROCEDIMENTO ESPECIAL DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. AUSÊNCIA DE LIDE. ALEGAÇÃO DE VÍCIO DO CONSENTIMENTO (COAÇÃO). INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA IRREVOGABILIDADE DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES. RELATIVIZAÇÃO DA IMUTABILIDADE. TEMPUS REGIT ACTUM. POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO EM PROCESSO LITIGIOSO. CARÊNCIA DA AÇÃO RECONHECIDA. RECURSO DESPROVIDO. 159
Em outra decisão do TJ de Santa Catarina, através da
Relatora Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, deu Recurso Desprovido a
Apelação cível nº 2004.014034-4, de 20 de Setembro de 2005:
EMENTA: AÇÃO DE MUDANÇA DE REGIME DE BENS. CASAMENTO CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 2.039 DO
158 BELO HORIZONTE. Tribunal de Justiça de MG. Apelação Cível nº 1.0518.03.038304-7/001 -
Comarca de Poços de Caldas - Relator: Des. Moreira Diniz. Julgado em 20 maio 2004. Disponível em < http://www.anoregdf.com.br/paginas/artigos_exibe.asp?id=7>. Acesso em 15 mai 2008.
159 CHAPECÓ. Tribunal de Justiça de SC. Apelação Cível nº 2002.024914-4 - Comarca Chapecó - Relator: Des. Luiz Carlos Freyesleben. Julgado em 27 março 2003. Disponível em < http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/VerIntegraAvancada.do>. Acesso em 15 mai 2008.
64
CÓDIGO CIVIL DE 2002. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A modificação do regime matrimonial de bens, de casamento celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, é juridicamente impossível, ex vi do art. 2.039 do atual Código Civil." (Apelação cível n. 03.020451-2, da Capital. Relator: Des. Wilson Augusto do Nascimento). 160
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, através do
Relator Des. Pires de Araújo, apresentou Recursos Improvidos à Apelação cível
nº 421.120-5/6-00, da Comarca de Guarulhos, julgado em 07 de maio de 2007,
sobre a Alteração do Regime de Bens do Matrimônio entre os sócios para
Alteração de Sede da Empresa. Vejamos:
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - OFICIAL DE REGISTRO DE TÍTULOS – AUTORIDADE IMPETRADA LEGÍTIMA – DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DAS VIAS ADMINISTRATIVAS - EXIGÊNCIA DE ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS DO MATRIMÔNIO ENTRE OS SÓCIOS PARA ALTERAÇÃO DE SEDE DA EMPRESA, PREVISTA NOS ARTS. 977 E 2.031 DO NOVO CÓDIGO CIVIL - INADMISSIBILIDADE, TENDO EM VISTA QUE OS CITADOS DISPOSITIVOS, PARA O CASO CONCRETO, NÃO ESTAVAM EM VIGOR – RECURSOS IMPROVIDOS161.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, na Sétima
Câmara Cível, foi julgado Recurso Provido para a Apelação Cível Nº
70006423891, sendo relator Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves e tendo
julgamento em 13 de agosto de 2003:
160 FLORIANÓPOLIS. Tribunal de Justiça de SC. Apelação Cível nº 2004.014034-7 - Comarca de
Florianópolis - Relatora: Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta. Julgado em 20 setembro 2005. Disponível em < http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/VerIntegraAvancada.do>. Acesso em 15 mai 2008.
161 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de SP. Apelação Cível nº 421.120-5/6-00 - Comarca da cidade de São Paulo - Relator: Des. Pires de Araújo. Julgado em 07 maio 2007. Disponível em <http://cjo.tj.sp.gov.br/esaj/jurisprudencia/consultaCompleta.do>. Acesso em 15 mai 2008
65
EMENTA: PEDIDO DE ALVARÁ JUDICIAL. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA LAVRAR ESCRITURA PÚBLICA DE PACTO ANTENUPCIAL. POSSIBILIDADE JURÍDICA DA ALTERAÇÃO DE REGIME. DESNECESSIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA. 1. Não tendo havido pacto antenupcial, o regime de bens do casamento é o da comunhão parcial sendo nula a convenção acerca do regime de bens, quando não constante de escritura pública, e constitui mero erro material na certidão de casamento a referência ao regime da comunhão universal. Inteligência do art. 1.640 NCCB. 2. A pretensão deduzida pelos recorrentes que pretendem adotar o regime da comunhão universal de bens é possível juridicamente, consoante estabelece o art. 1.639, §2º, do Novo Código Civil e as razões postas pelas partes são bastante ponderáveis, constituindo o pedido motivado de que trata a lei e que foi formulado pelo casal. Assim, cabe ao julgador a quo apreciar o mérito do pedido e, sendo deferida a alteração de regime, desnecessário será lavrar escritura pública, sendo bastante a expedição do competente mandado judicial. O pacto antenupcial é ato notarial; a alteração do regime matrimonial é ato judicial. 3. A alteração do regime de bens pode ser promovida a qualquer tempo, de regra com efeito ex tunc, ressalvados direitos de terceiros. Inteligência do artigo 2.039, do NCCB. 4. É possível alterar regime de bens de casamentos anteriores à vigência do Código Civil de 2002. RECURSO PROVIDO. (SEGREDO DE JUSTIÇA)162
O mesmo Tribunal, Câmara Cível e Relator deram
Recurso Provido à Apelação Cível nº 70011516366, de 01 de junho de 2005, a
saber:
EMENTA: ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS DO CASAMENTO. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. 1. A alteração do regime de bens é possível juridicamente, consoante estabelece o art. 1.639, §2º, do NCCB e as razões postas pelas partes evidenciam a conveniência para eles, constituindo o pedido motivado de que trata a lei, devendo ser apreciado pela autoridade judicial. 2. A alteração do regime de bens pode ser promovida a qualquer tempo, de regra com efeito ex tunc, ressalvados direitos de terceiros, inexistindo qualquer obstáculo
162 PORTO ALEGRE. Tribunal de Justiça do RS. Apelação Cível nº 70006423891- Relator: Des.
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Julgado em 13 agosto 2003.
66
legal à alteração de regime de bens de casamentos anteriores à vigência do Código Civil de 2002. Inteligência do artigo 2.039, do NCCB. RECURSO PROVIDO.163
A Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, tendo como relator o Des. Moreira Diniz deu decisão com
unanimidade de votos, em negar provimento em Apelação Cível nº
1.0518.03.038304-7/001, de 20 de maio de 2004:
EMENTA: Casamento - Celebração na vigência do Código Civil anterior - Regime de bens - Alteração - Possibilidade - Não obstante celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, o casamento poderá ter seu regime de bens alterado, desde que satisfeitos os requisitos do § 2º do art. 1.639 do atual Código Civil, na medida em que ali não se excepcionaram os casamentos anteriores, também não o fazendo o art. 2.039, salvo no tocante à ressalva da inalterabilidade automática do regime. Desaparecendo a motivação que impedia a alteração do regime de bens do casamento, não se justifica a distinção entre casamentos novos e antigos, uma vez que o instituto é único e, em se tratando de situação que exige requerimento conjunto, não haverá prejuízo para os cônjuges. NEGARAM PROVIMENTO.164
Como o escopo desse trabalho foi fazer uma abordagem
geral sobre a Alteração do Regime de Bens no Ordenamento Jurídico Brasileiro,
procurou-se destacar os principais aspectos do presente instituto e os demais que
lhe são diretamente ligados. Deu-se por encerrada a presente pesquisa.
163 PORTO ALEGRE. Tribunal de Justiça do RS. Apelação Cível nº 70011516366- Relator: Des.
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Julgado em 01 junho 2005. 164 BELO HORIZONTE. Tribunal de Justiça de MG. Apelação Cível nº 1.0518.03.038304-7/001 -
Relator: Des. Moreira Diniz. Julgado em 01 junho 2005.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a evolução da humanidade o casamento deixou de ser
apenas a união de um homem e uma mulher para tornar-se um casamento regido
por regras, direitos e deveres mútuos. Hoje os casamentos têm princípios de
conduta e seguem as necessidades de cada casal. Abrangem, além do amor
mútuo, as relações profissionais e materiais de cada um dos cônjuges. Essa
realidade mundial tem seu preço: casamentos desfeitos, sem amor, sem
princípios de respeito mútuo, sem vida.
O CC de 2002 trouxe facilidades para ambos os lados:
tornou a legislação mais habilitada para enfrentar as divergências dos dias de
hoje, regulamentando as relações pessoais que até então estavam desprovidas, e
facilitou – um pouquinho! - a vida das pessoas e de suas relações pessoais
Apesar disso, a legislação em questão pecou em alguns
pontos importantes: deu a possibilidade de alteração do regime de bens, mas não
discriminou a abrangência desta lei e nem relacionou os procedimentos
necessários para a sua concretização; ou então, reconheceu a união estável
como entidade familiar, mas não equiparou o “companheiro” ao status do
“cônjuge”.
Estas “pequenas” faltas comprometem, em muito, as
relações entre o homem e a mulher que, por um lado foram beneficiados pela lei
e, por outro, sentem-se “amarrados” à normas pouco esclarecedoras.
Apesar disso, muitos ainda perseguem o casamento ideal,
que possa conciliar a praticidade dos dias de hoje com o romantismo de outrora.
A “fórmula mágica” para o casamento perfeito talvez seja a cumplicidade mútua
dos cônjuges, a sensibilidade das ações, o preocupar-se com o outro. Uma
conduta afetiva e, ao mesmo tempo, profissional por parte dos cônjuges serviria
para harmonizar a relação do casamento que ainda sobrevive depois de anos e
anos.
68
Para tratar do tema, dividiu-se a monografia em três
capítulos, sendo que:
O primeiro capítulo tratou da instituição do Casamento. O
casamento é a mais importante instituição que se tem idéia, mas para que ocorra
são necessários determinados procedimentos de habilitação, indispensáveis para
o perfeito funcionamento dos trâmites legais. Mesmo seguindo todas as normas
obrigatórias há impedimentos que podem fazer com que o casamento não
aconteça. Os impedimentos acontecem quando há falta de algum requisito
indispensável.
O Casamento possui natureza jurídica incerta, pois
dependendo do autor pode mudar de linha de pensamento. O que não acontece
com as características do casamento que são, entre outras, a monogamia e a
exclusividade da união. A monogamia também se enquadra como um dos
princípios do direito do matrimônio e deve ser levada em conta quando se fala
sem casamento. Há tempos atrás quando se pensava em casamento logo vinha
na mente o casamento religioso, mas o tempo foi passando e a necessidade de
regular tal relação falou mais alto e assim surgiu o casamento civil.
O casamento civil foi a forma encontrada de regular a
relação patrimonial entre o homem e a mulher. Hoje, com o advento do CC de
2002, muita coisa mudou para melhor. As relações pessoais e familiares foram
tomando rumos diversos e só restou à sociedade adequar-se a esta nova
realidade. Não foi diferente com nossa legislação, que se obrigou a adequar-se
para poder lidar com as adversidades oriundas desta mudança para poder
entender melhor as relações familiares que surgiram neste século XXI.
O segundo capítulo abordou os Regime de Bens no
Ordenamento Brasileiro e expõe os efeitos jurídicos patrimoniais do matrimônio.
De acordo com o CC de 2002, são quatro os regimes de bens.
A Comunhão Universal de Bens é o regime mais comum,
pois há tempos era o regime oficial do ordenamento brasileiro, e consiste na união
dos bens adquiridos antes e depois do matrimônio. O atual regime oficial
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brasileiro é o da Comunhão Parcial de bens, sendo o que mais se adapta as
mudanças financeiras e sociais dos casais da atualidade. Nele, os bens
adquiridos antes do casamento pertencem com seus legítimos donos, ao contrário
dos bens adquiridos na constância do casamento que, obrigatoriamente, serão
divididos numa possível separação. O regime de Separação Total de bens – o
próprio nome já diz – é aquele em que tanto os bens adquiridos antes e durante o
casamento pertencem ao seu adquirente. A novidade é o regime introduzido no
CC de 2002: Participação Final dos Aqüestos.
O terceiro capítulo trata da Alteração do Regime de Bens no
Ordenamento Jurídico Brasileiro. O CC de 2002 dispôs a possibilidade de
alteração do regime de bens, até então proibido pelo ordenamento jurídico. Esse
dispositivo veio de encontro às mudanças que ocorreram nas relações pessoais
das famílias brasileiras. Trouxe uma nova perspectiva aos que optaram – ou não
– por determinado regime de bens e, devido à fatos e acontecimentos, precisam
que o regime seja alterado. Para que haja a possibilidade é preciso do respaldo
final de um juiz que analisará cada caso e decidirá se procede ou não o pedido.
Grande parte dos doutrinadores admite que este novo
dispositivo foi um marco para a sociedade civil brasileira, pois no exterior as
principais nações já contavam com este dispositivo a um bom tempo. A
jurisprudência tem se mostrado, em muitos dos pedidos formulados, a favor da
alteração do regime de bens. Mesmo assim, muitos também são os pedidos
negados. É preciso dar tempo ao tempo para que o ordenamento se adapte as
necessidades de muitos dos brasileiros que procuram apenas se enquadrar a
nova realidade da qual fazem parte e são os “atores principais”.
Quanto às hipóteses levantadas, observa-se:
Quanto a primeira hipótese: - a finalidade do regime de bens
é a garantia dos consortes quanto a divisão de bens após o fim da união conjugal.
Sim. É através da escolha do regime que se determina a divisão dos bens na
dissolução do matrimônio.
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Quanto à segunda hipótese: - todos os regimes de bens
previstos no ordenamento jurídico brasileiro são passíveis de alteração após o
casamento. Sim. Apesar de não expressar claramente, o CC de 2002 dispõe em
seu art. 1.639, § 2º que “É admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Observa-se que a presente monografia não teve a intenção
de esgotar a discussão sobre o assunto, mas contribuir para o entendimento a
respeito.
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