a adocao do periodo de silencio antesda divulgacao dem resultados

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Economy & Finance


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Page 1: A adocao do periodo de silencio antesda divulgacao dem resultados

Desde que começamos a discutir o tema quiet period no âmbito do Comitê de Orientação e Divulgação de Informações ao Mercado (Co-

dim), em julho de 2005, pude notar a controvérsia e a falta de compreensão sobre o assunto. Minha suspeita se tornou convicção com a divulgação da 6ª Enquete do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), em agosto de 2008. Na ocasião, 48% dos partici-pantes afirmaram que o período de silêncio é benéfico para o mercado e, dentre as justificativas, constataram: prevenção de vazamento de informações, equidade de tratamento, inexistência de prejuízo na comunicação com o mercado e, por fim, que tal prática preserva a empresa de oscilações na bolsa.

Acredito que grande parte da confusão é gerada pela simples importação de “boas práticas” provenien-tes de mercados internacionais, sem um conhecimento prático dos procedimentos reconhecidos como quiet period voluntário nesses países. Especialmente nos Estados Unidos, ele é largamente aplicado. No en-tanto, as empresas se abstêm apenas de comentar e atualizar dados de guidance (sejam eles financeiros ou operacionais). As demais atividades de atendimento e relacionamento com investidores e stakeholders, incluindo os jornalistas, permanecem normais.

Do ponto de vista conceitual, o quiet period tem uma função extremamente importante, pois visa a assegurar uma adequada divulgação de informações aos investidores. Nas ofertas públicas, procura evitar que pronunciamentos da emissora, do ofertante ou das instituições intermediárias na mídia representem publicidade indevida (procedimento conhecido nos Estados Unidos como “gun jumping”). Além disso, tenta coibir que fatos relevantes sejam transmitidos a agentes específicos do mercado em detrimento do público investidor em geral — ou seja, o insider trading.

Portanto, ao considerarmos o correto conceito

do quiet period e o claro objetivo dos legisladores em focar sua aplicação em ofertas, vemos que não faz sentido extrapolar tal interpretação para divulgações rotineiras das companhias. Muitas delas, sob o pretexto de beneficiar o mercado, acabam prejudicando alguns dos seus principais vetores intangíveis de valor: acesso, relacionamento e atitude transparente.

Além disso, se partirmos do princípio de que ne-nhuma informação confidencial deve ser comentada antes de sua divulgação (qualquer que seja o prazo), então não existe lógica sensata em arbitrar o prazo de 15 dias para se declarar um “fechamento branco” do atendimento aos investidores e ao mercado. Por que não cinco, dez ou 20 dias? Considerando os quatro trimestres de um exercício, esse fechamento branco pode abranger 60 dias ou mais de 16% de um ano. Se a companhia também fizer uma emissão no ano, então o quiet period facilmente pode ultrapassar 150 dias.

Em trabalhos de revisão de processos e bench-markings entre diversas áreas de RI, pude verificar que muitas empresas não possuem recursos suficientes para análise e preparação da divulgação de resultados. Portanto, nas duas semanas que antecedem esse evento, mergulham nos números preliminares e se concentram na preparação dos comunicados, suas traduções e na análise de desempenho. Por isso, acredito que a adoção do quiet period existe mais para suprir essa deficiência de recursos (tempo, pessoas, processos e sistemas) do que para beneficiar o mercado. De qualquer forma, não faz sentido manter um discurso e um posicionamento de boas práticas que não encontram consistência nas atitudes e na manutenção dos compromissos de trans-parência e boa governança corporativa.

*Valter Faria ([email protected]) é consultor

especializado em comunicação financeira, Relações com

Investidores e governança corporativa.

Não

TESEFalta entendimento

Por Valter Faria*

Se nenhuma informação confidencial deve ser comentada, não há argumento racional para o quiet period

44 Capital aberto Maio 2009

Page 2: A adocao do periodo de silencio antesda divulgacao dem resultados

A adoção do período de silêncio antes da divulgação de resultados é uma boa prática de Relações com Investidores?

Tema polêmico até hoje, a discussão em torno da necessidade de um período de silêncio antes da divulgação de resultados tem sido

debatida à exaustão. Uma das razões para a falta de acordo resulta da percepção de que o quiet period deve restringir-se apenas ao comentário de informações sobre os resultados do período, ficando subentendi-do que se pode falar de outros tópicos. No entanto, apesar de o regulador reafirmar esse entendimento, acredito que a comunicação com o mercado nesta fase, mesmo que sobre outros temas, aumenta os riscos de divulgação antecipada e acidental de fatos relevantes pelas companhias.

Por envolver relacionamento interpessoal, toda comunicação, seja ela por conversa telefônica ou pesso-almente, abre oportunidades para que informações que não deveriam ser ditas acabem vazando ao mercado. Vale lembrar ainda que a linguagem não se dá somente por meio das palavras. Ela também é expressa pelo tom de voz, exclamações e outras formas de expressão não verbal. Ou seja, em uma conversa com um analista, por exemplo, o diretor de Relações com Investidores (RI) pode até não responder determinada pergunta que caracterize divulgação de fato relevante. No entanto, somente esse ato já pode ser visto, paradoxalmente, como uma resposta muito clara.

No Brasil, a questão do quiet period é tratada in-dividualmente pelas empresas, desde que observadas as regras da Instrução 358 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Dessa forma, enquanto algumas companhias preferem adotar o silêncio absoluto, outras o fazem parcialmente, e uma parcela delas simplesmen-te não o pratica. Portanto, a cultura que prevalece no Brasil é a de que a empresa saberá avaliar o que deve informar, evitando responder a perguntas inadequadas para aquele momento.

Entretanto, há, no mundo, práticas diferentes —

e até opostas — às adotadas no Brasil. Nos Estados Unidos (EUA), por exemplo, inexiste norma legal que defina o período de silêncio. Curiosamente, é onde a observância desse comportamento, com objetivo de proporcionar respeito e equidade à divulgação da informação, é mais rígida. Há ainda o fato de que as empresas nos EUA se comunicam com o mercado, basicamente, via CEO, CFO, e por meio de press rele-ases e teleconferências trimestrais. Em contrapartida, no Brasil, a legislação define que essa atividade seja exercida pelo diretor de Relações com Investidores, que normalmente delega ou compartilha essa função com a sua equipe.

Assim, por um lado, o modelo brasileiro oferece mais liberdade de ação à equipe de RI e fortalece uma cultura voltada para o atendimento ao mercado; por outro, também aumenta as chances de divulgação aci-dental de informação. Nos EUA, esse risco fica limitado à alta administração da empresa. Ou seja, aqui há mais gente para falar e cometer deslizes do que nos EUA.

Portanto, é difícil definir uma resposta curta e objetiva sobre como deveria ser realizado o período de silêncio em todos os mercados do mundo. Afinal, essa decisão envolve valores culturais quase sempre diferentes e, muitas vezes, antagônicos. Entretanto, no caso brasileiro, acredito que seria oportuna a existência de um quiet period padrão no fim dos trimestres, bem como antes da divulgação de fatos ou atos relevantes. Além de coibir riscos de divulgação antecipada e aciden-tal, essa prática permitiria aos departamentos de RI se focarem na produção dos relatórios de resultados, sem se exporem a telefonemas ou entrevistas com analistas e investidores.

*Rodrigo Krause dos Santos Rocha ([email protected])

atua como RI há 12 anos. É mestre em finanças pela

New York University

Sim

Maio 2009 Capital aberto 45

Por Rodrigo Krause dos Santos Rocha*

O melhor é prevenirAdoção do quiet period diminui riscos de divulgação acidental de fatos relevantes