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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A AFETIVID ADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM Por: Ana Cristina Pereira da Si lva Quintela Orientador: Prof.: Carlos Alberto Cereja de Barros Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

Por: Ana Cristina Pereira da Silva Quintela

Orientador:

Prof.: Carlos Alberto Cereja de Barros

Rio de Janeiro

2006

Page 2: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

Apresentação de Monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para

conclusão do Curso de Pós - Graduação “Lato

Senso” em Psicopedagogia. Tendo como

objetivo fundamental um melhor

relacionamento entre educando e educador, a

fim de que o processo educacional aconteça de

maneira mais proveitosa e duradoura,

buscando a formação de pessoas íntegras,

criativas e autônomas que tenham a

capacidade de enfrentar os problemas de seu

cotidiano.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer à Deus, que me deu forças, saúde e

sabedoria suficientes para que eu pudesse formular e concluir este trabalho

com sucesso.

Ao meu marido que me apoiou e incentivou durante todo o curso, sabendo

entender a minha ausência em tantos momentos importantes.

Ao meu filho que a cada dia, com seu olhar e sorriso, renovava minhas

esperanças e me enchia de forças para continuar a trilhar meu caminho.

Aos meus pais, por me ensinarem a viver a vida com dignidade e pela

excelente educação que me foi dada, pela base e estrutura familiar que me

proporcionaram, pois sem eles eu não seria ninguém.

Ao meu irmão pela importante colaboração e paciência durante a digitação

desse trabalho, acreditando sempre no meu potencial profissional.

Às minhas colegas de trabalho pela ajuda, confiança, apoio e reflexões críticas

que muitas vezes, amenizaram os momentos difíceis dessa jornada.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa pesquisa ao meu filho, como incentivo ao estudo contínuo, que sempre nos aprimora e engrandece como indivíduo, dentro de uma sociedade cada vez mais competitiva. Que esse trabalho possa estimulá-lo a busca constante do saber.

Ana Cristina P.S. Quintela

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RESUMO

O tema escolhido para este estudo trata da afetividade no processo

ensino-aprendizagem. Quando há um relacionamento de troca e afeto, o

aprendizado se torna mais proveitoso e duradouro, tornando o indivíduo um ser

crítico, reflexivo e atuante dentro da sociedade em que vive. Considerando

estas reflexões, surgiu a questão para este trabalho: até que ponto a ausência

da afetividade entre professor e aluno interfere no processo de ensino-

aprendizagem? A escolha desta questão deu-se pelo fato da pesquisadora

considerar e vivenciar a afetividade numa instituição de rede privada como fator

primordial no relacionamento educando e educador. Sendo assim, este

trabalho teve por objetivo investigar a importância do afeto no processo

educacional, entre alunos do primeiro segmento do ensino fundamental, com o

intuito de saber a sua contribuição para a melhoria da qualidade do ensino. O

referencial teórico deste estudo foi baseado em Saltini (1999) que enfatiza em

sua obra a preocupação com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas

e amorosas, que tenham a capacidade de enfrentar os problemas presentes

em seu cotidiano. Para elaboração desse trabalho realizou-se uma pesquisa

bibliográfica e um estudo de caso, onde foi aplicada uma entrevista que

facilitou a investigação do tema abordado. Concluiu-se que a afetividade deve

caminhar junto do aspecto cognitivo, a fim de criar uma relação favorável ao

processo educacional.

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METODOLOGIA

Para elaboração desse trabalho realizou-se uma pesquisa bibliográfica

desenvolvida através de livros e artigos científicos, foi também realizada uma

pesquisa de campo exploratória, cujo objetivo primordial era observar a

situação em questão, a fim de proporcionar maior familiaridade com o

problema, tornando-o mais explícito, buscando um complexo conhecimento da

realidade.

O tipo de pesquisa realizada foi estudo de caso que, por sua

flexibilidade, facilitou a investigação de um tema tão complexo, estimulando a

pesquisadora na realização de novas descobertas e focalizando sua questão

como um todo.

A estratégia utilizada para a construção dessa pesquisa foi observação

ativa e natural, que contou com a participação da pesquisadora como parte

integrante do grupo a ser investigado durante o decorrer do estudo. A mesma

se utilizou de entrevista informal, a fim de obter uma visão geral do problema a

ser pesquisado.

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"Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo,

quem não ama, não aceita os seres inacabados e portanto, não pode educar."

(Paulo Freire)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA 12

CAPÍTULO II

O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM 24

CAPÍTULO III

DEFASAGEM INTELECTIVA 28

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS 34

CONCLUSÃO 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

ANEXO 43

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÃO

Durante o processo de ensino-aprendizagem, a afetividade é fator

determinante para um resultado positivo, onde as partes envolvidas (professor

e aluno) desenvolvem um trabalho significativo para o progresso desse

aprendizado.

O tema afetividade tem um valor social que necessita sempre ser

discutido, no curso de Pedagogia, pois é de extrema importância ao processo

ensino-aprendizagem. Percebe-se que quando existe um relacionamento de

troca e afeto, todo o aprendizado se torna mais proveitoso. No momento, em

que o processo aceita a vivência do aluno e o incentiva de forma afetuosa, ele

se sente seguro e capaz de transformar suas experiências em um

conhecimento duradouro, que o tornará um indivíduo crítico, reflexivo e atuante

dentro da sociedade em que vive.

A afetividade é um fator primordial para a transformação do educando,

que desenvolve suas reflexões alcançando um resultado positivo com a

consciência de que o estado emocional favorável é uma condição fundamental

para que isso ocorra. A afetividade leva os professores a proporcionarem

mudanças no campo pedagógico, metodológico e social no processo ensino-

aprendizagem, a fim de que a aquisição do conhecimento aconteça de forma

estimulante e duradoura.

Considerando estas reflexões, surgiu a questão para esta pesquisa: até

que ponto a ausência da afetividade entre professor e aluno interfere no

processo de ensino- aprendizagem? A escolha desta questão deu-se pelo fato

de esta pesquisadora considerar e vivenciar a afetividade numa instituição da

rede privada como o fator que prioriza o relacionamento do educando e

educador, evidenciando a necessidade desse sentimento, visando integrar o

aluno à instituição, potencializando a formação do indivíduo como cidadão

singular, responsável e solidário. Além disso, valorizando a própria vida e

comprometendo-se com uma sociedade mais justa e democrática.

Page 10: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

10Sendo assim, este trabalho teve por objetivo investigar a importância da

afetividade no processo de ensino-aprendizagem, entre alunos do primeiro

segmento do ensino fundamental, com o intuito de saber a sua contribuição

para a melhoria da qualidade educacional.

Segundo Saltini (1999) a educação escolar deve estar compromissada

com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas e amorosas, cuja vida

seja pautada nos princípios de igualdade, justiça e cooperação, em que

conhecer é pensar, é inventar, é descobrir e conectar as qualidades e atributos,

recompondo com a capacidade criadora o real externo dentro da mente.

Saltini (ibid) enfatiza em sua obra, a preocupação com o processo de

aquisição de conhecimento e seu aprimoramento, a capacitação do aluno para

enfrentar os problemas presentes e a construção de um espírito crítico e

criativo, visando a formação de um homem feliz.

A escola precisa estar preparada para que os alunos face à necessidade

de lidarem com situações e pessoas, possam desenvolver um sentido de

conjunto e cooperação, porém não perdendo de vista a transmissão de valores

fundamentais desenvolvidos pelo homem e que podem, se considerados

verdadeiramente, estabelecer uma relação harmônica entre as pessoas.

O afeto, quando alcança todos os membros da escola proporciona a

participação nas discussões sobre tudo que lhe diz respeito, desperta a

consciência de todos acerca da importância da formação de uma sociedade

mais justa e igualitária.

É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no

funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem

necessidade, nem motivação; e consequentemente, perguntas ou problemas

nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma

condição necessária na constituição da inteligência, porém não é suficiente.

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11Na relação entre inteligência e afeto, podemos afirmar que o afeto faz ou

pode causar a formação de estruturas cognitivas, sendo a emoção a grande

fonte do conhecimento.

Desta forma, é importante ressaltar uma educação pautada no respeito e

no amor ao educando, o que exige um educador competente, sensível e

humanamente preparado; um educador com autonomia profissional, que lhe

permita tomar decisões e compreenda a necessidade de sua participação

efetiva e afetiva na transformação de nossa sociedade, para que esta se torne

cada vez mais humana e feliz; um educador que seja aberto às mudanças que

refletem sua busca constante de aperfeiçoamento e harmonia. Um educador

que creia no poder da educação, sem contudo acreditar que esse poder é

limitado, contribuindo assim, para a compreensão do homem e para a luta de

um mundo melhor.

Esta monografia foi dividida em dois capítulos, o primeiro tratará a

Afetividade no Contexto Social e na Escola e o segundo abordará a Defasagem

Intelectiva, considerando a dificuldade de aprendizagem que o aluno

apresenta, envolvendo diversos fatores, dentre eles: os problemas

pedagógicos e emocionais que surgem na relação professor-aluno.

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CAPÍTULO I

A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA

A escola não pode mais se atribuir o papel de mera transmissora de

conhecimentos, local onde se prepara os alunos para, unicamente,

responderem aos anseios imediatistas da sociedade, mas sobretudo, deve

despertar para a necessidade de estar, ela mesma, aberta às mudanças no

campo pedagógico, metodológico e social, estimulando o aprimoramento dos

seus profissionais, sendo capaz também de perceber as freqüentes

modificações que ocorrem na relação entre as pessoas. Ela pode, então,

preparar o aluno para essa nova sociedade que se modifica intensamente, que

tem mais incertezas que certezas, onde os alunos terão que tomar decisões

permanentemente, terão que resolver problemas a todo instante, terão que

reestruturar seu modo de pensar e de ver as coisas.

A escola não deve, simplesmente, responder passivamente aos

reclamos impessoais da sociedade, mas despertar para seu papel

desencadeante, propiciador de mudanças reais, de estar à frente da grande

caminhada evolutiva a que está destinado o homem. Ela tem que oferecer

condições ao aluno de se tornar autônomo, participante real do processo

ensino-aprendizagem, onde ele tenha prazer em ir à escola, em estar na

escola, em vê-la como algo significativamente bom que possibilite a formação

integral do cidadão.

Segundo Saltini (1999), a escola não deve esperar que as crianças

façam tudo o que querem, mas que elas queiram tudo o que fazem e não

sejam forçadas a ação. A escola deve estar atenta ao fato de que o educando,

além do domínio básico do conhecimento, se sinta participante dos destinos de

sua comunidade, de seu país e de seu planeta e que ele possa interferir nas

decisões que lhe digam respeito, expressando seus interesses, sendo capaz

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13de ter necessidades satisfeitas, ou que possa sempre lutar para que isso

aconteça.

A escola, muitas vezes, ignora esta questão, preocupando-se apenas

com o repasse de conteúdos e técnicas. No entanto, na instituição educacional

deve-se trabalhar no sentido de organização dos sistemas afetivos e

cognitivos. As relações conflituosas, enfrentadas no dia-a-dia do processo

educacional, acabam interferindo na atividade intelectual, ocasionando

dificuldades na formação de um cidadão pleno. O relacionamento afetivo

pressupõe interação, respeito pelas idéias, pelas opiniões do outro, dedicação,

troca e vontade por parte dos envolvidos.

Atuando de forma afetiva a escola será o espaço privilegiado, onde a

existência humana possa desenhar-se com toda a sua riqueza, complexidade e

dramaticidade, permitindo ao homem desenvolver o sentimento inquestionável

e irredutível de dignidade, de auto-estima, de consideração e respeito.

A escola, algumas vezes, é vista como especialista em tirar a coragem

das crianças, pois mostra constantemente que quem tem idéias é o professor e

não o aluno. Dessa forma, a criança acaba acreditando em tais concepções e

se desvalorizando ao longo dos seus estudos.

Saltini (ibid), em sua obra, enfatiza a visão de Sócrates (400 a.C) que

descobriu uma forma de educar a maiêutica, que é a arte de trazer à luz às

crianças, ou seja, a arte de ser parteiro.

Na Grécia antiga a mãe de Sócrates era parteira e quando este na sua

adolescência dizia que ao crescer seria parteiro, sua mãe o desaconselhava,

pois na Grécia só as mulheres podiam ser. Mas perseverante, ele afirmava:

Serei um parteiro especial. Um parteiro de idéias e pensamentos.

Como uma criança se origina de uma célula, um embrião, e aos

poucos é gestada e transformada em um bebê, todos nós

concebemos e fecundamos idéias que ao serem gestadas se

transformam. Mas, não há auxílio no sentido de nos ajudar a

exteriorizar tais idéias e a mostrar a beleza de nossas criações.

Page 14: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

14Todo o mundo quer mostrar suas idéias e ninguém nos auxilia em

trazê-las à luz.

(SALTINI 1999, p. 60)

Sócrates fez isso durante toda a sua vida e com essa forma de educar

formou sábios e filósofos, como Platão e outros pertencentes à escola

socrática.

Esta simples metáfora mostra que, assim como uma mulher produz o

filho no ventre, o homem (ser) produz idéias e necessita de alguém para

auxiliá-lo nesse parto – papel este que nos cabe como educadores.

O educador não pode ser aquele indivíduo que fala horas a fio a seu

aluno, mas aquele que estabelece uma relação e um diálogo íntimo com ele,

bem como uma afetividade que busca mobilizar sua energia interna. É aquele

que acredita que o aluno tem essa capacidade de gerar idéias e colocá-las ao

serviço de sua vida.

A escola será tanto melhor quanto puder propiciar também ao seu

quadro funcional atualização constante, participação nas discussões sobre

tudo que lhe diz respeito, para que possa ter despertada a sua consciência

acerca da importância de seu papel pessoal e profissional no processo de

formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

Entende-se que se deva incluir no currículo de formação e

aperfeiçoamento dos educadores disciplinas que lhes permitam desenvolver a

sensibilidade, que agucem a sua percepção e compreensão sobre os seres

sob sua responsabilidade, tornando-as pessoas sensíveis e harmonizadas.

O treinamento constante é primordial para um desempenho qualificado

e renovado, pois permite às pessoas envolvidas comprometerem-se

internamente com o processo, adquirindo responsabilidades cada vez

maiores por suas próprias ações, entendendo assim, que ele mesmo deve ser

um exemplo vivo daquilo que procura transmitir.

Page 15: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

15É possível concordar com Saltini quando ele afirma que a escola dentro

de um contexto social deve eliminar toda e qualquer ameaça, opressão ou

castigo, sob qualquer rótulo, pois que todo ser humilhado terá muitas

dificuldades em se tornar um cidadão completo todo oprimido, provavelmente,

abrigará dentro de si um opressor, não por um ditame da natureza, mas por

uma aprendizagem sócio-histórica, perpetuando e agravando cada vez mais

esse estado de desigualdade que caracteriza as relações sociais.

1.1 - A Relação da Afetividade com a Aprendizagem

Saltini (1999) considera em sua obra que é incontestável afirmar que o

afeto desempenha um papel essencial na formação da aprendizagem. Sem

afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação, e

consequentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não

haveria aprendizagem.

O primeiro estímulo do conhecimento, assim como a inteligência da

criança se dá na relação afetiva. O contato com a mãe é a primeira forma de

aprendizagem e a partir de toques físicos inicia-se a construção do “EU”,

originando registros emocionais e cognitivos fundamentais que potencializam

a inteligência quando o lado afetivo está bem desenvolvido.

Quando nasce uma criança, é facilmente reconhecível sua situação de

desamparo e dependência para a sobrevivência. Ela precisa de um adulto

que lhe dê alimento, agasalho e que preencha suas necessidades biológicas

básicas. Todas as atitudes realizadas visam satisfazer o bebê e o ajuda na

construção das formações cognitivas.

Na visão de Saltini (ibid) os primeiros interesses e impulsos da criança

se dirigem para os corpos de seus pais e para o seu próprio; e são estes

objetos e impulsos existindo no inconsciente que fazem surgir todos os outros

Page 16: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

16interesses pela via da simbolização. Portanto, a afetividade demonstra

emoção e a razão nasce desse sentimento. No início da vida, a emoção

predomina. Conforme a criança vai desenvolvendo-se, as emoções vão sendo

subordinadas ao controle da razão. Por toda a vida, razão e emoção vão se

alternando, numa relação de filiação, e ao mesmo tempo de oposição.

Sendo assim, é importante que na construção da aprendizagem seja

enfatizado o fator afetivo na relação educador e educando, pois uma criança

que recebe afeto tem sua auto-estima elevada, sente-se amada e mais

segura. Essa segurança é fundamental para que ela não se iniba perante os

insucessos que fatalmente aparecerão no transcurso de sua vida.

Na opinião de Tiba (2002) a auto-estima, fator primordial na construção

do saber, começa a se desenvolver numa pessoa quando ela é ainda um

bebê. Os cuidados e os carinhos vão mostrando à criança que ela é amada e

cuidada. Nesse começo de vida, ela está aprendendo como é o mundo a sua

volta e conforme se desenvolve, vai descobrindo seu valor a partir do valor

que os outros lhe dão.

É quando se forma a auto-estima essencial para a iniciação do

processo ensino-aprendizagem. O aspecto afetivo tem uma profunda

influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele poderia acelerar ou

diminuir o ritmo do desenvolvimento, portanto crianças estimuladas com

afetividade, desde a primeira infância, podem ter maior probabilidade de

inteligência.

A criança aprende por um processo que não separa o conhecimento do

sentimento, do afeto que é visto como o principio norteador da auto-estima

que mantém uma estreita relação com a satisfação que as crianças têm

consigo mesmas, facilitando o interesse e a disposição para aprender.

Assim quando a criança deixa a sua família para ir à escola, isto

significa que doravante passará boa parte do seu tempo fora da família.

Portanto, conceitos de afetividade devem ser levados para o ambiente

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17escolar, proporcionando estímulos contínuos de afeto. A partir do momento

que uma criança vai para uma escola, não vai apenas para aprender, mas

também para vivenciar o aprendizado como um todo e quem assim a percebe

poderá então orientá-la rumo ao amanhã.

O professor (educador) obviamente precisa conhecer a criança. Mas

deve conhecê-la não apenas na sua estrutura biofisiológica e

psicossocial, mas também na sua interioridade afetiva, na sua

necessidade de criatura que chora, ri, dorme, sofre e busca

constantemente compreender o mundo que a cerca, bem como o

que ela faz ali na escola.

(SALTINI, 1999, p. 70)

É importante salientar, também, que no ato de ensino-aprendizagem,

aspectos emocionais se referem aos vínculos, com as normas de disciplinas,

dentro do conceito escolar. No entanto esse vínculo não deve ter

características de seleção afetiva por determinados alunos, como também

ligações maternas ou paternas, pois a relação do professor é com o grupo.

Considerando o exposto até aqui é possível validar que de acordo com

Saltini na educação o aluno é obrigado a fazer, e, fazer sem o menor

interesse, sendo que os seus interesses nunca são considerados. Durante

mais ou menos 25 anos de sua vida é obrigado a fazer o que lhe é mandado.

O homem tende a ser escravo de um senhor que tem o poder do saber nas

mãos, ficando sempre na posição de senhor ou de escravo; quando a

construção da aprendizagem é feita sem o sentimento afetivo um ideal

rancoroso é construído e o aluno busca um dia tornar-se senhor a fim de

escravizar os outros.

Freire (1980) diz ser necessária uma reflexão sobre o homem e uma

análise profunda do meio concreto, deste homem concreto a quem desejamos

educar, ou melhor, a quem desejamos ajudar a educar-se.

Page 18: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

18Nós não educamos, ajudamos as pessoas a se educarem e ao

ajudarmos, educamo-nos também. Assim como não existe educador

e educando (o sábio e o idiota), pois ambos estão na mesma tarefa,

assim também não temos a certeza de onde começa o

conhecimento, no professor ou no aluno, pois nenhuma estrutura de

conhecimento está terminada.

(SALTINI, 1999, p. 57)

Dessa forma a relação do aspecto afetivo e do aspecto cognitivo deve

ser uma constante, a fim de se obter um amplo conhecimento, tentando

encorajar a criança a descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos

prontos buscando trilhar, durante o processo ensino-aprendizagem, um

caminho onde o afeto se transforme em conhecimento.

1.1.1 - Afetividade na Escola: Condicionantes Sócio-Teórico

Saltini (1999) destaca uma abordagem histórica da expressão da

afetividade na “velha sociedade tradicional” mostrando que a criança, nessa

sociedade, era criada numa família que não tinha função afetiva nem

educativa. Durante séculos, a socialização da criança, a transmissão dos

valores e dos conhecimentos não eram assegurados pelas famílias e sua

educação estava restrita a uma aprendizagem através da convivência com

adultos. Nessa época, as famílias conjugais se diluíam em meio amplo, de

intensa sociabilidade. Composto de vizinhos, amigos, criados, velhos, etc.,

onde ocorriam as trocas afetivas e as comunicações sociais e onde as

crianças eram tratadas com indiferença, havendo alta mortalidade infantil e

até práticas ocultas de infanticídio. Portanto, até o século XVI, eram tratadas

como adultos em miniatura, sendo o ensino voltado à instrução de habilidades

pragmáticas, como ler e escrever ou aprender algum ofício, em ambientes

onde não havia diferenciação por idade, exigindo-se das crianças um

desempenho semelhante ao dos adulto.

Page 19: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

19Com o surgimento da escola no fim do século XVI, destacou-se o papel

desta instituição como mediadora de transformações, ocorrendo a partir

dessa época uma mudança considerável no modo de vida da sociedade

ocidental, dando um novo lugar à criança e à família nas sociedades

industriais. A escola veio substituir a aprendizagem direta, feita através do

contato com os adultos e a partir de então as crianças foram através dela

separadas do mundo e mantidas em quarentena. Começou então, um longo

processo de enclausuramento, onde as crianças eram colocadas em recinto

fechado, como conventos na qual os religiosos não podiam sair e os

estranhos não podiam entrar, buscando desta forma a construção do saber.

As primeiras iniciativas de focalizar a educação afetiva na escola foi de

caráter doutrinário, visando um padrão de comportamento talhado em um

modelo religioso, através de regras disciplinares, com funções de vigilância e

enquadramento. No século XX, todo o processo de educação afetiva nas

escolas ficou restrito à orientação religiosa, embora alguns filósofos em

séculos anteriores, já apresentassem reflexões críticas e sugestões para uma

educação mais comprometida com o ser humano integral.

Refletindo sobre Saltini (ibid), observa-se que no resgate de um

passado pleno, o mundo hoje torna-se significativo. Então, faz-se necessário

advertir que o investimento afetivo nas inúmeras relações que se

estabelecem, tais como: adulto/criança, professor/aluno, mestre/discípulo,

mãe/bebê, construirão não somente o físico deste ser humano, mas acima de

tudo o homem ser, capaz de inventar, criar, renovar e descobrir.

A educação deve ser pensada não através de métodos que promovam

a inteligência, mas principalmente como um meio de promover a própria vida,

apropriando-se dela com as próprias mãos, buscando uma iniciação a crítica,

a interpretação e a transformação do mundo, inovando-o.

O verdadeiro objeto da educação é formar o julgamento e a

consciência, o resto é acessório. Ora, sufoca-se o julgamento sob

um amontoado de conhecimentos, tornando servil e covarde.

Quanto a virtude, quem pensa nela? Acreditam implantá-la a alma

Page 20: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

20da criança mediante insípidas lições de moral? Acreditam que

bastem discursos para desenvolver a vontade, a coragem, a

paciência a temperança, o domínio sobre si mesmo, qualidades viris

por excelência, e também a bondade, a lealdade, a sinceridade, a

retidão?

(WEIBER, 1991, p. 535)

É preciso considerar que cada tempo exige adaptações a quaisquer

teorias e métodos. Mas a educação cabe manter o desafio da crítica e do

avanço.

Sendo assim, pode-se afirmar que se a criança fosse privada de

educação, ela permaneceria em um estado totalmente primitivo, pois a

educação, quando praticada com sentimento afetivo leva o ser humano do

estado primitivo a forma atualizada de civilização e cultura. Ao nascer, a

criança encontra-se em estado animal, evidentemente com a estrutura

biofisiológica bem mais desenvolvida e complexa que a do animal irracional,

porém ainda não é um ser humano completo, pois não possui o conhecimento

de forma ampla e transformadora.

Desta forma, a educação não deve ser vista como mera transmissão

de conhecimento, de um saber e até de uma conduta, mas, sobretudo uma

iniciação à vida.

1.1.2 - Ciclo Vital: Aluno X Família X Escola

O aluno? Quem é essa criança?

Na visão de Saltini (1999), um conhecimento do modo de ser criança,

uma compreensão de como a criança vai construindo o seu conhecimento,

interagindo com outras crianças, pessoas e com seu próprio ambiente, tudo é

fator primordial na formação das pessoas que lidam com crianças.

Page 21: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

21Portanto, é possível aceitar a visão de Saltini (ibid), quando ele afirma

que há necessidade de afeto e carinho por parte do governo, dos dirigentes

de escolas, dos professores que atuam diretamente com os alunos, como da

sociedade e familiares que muitas das vezes falta motivação e assim

desmotiva os alunos colocando-os em oposição à escola, denegrindo-a e

desvalorizando-a constantemente

É importante a preocupação com relação à qualidade do vínculo

estabelecido, pois ele determinará a natureza do vínculo futuro. A parceria

entre a família e escola é de fundamental importância ao processo ensino-

aprendizagem do aluno, pois para ser válida toda educação, todo ato

educativo, deve necessariamente estar precedido de uma reflexão sobre o

homem, compreendendo-o em sua totalidade.

Tiba (2002) em sua obra, destaca que o conteúdo afetivo deve ser

considerado como essência pedagógica para realização das atividades,

estimulando a criatividade do aluno, através de artimanhas, que contribuam

prazerosamente nas situações de ensino-aprendizagem.

As idéias acima descritas por Saltini (1999) enfatizam que a criança

quando nasce é dotada apenas de funções psicológicas elementares, como

os reflexos e a atenção involuntária, presente em todos os seres humanos e

animais mais desenvolvidos, quando recebe o aprendizado cultural, no

entanto, parte destas funções básicas transforma-se em funções psicológicas

superiores, com a consciência, o planejamento, a memória. Essa evolução

acontece pela elaboração das informações recebidas do meio em que

convive. Enquanto mais acesso a cultura e ambientes propícios, mais se

favorecerá seu conhecimento. Os ambientes estimulados desenvolve mais o

cérebro. Assim os ambientes pobres de estímulos e afetos, como por exemplo

em orfanatos, crianças podem ter déficits cognitivos irreversíveis. É evidente

que o equilíbrio afetivo da família desempenha papel fundamental,

construindo de forma motivadora o rendimento social, afetivo e também

escolar.

Page 22: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

22Portanto, há a necessidade de discutir-se o papel da escola na

sociedade e suas formas de mudança, questionando os resultados de

atuação e apontando as ineficácias da escola brasileira. Muitas vezes a

escola prima pela capacidade de nos convencer de que não temos idéias, que

devemos assimilar as idéias por ela difundida, as idéias sedimentadas pelos

livros, pela cultura. É preciso reverter esses princípios arraigados, abrindo,

cada vez mais, novos espaços para o campo das idéias originais.

Saltini (ibid) enfatiza em sua obra que a escola deve ser o continente

de um desenvolvimento da organização dos sistemas afetivos e cognitivos,

pois quem está aprendendo e amadurecendo não é somente o intelectual e

sim um indivíduo em constante processo de conhecimento que

posteriormente se transformará em sabedoria.

A relação afetiva professor - aluno ganhou peso nos últimos anos, já

que a escola tem dividido com a família cada vez mais cedo a tarefa de cuidar

das crianças, além disso, os laços criados no ambiente escolar torna essa

relação especial, pois não tem as mesmas possessividades das ligações

familiares.

No entanto, se a preocupação em cativar o carinho dos alunos é

positiva, por outro lado o professor não deve esconder os sentimentos

negativos com relação a eles; e assim trabalhar essa questão com mais

eficácia. É preciso realmente, juntar a humanidade e amorosidade não

apenas em prol do sonho democrático, mas em respeito ao ser em formação,

pois se aluno e professor não se gostam, aprender fica difícil, porque

afetividade e aprendizagem caminham juntos, portanto quando existe um

relacionamento de troca e afeto entre aluno, família e escola o aprendizado se

torna mais proveitoso e duradouro.

Dessa forma Saltini (1999), destaca que as famílias e as escolas

deveriam entender mais os seres humanos e de amor do que de conteúdos e

técnicas educativas, pois ambas têm contribuído para a construção de

neuróticos por não entenderem de sentimentos, de sonhos, de fantasias, de

Page 23: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

23símbolos e de dores. As crianças precisam sentir que pertencem a uma

família e que esta está profundamente ligada a escola a fim de defendê-las

dos males da sociedade moderna, buscando a capacitação para a superação

de obstáculos e tornando-os autônomos e seguros.

Os jovens que são determinados, criativos e empreendedores

sobreviverão no sistema competitivo. Os que não têm metas nem ousadia

para materializar seus projetos poderão viver à sombra dos pais e engrossar

a massa de pessoas desqualificadas intelectualmente, prejudicando o futuro

de uma nação.

Àqueles que perdem a esperança têm enormes dificuldades para

superar seus conflitos. Portanto, não importa o tamanho dos obstáculos, mas

o tamanho da motivação que se têm para superá-los.

Desta forma, no momento em que o processo aceita a vivência do

aluno e o incentiva de maneira afetuosa, ele se sente convicto e capaz de

transformar suas experiências em um conhecimento significativo, que o fará

um indivíduo crítico, reflexivo e atuante dentro da sociedade em que vive.

Page 24: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

24

CAPÍTULO II

O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

“Ai de nós educadores se não sonharmos o sonho impossível.”1

Saltini em sua obra (1999) demonstra estatísticas internacionais que

põem xeque a educação brasileira. Um dos pontos que têm sido repetido no

exterior é o de que no Brasil cerca de 18 milhões de brasileiros não são

alfabetizados, o que representa uma das maiores taxas de analfabetismo da

América Latina. Em nível docente, há, ainda, 12 mil professores espalhados

no país que não concluíram a 8ª série do Ensino Fundamental.

O professor deve ser um apaixonado pela educação e se juntar aos

que têm fome de esperança, aos que necessitam acreditar na evolução e

aprimoramento do sistema educacional.

Saltini (ibid) afirma também que o professor necessita de salários

dignos, materiais pedagógicos adequados e conteúdos curriculares que

assegurem a aquisição de conhecimento e compreensão das idéias. A

formação profissional para o magistério requer uma sólida formação teórico–

prático, muitas vezes acredita-se que o desempenho satisfatório do professor

na sala de aula depende da vocação natural, mas não só de gosto pela

profissão, mas amor, desejo, ousadia para atingir os objetivos; gratidão por

realização nas atividades práticas e consciência de necessidade de

atualização.

Considerando o exposto até aqui o autor reafirma que em relação ao

papel do professor no processo ensino–aprendizagem, alguns pontos

merecem reflexão. Apesar de esforços e estudos, metodologias inovadoras,

1 FREIRE, P. 1980. Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra. Rio de Janeiro.

Page 25: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

25renovação da prática didática, melhor formação dos professores, evidências

ainda alertam para o fantasma do fracasso escolar e para o desinteresse de

muitos alunos em freqüentarem as salas de aula. O aluno continua em

destaque como o principal responsável por esse maus resultados, ora

culpado, ora vítima, quando outros enfoques merecem ser analisados.

Na escola do século XXI o mérito está em resgatar o aluno e apoiar o

professor para que cumpra bem sua tarefa. Segundo Saltini (1999) os

objetivos atuais são bem diferentes do passado: um deles é o desafio em dar

conta do triângulo afetivo professor-aluno-saber, que se trava no contexto da

sala de aula. Um outro é a reavaliação de ritmos próprios individuais em

relação aos grupais, cabendo aos professores, verdadeiros educadores e

mediadores do saber, despertar em seus alunos os bons sentimentos e a

formação da auto-estima, fazendo-os acreditar em si mesmos, pois as

crianças aprendem melhor quando estão satisfeitas com elas mesmas,

sentindo-se amada, aceita, valorizada, respeitada dentro do contexto escolar,

buscando o despertar da curiosidade e também do aprendizado.

O papel do professor é específico e diferenciado do das crianças. Ele

prepara e organiza o microuniverso onde as crianças buscam e se

interessam. A postura desse profissional se manifesta na percepção e na

sensibilidade aos rendimentos das crianças que em cada idade diferem em

seu pensamento e modo de sentir o mundo.

É importante que o educador tenha um planejamento de situacões-

problema para cada objeto da sala de aula e de todo ambiente escolar, locais

onde se faz educação: “Mas para isso é necessário que o educador seja

antes de tudo um curioso, um pesquisador, possibilitando assim a criança

descobrir verdades, ao invés de impor conteúdos.” (Saltini, 1999, p. 88).

Portanto, para que a aprendizagem seja significativa precisa ter

sentido, ser funcional, coerente e clara; é necessário que se estabeleça um

vínculo professor - aluno onde ambos façam parte do processo de

conhecimento compartilhado, tornando-o uma via de mão–dupla, onde o

Page 26: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

26educando tem a sua tarefa de aprendizagem facilitada, e o educador, por sua

vez, possui o interesse retro-alimentado pela resposta significativa que lhe e

dada a partir do momento em que, verdadeiramente se estabelece um elo

afetivo entre ambos.

O educador é aquele que abraça a causa com vontade, que tem paixão

pelo que faz. Ele busca motivar seus alunos, encorajando-os a descobrir e

inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos, construindo constantemente

novos saberes e os contagiando com afetividade.

Saltini cita Piaget num discurso feito em 1972:

O papel do mestre deve ser o de incitar a pesquisa e de fazer tomar

consciência dos problemas, e não o de ditar a verdade. De fato, é

preciso não esquecer que uma verdade imposta deixa de ser uma

verdade: compreender é inventar ou reinventar e “dar uma lição”

prematuramente é impedir a criança de encontrar ou redescobrir as

soluções por si mesma.

(PIAGET apud SALTINI, 1999, p. 88)

Saltini (ibid) destaca ainda que as relações afetivas nas salas de aula,

dependem muito das atitudes do professor, se o mesmo se manter indiferente

ou expressar raiva em relação aos alunos, a tendência e que estas atitudes

causem reações recíprocas nos alunos, gerando um ambiente conflituoso que

dificultará a aquisição do conhecimento. Todavia, se o professor agir de forma

que expresse o seu interesse pelo “crescimento” dos alunos, respeitando

suas individualidades, criará um ambiente mais agradável e propício para a

aprendizagem.

Tiba (2002) concorda com o autor citado anteriormente quando afirma

que o verdadeiro educador não deve se questionar “o porque as crianças não

aprendem”, mas deve se perguntar por que os educadores se negam tanto a

“educar”, pois existe uma profunda presunção em todo educador, como se

Page 27: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

27este fosse uma pessoa que tivesse a resposta para tudo e dotado, na maioria

das vezes, do poder da cura, tornando o educar um ato natural.

As relações afetivas estabelecidas não podem ser ignoradas, pois

estão presentes no desenvolvimento, fazem parte do ser humano e podem

interferir de forma negativa ou positiva nos processos cognitivos. Conhecendo

seus alunos, escolhendo a melhor forma de trabalhar com eles, o educador

propiciará excelentes oportunidades para elevar o rendimento escolar dos

educandos elevando também o auto-conceito destes, tornando a

aprendizagem mais agradável e produtiva.

Sendo assim, o que se propõe a mudar não é a busca de uma nova

maneira de educar, mas sim, uma transformação quase completa sobre o

conceito e a significação de educação, pois esta vai além do simples repasse

de conhecimentos prontos, do saber e até mesmo de uma conduta a ser

praticada, e sobretudo uma iniciação à vida, buscando atitudes críticas que

procure transformar a sociedade e tudo que esteja ao alcance de sua

compreensão.

Page 28: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

28

CAPÍTULO III

DEFASAGEM INTELECTIVA

Saltini (1999) reforça a todo instante que a dificuldade de

aprendizagem é a defasagem entre a capacidade intelectual de um indivíduo

e o seu rendimento escolar, que podem ser acentuados por diversos fatores,

dentre eles: os problemas pedagógicos que surgem da relação professor -

aluno, problemas psicológicos, neurológicos e emocionais.

A identificação das dificuldades de aprendizagem deve ser feita o mais

precocemente possível, contribuindo para este fato uma observação cuidada

dos comportamentos da criança. Assim, os educadores e os pais devem estar

atentos a um conjunto de sinais, que a criança exiba, contínua e

freqüentemente, uma vez que não existem indicadores isolados para a

identificação dessas deficiências de aprendizagem.

As idéias acima descritas por Saltini (ibid) confirmam que a falta de

afetividade é outro fator que dificulta a aprendizagem, acarretando

insegurança, infantilidade e desinteresse, levando ao sentimento de

inferioridade e auto–desvalorização pessoal, e deve ser trabalhado para que o

aluno perca o medo do professor, permitindo que o aluno atinja o sentido de

cognição, que e a capacidade de pensar, concluir, analisar e resolver

problemas. Contar histórias, levando o aluno a fantasiar situações, facilita o

desbloqueio de suas potencialidades. As dificuldades de aprendizagem

provocam conseqüências emocionais que manifestam-se na escola através

do fracasso da criança frente ao aprendizado, e, mais especificamente, da

leitura e da escrita. Sem a maneira certa de incentivo e de apoio, essas

crianças deixam rapidamente de crer em si mesmas e em suas possibilidades

de sucesso.

Page 29: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

29Voltando ao que o autor afirma anteriormente é possível concordar

quando o mesmo destaca que a autoconfiança é o ingrediente mágico que

nem sempre é oferecido, entretanto a escola deve permitir ao aluno

expressar-se através de atividades como a música, dança, poesia, teatro e,

assim exprimir corpórea e afetivamente suas capacidades. Visando sanar a

dificuldade de aprendizagem de alguns alunos, a educação escolar deve estar

compromissada com a formação de pessoas livres, íntegras, criativas e

amorosas, cuja vida seja pautada nos princípios de igualdade, justiça e

cooperação, tentando aliviar o sofrimento do homem moderno, buscando

sempre a essência pedagógica que estimule o interesse dos alunos e

proporcione um conflito cognitivo para que novos conhecimentos sejam

produzidos na experiência, construindo a autonomia moral e respeitando o

nível de desenvolvimento da criança. Sendo assim, Saltini em todo momento

se questiona:

Será que somos capazes de ter idéias? Não, a escola prima pela

capacidade de nos convencer de que não temos idéias, que

devemos assimilar as idéias por ela difundidas, as idéias

sedimentadas mais, novos espaços para o campo das idéias

originais. pelos livros, pela cultura. É preciso reverter esses

princípios arraigados, abrindo, cada vez mais, novos espaços para o

campo das idéias originais.

(SALTINI, 1999, p.19)

Portanto, a educação não deveria ter como objetivo o conhecimento

pelo conhecimento, ou mesmo, o conhecimento como cultura geral, ou

mesmo com vistas a uma profissão qualquer totalmente desligada de nós

mesmos e de nossa cultura. A educação deveria fazer compreender, já

durante a escola, que o conhecimento deveria colocar-se sempre a serviço do

homem, isto é, um conhecimento a ser transformado em sabedoria.

Pode-se, então, concluir que a paciência, o apoio e o encorajamento

prestado pelo professor serão, com certeza, os impulsionadores do sucesso

escolar do aluno, abrindo-lhe novas perspectivas para o futuro. Como diz

Page 30: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

30Platão (IV a. C) “Aquele que, no corpo onde não existe amor, sabe fazê-lo

nascer, esse será o médico mais hábil.”

3.1 - Educar para a Realização

Vive-se um momento em que instituições como as famílias parecem

estar se deteriorando com muita rapidez, em que o egoísmo, a violência e a

mesquinhez estão banindo a bondade nas relações sociais. Os efeitos disso

podem ser devastadores na vida de crianças e adolescentes em idade

escolar.

No entanto, para uma completa realização é necessário buscar a

compreensão e a afetividade durante todo o processo ensino- aprendizagem.

A afetividade é sinônimo do cuidado que devemos ter com todos os

elementos que partilham conosco de situações existenciais, e não é algo que

se possa vincular, unicamente à razão, mas que pode ser desenvolvida no ser

humano desde que ele tenha tido oportunidade de experienciar esse

sentimento através de pessoas que, de alguma forma, lhes tenha despertado

essa percepção, e que lhes tenha dedicado afeto.

Quando, numa relação existe amor, a obediência e o interesse são

espontâneos, gestos de carinho rompem laços de solidão. Refletindo sobre

Saltini (1999) o aluno só vai desejar aquilo que já conheceu, isto é, só se

deseja o que um dia já foi nosso. Se ele nunca viu, nunca sentiu, não saberá

o que desejar, tornando-se um pessimista, um marginal, um ser não social.

Ele só poderá construir um paraíso se já o tiver habitado algum dia. Se nunca

teve acesso a um bem, não terá sequer referencial para estruturar este

mundo social, construindo-o a partir de sentimentos afetivos. Esse sentimento

possibilita conhecer melhor tudo que a vida puser ao seu alcance, pois na

verdade, o real conhecimento do homem só acontece quando ele nutre afeto

e se sente envolvido com aquilo que se pretende que ele conheça. O afeto e

Page 31: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

31fundamental ao ato de existir no mundo, pois só ele possibilita coexistir e

conviver de maneira harmoniosa com diversas realidades de cada ser.

Sendo assim, considerando a visão de Saltini (1999) pode-se afirmar

que o afeto não é só pensamento e raciocínio, vai além, pois é acrescido de

sensibilidade e intuição que, juntos, possibilitam ao homem dar-se um

significado pleno, que lhe estimula a participar de todo o processo do

desenvolvimento humano, despendendo energia e tempo em busca do

aprimoramento para a construção de uma realidade comum e satisfatória a

todos.

Esse sentimento cria uma relação de cumplicidade entre os seres, fator

primordial que lhes dá o sentido de humanidade, observando-se que não se

refere ao aspecto restrito da emotividade, que apresenta momentos

antagônicos, e leva a atitudes e comportamentos oscilantes, ora

extremamente violentos.

A afetividade no relacionamento entre professor e aluno cria uma

esfera de solidariedade, enriquecendo a emoção e resgatando o sentido da

vida, de maneira que um mundo mais igualitário seja construído por todos.

A relação afetuosa permite ao ser humano captar a dimensão e o valor

presentes nas coisas e pessoas, elementos que não poderiam ser percebidos

internamente sem essa intimidade que cada um estabelece com o outro, a

partir dessa relação significativamente boa. Sendo assim, o decisivo na vida

das pessoas não são os fatos e conhecimentos em si, mas o que eles

produzem de significações em cada um, enriquecendo-o e transformando-o

para melhor. Relacionando-se dessa forma, ao homem é possibilitado

enxergar em tudo e em todos um pouco de si, levando-o a entender que tudo,

de alguma forma, lhe pertence e é de sua responsabilidade, que tudo precisa

ser cuidado e trabalhado com um caráter de universalidade.

Considerando a visão de Saltini (1999), pode-se afirmar que a

educação tem por objetivo formar o homem para que ele possa satisfazer as

Page 32: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

32suas necessidades, ser capaz de executar uma atividade e contribuir

socialmente.

Um dizer já conhecido e repetitivo é que não basta ao homem completo

que precisa, sim, de algo mais, necessita de um realizar educativo que o leve

também, e, sobretudo, a usufruir prazerosamente da própria vida. O homem

precisa de tempo livre e estar consciente de que tem esse direito. Para isso, é

preciso que a escola desperte nele essa consciência e interesse, que lhe

mostre a importância dos bens materiais, mas que eles não são um fim em si

mesmos, e que não é a riqueza, a todo custo, que lhe dará a alegria de viver.

Pobre não é somente aquele que pede esmolas, mas todo aquele

que não percebe o outro, não tendo competência para construir um

mundo para ambos. A falta que marca a existência humana jamais

será preenchida com objetos comprados mas com os sujeitos

amados.

(SALTINI, 1999, p. 117)

É importante que sejam transmitidos aos alunos valores éticos e morais

que lhes propiciem essa descoberta, e, para isso, a escola deve dar-lhe

espaço para o livre pensar, para o criativo, dizendo-lhe sempre que a

capacidade de trabalho, isoladamente, não basta, pois na vida, lidamos, a

todo tempo, com o trabalho, o estudo e o lazer, e grande parte das situações

vivenciadas pelo homem conjugam esses aspectos e exigem dele uma

tomada de decisão com todas essas vertentes de experimentação pessoal,

quando, então, ele estará mais apto a lidar com elas. A escola precisa

valorizar a subjetividade, e não a competitividade acirrada, e ao mesmo

tempo, trabalhar o sentido do coletivo, fazendo o homem acreditar que não

está sozinho, com isso diminuindo sua angústia e sua tristeza, encurtando,

assim, as diferenças sociais e lhe permitindo encontrar-se verdadeiramente

na vida.

É possível aceitar a colocação de Saltini, quando ele afirma que a

escola não cabe ocupar-se mais do cérebro do que coração. O principal fim

Page 33: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

33do ensino não é poder sobrecarregar a mente de conhecimentos, mas de

desenvolver e intensificar as forças da inteligência e do sentimento. Portanto,

aquele que se propõe a transmitir qualquer forma de conteúdo deve fazê-lo

observando o caráter de afetuosidade nessa transmissão, para que, então,

seja capaz de despertar um interesse verdadeiro em aprender por parte

daquele que recebe a informação, e essa informação que chega até ele

penetra-lhe não só a consciência, mas também passar a fazer parte de suas

verdades, permitindo vivenciá-la, pois só o poder da verdade interior é capaz

de se manifestar de modo a criar e transformar o mundo em que vivemos.

O afeto permitirá que todas as pessoas se unam um dia, e deve ser

cultivado na condição de experiência nova que o exercício converterá em um

hábito, em um estado normal do espírito. A sua força restaurará a confiança

nos homens e na vida, portanto a sua presença produz estímulos que

revigoram. Através de sua ótica, os acontecimentos apresentam angulações

não percebidas, permitindo que as emoções não se entorpeçam, nem se

exalem, ao mesmo tempo em que predispõe o indivíduo a solidariedade com

tudo e todos.

Sendo assim, o sentimento de afeto no processo ensino- aprendizagem

oferece ao educando condições não só de ter, e sim de ser capaz, tendo-lhe a

nortear o caminho e a certeza de que, ainda que se domine todas as

tecnologias científicas, todo o conhecimento cultural, sem afeto, sentimento

que aproxima os homens, que da sentido à vida, levando ao respeito,

dignidade e igualdade, o homem nada será.

Todo conhecimento começa com o sonho. Mas sonhar é coisa que

não se ensina. Brota das profundezas do corpo. Como a água brota

das profundezas da terra. E das pulsões, dos desejos, das faltas e

ausências que cada ser humano é levado a ter vontade de buscar e,

para tanto, pensar.

(SALTINI 1999, p. 18)

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34

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

As entrevistas realizadas durante a pesquisa foram aplicadas numa

instituição privada que atende a uma clientela de nível médio e médio alto. Os

funcionários dessa escola têm funções bem definidas, facilitando o

desempenho e a prática de todos os envolvidos no processo educacional.

Na entrevista aplicada (ver anexo 1) foram considerados professores,

coordenadora e diretora pedagógica, cujas respostas puderam evidenciar em

comum a importância que todos vêem na afetividade durante o processo

ensino-aprendizagem.

Dos entrevistados que participaram dessa pesquisa, a maioria acredita

que o desenvolvimento afetivo pode ser considerado semelhante ao cognitivo,

pois o crescimento intelectual se faz presente de forma positiva quando o afeto

atua de modo intermediário na evolução do conhecimento.

Pode-se analisar a primeira pergunta focalizando a afetividade como

meio para se alcançar uma educação libertadora, cuja ação não pode estar

centrada apenas em aspectos cognitivos, mas integrá-los ao domínio das

emoções, de modo que, através do afeto, possa aflorar a consciência crítica,

capaz de permitir ao homem a apropriação de sua realidade, a fim de

transformar o contexto social.

Isso fica explicitado na fala dos seguintes entrevistados:

A afetividade é fundamental para que possa

acontecer, uma relação professor e aluno, pois a partir do

momento que o aluno se sente querido e vê o professor

como um amigo que está disposto a ajudar, ele terá mais

facilidade para aprender porque confia, e o professor

Page 35: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

35quando se vê respeitado e valorizado, busca sempre a

melhor forma de ensinar. Desta maneira ambos aprendem

e ensinam.

(Professora A)

O diálogo, o elogio e o afeto, quando realizados de

forma verdadeira, fazem com que as crianças criem e

cresçam! Por meio dessas atitudes é construído um clima

de confiança e amizade entre educandos, educadores e

outros profissionais da escola.

Desta forma é fundamental ao processo educativo

que aconteça, na sala de aula, uma harmonia, tornando a

aprendizagem mais dinâmica e duradoura.

(Professora B)

A professora C ressaltou também que:

Não se ensina conteúdos apenas em livros ou por

meio de aulas expositivas. O aluno aprende,

verdadeiramente, quando se encontra num ambiente em

que são dadas oportunidades de viver democraticamente.

Isso implica em gestos de compreensão e afeto que

favorecem a aquisição de conhecimentos e o melhor

desempenho do aluno diante de situações-problema.

Através de entrevistas pôde-se perceber a importância da afetividade no

processo ensino-aprendizagem, pois essa afetividade direciona o educador a

utilizar artimanhas para seduzir seus alunos com relação ao que está sendo

Page 36: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

36estudado, usando recursos que favoreçam e tornem a aula prazerosa,

participativa e interessante.

Essa questão mostrou-se marcante nas palavras dos seguintes

entrevistados:

A afetividade é de extrema importância ao processo

cognitivo e os educadores precisam reinventar a escola

brasileira, buscando soluções necessárias para que a

verdadeira aprendizagem de alunos ocorra. Não existe

um só caminho a seguir nesta conquista, cada um de nós

temos que descobrir, junto aos alunos, o melhor caminho

para atingirmos nossos objetivos.

(Coordenadora)

A sala de aula pode ser um permanente círculo de

cultura, desde que haja afeto; onde professor e alunos

constróem juntos os novos conhecimentos e valores,

numa atitude questionadora, solidária e libertadora.

(Diretora Pedagógica)

Cabe-se observar que as análises desta pesquisa entraram em

concordância com as idéias de Freire (1994, p. 35) quando o mesmo se refere

a educação como: “um ato de amor e que sem amorosidade fica comprometida

a relação professor-aluno.”

Esse amor, segundo Freire (ibid) deve ser bem direcionado, fazendo

dele um meio de libertação e não uma prática de opressão. Esse amor que

impulsionará o educando para o caminho certo, buscando uma sociedade

justa, democrática e igualitária.

Page 37: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

37Sendo assim, dentre os entrevistados houve o predomínio de opinião

que ressalta o afeto como estímulo fundamental para o desenvolvimento da

inteligência, pois sem afetividade não há relação, nem troca e para que o

pensamento aconteça é necessário existir desafios, incentivo e muito amor.

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CONCLUSÃO

“Na ausência do outro, o homem não se constrói homem”.2

Voltando à introdução desta pesquisa, o tema deste trabalho

monográfico foi a afetividade no processo ensino-aprendizagem, conforme

descrito no início deste estudo, a temática proposta foi a que definiu a questão

da afetividade escolar como foco fundamental da pesquisa.

Retornando a essa questão-problema, pôde-se constatar que ela foi

respondida, pois com base nas análises das entrevistas que afirmam em sua

maioria, a importância do afeto, o compromisso pedagógico e a melhoria da

formação de professores, de modo a superar o caráter reprodutivo da escola.

A afetividade faz com que professores busquem mudanças no campo

pedagógico, metodológico e social, portanto, a aprendizagem começa pela

área afetiva para se consolidar na cognitiva, onde a forma de ensinar muda a

relação professor-aluno, no qual as emoções são a exteriorização da

afetividade que provocam modificações durante o processo educacional.

O referencial teórico utilizado nesse estudo serviu para confirmar que o

professor é capaz de integrar diferentes recursos de aprendizagem, de acordo

com a sua compreensão, visando a mais efetiva para a realidade das crianças

no dado momento em que se ensina.

O conteúdo afetivo promovido pelo professor pode proporcionar

melhoria, no qual a aprendizagem e a afetividade caminham juntas, sendo

consideradas como essência pedagógica para as atividades que estimulam a

criatividade do aluno.

2 VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994

Page 39: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

39Sendo assim, aquele que se propõe a transmitir qualquer forma de

conteúdo deve fazê-lo observando o caráter de afetuosidade nessa

transmissão, para que então, seja capaz de despertar um interesse verdadeiro

em aprender por parte daquele que recebe a informação, e essa informação

que chega até ele penetra-lhe não só a consciência, mas também fazer parte

de suas verdades, permitindo-lhe vivenciá-la, pois só o poder da verdade

interior é capaz de se manifestar de modo a transformar o mundo.

A escola, para melhor atingir seus objetivos, pode e deve trabalhar junto

às famílias, pois o equilíbrio afetivo da família desempenha papel fundamental,

contribuindo de forma motivadora para o rendimento social, afetivo e escolar.

Portanto, é essencial a predominância marcante e exclusiva da família junto

com a escola no desenvolvimento dos valores da criança.

No núcleo familiar, a criança inicia a tomada de consciência das

diferentes relações existentes, e já participa, manifestando seus desejos. De

posse dessas aquisições, a criança já chega até a escola, trazendo uma

bagagem social, moral e afetiva, que ainda reflete o egocentrismo e a

dependência, precisando que isso seja conhecido e considerado pelos

profissionais da educação. É na escola que surge a oportunidade de se

relacionar mais diretamente com crianças da mesma faixa etária e com adultos

que não sejam necessariamente seus familiares, alargando assim, seu

universo, livrando-se do egocentrismo e adquirindo iniciativa e independência.

Em uma sala de aula deve haver emoção, o quê facilita a transmissão

das informações que deverão ser absorvidas, pois quando não há preocupação

com a área afetiva, pode acontecer a dispersão nos alunos, em vez de prazer e

concentração. Outra sugestão, bastante positiva, é o uso de música ambiente

dentro da sala de aula, de preferência música suave, que geralmente alivia o

pensamento acelerado e facilita a assimilação da informações.

Os efeitos de música ambiente em sala de aula são espetaculares,

porque relaxam mestres e animam os alunos. Desta forma a música deveria

ser usada no ambiente escolar desde a mais tenra infância, buscando um elo

Page 40: A AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM CRISTINA PEREIRA DA SILVA QUINTELA.pdf · "Não há educação sem amor, pois quem não ama, não compreende o próximo, quem não ama,

40de afeto e estimulando a criança a, cada vez mais, gostar da instituição

escolar.

A escola clássica gera conflitos nos alunos sem perceber, além de

bloquear a capacidade de argumentar e expor suas idéias, pois não dá

liberdade para que seus educandos discutam assuntos de seus interesses,

temas que sejam agradáveis e de acordo com a faixa etária de cada turma. Por

isso é de fundamental importância que o professor, ao realizar o seu

planejamento, tenha a sensibilidade de adaptar os seus conteúdos aos

interesses particulares de cada turma, procurando resgatar a vontade de

aprender e o prazer em estar naquele local, priorizando um clima agradável e a

interação social.

Essa pesquisa monográfica mostrou que, quanto maior a preocupação

do educador em atingir, de forma positiva, o seu aluno melhor será seu

resultado em busca de seres emancipados, livres e atuantes dentro da nossa

sociedade.

O tipo de pesquisa aplicada foi estudo de caso que serviu para focalizar

o professor como um mediador, onde junto com os alunos pode descobrir o

melhor caminho para alcançar os objetivos. Seu papel como elemento

facilitador consiste que desafie com responsável comprometimento a relação

professor-aluno, buscando que esse elo possa refletir diretamente no processo

ensino-aprendizagem, realizando na educação aspectos afetivos, de modo a

possibilitar a formação integral do cidadão, visando soluções, descobrindo os

limites e os mecanismos para que a verdadeira aprendizagem do aluno

aconteça. Através da afetividade e da interação professor-aluno um conflito

cognitivo ocorrerá, proporcionando a que novos conhecimentos sejam

produzidos na experiência, construindo a autonomia moral e respeitando o

nível de desenvolvimento da criança.

O número de entrevistas aplicadas foram suficientes para fazer uma

análise mais detalhada sobre o tema proposto, chegando-se à conclusão de

que a escola tem como objetivo integrar o indivíduo à sociedade. Cabe a ela

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41reproduzir valores da sociedade e buscar harmonia no processo ensino-

aprendizagem, para que os alunos desenvolvam o senso crítico diante dos

acontecimentos transmitidos, onde o gestor e o docente possam tomar

medidas que melhorem o padrão de ensino ou que modifiquem aspectos

conservadores da escola, visando estarem sempre bem atualizados sobre

aspectos subjetivos da criança e sensibilidade com abertura para aprender.

É preciso que professores repensem a prática docente, sabendo que na

verdade eles tampouco são culpados pela atual crise do ensino. Se os

professores igualmente são vítimas desse processo de ensino, isto não

significa que não haja nada a ser feito. Ao contrário, é importante que os

professores reflitam sobre os limites e as possibilidades para a criação de

novos caminhos, quebrar uma postura autoritária, criando propostas

democráticas, pensar novas metodologias de aula, trocar experiências,

questionar, mas também ouvir os alunos. Trabalhar de maneira planejada e

contínua nas escolas, respeitando o desenvolvimento afetivo-cognitivo dos

alunos, onde poderá resultar em um processo educativo muito mais abrangente

e eficaz. Enfim, criar uma nova prática docente em conjunto com os alunos e

não contra eles, para assim, criar uma escola nova.

Com a participação e interação de todos nesse processo, com a

consciência de que só a partir da experiência vivida, cada aluno poderá

construir um saber real e operante, será possível trazer a alegria à escola,

comprometidos com a justiça social, respeito aos princípios básicos da

cidadania, lutando por fazer valer as leis, só assim será despertado o interesse,

a criatividade, o senso crítico, o prazer e a inteligência de todos os indivíduos

no processo ensino-aprendizagem.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Autores Associados, 1981.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1980.

_____________ Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do

oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

GADOTTI, Moacir. Educação e Poder: Introdução à Pedagogia do Conflito. São

Paulo: Cortez Autores Associados, 1989

MARCHAND, Max. A Afetividade do Educador. (Tradução de Maria Lúcia

Spedo Hildorf Barbanti, Antonieta Barini): Summus Editorial, 1985.

PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência da Criança. Rio de Janeiro:

Guanabara, 1987.

____________ A Relação da Afetividade com a Inteligência no

Desenvolvimento Mental da Criança. (Tradução de Magda Medeiros Schul).

Disponível em: http//www.google.com.br. Acesso em:09/11/2002.

SALTINI, Cláudio J. P. A Afetividade Inteligência: a emoção na educação, 4ª

edição. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

TIBA, Içami. Quem Ama Educa,70ª edição. Rio de Janeiro: Gente, 2002.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,

1994

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ANEXO

ANEXO 1

ENTREVISTA

Formação:

Função:

Há quanto tempo atua?

1) Como você vê a afetividade entre professor e aluno na sua escola?

2) E entre toda a equipe de sua escola (professor, monitores, serventes,

auxiliares administrativos)?

3) Você acha que o grau de afetividade numa relação melhora o processo

ensino- aprendizagem? Como?

4) Como são encaminhados os casos que envolvem problemas de

relacionamento afetivo na sua escola?

5) Você acha que existe alguma relação entre o desenvolvimento da

inteligência e a afetividade? Por quê?

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 12

A AFETIVIDADE NO CONTEXTO SOCIAL E NA ESCOLA 12

1.1 – A Relação da Afetividade com a Aprendizagem 15

1.1.1 – A Afetividade na Escola: Condicionantes Sócio-Teórico 18

1.1.2 – Ciclo Vital: Aluno x Família x Escola 20

CAPÍTULO II 24

O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 24

CAPÍTULO III 28

DEFASAGEM INTELECTIVA 28

3.1 – Educar para a Realização 30

CAPÍTULO IV 34

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS 34

CONCLUSÃO 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

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45ANEXO 43

ÍNDICE 44