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O tempo da Guerra Fria – a consolidação de um mundo bipolar A Guerra Fria consistiu na tensão verificada entre os Estados Unidos e a União Soviética, entre o mundo capitalista e o mundo comunista, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O mundo defendido pelos Estados Unidos consistia num regime democrático- liberal e numa economia capitalista, enquanto o mundo defendido pela União Soviética consistia num regime socialista de centralismo democrático e numa economia planificada e colectivizada. Neste contexto de oposição, os Estados Unidos tinham como principal objectivo travar o avanço do comunismo e para tal, lançaram o Plano Marshall para ajudar na reconstrução da Europa, que acabou por não ter o resultado esperado, uma vez que a união soviética tinha já muita influência sobre alguns países europeus, que se viram obrigados a recusar a ajuda americana. Desta forma, a União Soviética criou o COMECON, que fomentava a cooperação económica entre os países da Europa central. A situação de tensão foi piorando cada vez mais e pôs uma grande pressão no território alemão, que ao olhar dos Estados Unidos poderia ser uma arma para travar o comunismo. Assim, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França juntaram os seus territórios da Alemanha, formando a RFA, República Federal Alemã e a União Soviética formou a RDA, República Democrática Alemã. No seguimento da divisão clara da Alemanha, Estaline bloqueia o acesso a Berlim, agravando ainda mais os conflitos existentes. O mundo capitalista A política de alianças liderada pelos Estados Unidos: Os Estados Unidos fizeram de tudo para evitar que o comunismo se continuasse a espalhar e, para tal, após o Plano Marshall, criaram a Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE) e o Pacto do Atlântico, que deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Ao mesmo tempo, os Estados Unidos criaram ainda outras alianças, nomeadamente, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização do Tratado Central (CENTO) a ANZUS e a Organização do Tratado da Ásia do Sudeste (OTASE). Estas alianças trouxeram um grande poder para os americanos.

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Apontamentos da matéria de exame de História A 12º Ano – 2011/2012 Parte 8 O tempo da Guerra Fria – a consolidação de um mundo bipolar

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O tempo da Guerra Fria – a consolidação de um mundo bipolar

A Guerra Fria consistiu na tensão verificada entre os Estados Unidos e a União Soviética, entre o mundo capitalista e o mundo comunista, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O mundo defendido pelos Estados Unidos consistia num regime democrático-liberal e numa economia capitalista, enquanto o mundo defendido pela União Soviética consistia num regime socialista de centralismo democrático e numa economia planificada e colectivizada. Neste contexto de oposição, os Estados Unidos tinham como principal objectivo travar o avanço do comunismo e para tal, lançaram o Plano Marshall para ajudar na reconstrução da Europa, que acabou por não ter o resultado esperado, uma vez que a união soviética tinha já muita influência sobre alguns países europeus, que se viram obrigados a recusar a ajuda americana. Desta forma, a União Soviética criou o COMECON, que fomentava a cooperação económica entre os países da Europa central. A situação de tensão foi piorando cada vez mais e pôs uma grande pressão no território alemão, que ao olhar dos Estados Unidos poderia ser uma arma para travar o comunismo. Assim, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França juntaram os seus territórios da Alemanha, formando a RFA, República Federal Alemã e a União Soviética formou a RDA, República Democrática Alemã. No seguimento da divisão clara da Alemanha, Estaline bloqueia o acesso a Berlim, agravando ainda mais os conflitos existentes.

O mundo capitalista

A política de alianças liderada pelos Estados Unidos: Os Estados Unidos fizeram de tudo para evitar que o comunismo se continuasse a espalhar e, para tal, após o Plano Marshall, criaram a Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE) e o Pacto do Atlântico, que deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Ao mesmo tempo, os Estados Unidos criaram ainda outras alianças, nomeadamente, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização do Tratado Central (CENTO) a ANZUS e a Organização do Tratado da Ásia do Sudeste (OTASE). Estas alianças trouxeram um grande poder para os americanos.

A prosperidade económica e a sociedade de consumo: Após a segunda guerra mundial, viveram-se três décadas de prosperidade económica, que foram conseguidas, em grande parte, com a acção dos governos, que tomaram conta de decisões imprescindíveis para estabilizar os seus países, vivendo-se assim a época dos Trinta Gloriosos. Esta fase foi marcada pelo rápido crescimento económico proporcionado pelo capitalismo e teve como principais factores a aceleração do processo tecnológico que para além de melhorar a vida quotidiana aumentou a produção industrial e de energias, que por sua vez proporcionaram melhores transportes devido aos preços baixos do petróleo, que passa a ser a principal matéria energética. Também se verificou um aumento da produção agrícola, de serviços e de trocas comerciais. Para além disso, foi necessário incrementar a procura de produtos, o que foi conseguido com o baby-boom, isto é, o aumento da natalidade e, por sua vez, o aumento dos consumidores, com o aumento da indústria e das multinacionais, que comercializavam os seus produtos em todo o mundo, devido à maior liberdade de comércio proporcionada pela diminuição das barreiras alfandegárias. Desta forma, a mão-de-obra cresceu e passou a ser mais qualificada, verificou-se um crescimento do sector terciário, o que foi conseguido com a melhoria do ensino e com as ajudas proporcionadas pelo Estado e, por fim, verificou-se uma grande quantidade de produtos industriais.

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Neste contexto, o maior resultado dos Trinta Gloriosos foi a sociedade de consumo, caracterizada pelo enorme aumento de consumo de bens essenciais e de bens supérfluos, o que foi conseguido com a estabilidade dos empregos, com a produção de produtos a preços acessíveis e com os salários razoáveis. Assim, o aumento do poder de compra promoveu o conforto material e melhorou o estilo de vida dos cidadãos, que passaram a usufruir de novos electrodomésticos, veículos e férias, sendo assim incentivados através de publicidades de recurso ao crédito, a comprar produtos mesmo para sendo eles inúteis.

A afirmação do Estado-Providência: No mundo capitalista, predominava a social-democracia e a democracia cristã. A social-democracia defende uma sociedade composta por reformas e por processos democráticos e defende que o Estado tem de intervir na economia e tem de proporcionar o bem-estar da população. Para além disso, defende a livre concorrência e defende que o Governo tem de ajudar na redistribuição da riqueza daqueles que têm rendimentos mais elevados, através da protecção social. A democracia cristã defende uma sociedade composta por ideias cristãs e por processos sociais da Igreja e defende que o Estado tem de defender os princípios de justiça, de liberdade, de entreajuda e de valorização dos humanos, condenando assim os excessos do liberalismo capitalista. Para além disso, defende que deve haver união entre os valores da democracia e os valores do cristianismo.

Desta forma, após a guerra, diversos países da Europa tinham como principal agente económico o Estado, que regulava a economia, definia os salários, garantia o emprego e promovia a justiça social, detendo assim um grande poder sobre a organização da sociedade. Todas estas mudanças contribuíram para a construção do Estado-Providência. Assim, o Estado passou a ter como principais funções equilibrar a sociedade e garantir postos de trabalho, de forma a ajudar na melhoria das condições de vida dos cidadãos. Neste contexto, a economia foi nacionalizada, foram fixados salários e horários de trabalho e controlou-se a produção. Para além disso, o Estado para melhorar as condições de vida e para implementar a justiça social, implementou um sistema que protegia os cidadãos em caso de doença, desemprego ou velhice, instaurou ajudas financeiras para as famílias com menos rendimentos, passou a intervir mais no ensino, financiou obras públicas e supervisionou as taxas de juro.

O mundo comunista

O expansionismo soviético na Europa, na Ásia, na América do Sul e em África: A URSS começou a expansão da sua influência na Europa Ocidental, países que tiveram o nome de democracias populares. Consistiam assim na oposição à democracia liberal, na representação dos trabalhadores que controlavam o Estado, a economia e a cultura, através do Partido Comunista. As democracias populares eram supervisionadas politicamente pelo COMINFORM, economicamente pelo COMECON e militarmente pelo Pacto de Varsóvia.

A URSS expandiu também a sua influência para a Ásia, nomeadamente para a China e para a Coreia. Na China formou-se a República Popular da China, ficando apoiada no modelo soviético, em que adoptou os planos quinquenais, de forma a desenvolver a indústria, e os planos de colectivização da agricultura. A Coreia após a guerra foi libertada pela URSS e pelos EUA, ficando dividida em duas áreas, a República Popular da Coreia (URSS) e a Republica Democrática da Coreia (EUA).

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Por fim, a influência da URSS espalhou-se também para África e para Cuba (América do Sul). Em África, devido à recente situação de descolonização, não se verificaram dificuldades em instaurar o regime comunista e em Cuba, Fidel Castro participou na implementação de um governo revolucionário socialista, ligando-se também ao apoio da URSS.

Opções e realizações da economia de direcção central: Após a guerra, a URSS deparou-se com uma quebra na produção industrial, degradando assim a situação económica. Para reverter a situação, Estaline retoma o modelo de economia planificada, isto é, o IV e V Plano Quinquenal, dando prioridade à reestruturação da indústria pesada e das infra-estruturas, à investigação científica e ao desenvolvimento dos meios de comunicação. Os países da Europa Ocidental que estavam sobre influência da URSS também adoptaram o modelo económico soviético que teve como maior resultado a rápida industrialização. Porém, após a rápida industrialização, começaram a aparecer falhas, porque a planificação em excesso não dava qualquer autonomia às empresas que se limitavam a cumprir o que era imposto na planificação, não havendo qualquer investimento. Devido às consequências registadas, implementaram-se algumas reformas nos países da Europa socialista, em que se investiu mais nas indústrias, na agricultura e na habitação, reduziu-se as horas de trabalho e incentivou-se a produtividade. Porém, as reformas que apareceram não tiveram o efeito esperado verificando-se bloqueios económicos, o que resultou na falência dos países que estavam sobre a influência soviética.

A escalada armamentista e o início da era espacial

Devido à tensão constatada, os EUA e a URSS apostaram no desenvolvimento do armamento, que através de inúmeros investimentos atingiu valores de produção elevados e tornou-se, ao mesmo tempo, mais sofisticado. Neste contexto, inicialmente os EUA tinham um nível de desenvolvimento superior ao da URSS, pois tinham processos científicos e técnicos inovadores, uma produção elevada de armas e eram os únicos que possuíam bombas atómicas e bombas de hidrogénio. Desta forma, a URSS para ter hipóteses de fazer frente aos Americanos, investiu no desenvolvimento científico e no desenvolvimento do armamento, conseguindo assim a construção da bomba atómica e da bomba de hidrogénio e o aumento da produção de armas.

Após o investimento verificado no armamento, começaram a surgir investimentos em tecnologias que permitissem a exploração espacial. Neste contexto, a URSS começou a dominar, uma vez que colocou em orbita o primeiro satélite artificial, expandiu a produção de foguetões e laçou um novo satélite com uma cadela a bordo, mostrando assim a sua superioridade em relação aos Estados Unidos. Porém, os EUA conseguiram ultrapassar a URSS, com Neil Armstrong a ser o primeiro homem a pisar a lua e com os sucessivos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, que davam finalmente supremacia aos americanos.