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  • fragmentum, N. 35, parte I. Laboratrio Corpus: UFSM, Out./ Dez. 2012

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    Macau, visveis e invisveis do espao, em Infraestruturas, de Alberto Estima de Oliveira

    Monica Simas (USP)1

    Resumo: O texto busca evidenciar os espaos visveis e invisveis da potica de Alberto Estima de Oliveira, poeta portugus que viveu em Macau por mais de 20 anos, cruzando elementos de uma geografia simblica com a experincia urbana e cultural a partir da leitura e anlise do livro Infraestruturas, re-publicado em edio bilingue com traduo para o chins de Yao Jingming, no ano de 1999. Palavras-chave: literatura de Macau; poesia e experincia urbana; interculturalidade.

    "Pergunto-me ao chegar, se alguma vez cheguei/como seria a vida que se dizia calma/ neste minsculo resto do corpo da cidade".

    (Alberto Estima de Oliveira, "Alto Contraste", Revista de Cultura, 1996)

    Provocao No incio do sculo XX, em Portugal, o escritor e artista plstico Jos de Almada Negreiros lanava o seu Manifesto da Exposio de Amadeo de Souza-Cardoso (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992), convocando os portugueses a descobrirem-se para o seu tempo presente, a observarem a arte da sua contemporaneidade. A provocao assim se explicitava:

    Amadeo de Souza-Cardoso a primeira descoberta de Portugal na Europa no sculo XX. O limite da descoberta infinito porque o sentido da Descoberta muda de substncia e cresce em interesse - por isso que a Descoberta do Caminho Martimo pra ndia menos importante que a Exposio de Amadeo de Souza-Cardoso na Liga Naval de Lisboa (ALMADA NEGREIROS, 1992, p. 30).

    Ela fez parte de um despertar de alguns artistas para o "ismos" que se desenvolviam nos pases prximos e, especialmente, para o futurismo. A ao futurista durou um curtssimo espao de tempo, mas marcou profundamente

    1 Monica Simas professora da rea de Literatura Portuguesa, coordenadora do LIA (Laboratrio de Interlocues com a sia) e do Grupo de Pesquisa "(Pt. Oriente) Portugal e o Oriente: literaturas, lnguas e culturas". Atualmente, desenvolve as pesquisas: "Macau na escrita. Escritas de Macau" e "Portugal e o Contemporneo: paisagens, vazios e afetos", no DLCV, FFLCH, USP. E-mail: [email protected]

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    todas as geraes posteriores. Amadeo de Souza-Cardoso, apesar de ele mesmo se considerar mais modernista do que futurista, iria manifestar em seu trabalho um verdadeiro conhecimento sobre aquela arte/atitude nova. Tanto a ao futurista quanto o modernismo, de um modo geral, foram escandalosos em Portugal, como se sabe, e a referida exposio do artista ficaria desconhecida do grande pblico. Mesmo assim, o conjunto de aes atribudo chamada Gerao de Orpheu seria desconcertante. Como bem afirmou Nuno Jdice, "a irritao provocada por estes 'novssimos' no meramente superficial, e resulta de terem sido atingidos os alvos profundos do establishment da poca" (JDICE, 1982, "Introduo"). Final do sculo XX. A questo que parece se abrir, no alvorecer do sculo XXI, em Macau, : "Seria ainda possvel aos artistas e escritores efetuarem a legibilidade de um espao, agora, situado nas complexidades dos processos de globalizao e de uma radical transformao de suas infra-estruturas?" O que permitiu que Macau se constitusse como uma regio especial foi justamente a sua especificidade cultural e, apesar disso, tanto a manuteno dessa especificidade, construda ao longo da histria, quanto o intercmbio entre as diversas culturas parece ser um desafio gigante, que se desenvolve na inversa proporo dos investimentos que vm sendo realizados no perodo ps-transio. Sendo assim, talvez seja hora de manifestar-nos e, ao modo de Almada Negreiros, dizer que o evento mais importante do ano de 1999 foi a publicao do livro Infraestruturas, de Alberto Estima de Oliveira, pelo Instituto Cultual de Macau, uma re-edio bilingue portugus-chins, com traduo feita por Yao Jingming. Uma nova provocao! Tal como a exposio de Amadeo de Souza Cardoso, a importncia do evento no pode aparecer nas estatsticas ou no nmero do pblico alvo, mas sim na importncia definitiva de um dilogo que s a poesia pode realizar, com o sentido da descoberta que infinito. E se, para Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso pertence ao que ele chamava de "Pensamento Universal", tenho como suspeita que Alberto Estima de Oliveira pertena a uma "Infralngua", que s pode ser vestgio da experincia vivida, o caminho do afeto nos confins da prpria identidade. Por isso, reafirmo: Infraestruturas, de Alberto de Estima de Oliveira, mais importante que qualquer outro evento ligado s obras de concreto, executadas em Macau. Contrastes A provocao aqui exposta no busca, de jeito nenhum, diminuir a importncia dos programas executados no perodo de transio, ao contrrio. Entre a construo de pontes, portos e aeroporto; rede de saneamento bsico e de recolha de lixo, houve um imenso investimento tanto nas reas do ensino

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    quanto da cultura no sentido de se construir uma base para a manuteno da memria e da identidade cultural de Macau. Alm da criao formal da Universidade de Macau e do Instituto Politcnico de Macau, houve um crescimento significativo de reedies e novas publicaes de livros de autores portugueses, macaenses e chineses. Por isso, no poderamos pensar na reedio do referido livro de Estima de Oliveira como uma produo isolada. ela tambm parte da transformao avassaladora que configurou o projeto de autonomia e, como tal, da busca de sentidos possveis de um espao acrescido do adjetivo "especial". No contexto literrio, diversos olhares percorreram o espao citadino procurando referir a sua localizao cultural j que o mar de empreendimentos fora responsvel tanto pelo retorno de macaenses que haviam partido em decorrncia da situao do ps-guerra como tambm pela transferncia de portugueses vindos dos mais variados pontos das rotas que o imperialismo havia formado. Ou seja, a literatura, como um sistema integrado aos demais, tambm passaria por alteraes radicais. Por um lado, houve um crescimento do nmero de autores publicados em Macau. Por outro, as prprias condies de recepo seriam alteradas, j que, no perodo de transio, as obras de autores macaenses, como as de Henrique de Senna Fernandes, Jos dos Santos Ferreira (o Ad), Luiz Gonzaga Gomes e Deolinda da Conceio seriam integradas legitimidade necessria de se configurar a especificidade da cultura da regio. Ainda, as obras de autores portugueses, que no territrio se instalaram, seriam localizadas em uma entre muitas das culturas formativas do territrio, j afastadas, portanto, de uma qualquer ideia de cultura dominante/colonial. Sem inteno de inventariar a produo potica deste perodo, que foi imensa, e que passa por nomes conhecidos do cnone da literatura portuguesa, como os de Jos Augusto Seabra e de Antnio Manuel do Couto Viana, apenas menciono que, alm da re-edio de Infraestruturas, o Instituto Cames, numa ao conjunta com o Instituto Cultural de Macau e o IPOR, lanou a no menos importante Antologia de Poetas de Macau, organizada por Yao Jingming e Jorge Arrimar. Esta foi a primeira (e nica) antologia a reunir poetas portugueses e chineses de Macau, selando uma busca de integrao a partir da pluralidade de olhares. Sem dvida, Macau necessita de uma continuidade de ao poltico-cultural nessa direo. A vocao potica deste lugar constitui hoje uma tradio que confirma a sua distino especial e traz interesse para o mundo todo.

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    "Asas" e "Concreto". Apesar de a toponmia no estar ausente da obra de Alberto Estima de Oliveira, quase nunca ela o ncleo geogrfico da sua escrita. A sua poesia, como "mecanismo inverossmil/ anfiteatro/ do impossvel possvel" (1999, p. 113) evidencia a margem dos sentidos, um lugar pra l dos lugares, atravessado de luz e de silncios. Evidentemente, a poesia de Estima de Oliveira situa-se nas circunstncias migratrias da dispora portuguesa a que j me referi anteriormente. Mas como nos lembra o precioso prefcio da reedio de Infraestruturas, escrito por Maria Alexandre, a sua palavra est para alm do que diz, alm "de uma exterioridade assimilada simbolicamente e com os mitos e arqutipos que as suas vivncias de europeu por raiz, angolano por opo telrica, e de ser universal por imanncia" (1999, p. 8). E se, como afirma a prefaciadora, as suas palavras reenviam-nos "ora presena de um real imediato, ora presena de um real recriado" (1999, p. 8), tambm na incorporalidade que elas manifestam a pura convico de realizar-se como um "ato inslito". na margem incorprea da palavra que reside a sua liberdade. Em vez de ser subjetividade, a sua poesia afirma-se como hecceidade, individualidade de travessia, de uma vida que no pode ser medida apenas pela materialidade do corpo. Tenho como hiptese que, a poesia, tal como se realiza na obra de Estima de Oliveira, constantemente unida aos fluxos da criao, no se afirma nem como estrutura lingustica, mesmo que desta no possa prescindir, nem como sentimento, cuja gnese poderia se localizar na personalidade autoral, nem ainda como puro fingimento, produto de uma racionalidade dramatizada, mas sim como afeto, provavelmente, com o sentido deuleuziano do termo, que indica um processo de desterrritorializao contnua do j conhecido, em que o desejo se marca pela positividade. No por acaso que a dor, nas mais variadas expresses de limite, como "barreira" ou "teto", presentifica-se no corpo potico da sua obra. No esto as dores ali para provocar o sentimentalismo frente negatividade. Esto ali para alimentar a positividade do desejo, erguendo-se como aporias para deslocar-nos do mundo material. Porque de "asas" e de "concreto" que esta poesia nos fala. E, neste primeiro livro publicado em Macau, o encontro dessas poderosas vertentes determinam com preciso o espao e o tempo da sua poesia. Logo no primeiro poema do livro, a figura de um cruzamento se impe.

    perpendicular rota cruzada situao linear

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    A figura ambgua porque tanto pode corresponder a uma rota feita de forma perpendicular quanto a uma rota que, ao ser cruzada, cortada por uma linha perpendicular. O cruzamento, assim, pode referir o prprio percurso do deslocamento ou uma precisa localizao em meio ao percurso. Ainda, uma rota um caminho que vai de um ponto a outro, mas aqui no h qualquer referencialidade. Estamos diante de um poema que, visualmente, corresponde a uma pura linha ou a um ponto formado por duas linhas. Apesar de no haver as referncias "de onde at onde", elas esto ali de forma potencial, ou seja, esto ali esvaziadas, mas este vazio pleno de possibilidades. Elas referem quaisquer pontos geogrficos e, por isso, so potencialmente todas as coordenadas espaciais. Ao se deter no movimento que o poema contm, o leitor pode seguir as linhas com o olhar, deixando que surja a figura "+", como imagem da "situao linear". curioso que, metida no campo das referncias culturais, se um intrprete situ-la na cultura crist, ver logo a "cruz", smbolo da totalidade no amor nico de Cristo e, se pensar na cultura chinesa ver o nmero "dez"- sh ou yat - que tambm um retorno simblico ao uno no sentido de totalidade, tanto que, em muitos textos clssicos chineses, aparece a expresso "dez mil coisas", querendo dizer "todas as coisas". De fato, nestes primeiros versos, as linhas permanecem como cifras de um sinal a ser descoberto pelo olhar. Pode tambm significar a relao universal entre tempo e espao que engendra o destino humano. E, neste caso, a ambiguidade cultural parece reforar a abstrao que as palavras reivindicam, correspondendo busca de uma totalidade para a qual elas apontam, uma noo de "uno" que pe o invisvel de forma bem visvel. Em sentido esttico, o invisvel, o indizvel, o imaterial ou o incorporal, formas diferentes de se expressar o vazio, parecem ter sido exigncia e busca dos artistas do sculo XX, apesar de, provavelmente, terem sido evocados pela arte, desde sempre. No sculo XX, no entanto, com a progressiva expanso das doutrinas do oriente no ocidente, como o zen budismo e o taosmo, o resgate de formas poticas como as antigas quadras chinesas ou os hai kai japoneses, as noes de vazio e de silncio parecem ter sido exaltadas como nunca antes. Por outro lado, desde o final do sculo XIX, as vanguardas europias procuraram revelar uma luz simblica consistente junto representao de formas concretas. Desde Czanne e aqueles por ele influenciados, como Mondrian, Malvitch e Duchamp, que a arte procurou materializar a luz, o invisvel que prov o relevo e a profundidade para o visvel, no sentido de se fazer uma "no arte", uma arte que rasurasse a figurao. Atravs da liberdade de composio, de cores e de ngulos retos, esses artistas procuraram separar a forma do contedo concreto para identific-lo ao contedo abstrato e elementar. A possibilidade de fuso do invisvel matria de forma objetiva em vez de constituir correspondncias por dissipao, como no simbolismo, de

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    forma mais geral, traria novas possibilidades. Na literatura no seria diferente. Ainda, naquela de expresso portuguesa e, segundo artigo comparativo entre as poesias de Pessanha e Pessoa, Horcio Costa (2006), perseguindo a tendncia axiomtica da potica moderna que assume certas convergncias entre a escritura oriental e ocidental, tal qual em Pound, interpreta alguns poemas de Pessanha, como "Violoncelo", de forma a aproxim-los dos aspectos fundamentalmente imagticos, numa estrutura prismtica em que o indizvel passa a ocupar cada vez mais o espao da linguagem. Para Anne Cauquelin, se uma das marcas da arte contempornea o vazio que feito de fluidez, isso no acontece simplesmente por conta das influncias orientais, mas teria sido o resultado de um longo processo em que, desde a teoria dos incorporais dos esticos, o antigo estaria se reabilitando no novo. Segundo a filsofa, os esticos pensam o universo como uma totalidade animada por um sopro que o atravessa em expanso e contrao infinitamente. Assim, se o universo infinito porque mundo e vazio coabitam em respirao. Para o esticos, todas as causas so corporais inclusive os espritos como potencialidades, pensado fora de qualquer proposio mstica. Se o universo infinito, o mundo se faz e se desfaz dentro dele, sendo contrariamente finito. Nas linhas que Estima de Oliveira nos deixou, temos uma cosmologia muito prxima dessa formulao:

    em cada horizonte um sinal em cada homem uma dimenso so linhas diferentes uma horizontal ilimitada outra conforme a condio (1999, p. 33)

    Na tenso das diferentes condies, nem sempre favorveis, e a sua transcendncia, os poemas nos pem numa espcie de olho do furaco. Existe um "solo sagrado da amargura" (1999, p. 49). Existe "a terra/ onde/germina/minha prpria/fraqueza" (p. 89). Existem "arrozais regados a sangue/ no estio da loucura" (p. 49) E Existe no "corpo/angstia" (p. 131). Se a canoa vara na lama, a gaivota cai na noite, os lagos secam e "a palavra/

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    desfaz-se/ num murmrio de humidade" (p. 117), o jeito tentar tocar "no vrtice/ do nexo" (p. 69). " urgente ter asas" (p. 63), dita a poesia.

    amar descobrir a proposta do infinito (1999, p. 65)

    Neste admirvel convite de se buscar o intangvel, de se disponibilizar para a alteridade radical num gesto de afeto, est a necessidade de se fazer "um mergulho/ consciente/ na essncia da vida" (p. 105). Em cada vo, iluminam-se relaes sociais e define-se o espao de intimidade de um "eu" que lana um desafio a cada obstculo encontrado. Afinal, toda travessia feita de risco. Todo movimento exige parada. No infinito, o limite que o evidencia. A preferncia pelo vo, manifesta, nesta poesia, como compreenso de uma relao transcendente entre o exprimvel e o lugar, determina-se por vrios limites.

    estou em casa olho as estrelas encontro o tecto barreira do concreto (1999, p.37)

    O "tecto", limite da casa, define o microcosmo em relao ao macrocosmo, espao das estrelas, incomensurvel. O olho incide de encontro ao teto que, alm de ser limite, oposio, aporia num jogo paradoxal da linguagem, pois, no nvel simblico, as estrelas so tambm o mundo interior, a vontade do "eu", esperana, enquanto o teto metonimicamente a opacidade da realidade exterior. Existe um deslocamento no olhar que se projeta em direo s estrelas, encontrando o teto. Tudo se modifica. Temos, assim, uma inverso dos espaos interior e exterior, que participam da ipseidade de se estar "em casa". O importante a relao entre os signos e no a identidade de cada um, porque o movimento que caracteriza ao mesmo tempo a transcendncia e a dificuldade de isso acontecer, o impedimento e a resistncia, a resistncia do olhar contra a resistncia do teto. A aporia marca um modo de estar no mundo, uma forma um tanto incomodada de ser, uma tica, atravs do olho que enfrenta o teto para desacomodar o mundo habituado. Interpretando, a dura realidade a finitude do ser enquanto as estrelas so metonimicamente sinais da respirao universal infinita. Ambas

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    esto na mira do olho, coexistindo na paradoxal conscincia de infinitude do afeto na finitude do corpo. O processo se recria em outros poemas. Assim tambm, h uma "barreira/ entre a cidade/ e horta" (1999, p. 39), significando a fronteira entre mundos diferentes, ou ainda um duplo obstculo na "barreira de frio/ montanhas separadas/ pelo rio"(1999, p. 41), em que o rio fronteira entre semelhantes e o frio impedimento travessia, paralisia, a evidente impossibilidade de fluir. No entanto, no movimento do corpo potico que Estima de Oliveira inventa, tambm vacuidade, a mesma que surge na madrugada, ou, ainda, como no ltimo poema do livro, no rumor proftico dos bzios. O destino permanece no "rio dos olhos" (p. 75) que tudo pode verter, envolver com a cumplicidade de um dilogo feito de abertura ao imaginvel e inimaginvel. Porque s o "desintegrado/ deixa/ de esperar" (p. 59). Enquanto houver corpo , "pedras, [...], e o amor/ e o tecto, [...] " (p. 47), a poesia de Estima de Oliveira continuar a nos arremessar ao expectante infinito. Neste nosso "momento concreto", quase dez anos depois da transferncia de Macau, no se pode recusar a importncia da obra deste poeta para a compreenso deste lugar, especialmente, em sua contemporaneidade. Referncias ALEXANDRE, Maria. Notas de uma leitura possvel. In: ESTIMA DE OLIVEIRA, Alberto. Infraestruturas. Macau: Institituto Cultural de Macau, 1987. ALMADA NEGREIROS, Jos. Manifestos e outros textos de interveno. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1992. ALMEIDA, Maria do Rosrio. Chu Kong. Macau: Instituto Cultural de Macau, 1987. CAUQUELIN, Anne. Frequentar os incorporais. Contribuio a uma teoria da arte contempornea. Traduzido por Marcus Marcionilo. Frquenter les incorporels (2006). So Paulo: Martins Fontes, 2008. COSTA, Horcio. Poemas prismticos: Pessoa e Pessanha. In: LOPONDO, Llian (org.). Dialogia na literatura portuguesa. So Paulo: Scortecci, 2006. DIAS, Fernanda. Horas de papel: poemas para Macau. Macau: IPOR, 1992. ESTIMA DE OLIVEIRA, Alberto. Infraestruturas. Coleo Poetas de Macau. Macau: Instituto Cultural de Macau, 1999.