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A ADOPÇÃO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CENTRO DE FORMAÇÃO JURÍDICA João Alves Procurador-Formador Setembro de 2013

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A ADOPÇÃO

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

CENTRO DE FORMAÇÃO JURÍDICA

João Alves Procurador-Formador

Setembro de 2013

Page 2: A ADOPÇÃOrazão, houver grave dificuldade em as ouvir (art. 1860º, nº 3, al. a) do C. Civil). - Dos pais do adoptando, ainda que menores e mesmo que não exerçam o poder paternal,

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ÍNDICE

Fls

A- Introdução .................................................................................... ...................2

1- Legislação .................................................................................................. 3

2- Definições .................................................................................................. 5

3- Em que consiste ......................................................................................... 6

4- Como se constitui ....................................................................................... 6

5- Requisitos gerais ........................................................................................ 6

6- O consentimento na adopção .................................................................... 7

7- Quem pode adoptar ................................................................................... 9

8- Quem pode ser adoptado........................................................................... 9

9- Efeitos da adopção .................................................................................. 10

10- Revisão da sentença de adopção .......................................................... 10

11- Tribunal competente .............................................................................. 12

12- Processo aplicável ................................................................................. 12

13- Alteração do registo civil ....................................................................... 14

B- Peças processuais .......................................................................... ..............15

1- Petição inicial. Confiança judicial com vista à adopção ........................... 15

2- Petição inicial. Pedido de adopção .......................................................... 18

3- Parecer do M. Público em pedido de adopção ......................................... 20

4- Petição inicial. Confiança judicial para futura adopção ............................ 22

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A- Introdução

A adopção, lato sensu, define-se como a inserção num ambiente

familiar, de forma definitiva e com aquisição do vínculo jurídico próprio da

filiação, segundo as normas legais em vigor, de uma criança cujos pais

morreram, são desconhecidos ou não querem assumir o desempenho das suas

funções parentais, ou são pela autoridade competente considerados incapazes

de as desempenhar.

O direito a constituir família tem reconhecimento e garantia

constitucional (art. 39º, nº 2), englobando o direito à vida em comum e o direito

a ter filhos.

A adopção é uma alternativa à filiação natural, cujos efeitos se

aproximam tanto quanto possível dos desta. Destina-se a encontrar uma

família, e nomeadamente uns pais, para as crianças que não tiveram a sorte de

nascer dotadas de uma família natural onde se pudessem desenvolver

harmoniosamente ou que a vieram a perder.

Através deste instituto, um indivíduo pertencente pelo nascimento a um

determinado grupo de parentesco adquire novos laços de parentesco noutro

grupo, definidos tais laços em termos sociais, como equivalentes aos laços de

sangue.

Este instituto é, pois, hoje, mais do que nunca, um meio de proteger uma

criança, devendo ser perspectivado como um recurso dos vários que integram

uma política integrada de protecção à infância e juventude.

A adopção, inserida no Capítulo II, Título IV, art. 1853º a 1870º do C.

Civil, é uma das fontes de relações familiares em Timor-Leste.

A constante dominante é a de que o interesse da criança deve

prevalecer sobre todos os outros, o que implica a salvaguarda de alguns

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princípios comummente aceites. Um dos mais importantes é o de que toda a

adopção deve ser precedida de inquéritos efectuados por serviços

competentes, de modo que nenhuma adopção seja decretada sem que esses

inquéritos revelem que o bem da criança está devidamente protegido.

1. Legislação.

- Código Civil (art. 1853º a 1870º).

- Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (art. 21º),

de 20/11/1989, ratificada para adesão pela Resolução nº 16/2003, de

30/07, do Parlamento Timorense. Mais tarde, em 17/9/2003, pelas

suas resoluções 17 e 18, o Parlamento ratificou os seus dois protocolos

adicionais.

- Convenção de Haia, de 29/5/1993, relativa à Protecção das Crianças

e à Cooperação em matéria de Adopção Internacional, ratificada e

aprovada por Timor-Leste pela Resolução nº 28/2009, de 14/7/2009.

Tem por objetivo estabelecer garantias para que as adopções

internacionais sejam feitas segundo o interesse superior da criança e

com respeito aos direitos fundamentais que lhe reconhece o direito

internacional, instaura um sistema de cooperação entre os Estados

Contratantes que assegura o respeito às mencionadas garantias e, em

consequência, previna o sequestro, venda ou o tráfico de crianças e

assegure o reconhecimento nos Estados Contratantes das adopções

realizadas segundo a Convenção.

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO:

Com frequência, o legislador toma a iniciativa de estabelecer em lei nova

um regime jurídico distinto para certa espécie ou categoria de situações. Ora,

pode surgir a dúvida sobre qual das leis se deve aplicar nas situações

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constituídas ao tempo da lei antiga, mas que ainda se mantenham depois da

entrada em vigor da nova lei.

Trata-se pois, de definir o critério que permita determinar qual a lei

competente ou aplicável para regular situações que atravessam o período de

vigência de diversas leis.

► A aplicação das disposições do C. Civil a situações ou factos

constituídos em momento anterior à sua entrada em vigor fica subordinada às

regras dos arts. 11º1 e 12º, com as modificações previstas nas disposições

transitórias (art. 2º, nº 1 das disposições transitórias do C. Civil):

- Quanto à adopção restrita.

Aos vínculos de adopção restrita existentes à data da entrada em vigor

do novo Código Civil continua a aplicar-se o regime especialmente previsto

para esse tipo de adopção no Código Civil Indonésio, complementado e

modificado pelas disposições do novo Código que não se mostrem

incompatíveis com a sua natureza (art. 14º das disposições transitórias do C.

Civil).

1 O legislador estabeleceu um princípio de irretroactividade da lei (art.º 11º n.º 1, C. Civil), isto é, esta regula as situações futuras, respeitando os factos passados.

Daí derivam as seguintes consequências: 1 - O facto jurídico em si é regulado pela lei vigente no momento da sua verificação. A lei nova deve regular apenas os factos ocorridos após a sua entrada em vigor, deixando para a lei antiga a disciplina dos factos ocorridos no tempo da sua vigência, ainda que os seus efeitos perdurem no tempo; 2- A lei antiga aplica-se ainda aos efeitos jurídicos de factos passados. Os efeitos presentes e futuros de factos passados serão regulados ainda pela lei antiga se o contrário pudesse implicar uma reapreciação desses factos e, a contrario, a lei nova regula os efeitos presentes e futuros de factos passados quando isso não implicar uma reapreciação destes.

O art. 11º, nº 2, desenvolve e concretiza o princípio contido no nº 1 da seguinte forma:

a) Sempre que a lei nova dispuser sobre as condições de validade formal ou material de quaisquer factos, tem-se por aplicável a lei antiga (coetânea da verificação do facto em causa) evitando-se assim a sua reapreciação. b) Se o objecto da regulação da lei nova for o conteúdo de certa relação jurídica, aplica-se a lei nova, quando se concluir que o legislador pretendeu abstrair-se na nova regulação dos factos que deram origem à relação jurídica em causa. c) Se o objecto da regulação da lei nova for o conteúdo de certa relação jurídica, aplica-se a lei antiga, quando se concluir que o legislador não pretendeu abstrair-se na nova regulação dos factos que deram origem à relação jurídica em causa.

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- Quanto à adopção plena.

As adopções plenas constituídas antes da entrada em vigor do novo

Código Civil passam a ser reguladas pelas normas desse diploma respeitantes

à adopção.

► O novo C. Civil não se aplica às acções que estejam pendentes nos

Tribunais em 12 de Março de 2012 (art. 2º, nº 2 das disposições transitórias do

C. Civil).

► Antes da entrada em vigor do C. Civil, nos termos conjugados das

disposições dos arts. 3º, nº 1, do Regulamento da Untaet nº 1/1999, e 1º da Lei

nº 2/2002, deverá aplicar-se a legislação indonésia vigente a 25 de Outubro de

1999. A única legislação conhecida, vigente naquela data, é a Lei nº 129, de

1917, com as alterações introduzidas pelas Leis 1919-81, 1924-557 e 1925-92,

mais precisamente os seus arts. 5º a 15º, Lei que regulava os negócios de

cidadãos de etnia chinesa, pelo que se deve entender ser este o regime

aplicável.

2. Definições.

- Adoptando: menor que vai ser adoptado.

- Adoptante: pessoa que adopta.

- Consentimento: é a decisão de vontade manifestada por uma pessoa

quanto à adopção, que tenha recebido as informações necessárias,

entendendo-as adequadamente e que, depois de tê-las considerado,

tenha chegado à decisão de dar o seu acordo, sem ter sido sujeita a

coacção, influência indevida, intimidação ou outros factores que

condicionem a sua vontade.

- Interesse superior da criança: é um interesse que se sobrepõe a

qualquer outro interesse legítimo, seja o dos pais, seja o dos adultos,

sejam outros interesses. Tal interesse, em suma, define-se através de

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uma rigorosa avaliação concreta, determinada por uma perspectiva

global e sistémica, de natureza interdisciplinar e interinstitucional,

visando a satisfação da premente necessidade da criança de crescer

harmoniosamente, em ambiente de amor, aceitação e bem-estar,

salvaguardando-se a continuidade das suas ligações afectivas estáveis.

3. Em que consiste.

É o vínculo que, à semelhança da filiação natural mas

independentemente dos laços de sangue, se estabelece entre duas

pessoas, nos termos dos arts.1853.º e seguintes do C. Civil.

4. Como se constitui.

Por sentença judicial em acção intentada visando tal finalidade (art.

1853º, nº 1 do C. Civil). Está pois, excluída qualquer outra forma de

constituição do vínculo de adopção.

5. Requisitos gerais da adopção.

a) Apresentar reais vantagens para o adoptando. As vantagens podem

ser patrimoniais ou de outra natureza (art. 1854º, nº 1 do C. Civil).

b) Não implicar um sacrifício injusto para os outros filhos do adoptante

(art. 1854º, nº 1 do C. Civil).

c) Seja razoável supor que entre o adoptante e o adoptando se

estabelece um vínculo semelhante ao da filiação (art. 1854º, nº 1 do C.

Civil).

d) Em regra, ter o adoptando estado durante certo tempo sob os

cuidados e a encargo do adoptante como meio de melhor apurar da

conveniência da constituição de tal vínculo (art. 1854º, nº 2 do C. Civil).

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6. O consentimento na adopção.

6.1 Quem tem que o prestar:

- O adoptando maior de 12 anos, devendo ser expresso de forma

livre e independente de factores externos que possam coagir ou

intimidar a sua manifestação de vontade (art. 1860º, nº 1, al. a) do

C. Civil).

- O cônjuge do adoptante não separado judicialmente de pessoas

e bens (art. 1860º, nº 1, al. b) do C. Civil).

- Os pais do adoptando, ainda que menores e mesmo que não

exerçam o poder paternal, desde que não tenha havido confiança

judicial (art. 1860º, nº 1, al. c) do C. Civil).

- O ascendente, do colateral até ao terceiro grau ou do tutor,

quando, tendo falecido os pais do adoptando, tenha este a seu

cargo e com ele viva (art. 1860º, nº 1, al. d) do C. Civil).

6.2 Possibilidade de dispensa do consentimento:

- Nos casos previstos no art. 1857º, nº 2 do C. Civil, tendo a

confiança fundamento nas situações previstas nas alíneas c), d) e

e) do n.º1 do mesmo artigo, não é exigido o consentimento dos

pais, mas é necessário o do parente aí referido ou do tutor, desde

que não tenha havido confiança judicial (art. 1860º, nº 2, do C.

Civil).

- Das pessoas que o deveriam prestar (vide, 6.1), se estiverem

privadas do uso das faculdades mentais ou se, por qualquer outra

razão, houver grave dificuldade em as ouvir (art. 1860º, nº 3, al. a)

do C. Civil).

- Dos pais do adoptando, ainda que menores e mesmo que não

exerçam o poder paternal, desde que não tenha havido confiança

judicial, do ascendente, do colateral até ao terceiro grau ou do

tutor, quando, tendo falecido os pais do adoptando, tenha este a

seu cargo e com ele viva e, do parente ou do tutor, desde que não

tenha havido confiança judicial (art. 1860º, nº 3, al. b) do C. Civil):

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- Se os pais tiverem abandonado o menor2,

- Se os pais, por acção ou omissão, mesmo que por

manifesta incapacidade devido a razões de doença3

mental, puserem em perigo grave a segurança, a saúde, a

formação moral ou a educação ou o desenvolvimento do

menor,

- Se os pais do menor acolhido por um particular ou por

uma instituição tiverem revelado manifesto desinteresse

pelo filho, em termos de comprometer seriamente a

qualidade e a continuidade dos vínculos afectivos próprios

da filiação, durante, pelo menos, os três meses que

precederam o pedido de confiança.

- Dos pais do adoptando inibidos do exercício do poder

paternal (quando, passados dezoito ou seis meses,

respectivamente, sobre o trânsito em julgado da sentença

de inibição ou da que houver desatendido outro pedido, o

Ministério Público ou aqueles não tenham solicitado o

levantamento da inibição decretada pelo tribunal (art.

1860º, nº 3, al. c) do C. Civil).

6.3 Forma e momento do consentimento:

- Tem que ser inequívoco e esclarecido (art. 1861º, nº 1 do C.

Civil).

- É prestado perante o Juiz (art. 1861º, nº 1 do C. Civil).

- O consentimento dos pais pode ser prestado

independentemente da instauração do processo de adopção se o

adoptando tiver sido acolhido por alguém que pretenda adoptá-lo

ou em estabelecimento público ou particular, não sendo

necessária a identificação do futuro adoptante (art. 1861º, nº 2 do

C. Civil):

- A mãe não pode dar o seu consentimento antes de

decorridas seis semanas após o parto (art. 1861º, nº 3 do

C. Civil). 2 Ou seja, quando deixaram de manter com ele qualquer contacto ou relação.

3 Inclui casos de toxicodependência e alcoolismo.

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- O consentimento para adopção pode ser revogado se até

à data da manifestação da revogação o processo de

adopção não tiver sido iniciado (art. 1862º do C. Civil).

7. Quem pode adoptar.4

- Duas pessoas casadas há mais de 4 anos e não separadas

judicialmente de pessoas e bens ou de facto, se ambas tiverem

mais de 25 anos e menos de 60 anos, sendo que a partir dos 50

anos a diferença de idades entre o adoptante e o adoptado não

pode ser superior a 50 anos, excepto se o adoptando for filho do

cônjuge do adoptante ou motivos ponderosos o justifiquem (art.

1858º, nº 1, 3, 4 e 5 do C. Civil).

- Quem tiver mais de 30 anos ou, se o adoptando for filho do

cônjuge do adoptante, mais de 25 anos, e menos de 60 anos,

sendo que a partir dos 50 anos a diferença de idades entre o

adoptante e o adoptado não pode ser superior a 50 anos, excepto

se o adoptando for filho do cônjuge do adoptante ou motivos

ponderosos o justifiquem (art. 1858º, nº 2, 3, 4 e 5 do C. Civil).

8. Quem pode ser adoptado.

- Os menores filhos do cônjuge do adoptante e aqueles que

tenham sido confiados ao adoptante (art. 1859º, nº 1 do C. Civil).

NOTA: O adoptando deve ter menos de quinze anos à data da petição

judicial de adopção, pode, no entanto, ser adoptado quem, a essa data,

tenha menos de dezassete anos e não se encontre emancipado,

quando, desde idade não superior a quinze anos, tenha sido confiado

aos adoptantes ou a um deles ou quando for filho do cônjuge do

adoptante (art. 1859º, nº 2 do C. Civil).5 6

4 A propósito da questão do indeferimento de pedidos de adopção por casais homossexuais, o

Tribunal Europeu dos Direitos do Homem considerou não haver violação do art. 14º (proibição

da discriminação e art. 8º, respeito pela vida privada, com fundamento no facto do direito a

adoptar estar limitado pelos direitos da criança, Fretté v. France - nº 36515/97).

5 No âmbito de aplicação da lei indonésia, foi entendido não existir uma idade limite do

adoptando para que possa ser decretada a adopção (Acórdão do Tribunal de Recurso de

15/2/2010, proc. 13/Cível/2009/TR).

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9. Efeitos da adopção.

- Pela adopção o adoptado adquire a situação de filho do

adoptante e integra-se com os seus descendentes na família

deste, extinguindo-se as relações familiares entre o adoptado e os

seus ascendentes e colaterais naturais (art. 1865º, nº 1 do C.

Civil).

- Excepções:

a) Mantêm-se os impedimentos matrimoniais previstos nos

art. 1491º a 1493º do C. Civil (art. 1865º, nº 1 do C. Civil).

b) Se um dos cônjuges adopta o filho do outro mantêm-se

as relações entre o adoptado e o cônjuge do adoptante e

os respectivos parentes (art. 1865º, nº 2 do C. Civil).

- Perda, por parte do adoptado, dos seus apelidos de origem e

constituição de novo nome, com as necessárias adaptações, nos

termos do art. 1755º do C. Civil (art. 1867º, nº 1 do C. Civil).

- Integrando-se na família, o adoptado não se diferencia do filho

natural quanto a direitos sucessórios e alimentares.

10. Revisão da sentença que tenha decretado a adopção.

- A sentença só pode ser revista nos seguintes casos:

a) Se tiver faltado o consentimento do adoptante ou dos

pais do adoptado, quando necessário e não dispensado

(art. 1869º, nº 1, al. a) do C. Civil).

b) Se o consentimento dos pais do adoptado tiver sido

indevidamente dispensado, por não se verificarem as

condições do art. 1860º, nº 3 (art. 1869º, nº 1, al. b) do C.

Civil).

c) Se o consentimento do adoptante tiver sido viciado por

erro desculpável e essencial sobre a pessoa do adoptado

(art. 1869º, nº 1, al. c) do C. Civil). O erro só se considera

essencial quando for de presumir que o conhecimento da

6 Em Portugal, com norma semelhante, considera-se que o facto relevante para aferir a idade

do menor é a data da propositura da acção (Acórdão da Relação de Lisboa de 20/12/1990, CJ,

V, pág. 144).

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realidade excluiria razoavelmente a vontade de adoptar

(art. 1869º, nº 2 do C. Civil).

d) Se o consentimento do adoptante ou dos pais do

adoptado tiver sido determinado por coacção moral,

contanto que seja grave o mal com que eles foram

ilicitamente ameaçados e justificado o receio da sua

consumação (art. 1869º, nº 1, al. d) do C. Civil).

e) Se tiver faltado o consentimento do adoptado, quando

necessário (art. 1869º, nº 1, al. e) do C. Civil).

- Impossibilidade de revisão:

Quando os interesses do adoptado possam ser

consideravelmente afectados, salvo se razões invocadas

pelo adoptante imperiosamente o exigirem (art. 1869º, nº 3

do C. Civil).

- Legitimidade e prazo para a revisão:

- 6 meses, a contar da data em que tiveram conhecimento

da adopção, no caso do art. 1869º, nº 1, al. a) e b) - (art.

1870º, nº 1, al. a) do C. Civil). O pedido de revisão não

pode ser deduzido decorridos três anos sobre a data do

trânsito em julgado da sentença que tiver decretado a

adopção (art. 1870º, nº 2 do C. Civil).

- 6 meses, subsequentes à cessação do vício, nos casos

das al. c) e d) do art. 1869º do C. Civil - (art. 1870º, nº 1, al.

b) do C. Civil). O pedido de revisão não pode ser deduzido

decorridos três anos sobre a data do trânsito em julgado da

sentença que tiver decretado a adopção (art. 1870º, nº 2 do

C. Civil).

- 6 meses, a contar da data em que ele atingiu a

maioridade ou foi emancipado, no caso da al. e) do art.

1869º do C. Civil - (art. 1870º, nº 1, al. c) do C. Civil).

Embora o C. Civil não o mencione, a revisão da sentença que decretou a

adopção tem eficácia retroactiva, isto é, implica a extinção retroactiva dos

efeitos da relação adoptiva. Assim, termina a integração do adoptado na família

do adoptante e renascem os laços familiares com a sua família de origem,

como se a adopção nunca tivesse existido.

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11. Tribunal competente para a adopção.

- Regra geral do Código de Processo Civil (art. 53º, nº 1), tribunal

do domicílio do menor à data da instauração do processo.

- Tribunal do domicilio do autor, se o menor não tiver residência

habitual ou for incerto ou ausente (art. 53º, nº 2).

- Se o menor tiver o domicílio e a residência em país estrangeiro,

será demandado no tribunal do lugar em que se encontrar; não se

encontrando em território timorense será demandado no do

domicílio do autor, e, quando este domicílio for em país

estrangeiro, será competente para a causa o tribunal distrital de

Díli (art. 53º, nº 3).

12. Processo aplicável.

Processo comum declarativo (art. 347º, nº 2 do Código de

Processo Civil).

Existe isenção objectiva de custas (art. 3º, al. a) do Código das

Custas Judiciais).

Valor da acção: USD 5000 (art. 264º do Código de Processo

Civil).7

Patrocínio judiciário: o(s) requerente(s) têm que estar

representados por Advogado ou Defensor Público (art. 36º, nº 1 e

2 do Código de Processo Civil).

- Tramitação usual:

► Petição inicial, nos termos do art. 349º do Código de

Processo Civil.

7 O Acórdão de 28/6/2012, proferido pelo Tribunal de Recurso no proc. nº 06/Cível/ 2012/TR,

entendeu que nos processos de jurisdição voluntária, como sejam os processos de

adopção ou de regulação do poder paternal, não é obrigatória a intervenção do tribunal

colectivo, não se verificando a nulidade prevista no art. 395º, nº 2, nos casos em que tal

intervenção seja preterida.

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► Eventual indeferimento liminar (art. 355º do Código de

Processo Civil) ou aperfeiçoamento da petição inicial (art.

358º do Código de Processo Civil).

► Realização de inquérito, nos termos do art. 1853º do C.

Civil.

► Audição dos adoptantes e pessoas que têm de dar o

consentimento, nos termos do art. 1861º do C. Civil.8

► Audição do(s) filho(s) do adoptante maiores de 12 anos, ascendentes ou, na sua falta, os irmãos maiores do progenitor falecido, se o adoptando for filho do cônjuge do adoptante e o seu consentimento não for necessário, salvo se estiverem privados das faculdades mentais ou se, por qualquer outra razão, houver grave dificuldade em os ouvir. (art. 1863º, al. a) e b) do C. Civil). ► Outras diligências (requeridas ou necessárias). ► Abertura de vista ao Ministério Público. ► Sentença (art. 406º e seguintes do Código de Processo Civil). ► Eventual recurso (art. 426º e seguintes do Código de Processo Civil).

8 Exemplo do conteúdo da acta: «o Mº Juiz advertiu e esclareceu a declarante do significado e

efeitos da adopção e suas consequências jurídicas, a qual declarou estar devidamente

esclarecida e consciente das consequências deste seu acto e ser da sua inteira e livre vontade

prestar o seu consentimento para a adopção plena do seu filho(a)».

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13. Alteração do registo civil do adoptado.

De acordo com o art. 1867º, nº 1 do C. Civil, um dos efeitos da adopção

consiste na perda, por parte do adoptado, dos seus apelidos de origem e

constituição de novo nome, com as necessárias adaptações, nos termos do art.

1755º do C. Civil.

O nome próprio, em regra, mantém-se, só excepcionalmente, a pedido

dos adoptantes pode ser alterado. O direito à identidade pessoal tem grande

importância para o menor pois, é com ele que se identifica e é reconhecido nas

suas relações com terceiros e família.

Há casos em que a total alteração do nome se justifica, por exemplo,

quando o menor com poucos meses de idade, é entregue aos adoptantes.

A sentença que decrete a adopção tem que ser comunicada ao registo

civil para alteração do nome e filiação (vide, Diploma Ministerial 8/2003 de

29/10, o regulamento UNTAET 2001/3 relativo à emissão de documentos de

registo civil, nascimento, casamento, divórcio, óbito e adopção e a Lei da

Nacionalidade, aprovada pela Lei n.º 9/2002, de 5/11).

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B- Peças processuais

1. Petição inicial. Confiança judicial com vista à adopção.

Exmº Sr. Juiz de Direito junto do Tribunal

.........................................

O Ministério Público vem, nos termos dos art. 3º, nº 1, al. a) e 5º, nº 1

da Lei 14/2005 e art. 1857º, nº 4 do C. Civil, beneficiando de isenção de custas

(art. 3º, al. a) do Código das Custas Judiciais), requerer a confiança judicial

com vista a futura adopção do menor:

Miguel ........., nascido a 29/5/2008, filho de Maria ......., e Carlos ........,

residente na Rua ................

Contra:

Maria ....... Alves, residente na Rua ....................................

Carlos........Alves, residente na Rua ...................................

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

O menor António ........., nasceu a 29/5/2008, filho de Maria ......., e

Carlos ........ (Doc. 1).

Em Junho de 2009, Carlos discutiu com a mãe do menor e colocou-a

fora de casa, juntamente com o menor António,

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Maria, mãe do menor dedica-se à prostituição.

Carlos, pai do menor, é dependente de drogas,

Em Julho de 2009, o menor foi acolhido por João ...... e Joana.......,

residentes em ..............,

Os pais do menor nunca o visitaram, telefonaram ou procuraram,

Apesar dos contactos do casal no sentido de iniciarem um processo de

reaproximação ao filho,

O menor António chama pai e mãe ao casal que o acolheu e integra-se

plenamente na família,

Frequenta a escola, pratica natação e os escuteiros,

Nestes termos e nos demais de direito, deve a presente

acção ser julgada provada e procedente e, em consequência, ser

o menor António confiado ao casal constituído por João ...... e

Joana ....., com vista a futura adopção.

Para o efeito, requer-se a citação dos requeridos para,

querendo, contestarem a presente acção, devendo todas as

referências à identificação das pessoas a quem o menor vai ser

confiado eliminadas da cópia da petição a entregar (art. 1864º, nº

1 C. Civil), seguindo-se os demais termos até final.

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Prova: a) Documental: ,,,, documentos. b) Testemunhal: - Luís ......, residente na Rua.......... - Manuel ......., residente na Rua........ Valor: USD 5000 (cinco mil dólares). Junta: ,,,,, documentos e duplicados legais. O Procurador da República .................................

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2. Petição inicial. Pedido de adopção.

Exmº Sr. Juiz de Direito junto do Tribunal

.........................................

Carlos ....., e sua mulher Maria......, ele professor, e ela doméstica,

residentes na Rua .................., nesta cidade de ........., nos termos dos art,,,,,,,,,,

do C. Civil, beneficiando de isenção de custas (art. 3º, al. a) do Código das

Custas Judiciais), vêm requerer a adopção de:

Miguel ........., menor de 10 anos de idade, residente com os

requerentes na Rua ................

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1º Os requerentes nasceram a ..../..../..... e ..../..../....., respectivamente (Doc. 1 e 2), e contraíram casamento entre si a ...../...../..... (Doc. 3), casamento esse que se mantém.

2º O menor Miguel nasceu a ...../..../...., é filho de António ....... e de Joana ........., já falecidos a ...../..../...... e ...../...../......, respectivamente (Doc. 4).

3º Depois da morte de sua mãe, ocorrida pouco depois do falecimento do marido, numa altura em que o menor tinha apenas 4 anos de idade, foi o mesmo recolhido pelos requerentes na sua habitação e, desde então, o têm tido a seu cargo e cuidados directos.

4º Tratando-o como se seu filho fosse, alimentando-o, educando-o, cuidando da sua saúde e prestando-lhe os cuidados necessários.

5º Os requerentes têm uma situação económica e social estável e têm desenvolvido um bom trabalho na formação humana e intelectual do menor,

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representando uma garantia quanto ao futuro da educação do menor, tendo por ele um genuíno afecto paternal.

6º Ao longo de 6 anos de vida em comum com os requerentes, o menor já se afeiçoou a estes, tratando-os como se fossem seus verdadeiros pais,

7º A requerida adopção revela-se claramente vantajosa para o menor que, com os pais já falecidos, e a viver desde os 4 anos de idade aos cuidados dos requerentes, se encontra em condições de ser adoptado, como aliás resulta do relatório que se junta (Doc. 5)

8º Os requerentes têm mais de 25 e menos de 60 anos, estão casados há mais de 4 anos e encontram-se em condições legais de adoptar.

9º Declaram que pretendem que do apelido do menor fique a constar o seu apelido «Alves», nos termos do art. 1867º, nº 2 do C. Civil.

Nestes termos e nos demais de direito aplicáveis, requer-se a V. Exª que, distribuída e autuada a acção, se digne mandar proceder a inquérito nos termos do art. 1853º, nº 2 do C. Civil, seguindo-se os demais termos até final, com o consequente decretar da adopção do menor Miguel ........, com todos os legais efeitos.

Prova: a) Documental: ,,,, documentos. b) Testemunhal: - Carlos ......, residente na Rua.......... - Manuel ......., residente na Rua........ Valor: USD 5000 (cinco mil dólares). Junta: ,,,,, documentos e duplicados legais. O Advogado/Defensor Público .................................

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3. Parecer do M. Público em pedido de adopção.

I – O PEDIDO

Através da petição inicial entrada em ....../....../2012 e que constitui fls.

..... e seguintes dos presentes autos, Carlos.............. e Maria...........................

vieram requerer a adopção do menor:

Miguel ...........

Complementarmente, mais requereram alteração do nome do

adoptando, solicitando que passasse a ser: Miguel ......... Alves.

Cumpre, neste momento, emitir parecer sobre tal pretensão.

II – APRECIAÇÃO

O Ministério Público entende estarem verificados os requisitos formais

de que depende o sucesso da pretensão dos Requerentes, com efeito;

- Idades e duração do matrimónio.

Conforme se alcança das certidões juntas a fls. ......, a Requerente

nasceu em ....../...../...... e o Requerente nasceu em ...../...../....., sendo casados

entre si desde ....../...../...... (fls........).

Ou seja, está observado o disposto no art.1858º do C. Civil.

Por outro lado, resulta das certidão junta a fls. ...... que aquele menor

nasceu no dia ..... de .......... de ..........

Ou seja, também está observado o disposto no art. 1859º, nº 2 do

mesmo diploma legal.

- Dispensa de consentimento dos pais.

De acordo com a certidão de fls. ..... e seguintes o menor foi confiado

judicialmente em virtude de se ter considerado verificada a situação prevista no

art. 1857º, nº 1, al. c) do C. Civil.

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Ou seja, está dispensado o consentimento dos pais nos termos do art.

1860º nº 2, sendo certo não carecer a pretendida adopção de outro qualquer

consentimento.

Por outro lado, também estão reunidos os requisitos substanciais

aludidos no art. 1854º do C. Civil de que depende o pedido formulado, sendo

ainda certo que, encontrando-se os menores à guarda dos Requerentes desde

...../....../....... (cfr. fls. .......), é já possível avaliar adequadamente da sua

verificação.

Com efeito:

Do teor da sentença que decretou a confiança Judicial atrás referida, e

do relatório a fls ...... é claro que a adopção representa vantagem, em termos

sociais, económicos e, sobretudo, afectivos, para um desenvolvimento

harmonioso do menor.

Também se alcança da mesma prova que se encontram constituídos

entre o menor e os Requerentes vínculos semelhantes aos da filiação, sendo o

menor por todos considerados como se fosse filho dos Requerentes;

Os Requerentes apresentaram razões legítimas para adoptar.

Finalmente, e quanto à pretendida alteração dos apelidos do menor,

entende-se que o respectivo pedido deve ser deferido, por ser decorrência da

decisão de adopção (art. 1867º do C. Civil).

Pelo exposto, e tendo em conta a prova produzida emite-se

parecer favorável à pretensão dos requerentes por assim se

defender os superiores interesses do menor Miguel ................

O Procurador da República

......................................

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4. Petição inicial. Confiança judicial para futura adopção.

Exmº Sr. Juiz de Direito junto do Tribunal Distrital de ................9

O Ministério Público vem, nos termos dos art. 3º, nº 1, al. a) e 5º, nº 1

da Lei 14/2005 e art. 1857º, nº 4 do C. Civil, beneficiando de isenção de custas

(art. 3º, al. a) do Código das Custas Judiciais), requerer a confiança judicial

com vista a futura adopção da menor:

Maria ........., filha de Ana ......., residente na

instituição……………………………

Contra:

Ana ......., residente em ....................................

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

A menor Maria........., nasceu em 29/5/2008 e é filha de Ana ........(Doc.

1).

A menor foi abandonada pela mãe em …./…../….., em Díli,

...............................num estado que colocou em grave perigo a sua saúde e

segurança.

9 Tribunal singular - o Acórdão de 28/6/2012, proferido pelo Tribunal de Recurso no proc. nº

06/Cível/ 2012/TR, entendeu que nos processos de jurisdição voluntária, como sejam os

processos de adopção ou de regulação do poder paternal, não é obrigatória a intervenção do

tribunal colectivo.

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Por tal motivo, acabou entregue aos cuidados da instituição …… em

…../…../…….

Desde que se encontra na instituição, a mãe da menor nunca a

procurou.

Carla ............ e ...............nasceram a ..../..../..... e ..../..../.....,

respectivamente (Doc. 1 e 2), e são casados entre si (Doc. 3), casamento esse

que se mantém.

Em …../…../……, Carla e .... conheceram a menor .......... na instituição

………….

De imediato, estabeleceu-se uma relação de empatia entre o casal e a

menor,

Que, com posteriores visitas e contactos entre ambos, se transformou

em amor e carinho,

E, na decisão de possibilitar à menor a integração num ambiente familiar

onde se possa desenvolver harmoniosamente, alimentando-a, educando-a,

cuidando da sua saúde e prestando-lhe os cuidados necessários.

10º

Carla e .......... têm uma situação económica e social estável e têm

desenvolvido um bom trabalho na formação humana e intelectual da sua

filha.........., também adoptada (Doc........) representando uma garantia quanto

ao futuro da educação da menor, tendo por ela um genuíno afecto paternal

(Doc.....).

11º

A família é o elemento fundamental da sociedade e tem direito à protecção do Estado conforme dispõe o art. 18º, nº 1 e 39º da Constituição.

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O fundamento da intervenção do Estado e da comunidade é o de assegurar e viabilizar o direito fundamental de toda a criança a desenvolver-se numa família.

12º O princípio do interesse superior da criança é o critério prevalecente nas decisões que lhe respeitam e deve ser entendido como o direito do menor ao desenvolvimento são e normal no plano físico, intelectual, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade.

13º Na verdade, a criança é um sujeito de direitos, em que sobreleva o

direito a um desenvolvimento harmonioso, num ambiente familiar que exige a afeição e responsabilidade e a ausência de descontinuidades graves no seu acompanhamento afectivo e educacional.

14º

É necessário evitar a institucionalização prolongada de crianças, pois a vivência institucional prolongada viola o direito fundamental das crianças à convivência familiar,

15º Como impõe o art. 20º, nº 1 da Convenção Sobre os Direitos da Criança

(ratificada para adesão pela Resolução nº 16/2003, de 30/07, do Parlamento timorense e em vigor na ordem jurídica por força do art. 9º, nº 2 da Constituição), a colocação em instituição é a última oportunidade de protecção e assistência que o Estado tem para assegurar o desenvolvimento integral da criança. E, os nºs 2 e 3 do art. 20º obrigam o Estado a assegurar uma protecção alternativa, como a agora requerida confiança da menor.

16º A confiança judicial da menor tem, como primeira finalidade, a defesa desta, evitando que se prolonguem situações em que esta sofre as carências derivadas da ausência de uma relação familiar,

17º

A futura adopção revela-se claramente vantajosa para a menor porque

……………………………………………………………............................................

............................................................................................................................

18º

A confiança judicial da menor é legalmente possivel ao abrigo do art.

1857º, nº 1, do C. Civil: o abandono da menor (art. 1857º, nº 1, al. a), a

colocação em perigo grave (art. 1857º, nº 1, al. c) e o manifesto desinteresse

pela filha (art. 1857º, nº 1, al. e).

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Nestes termos e nos demais de direito, deve a presente

acção ser julgada provada e procedente e, em consequência, ser

a menor …………. confiada ao casal constituído por Carla ...... e

………....., com vista a futura adopção.

Para o efeito, requer-se a citação da requerida para,

querendo, contestar a presente acção, devendo todas as

referências à identificação das pessoas a quem a menor vai ser

confiada eliminadas da cópia da petição a entregar (art. 1864º, nº

1 C. Civil), seguindo-se os demais termos até final.

Prova:

a) Documental: ,,,......., documentos.

b) Testemunhal:

1- ......, residente na Rua..........

2- ......., residente na Rua........

3- ......., residente na Rua........

Valor: USD 5000 (cinco mil dólares).

Junta: ,,,,, documentos e duplicados legais.

- Doc. 1, certidão nascimento do menor....

- Doc. 2, certidão de casamento de .....

- Doc. 3, certidão nascimento de .......

- Doc. 4 Relatório social.....

- Doc. 5 Relatório social .......

O Procurador da República

.................................