83053-joaofranciscohaetinger.pdf
TRANSCRIPT
XI Salão de
Iniciação Científica PUCRS
A ÉTICA DO CUIDADO DE SI COMO PRÁTICA DE
LIBERDADE E EXERCÍCIO DA VIRTUDE EM MICHEL
FOUCAULT
Bolsista Apresentador: João Francisco Haetinger Colaborador: Juliana Schneider Guterres Orientador: : Dr. Castor Bartolomé Ruiz
Universidade do vale do Rio dos Sinos, UNISINOS
Resumo
O fio condutor deste trabalho é a concepção de cuidado de si e suas implicações sobre
a ética clássica. Tal compreensão se dá através da análise da obra de Michel Foucault e, mais
estritamente, dos dois últimos volumes de História de sexualidade (1984), e os cursos do
Collège de France intitulados A Hermenêutica do sujeito (1982). Entretanto, este trabalho
busca a possibilidade de uma releitura compreensiva das aulas do Collège de France,
especialmente as que compõem a obra A Hermenêutica do sujeito.
No chamado último Foucault estudaremos o êthos, um tipo de êthos, uma alternativa
à possibilidade de se fazer um sujeito criador de si. Analisaremos tal ethos a partir da noção
de “cuidado de si” tão comum na filosofia antiga; esta é uma noção ética que possibilita
pensar uma estética da existência, na terminologia de Foucault. Esta ética é uma tentativa de
pensar a formação da subjetividade a partir do cuidado de si próprio entendido como
preocupação por constituir a própria subjetividade. Tal cuidado de si só é possível por meio
de práticas de virtude. Foucault realiza uma volta às praticas de si da antiguidade e no retorno
encontra diferentes modos de subjetivação e formas de constituição do êthos.
Neste retorno, o filósofo escava conceitos filosóficos muito importantes como o
cuidado de si (epimeloû heautoû), que, de certa forma, foi aos poucos esquecido ou
secundarizado, dando-se primazia ao conhecimento gnôthi seautón (conhece-te a ti mesmo)
sobre a prática de si, resgata ainda outras práticas como ascese (askhésis), domínio de si
(enkrateia) etc. Estas práticas de virtudes são exercícios que preparam os indivíduos para as
XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1370
contingências da vida visando garantir uma subjetividade formada por atividades criadoras de
si. Somente através dessas práticas de auto-criação que o indivíduo é capaz trabalhar seu
desejo como princípio ativo da vontade, discernindo aquilo que é seu desejo daquilo que lhe é
induzido e formatado como desejo por instâncias externas. Esta ética tem por objetivo
construir uma existência livre e prazerosa: uma existência estética.
Introdução
No presente estudo, busca-se destacar o pensamento da chamada última fase Foucault
é caracterizado, normalmente, pelo seu viés estético, ou seja, como estética da existência. Um
sujeito que se constitui ético por meio das técnicas de si que o conduzem para uma vida bela.
Aqui vemos nascer o cuidado de si como uma alternativa de se constituir um sujeito
ético, moral e livre.
Sujeito, dito aqui, não como substância ou categoria ontologicamente invariável, mas
sim, modos de agir plurais e modificáveis. Nesse sentido Foucault entende a constituição do
sujeito antigo como criação estética de si.
Pode-se se perceber, que ao estudar as práticas ascéticas da Idade Antiga, onde sujeito,
através de práticas, constitui-se a si mesmo, Foucault observa a constituição do sujeito
singular. Ele deixa de ser constituído somente por práticas que o sujeitam; ao mesmo tempo,
torna-se sujeito e objeto para si próprio, denotando uma subjetivação ética irredutível aos
mecanismos disciplinares e às regulações do biopoder das modernas sociedades ocidentais.
Sendo assim, uma reconstrução ética, não de construir um referencial teórico ou um código,
mas sim uma possibilidade de um êthos estilizado pela existência humana humanamente
praticada e realizada.
Metodologia
Para o presente trabalho foi utilizado basicamente a seguinte metodologia: leitura e
fichamento das fontes primárias e dos comentadores relevantes para a investigação do objeto
desta pesquisa; discussão dos fichamentos com o orientador e colegas da pesquisa; produção
de artigos parciais durante a execução da pesquisa, sob a orientação (leitura e revisão) do
orientador.
XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1371
Resultados (ou Resultados e Discussão)
Podemos perceber, ao estudar o tema do cuidado de si, uma possibilidade de
resistência e de enfrentamento ante os modos de sujeição, trata-se, portanto, de analisar e
enxergar no pensamento foucaultiano rotas de fuga, que permitam a existência de outra
maneira de se enxergar o sujeito. Não como algo estático e universalizante, mas sim a partir
de uma compreensão relativa à interação do indivíduo com o mundo e vice-versa,
enxergando na pessoa a existência de um corpo transformacional que se opõe ao corpo
capturado pelo biopoder.
Conclusão
Uma conclusão inevitável de se pensar em Foucault, é a de que sua intenção é mostrar
que a ética que gira em torno das técnicas de subjetivação, ou seja, a cultura de si; constitui-
se como uma elaboração ética de si, é uma construção artesanal calcada em exercícios e
trabalhos regulares; sem, exatamente, uma coerção ás leis civis ou religiosas. Pois, Foucault
não está indicando uma ética universal e normativa, sua reflexão aponta para uma
possibilidade de poder adotar um estilo de próprio de subjetivação.
Referências
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2004 ______. História da sexualidade. O uso dos prazeres. V. II. Rio de Janeiro: Graal, 1994. ______. História da sexualidade. O cuidado de si. V. III. Rio de Janeiro: Graal, 1985. ______. A Hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2004. HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? São Paulo: Edições Loyola, 1999. PLATÃO. Alcebíadis I e II. Lisboa: Inquérito, s/d. ______. Apologia de Sócrates, precedido de, Êutifron (sobre a piedade), e, seguido, de Críton (sobre o dever). – Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. RUIZ, Castor M. M. Bartolomé. As encruzilhadas do humanismo. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1372