a afetividade no processo de...
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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA- AJES
CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA EDUCACIONAL
9,0
A AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Ana Paula Alves
Orientador: Profº: Ilso Fernandes do Carmo
ALTA FLORESTA/2011
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA- AJES
CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA EDUCACIONAL
A AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Ana Paula Alves
Orientador: Profº: Ilso Fernandes do Carmo
“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de especialização em Psicopedagogia Clínica Educacional.”
ALTA FLORESTA/2011
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis, e pessoas incomparáveis.”
Fernando Pessoa
DEDICATÓRIA
A toda minha família, pelo carinho, força e
principalmente compreensão, pelas vezes
que estive ausente.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pela
força e coragem durante toda esta longa
caminhada.
E a toda minha Família pela paciência
pelo incentivo e principalmente pelo
carinho, que nos fizeram chegar ate aqui.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre a afetividade no
processo ensino-aprendizagem na escola, onde o professor assume neste contexto
um papel de destaque na sociedade, o papel de articulador, contribuindo e
conduzindo o fazer pedagógico de forma a atender os anseios da sociedade em
relação à Educação. O professor deve estar preparado para criar uma nova cultura
na sala de aula para fazer da escola a ponte para um novo tempo, um tempo de
esperança. Onde este apresente uma visão mais humanística. Estas transformações
devem ocorrer em um ambiente de prazer e alegria onde a criança deve ser
respeitada no seu processo de desenvolvimento e onde o professor conheça as
particularidades deste processo. Devem acontecer dentro de um ambiente afetivo,
onde a relação professor aluno é base para o pleno desenvolvimento. Este trabalho
busca através de um estudo bibliográfico a importância da afetividade professor-
aluno no processo de ensino aprendizagem.
Desta forma este trabalho busca estudar a relação da afetividade no
cotidiano da sala de aula, visto que, apesar da existência de teorias e reflexões a
respeito do tema, a escola continua priorizando o conhecimento racional em
detrimento do afetivo. Vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não
vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoções, que constitui viver
humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento
emocional.
Palavras chaves: Afetividade, Cognição, Relação professor-aluno.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
1. A EDUCAÇAO EMOCIONAL NA ESCOLA..........................................................10
1.1 A escola e a educação emocional.......................................................................10
1.2 O que é educação emocional...............................................................................13
2. RELAÇAO DA AFETIVIDADE COM A INTELIGÊNCIA.......................................18
2.1 A influência da relação afetiva no processo de escolarização.............................23
2.2 O papel da escola na formação do auto conhecimento.......................................25
2.3 A auto-estima e a aprendizagem..........................................................................28
2.4 Desenvolvimento da auto estima.........................................................................30
3. RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO........................................................................32
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................36
REFERÊNCIAS..........................................................................................................38
INTRODUÇAO
A palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) e constitui o elemento
básico da afetividade. Segundo a caracterização do Dicionário Aurélio
(FERREIRA,1994, p.198), o verbete afetividade esta “Psicol. Conjunto de fenômenos
psíquicos que se manifestam sentimentos e paixões, acompanhados sempre de
impressão de dor, insatisfação, de agrado e desagrado, de alegaria ou tristeza.”
Compreendemos então que afetividade e inteligência são aspectos
indissociáveis, intimamente ligados a influenciados pela socialização.
A afetividade é necessária na formação de pessoas felizes, éticas, seguras e
capazes de conviver com o mundo que a cerca. No ambiente escolar é alem de dar
carinho, é aproximar-se do aluno, saber ouvi-lo, valorizá-lo e acreditar nele, dando
abertura para a sua expressão.
Carinho faz parte da trajetória, á apenas o começo do caminho.
O olhar do professor para o seu aluno é indispensável para a construção e o
sucesso da sua aprendizagem. Isto inclui as suas opiniões, valorizarem sugestões,
observar, acompanhar seu desenvolvimento e demonstrar acessibilidade,
disponibilidade mútuas conversas.
“As relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento
implica, necessariamente, uma interação entre as pessoas, o afeto está presente.”
(ALMEIDA, 1997, p.35).
Compreendemos afetividade como substância que nutre estas ações e não
um puro ato de melosidade.
A presente monografia tem o objetivo de demonstrar que a efetividade no
ambiente escolar e contribui para o processo ensino-aprendizagem considerando
uma vez, que o professor não apenas transmite conhecimento, mas também ouve
os alunos e ainda estabelece uma relação de troca. Deve dar-lhes atenção e cuidar
para que aprendam a expressar-se, expondo opiniões, dando respostas e fazendo
opções pessoais.
É imprescindível ver o aluno como ser individual pensante que constrói o seu
mundo, espaço e o conhecimento com sua afetividade, sua percepção, sua crítica,
sua imaginação, seus sentidos.
É importante destacar que a afetividade não se dá somente por contato
físico; discutir a capacidade do aluno, elogiar seu trabalho, reconhecer seu esforço e
motivá-lo sempre, constituem formas cognitivas de ligação afetiva, mesmo
mantendo-se o contato corporal como manifestação de carinho.
Falar de afetividade e aprendizagem é falar de Ascênsio da vida humana,
que por sua natureza social, se constrói na relação do sujeito com os outros sujeitos,
num contexto de inter-relações.
Cada ser particular relaciona-se com outro num processo de
desenvolvimento singular, delineado nas relações sociais. Organiza seu
comportamento frente as situações com as quais se depara no seu dia-a-dia, cujo
processo realiza-se com base na natureza biológica e cultural que caracteriza o
comportamento humano, constituindo assim, a história do sujeito.
A afetividade é o território das emoções, das paixões e do sentimento; a
aprendizagem, território do conhecimento, da descoberta e da atividade; organizam
em fenômenos complexos e multideterminados, definidos por processos individuais
internos que se desenvolvem através do convívio humano.
Ter a afetividade como tema desta monografia, implica enveredar por um
caminho intrigante que envolve processos psicólogos difíceis de serem percebidos e
desvendados. É ter a subjetividade como objetivo de pesquisa, o dinamismo da vida
individual e coletivo com toda a riqueza de significados dela transbordante. Portanto,
não esta sujeito á objetividade ou a dados concretos que ao serem analisados
possibilitam maior segurança e racionalidade. Pelo contrário, o seu percurso nos
possibilita mais questionamentos do que certezas. Exige uma aproximação do
objetivo de pesquisas que vai além das evidências recíprocas.
A sala de aula é um espaço de vivência, de convivência e de relação
pedagógicas, espaços constituída pela diversidade e heterogeneidade de idéias,
valores e crenças. Assim, é impregnado de significado, é espaço de formação
humana, onde a experiência pedagógica – o ensinar e o aprender - é
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desenvolvimento no vínculo: tem uma dimensão histórica, intersubjetiva e intra-
subjetiva. Pesquisar esse cotidiano se constitui então, um desafio.
Propomo-nos a estudar a relação da afetividade no cotidiano da sala de
aula, visto que, apesar da existência de teorias e reflexões a respeito do tema, a
escola continua priorizando o conhecimento racional em detrimento do afetivo.
Vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento
cotidiano entre razão e emoções, que constitui viver humano, e não nos damos
conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional.
Este trabalho esta dividido em três capítulos sendo que no primeiro foi
abordado o tema, A Educação Emocional na Escola, no segundo capítulo a relação
da afetividade com a inteligência e no terceiro capítulo abordamos a relação
professor-aluno.
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1 A EDUCAÇÃO EMOCIONAL NA ESCOLA
Com o paradigma da complexidade, muito se tem comentado sobre a
necessidade da educação desenvolver saberes sobre os diferentes aspectos que
compõem o ser humano, especialmente, no sentido de formá-lo para uma vida
plena. A atuação como docente permite afirmar que ainda há muito para ser feito.
Antigamente, conforme OLIVEIRA (1993), a inteligência era considerada como
sendo única e a verdade apresentada era absoluta e indiscutível. A educação era
proposta com a finalidade de repassar e reproduzir o conhecimento construído pela
humanidade. Atualmente,essa visão reducionista de Educação tende a ser
superada.
A concepção de VYGOTSKY sobre as relações entre desenvolvimento e
aprendizado, e particularmente sobre a zona de desenvolvimento proximal,
estabelece forte ligação entre processo de desenvolvimento e a relação do individuo
com seu sócio-cultural e com a situação de organismo que não se desenvolve
plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie.É na zona proximal
que a interferência de outros indivíduos é a mais transformadora. (OLIVEIRA,1993,
p.61).
As novas descobertas da ciência e as pesquisas levadas à frente por vários
estudiosos propõem a existência de saberes que envolvem muitas verdades,
múltiplas inteligências e várias metodologias para aprendizagem. Assim, a pessoa
humana é concebida como ser humano complexo e conta com vários aspectos a
serem desenvolvidos. A escola, de maneira geral, não tem contemplado com as
idéias de VYGOTSKY, por que não percebe o aluno com um todo não tem
alcançado os quatros níveis de aprendizagem: aprender a conhecer,aprender a
ser,aprendera a conviver e aprender a fazer (DELORS,2001). Nesse sentido, além
da visão disciplinar, mecânica e reducionista que tem caracterizado os
procedimentos de ensino e de aprendizagem, encontra-se a necessidade de aliar
processos educativos que considerem uma aliança entre a razão e a emoção. Para
tanto,a escola precisa incluir na sua proposta pedagógica atividades que envolvam
situações que levem á Educação Emocional.
1.1 A ESCOLA E A EDUCAÇÃO EMOCIONAL
No século XIX, segundo MORIN (2003), a educação fundamentava-se no
método tradicional, ou seja, a abordagem tecnicista. Essas abordagens tinham como
foco a fragmentação e a reprodução do conhecimento, no qual o aluno percebe a
cada dia um conteúdo novo, de uma disciplina diferente, não existindo uma
interdisciplinaridade.
A escola utilizando-se destas abordagens não contemplava em sua proposta
saberes que envolvessem a formação do ser humano em sua totalidade e
complexidade. O desenvolvimento do lado afetivo e emocional ficava sob a
responsabilidade da família. Nesse contexto, cabe a contribuição de MORIN (2003,
p.26):
O paradigma cartesiano separa o sujeito e o objetivo, cada qual na esfera própria :a filosofia e a pesquisa reflexiva, de um lado, a ciência e a pesquisa objetiva de outro. Essa dissociação atravessa o universo de um extremo ao outro: Sujeito/Objetivo, Alma/Corpo, Espírito /Matéria, Qualidade/Quantidade, Finalidade/Causalidade, Sentimento/Razão, Liberdade/Determinismo, Existência/Essência.
Desse modo, a escola contribuiu para que existam hoje muitas pessoas com
atitudes que denotam um analfabetismo emocional e esse fato causou danos muito
sérios em nossa sociedade. Pesquisas recentes afirmam que nossos alunos
apresentam déficits de aptidões emocionais, afirmação que pode ser comprovada se
levarmos em conta o comportamento apresentados por eles: retraimento ou
dificuldades de relacionamento social; ansiedade e sintomas depressivos; problemas
de atenção ou de raciocínio; assim como atitudes agressivas e delinqüentes. Em
toda parte as noticias de violência são assustadoras, com manchetes relatando que
as crianças matam crianças! A atitude agressiva dos alunos envolve todos os níveis
de ensino e tem se apresentado com ênfase nas ultimas duas décadas dentro da
escola.
Existem muitos fatores sociais e econômicos que respondem por esses altos
níveis de violência, mas também a educação tem contribuído para que essa
violência esteja presente na sociedade, tanto nas escolas como nos lares.
Elucidando mais sobre este fato. Cabe aqui o comentário de GOLEMAM (1995, p.
247):
Os educadores, há muito perturbados comas notas baixas dos alunos em matemática e leitura, começaram a compreender que existe uma deficiência diferente e mais alarmante: o analfabetismo emocional. E embora se estejam fazendo esforços louváveis para elevar os padrões acadêmicos,
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essa nova e perturbadora deficiência não está sendo abordada no circulo escolar padrão.
A grande tragédia educacional do nosso tempo, segundo MORIN (2003), é
a triste conclusão que nossas crianças e nossos adolescentes, mesmo possuindo
um bom potencial intelectual, não rendem na escola, apresentando-se como alunos
medíocres por questões de ordem emocional, que surgem mascaradas muitas vezes
pelos famosos problemas de conduta, trazendo à tona a indisciplina, vila de nossas
salas de aula.
Podemos confirmar o que foi dito, quando observamos os incidentes
ocorridos dentro de nossas escolas, tornando manifesto um problema que queremos
esquecer e que até justificamos nossa apatia, com a crença de que tais questões
não são responsabilidades da escola.
Pesquisas recentes veiculadas em telejornais e revistas renomadas mostram
aumento de prisões de jovens envolvidos em crimes violentos e estupro, sem falar
no número triplicado de suicídios entre adolescentes. Os dados, Os dados, segundo
MORIN (2003), mostram uma queda nos níveis de competência emocional, que
manifesta através de atitudes como: envolver-se em encrencas constantes, mentir e
trapacear, discutir muito (não tendo limites e desrespeitando as pessoas com as
quais se relaciona), destruir as coisas dos outros, desobedecerem a escola e em
casa, provocar demais e não demonstrar nenhum controle emocional.
A afetividade é um conjunto funcional que reponde pelos estados de bem-
estar e mal-estar quando o homem e atingido e afeta o mundo que rodeia. Ela se
origina nas sensibilidades orgânicas e primitivas que são vistas por WALLON como
os recursos que a criança tem para se comunicar e sobreviver. (MAHONEY, 2002, p.
61)
Naturalmente, segundo GOLEMAM (1995), esse sistema educativo precisa
ser reconsiderado. Todo sistema educativo tem que ser revisto, orientado pelo QI,
ele não prepara crianças para o amanhã. É preciso criar espaços para as emoções,
levar em conta o desenvolvimento social e afetivo. A inteligência do coração tem
necessidade de se alimentar de conhecimentos, de saber fazer e saber ser, da
mesma maneira que as outras inteligências.
Enfatiza a necessidade de educar as pessoas também no seu aspecto
emocional. E preciso que a educação emocional seja praticada com naturalidade
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nas escolas, para que mais esse aspecto da complexidade humana possa ser
contemplado e desenvolvido.
A escola, na pessoa do educador, não pode ficar distante de tudo o que está
acontecendo e, entender a educação como um processo psicossocial, já é um
grande passo. Temos que aceitar a existência do analfabetismo emocional e,
segundo MORIN (2003), desenvolver procedimentos, na escola e nas famílias, para
que este quadro possa ser revertido.
Diante de tal realidade, se nós educadores não nos preparamos além da
teoria também emocionalmente, não daremos conta do recado e iremos adoecer. É
no dia-a-dia de nossas salas de aula, que percebemos o quanto carecemos de
maturidade emocional.
Na vivência das relações com nossos alunos, nós professores expressamos
nosso conhecimento e o nosso compromisso com o desenvolvimento social,
emocional e cognitivo dos mesmos. Para tanto, precisamos nos conhecer melhor,
investindo no nosso aprimoramento interpessoal, tendo uma visão mais ampla dos
nossos alunos, não só no que diz respeito ao seu desenvolvimento cognitivo, mas
antes de tudo enxergando-o como um ser humano, dentro de toda fragilidade que é
peculiar aos seres humanos.
1.2 QUE É EDUCAÇAO EMOCIONAL
A educação brasileira esta baseada em princípios tradicionais e os currículos
e seus conteúdos assentam-se nos processos intelectuais e cognitivos, deixando de
lado os fatores emocionais. Mas, existem atualmente concepções que valorizam os
aspectos emocionais da inteligência.
O psicólogo Daniel Goleman , com seu livro “Inteligência Emocional” (1995),
por exemplo, retoma uma nova discussão sobre o assunto. Ele traz o conceito da
inteligência emocional como maior responsável pelo sucesso ou insucesso das
pessoas.
O livro baseia-se em uma idéia simples: além de uma inteligência
“intelectual” nos possuímos também uma inteligência “emocional”, tão ou mais
importante que a outra para o sucesso na escola e na vida. GOLEMAN (1995), fala
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ate mesmo em QE (Quociente Emocional), que complementaria o QI (Quociente
Intelectual).
GOLEMAN (1995, p.305), em seu livro Inteligência Emocional esclarece o
que é o emocional: “Eu entendo que emoção se refere a um sentimento e seus
pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma grama de
tendências para agir”.
GOLEMAN (1995), procura demonstrar que não só a razão influencia nos
nossos atos, mas, a emoção também é responsável por nossas respostas e tem
grande poder sobre as pessoas.
Algumas habilidades emocionais são consideradas importantes para que
uma pessoa alcance seus objetivos, seja feliz e alcance sucesso na vida. Dentre
elas são citadas o controle do temperamento, adaptabilidade, persistência, amizade,
respeito, amabilidade e empatia.
Os sentimentos mais fortes do homem são a tristeza, alegria e a raiva. É
fundamental saber lidar com eles. As pessoas que sabem controlar suas emoções
são aquelas que obtêm mais sucesso na vida, em qualquer tipo de medição: provas
de vestibular, etc.
Em relação à educação destaca a importância de “educar” as emoções e
fazer com que os alunos também se tornem aptos a lidar com frustrações, negociar
com outros, reconhecer as próprias angustias e medos,etc.
Para que os alunos desenvolvam a inteligência emocional, uma das
premissas básicas é a necessidade de que o professor também desenvolva sua
própria inteligência emocional, pois, pode-se dizer que aquilo que o professor ensina
em sua pratica docente esta embebido por sua própria personalidade. Desse modo,
a inteligência emocional do professor é uma das variáveis que melhor explica a
criação de uma aula emocionalmente inteligente.
O entendimento sobre os termos “emoções” e “educação emocional” auxilia
a reflexão respeito da necessidade desenvolvimento de projetos em educação
emocional.
GOLEMAN (1995), apresenta os seguintes níveis de Inteligência emocional:
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Autoconhecimento: capacidade de identificar seus próprios sentimentos, usando-os
para tomar decisões e resolver problemas que resultem na satisfação pessoal:
Administração das emoções; habilidades de controlar impulsos, de avaliar-se da
ansiedade e direcionar a raiva à condição correta.
Empatia: habilidade de se colocar no lugar do outro, entendendo-o e percebendo
seus sentimentos e intenções não verbalizadas.
Automotivação; a capacidade de preservar e conservar o otimismo sereno, mesmo
em condições relativamente adversas.
Capacidade de relacionamento pleno: habilidade de lidar com as reações
emocionais de outras pessoas e interagir com elas. A reflexão sobre os saberes
necessários ao desenvolvimento da educação emocional retrata o desafio imposto à
formação de professores no inicio do século. Muitos docentes não se sentem
seguros para lidar com os aspectos emocionais e sua aplicação na sala de aula. Na
realidade, a formação de professores não tem contemplado a dimensão emocional
com profundidade. Assim, pode dizer que os docentes não foram emocionalmente
alfabetizados.
Um princípio básico para o desenvolvimento da inteligência emocional na
sala de aula, segundo GOLEMAN (1995), é o respeito mutuo pelos sentimentos dos
outros, e para tanto é necessário que o professor saiba como se sente e seja capaz
de comunicar abertamente suas sensações e sentimentos. O professor não deveria
negar suas emoções negativas e sim, ser capaz de expressá-las de modo saudável
na comunidade que constrói com seus alunos.
Ensinar os alunos a reconhecer suas emoções, saber categorizá-las e
comunicá-las, fazendo-se entender, segundo GOLEMAN (1995), ajuda a serem os
responsáveis por suas próprias necessidades emocionais.
Conhecer os alunos é um processo que se inicia desde os primeiros dias de
aula. Quanto maior for esse conhecimento, maior será a eficácia da nossa ação
pedagógica, pois podemos mobilizar interesses, curiosidades, conhecimentos
prévios, aspectos das historias de vida, articulando com os conhecimentos que
integram o currículo a ser desenvolvido.
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Também conhecê-los em seus aspectos sociais, cognitivos, afetivos e
emocionais, segundo GOLEMAN (1995), implica uma atitude de permanente
investigação, por meio de observações, diálogos com as crianças e suas famílias,
avaliação continua dos conhecimentos adquiridos, sondagem dos interesses delas e
atenção as necessidades que elas expressam.
Perceber o que o aluno sente, sem que ele o diga, constitui a essência da
empatia, uma das características fundamentais da inteligência emocional. A criança
e o adolescente, segundo GOLEMAN (1995), dificilmente, nos dizem em palavras
aquilo que sentem, mas revelam seus sentimentos por seu tom de voz, pela
expressão facial ou por outras maneiras não verbais.
A partir do momento em que o professor reconhece as emoções do aluno
(medo, raiva, ciúme, alegria, tristeza, vergonha), segundo GOLEMAN (1995), cria
uma enorme chance de aumentar a intimidade, transmitir experiência e compartilhar
dificuldades.
O aluno, segundo GURGEL (2006), passa a se sentir valorizado, legitimando
em seus sentimentos (mesmo que negativos) e, conseqüentemente, fortalece sua
auto-estima. Ele descobre novas estratégias para lidar com conflitos, diminui a
agressividade em suas relações com o outro, aprende a conviver de uma maneira
confortável com os sentimentos negativos, enfim, ele transforma um sentimento que
o assusta em algo que faz parte da vida, não censurando a si mesmo por seus
sentimentos, mas sim, julgando a decisão do que fazer com estes mesmos
sentimentos.
Esse comentário alerta o professor para a necessidade de buscar formação
continuada sobre esse tema. Acredita-se que um bom começo para o professor
prende-se ao conhecimento de si mesmo e o aprofundamento desse conhecimento
pode ajudar o desencadeamento do trabalho com seus alunos e alunas. Outro fator
desafiador prende-se a inclusão da temática sobre Educação Emocional nos
currículos existentes. Como motivação para o desenvolvimento do trabalho com a
Educação Emocional, vale a pena relatar algumas experiências realizadas nas
escolas do ensino fundamental médio.
Nesta experiência, percebes-se o cuidado na escolha do professor
responsável para desenvolver os temas, a experiência alcançou os objetivos
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esperados. Assim acredita que os gestores das escolas ao se interessarem pela
implantação da educação emocional podem usufruir dessas experiências na
construção da sua proposta.
As professoras do ensino fundamental, das turmas de 1.a a 4.a serie, podem
desenvolver em pequenos espaços de tempo alguns assuntos necessários para o
desenvolvimento emocional. Para isso, devem aproveitar situações de conflito ou
mesmo constrangedoras que ocorrem no cotidiano das escolas.
As situações de alegria e satisfação da turma podem servir de motivação
para compartilhar das emoções. Os fatos que ocorrem no cotidiano da escola podem
servir de base para o desenvolvimento das temáticas relacionadas com a educação
emocional.
A professora pode fazer com que os alunos reflitam sobre suas emoções,
motivando-os nomearem seus sentimentos. Acredita-se que o docente pode iniciar
com os alunos o exercício de reconhecer seus próprios sentimentos e dos outros.
Deve mostrar-lhes com exemplos concretos como se desenvolvem atitudes de
empatia.
A escola deveria reservar tempo e espaço em seus programas para iniciar
as crianças em projetos de cooperação. A participação de professores e alunos em
projetos comuns pode dar origem à aprendizagem de métodos de resolução de
conflitos e construir uma referencia para a vida futura dos alunos, enriquecendo a
relação professor-aluno.
A influência dessa teoria sobre a educação é altamente positiva, pois chama
atenção para o fato de que as escolas não devem se preocupar-se apenas com a
inteligência de cada aluno, mas também com o desenvolvimento de sua capacidade
de se relacionar bem com os alunos e consigo mesmo.
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2 A RELAÇÃO DA AFETIVIDADE COM A INTELIGÊNCIA
Segundo GURGEL (2006, p.69), a partir dos três anos, a criança traça os
pilares de sua vida afetiva. Ela quer sentir-se amada e reconhecida pelas pessoas
que a cercam. O carinho é importante e as intervenções do professor em situações
de conflito devem ter esta preocupação. Os educadores devem manter uma postura
firme diante de seus alunos, demonstrando limites, limites, mas manter a calma e
não gritar. Pode-se também dar a punição desde que se mantenha a lógica e ligar o
castigo á reversão do problema causado, nunca á restrição de outra coisa.
GURGEL (2006), afirma que em qualquer momento a criança deve ser
estimulada a expressar os sentimentos por meio da fala e não do corpo. Mas para
fazer isso é necessário identificar a emoção que causa o desconforto. E o professor
pode ajudar a compreender as atitudes das crianças no momento em que elas
acontecem, como por exemplo, o colega querer rasgar o trabalho do outro. Nesta
hora a intervenção do professor é fundamental, questionado o aluno os motivos que
o levaram a tal atitude e apresentar soluções para resolver.
A articulação verbal e o controle das emoções dizem a autora, geralmente
caminham juntos e são atitudes que podem ser aprendidas. Com a aproximação do
final do ciclo da infância, a criança começa a se interessar menos por conflitos
internos e pelo que esta no seu circulo de relações e passa focar-se no mundo ao
seu redor para conhecê-lo e entendê-lo. Este passo se dá de maneira mais saudável
quando ele usa a razão para controlar os sentimentos. (GURGEL, 2006, p. 69).
O interesse pelo conhecimento leva ao amadurecimento emocional e vice-
versa. O desafio de se manter na esfera do racional, porém, estará presente até a
idade adulta, afinal emoção e razão têm uma relação dialética, se completam. Jean
Piaget em sua teoria, chamada de Epistemologia Genética ou teoria psicogenética,
segundo GURGEL, (2006), explica como o individuo, desde o seu nascimento,
constrói o conhecimento. Sua teoria é a mais conhecida concepção construtivista da
formação da Inteligência.
Para Jean Piaget, segundo GURGEL, (2006), o afeto desempenha um papel
essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem
necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca
seriam colocados e não haveria inteligência.
Afirma ele, segundo GURGEL (2006), que o afeto é uma importante energia
para o desenvolvimento cognitivo e estudo s que integram suas pesquisas e também
de Freud especificam que a afetividade influi na construção do conhecimento de
forma essencial através da pulsão de vida e da busca pela excelência.
PIAGET, segundo GURGEL (2006), dedicou-se exclusivamente ao estudo
do desenvolvimento cognitivo, especificamente, à gênese da inteligência e da lógica.
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas
mudanças qualitativas e quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada
estrutura de estrutura precedentes. Ou seja, o individuo constrói e reconstrói
continuamente as estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio.
Essas construções, segundo GURGEL (2006), seguem um padrão
denominado por PIAGET de ESTÁGIOS que seguem idades mais ou menos
determinadas. Todavia, o importante é a ordem dos estágios e não a idade de
aparição destes.
Em cada estágio, segundo GURGEL (2006), há características privativas
pelas quais a criança constrói o seu conhecimento:
-Sensório- motor (ou pratico) 0-2anos: A partir de reflexos neurológicos básicos , o
bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio . A
inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O
contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.
- Pré-operatório (ou intuitivo) 2-6 anos: Também chamado de estágio da inteligência
Simbólica. Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação
construídos no estágio anterior (sensório-motor). Desenvolvimento da capacidade
simbólica (símbolos mentais; imagens e palavras que representam objetos
ausentes); explosão lingüística; característica do pensamento ({egocentrismo,
intuição, variância}; pensamento dependente das ações externas
- Operatório-concreto- 7 – 11 anos: capacidade de ação interna: operação.
Características da operação: reversibilidade/ invariância - conservação (quantidade,
Constancia , peso, volume descontração / capacidade de seriação/ capacidade de
classificação.
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- Operacional- formal (abstrato) – 11 anos: a operação se realiza através da
linguagem (conceitos). O raciocínio é hipotético-dedutivo levantamento de hipóteses;
realização de deduções.
Essa capacidade de sair-se bem com as palavras e essa independência em
relação ao recurso concreto permite segundo GURGEL (2006): ganho de tempo;
aprofundamento do conhecimento; domínio da ciência da filosofia.
As relações entre afetividade e inteligência, segundo GURGEL (2006),
podem ser vistas de duas maneiras diferentes. O apogeu da inteligência é a
formação progressiva das estruturas operacionais e pré- operacionais .
Analisando a duplicidade desta relação inteligência e afeto, podemos
requerer que o afeto faz ou pode causar a formação de estruturas cognitivas.
WALLON, um educador nos deixou uma enorme contribuição neste sentido,
que hoje está sendo redescoberta pelos educadores.
WALLON, apud GALVAO (1995), atribui à emoção um papel fundamental no
processo de desenvolvimento humano. Quando nasce uma criança, todo contato
estabelecido com as pessoas que cuidam dela, são feitos via emoção.
WALLON, apud GALVAO (1995), destaca o caráter social da criança neste
sentido, pois que se não houvesse a atenção do adulto nessa fase inicial de sua
vida, a criança morreria. O recém- nascido não tem ainda outras formas de se
comunicar com o outro, que não a emoção, esta sim, forma eficiente de
comunicação; e que funciona em Mao dupla. Nossa comunicação com o bebe
também é emocional, corporal. É comum se dizer que não é fácil enganar uma
criança. Isto porque ela “lê” no corpo, mais que nas palavras. Podemos dizer coisas
bonitas a uma pessoa, mas nosso corpo pode estar mandando uma mensagem de
repulsa.
Segundo WALLON apud GALVAO (1995), quando, em alguma situação da
nossa vida, há domínio da função cognitiva, estamos voltados para a construção do
real, como quando classificados abjetos, fazemos operações matemáticas,
definimos conceitos, etc. quando há o predomínio da função afetiva, neste momento
estamos voltados para nos mesmos, fazendo uma elaboração do EU. É só
lembrarmo-nos das nossas experiências carregadas de emoção, como por exemplo,
o nascimento de um filho, a perda de um ente querido, ou algo assim. No impacto da
20
emoção, nossa preocupação é a construção que fazemos de um novo eu, a mulher
que se transforma mãe, ou esposo que se torna viúvo por exemplo.
Se nos adultos tivéssemos a consciência do quão importante são estes
momentos para a criança em formação, com certeza repensaríamos sobre muitas de
nossas ações cotidianas.
Conforme a criança vai crescendo, as crises emotivas vão se reduzindo,
ataques choros, birras, surtos de alegria, cenas tão comuns na infância vão sendo
melhores controlados pela razão, num trabalho, de desenvolvimento da pessoa.
Heloysa Dantas (1990), diz em seu livro, A infância da razão, seguindo a
teoria Wallon, que “a razão nasce da emoção e vive da sua morte” (p. 32). No inicio
da vida, a emoção predomina. Conforme a criança vai desenvolvendo-se, as
emoções vão sendo subordinadas ao controle das funções psíquicas superiores, da
razão. E por toda a vida, razão e emoção vão se alternando, numa relação de
filiação, e ao mesmo tempo de oposição.
Enquanto não dermos atenção a este fator afetivo na relação educador-
educando, segundo Heloysa Dantas (1990), corremos o risco de estarmos só
trabalhando com a construção do real, do conhecimento, deixando de lado o
trabalho da constituição do próprio sujeito- que envolve valores e o próprio caráter –
necessário para o seu desenvolvimento integral, como homem e como Espírito
imortal.
Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade,
tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. Afetividade é um conceito
mais abrangente no qual se inserem varias manifestações.
O estudioso VYGOTSKY apud LA TAILLE (1992, p.75), tem como
abordagem principal referente ao cognitivo. Em termos contemporâneos,
VYGOTSKY poderia ser considerado um cognitivista, pois teve a preocupação com
a investigação dos processos internos relacionados à aquisição, organização e uso
do conhecimento e com a sua dimensão simbólica.
VYGOTSKY apud LA TAILLE (1992), usa o termo função mental para referir-
se a processos como: pensamento, memória, percepção e atenção. A organização
dinâmica da consciência aplica-se ao afeto e ao intelecto.
21
Conforme LA TAILLE (1992), VYGOTSKY explica que o pensamento tem
sua origem no campo da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades,
interesses, impulsos, afeto e emoção. Neste campo estaria à razão ultima do
pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só e
possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva. Apesar de a questão da
afetividade não receber aprofundamento em sua teoria, VYGOTSKY, segundo LA
TAILLE (1992), evidencia a necessidade das conexões entre as extensões
cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico humano, submetendo uma
abordagem concomitante das referidas extensões.
Para VYGOTSKY, segundo LA TAILLE (1992), o funcionamento psicológico
fundamenta-se nas relações sociais entre o individuo e o mundo exterior, as quais
se desenvolvem num processo histórico.
O sócio-histórico, segundo LA TAILLE (1992), não representa o coletivo, na
acepção de impor sobre o individuo, e sim, como processo em todo o mundo cultural
expõe-se ao sujeito como “o outro”. O “outro” com quem ele se compara é referência
externa que permite ao homem compor-se como ser humano. Este processo de
interiorização do material cultural define os limites e possibilidades da construção
pessoal. Este processo permite a constituição do ser autenticamente humano: na
ausência do outro, o homem não se constrói.
A teoria de VYGOTSKY, segundo LA TAILLE (1992), possui a lei dupla
formação, que consiste em dizer que toda função psicológica humana apareceu
duas vezes, uma vez em nível social (entre indivíduos), ou seja, interpsicológico, e
outra vez em nível individual (interno ao individuo),ou seja,intrapsicologico.nesse
processo de passagem da função psicológica de interpessoal para intrapessoal se
dá o processo de internalização. Na interação entre aprendizado e desenvolvimento
real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o
nível de desenvolvimento potencial, determinando através da solução independente
de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheirismo mais capaz.
A Zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário.essas funções poderiam ser chamados do “brotos” ou “flores” do desenvolvimento. (VYGOTSKY, apud OLIVEIRA,1993,p.60)
22
O nível de desenvolvimento real, segundo OLIVEIRA (1993), é o
responsável pelas funções mentais da criança que se instituíram como
conseqüência de certos ciclos de desenvolvimento já completados. É na Zona de
desenvolvimento proximal que a intervenção de outros é intensa e transformante.
Se o aprendizado estimula o desenvolvimento, então cabe e escola um
papel indispensável na arte de construir o ser psicológico amadurecido, adulto.
2.1 A INFLUÊNCIA DA RELAÇAO AFETIVA NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇAO
A relação afetiva em sala de aula é um tema que tem despertado bastante
interesse no âmbito educacional. Cada vez mais é indissociável o poder da
afetividade em sala como ajuda no sucesso ou fracasso no processo de
escolarização. Tanto alunos como professores percebem esta importância, mesmo
que esta percepção seja de forma implícita.
No cotidiano de sala de aula, o professor se depara com situações que
envolvem a formação da identidade do aluno e tendo ou não clareza do que faz,
acaba cercando-se de uma série de práticas que imprimem uma orientação ao
desenvolvimento desta identidade.
O ritmo de vida mudou muito nos últimos anos, e alguns professores não
conseguem acompanhar estas mudanças, ou simplesmente se negam a enfrentar
os avanços tecnológicos, influenciando direta ou indiretamente na metodologia a ser
aplicado, o que muitas vezes, segundo OLIVEIRA (1993), dificulta no processo de
ensino e aprendizagem. Estes avanços tecnológicos roubam cada vez mais a
atenção dos nossos alunos e se o professor não tiver “jogo de cintura” não consegue
obter sucesso nos seus objetivos educacionais.
Esta proximidade com o aluno é uma das formas da influência da relação
professor aluno no processo de escolarização. Através de uma aproximação
agradável, utilizando a mesma linguagem que nossos alunos usam e despertando o
interesse, segundo OLIVEIRA (1993), podemos prender a atenção deles e assim,
competir com a tecnologia e a globalização.
23
Existe como forma de influência na relação professor-aluno também,
segundo LA TAILLE (1992), a carência do aluno, com a necessidade de atenção, o
tratamento individualizado (pois cada aluno já vem com experiências, costumes e
saberes próprios), a preocupação com a homogeneização da compreensão dos
assuntos passados para a turma ( já que cada aluno tem o seu ritmo de
compreensão ) dentre outros.
Portanto, há a necessidade também, de um esclarecimento maior sobre os
aspectos afetivos envolvidos no processo de escolarização, em virtude das
constantes confusões que se costuma fazer entre compromisso, sentimentos,
emoções, preconceitos, que estão presentes em qualquer relação social. Tal
esclarecimento contribui para um melhor entendimento sobre todos os fatores
afetivos que interferem no processo ensino-aprendizagem na medida em que pode
subsidiar formas de administrar todos esses fatores.
Portanto, para que se compreenda a importância da relação professor aluno,
é importante também que se compreenda a importância de ser educador, a missão
que o educador tem de orientar o educando para a vida em sociedade.
As relações próprias da sala de aula, segundo LA TAILLE (1992), são
carregadas de afetividade e, seguramente, esta carga afetiva vai exercer uma
influencia na aprendizagem. A intervenção pedagógica, centrada principalmente na
interação professor- aluno é determinante na construção de todo e qualquer
conhecimento. As crianças se sentem mais autoconfiantes.
WALLON apud LA TAILLE (1992), dedicou grande parte de sua vida ao
estudo das emoções e da afetividade. Identificou as primeiras manifestações
afetivas do ser humano do ser humano, suas características e a grande
complexidade que sofrem no decorrer do desenvolvimento, assim como suas
múltiplas relações com outras atividades psíquicas.
A sua teoria da emoção, extremamente original, tem uma nítida inspiração
darwinista: ela é vista como instrumento de sobrevivência típico da espécie humana,
que se caracteriza pela escassez da prole e pelo prolongado período de
dependência. Se não atendimento das suas necessidades, o bebe humano
pereceria. Não é por acaso que seu choro atua de forma tão intensa sobre a mãe: é
24
esta a função biológica que da origem a um dos traços característicos da expressão
emocional: sua alta contagiosidade, seu poder epidêmico. (LA TAILLE, 1992, p.85)
Afirma que a afetividade desempenha um papel fundamental na constituição
e funcionamento da inteligência, determinado os interesses e necessidades
individuais.
Tendo como base teórica esses autores, descrever e analisar os aspectos
afetivos da interação professor-aluno que participam no processo de apropriação do
conhecimento pelo aluno, pode vir a ser uma das maneiras de ser resgatar a
dimensão afetiva, que foi muito desvalorizada, não só na educação.
A criança em idade escolar está em intenso progresso no campo intelectual
sendo que, segundo WALLON (1968), a afetividade possibilita tal avanço, pois os
motivos, necessidades, desejos que dirigem o interesse da criança para o
conhecimento e conquista do mundo exterior; é, pois, importante observar e
descrever como o professor utiliza-se dos aspectos afetivos para promover o avanço
cognitivo, já que a elaboração cognitiva funda-se na relação com o outro. (SMOLKA,
1993).
2.2 O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇAO DO AUTOCONCEITO
O papel da escola, enquanto relação professor e aluno, segundo ANTUNES
(1996), é de suma importância para que a formação da auto estima seja pautada em
segurança, autonomia de idéias, conceitos que o próprio aluno tenha de si e que
contribuem para seu desempenho escolar e de sua vida como um todo.
A opinião que a criança tem se si mesma, segundo ANTUNES (1996), está
intimamente relacionada com sua capacidade para aprendizagem, e com seu
rendimento. O auto-conceito se desenvolve desde muito cedo na relação da criança
com os outros.
Os pais e os professores, segundo ANTUNES (1996), atuam como
espelhos, que devolvem determinadas imagens a criança. O afeto é muito parecido
com o espelho. Quando demonstramos afetividade por alguém, essa pessoa torna-
se meu espelho e meu torno o dela; e refletindo um no sentimento de afeto do outro,
desenvolvemos o forte vinculo de amor, essência humana, em matéria de
25
sentimentos. É nesta interação afetiva que o desenvolvemos nossos sentimentos
positiva ou negativamente e construídos a nossa auto-imagem.
Se os pais e professores estão sempre opinando a partir de uma perspectiva
negativa para as crianças, e se estão sempre os taxando de inúteis e incapazes, ou
usando de zombarias e ironias, segundo ANTUNES (1996), irá se formando neles
uma imagem pequena de seu valor. E se com os amigos, na rua e na escola,
repetem-se as mesmas relações, teremos uma pessoa com auto-estima baixa e
baixo sentimento de auto-avaliação.
A questão da afetividade e auto estima, segundo ANTUNES (1996), é uma
preocupação mundial. Todo o segmento da sociedade tem essas abordagens em
seus discursos e buscam a prática que possam condizer com o que acreditam
verdadeiramente. A afetividade no trato com as pessoas é um pressuposto do que
se referem como resgate a valores humanos esquecidos por nos que estamos
evolvidos dom a agitação do dia-a-dia.
Acreditando nisto, ANTUNES (1996, p.56), afirma que a relação professor e
aluno devem ser baseados em afetividade e sinceridade, pois: Se um professor
assume aulas para uma classe e crê que ela não aprendera, então este certo e ela
imensas dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho da classe, ele
conseguira uma mudança, porque o cérebro humano é muito sensível a essa
expectativa sobre o desempenho.
Como se pode ver a escola, como parte integrante e fundamental em uma
sociedade, não pode ficar alheia a esta busca. Entretanto, segundo ANTUNES
(1996), aproxima-se de pensamentos de teóricos como WALLON, PIAGET E
VYGOTSKY, para basear suas ações pedagógicas e transformar a relação professor
e aluno em momento mais rico no processo ensino- aprendizagem.
Tais conhecimentos perdem sua validade, segundo ANTUNES (1996),
quando professores e técnicos não estão comprometidos com mudanças em suas
idéias tradicionais ou posturas, que trazem ranços de práticas escolares que apenas
depositam informações nos alunos, desconsiderando assim a afetividade no
processo ensino-aprendizagem.
Diante disso, é preocupante o número de casos que mostram alunos
envolvidos em agressões entre colegas ou discussões com professores, casos
26
estes, que observados em sua essência, demonstram carência afetiva,
demonstrando eu o conceito que o aluno tem de si é negativo.
Sabe-se, no entanto que a escola não é a solução para todas as dificuldades
existentes do ser humano, porém, segundo ANTUNES (1996), como órgão
educacional que tem como uma das suas funções a formação do cidadão com o
sujeito construtor do seu contexto histórico, pode e deve contribuir para mudanças
significativas na relação professor e aluno, pois, alem da sala de aula que oferece
conteúdos e provas, a afetividade esta presente em cada ação e busca seu espaço
no espelho que a turma repassa aos técnicos quando dispõem diário de notas,
conselho de classes, conselho escolar e tantos outros instrumentos e setores que
retratam esta relação.
Por conseguinte, para a construção da auto-estima, segundo ANTUNES
(1996), é necessário buscar a responsabilidade e não tem a culpa, criar um clima de
confiança que faça com que a pessoa sinta-se genuinamente aceita, compreendida
e respeitada, sentimentos que ajudam a trabalhar núcleos emocionais que
bloqueiam condutas. Os educadores sabem que as crianças aprendem melhor
quando estão satisfeitas com elas mesmas e que bons sentimentos são importantes.
No entanto alguns professores desconhecem seu papel de espelho dentro
de uma sala de aula, esquecendo que seus alunos o admiram e estão preocupados
em ser iguais a eles. Se os professores percebem essa imitação sem duvida
procurariam policiar suas palavras e posturas.
Esperam-se mudanças na educação a partir de conscientização de novas
metodologias que insiram cada vez mais o aluno em uma vida escolar que retrate
sua realidade e que busque a contextualização, porém, olhando-se de outro prisma,
segundo ANTUNES (1996), a solução para a educação pode estar no afeto. Afeto
este que inclua que proporcione crescimento e valorização do ser humano e
reconhecimento pessoal como sujeito ativo na construção da historia.
Mais do que aula, muitas vezes o aluno vai para a sala de aula em busca de
respostas que esclareçam seu verdadeiro papel na sociedade. Considere esta
escola, como grupo social que pode contribuir para a sua formação como cidadão e,
e na maioria das vezes, o professor não se preocupa com o “tipo” de aluno que está
convivendo muito menos, em estabelecer um vinculo afetivo mais forte nesta relação
27
favorecendo atitudes positivas que favoreçam na sua formação da auto-estima do
aluno.
Neste sentido, a emoção, segundo ANTUNES (1996), será compreendida
dependendo da ativação ou redução da afetividade, no entanto, o autocontrole não é
uma habilidade que se desenvolve “naturalmente” dada à manutenção temporal da
criança. Todos precisam de uma aprendizagem especifica, pois uma relação é algo
que se constrói dia-a-dia, no entendimento de si e do outro.
Por isso, é preciso que se tenha cuidado com as palavras escolhidas para a
comunicação, levando em consideração o tom de voz que deve ser firme e não
acusador e padrões de linguagem que encorajem a auto-avaliação e o auto-
monitoramento por parte da própria criança, fazendo com que ela aprende a amar-
se, conhecendo seus limites pedindo ajuda quando necessário.
2.3 A AUTO-ESTIMA E A APRENDIZAGEM
GODOY (1997), coloca que, Aprender o valor do autocontrole na infância
não significa apenas ser passivo, pelo contrário, significa ter capacidade de
discriminar os contextos apropriados para falar, brincar, rir... É preciso aproveitar o
melhor das possibilidades da infância nas diferentes situações, de forma a
beneficiar-se com o que tais situações podem proporcionar ao seu desenvolvimento.
Crianças não aprendem sozinhas, precisam de apoio para aprender a
manter seu comportamento direcionado a uma meta, com aprendizagem consistente
de valores que as guiem.
De acordo com GODOY (1997), quando a criança tem êxito no fazer começa
a confiar em suas capacidades. E quanto mais acredita que PODE FAZER, mais
consegue.
É importante ensinar á criança que ela pode fazer algumas coisas bem, e
que pode ter problemas com outras coisas. E que faça o melhor que puder.
Também, GODOY (1997), é uma boa ajuda admitimos nossos próprios erros
ou fracassos. Ela precisa saber que também nós não somos perfeitos: “Sinto muito.
Não devia ter gritado. Fiquei o dia todo chateado.”
28
Para ajudá-lo a criar bons sentimentos afirma GODOY (1997), é importante
elogiá-lo e incentivá-lo quando procura alguma coisa, fazendo-a perceber que tem
direito de sentir que é “IMPORTANTE”, que pode aprender que consegue e que sua
família lhe quer bem e a respeita. O cuidado reside em adequar as tarefas que
cabem a cada idade e permitir que ela tente, enfim, solicitar a ajuda da criança,
partilhando com ela pequenos afazeres, vale ate aplausos às suas conquistas.
Segundo BRIGGS (2000), a auto-estima das crianças não é formada
unicamente em uma fase, mas eternamente construída e sujeitas a mudanças, por
isso a base familiar e escolar desta criança deve ser segura e confiante para que as
possa superar as dificuldades da vida com mais facilidade.
A escola, GODOY (1997), está, a todo o momento, buscando mudanças
para que possa melhorar a qualidade de ensino, e o professor em formação
continuada tem contato com novas metodologias que sugerem o respeito pela
produção do aluno, valorizando o que consegue fazer e incentivando o que pode vir
a fazer.
A afetividade tem grande influência em nossa vida, pois quem gosta de ser
maltratado por outra pessoa em uma loja, no cinema? E de ser chamada a atenção
de maneira grossa na frente de outras pessoas? Ninguém nasceu para sofrer ou
fazer o outro sofrer. Desta forma, o aluno também tem o direito de perceber
tratamento que o respeite enquanto cidadão e que trate o outro de forma como vem
recebendo atenção.
Ensinar e aprender são o estabelecimento de uma relação de causa de
efeito, é produto da troca de informações e das experiências pessoais entre aprendiz
e mestre. Nessa troca, GODOY (1997), ninguém sai ileso e os resultados são
marcantes e especiais, na medida em que marcantes e especiais forem o empenho,
a responsabilidade e as influencias mutuas de quem ensina aprendendo e de quem
se aprende educando.
Neste relacionamento educador-educando, GODOY (1997), o vínculo afetivo
será um grande facilitador no processo de ensino aprendizagem, pois, pela criação
de forte vinculo afetivo, a criança não se sentirá sozinha, facilitando, assim, seu
aprendizado. Certamente o clima criado será de prazer, acolhimento, alegria,
companheirismo, ou seja, prazerosamente o conteúdo será apresentado, as
29
dificuldades serão percebidas e acolhidas como parte do processo, auxiliando a
desta forma na superação das dificuldades.
As crianças não só precisam de uma atmosfera que estimule a curiosidade e
a exploração, como também precisa de amplos contatos como grandes variedades
de experiência. Para BRIGGS (2000, p.162), toda criança precisa do máximo de
experiência direta possível. Só dessa maneira ela pode chegar a conhecer o seu
ambiente pessoal.
As escolas oferecem, evidentemente, grande ênfase à palavra falada e
escrita, uma prática utilizada no lar, que desenvolve uma habilidade muito valorizada
na escola, a linguagem escrita. No entanto, podemos estimular a criança a falar
através dos exemplos familiares respeitando as suas idéias e sentimentos. A
comunicação realmente aberta só floresce num clima de segurança.
2.4 DESENVOLVENDO A AUTO-ESTIMA
A teoria de PIAGET, segundo WADSWORTH (1998), é ao mesmo tempo
compreensiva e útil a todos. Ela oferece uma forma alternativa de se compreender o
comportamento e o desenvolvimento humano.
Não há leis ou fórmulas, mas usar as teorias como um recurso pedagógico e
educativo nos leva a descobrir aquelas que são mais úteis a formação da
personalidade, que é de grande importância para todos nos, educadores, pois
propõe uma reflexão sobre o nosso cotidiano e nossa relação com a criança. A
teoria de PIAGET, segundo WADSWORTH (1998), vai ao encontro das expectativas
de pais e professores preocupados com o desenvolvimento da criança em todos os
aspectos de sua personalidade.
Uma série de recomendações consistentes com a teoria de PIAGET,
segundo WADSWORTH (1998), para o desenvolvimento da auto-estima é
primeiramente que pais e professores devem assumir relações de respeito mutuo
com as crianças, e não autoritária pelo menos alguma parte do tempo em que
permanece juntos. Os pais podem encorajar as crianças a resolverem problemas por
si mesmos e desenvolverem a autonomia. Pais e professores precisam respeitar as
crianças. Quando a punição às crianças se fizer necessária, ela deve estar baseada
30
na reciprocidade e não na expiação. Por exemplo, o menino que se recusa a
arrumar o seu quarto pode ser privado das coisas que estão no quarto. A menina
que bate em outras crianças deve ser negada a interação com as outras crianças.
Ainda seguro o autor, os professores podem promover a interação social na
sala de aula e encorajar o questionamento e o exame de qualquer problema que pó
ser levado pela criança. Existe valor intelectual em trabalhar com os interesses
intelectuais espontâneos da criança e, para o desenvolvimento moral dela, é
igualmente valioso lidar com as questões morais espontâneas, isso cabe também
aos pais.
O mesmo autor cita também que é possível envolver a criança, mesmo a da
pré-escola, em discussões de problemas morais. À medida que leva ouve os
argumentos de seus colegas pode experimentar a desequilibrarão cognitiva, que
pode conduzir a reorganização de seus conceitos. O conflito cognitivo é necessário
para a reestruturação do raciocínio e para o desenvolvimento mental. Se muitos
“educadores” desejassem pensar ao contrario, a responsabilidade, a cooperação e
autodisciplina não podem ser transmitidas a criança autoritariamente. Tais conceitos
devem ser construídos por ela a partir de sua próprias experiências para o que as
relações de respeito mutuo são essenciais. Pais e professores são o que, em geral,
organizam o meio social ao qual a criança se adapta a partir do qual ela aprende. É
discutível a idéia de que a criança pode desenvolver os conceitos de justiça,
baseados na cooperação, em ambiente cujo sentido de justiça tenha pó base
apenas a autoridade.
A privação ou punição tem segundo WADSWORTH (1998), efeito prejudicial
à criança, pois provoca baixa auto-estima e sentimento de culpa. Por isso não se
deve dizer: ”Mamãe está TRISTE com você” A ameaça usando o afeto é dolorosa
demais para ela. A criança com auto-conceito positivo oferece contribuições
significativas e valiosas para o grupo e para a própria formação.
31
3 RELAÇAO PROFESSOR-ALUNO
A escola, segundo FREIRE (2000), é um espaço de multiplicidades, onde
diferentes valores, experiências, concepções, culturas, crenças e relações sociais se
misturam e fazem do cotidiano escolar uma rica e complexa estrutura de
conhecimentos e de sujeitos. Essa rica heterogeneidade que permeia a escola
acaba por se confrontar com uma estrutura pedagógica que está baseada num
padrão de homem e de sociedade, que considera a diferença de forma negativa,
gerando assim a pedagogia excludente.
As relações estabelecidas no contexto escolar, segundo FREIRE (2000),
tem se revelado cada dia mais difíceis e conflitantes. A descrença de que a escola
passa constituir-se num espaço de construção de conhecimento, de alegria, de
formação de pessoas conscientes participativas e solidárias, tem recrudescido. Os
sentimentos em relação a ela tem sido de desilusão, desencanto e impotência diante
de inúmeros problemas cotidianos. Um deles refere-se as relações eu - outro, a não
aceitação do outro como um legitimo outro na convivência, na inabilidade de se lidar
com os conflitos comuns ao convívio humano, ou seja, questões ligadas a
afetividade que integra a emoção, a paixão e o sentimento, presentes em todas as
relações humanas. Esses e outros problemas estão presentes no chão da escola, e
superá-los implica um desafio imbricado em questões políticas, econômicas sociais
e pedagógicas.
Mas é necessário encarar este desafio, segundo FREIRE (2000), como uma
utopia, como uma responsabilidade de mudança em que a busca e o diálogo,
estimulem a capacidade reflexiva e a construção de uma visão plural do
conhecimento.
É preciso levar em conta, segundo FREIRE (2000), o sujeito concreto,
contextualizado no tempo e no espaço-professor e aluno – atuantes do cenário
educativo, que pensam, sofrem, amam e criam. O sujeito é um espaço de
singularidade, gestado no conflito, nas diferenças, no heterogêneo.
A sala de aula é espaço vivo. Nela, alem de conflitos, segundo FREIRE
(2000), há momentos de interação que ocorrem naturalmente entre alunos e
professores e há os que provocam tanto pelo professor quanto pelo aluno e que se
revestem de significado.
Professores que em sua prática pedagógica procuram criar um clima de
respeito e amizade entre eles e os alunos, na medida em que os trata de forma
educada e respeitosa, mesmo quando os repreende, segundo FREIRE (2000), não
se utiliza de expressões que os rotulem como incapazes, tem interesse de em ouvi-
los, procurando dar um sentido conceitual e significativo a essas falas, relacionando-
as ao conteúdo da área e muitas vezes a formação do aluno como pessoa, assim
valorizava os conhecimentos vivencias trazidas por eles, como sujeitos importantes
e ativos nas relações estabelecidas, tentando delinear novos percursos que
rompessem com a noção de fracasso e de exclusão vivida por muitos alunos. Aulas
assim significam mais que um simples conteúdo, existe uma relação direta com
situações pertinentes a eles.
A construção e reconstrução do saber acontecem quando se percebe o
significado do que está sendo vivenciado, quando há a mobilização e a interação
dos sujeitos nos processo. Quando as relações professor/aluno/conhecimento,
segundo FREIRE (2000), permitem a participação, a argumentação, o respeito pela
palavra do outro, mesmo em meios aos tropeços no caminho, há possibilidade de
avanço no processo de aprendizagem.
Conhecemos a importância do diálogo na sala de aula, a necessidade que o
aluno tem de sentir que o professor se interessa por ele e também a importância que
dão ao que chamaremos aqui de “bom humor” por parte do professor, definido de
forma variada pelos alunos, mas como referência comum entre eles.
O aluno tem de ver o professor não somente como alguém que vai lhe
transmitir conhecimentos e preocupado com as explicações sobre determinado
conteúdo, mas, segundo FREIRE (2000), como alguém que, comprometido com a
ação que realiza, percebe o aluno como um ser importante, com idéias e
sentimentos que podem ser partilhados com ele. Nesse processo de interação
humana, de intercambio, o conhecimento estruturado do professor, de sua forma de
expressão mais formal, seus valores e concepções se misturam aos saberes não
sistematizados e empíricos dos alunos, aos seus valores e linguagens próprios de
seu ambiente cultural.
Esse encontro, observado numa perspectiva dialógica pode assumir um
valor significativo no processo de aprendizagem, propiciando a participação ativa e a
mobilização para aquisição do conhecimento. Como afirma FREIRE,
33
Na verdade preciso destacar como falsa a separação radical entre a seriedade docente e afetividade. “Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serie tão melhor professor quanto mais severo, frio, mais distantes e cinzentos” me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis devo ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade... (1996, p159-160).
Citamos que a não preocupação do professor em tecer uma relação de
interação com os alunos acaba provocando uma reação – que dificilmente será vista
por ele como uma resistência a sua atitude, e sim como desrespeito, rebeldia e falta
de interesse do aluno, quem em nada contribuirá para o encaminhamento de
possíveis soluções para os conflitos.
Os alunos valorizam os professores que os escutam, que se preocupam com
suas dificuldades e que entende que a aprendizagem não ocorre ao mesmo tempo e
do mesmo jeito para todos. Reconhecem que ele é um elemento importante na
mediação entre o aluno e o conhecimento. Nesse sentido, podemos fazer alusão à
teoria vygotskyana, segundo FREIRE (2000), sobre a importância da intervenção
pedagógica, o papel do professor de interferir na zona de desenvolvimento proximal
dos alunos, fazendo juntos, demonstrando, fornecendo pistas e provocando avanços
que não ocorreriam naturalmente, e mais uma vez recorremos a FREIRE,
Não importa que faixa etária trabalhe o educador. O nosso é um trabalho, com gente, miúda, jovem ou adulta, mas a gente em permanente processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-se, melhorando, mas porque gente,capaz de negar os valores, de distorcer-se,de recuar, de transgredir.(1996, p162-163).
Sabemos que a atitude do professor, a forma como ele interage com a
classe, como direciona o seu fazer pedagógico está relacionado às suas
concepções de homem e de mundo, sejam elas conscientes ou inconscientes.
O propósito do professor atualmente, segundo FREIRE (2000), é encarar os
conflitos como possibilidade de reflexão, permitindo ao aluno a analise das situações
e aprofundamento das questões que impulsionam determinadas atitudes. Juntos,
professor e alunos têm a tarefa de, neste espaço de convivência que é a sala de
aula, buscar melhores alternativas de ação.
É relevante destacar essa fala para elucidarmos a visão construída por
muitos professores de quando falamos de afetividade estamos nos referindo apenas
às manifestações de carinho.
34
O dialogo pode então, ser significativo para estimular interesse, a necessidade e a conscientização na relação ensino-aprendizagem e pode contribuir para a reciprocidade entre a afetividade e aprendizagem, o que não deve ser confundido com permissividade, o diálogo entre professores ou professoras e alunos não os tornam iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os professores não são iguais aos alunos por n razoes, entre elas porque a diferença entre eles os faz ser como estão sendo. (FREIRE, 2000, p.117).
A afetividade, segundo FREIRE (2000), abrange as paixões, os sentimentos
e as emoções, portanto, também estão nela inseridas as manifestações de
agressividade, medo e raiva. O desconhecimento teórico desses conceitos dificulta a
compreensão das relações de reciprocidade e oposição entre afetividade e
cognição, e o poder das emoções, sejam elas perturbadoras ou ativadoras, influindo
de forma estimuladora ou desagregadora na aprendizagem. Isso pode acarretar
enganos na interpretação de determinadas reações ou ações na sala de aula,
levando à redução da capacidade de discernimento tanto do aluno quanto do
professor.
35
CONSIDERAÇOES FINAIS
A proposição de vivências que gerem processos de desenvolvimento de
saberes para a educação emocional passou a ser uma necessidade permanente em
todos os níveis de ensino. No entanto, os professores precisam ser preparados para
esse enfrentamento. Alerta-se que a formação na escola tradicional não oportunizou
essa aprendizagem. A escola e a sociedade têm educado as pessoas no sentido de
reprimir, ocultar, omitir e mentir sobre os seus sentimentos, levando a frustração da
forma natural de “ser” da pessoa.
A afetividade é um conceito amplo, integra relações afetivas como a
emoção(medo,cólera, alegria, tristeza),a paixão e o sentimento, inerentes ao
processo ensino aprendizagem.
Segundo a teoria walloniana, emoção e cognição são dois aspectos
inseparáveis no desenvolvimento e se apresentam de forma antagônica e
complementar. Na sala de aula, espaço social de convivência diária, foi possível
perceber movimentos que caracterizam os conflitos entre os alunos.
Escola constitui-se num espaço educativo, cuja função principal é a de
mediar o conhecimento, possibilitar ao aluno o acesso e a reconstrução do saber.
Essa função esta imbricada ás relações, pois a transmissão do conhecimento se da
na interação entre as pessoas. Assim, nas relações ali estabelecidas, professor-
aluno, aluno-aluno, o afeto esta presente. Um dos componentes essenciais para que
esta relação seja significativa e represente uma parceria no processo ensino-
aprendizagem, é o diálogo.
É tarefa e desafio da escola assumir efetivamente, em parceria com os pais
(família em geral), a função de proporcionar aos alunos oportunidades de evoluir
como seres humanos. Para isto,seu trabalho pedagógico educacional é cuidar da
sua formação, fazendo-os cumprir regras, impondo-lhes limites, e acima de tudo
acreditando que os jovens tem capacidade de suportar frustrações .
Nesse contexto, percebe-se a necessidade da implantação nas escolas de
projetos que envolvam saberes que contemplam a Educação Emocional. Com
urgência os educadores brasileiros precisam gerar procedimentos metodológicos
que levem a alfabetização emocional.
A promoção da afetividade é um termo em que se torna difícil propor
sugestões já que as necessidades das crianças são diferentes. Assim, por exemplo,
o que é útil para uma criança impulsiva pode não ser para uma inibida, daí a
necessidade do uso de recursos e metodologias variadas pelo o professor.
Neste sentido, a escola deve ser um ambiente aberto ao debate da
cidadania, da liberdade, da responsabilidade, da justiça social, do respeito. Uma
organização que aprende e que seja capaz de ensinar. O aluno deve apresentar um
comportamento ativo e livre no processo de aprendizagem, dando-lhe uma
sensação de autodireção e decisão.
As escolas devem também preocupar com a formação desse professor que
hoje tem um perfil de mediador, de orientador no processo ensino-aprendizagem,
buscando ou formando profissionais que inclua em sua visão educacional a
dimensão emocional como fundamental para o bom desempenho do aluno.
Hoje, percebe-se que a escola não pode viver sem a família e ela não pode
viver sem a escola, são instituições interdependentes e complementares. A escola
deve se conscientizar de que é uma instituição afetiva que complementa a família.
Sem essa consciência, criaremos um bando de sujeitos que aprenderam, mas não
sabem usar o que aprenderam porque estão afetivamente empobrecidos. O pai e o
professor, educadores que são, devem entender que tem uma missão: construir um
ser humano.
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