9 jornal o sul 27 03 14 operações das polícias matam cinco pessoas por dia

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Operações das polícias matam cinco pessoas por dia Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública O Fórum Brasileiro de Segurança Pública publica dados decorrentes da ação das polícias em jornais de circulação nacional, dizendo: “Na tentativa de combater a criminalidade, policiais matam, em média, cinco pessoas por dia em todo o país, em 2012”. E, adiante, conclui que o “policial brasileiro mata muito. Em comparação com os EUA, o número é 4,6 vezes superior”. Pois bem, fico sempre atônito quando leio notícias como esta. Para início de conversa, fico pensando: “Será que não deveriam comparar a legislação e o sistema prisional americano com o nosso, antes de falar na ação ‘violenta’ dos policiais”? Também não deveriam comparar os indicadores criminais de toda a ordem (homicídios, roubos e outros crimes graves) percentualmente, envolvendo nosso país e o americano? E o sistema prisional? Será que assim não encontrariam uma resposta mais adequada ao problema? O policial brasileiro se defronta incontáveis vezes com o mesmo delinquente, e este, a cada vez, vem com mais força e com o brio voltado a “não-se-entregar-pros-home, de jeito algum”. Assim, o confronto final não é aquele em que o policial prende e está solucionada a questão. A ocorrência tende a se resolver no embate fatal, isto se o policial não morrer. Ainda, qual seria a ação da polícia americana, por exemplo, com a notícia de que quatro unidades de Polícia

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Operações das polícias matam cinco pessoas por dia

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública publica dados decorrentes da ação

das polícias em jornais de circulação nacional, dizendo: “Na tentativa de combater a

criminalidade, policiais matam, em média, cinco pessoas por dia em todo o país, em

2012”. E, adiante, conclui que o “policial brasileiro mata muito. Em comparação com os

EUA, o número é 4,6 vezes superior”.

Pois bem, fico sempre atônito quando leio notícias como esta. Para início de

conversa, fico pensando: “Será que não deveriam comparar a legislação e o sistema

prisional americano com o nosso, antes de falar na ação ‘violenta’ dos policiais”?

Também não deveriam comparar os indicadores criminais de toda a ordem (homicídios,

roubos e outros crimes graves) percentualmente, envolvendo nosso país e o americano?

E o sistema prisional? Será que assim não encontrariam uma resposta mais adequada ao

problema?

O policial brasileiro se defronta incontáveis vezes com o mesmo delinquente,

e este, a cada vez, vem com mais força e com o brio voltado a “não-se-entregar-pros-

home, de jeito algum”. Assim, o confronto final não é aquele em que o policial prende e

está solucionada a questão. A ocorrência tende a se resolver no embate fatal, isto se o

policial não morrer.

Ainda, qual seria a ação da polícia americana, por exemplo, com a notícia de

que quatro unidades de Polícia Pacificadora (RJ) sofreram ataques simultâneos? Uma

UPP da favela de Moranguinhos foi incendiada e o capitão comandante foi baleado.

Dias antes, outros PM foram assassinados.

Mas, certamente, isto é uma conversa que não interessa aos pesquisadores. Na

verdade, o que interessa é criminalizar os policiais, e como dizem, declarando-os

violentos, que matam muito, que utilizam a arma de fogo a qualquer preço e não

distinguem quem é ou não criminoso.

Para o sociólogo, existem duas maneiras de lidar com o problema: aumentar o

rigor na punição da conduta dos policiais e investir massivamente na capacidade

técnica, inclusive do efetivo de rua.

Pois bem, os policiais são fortes, aguerridos e bravos, aguentam tudo, até isto.

Mas, e os bandidos, que infernizam a vida de toda a sociedade, como tratar? A pão-de-

ló? Quem sabe desarmamos os policiais para lidar com esta “turma”? Ou, melhor,

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façamos um acordo escrito, registrado em cartório público, onde os bandidos se

comprometam ao desarmamento? Seria bem melhor.

Mas, enfim, vamos em frente, até a próxima “pesquisa”, esperando que

alguma instituição estude e publique o número de pessoas que a todo santo-dia são

mortas pelos bandidos. Aposto que o número cinco será multiplicado várias vezes.

Paulo Roberto Mendes Rodrigues

Ex-Comandante-Geral da Brigada Militar