a agenda econômica de temer · que vai incluir a aprovação da pec dos gastos, terá um desfecho...

22
16/ 08/ 17 A agenda econômica de Temer Vencida a batalha política no Congresso, o presidente da República aproveita uma janela de oportunidade para lançar uma nova leva de concessões de infraestrutura e acelerar as reformas estruturais e microeconômicas com o objetivo de tirar o País da recessão Michel Temer: “Se alguém quiser popularidade, com objetivos eleitorais, não faz o que estou fazendo” (Crédito: João Castellano / Ag. Istoé) Luís Artur Nogueira Ao retratar o governo Temer, os livros de História do Brasil poderão dividi-lo em três capítulos. O primeiro abordará o período de pouco mais de três meses de interinidade, em 2016, entre o afastamento e a conclusão do impeachment de Dilma Rousseff. O destaque principal naquele momento foi a formação de uma equipe econômica qualificada. O segundo capítulo, que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última parte, que ainda está sendo escrita, pode ser a mais importante para o futuro do País e para a própria biografia do presidente da República. Além das vitórias políticas do peemedebista no Tribunal Superior Eleitoral (absolveu a chapa Dilma-Temer) e no Congresso (barrou a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República, a PGR), o período já contempla a aprovação da reforma Trabalhista, a primeira de uma ambiciosa lista. É exatamente por esse capítulo que Temer quer ser lembrado no futuro. Nos últimos dias, o presidente reuniu sua equipe, promoveu encontros para reaglutinar a base aliada e estabeleceu como prioritária a agenda econômica, que inclui reformas estruturais, concessões de infraestrutura e ajustes microeconômicos. Roberto Medeiros, presidente da Multiplus: “Que o governo Temer entre para a história como um governo reformista.” Temer quer passar para a História como um presidente reformista, que recolocou o Brasil nos trilhos. Sua grande ambição é aprovar a polêmica reforma da Previdência Social, cujo déficit chegará a R$ 200 bilhões no ano que vem. O projeto, que já passou pela comissão especial, está pronto para enfrentar uma dura batalha no Congresso Nacional. Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o texto precisa receber o aval de dois terços dos parlamentares, em duas sessões, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Embora a recente vitória do presidente Temer, que angariou 263 votos contra a denúncia da PGR, tenha lhe fortalecido politicamente, o placar é insuficiente para aprovar as novas regras da aposentadoria. Nas contas do núcleo político do governo, o ideal é ter ao menos 320 votos confirmados para, na prática, obter os 308 votos necessários, sem correr grandes riscos. “Tivemos 263 votos [na votação da denúncia da PGR] e ainda 20 ausências. Os mais de 20 [deputados] do PSDB que votaram contra são a favor das reformas”, afirma Temer com exclusividade à DINHEIRO (leia entrevista aqui). “E muitos dos que votaram contra [ele] votarão a favor das reformas.” O caminho, no entanto, não será tão fácil. O procurador- MATÉRIA DE CAPA

Upload: others

Post on 16-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

A agenda econômica de Temer

Vencida a batalha políticano Congresso, o presidente da

República aproveita uma janelade oportunidade para lançar

uma nova leva de concessões deinfraestrutura e acelerar as

reformas estruturais emicroeconômicas com o

objetivo de tirar o País darecessão

Michel Temer: “Se alguém quiserpopularidade, com objetivos eleitorais,não faz o que estou fazendo” (Crédito:

João Castellano / Ag. Istoé)

Luís Artur Nogueira

Ao retratar o governo Temer,os livros de História do Brasilpoderão dividi-lo em trêscapítulos. O primeiro abordará operíodo de pouco mais de trêsmeses de interinidade, em 2016,entre o afastamento e a conclusãodo impeachment de DilmaRousseff. O destaque principalnaquele momento foi a formaçãode uma equipe econômicaqualificada. O segundo capítulo,que vai incluir a aprovação daPEC dos gastos, terá um desfechoinusitado em 17 de maio de 2017,com as gravações

comprometedoras da JBS. A últimaparte, que ainda está sendo escrita,pode ser a mais importante para ofuturo do País e para a própriabiografia do presidente daRepública. Além das vitóriaspolíticas do peemedebista noTribunal Superior Eleitoral(absolveu a chapa Dilma-Temer)e no Congresso (barrou a primeiradenúncia da Procuradoria-Geralda República, a PGR), o períodojá contempla a aprovação dareforma Trabalhista, a primeira deuma ambiciosa lista.

É exatamente por esse capítuloque Temer quer ser lembrado nofuturo. Nos últimos dias, opresidente reuniu sua equipe,promoveu encontros parareaglutinar a base aliada eestabeleceu como prioritária aagenda econômica, que incluireformas estruturais, concessõesde infraestrutura e ajustesmicroeconômicos.

Roberto Medeiros, presidente daMultiplus: “Que o governo Temer entrepara a história como um governo

reformista.”

Temer quer passar para aHistória como um presidentereformista, que recolocou o Brasilnos trilhos. Sua grande ambição éaprovar a polêmica reforma daPrevidência Social, cujo déficitchegará a R$ 200 bilhões no anoque vem. O projeto, que já passoupela comissão especial, estápronto para enfrentar uma durabatalha no Congresso Nacional.Por se tratar de uma Proposta deEmenda à Constituição (PEC), otexto precisa receber o aval dedois terços dos parlamentares, emduas sessões, na Câmara dosDeputados e no Senado Federal.Embora a recente vitória dopresidente Temer, que angariou263 votos contra a denúncia daPGR, tenha lhe fortalecidopoliticamente, o placar éinsuficiente para aprovar as novasregras da aposentadoria.

Nas contas do núcleo políticodo governo, o ideal é ter ao menos320 votos confirmados para, naprática, obter os 308 votosnecessários, sem correr grandesriscos. “Tivemos 263 votos [navotação da denúncia da PGR] eainda 20 ausências. Os mais de 20[deputados] do PSDB que votaramcontra são a favor das reformas”,afirma Temer com exclusividadeà DINHEIRO (leia entrevistaaqui). “E muitos dos que votaramcontra [ele] votarão a favor dasreformas.” O caminho, no entanto,não será tão fácil. O procurador-

MATÉRIA DE CAPA

Page 2: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

geral da República,Rodrigo Janot, preparamais duas denúnciascontra o presidenteTemer. “Novas delaçõespodem atingir inquéritossobre Temer”, disseJanot à Folha de S. Paulo,na segunda-feira 7.“Restam flechas.”

Outro desafio deTemer é acalmar ospartidos do Centrão, queameaçam votar contra areforma da Previdênciase não receberem cargosno governo. Para a equipeeconômica, liderada pelo ministroda Fazenda, Henrique Meirelles,o debate sobre a Previdência é aprioridade máxima, pois as novasregras vão permitir uma trajetóriasustentável das contas públicas. “Épremente a Reforma daPrevidência: se não a fizermos, osgastos com aposentadorias epensões consumirão 80% doorçamento, até 2050”, afirmou oministro do Planejamento, Dyogode Oliveira, na segunda-feira 7, emevento do Grupo de LíderesEmpresariais (Lide).

José Velloso, presidente da Abimaq:“As empresas, que já estão muitoendividadas, não conseguem investir

com juros elevados”

Os cerca de 400 representantesdo setor produtivo quecompareceram ao evento, em SãoPaulo, concordam com a posiçãodo ministro, num contexto em queas metas fiscais de 2017 e 2018estão cada vez mais inatingíveis “APEC dos gastos e a reformatrabalhista foram um tremendoavanço”, afirma João CarlosBrega, presidente da Whirlpoolpara a América Latina. “Agora,precisamos das reformas daPrevidência e política, com oobjetivo de diminuir o tamanho doEstado.” Alguns empresáriosreconhecem que a situação fiscaldramática até poderia justificar umaumento de impostos, como oanunciado recentemente para oscombustíveis, mas reclamam doefeito cascata na economia. “Oaumento de impostos foi uma formade pressionar e chamar a atençãoda população para a urgência dasreformas”, afirma Carlos Tilkian,presidente da Estrela. “Mas achoum erro muito grande dar o mesmoenfoque para a gasolina e o diesel,que aumenta o custo do frete.”

DESBUROCRATIZAÇÃO Orombo fiscal foi o tema de umagrande reunião na quinta-feira 10,em Brasília, entre o presidenteTemer, os ministros da áreapolítica e econômica, e osprincipais líderes do CongressoNacional. Nos bastidores,comenta-se que, nos próximos dias,serão anunciados a revisão da metafiscal e o adiamento do reajuste dossalários dos servidores, entreoutras medidas (leia reportagemaqui). Segundo o ministro Dyogode Oliveira, o esforço do governonão ficará restrito ao tema dasaposentadorias. Vencida essaetapa, ainda em 2017, o governoplaneja encaminhar uma propostade reforma tributária que, naspalavras do presidente Temer,“proporcionará uma simplificaçãodos impostos”.

O ministro Meirelles empunhaa bandeira da desburocratização eressalta que é preciso reduzir otempo que as empresas gastampara recolher tributos. “O tempomédio de 2,6 mil horas por anopode ser reduzido para menos de

Page 3: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

600 horas”, afirma Meirelles. Oprimeiro passo da reforma é aalteração do PIS/Cofins e, emseguida, serão promovidasmudanças no Imposto SobreCirculação de Mercadorias eServiços (ICMS), a principal fontede receitas dos Estados. Asimplificação tributária, defendidapor Temer, é um tema caro aoInstituto para o Desenvolvimentodo Varejo (IDV), entidade quereúne as principais empresas docomércio varejista.

Davide Marcovitch, presidente doGrupo Moët Henessy na América Latina:“Tão importante quanto as reformas é ogoverno conseguir enxugar a máquina

pública”

O setor sofre com as diferentesregras em cada Estado – achamada guerra fiscal –, o que geradesequilíbrios concorrenciais. “Areforma tributária será perigosa sefor apenas parcial, com aumentode carga e sem uma regra clara detransição”, diz Antonio CarlosPipponzi, presidente do IDV e doconselho de administração da RaiaDrogasil. “É preciso reduzir ainformalidade e garantir umrelativo equilíbrio entre osEstados e os demais segmentos daeconomia.” Nesse contexto, um dosprincipais desafios da equipeeconômica é unificar regrastributárias sem gerar perdas de

arrecadação para nenhum Estado.Outro item importante é a revisãodo pacto federativo.

A principal crítica deempresários e especialistas é emrelação à concentração deimpostos nas mãos da União, emdetrimento de Estados emunicípios. “Pedi estudos parareduzir os tributos, acabar com aquantidade excessiva de impostose dividir melhor os impostos comas unidades da federação”, afirmao presidente Temer à DINHEIRO.Na pauta da desburocratização dogoverno, há uma série ações quepodem beneficiar o setorprodutivo. A partir de janeiro de2018, as grandes empresasdeverão adotar o eSocial, ummecanismo que simplifica opagamento de obrigaçõestrabalhistas, previdenciárias etributárias decorrentes da relaçãode trabalho. As demais empresasserão incorporadas ao eSocial apartir do segundo semestre do anoque vem.

O governo pretende unificar 13obrigações atuais de quatro órgãosgovernamentais distintos (ReceitaFederal, INSS, Caixa e Ministériodo Trabalho), reduzindo o tempogasto e custo para o cumprimentodas obrigações. Além disso, estásendo instituída em todos osmunicípios a Nota Fiscal deServiços Eletrônica (NFS-e), umaação inspirada nas notaseletrônicas adotadas com sucessoem vários Estados. Para a alegriados empresários, o governotambém promete simplificar osprocedimentos de restituição ecompensação entre os tributosadministrados pela Receita

Federal, inclusive a compensaçãoentre a contribuição previdenciáriae demais tributos. Na prática,significa que o caixa das empresasreceberá os recursos com maisrapidez.

Dyogo de Oliveira, ministro doPlanejamento: “É premente a Reformada Previdência: se não a fizermos, osgastos com aposentadorias e pensõesconsumirão 80% do orçamento, até

2050”

CRÉDITO Dentre asprioridades do presidente para oreaquecimento do Produto InternoBruto (PIB), há outras medidasmicroeconômicas. Uma delas é atransformação da Taxa de Juros deLongo Prazo (TJLP), utilizada nosempréstimos do BNDES, em Taxade Longo Prazo (TLP). O objetivoé reduzir os subsídios nestesfinanciamentos, aproximando aTLP das taxas praticadas pelomercado. “Isso aumentará apotência da política monetária,permitindo a redução estrutural dosjuros”, disse o ministro DyogoOliveira aos empresários. “Seráum grande avanço”, diz WellingtonMoreira Franco, ministro-chefe daSecretaria-Geral da Presidência daRepública, à DINHEIRO.

“Vai baixar os juros reais.” Osetor de bens de capital, noentanto, vê com muita preocupaçãoessa mudança. “As empresas, quejá estão muito endividadas, nãoconseguem investir com juros

Page 4: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

elevados”, afirma José Velloso,presidente da AssociaçãoBrasileira da Indústria deMáquinas e Equipamentos(Abimaq). “Se a TLP tiver umataxa de mercado de 16% ao ano, oinvestimento será inviável.” Parao setor imobiliário, que tem grandepotencial de gerar empregosrapidamente, a medida maisaguardada está nas mãos doConselho Monetário Nacional(CMN), que reúne o presidente doBanco Central, Ilan Goldfajn, e osministros da Fazenda e doPlanejamento.

Trata-se da regulamentação daLetra Imobiliária Garantida (LIG),um instrumento de captação derecursos alternativo aos fundingsatuais, que são a caderneta depoupança, o FGTS e a Letra deCrédito Imobiliário (LCI). Oobjetivo é ampliar a oferta decrédito de longo prazo para aconstrução civil. Outro item emestudo é a criação da duplicataeletrônica, um sistema queimpedirá que um ativo seja dadocomo garantia em duas operaçõesdiferentes. Ao aumentar asegurança dos credores em relaçãoàs garantias, o custo do créditotende a cair, inclusive parapequenas empresas.

Para os consumidores, o avançoocorrerá por meio do cadastropositivo. Um projeto de lei, queprevê a adesão automática detodos os brasileiros à lista de bonspagadores, está em tramitação noCongresso Nacional. Quem nãoquiser participar terá de solicitara sua exclusão, invertendo a lógicaatual. Esse tema é monitorado de

perto pelo Banco Central, queacredita na redução dos juros paraos clientes que possuem umhistórico positivo de pagamentos.No âmbito do varejo, o governo jáautorizou a diferenciação de preçoentre os meios de pagamentos,como dinheiro, cheque e cartão decrédito e débito. Falta, no entanto,definir uma redução no prazo queas operadoras de cartões têm pararessarcir os lojistas.

“O governo está no caminhocorreto, mas é preciso melhorartambém o curto prazo”, afirmaRoberto Giannetti da Fonseca,presidente da Kaduna Consultoria.“Faltam medidas demicroeconomia para asexportações e a infraestrutura, quevão gerar empregos agora.” Nocomércio exterior, o governoTemer estuda a ampliação doRegime Especial de Reintegraçãode Valores Tributários (Reintegra)em 2018. “É um tema que está nanossa agenda e estamostrabalhando para a viabilidadedessa tão esperada e sonhadamedida do governo paraimpulsionar as exportaçõesbrasileiras”, afirmou o ministro daIndústria, Comércio Exterior eServiços (Mdic), Marcos Pereira,na quarta-feira 9, em evento no Riode Janeiro.

A Associação de ComércioExterior do Brasil (AEB) defendea elevação da alíquota doReintegra de 2% para 5%,aumentando a desoneração dosprodutos vendidos ao exterior. Jáno setor de infraestrutura, Temeraposta em uma nova leva deconcessões à iniciativa privada

sairá do forno ainda neste ano, comprojetos que podem somar R$ 21bilhões. A 14ª rodada de licitaçõesde Blocos Exploratórios daAgência Nacional do Petróleo,Gás Natural e Biocombustíveis(ANP), prevista para setembro, játem 14 empresas credenciadas, dasquais 11 são estrangeiras. Nestesegundo semestre, o governotambém vai conceder as quatrousinas da Cemig (São Simão,Miranda, Volta Grande e Jaguara)e a Lotex, loteria conhecida como“raspadinha”.

Há ainda a possibilidade de ogoverno incluir no pacote algumasrodovias, três linhas detransmissão de energia e oaeroporto de Viracopos, que foidevolvido ao poder público. Em2018, há a previsão de uma novaleva de concessões de aeroportos,incluindo o carioca SantosDumont, considerado uma das“joias” da Infraero. Não sãoapenas os empresários que estãoconfiantes no avanço da agendaeconômica do presidente Temer.Os indicadores do mercadofinanceiro demonstram que,passada a fase mais turbulenta napolítica, os investidores nacionaise estrangeiros abriram os olhospara as oportunidades.

Na terça-feira 8, o índiceBovespa atingiu os 67.640 pontos,superando o patamar registrado em17 de maio, data da divulgação dasgravações da JBS. “Osinvestidores estão confiantes emque a matriz econômica serámantida”, diz Eduardo Velho,economista-chefe da INVX GlobalPartners. “Há, neste momento,

Page 5: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

ingresso de investidoresestrangeiros em fundos de ações noBrasil.” No mercado de câmbio, odólar permanece comportado,abaixo de R$ 3,20, enquanto orisco-país se aproxima do patamarda época em que o Brasil tinha graude investimento.

Superada a primeira denúnciada PGR, dizem os empresários, éhora de o governo aproveitar ajanela de oportunidade paraaprovar as medidas que vãoasfaltar a retomada do PIB. “Asreformas em geral, e a daPrevidência em particular, são

fundamentais para as expectativasde empresários e investidores”, dizEdmir Lopes de Carvalho,presidente da AssociaçãoNacional dos Executivos deFinanças, Administração eContabilidade (Anefac). “Não háoutro caminho.” O presidente daMultiplus, Roberto Medeiros,concorda. “Se tem um governo quepode fazer as reformas é esse aí,que sabe que não terácontinuidade”, diz o executivo.“Que o governo Temer entre paraa história como um governoreformista.”

Page 6: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

Entrevista - Michel Temer

“A reforma da Previdência irá do jeito que negociamos”

Na segunda-feira 7, opresidente da República, MichelTemer, concedeu entrevista àDINHEIRO, na sede da EditoraTrês, em São Paulo

Carlos Sambrana, MiltonGamez

Passada a batalha na votaçãoda denúncia da ProcuradoriaGeral da República, noCongresso, o senhor mantém oseu ímpeto reformista?

O meu ímpeto reformistacontinua o mesmo. Aliás, estámaior ainda por uma necessidadepolítica e econômica do Brasil.

O senhor teve 263 votos naCâmara, placar insuficiente paraaprovar a reforma daPrevidência. O senhor acreditaque conseguirá os votosnecessários?

Tivemos 263 votos e ainda 20ausências. Os mais de 20 do PSDBque votaram contra são a favor dasreformas. E muitos dos quevotaram contra votarão a favor dasreformas.

Como está a articulaçãopolítica?

Ontem (domingo, 6 de agosto),fiz uma reunião com os ministrosMeirelles e Moreira Franco; como presidente da Câmara, RodrigoMaia; com o presidente doSenado, Eunicio Oliveira; ecolocamos como prioridade aaprovação da reforma daPrevidência para setembro. Ou faza reforma, ou o Brasil para. Dentrode três semanas, me reunirei com400 deputados para tratar disso.

De que forma ela será enviadaao Congresso?

A reforma da Previdência irádo jeito que negociamos. Não dápara aprovar como você quersempre. Ficou razoável e vamosfazer o que é possível. Daqui unsoito anos, teremos de fazer umanova atualização.

E a reforma tributária,também será feita?

Não tenho falado em reforma,mas, sim, em uma simplificaçãotributária. Pedi estudos parareduzir os tributos, acabar com aquantidade excessiva de impostose dividir melhor os impostos comas unidades da federação.

E o crescimento econômico,presidente? Quando virá?

O Brasil já está crescendo,ainda lentamente, mas estáretomando. O País começou agerar mais empregos e, a partir desetembro, acredito que vamos

entrar em um novo ritmo decrescimento. Mas, se você olharpara trás, pegamos o governo comuma inflação de 10,7%.Começamos combatendo arecessão. Até o fim do ano, a taxabásica de juros vai estar entre 7%e 7,5%.

Mas os juros reais nãoacompanham essa queda…

Há uma dissonância entre a taxaSelic e os juros reais. Sabemosdisso e estamos discutindo isso.

Qual é o papel do BNDES nocrescimento do País?

O BNDES ficou muito ligadoaos campeões nacionais. Vamosestimular o crédito para pequenose médios empresários. Minhagestão será marcada pelademocratização do crédito.Faremos também acordos comcidades e Estados para in-vestirem áreas sociais comosaneamento.

A Petrobras voltará a investirem grandes projetos como antes?

Primeiro, a Petrobras precisade um saneamento interno e oParente (Pedro Parente, presidenteda estatal) está fazendo isso. Issonão acontece de uma hora para aoutra. Fizemos uma modificaçãoimportante também que foi aprovara lei que acaba com aobrigatoriedade da Petrobrasinvestir no mínimo 30% em todos

ECONOMIA

Page 7: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

os projetos do pré-sal. Isso mostraresponsabilidade econômica.

O Brasil, hoje, conta commais de 14 milhões dedesempregados. Há algum planopara acelerar a geração deempregos?

Pegamos o País na recessãomais aguda de sua história.Primeiro, tivemos que combaterisso. Para combater o desemprego,precisávamos combater arecessão. Faz três meses que oemprego voltou a crescer e voltarápaulatinamente. A reformatrabalhista, que não foi fácil de seraprovada, incentivará a geração deempregos. Ela trará maisflexibilidade para contratações etodos os direitos estãoassegurados pela Constituição.Que-bramos dogmas ideológicos epolíticos.

Por exemplo?

A PEC do Teto dos Gastos erachamada de a PEC da Morte, queiria acabar com o dinheiro daeducação, da saúde. O queaconteceu? Aumentamos osorçamentos da educação e dasaúde em R$ 10 bilhões cada.

Falando em economia, quaissão os seus principais acertos eos principais erros?

Os maiores acertos foram aaprovação da PEC do teto dosgastos, a reforma trabalhista e aliberação das contas inativas doFGTS, que injetou mais de R$ 40bilhões na economia.

E os erros?Não teria feito nada diferente.

Trabalho 18 horas por dia,estabeleci uma relação muitopróxima com o CongressoNacional. Equilibramos o poderentre presidencialismo e

parlamentarismo. Se alguém quiserpopularidade, com objetivoseleitorais, não faz o que estoufazendo. Não estou preocupadocom o agora, mas com o que vãover no futuro.

Como o senhor quer serlembrado no campo econômico?

Lá na frente, vão lembrar demim como o presidente reformista,aquele que colocou o Brasil devolta nos trilhos. O próximopresidente vai pegar umalocomotiva econômica.

O que o sr. fará depois de2018?

Quero ler, escrever e assistir aséries na Netflix.

Quais séries? House ofCards?

Tenho gostado da sérieDesignated Survivor.

Page 8: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

O drama de MeirellesFrustração de receitas e dificuldade para cortar despesas criam um dilema para o Ministro da Fazenda: rever a meta fiscal ou aumentar impostos?

De olho nas contas: agravamento dasituação fiscal obriga ministro daFazenda a rever projeções para 2017 e2018 (Crédito: Zanone Fraissat/

Folhapress)

Ivan Ryngelblum

Quando assumiu o poder, no anopassado, o presidente MichelTemer deu ao ministro daFazenda, Henrique Meirelles, aárdua missão de recolocar ascontas do governo nos trilhos.Pouco mais de um ano se passou eo quadro fiscal continua fora decontrole, com receitas frustradase gastos excessivos. A gravidadedo problema ficou nítida noprimeiro semestre, quando o Paísregistrou o maior déficit primáriode sua história. Foram R$ 56,1bilhões, com as receitas caindo1,2% e as despesas crescendo0,5%, em relação ao mesmoperíodo do ano passado. Diante defatos inexoráveis, a equipeeconômica se debruça sobre otema em busca de uma alternativaque gere o menor dano à economiabrasileira. Ou o governo revisa ameta fiscal e enfrenta um possívelrebaixamento do rating do País ouaumenta os impostos e corre o

risco de paralisar o setorprodutivo.

A Lei de DiretrizesOrçamentárias (LDO) para 2017prevê um déficit fiscal de R$ 139bilhões, meta que tem se mostradoinatingível. Em março, a equipeeconômica anunciou ocontingenciamento de R$ 42,1bilhões em recursos do orçamentopara despesas não obrigatórias,que representam 10% dos gastostotais. Do lado das receitas, ogoverno contava com a entrada derecursos extraordinários paradiluir o impacto docontingenciamento. O dinheiro nãoveio e o rombo continuoucrescendo. Os gastos obrigatórios,responsáveis por 90% do que ogoverno despende, sãoincontroláveis. O déficit daPrevidência, em especial, cresceu37,1%, para R$ 82,66 bilhões. “Ogoverno tem conseguido manter osgastos discricionários abaixo doteto, mas a receita está muitoaquém do normal”, diz RafaelBistafa, economista da RosenbergAssociados.

A falta de recursosextraordinários é produto de umasérie de alterações feitas nosprojetos da equipe econômica peloCongresso (veja quadro ao final dareportagem). Uma das principaisfrustrações veio com as mudançaspromovidas no Programa Especialde Regularização Tributária (Pert),a nova versão do Refis. O governo

esperava arrecadar R$ 13 bilhõesainda este ano com o texto original,mas como a Câmara dosDeputados ofereceu desconto deaté 99% em juros e multas, aestimativa caiu para menos de R$500 milhões. Para o ex-diretor deassuntos internacionais do BancoCentral (BC) AlexandreSchwartsman, a falta deperspectiva de recursosextraordinários é a conta que opresidente Temer teve de pagarpara barrar o pedido deinvestigação feito pelaProcuradoria Geral da República(PGR) por suspeita de corrupçãopassiva. “Existe uma frustração dereceitas, mas houve uma decisãodeste governo de utilizar o seucapital político para sobreviver”,afirma Schwartsman.

Diante disto, o governo estudaalterar a meta fiscal. Apossibilidade foi admitida pelaprimeira vez por Meirelles em 31de julho. A mudança quase foianunciada na quinta-feira 10,quando o presidente se reuniu coma equipe econômica, auxiliares elíderes do Congresso para tratar doassunto, mas a decisão foi adiadapor mais alguns dias, porque ogoverno quer avaliar melhor osdados antes de bater o martelo. “Ocaminho para não aumentarimpostos é controlar as despesas”,disse Meirelles, após a reunião. “Éa única saída.” A expectativa é quea nova meta de déficit para 2017

ECONOMIA

Page 9: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

seja estabelecida em R$ 159bilhões. Se confirmada, esta seráa décima mudança desde a criaçãoda Lei de Responsabilidade Fiscal(LRF), em 2000.

Embora indesejada, a alteraçãofiscal pode ser menos traumáticado que muitos imaginam. “Arevisão não possui impactosignificativo, porque nós jáprojetamos um déficit maior”,afirma Samar Maziad, analistasênior da agência de classificaçãode riscos Moody´s, (leia entrevistaao lado). Segundo ela, aperspectiva de R$ 159 bilhõesequivale a um déficit de 2,5% doPIB, enquanto a agência estima umsaldo negativo de 2,4% para esteano. Para evitar mais um desgasteem 2018, quando o País precisacumprir um déficit de R$ 129bilhões, o governo considera asmesmas alternativas: revisar a metaou aumentar impostos.

Na terça-feira 8, Temer admitiua existência de estudos paraaumentar a alíquota de Imposto deRenda, mas que não havia nadadecidido. A declaração provocoureações imediatas, inclusive dealiados. O presidente da Câmara,Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmouque a proposta “não passa” naCasa. O setor privado tambémreagiu contra a fala. “As notíciascausam preocupação”, diz AlencarBurti, presidente da AssociaçãoComercial de São Paulo (ACSP).“Todos são afetados negativamente

pelo aumento de imposto.” No fimdo dia, em nota, a Presidência disseque nenhuma proposta do tipo seráenviada ao Congresso e que opresidente fez “menção genérica”sobre o assunto.

“A aprovação de uma amplareforma do sistemaprevidenciário é o fator chavepara a qualidade de crédito doBrasil”

Samar Maziad, analista sênior daMoody’s responsável pelo rating do

Brasil (Crédito:Divulgação)

O aumento da meta podetrazer algum prejuízo para aeconomia brasileira?

A revisão da meta para umdéficit fiscal de R$ 159 bilhõesnão será um movimentosignificativo, porque nós jáprojetávamos um déficit elevado.Esperamos que o déficit fiscal de2017 seja de 2,4% do PIB. Umdéficit de R$ 159 bilhõesequivalerá a um resultado primáriode -2,5% em 2017, o que não émuito diferente do que nósprojetamos.

A mudança pode provocaralguma mudança no rating do

País?Não. Como nós afirmamos na

nossa decisão de 26 de maio,quando mudamos a perspectiva dorating do Brasil de estável paranegativo, os fatores que podemlevar a um rebaixamento são aintensificação da crise política,gerando um período prolongado deincerteza e resultando em impactosnas perspectivasmacroeconômicas e fiscais, e oretrocesso das reformas fiscais jáaprovadas, principalmente o tetode gastos. Por outro lado, reformasestruturais que gerem maiorcrescimento no médio prazo eacelerem o ritmo da consolidaçãofiscal, estabilizando a dívida dogoverno, podem levar à elevaçãodo rating.

O governo está fazendo tudoo que é necessário no lado fiscal?

A aprovação de uma amplareforma do sistema previdenciárioé um fator chave para a qualidadede crédito do Brasil. Também éimportante que o governo respeiteo teto de gastos instalado no anopassado.

O que o Brasil precisa fazerpara recuperar a economia?

A continuidade da políticaeconômica e a realização dasreformas fiscais, incluindo orespeito ao teto de gastos para alémde 2018, serão fundamentais paraestabilizar o nível da dívida doPaís.

Page 10: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

16/08/17

Page 11: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Por um teto setorialRaul Velloso

O governo Temer praticamenteacabou. Entre outras coisas, faltou:1) trabalhar mais pelo investimento;2) descentralizar o teto dos gastos e3) ajustar a Previdência pública. Sefizermos um gráfico com os dadosdo PIB mensal, depois dos dois anosda queda seguida que se iniciou noprimeiro trimestre de 2014, o índicede março de 2016 fica parado atémaio de 2017, com algumaoscilação no meio do caminho. Ouseja, em que pese o risco Brasil sóter caído — demonstrando ootimismo dos investidores externosconosco —, a demanda mundial idobem obrigado, a inflação nunca tersido tão baixa, e a taxa de juros Selicter caído sistematicamente até agora,há 14 meses estamos totalmenteestagnados, sem que se possaafirmar que esse é o fundo do poço.Boa parte dessa evolução coincidecom a da taxa de investimento, queexplica, assim, a maior recessão denossa história. Se o crescimento nãoreage via forças normais demercado, o governo deveria terperseguido o objetivo central dedestravar o investimento dentro efora do seu próprio ambiente, noitee dia.

A primeira parte dessa tarefa éfocar em infraestrutura, a prioridademais óbvia do país. Ao que alguémpoderia reagir: “Não foi criado oPPI, entregue inicialmente a umpolítico bem próximo do

presidente?” Fora do lugar próprio(a rigor deveria estar no poucooperante Ministério doPlanejamento) o problema é que noPPI só se trata de coisas comimpacto a longo prazo, basicamentepara evitar atritos com os órgãos defiscalização. Por que não chamá-lospara uma conversa franca, aberta àsociedade, para combinar quem fazo quê? Um não deveria executar e ooutro só fiscalizar? O próprioministro Bruno Dantas, do TCU,propôs um “pacto” para acertaressas coisas, mas nada se fez. Semdinheiro no orçamento e para terefeito rápido, como têm dito o ex-ministro dos Transportes CésarBorges e eu, trata-se de estender oprazo da concessão da Via Dutra,onde há obras urgentes pendentes deautorização.

Além disso, é preciso reestruturaras concessões rodoviárias da safrade 2013, abaladas pela forterecessão, para as quais o governo,com medo do TCU, só admite asolução errada de relicitar, o quetransferiria seus efeitos para daqui anão sei quantos anos, e ainda assimcom pesados prejuízos. Fazer o queprecisa ser feito poderia implicarinvestimentos imediatos de quase R$20 bilhões, principalmente no Rio,onde a recessão é mais forte. Outraparte a atacar seria a correção dapolítica fiscal capenga em vigor, fatorque explica boa parte da elevada

incerteza reinante. Isso poderiainjetar mais demanda na economia edesanuviar o ambiente para osinvestimentos privados.

Na União, sem medidascomplementares de ajuste do gastoobrigatório, que predomina noorçamento, a PEC do Teto acabarácontribuindo quase nada para clarearas coisas no curto prazo. A maioriasabe que é só questão de tempo paraa PEC “micar”. Num quadro derecessão aguda e da não aprovaçãode qualquer ajuste desse tipo degasto, o governo prioriza ocumprimento da meta irrealista de umdéficit primário de R$ 139 bilhões,se esquecendo de que, apesar dasdificuldades, o crescimento do gastotende a ficar abaixo da inflação pelomenos este ano, e que a cobrançado mercado financeiro não é tãoforte assim. E aí passou a proporaumento de tributação erraticamente,algo obviamente inadequado para omomento atual.

Nesse sentido, bastaria dizer queo teto é a política central, e que oprimário voltaria à meta quando arecessão cedesse. Na verdade, aPEC do Teto teria outro valor, sefosse aplicada setor a setor. Dessaforma, serviria para conter os gastosdos segmentos que venhodenominando de “donos doorçamento”: Pessoal Ativo,Previdência Pública, Poderes

OPINIÃOO GLOBO

Page 12: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Autônomos (Legislativo, Judiciário,MPU e TCU), Saúde e Educação,onde só há gasto obrigatório. Só queesses são exatamente os que, naprática, ficaram de fora do alcancedessa política. Como o teto valepara o total e não para as partes, oajuste é feito todo no investimento,onde justamente a prioridade deveriaestar.

Além de priorizar o investimentoe refazer a PEC do Teto, o segredoseria focar na Previdência pública,onde estão os maiores privilégios, efazer o que a Constituição manda,ou seja, zerar os passivos atuariaisvia criação de fundos de recebíveise aumento de contribuições, inclusivepatronais, equacionando esse item àparte do Orçamento. Como nenhumdos setores acima paga contribuiçãopatronal ou a conta de seus própriosaposentados, uma nova emenda deteto com incidência setorial poderiaexigir que cada setor arcasse, dentrodo seu quinhão — que seria fixo emtermos reais — com pelo menosparte desses gastos até atingir o total.Essa é a reforma mínima que tem deser tentada agora, em conjunto, seder, com uma mudança nas regrasda Previdência focada apenas nosservidores públicos, inclusivemilitares. Algo análogo deveria serfeito nos estados e municípios, ondeos erros são os mesmos, mas o limitedesta coluna me impede de detalhar.

Page 13: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Governo acha irregularidadeem 60 mil benefícios assistenciais

MAELI PRADODE BRASÍLIA

Em busca de receitas e maioreficiência nos programas sociais,o governo deu início a umprimeiro pente fino no BPC(Benefício de PrestaçãoContinuada), direcionado a idosose deficientes de baixíssima renda,e encontrou 60 mil benefíciosirregulares.

Os cancelamentos gerarão umaeconomia inicial estimada em R$670 milhões.

O Ministério doDesenvolvimento Social encontrou17 mil pagamentos a pessoas quejá morreram. Esses casos totalizamR$ 190 milhões por ano e já foramcancelados.

Em outro cruzamento de dados,foram identificadas 43 mil pessoasque recebem o recurso mesmopossuindo renda maior que o valorfixado para entrar no programa.

Uma redução ainda maior decustos é esperada em 2018, quandoperitos verificarão in loco ascondições físicas e de moradia dosbeneficiários.

Pelas regras, têm direito a umsalário mínimo deficientes

incapacitados e pessoas acima de65 anos, nos dois casos com rendafamiliar inferior a um quarto dopiso.

O programa, que atende hoje a2,48 milhões de deficientes e 1,99milhão de idosos e custa R$ 50bilhões, não era revisado desde2008.

As fiscalizações que vêm sendorealizadas em programas comoauxílio-doença, Bolsa Família eaposentadoria por invalidez sãoconsideradas pelo Ministério doPlanejamento uma das fontes dereceita para ajudar no cumprimentoda meta fiscal.

Essas varreduras, que geraramuma receita adicional superior aR$ 7 bilhões neste ano, chegaramao BPC.

Entre julho e agosto, oMinistério do DesenvolvimentoSocial enviou cartas aosfavorecidos pedindo que atualizemseus cadastros. A expectativa é queaté novembro R$ 480 milhões emincentivos sejam cancelados.

"As revisões têm como objetivodar mais eficiência ao gasto social,que cresceu muito nos últimosanos sem revisões aprofundadas.

Há casos em que a doença não éincapacitante, e em que o usuáriona verdade é candidato ao BolsaFamília, não ao BPC", diz osecretário executivo da pasta,Alberto Beltrame.

A diferença para as contaspúblicas é grande. O Bolsa Famíliapaga, em média, R$ 181. O BPCconcede R$ 937.

O Desenvolvimento Socialaguarda o fim do pente fino doauxílio-doença para dar início àetapa mais aprofundada de revisãono BPC.

"Estamos nos organizando pararacionalizar as visitas, focandosomente nos casos em que é maisprovável que a situação tenhamudado desde a concessão dobenefício."

As visitas vão avaliar nãosomente as condições financeirasdo beneficiário, mas também suasituação social -moradia,transporte e oportunidades detrabalho.

"Ser cadeirante em São Paulo édiferente de ser cadeirante nointerior da Paraíba. São essasdiferenças que a checagem tambémvai abordar", disse Beltrame.

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

Page 14: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Temer deve anunciar hoje revisãode metas para deficit de R$ 159 bi

MARINA DIASLAÍS ALEGRETTIDE BRASÍLIA

O presidente Michel Temer vaidefinir nesta segunda-feira (14) osúltimos detalhes para o anúncio darevisão das metas fiscais de 2017e de 2018 e as medidas de reduçãodos gastos e aumento daarrecadação necessárias para ogoverno fechar as contas.

O anúncio das novasprevisões, que devem ficar emtorno de um deficit de R$ 159bilhões para os dois anos, só deveser feito após nova reunião entreo presidente e sua equipe políticae econômica.

A expectativa de integrantes dogoverno é que a divulgação dosnúmeros e do conjunto de medidasseja feita ainda nesta segunda,depois do encontro no Planalto.

Temer tentou, durante reuniõesno fim de semana, alinhar odiscurso entre os ministros da áreapolítica, como Antonio Imbassahy(Secretaria de Governo) e MoreiraFranco (Secretaria-Geral), e os daárea econômica, HenriqueMeirelles (Fazenda) e DyogoOliveira (Planejamento).

Apesar de haver certo consensono governo de que a ampliação dodeficit de 2017 deve ser de R$ 139bilhões para R$ 159 bilhões, e ado ano que vem, de R$ 129 bilhõestambém para R$ 159 bilhões, hádivergências sobre como chegar aesse patamar.

Meirelles, por exemplo, insisteque o rombo de 2018 deve sermenor que o de 2017, cerca de R$149 bilhões, na tentativa de passarao mercado a mensagem de que hátrajetória de redução do deficit.

Entre as medidas debatidaspelos auxiliares de Temer -e quedevem ser anunciadas juntamentecom a revisão das metas fiscais-está o adiamento do reajuste deservidores, de 2018 para 2019, oque fará com que a Uniãoeconomize R$ 9,8 bilhões.

Além disso, o salário inicial denovos servidores ficará restrito aR$ 5.000 e haverá corte debenefícios como auxílio-moradiae ajuda de custo em casos deremoção.

Também em análise está oaumento da contribuiçãoprevidenciária de servidores daUnião, dos atuais 11% para 14% -mas o Planalto teme reação

negativa do setor.

O governo deve ainda acabarcom o auxílio-reclusão, benefíciopago aos dependentes depresidiários que são segurados doINSS.

Integrantes da equipeeconômica admitem que essamedida não tem grande impactofiscal no curto prazo -dos cerca deR$ 600 milhões gastos anualmentecom o programa, a economia seriade apenas R$ 25 milhões nosprimeiros anos.

Mas a avaliação é que essainiciativa, que precisa passar peloCongresso, tem, nas palavras de umauxiliar do presidente, "apelopopular".

Uma das principaispreocupações é conseguir o apoiodos parlamentes para aprovarmedidas de aumento de receitas ede contenção de despesas, muitasdelas consideradas impopulares àsvésperas de um ano eleitoral.

Na semana passada, porexemplo, Temer desistiu deanunciar o aumento da alíquota doImposto de Renda de contribuintesmais ricos, em estudo noMinistério da Fazenda, em razão

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

Page 15: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

das reações negativas, inclusive nasua base aliada.

Com dificuldade dearrecadação, o governo deixouclaro, contudo, que avalia aumentaroutros tributos.

O presidente da Câmara,Rodrigo Maia (DEM-RJ), já disseque os parlamentares nãoaprovarão nenhum tipo de aumentode impostos e que há muitadificuldade em conseguir odinheiro esperado pelo governocom o Refis.

A Fazenda esperava arrecadarcerca de R$ 13 bilhões com oprograma de negociação dasdívidas com o Fisco, mas aprojeção foi frustrada commodificações que o texto sofreu naCâmara e caiu para menos de R$500 milhões.

*

AGENDA ECONÔMICAGoverno Temer atua em várias

frentes

REONERAÇÃO DA FOLHAA medida provisória foi

revogada. Um projeto de lei sobreo tema será enviado ao Congresso,provavelmente para valer no anoque vem

REFORMA DAPREVIDÊNCIA

Proposta do governo, comalterações, foi aprovada em umacomissão do Congresso, mas aindaprecisa passar por pelo menosquatro votações nos plenários daCâmara e do Senado

REFORMA TRIBUTÁRIA

Governo prometeu enviarproposta ao Congresso quecomeça pela reforma do PIS/Cofins

REFISA primeira medida provisória

sobre a questão da regularizaçãotributária caducou. Outra, quetramita no Congresso, crioucondições muito favoráveis adevedores. Agora, o governo querelaborar uma terceira proposta,"mais equilibrada"

SERVIDORESGoverno estuda adiar reajustes

programados para janeiro de 2018e fazer cortes em benefícios, alémde um PDV (programa de demissãovoluntária) para o qual se esperabaixa adesão, e aumentar acontribuição dos servidores de11% para 14%

Page 16: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Forças Armadas sofremcorte de 44% dos recursos

A d m i n i s t r a ç ã o .Contingenciamento de gastos pioraainda mais situação do Exército,da Marinha e da Aeronáutica, quecorrem o risco de ficar semdinheiro em setembro

Tânia MonteiroLeonencio Nossa / BRASÍLIA

Em meio à discussão damudança da meta fiscal e de cortede gastos, as Forças Armadaspressionam pela recomposição noOrçamento, que nos últimos cincoanos sofreu redução de 44,5%. De2012 para cá, os chamadosrecursos "discricionários" caíramde R$ 17,5 bilhões para R$ 9,7bilhões. Os valores não incluemgastos obrigatórios comalimentação, salários e saúde dosmilitares. Segundo o comando dasForças, neste ano, houve umcontingenciamento de 40%, e orecurso só é suficiente para cobriros gastos até setembro. Se nãohouver liberação de mais verba, oplano é reduzir expediente eantecipar a baixa dos recrutas.Atualmente, já há substituição doquadro de efetivos por temporáriospara reduzir o custoprevidenciário.

Integrantes do Alto Comando doExército, Marinha e Aeronáuticaavaliam que há um risco de"colapso". A Diretoria de

Fiscalização de ProdutosControlados (DFPC) do Exército,responsável por monitorar o usode explosivos, está sendo atingida.Perdeu parte da capacidadeoperacional para impedir o acessoa dinamites por facções comoPrimeiro Comando da Capital(PCC) e Comando Vermelho, queroubam bancos e caixaseletrônicos. O Comando doExército confirmou ao Estado queo contingenciamento reduz"drasticamente" a fiscalização douso de explosivos, abrindocaminho para o aumento deexplosões de caixas. A DFPC é umdos órgãos das Forças Armadas deapoio ao sistema de segurançapública atingidos pela falta derecursos.

A diretoria está tendodificuldades de manter operaçõese combater desvios de explosivospara o crime organizado. No mêspassado, a Federação Nacionaldos Bancos (Febraban) esteve naComissão de Segurança Públicada Câmara para pedir maiorcombate ao crime organizado. Há23 mil agências e 170 milterminais de autoatendimentos noPaís. Só neste mês, quadrilhasdestruíram com dinamites agênciasem Lindoia (SP), em Indaiatuba(SP) e em Capelinha (MG). Emjunho, os bandidos agiram emBrasília – são 22 ações desde 2016

no Distrito Federal. Em entrevistaao Estado, o presidente MichelTemer disse estar tomandomedidas em relação aocontingenciamento. "Nós queremosdevolver dinheiro, digamos assim,para os vários setores daadministração e, em particular, àsForças Armadas", afirmou.

Procurado pela reportagempara comentar as reclamações dasForças, o Ministério doPlanejamento, por meio de suaassessoria, disse que se "esforça"para resolver os problemas mais"graves". "Entretanto, qualquerampliação de limites, sem que hajaredução em outros ministérios,depende do aumento do espaçofiscal." Limites. Nas ForçasArmadas, a falta de recursos afetoua vigilância da fronteira, ospelotões do Exército na Amazônia,a fiscalização da Marinha nos riosda região e na costa brasileira. Pormedida de economia, aAeronáutica paralisou atividades,reduziu efetivos e acabou comesquadrões permanentes nas basesdos Afonsos, no Rio, de Fortaleza,de Santos e de Florianópolis.

O corte se deu, em especial, nosprojetos inseridos no Programa deAceleração do Crescimento(PAC). O contingenciamento podeantecipar a dispensa de recrutas,assim como atrapalhar o

POLÍTICAO ESTADO DE S. PAULO

Page 17: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

treinamento de soldados para agirno Rio e impedir a realização devoos para interceptar aeronavesclandestinas. Para reduzir gastos,as Forças também estão trocandoo quadro efetivo por temporário ereduzindo a tropa. De acordo como comandante do Exército, generalEduardo Villas Bôas, os cortes"foram muito elevados, fora dospadrões". Ele usou uma rede socialno início do mês para se queixar.Mar e Ar. Com 40% do orçamentocontingenciado, a Aeronáuticacogita suspender expediente àssextas-feiras. Ela centralizouatividades em Anápolis e Natal

para se adaptar. "A FAB já voou200 mil horas por ano no passado.Este ano havia um planejamentopara voarmos 122 mil horas", disseo brigadeiro Nivaldo Rossato,comandante da Aeronáutica.

"As restrições orçamentárias detoda ordem devem reduzir essemontante de 110 mil horas em2017." Com navios de 35 anos deidade média, a Marinha colecionano mar e nas águas da BaciaAmazônica embarcaçõesconsideradas ultrapassadas parasuas funções. O comandante daMarinha, almirante Eduardo

Bacellar Leal Ferreira, disse queé preciso pelo menos R$ 800milhões a mais por ano para mantera esquadra. "Isso precisa seracertado ou a nossa esquadra desuperfície vai desaparecer empouco tempo", afirmou. O quadroorçamentário para 2018 preocupao comandante. "Antevemos o riscopara programas estratégicos etambém para o funcionamentopleno das nossas atividadesdiárias, com reflexos em serviçosque atingem diretamente apopulação, como aquelesrelacionados à segurança danavegação."

Page 18: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Unidade teve de pedirverba para conta de luz

Além da falta de dinheiro paradespesas básicas, contratos parasubstituir armas estão congeladose cursos, suspensos

BRASÍLIA

Na quarta-feira passada, oQuartel- General do Exército, emBrasília, recebeu um telefonemado comandante de uma unidade deMato Grosso do Sul. Ele pediaajuda imediata para evitar o cortede luz da organização, responsávelpela área de fronteira com oParaguai, rota do narcotráfico econtrabando de armas. Apósmobilização, o Exército remanejoua verba a tempo de impedir que aunidade ficasse no escuro. Acúpula das Forças Armadas, queestará hoje em cerimônia deapresentação de militares aopresidente Michel Temer, avisougoverno e Congresso de que só temdinheiro até setembro paradespesas básicas.

Generais dizem que, com oscortes, foram obrigados a usarreservas de combustíveis e armas,pondo em risco a capacidade de

"prontidão" das tropas. Neste ano,o Exército já foi chamado paraatender a 13 pedidos de Garantiada Lei e da Ordem (GLO) e açõessociais nos Estados, mas aindaprecisa receber R$ 36 milhõesnecessários para essas operações.O risco de paralisação por falta deverba chegou ao preparo dastropas. Estoques de munição estãona reserva, frota de veículos ebarcos depende de renovação,cursos profissionalizantes derecrutas foram suspensos econtratos para substituir fuzis estãocongelados.

Ao Estado, o general EduardoVillas Bôas, comandante doExército, adotou tom diplomático."O Exército jamais deixará decumprir suas missões. Os cortesforam muito elevados, fora dospadrões, e, se não foremreadequados em curto prazo, terãoimpacto direto para a continuidadedas ações na Força." Ocontingenciamento tirou 43,5%dos recursos de investimentos doExército – de R$ 2,5 bilhões,mesmo valor de 2008, R$ 1,1bilhão foi retido. / T.M. e L.N.

POLÍTICAO ESTADO DE S. PAULO

Page 19: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

2 perguntas para...

Raul Jungmann, ministro da Defesa

1.A restrição orçamentária já afetaa operacionalidade das ForçasArmadas?

Até agora não tivemos comprometidaa capacidade operacional. Mas, a partirde setembro, começaremos a terproblemas. O que nos preocupa,particularmente, é a interrupção ou anecessidade de renegociação doscontratos dos projetos estratégicos.

2.O dia a dia dos quartéis já estásendo afetado?

O limite é setembro. Daí vamosreduzir efetivos, fechar unidades, etc.Mas creio que isso não vá acontecer.

POLÍTICAO ESTADO DE S. PAULO

Page 20: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

REPÚBLICA EM TRANSE »Você economiza, eles torram

Gastos de deputados com ascotas parlamentares mostram quea crise afetou apenas o cotidianodo eleitor. Reembolsos compassagens, aluguel de veículos ecombustível continuam em alta,alguns nada justificáveis aoscofres públicos

Alessandra Azevedo

Enquanto os brasileiros sedesdobram para encaixar asdespesas no orçamento, osparlamentares nem de longe têm amesma preocupação. O aumentorecente no preço da gasolina, porexemplo, que deixou boa parte dapopulação indignada, não teve

impacto na vida dos deputadosfederais, já que eles não precisampagar combustíveis com o salário deR$ 33,7 mil. Para arcar com esses eoutros tipos de gastos, comoalimentação e hospedagem, eles têmdireito à chamada cota parlamentar,pela qual a Câmara reembolsa odinheiro que eles usam com asdespesas. O valor varia de acordocom o estado de origem dodeputado: de R$ 39.503,61 pormês, para os de Tocantins, a R$44.632,46, para os acrianos. Amargem de ressarcimento é maior deacordo com a distância do estadoaté Brasília — a lógica é que, quantomais longe, mais cara é a passagem.

Ou seja, além de pagar ocombustível dos próprios veículos,os brasileiros também enchem otanque dos parlamentares. Só atéjulho deste ano, a Câmarareembolsou R$ 10 milhões aosdeputados por gastos com“combustíveis e lubrificantes”,segundo levantamento do Correio.Isso sem contar os R$ 14,8 milhõesque eles usaram para alugar carros.Caso prefiram não dirigir, osdeputados podem também chamarum táxi ou um Uber, como faz boaparte dos brasileiros, com a diferençaque basta apresentar uma nota fiscalpara que eles sejam ressarcidos comdinheiro público. Junto com pedágiose estacionamentos, a Câmarareembolsou R$ 568,3 mil, entrejaneiro e julho, com esse tipo degasto.

Para viagens mais longas —embora recentemente um deputadotenha feito o trajeto do aeroporto deBelo Horizonte (MG) até Divinópolis(MG) com Uber, pelo qual pagou R$291 —, é possível comprarpassagens aéreas ou fretar jatinhose até lanchas, tudo reembolsado pelacota, sem que precisem encostar nossalários. Com todas essas opções,os deputados escolheram gastar maiscom fretamento de aviões do quecom passagens aéreas este ano. ACâmara ressarciu em R$ 1,3 milhãoo gasto com bilhetes de avião e emR$ 1,6 milhão o aluguel deaeronaves.

POLÍTICACORREIO BRAZILIENSE

Salão Verde da Câmara: um parlamentar chegou a alugar um jatinhopara executivo por R$ 39 mil para uma viagem entre Brasília e Fozdo Iguaçu

Page 21: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17

Excesso

Em fevereiro, o deputadoGiocobo (PR-PR), primeiro-secretário da Casa, pediu reembolsode R$ 39 mil por apenas uma viagemde Foz do Iguaçu (PR) a Brasília,com uma parada em Cascavel (PR).Para fazer o trajeto, alugou umjatinho executivo Learjet 45.Atualmente, uma passagem de aviãode Foz do Iguaçu para Brasília custapor volta de R$ 500. Com o valordo aluguel da aeronave, daria parafazer 50 viagens de ida e volta entreos destinos.

O deputado não justificou opreço excessivo da viagem, mas aassessoria de imprensa dele ressaltouque ele usou valores permitidos pelacota e estava exercendo funçãoparlamentar nas ocasiões. Entrejaneiro e julho, Giacobo gastou R$160 mil da cota parlamentar com omesmo tipo de despesa. “Essedinheiro está previsto no Orçamentoda Câmara, mas vem do pagamentode impostos dos brasileiros. Sãogastos, muitas vezes, exorbitantes,porque muitos parlamentares veema cota como uma complementaçãodo salário deles. E não era para ser,era para arcar com os custos do

mandato. Deveriam passar umpente-fino”, defendeu o especialistaem gastos públicos Gil CastelloBranco, da ONG Contas Abertas.

Mesmo que Cascavel tenha sidoparada obrigatória, a viagem de Fozdo Iguaçu para lá não custa nem R$100 de ônibus. A menos de duashoras de carro, a distância de 140kmé menor que o trajeto de Brasília aGoiânia (210km), que, por maisperto que seja da capital, também éroteiro dos jatinhos alugados pelosparlamentares. O deputado goianoAlexandre Baldy (Podemos), porexemplo, gastou R$ 5,9 mil parafazer esse trecho, que dura 45minutos de avião, em junho.Segundo a assessoria de imprensado deputado, na data, Baldyprecisava cumprir duas agendas emhorários próximos, uma em Goiânia,com o governador Marconi Perillo,e outra na Câmara dos Deputados,em Brasília. “Em razão dos altosvalores das passagens aéreas que seaproximavam de R$ 2,5 mil (porpessoa/trecho), ele optou pelofretamento de uma aeronave, na qualrealizou o trajeto acompanhado deum assessor”, justificou.

O deputado Paes Landim (PTB-

PI) gastou este ano R$ 113,5 mil comfretamento de aviões, despesajustificada pela “necessidade deviajar às bases”. O gabinete informouque, no caso dele, era necessário ofretamento porque os municípios sãodistantes. Se ultrapassar o valor dacota em um mês, não tem problema:a Câmara permite que os deputadosgastem além do limite mensal, desdeque compensem nos próximosmeses. Na prática, os valores sãoantecipados indiscriminadamente, deacordo com a necessidade de cadaparlamentar. O saldo não usado pelodeputado em determinado mêsacumula-se até dezembro.

A conta é do país

Confira as despesas com a cotaparlamentar

Tipo de despesa Valor*Combustíveis e lubrificantes R$

10 milhõesPassagens aéreas R$ 1,3 milhãoFretamento de aeronaves R$ 1,6

milhãoTáxi, pedágio e estacionamento

R$ 568,3 milFretamento de embarcações R$

47,5 milTotal: R$ 113,4 milhões* até julho/2017

Page 22: A agenda econômica de Temer · que vai incluir a aprovação da PEC dos gastos, terá um desfecho inusitado em 17 de maio de 2017, com as gravações comprometedoras da JBS. A última

14/08/17JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF BRASÍLIA