8-VÃO ACHAR DEUS? – 17/09/2008Muito se tem falado sobre quem ou o que é Deus. Na verdade, tem-se falado

“dele” desde que o mundo é mundo. Não vou entrar no mérito da questão, pois incorrerei no risco de ser taxado de herege ou arrogante, dependendo do ponto de vista. Por isso, mesmo “fugindo da raia”, ouso observar que até hoje ninguém chegou a uma conclusão cem por cento concreta sobre o assunto. A fé de cada um responde esta questão e fim. Por ser cômodo, mas é a verdade pura e simples. Eis, porém, que o ser humano resolveu ir ao encalço de pistas para encontrar respostas mais coerentes sobre a questão. Uma resposta definitiva, eu tenho lá minhas dúvidas, mas, certamente, alguns caminhos poderão ser traçados. Se vai ser o fim das religiões (ou até seu fortalecimento), sei muito menos.

Estou me referindo ao recente acionamento do “LHC”, iniciais para “Large Hadron Collider” (“Gigantesco Colisor de Prótons”), uma máquina construída a cem metros de profundidade na fronteira franco-suíça. Em linhas gerais, só para o leitor se situar, essa estrutura tem o formato de um anel, ou seja, é um túnel com a extensão de 27 quilômetros. No seu interior, as partículas de prótons, aceleradas, rodam em sentido contrário (indo e vindo). Quando elas se chocarem, será produzida uma chuva de outras partículas, momento em que será criado um ambiente similar com as condições existentes logo depois do famoso “Big Bang” que certas teorias afirmam ter sido o começo de tudo, isto é, o auto-surgimento do universo e, portanto, da matéria viva. Em síntese, a explicação é esta do que vai acontecer efetivamente em 2 ou 3 anos que teve início no último dia 10, quando foi detonado o sistema que promete ser o mais espetacular da história da ciência moderna. Teve muita gente que morreu de medo, pensando que o mundo iria acabar porque iríamos ser engolidos pelo buraco negro criado. Nada disso, evidentemente, aconteceu para a tristeza desses fatalistas.

A questão central é se a colisão irá gerar o “Bóson de Higgs”, uma partícula que explicaria como a massa se expressa no mar das energias produzidas pela colisão. Por isso, surgiu a expressão “partícula de Deus”, em outras palavras, o próprio. Agora eu pergunto: e daí? As pessoas modificarão suas crenças depois dessa descoberta? Se for confirmado que existem outras dimensões ou outros universos paralelos ao nosso, alguma coisa vai ser alterada no nosso dia-a-dia? Por acaso, vamos ficar mais ricos? Pelo visto, nada vai mudar em nossa personalidade ou em nossos costumes, mas que muita gente vai ficar com a pulga atrás da orelha, isso vai. Por quê? Ora, quando for confirmado – se for – que a mente é fruto do acaso e não de uma entidade suprema, muitos irão coçar a cabeça e se perguntarem: “será que fiz papel de bobo este tempo todo?”. Outros ignorarão a descoberta científica e continuarão com suas crenças íntimas e outros ainda, vão procurar se inteirar mais da nova realidade que se avizinha. Vão procurar saber se o Deus tão falado, cantado e decantado não seria a soma de todas as mentes que atingirão a perfeição e, portanto, ele próprio não seria um Deus em potencial. O LHC poderá mudar muito conceito e derrubar muito preconceito? Tudo é possível, pois não é novidade para ninguém que muitos princípios da humanidade precisam ser alterados, porque a turba que reside neste mundo não se cansa de brigar entre si.

Se for assim, espero que a ciência ajude - desta vez de forma mais sacramentada, trocadilhos à parte - para que o homem saia logo de sua perturbadora insignificância. Quando a pessoa tiver ciência ou “consciência” de que a sua mente pode ser a força que controla o seu destino, é certo que sua conduta vai mudar. E, por incrível que pareça, a certeza da existência dos bósons, vai mexer com a fé dos religiosos mais fanáticos ou das duas uma: vai enfurecê-los ou vai emudecê-los.

Paradoxalmente, quem sabe, vai fazer valer o velho adágio: "Deus dorme no mineral, sonha no vegetal, age no animal e desperta no homem". (pub.24/9/2008)