a alfabetizaÇÃo na educaÇÃo infantil: um desafio … · a alfabetizaÇÃo na educaÇÃo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DESAFIO POSSÍVEL. FRANCISCO DAS CHAGAS DA SILVA CAICÓ-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DESAFIO POSSÍVEL.

FRANCISCO DAS CHAGAS DA SILVA

CAICÓ-RN

2016

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FRANCISCO DAS CHAGAS DA SILVA

A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DESAFIO POSSÍVEL.

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Dra. Christianne Medeiros Cavalcante.

CAICÓ-RN

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

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A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DESAFIO POSSÍVEL.

Por

FRANCISCO DAS CHAGAS DA SILVA

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Dra. Christianne Medeiros Cavalcante. (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Dra. Tânia Cristina Meira Garcia Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________ Ms. Djanni Martinho dos Santos Sobrinho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DESAFIO POSSÍVEL.

Francisco das Chagas da Silva. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

[email protected]

Christianne Medeiros Cavalcante Universidade Federal do Rio Grande do Norte

[email protected]

RESUMO: O artigo apresenta o resultado de uma investigação realizada em uma Creche pertencente à rede municipal, na cidade de Caicó/RN. A pesquisa teve como objetivo identificar as concepções sobre Alfabetização que permeiam a prática do professor da Educação Infantil, buscando compreender a influência dessas concepções no exercício docente, além de contribuir para a geração de discussões acerca da alfabetização na Educação Infantil, na tentativa de focalizar perspectivas e desafios enfrentados pelos professores da área. A coleta de dados ocorreu por meio da observação direta, relatos e questionário. A pesquisa tem base teórica em autores como Freire (1996), Soares (2001), dentre outros. Nesse sentido, estão reunidos aspectos que buscam delinear a prática das docentes atuantes, no fazer docente, com o foco na elaboração da didática das aulas e no processo de Alfabetização.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização: Letramento: Práticas Pedagógicas.

LITERACY IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: A POSSIBLE CHALLENGE.

ABSTRACT: This article presents the results of an investigation in a Creche belonging to the municipal network in the city of Caicó / RN. The research aimed to identify the conceptions of literacy permeating the practice of Professor of Early Childhood Education, seeking to understand the influence of these conceptions in teaching practice, as well as contributing to generating discussions about literacy in early childhood education, in an attempt to focus on prospects and challenges faced by area teachers. The data were collected through direct observation, reports and questionnaire. The research is based on theoretical authors such as Freire (1996), Soares (2001), among others. In this sense, they are gathered aspects that seek to outline the practice of active teachers, the teachers do, with the focus on development of didactic classes and literacy process.

KEYWORDS: Literacy: literacy: Pedagogical practices.

Christianne Medeiros Cavalcante, Prof. Dra em Educação – DEDUC- CERES-UFRN. E – mail: [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho constitui-se uma pesquisa de campo realizada em uma

Creche da rede pública da Zona Norte do município de Caicó/RN, cujo objetivo foi

discutir o tema “Alfabetização na Educação Infantil”, em virtude da polêmica que

circunda as creches atualmente, se deve alfabetizar ou não as crianças já na

Educação Infantil.

Esse tipo de questionamento não é assunto novo entre os professores,

haja vista o mesmo ser discutido há muitos anos e que, atualmente, tem origem

nos diferentes pontos de vista defendidos pelos seus principais precursores.

A relevância desta pesquisa está em discutir questões relacionadas à

alfabetização na Educação Inicial, no intuito de obter respostas para aspectos que

circundam o processo de aquisição da leitura e da escrita, que constituem a base

da tarefa de educar/alfabetizar em pleno século XXI.

Também se institui como aspecto de relevância a oportunidade de

podermos contribuir para a formação de professores alfabetizadores, visto que

trazemos à baila inquietações e outros fatores no âmbito da prática docente

desses profissionais.

O trabalho tem como principal objetivo identificar as concepções sobre

alfabetização que permeiam a prática do professor da Educação Infantil, buscando

compreender a influência dessas concepções no exercício docente e contribuir

para a geração de discussões acerca da alfabetização na Educação Infantil, na

tentativa de focalizar perspectivas e desafios enfrentados pelos professores da

área.

Diante disso, a nossa proposta contemplou, inicialmente, a análise do

processo que identifica a concepção de Alfabetização e Letramento presente entre

professores da Educação Infantil e Anos Iniciais. Em seguida, relacionar os

referenciais que subsidiam as práticas desses professores, além de descrever as

estratégias utilizadas pelos professores de Alfabetização.

Por fim, apresentar-se-ão os resultados obtidos e observados durante a

pesquisa de campo, proposta realizada com cinco professores que atuam na

Educação Infantil, em que, por meio de questionário, entrevistas e observação

direta, investigou-se a relação entre a prática de ensino desses professores e os

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pressupostos teóricos sobre Alfabetização e Letramento aqui colocados em

discussão.

2 A HISTÓRIA DA EDUCACAO INFANTIL

A Educação Infantil tem passado por grandes mudanças e transformações

no decorrer dos séculos, principalmente, referente à visão que a sociedade tem

sobre a criança e a infância. Buscamos, neste ponto, adentrar um pouco nos

aspectos históricos que envolvem a construção do percurso da Educação Infantil, a

partir da ideia de infância e seu atendimento.

Com o desenvolvimento da ciência, do comércio e das artes no período do

Renascimento, muitos avanços foram identificados e trouxeram novas perspectivas

à sociedade na forma de compreender o mundo e a sociedade. Dentre eles, as

concepções que envolviam a criança e a infância. Desse modo, iniciemos nosso

percurso discutindo um pouco a compreensão de infância e sua relação com a

Educação Infantil.

Iniciemos pela ideia de infância, destacando que esta se coloca com uma

construção social. Ao longo do tempo, muitas representações foram feitas da

infância e da criança, culminando com o reconhecimento de sua importância e

necessidades. Primeiramente, a criança foi vista como uma miniatura de adulto

cuidada pela mãe.

Segundo Ariés (1981, p. 65):

A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se particularmente numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII. (ARIÉS, 1981 p. 65)

É ainda este autor que nos explica que neste contexto não havia uma

relação próxima da criança, ou seja, o sentimento de infância quase não existia.

Concebia-se esta fase a partir de sentimentos de consolo, isto é, um ser digno

apenas da misericórdia, o que implicava um atendimento bem precário. O

sentimento de descartabilidade, se podemos chamar assim, baseava-se no fato de

que, devido às condições de pouca higiene, decorriam doenças que atingiam as

crianças, causando uma mortandade significativa. Tal realidade promovia uma

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substituição de uma criança por outra, isso porque as famílias, naquela época, não

aprofundavam os laços de carinho e pertença à família.

A Revolução Industrial trouxe ao mundo diversas consequências para a

sociedade, como por exemplo, a inserção das mulheres no mercado de trabalho,

mais precisamente nas fábricas. Na época, os movimentos coletivos de operários

tinham consciência desses impactos. No entanto, havia os interesses dos donos de

fábricas.

Assim, os donos das fábricas, por seu lado, procurando diminuir a força dos movimentos operários, foram concedendo certos benefícios sociais e propondo novas formas de disciplinar seus operários, dentro e fora das fábricas. Para tanto, vão sendo criadas vilas operárias, clubes esportivos e também creches e escolas maternais para os filhos dos operários. O fato dos filhos das operárias estarem sendo atendidos em creches, escolas maternais e jardins de infância, montadas pelas fábricas, passou a ser reconhecido por alguns empresários como vantajoso, pois, mais satisfeitas, as mães operárias produziam melhor (OLIVEIRA, 1992, p.18).

Percebe-se a intenção por trás desses benefícios e a resposta dos

empresários aos movimentos operários. Mesmo assim, é notório que as bases foram

sendo lançadas em relação às creches, às escolas e aos jardins de infância, sendo

importante ao movimento global de Educação Infantil. A sociedade passa a ter uma

base que poderia ser usada nas reivindicações, principalmente desses movimentos

operários.

Foi entre os séculos XIX e XX, que a infância começou a se destacar no seio

familiar e dentro da sociedade, modificando-se o lugar que ocupava e, em

decorrência disso, a criança começa a ser entendida como algo que precisava ter

um lugar próprio e cuidados diferenciados, construindo a ideia atual de infância.

Com isso, moldam-se as instituições iniciais que se destinavam ao

atendimento das crianças pequenas, que envolviam o cuidado e a assistência aos

órfãos, abandonados, aqueles que estivessem na miséria, consolidando-se as

primeiras classes de Educação Infantil, inclusive no Brasil.

Esse cuidar sofreu influência das ideias de muitos estudiosos da época,

considerados pedagogos, como Froebel , criador dos jardins de infância, onde o jogo

e o brinquedo são significativos para construção e compreensão do próprio

conhecimento.

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De acordo com Seabra (2010), a história do atendimento da criança no

Brasil não foi diferente no sentido de sofrer intervenção das transformações que

vinham ocorrendo principalmente na Europa. Historicamente, o seu início acontece

com o descobrimento do Brasil, através da ação dos jesuítas ao catequizar as

crianças índias, os curumins.

A mesma autora menciona a Santa Casa de Misericórdia no sistema

colonial; o instituto de menores no Brasil Independente; as maternidades, creches e

os jardins de infância no Brasil República; Tutela da criança órfã, pobre; infratoras e

não infratoras na mesma instituição durante o período Vargas e, por último, no

Regime Militar, a discussão do menor como objeto de segurança e assistencialismo.

Diante disso, a autora conclui ao dizer que:

Desde o descobrimento do Brasil, a criança pobre sempre foi tutelada pelo governo, ou seja, era retirada da convivência familiar ou havia um incentivo para que a própria família o fizesse e colocasse essa criança aos cuidados do governo através de diferentes instituições. (SEABRA, 2010 ,p.87).

Essas mudanças abriram espaço para a chegada da instituição no país,

sendo importante para as futuras discussões envolvendo educação, visto que, até

meados dos anos 1970, dificilmente incluía Educação Infantil na perspectiva que

temos hoje. (GHIRALDELLI, 2009).

No Brasil, também tivemos muitos jardins de infância, os quais foram

introduzidos no sistema educacional na rede privada, para atender às demandas das

crianças filhas da emergente classe média industrial. Com o tempo, esta realidade

abarcou os interesses da classe trabalhadora que exigiam uma educação pública,

gratuita e para todos.

A Psicologia trouxe a sua contribuição durante os séculos XIX e XX. O ser

criança passa por uma revolução de conceitos. Essa base foi reforçada quando

[...] uma série de autores contribuíram para compreender e promover

o desenvolvimento das crianças pequenas, Vigostsky (1896-1934) na

década de 20 e 30, Wallon (1879-1962) na primeira metade do

século XX e Piaget (1896-1980), colaboradores que revolucionaram

a ideia dominante sobre crianças. (PASSAMAI; SILVA, 2009)

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A partir do ano de 1988, com a Constituição Federal Brasileira, o

assistencialismo perde força quando o Estado coloca a Educação Infantil como

dever e reforça essa responsabilidade com a sociedade. Desse modo, insere-se a

discussão nas políticas públicas para esse grupo. Isso significa dizer que o

atendimento passaria a ter uma identidade própria.

Art.29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL,1996)

Assim, a partir dessa inovação constitucional, os pais, a sociedade e o poder

público são convidados legalmente a respeitar as crianças dentro dos seus direitos

legais, sendo claro no artigo 277 da Constituição Federal, quando diz:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência e opressão. (BRASIL,1988).

Hoje temos uma organização da Educação Infantil definida em creche e pré-

escola. A creche surge na Europa, no final do século XVIII e início do século XIX,

com o objetivo de guardar crianças de 0 a 3 anos, enquanto os pais estivessem

trabalhando, em atendimento às necessidades do mercado de trabalho, marcado

pelo desenvolvimento do capitalismo e urbanização. Hoje esse perfil da creche

modificou-se em função da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, Lei nº

9.394 de 20 de Dezembro de 1996, (LDB) que dispôs a criança como sujeito de

direitos assegurados pelo Estado.

A legislação também modificou o lugar da Educação Infantil, colocando-a

como parte da Educação Básica, juntamente com o Ensino Fundamental e o Ensino

Médio, em detrimento do lugar anterior ligada à Assistência Social. Tal mudança

também atingiu a forma de organizar e sistematizar o trabalho docente, incluindo ao

cuidar e brincar o educar de forma indissociável.

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Esse foi o estímulo necessário para que diversos autores sustentassem que

a educação não poderia estar dissociada da natureza infantil, sendo, para isso,

necessárias atividades que socializassem as mesmas associadas à aprendizagem e

que começassem a fazer parte do cotidiano e do universo infantil.

Um dia a dia que está marcado pelos embates teóricos de como educar

neste nível de ensino. As diferentes propostas de Educação Infantil colocam-se de

um lado no que se refere às que reproduzem as referências e os modelos da escola

regular básica, que enfatiza a alfabetização da linguagem escrita e na matemática

frente àquelas que consideram a infância um tempo no qual a criança está

merecendo e carecendo de uma orientação mais integral, ocupando-se de diferentes

linguagens.

Na esteira dessas informações, há de se buscar discutir o que desponta como

objetivo neste nível de ensino: o atendimento de uma educação pautada nas

necessidades do desenvolvimento intelectual, físico, emocional, ou aquelas mais

restritas.

3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO, CONCEPÇÕES NA EDUCAÇÃO

INFANTIL: É POSSÍVEL?

Em continuidade a nossa discussão, considerando o que foi dito sobre a

organização da Educação Infantil e sua função, questionamo-nos quanto ao papel

da Alfabetização e do Letramento neste nível, há possibilidades?

Muitas são as discussões acerca da Alfabetização na Educação Infantil.

Desde muito tempo, há uma indagação que circunda esta questão. Na verdade, a

grande preocupação é diagnosticar quais as dificuldades de cada aluno durante o

processo de ensino-aprendizagem. Sabendo que tal tarefa exige ampla

determinação do alfabetizador, alguns autores, aos quais recorremos durante esta

pesquisa, abordam em suas obras situações-problemas sobre o referido assunto.

Antes de tudo e reconhecendo que muitos autores já apresentaram os

conceitos de alfabetização e de letramento, entendemos ser relevante a nossa

discussão sobre eles.

O termo alfabetização esteve sempre ligado ao domínio da codificação e da

decodificação da Língua, através dos atos de ler e escrever. Todavia, este conceito

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está ligado ao movimento do letramento. Assim, trazemos Albuquerque (apud

SANTOS, 2007, p. 17) quando diz que

[...] o termo letramento é a versão para o Português da palavra de língua inglesa literacy, que significa o estado ou a condição que assume aquele que aprende a ler e a escrever. Esse mesmo termo é definido no Dicionário Houaiss (2001) “como um conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito.”

Reportando-se a este tema, muitas também são as discussões acerca do

Letramento, que, paralelo à Alfabetização, é levado em conta no que diz respeito à

aprendizagem do aluno no cotidiano da sala de aula. “O termo Letramento surgiu

porque apareceu um fenômeno novo que não exista antes, ou, se existia, não se

dava conta dele, e, como assim acontecia, não se tinha nome para ele” (SOARES,

2001, p.34).

O que se deve levar em consideração, ainda, é que, durante muito tempo, o

Letramento era voltado diretamente para a Alfabetização, ocasionando, muitas

vezes, o equívoco de afirmar que ambos eram sinônimos. Porém, surgiram alguns

estudos que refizeram essa afirmação, estabelecendo uma distinção entre eles. Por

exemplo, as publicações de Soares (2001), entre outros autores que apresentam

explicações sobre o assunto.

(...) Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita (SOARES, 2001, p.18).

Dessa forma, Letramento é definido por Soares (2002, p. 145) como: “o

estado ou condição de indivíduos, ou de grupos sociais de sociedades letradas, que

exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, que participam

competentemente de eventos de letramento e exerce uma posição social”.

A partir dessa diferença estabelecida, pode-se afirmar que a problemática da

sala de aula da Alfabetização Inicial não está voltada para o Letramento do aluno,

visto que o mesmo pode ser letrado e não-alfabetizado. Particularmente, voltamo-

nos para esses dois processos no espaço do trabalho docente na Educação Infantil.

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Na verdade, isso nos inquieta porque, durante muito tempo, o trabalho

educativo neste nível voltava-se para a aquisição e o desenvolvimento do processo

de leitura e escrita, situação que preocupava pais e professores.

Esta conjuntura tornava-se um desafio, inclusive para os alunos pequenos.

Ainda hoje isso perdura, alfabetizar e letrar nesta fase?

O fato é que essa dúvida gera a existência de alunos que cursam o Nível

Fundamental ainda com dificuldade de decodificação do código, o que é

preocupante no que se refere ao grau de aprendizado do mesmo, uma vez que, se

não há uma base de alfabetização em sua bagagem, também não haverá forma de

aprender de modo significativo. Depreende-se, assim, que o sujeito precisa sair da

Alfabetização Inicial dominando as habilidades de leitura e de escrita.

Scarpa (2006) coloca que ainda temos educadores que acreditam na

simples decodificação de símbolos e, por ensinarem desse modo, não podemos

descartar a palavra Letramento.

Pode ser uma aprendizagem de natureza perceptual e motora ou de natureza conceitual. O ensino, no primeiro caso, pode estar baseado no reconhecimento e na cópia de letras, sílabas e palavras. No segundo, no planejamento intencional de práticas sociais mediadas pela escrita, para que as crianças delas participem e recebam informações contextualizadas. (SCARPA, 2006, p.1).

As reflexões devem levar em conta as relações entre os elementos da

linguagem verbal, pois é nessas relações que eles encontram significado e não em

partes isoladas, como as letras. Por isso, é importante que os pequenos tenham

acesso a uma diversidade de materiais escritos, ouçam a leitura de diferentes

gêneros textuais, para que sua leitura e escrita sejam construídas a partir de práticas

sociais concretas.

Nesse percurso, ter clareza quanto à diferença entre os termos alfabetizar e

letrar implicam também diferenciar as estratégias a serem desenvolvidas nas salas

de aula, conforme as etapas de desenvolvimento da criança.

A palavra Letramento fez-se necessária, segundo Magda Soares (2001), por

causa da impossibilidade de dar um sentido mais amplo à palavra Alfabetização. De

acordo com a autora, o indivíduo sem letramento pode se alfabetizar, porém, não

adquire competência suficiente para exercer seu papel social da forma que lhe foi

ensinada.

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É ainda esta autora, que realiza uma distinção entre Alfabetização e

Letramento. Para essa autora:

Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado (SOARES, 1998,p. 47).

Segundo Soares (2009), com base nos estudos de Emilia Ferreiro e Ana

Teberosky, afirma que crianças da faixa dos 4 aos 5 anos, podem, quando

orientadas e incentivadas por meio de práticas lúdicas e adequadas, chegarem ao

nível alfabético.

Assim sendo, muitas são as atividades que trabalham com a Alfabetização

na Educação Infantil, dentre as quais ela destaca:

Escrita espontânea, observação da escrita do adulto, familiarização com as letras do alfabeto, contato visual frequente com a escrita de palavras conhecidas, sempre em um ambiente no qual estejam rodeadas de escrita com diferentes funções: calendário, lista de chamada, rotina do dia, rótulos de caixas de material didático, etc. (SOARES, 2009, p.1).

Enfim, tais estudos nos mostram a possibilidade da Alfabetização e o

Letramento tenham presença significativa na Educação Infantil, pois os pequenos

podem ter acesso tanto a atividades de introdução ao sistema alfabético e suas

convenções, a Alfabetização; como também a práticas sociais de uso da leitura e da

escrita, o Letramento.

4 DADOS DE COLETA DA PESQUISA

A referente pesquisa é de abordagem qualitativa de cunho descritivo. Nessa

perspectiva, Bogdan e Biklen (1994, p.48) afirmam: “(...) Os dados recolhidos são

em forma de palavras ou imagens e não de números”. Com efeito, consideram-se as

interpretações construídas pelo pesquisador a partir do que expressam os

colaboradores da pesquisa.

O trabalho tem como principal objetivo aprofundar conhecimentos acerca do

processo de ensino-aprendizagem da Alfabetização na Educação Infantil, bem como

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contribuir para a geração de discussões sobre o tema na tentativa de focalizar

perspectivas e desafios enfrentados pelos professores da área, através de uma

pesquisa bibliográfica.

Alem disso também é uma pesquisa de campo, que segundo Lakatos e

Marconi (2010, p. 169)

[...] é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, de descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.

Para realizarmos a pesquisa proposta, elaboramos um plano de trabalho

composto por leituras preliminares sobre assuntos referentes ao tema abordado,

organização e sistematização dos dados, análise a partir da fundamentação teórica

estabelecida e, por fim, elaboração para divulgação dos resultados da pesquisa.

Quanto à geração de dados, recorremos à aplicação de questionário constituído por

questões que pressupunham respostas abertas. O questionário, segundo Gil (1999,

p.128), é definido

Como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.

A pesquisa envolveu professores de cinco turmas da Educação Infantil de

uma Creche Municipal da cidade de Caicó/RN. Sendo uma turma do Nível III, duas

do Nível IV, duas do Nível V. A escolha foi pela sua relevância na área da Educação

Infantil, porque é caracterizada por fazer parte do programa ProInfância (Programa

Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação

Infantil), construída para ser uma Creche “modelo”, já que esta recebe alunos de boa

parte da zona norte do município de Caicó/RN.

No que se refere aos docentes participantes, foram entrevistadas cinco

professoras, que lecionam nas salas citadas acima. A faixa etária dessas docentes

varia dos 25 aos 53 anos. As professoras que atuam na Educação Infantil são

mencionadas na pesquisa como P1, P2, P3, P4 e P5.

A referente pesquisa se desenvolveu no âmbito escolar, com o intuito de

aprofundar conhecimentos acerca do processo de ensino-aprendizagem da

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Alfabetização na Educação Infantil. Através de questionário e da observação direta

do ambiente escolar, podemos ter acesso aos dados que revelaram as

potencialidades e as dificuldades encontradas pelos professores do referido nível de

ensino.

De acordo com a pergunta inicial quanto à indagação se é ou não possível

alfabetizar na Educação Infantil, os profissionais colaboradores afirmam com

veemência que é, sim, viável fazê-lo, desde que o professor tenha uma boa

formação, ofereça ambiente propício para que ela aconteça de forma prazerosa e

que utilize estratégias que propiciem uma aprendizagem significativa.

Diante do exposto, é sabido que, se houver um empenho partido de ambas

as partes, professor e aluno, o processo de ensino-aprendizagem torna-se mais

simples e proveitoso. Como bem aborda P1 quando afirma: “A alfabetização

propriamente dita não, mas sim de ensinar habilidades que facilitariam a

aprendizagem da leitura e da escrita no Ensino Fundamental.”. Já o colaborador P2

afirma que “Sim, principalmente a partir do Nível IV e V”.

No tocante à problemática abordada, o P3 reforça

Eu não posso dizer se é ou não possível, pois, diversos estudos vêm sendo realizados para tentar explicar esse processo (o de alfabetizar), nos primeiros ciclos da educação. O que posso expor é: dependendo do desenvolvimento cognitivo de alguns alunos que conseguem aprender mais facilmente do que outro é possível sim.

P4, por sua vez, disse: “Claro que sim, mas devemos respeitar o ritmo de

cada criança, evitando queimar etapas no desenvolvimento das mesmas.”. O P5

menciona que

É possível iniciar o processo de alfabetização respeitando a maturidade e desenvolvimento de cada criança, envolvendo-os em atividades que os forçam a pensar sobre a escrita e sua importância. Na Educação Infantil é necessário que as crianças recebam informações e aprendam sobre a escrita por meio da ludicidade, ou seja, brincadeiras, músicas, vídeos, desenho, entre outros.

É importante nesse processo que o alfabetizador tenha consciência da

necessidade de adquirir conceitos relacionados à leitura e escrita, como um

processo gradual, em que os estudantes irão alcançar maturidade cognitiva em

relação à linguagem. Irão ocorrer alguns erros dos alunos, até que eles por si sós

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(com a mediação do educador) alcancem um nível de automatização da linguagem.

Caber ressaltar aqui afirmações de SILVA quando expõe:

(...) muitas crianças chegam à escola num estado de relativa confusão cognitiva em relação, que os objetivos da leitura, quer às propriedades formais da linguagem escrita. O sucesso da aprendizagem da leitura está condicionada pela evolução infantil deste estado de confusão cognitiva para uma maior classificação dos conceitos funcionais e das características alfabéticas da linguagem escrita (SILVA, 2003. p.85).

Os alfabetizadores ensinam, muitas vezes, as palavras através da pronúncia

das mesmas, mas devem ficar atentos que existem variações nas formas de falar

das pessoas, isso porque ocorrem variações de uma região para outra, bem como

pessoas de mesmo grupo social expressam-se com dialetos diferentes de acordo

com as diferentes situações de uso da língua, sejam situações formais, informais, ou

de outro tipo dependendo de seu nível social ao qual pertence.

Então, o interessante é relacionar letra e som, exemplificando em que

situações ocorrem as possibilidades de diferentes pronúncias.

Quanto à segunda pergunta, se na sua sala de aula, existiam alunos de

diferentes níveis de aprendizado e quais métodos utilizam para que todos consigam

aprender, P2 diz que

Existem. Trabalho em uma turma de Nível 5 com um número de 15 alunos, onde apresentam níveis diversificados de aprendizagem. Uns escrevem o próprio nome, outros vêm do lar, mas tem conhecimentos das letras e outros tem dificuldades em identificar as letras do alfabeto. Encontro-me em uma fase inicial, onde venho fazendo diagnósticos; é o primeiro ano que trabalho com o Ensino Infantil, mas já faz 27 anos que leciono em classes multisseriadas de 1º ao 5º ano, em escolas do campo. Os métodos utilizados diariamente são: leituras compartilhadas de livros de literatura infantil, alfabeto móvel, bingos de letras iniciais, atividades escritas, rodas de conversas, entre outros.

Enquanto P5 diz:

Sim. Pois cada criança tem um desenvolvimento diferenciado de aprender no processo sistematizado de ensino/aprendizagem. E tendo essa concepção utilizo meios diversos de explorar os conteúdos (vídeos, músicas, cartazes, atividades práticas e artísticas, contação de história, dramatização, entre outros).

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O P3, diz

Sim. Por isso, para ajudá-los eu procuro partir do conhecimento que eles já possuem, e é nesse momento, que procuro desenvolver uma prática de ensino que aborda um processo contínuo. Às vezes, até voltando temas que eles não conseguiram assimilar corretamente em séries passadas.

O P4 diz: “sim, os métodos utilizados variam de acordo com a realidade do

aluno, que vão desde jogos até atividades de escrita, dentre outros.” E, para que

todos aprendam o que professor socializa, os colaboradores atestaram que realizam

atividades de vários tipos, seja lúdica ou não, com exercícios escritos ou orais, de

acordo com a capacidade mental de cada um.

Tal processo é, realmente, comum no cotidiano das escolas brasileiras, onde

encontramos tanto alunos que assimilam facilmente os assuntos explanados quanto

os que têm maior dificuldade de assimilação de conteúdos.

O colaborador P1 diz:

Sim, utilizo como métodos, atividades que levem os alunos a interagirem uns com os outros de forma ativa e participativa. Não costumo fazer atividades diferenciadas, apenas diferencio a forma como se é trabalhado, pois procuro meios para que, de certo modo, facilitem a compreensão dos alunos em diversas situações de aprendizagem, bem como instigando a curiosidade dos mesmos.

É justamente nesse processo que se encontra a grande preocupação em

desenvolver no aluno a capacidade de ler e escrever durante a Alfabetização.

Porém, ocorrem alguns equívocos durante tal processo. O professor, muitas vezes,

deixa de observar o conhecimento que o aluno já traz em sua bagagem cognitiva.

Segundo Freire (1996, p.28)

O educador, como quem sabe, precisa reconhecer primeiro, nos educandos em processo de saber mais os sujeitos, com ele, deste processo e não pacientes acomodados; segundo, reconhecer que o conhecimento não é dado aí, algo imobilizado, concluído, terminado, a ser transferido por quem o adquiriu a quem ainda não possui.

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No que se refere à terceira questão, quanto à utilização de figuras e imagens

como recursos para alfabetizar, os colaboradores julgaram importante o uso de tal

fonte. P1 Relatou que,

Sim, utilizo vários recursos como: figuras para leituras de imagens, textos da literatura infantil para leituras diárias, filmes, danças, jogos e brincadeiras. Todos estes recursos são de grande importância para processo de alfabetização, pois facilita a compreensão dos alunos, ajudando-os a desenvolverem as habilidades pertinentes para o processo de leitura e escrita de modo concreto e eficiente.

E P2 “Sim, jogos de leitura, jogos de encaixe, (palavras e gravuras), bingos

de letras iniciais, jogo da memória, o alfabeto exposto na sala, vídeos educativos.

Todo o material que se refere à leitura e à escrita é importante para a Alfabetização.”

O colaborador P3 afirma:

Sim. Quanto mais recursos o educador utiliza, maiores serão as chances dos alunos conseguirem assimilar o conteúdo ensinado. Recursos como o computador (conectado à internet), o hipertexto (com suas diversas propriedades: linearidade do texto escrito, juntamente com a implantação de imagens, sons, animações) e gincanas interdisciplinalizadas.

Para confirmar, P4: “Com certeza. O lúdico é um dos recursos que ajudam

no desenvolvimento da escrita e da oralidade das crianças, pois proporcionam

diversos aspectos nesse desenvolvimento.

Além de serem importantes, são primordiais, como explana o colaborador

P5:

As figuras, imagens e outros recursos são importantes por que envolvem a oralidade, a escrita e a leitura, as quais contribuem para a construção do conhecimento no processo de alfabetização.

No quarto questionamento, Pode-se dizer que existe um método eficaz de

alfabetização? Justifique.”, o colaborador P3: “Não existe fórmula preparada para

nenhuma ação que envolva o processo de ensino/aprendizagem. Contudo, existem

práticas que se forem utilizadas corretamente, ajudam no processo de alfabetização.

“Muitos professores ainda acham que o conhecimento é uma mercadoria a ser

depositada na mente dos alunos, isso é um dos maiores erros praticados por um

profissional que pretende adotar uma boa prática de ensino.”.

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P4 aborda que “Não. Acredito que o método depende da realidade que cada

criança vivencia e de como o mesmo oferece condições para que eu trabalhe com

ele.” E P5: “não existe um método eficaz de alfabetização, uma vez que, as crianças

aprendem de forma diferenciada, necessitando do uso de diferentes métodos de

ensino para adequar à diferença de cada criança.”. Os colaboradores citados

afirmam que não há um método eficaz de alfabetizar o aluno.

Enquanto o P1 diz: “Não, acredito que a eficácia da alfabetização não está

no método que usamos, mas sim no modo como lidamos com as aprendizagens,

para que possamos tornar o processo de ensino-aprendizagem significativa para o

nosso aluno.”.

O colaborador P2 diz que “Não. Mas deve-se usar de tudo um pouco e

trabalhar com muito amor e paciência, só assim conseguimos uma boa

aprendizagem. ” Não demonstrou opinião acerca da pergunta, apenas afirmou que

não sabia ao certo, uma vez que cada profissional tem seu modo de lecionar.

Segundo Soares (2001, p.36), “Há, assim, uma diferença entre saber ler e

escrever, ser alfabetizado, e viver na condição ou estado de quem sabe ler e

escrever, ser letrado. ” Depois de tantas discussões acerca do processo de ensino-

aprendizagem na Alfabetização, é necessário salientar a sutil diferença entre o ser

letrado e o ser alfabetizado.

Como Soares (Ibdem, p.36) bem afirma, “A pessoa que aprende a ler e a

escrever – que se torna alfabetizada- e que passa a fazer uso da leitura e de escrita,

a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita - que se torna letrada”.

Nessa perspectiva, como bem enfatiza a autora Soares, fica claro que a

preocupação que deve haver, por parte do professor, é em considerar o

conhecimento que o aluno já possui e o que ele poderá adquirir para toda sua vida.

Fica também o compromisso de fazer da aprendizagem um exercício significativo, e

por que não, prazeroso capaz de garantir a curiosidade caracteristicamente humana

e o prazer pelo saber.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta pesquisa nos possibilitaram perceber o quão grande é a

responsabilidade do professor/alfabetizador no processo de ensino-aprendizagem. A

Educação Infantil é uma fase que serve de alicerce para toda a vida escolar do

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sujeito. É por isso que tal tema nos motivou a pesquisar os problemas que

circundam a referida série.

O objetivo da pesquisa foi compreender como se efetiva o processo de

Alfabetização na Educação Infantil. A partir disso, infere-se que é necessário ter

profissionais lecionando na área, uma vez que, assim, as duas partes, aluno e

professor, podem interagir, tanto em conteúdo socializado e integrador, quanto em

aprendizado.

Dessa forma, mostra-se mais uma vez a relevância da presente pesquisa,

que buscou interagir com professores na perspectiva de saber como se desenvolve

o processo de Alfabetização na Educação Infantil, bem como aprofundar

conhecimentos acerca do processo de ensino-aprendizagem desta etapa.

Além disso, buscou-se contribuir para a geração de discussões sobre tais

séries na tentativa de focalizar perspectivas e desafios enfrentados por professores

da área na construção do fazer pedagógico em busca de melhorias para uma

educação significativa na vida do sujeito.

Por fim, pudemos ter a oportunidade de presenciar o cotidiano de uma sala

de aula da Educação Infantil durante a coleta de dados da pesquisa. Essa

experiência foi de suma importância para nós pesquisadores, visto que tivemos uma

ampla visão do que é dito em teoria e do que é feito na prática de uma sala de aula

da fase inicial do processo escolar de um indivíduo.

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