9 dennciaequeixa

20

Click here to load reader

Upload: direitounimonte

Post on 23-Jun-2015

644 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

Aula 9. Denúncia e queixa-crime. Conceito. Requisitos. Prazo.

Aditamento. Rejeição.

DENÚNCIA

Conceito

Diante dos elementos apresentados pelo inquérito policial ou pelas peças

de informação que recebeu, o órgão do Ministério Público, verificando a

prova da existência de fato que caracteriza crime em tese e indícios da

autoria, forma o promotor a opinio delicti (opinião sobre o delito). Assim

formada sua convicção promove a ação penal pública incondicionada com o

oferecimento da denúncia, denominação que se dá à petição inicial dessa

ação pelo artigo 24 do CPP. A denúncia é uma exposição, por escrito, de

fatos que constituem em tese um ilícito penal, ou seja, de fato subsumível

em um tipo penal previsto em lei, com a manifestação expressa da vontade

de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente o seu autor e a

indicação das provas em que se alicerça a pretensão punitiva. Como a

denúncia é a peça inicial da ação penal pública, é evidentemente incabível

o seu oferecimento a respeito de crime que se apura exclusivamente

mediante queixa, ainda que seja ele conexo com outro ilícito penal apurável

por iniciativa do Ministério Público. Conforme vimos anteriormente é

condição da ação a legitimidade para agir (legitimatio ad causam) e, no

caso da ação penal privada, é titular do interesse o ofendido por

substituição processual determinada pelo art. 100 CP. Válido relembrar

que a inexistência de inquérito policial não impede o oferecimento da

denúncia quando o requerimento ou representação dirigidos ao

representante do Ministério Público vierem instruídos com os elementos

indispensáveis à prova da materialidade do delito e os indícios de autoria.

Requisitos da denúncia

O artigo 41 do CPP trata dos requisitos que devem estar presentes na

denúncia a fim de que possa ser ela recebida instaurando-se a ação penal

condenatória: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato

criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do

acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a

classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.”

1

Page 2: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

1. exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias: o

fato descrito deve ser subsumível a uma descrição abstrata na lei (tipo

penal); se não se reveste de tipicidade não há imputação de crime e a

denúncia deve ser rejeitada. É inepta e não deve ser recebida a denúncia

que não especifica, nem descreve, ainda que sucintamente, o fato

criminoso atribuído ao acusado, que seja vaga, imprecisa, confusa,

lacônica. Também é de ser rejeitada a denúncia em que não se descreve

elemento essencial do tipo penal, como as expressões grosseiras no crime

de desacato, o sentimento pessoal que moveu o agente no delito de

prevaricação, a forma de inobservância do cuidado objetivo na infração

culposa etc. É inepta, assim, a denúncia quando não se descreve na inicial

circunstâncias relevantes para a caracterização do crime. Devem estar

relatadas na denúncia todas as circunstâncias do fato que possam

interessar à apreciação do crime, sejam elas mencionadas expressamente

em lei como qualificadoras, agravantes, atenuantes, causas de aumento ou

diminuição de pena etc., como as que se referem ao tempo, lugar, meios e

modos de execução, causas, efeitos etc. Devem ser esclarecidas as

questões mencionadas nas seguintes expressões latinas: quis (o sujeito

ativo do crime); quibus auxiliis (os autores e meios empregados); quid (o

mal produzido); ubi (o lugar do crime); cur (os motivos do crime);

quomodo (a maneira pelo qual foi praticado) e quando (o tempo do fato).

Pode a peça ser concisa, ou seja, sucinta, mas deve conter os elementos

essenciais, a falta ou omissão de circunstância não a invalida. Assim tem se

decidido a respeito da omissão do dia, mês e hora, local, nome da vítima,

instrumento do crime, isso porque a deficiência da denúncia que não

impede a compreensão da acusação nela formulada não enseja a nulidade

do processo. Já se entendeu, inclusive, que só é indispensável o relato de

qualificadoras, mas não das circunstâncias agravantes. Ademais, na forma

do artigo 569 do CPP, as omissões da denúncia podem ser supridas a todo

tempo, antes da sentença. Na hipótese de concurso de pessoas, a denúncia

deve especificar a participação de cada um dos co-autores ou partícipes,

esclarecendo-se o modo como cada um deles concorreu para o evento.

Entretanto, pela própria natureza da conduta criminosa, como nos crimes

societários, de autoria coletiva ou multitudinários, não se pode exigir que a

denúncia descrimine pormenorizadamente os atos específicos de cada um,

2

Page 3: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

mas exigível que demonstre a mínima participação dos agentes, sua

contribuição para o crime. É indispensável, porém, sempre, que se afirme

ter havido prévio ajuste entre eles. Não basta, aliás, a condição de sócio

para justificar a condenação pelo ilícito praticado por meio da sociedade.

Omitindo-se na denúncia elemento essencial do tipo penal sem que seja ela

aditada até a sentença, impõe-se a absolvição do acusado por atipicidade

da conduta.

“(...) III – As afirmações de que a ré sabia que o seu namorado fazia tráfico de substância entorpecente e que tinha o livre arbítrio para não acompanhá-lo em viagem na qual seria adquirida a substância ilícita não passam de ilações e conjecturas que (...) impossibilitam o decreto condenatório. IV - À míngua de provas suficientes para embasar a pretensão acusatória, impõe-se a aplicação do princípio in dubio pro reo, que funciona como critério de resolução da incerteza, expressão do princípio da presunção de inocência. V – Ainda que a denunciada soubesse da ação criminosa, não se pode responsabilizá-la, a título de co-autora ou partícipe se tanto a denúncia quanto a sentença condenatória deixam de apontar a forma com a qual teria concorrido para a consumação do crime, limitando-se, apenas, em afirmar que, na condição de namorada do réu confesso, se não sabia, deveria saber que se tratava de um traficante e que, naquele dia, transportava a droga ilícita. V – Apelação provida (...).” (TRF 1.ª R. – 3.ª T. – AP 0044721-13.2006.4.01.9199 – rel. Klaus Kuschel – J 20.06.2011)

“(...) 1. Inepta é a denúncia que não descreve o fato criminoso com todas as suas circunstâncias, tal como exige o art. 41 do CPP. 2. Sendo atípica a hipótese denunciada, deve prevalecer o resultado absolutório, na medida em que defeso ao julgador valorar circunstâncias fáticas não descritas na denúncia – pena de dar esteio a mal disfarçada mutatio libelli em segundo grau. Deram provimento ao apelo defensivo (unânime). (...).” (TJRS – 5.ª Câm. Crim. –AP 70043050210 – rel. Amilton Bueno de Carvalho – J. 22.06.2011)

“1. A inicial acusatória apresentada pelo Ministério Público estadual atribuiu aos pacientes a conduta de exploração sexual apenas pelo fato de serem eles os proprietários do estabelecimento para o qual os corréus conduziam os menores com o fim de praticar os atos libidinosos descritos na denúncia. 2. Da detida leitura da exordial acusatória, denota-se a atribuição de uma responsabilidade de natureza objetiva, uma vez que não se demonstrou em que consistiu o vínculo entre os pacientes e a conduta dos corréus, nem a adesão daqueles aos crimes praticados, tendo o Parquet estadual se limitado a afirmar que os pacientes são proprietários do estabelecimento em que o evento criminoso ocorreu, sem especificar que vantagens eles auferiam com as condutas atribuídas na acusação, impossibilitando o exercício do contraditório e da ampla

3

Page 4: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

defesa. 3. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido da necessidade de se demonstrar o vínculo entre o agente e o fato criminoso que lhe é imputado, sob pena de ofensa à ampla defesa. Precedentes. 4. Reconhecida a inépcia formal da denúncia, fica prejudicada a análise da alegação de justa causa para o prosseguimento da ação penal. 5. Ordem concedida para trancar a ação penal em relação aos pacientes, sem prejuízo de que outra seja ofertada com descrição circunstanciada da conduta a eles atribuída. (STJ HC 188.559/ PE - 6ª Turma- Rel. Min. Sebastião Reis Junior – J. 1.3.2012)

2. a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa

identificá-lo: qualificar é apontar o conjunto de qualidades que individuam

a pessoa, nela se incluindo o nome, o cognome, nome de família ou apelido,

pseudônimo, estado civil, filiação, cidadania, idade, sexo, estado físico. Não

impede a denúncia a ignorância a respeito de algumas dessas qualidades e

mesmo do nome do imputado se é possível reproduzir na peça vestibular

elementos que possam individuar a pessoa do imputado (idade, sexo,

características físicas, dados particulares, sinais de nascença, alcunhas

etc.). Já se admitiu o recebimento da denúncia quando o réu é qualificado

indiretamente com alguns dados, entre os quais, prenome e nome.

3. classificação do crime: é necessário também que se indique o

dispositivo legal que contém o tipo penal relativo ao fato concreto, ou seja,

que dê o Ministério Público a classificação do crime. Não basta que a

denúncia contenha o nomen iuris do delito, eis que há, por vezes, delitos

com a mesma denominação na legislação penal comum e na lei especial. A

eventual alternatividade na classificação jurídica do fato não torna inepta a

denúncia, porque não vincula o julgador. Não tem o juiz poderes para

alterar a classificação do crime; só o Ministério Público o pode fazer. A

classificação jurídica do fato na denúncia não é definitiva, podendo a

imputação ser alterada no decorrer do processo. Assim, não pode o juiz

rejeitar a denúncia, por inépcia, mesmo quando entender errada a

classificação do crime oferecida na denúncia, já que se trata de

irregularidade sanável até a sentença. O acusado defende-se da imputação

contida no fato descrito na denúncia e não da classificação que lhe deu o

seu subscritor.

4

Page 5: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

“1. Cotejando os tipos penais incriminadores indicados na denúncia, com as condutas supostamente praticadas pelo Paciente, vê-se que, conquanto sucinta, a acusação atende aos requisitos legais do art. 41 do Código de Processo Penal, de forma suficiente para a deflagração da ação penal, bem assim para o pleno exercício de sua defesa. 2. A emendatio libelli e a mutatio libelli - previstas, respectivamente, nos arts. 383 e 384 do Código de Processo Penal - são institutos de que o Juiz pode valer-se quando da prolação da sentença. Não há previsão legal para utilização destes em momento anterior da instrução. Precedentes. 3. Explicite-se: "não é lícito ao Juiz, no ato de recebimento da denúncia, quando faz apenas juízo de admissibilidade da acusação, conferir definição jurídica aos fatos narrados na peça acusatória. Poderá fazê-lo adequadamente no momento da prolação da sentença, ocasião em que poderá haver a emendatio libelli ou a mutatio libelli, se a instrução criminal assim o indicar (STF, HC 87.324/SP, 1.ª Turma, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJ de 18/05/2007). 4. A existência de eventual erro na tipificação da conduta pelo Órgão Ministerial não torna inepta a denúncia, e menos ainda é causa de trancamento da ação penal, pois o Acusado defende-se do fato ou dos fatos delituosos narrados na denúncia, e não da capitulação legal dela constante. 5. Eventual desclassificação de delito somente poderá ser discutida na instrução criminal, durante o livre exercício do contraditório. 6. Ordem denegada.” (STJ – HC 165278/RS – 5ª Turma – Rel. Min. Laurita vaz – J. 11.10.2011)

4. rol de testemunhas: dispõe ainda o artigo 41 que a denúncia deve

conter, “quando necessário, o rol das testemunhas”. Trata-se, portanto, de

faculdade, embora quase sempre seja indispensável a prova testemunhal

que, na maioria dos casos, comprova a autoria do crime e muitas de suas

circunstâncias. Caso não seja oferecido o rol de testemunhas na denúncia,

não pode o lapso ser suprido depois do seu recebimento, e muito menos

após a instrução. O juiz, porém, poderá ouvir outras testemunhas, além das

indicadas pelas partes, bem como as pessoas a que as testemunhas se

referirem na instrução (art. 209, e § 1°, do CPP). Não há inépcia na

denúncia pela ausência do rol de testemunhas já que, quanto à prova não

vigora qualquer limitação, a não ser no que se refere ao estado das pessoas

(art. 155).

Outros requisitos da denúncia

Embora não se contenha expressamente a exigência, a denúncia deve

conter:

1. o endereçamento da petição, ou seja, a denominação do juiz a quem é

dirigida. O erro no endereçamento, porém, não acarreta a sua inépcia.

2. o nome, o cargo ou posição funcional, e a assinatura do prolator da

denúncia.

5

Page 6: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

3. ser escrita em vernáculo, pois os atos processuais devem ser praticados

em português (arts. 193, 223, 236 e 784, § 1°, todos do CPP).

4. deve constar o pedido de condenação do denunciado, mas estará ele

implícito quando a denúncia descreve o fato criminoso e pede a aplicação

da lei penal mencionando os dispositivos aplicáveis à espécie.

5. requerimento de citação do réu, mas a lei processual penal não o exige

como expresso, estando ele sempre implícito na peça acusatória.

Princípio da indivisibilidade da ação penal

O princípio da indivisibilidade da ação penal significa a obrigatoriedade da

ação penal com relação a todos os autores do crime. Não se aplica à ação

penal pública e não haverá inépcia na denúncia em que se exclui algum

indiciado. Cabe ao Ministério Público, na opinio delicti, oferecer a denúncia

apenas contra aqueles que entende responsáveis penalmente pelo ilícito.

Além disso, pode o Ministério Público denunciar posteriormente os demais

autores do crime.

Prazo

Dispõe o artigo 46 do CPP sobre o prazo para o oferecimento da denúncia:

“O prazo para oferecimento de denúncia, estando o réu preso, será de 5

dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os

autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.

No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art.

16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público

receber novamente os autos.” Concluído o inquérito policial e remetido a

juízo, após a regular distribuição e registro, os autos devem ser

encaminhados com vista ao representante do Ministério Público. A partir

do recebimento deles passa a fluir o prazo de 5 dias para o oferecimento

da denúncia se o indiciado estiver preso e de 15 dias se estiver solto ou

afiançado. O oferecimento da denúncia não depende necessariamente de

prévio inquérito policial, ou de que ele esteja concluído. É possível que

tenha elementos suficientes para o oferecimento da denúncia diante de

peças de informação ou de representação a ele dirigidas. Nessa hipótese,

dispõe o art. 46, § 1°: “Quando o Ministério Público dispensar o inquérito

6

Page 7: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em

que tiver recebido as peças de informação ou a representação”. No silêncio

da lei especial a respeito do prazo quando o indiciado estiver preso, não

pode ele exceder o prazo comum de 5 dias previsto no artigo 46 do CPP.

Mas, existem prazos diferentes para o oferecimento de denúncia na

legislação penal especial:

1. crime eleitoral: 10 dias nas hipóteses de crime eleitoral (art. 357, L.

4.737/65 - Código Eleitoral)

2. crime de abuso de autoridade: 48 horas (art. 13, da Lei n° 4.898/65);

3. lei de drogas: 10 dias (art .54, III, L. 11.343/06);

Novas diligências

Nos termos do artigo 46, e art. 16 do CPP, o Ministério Público poderá

requerer a devolução do inquérito à autoridade policial para novas

diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, contando-se novo

prazo da data em que o referido órgão receber novamente os autos. Caso o

Ministério Público requeira a devolução dos autos do inquérito policial em

caso de réu preso, o recolhimento do indiciado à prisão passa a constituir

constrangimento ilegal à liberdade de locomoção, cabendo habeas corpus a

fim de ser posto em liberdade (art. 648, II). Não pode o juiz indeferir o

requerimento de devolução dos autos do inquérito à polícia quando o

Ministério Público entenda que a realização delas é indispensável ao

oferecimento da denúncia. Caso contrário estaria obrigando o Ministério

Público, indiretamente, a renunciar ao exercício da ação penal ou à

apresentação temerária de uma denúncia. Dispõe ainda o artigo 47: “Se o

Ministério Público julgar necessário maiores esclarecimentos e documentos

complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los,

diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou

possam fornecê-los”. Isso não significa, porém, que ele não possa requerer

ao juiz as diligências. O artigo 47 não pode se sobrepor à disciplina

específica do processo da ação penal pública, onde a cada passo se vê o

Ministério Público, como parte, requerer a substituição de testemunhas, a

produção de provas de qualquer espécie etc.

Excesso de prazo

7

Page 8: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

O excesso de prazo no oferecimento da denúncia, esteja o indiciado preso,

solto ou afiançado, não é motivo de nulidade da denúncia ou do processo, já

que inexiste, na hipótese, preclusão. Acarreta, apenas, soltura do indiciado

(se preso) e a possibilidade de oferecimento de ação privada subsidiária da

pública, além de eventual sanção administrativa ao faltoso.

Aditamento da denúncia

Reconhece-se pacificamente ao Ministério Público o direito não só de

corrigir as falhas e omissões da denúncia, de acordo com o artigo 569 CPP

(nesse caso pode se tratar de mera retificação de dados circunstanciais, de

data, lugar etc.), como de promover seu aditamento, a qualquer tempo,

durante a instrução. Pode fazê-lo para incluir novos ilícitos penais ao

imputado ou para ampliar a acusação a novos acusados pela prática da

infração objeto da denúncia, em decorrência dos elementos probatórios

colhidos durante a instrução. Tal direito é induvidoso não só em

decorrência do artigo 569, como das regras de competência por conexão ou

continência dos artigos 76 e 77, que obrigam como norma geral a unidade

de processo e julgamento, salvo quando, instauradas ações penais diversas,

estiver uma delas com sentença definitiva (art: 82, in fine CPP). Além disso,

se ao Ministério Público cabe aditar a queixa (art. 45 CPP), com maior

razão poderá quando se tratar de denúncia. O assistente do Ministério

Público não tem direito a aditar a denúncia, já que não incluída tal

permissão no artigo 271 CPP. Mas, cumpre observar que verificada nova

definição jurídica do fato ao acusado, deve ser providenciada a citação

do aditamento, possibilitando-se a reinquirição de testemunhas já ouvidas

ou o arrolamento de pessoas não ouvidas, e a produção de qualquer prova

admissível em juízo.é a chamada mutatio libelli, devendo ser obedecido o

previsto no artigo 384 CPP.

QUEIXA-CRIME

Conceito

Queixa-crime, ou simplesmente queixa, é a denominação dada pela lei à

petição inicial da ação penal privada intentada pelo ofendido ou seu

representante legal, tanto quando é ela principal ou exclusiva, quando é

subsidiária da ação pública. O autor é mencionado como “querelante”,

8

Page 9: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

enquanto o réu recebe o nome de “querelado”, denominações derivadas

de “querela” que, no vernáculo, significa demanda, discussão, questão. Já

se tem utilizado também o termo “queixoso” e as Ordenações Filipinas

mencionavam também o “quereloso”.

Requisitos

Nos termos do artigo 41 CPP, a queixa deve estar revestida dos mesmos

requisitos da denúncia. válido relembrar: “A denúncia ou queixa conterá

a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a

qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa

identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das

testemunhas.” Dela difere somente pelo titular: enquanto a denúncia é a

peça vestibular da ação pública, a queixa, da ação privada. Tal como na

denúncia, estando a inicial da queixa-crime instruída com documentos

aptos a revelar a ocorrência do delito e a indicar a autoria do mesmo,

torna-se dispensável a instauração de inquérito policial a respeito dos

fatos, devendo ser a peça recebida pelo juiz. O artigo 44 dispensa as

formalidades referentes ao nome do querelado e a menção do fato

criminoso “quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que

devem ser previamente requeridas no juízo criminal”, aludindo às medidas

preliminares da ação penal.

Direito de queixa

O direito de queixa deve ser exercido pelo ofendido ou seu representante

legal por meio de “procurador com poderes especiais, devendo constar do

instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato

criminoso” (art. 44). Há evidente equívoco tipográfico quanto à palavra

“querelante”, mencionada no texto, já que não há mandato sem o nome do

mandante, no caso o ofendido ou seu representante legal. O que deve ser

mencionado é o nome do “querelado”.

Instrumento de mandato

É compreensível a exigência do art. 44 CPP: mandato com “poderes

especiais” para queixa e que se mencione o “fato criminoso”, uma vez que

entre as sérias conseqüências de uma ação penal está, inclusive, a

possibilidade do querelante ser eventualmente denunciado pelo crime de

9

Page 10: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

denunciação caluniosa (art. 339 CP). Assim, os poderes especiais se fazem

necessários para fixação da responsabilidade do mandante e do

mandatário, que a procuração contenha poderes específicos para a queixa-

crime, que objetiva a punição do fato criminoso que ela menciona. O artigo

44 refere-se apenas à “menção do fato criminoso” na procuração, não

exigindo que dela conste exaustiva descrição do mesmo, como ocorre com

a denúncia ou a queixa. Tem se considerado como suficiente a simples

referência ao boletim de ocorrência, ao nomen iuris ou ao artigo da lei

penal ou ao inquérito policial. Não é idônea para a propositura da queixa a

procuração com a simples cláusula ad juditia, ou a outorgada apenas para o

inquérito policial. As omissões ou deficiências, porém, consideram-se

sanadas se também o querelante assinar a queixa. Mas, é praticamente

pacífico que as omissões das formalidades referidas sejam sanadas no

curso da ação penal desde que não esgotado o prazo de decadência. Feita

após esse prazo é inoperante, ocorrendo a causa extintiva da punibilidade.

A queixa, aliás, deve ser rejeitada se as omissões não mais podem ser

supridas dentro do prazo decadencial. Entretanto, com fundamento no

artigo 568 CPP, que prevê a possibilidade de ser sanada a ilegitimidade do

representante da parte a todo tempo, já se tem admitido a complementação

até a sentença. Mas a expressão “a todo tempo” significa, no caso,

“enquanto for possível”, ou seja, enquanto não ocorrer a decadência.

Princípio da indivisibilidade

Registra expressamente o artigo 48 o princípio da indivisibilidade da ação

privada: “A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará o

processo de todos e o Ministério Publico velará pela sua indivisibilidade”.

Quando se trata de crime praticado por várias pessoas (concursus

delinquentium) não se aceita que a vítima escolha apenas um ou alguns dos

que colaboraram na prática do ilícito penal, devendo a queixa abranger

todos os autores, co-autores ou partícipes do fato criminoso. Tendo

conhecimento, pelo inquérito policial ou outros elementos, que o crime foi

praticado por mais de uma pessoa, todas devidamente identificadas, e

apresentando o ofendido queixa apenas contra uma delas, não sendo a peça

acusatória aditada no prazo decadencial ocorre a extinção da

punibilidade de todos os agentes pela renúncia tácita quanto aos

excluídos, já que esta se comunica aos demais por força do artigo 49 do

10

Page 11: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

CPP. Pode ocorrer, porém, que um ou outro partícipe do crime não seja

conhecido do ofendido ou de que não haja elementos que permitam a

imputação. Nessas hipóteses, a não inclusão deles na queixa não significa

renúncia tácita e, portanto, não há causa de extinção da punibilidade. Cabe

ao Ministério Público zelar pela indivisibilidade da queixa (art. 48 CPP), ou

seja, verificar se foi ela proposta contra todos os autores do crime.

Verificando que injustificadamente foram excluídos dela um ou mais

autores do crime, deve requerer seja decretada a extinção da punibilidade

pela renúncia. Não lhe é possível, na hipótese, aditar a queixa para incluir

os partícipes ou co-autores excluídos pelo querelante. Como vimos, o

princípio da indivisibilidade também vige na ação penal pública diante da

regra da obrigatoriedade, mas a sua inobservância não causa nulidade ou

qualquer outra conseqüência.

Aditamento da queixa

Dispõe o artigo 45 que “a queixa, ainda quando a ação penal for privativa

do Ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá

intervir em todos os termos subseqüentes do processo”. O dispositivo não

trata, evidentemente, da hipótese de conexão do crime apurado mediante a

queixa com crime de ação pública pois, nesse caso, o Ministério Público

deverá oferecer denúncia, dando causa ao litisconsórcio ativo. O Código do

Processo Penal usa o verbo aditar no sentido de corrigir, acrescentar,

ampliar, complementar, e não de se iniciar uma nova ação, ainda que em

litisconsórcio.

Diante do dispositivo citado e do que consta dos artigos 41 poderá o

Ministério Público aditar a queixa para acrescentar à acusação

circunstâncias que possam influir na caracterização do crime e sua

classificação ou na fixação da pena (dia, hora, local, meios, modos, motivos,

dados pessoais do querelado etc.). Não lhe é dado porém a produção de

provas destinadas a viabilizar o recebimento da peça acusatória privada. Já

foi visto que, havendo injustificada exclusão de um ou de vários autores do

crime, na queixa, ocorre renúncia tácita que se comunica aos querelados.

Nessa hipótese não pode o Ministério Público aditar a queixa para incluir

aqueles. Quando, porém, por desconhecimento da identidade de alguns

autores ou por falta de provas da participação desses co-autores ou

partícipes, não foi possível a inclusão deles na queixa, o aditamento para

11

Page 12: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

incluí-los assim que surgirem os elementos suficientes, é não só lícito, como

obrigatório. Nessa hipótese não houve renúncia tácita e ao Ministério

Público cumpre zelar pela indivisibilidade da ação privada, como está

expresso no artigo 45 do CPP. Há, porém, entendimento contrário, no

sentido de que o Ministério Público, na ação privada, é assistente do

querelante e não parte legítima para dirigir a ação penal contra quem não

estava sendo acionado. É decorrência do artigo 45 também a manifestação

do Ministério Público que, ao ter vista de queixa crime, pronuncia-se pela

existência de crime de ação penal pública, oferecendo denúncia

substitutiva da ação privada. É o que já se decidiu, por exemplo, quanto à

imputação do crime de denunciação caluniosa para substituir a referente a

crime contra a honra. No caso de ação privada subsidiária as atribuições do

Ministério Público são mais amplas pois lhe cabe “aditar a queixa, repudiá-

la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do

processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso, e a todo tempo,

no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal

(art. 29)”. Como se trata de crime que, em princípio, se apura mediante

ação penal pública, no aditamento vige o princípio da obrigatoriedade

quanto ao que concerne a tais delitos. Pode assim o juiz, na hipótese de não

haver aditamento que julga cabível, utilizar-se, por analogia, do art. 28 do

CPP, encaminhando os autos ao Procurador-geral. A denúncia substitutiva

só cabe, evidentemente, se o Ministério Público previamente repudiou a

queixa. Também somente pode retomar a ação como parte principal em

caso de desídia do querelante, ou seja, quando tenha ocorrido uma omissão

caracterizadora da perempção, que não extingue a punibilidade quando se

trata de crime que se apura originariamente pela ação penal pública. O

prazo para o aditamento da queixa é de 3 dias, contado da data em que o

órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar

dentro do tríduo, entende-se que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos

demais termos do processo (art. 46, § 2° CPP). A regra é válida tanto nas

hipóteses do artigo 48 quanto na do artigo 29. Não impede ela, porém, que,

diante de novos elementos surgidos durante a instrução, se ofereça o

aditamento tanto para complementar a acusação como incluir co-autores

ou partícipes, na hipótese já mencionada, até o momento da sentença.

Aditando ou não a queixa, o Ministério Público deve intervir em todos os

termos do processo. A não intervenção em caso de ação privada subsidiária

12

Page 13: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

é mencionada como nulidade (art. 564, III, d, 2ª parte CPP), mas se trata

de nulidade que se considera sanada se não for argüida em tempo oportuno

(art. 572 CPP).

Prazo para a queixa

Enquanto a ação pública pode ser instaurada até ocorrer prescrição da

pretensão punitiva, a queixa só será admitida dentro do prazo de seis

meses, contado do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor

do crime, na ação privada exclusiva, e do dia em que se esgota o prazo

para o oferecimento da denúncia, na hipótese de ação subsidiária (arts.

103, do CP, e 38 do CPP). Trata-se de prazo ordenatório, em que a lei

faculta a prática de um ato; escoado ele sem a propositura da queixa,

ocorre a decadência, causa extintiva da punibilidade. Os artigos 103 do CP

e 38 do CPP fixam o prazo comum, mas ressalvam a possibilidade de

instituir a lei exceções à regra geral. Assim, na hipótese de crime contra a

propriedade imaterial (art. 184 CP) em que se exige perícia, a ação penal

deve ser proposta no prazo de 30 dias a contar da ciência pelo autor da

homologação do laudo (art. 529 do CPP). Os textos legais citados, ao

preverem o prazo decadencial, condicionam-se à circunstância de saber o

ofendido, ou seu representante legal, quem é o autor do crime. Começa a

fluir, portanto, da certeza ou quase certeza do cometimento do crime pelo

autor conhecido e não de simples suspeitas. Como exceção, o prazo só

começa a correr após o trânsito em julgado da sentença que, por motivo de

erro ou impedimento, anule o casamento, no caso do crime de induzimento

a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236, parágrafo único, do

CP). Os prazos são os mesmos para os sucessores nos casos de morte ou

ausência do ofendido diante do que dispõem os artigos 38, parágrafo único,

24, parágrafo único, e 31, do Código de Processo Penal. Não dispondo a lei

expressamente sobre o termo inicial nessas hipóteses, será sempre a data

em que o sucessor tiver conhecimento da autoria do crime, por analogia

com o que prevê o artigo 38, caput. Evidentemente, não se iniciará prazo

para a queixa no caso de ter se esgotado o prazo decadencial para o

ofendido antes do dia de sua morte ou ausência, extinta já a punibilidade.

Para a contagem do prazo, que é de direito penal, já que o seu transcurso

ocasiona causa extintiva da punibilidade (decadência), conta-se o dia do

início, ou seja, a data da ciência da autoria, nos termos do artigo 10 do CP.

13

Page 14: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

Por essa mesma razão o prazo é fatal, não admitindo interrupção,

suspensão ou prorrogação.

Rejeição da denúncia e da queixa

O artigo 395 do CPP trata das hipóteses em que a denúncia ou a queixa

deve ser rejeitada, não se dando início à instrução criminal. A anterior

redação do art. 43 CPP permitia haver um rol meramente exemplificativo

de causas autorizadoras da rejeição da denúncia ou queixa. A partir da

nova redação dada ao art. 395, através da L. 11.719/08, considera-se este

um rol genérico que pode abranger todas as situações concretas que

permitem a rejeição da peça acusatória. Vejamos:

Art. 395: A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação

penal; ou

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

1. inépcia da denúncia ou queixa (I): se dá a inépcia quando a peça de

acusação não se presta aos fins a que se destina, ou seja, não é apta na

narrativa dos fatos para a compreensão lógica e concatenada da acusação,

garantindo a possibilidade de exercer o contraditório e ampla defesa por

parte daquele que é acusado (réu ou querelado). Dentre outros, pode-se

citar como fatores que ensejam a inépcia:

a) descrição de fatos de maneira truncada, lacunosa ou em desacordo com

os dados colhidos no inquérito;

b) inserção de co-autores ou partícipes inexistentes nas investigações

policiais;

c) narrativa tendente a descrição de um tipo penal, mas cuja conclusão

aponta outro;

d) descrição muito extensa e detalhada do caso, de modo a tornar

incompreensível o cerne da imputação; etc.

2. falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da

ação penal: já estudamos na teoria geral d ação penal esse assunto.

Pressupostos processuais dizem respeito à existência do processo e à

validade da relação processual, ou seja, são condições prévias para a

14

Page 15: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

formação definitiva de toda relação processual. São pressupostos

processuais:

1. Pressupostos relativos ao processo

1.1. propositura de uma demanda.

1.2. investidura jurisdicional do órgão ao qual a demanda é

endereçada.

2. Pressupostos relativos a validade do processo

2.1. Pressupostos processuais positivos subjetivos

2.1.1. Relativos ao juiz

2.1.1.1. Competência

2.1.1.2. Imparcialidade

2.1.2 Relativos às partes

2.1.2.1. Capacidade de ser parte

2.12.2. Capacidade processual

2.12.3. Capacidade postulatória

2.2. Pressupostos processuais positivos objetivos

2.2.1. Pressupostos processuais objetivos intrínsecos

2.2.1.1 Petição apta

2.2.1.2. Citação válida

2.2.2. Pressupostos processuais objetivos extrínsecos

2.2.2.1 Litispendência

2.2.2.2. Coisa julgada

2.2.2.3. Perempção

Raras são as vezes em que se rejeita uma peça de acusação por falta de

pressupostos processuais, vez que, busca-se, primeiramente a

regularização dessa. Condições da ação referem-se ao exercício da ação

penal, são os requisitos exigidos pela lei para que o órgão acusatório

consiga obter do Poder Judiciário a análise sobre sua pretensão punitiva.

São divididas em genéricas e específicas, estas últimas chamadas de

condições de procedibilidade. São elas:

1. Gerais: 1. Possibilidade jurídica do pedido;

2. Legitimidade para agir (legitimatio ad causam);

3. Interesse de agir

2. Específicas (condições de procedibilidade)

3. faltar justa causa para o exercício da ação penal (III): a grande

maioria da doutrina indica que justa causa é exatamente o interesse de

agir, que é uma das condições da ação. Ora, inexistindo hipótese de

15

Page 16: 9 dennciaequeixa

Processo PenalProf. Danilo Pereira

interesse de agir, não há justa causa para a ação penal, devendo a peça de

acusação ser rejeitada.não obstante, a justa causa, não é só isso. Na

verdade, vem a espelhar a síntese de todas as condições da ação.

Inexistindo quaisquer das condições, não há justa causa para a ação penal.

Portanto, o inciso II já abrange o inciso III.

16