a abordagem ciência

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A abordagem Ciência/Tecnologia/Sociedade Prof. Dr. Adonai César Mendonça Há na sociedade contemporânea transformações em todos os seus setores. O cotidiano das pessoas é invadido por tecnologias que lhes dão conforto e bem estar. O freezer, microondas, máquinas de lavar roupas e louças totalmente automáticas, Compact Disc, Dvds, fax, videogames, celulares, o computador pessoal, caixas de bancos automatizados, cartões de crédito; a Internet com possibilidade de comunicação jamais vista permite acesso a conhecimentos, a laser, às compras e ás atividades bancárias; os radares e pedágios automáticos nas estradas, e outras coisas, e isto tudo modificam a rotina caseira e a maneira de viver das pessoas. As informações veiculadas nas diferentes mídias dando conta de alimentos light, diet, enriquecidos, sem colesterol, sem gordura, com adição de substâncias conservantes e estabilizantes; as dietas para emagrecimentos, e mesmo as informações desencontradas de pesquisas que apontam os malefício, e/ou os benefícios do colesterol, gorduras, açúcares, alimentos transgênicos, os antibióticos, rações e vacinas usados na criação de animais de corte, provocam um desconforto para quem deseja decidir o que utilizar para se ter uma vida saudável, e tornam evidente a controvérsia do conhecimento científico. Para Bizzo (2002b), tarefas triviais como ler um jornal e assistir televisão requer um domínio dos fundamentos científicos. Para as decisões envolvendo questões ambientais, imprescindíveis as informações científicas ao alcance de todos. Localiza um exemplo trágico em 1987, Goiânia (GO), motivado por um aparelho de radioterapia abandonado, que causou quatro mortes em

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Filosofia da Ciência

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A abordagem Cincia/Tecnologia/Sociedade

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A abordagem Cincia/Tecnologia/Sociedade

Prof. Dr. Adonai Csar Mendona

H na sociedade contempornea transformaes em todos os seus setores. O cotidiano das pessoas invadido por tecnologias que lhes do conforto e bem estar. O freezer, microondas, mquinas de lavar roupas e louas totalmente automticas, Compact Disc, Dvds, fax, videogames, celulares, o computador pessoal, caixas de bancos automatizados, cartes de crdito; a Internet com possibilidade de comunicao jamais vista permite acesso a conhecimentos, a laser, s compras e s atividades bancrias; os radares e pedgios automticos nas estradas, e outras coisas, e isto tudo modificam a rotina caseira e a maneira de viver das pessoas.

As informaes veiculadas nas diferentes mdias dando conta de alimentos light, diet, enriquecidos, sem colesterol, sem gordura, com adio de substncias conservantes e estabilizantes; as dietas para emagrecimentos, e mesmo as informaes desencontradas de pesquisas que apontam os malefcio, e/ou os benefcios do colesterol, gorduras, acares, alimentos transgnicos, os antibiticos, raes e vacinas usados na criao de animais de corte, provocam um desconforto para quem deseja decidir o que utilizar para se ter uma vida saudvel, e tornam evidente a controvrsia do conhecimento cientfico.

Para Bizzo (2002b), tarefas triviais como ler um jornal e assistir televiso requer um domnio dos fundamentos cientficos. Para as decises envolvendo questes ambientais, v imprescindveis as informaes cientficas ao alcance de todos. Localiza um exemplo trgico em 1987, Goinia (GO), motivado por um aparelho de radioterapia abandonado, que causou quatro mortes em trinta dias, contaminou 250 pessoas e uma dezena de localidades devido ao manuseio deste aparelho, e tambm pela falta de conhecimento das pessoas que no tinham uma alfabetizao no mbito da Cincia e da Tecnologia.

Com o avano tecnolgico, as relaes entre o trabalho e o conhecimento tiveram novos significados uma vez que o conhecimento agora entendido pelos meios de produo como um dos principais fatores de produo (Machado, 1997). O trabalhador na sociedade contempornea deve saber lidar com imprevistos. Sua criatividade e flexibilidade devem estar sempre disponveis para a resoluo de problemas e dificuldades que se apresentam. Sua formao geral deve ser slida e que o habilite a lidar com a tecnologia, principalmente com a das informaes, pois elas percorrem caminhos digitais numa verdadeira rede fazendo que as decises econmicas e sociais, viagem atravs de espaos mais amplos e em tempos menores (Kinoshita, 1997).

Todos estes aspectos relacionados ao avano da Cincia fazem-se imaginar a exigncia de uma alfabetizao cientfica para dar conta de se conhecer o mundo em que se vive, e ter condio de poder tomar deciso a respeito do que se quer, viver, trabalhar e exercer a cidadania. Considera Chassot (2000) que alfabetizao cientfica um conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem... e que entendessem as necessidades de transform-lo e transform-lo para melhor. Para Marchiori (1996), a alfabetizao cientfica implica a funcionalidade da compreenso a cincia articulada e aplicada aos conceitos e valores da vida quotidiana assim como a apreciao da natureza, objetivos e limitaes gerais da cincia considerados importantes pela comunidade cientfica. Para Trivelato (2000), so vrias as definies de alfabetizao cientfica, mas em todas h uma tendncia a valorizar o conhecimento terico e conceitual que permite a compreenso da realidade e tomada de deciso, h tambm uma valorizao da compreenso da natureza e dos mtodos da Cincia, suas possibilidades e limitaes para a melhoria do bem estar das pessoas; a valorizao da conscincia das complexas relaes entre cincia e sociedade, desenvolvendo o pensamento crtico. Marchiori (1996) pontua que cidados com uma alfabetizao cientfica tm possibilidades maiores de ter acesso a ocupaes profissionais, sentem-se mais seguros frente s novas tecnologias, e so mais hbeis na avaliao de aspectos que envolvem o bem estar como os dos contextos da sade, da segurana no trabalho, os econmicos, polticos e sociais.

Para Marchiori (1996), a alfabetizao cientifica tem como alvo a formao geral do indivduo para a cidadania. Este objetivo envolve pesquisadores isolados e instituies como a UNESCO que investem recursos em projetos que se preocupam em integrar educadores em Cincia de vrias partes do mundo. Exemplifica a autora com o projeto 2000 + Alfabetizao cientifica e tecnolgica para todos como preparao para o ano 2000 em diante.Trivelato (2000) localiza os anos 80 e incio de 90 como um perodo de turbulncia e crise para o ensino de Cincias, e cita Hart e Robotton (1990), e neste perodo, encontra nas publicaes sobre o ensino de Cincias movimentos como Alfabetizao Cientifica, Cincia para Todos e Cincia, Tecnologia e Sociedade.

Afirma Trivelato (1993), que h uma distncia muito grande entre a Cincia da escola e o tipo de alfabetizao requerido pelos cidados na sociedade vigente. Para ela nas escolas a Cincia transmitida como una, sem dissenses, sem divergncias, sem competies internas, sem disputa uma instituio capaz de alcanar a verdade singular, segura... Cita Hart e Robottom que acreditam que as exigncias de setores influentes da sociedade motivam o distanciamento entre o conhecimento escolar e o exigido pela sociedade atual, no sentido de que os cidados compreendam uma sociedade orientada para a Cincia e a Tecnologia, o que na viso de Trivelato, significa ter algumas competncias apropriadas para o ingresso do estudante no mercado de trabalho, hoje influenciado pela Tecnologia e pelo avano da Cincia.

A partir dos anos 80, estabelece-se uma discusso acerca da neutralidade da Cincia e suas implicaes polticas e sociais da produo e aplicao dos conhecimentos cientficos e tecnolgicos (Freire, 2000). A defasagem do atual ensino de Cincias nas escolas e as exigncias que o mundo contemporneo coloca em relao a diversos aspectos da tecnologia e suas implicaes na sociedade motivou as propostas curriculares CTS Cincia, Tecnologia e Sociedade voltadas para, nas palavras de Trivelato (1993): futuros consumidores de Cincia, mais do que produtores de Cincia.Segundo Lemgruber (2000), o trao caracterstico das propostas CTS est no estmulo que d ao aluno para o debate, e ao desenvolvimento de capacidades para tomada de decises, o que denota uma preocupao com uma concepo democrtica com direitos e deveres dos participantes. O autor aponta isto como de grande importncia, pois se contrape idia arraigada nas sociedades industriais (ou ps-industriais?) de que o conhecimento cientfico e tecnolgico um privilgio reservado a poucos.

Neste sentido Krasilchik (1988) considera que j em dcadas anteriores sentiu-se a necessidade de construir naes democrticas com cidados conscientes de seus direitos e deveres e capazes de opinar a respeito dos destinos da Cincia e da Tecnologia e dos mltiplos assuntos de suas vidas que, de alguma forma, so afetadas por ela, e Trivelato (1993) afirma que uma sociedade que educa minorias de seus cidados em Cincias e Tecnologia uma sociedade injusta, pois sempre que se recorre aos especialistas para a deciso de um problema que envolve componentes tcnicos concentra-se o poder e a deciso nas mos de uma elite e afasta-se da democracia.

A proposta CTS inclui as discusses polticas, sociais e as aplicaes do conhecimento cientfico e tecnolgicos no mbito social, e tambm na sala de aula; na resoluo de problemas que surgem na sociedade atual que so motivados pelo uso do conhecimento cientfico e pela tecnologia (Trivelato 2000), (Brasil, 1997a). Esta proposta inclui questes relativas a trs tipos de contedos no currculo:

os dos fatos e conceitos apontando uma necessidade de atualizao dos assuntos acerca da aplicao do conhecimento cientfico e tecnolgico;

os dos procedimentos, pois a proposta CTS no apresenta os dados experimentais como verdades absolutas, mas apoiadas por questionamentos constantes e por teorias adotadas pelo pesquisador, desta forma, o conhecimento cientfico uma interpretao da realidade;

os da atitude, pois h entre os pesquisadores, diferenas e conflitos motivados pelos diferentes valores e prioridades que tm, o que no resolvido pelas informaes tcnicas porque mesmo elas tm pontos de vistas polticos e ideolgicos. Hart, E.P. e Robottom, I.M. The science-technology-society movement in science education: a critique of the reforms process. Journal of Research in Science Teaching, v.27, n.6, 1990. p. 575-588,