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C M Y K C M Y K ELEIÇÕES / Prestação de contas do partido garante que a legenda gastou R$ 5,7 milhões “em recursos estimáveis”, com 33 candidatos que tiveram somados apenas 11,9 mil votos. Pelos menos oito que disputaram o pleito negam ter recebido a verba do diretório nacional O pomar do Pros Cidades + política e economia no DF Brasília, domingo, 24 de fevereiro de 2019 CORREIO BRAZILIENSE 21 E Ed di it to or re es s: : José Carlos Vieira (Cidades) e Ana Maria Campos (Política) [email protected] e [email protected] T Te el ls s. . : : 3214-1119/3214-1113/F Fa ax x: : 3214-1185 A At te en nd di im me en nt to o a ao o l le ei it to or r: : 3342-1000 [email protected] Fábio Kbça Recursos estimáveis: R$ 160.265,47 Número de votos: 622 Bárbara Anjos Recursos estimáveis: R$ 184.905.49 Número de votos: 91 Adriana Lourenço Recursos estimáveis: R$ 154.565,47 Número de votos: 190 Amazônica Brasil Recursos estimáveis: R$ 179.555,47 Número de votos: 347 Venceslau Guimarães Recursos estimáveis: R$ 674.797,49 Número de votos: 690 Marizete da Saúde Recursos estimáveis: R$ 159.885,49 Número de votos: 450 Marizia Bonifácio Recursos estimáveis: R$ 269.845,49 Número de votos: 125 Forlangov Recursos estimáveis: R$ 184.455,47 Número de votos: 336 » ALEXANDRE DE PAULA » ANA VIRIATO F orlangov talvez soe como um no- me estranho para o eleitor. O poli- cial militar de 40 anos Erivelto For- lan, que concorreu a uma vaga na Câmara Legislativa pelo Pros, porém, de- veria ser conhecido por quase 1 milhão de eleitores brasilienses — ou seja, um terço da população do Distrito Federal. Isso porque a legenda alega, na prestação de contas, ter confeccionado 939,9 mil santi- nhos para o candidato. Ao todo, foram R$ 184 mil em material gráfico, que inclui também adesivos e botons. Mas Forlan- gov teve um desempenho pífio nas urnas: recebeu apenas 336 votos. Assim como ele, outros 32 candidatos a distrital da sigla não chegaram a obter se- quer mil votos em 2018, mas receberam, de acordo com as prestações de contas, milhões de reais em material gráfico para a campanha. A fartura dos itens, custea- dos por recursos públicos dos Fundos Partidário e de Financiamento Especial de Campanha, é tamanha que seria possível, por exemplo, estampar por três vezes to- dos os 1,7 milhão de automóveis da capi- tal com os 6 milhões de adesivos que a le- genda diz ter confeccionado. Confrontados com os dados apresen- tados pelo partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), candidatos da última cor- rida eleitoral ouvidos pelo Correio garan- tem que caciques da legenda inflaram os números. O apoio com propaganda im- pressa, segundo eles, foi muito mais mo- desto — boa parte do material chegou poucos dias antes do pleito e a quantida- de era significativamente menor do que a declarada à Justiça. A situação os leva a acreditar que diri- gentes partidários embolsaram o valor atestado para custeá-los. “Não recebi essa quantidade (R$ 184 mil em material). Não tinha conhecimento disso e não me lem- bro de ter visto isso na prestação. É muito estranho e quero saber do partido qual a razão”, relata Forlangov. O material de campanha descrito pelo diretório nacional do Pros na prestação de contas dos 33 chega ao custo de R$ 5,7 mi- lhões. O valor inclui pouco mais de R$ 500 mil em gastos com advogados, contado- res e despesas de pessoal. Para concretizar o repasse médio de R$ 172 mil em propa- ganda impressa a cada candidato, o parti- do teria utilizado uma brecha na legisla- ção eleitoral, que dispensa a apresentação de comprovantes e recibos na transferên- cia de valores em material de campanha. Essas transações são apresentadas como “receitas estimáveis em dinheiro”. Os 33 candidatos, juntos, conquista- ram o pífio apoio de 11,9 mil eleitores. Considerando somente os R$ 5,7 milhões em recursos estimáveis, portanto, cada voto teria custado aos cofres públicos R$ 479. O número é mais de 10 vezes superior aos R$ 43,90 investidos por Robério Ne- greiros (PSD), que teve o maior gasto por eleitor entre os 24 que assumiram uma vaga na Câmara. A cifra milionária (R$ 5,7 milhões) ainda é cerca de seis vezes maior do que os R$ 870 mil investidos pela sigla na candidata a governadora Eliana Pedro- sa, líder das pesquisas durante mais da metade da campanha de 2018. A gráfica responsável pela impressão de materiais é do próprio partido — o que se comprova pelo CNPJ estampado em al- guns dos santinhos — e fica em Planaltina de Goiás (GO). O Pros é comandado na- cionalmente por Eurípedes Júnior, que, conforme os relatos de candidatos, teria ciência das supostas irregularidades e se beneficiaria delas. Em outubro, ele foi alvo da Operação Partialis, deflagrada para combater o desvio de recursos públicos na aquisição de gases medicinais em Brasília e no Pará. De acordo com a Polícia Federal, os envolvidos no esquema desviaram R$ 2 milhões em contratos com o setor público. Adulteração Ao Correio, candidatos destacaram diversas inconsistências nas prestações de contas do partido, fato negado pela presidência da sigla (leia mais na página 22). Ex-presidente da Associação de Mo- radores deVicente Pires e Região, Gilber- to Camargos, 55 anos, tentou uma vaga na Câmara Legislativa pelo Pros e se sur- preendeu com os valores indicados pela direção da legenda. O documento elabo- rado pelos contadores registrava mais de R$ 150 mil em materiais gráficos. Ca- margos se recusou a assinar, pois garan- te não ter recebido mais do que R$ 10 mil em propaganda impressa. Às pressas, elaborou uma nova presta- ção, entregue em janeiro deste ano, que in- clui uma declaração em que justifica o atraso e detalha a suposta tentativa de fraude cometida pelo partido. O docu- mento, datado de 31 de janeiro, está dispo- nível no sistema do TSE. Alguns dos concorrentes, em outra ver- tente, dizem ter aprovado as prestações de contas sob pressão. Eles contam que repre- sentantes do Pros argumentaram que a re- cusa em assinar os papéis poderia gerar complicações sérias na Justiça Eleitoral. Outros afirmam ainda ter confiado no partido e referendado a declaração sem conferir os valores. É o caso de Adriana Lourenço, 49. Cega, ela relata que assinou a prestação de contas sem saber o conteúdo real. Integrantes do Pros não disponibilizaram a versão digi- tal, que poderia ser ouvida por meio de recursos de acessibilidade, tampouco descreveram a íntegra da documenta- ção. “Eu confiei neles, mas, depois, ou- tras candidatas tiveram esse problema e eu imaginei que, se tinham feito com elas, também teriam feito comigo”, diz. A datilógrafa Amazônica Brasil, 54, foi uma das candidatas que conver- saram com Adriana sobre a adulteração. “Sou servidora pública, estava em pro- cesso de aposentadoria. Deixar de fazer a prestação poderia me prejudicar, fi- quei com medo”, conta. Ela e Adriana dizem ter se sentido sem saída. “O que fazer? Negar e depois ter que procurar advogado e contador para fazer a decla- ração às pressas? Não temos recurso pa- ra isso. E ficaria sempre a nossa palavra contra a deles”, pontua Amazônica. O ex-senador Hélio José — conhecido também como Hélio Gambiarra — a con- vidou para se candidatar, de acordo com a datilógrafa. Ela e Adriana contam que não foram mais atendidas por ele — que su- postamente saberia do esquema — de- pois de reclamar dos valores incomuns. O ex-senador ganhou destaque na capital após o vazamento de um áudio em que diz que poderia nomear “uma melancia” para cargos de confiança. O servidor público Venceslau Guima- rães, 43, teve 690 votos nas eleições do ano passado. Apesar da tímida votação, con- tou com cerca de R$ 674 mil transferidos pela sigla, tudo em recursos estimáveis. Em tese, gastou quase R$ 1 mil por voto. Tinha à disposição, segundo a prestação de contas, mais de 200 mil adesivos e meio milhão de santinhos, por exemplo. O Pros declarou investimento de R$ 177 mil com materiais gráficos e o restante, em despesas de pessoal (“a es- pecificar”). Procurado pelo Correio, Ven- ceslau diz não se lembrar de valores exa- tos e não ter notado montante tão alto. “Eles me mandaram material e diziam que colocaram gente para trabalhar para mim em outras regiões. Mas eu não tinha controle disso, não tenho como saber se o custo foi esse ou não”, justifica. “Mas, de fato, tive, sim, gente trabalhando para mim porque minha votação foi em várias regiões”, completa. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Fotos: TSE/Divulgação Números dos 33 candidatos da legenda que obtiveram menos de mil votos 8.783.729 Número de santinhos 5.989.812 Quantidade de adesivos 10 x 30 3.225.156 Número de botons 41.300 Quantidade de adesivos 40 x 30 11.920 Total de votos conquistados pelos 33 candidatos juntos LEIA MAIS NA PÁGINA 22 Amazônica Brasil (E) e Adriana Lourenço questionam prestação de contas do partido

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Page 1: 771 1 1 A21-CID-2402 · C M Y K C M Y K ELEIÇÕES/Prestaçãodecontasdopartidogarante quealegendagastouR$5,7milhões“emrecursosestimáveis”,com33 candidatos quetiveramsomadosapenasO11

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ELEIÇÕES /Prestação de contas do partido garante que a legenda gastou R$ 5,7 milhões “em recursos estimáveis”, com 33 candidatosque tiveram somados apenas 11,9 mil votos. Pelos menos oito que disputaram o pleito negam ter recebido a verba do diretório nacional

O pomardo Pros

Cidades+ política e economia no DF Brasília, domingo, 24 de fevereiro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE • 21

EEddiittoorreess:: José Carlos Vieira (Cidades) e Ana Maria Campos (Política)[email protected] e [email protected]

TTeellss.. :: 3214-1119/3214-1113/FFaaxx:: 3214-1185AAtteennddiimmeennttoo aaoo lleeiittoorr:: [email protected]

Fábio KbçaRecursos estimáveis: R$ 160.265,47

Número de votos: 622

Bárbara AnjosRecursos estimáveis: R$ 184.905.49

Número de votos: 91

Adriana LourençoRecursos estimáveis: R$ 154.565,47

Número de votos: 190

Amazônica BrasilRecursos estimáveis: R$ 179.555,47

Número de votos: 347

Venceslau GuimarãesRecursos estimáveis: R$ 674.797,49

Número de votos: 690

Marizete da SaúdeRecursos estimáveis: R$ 159.885,49

Número de votos: 450

Marizia BonifácioRecursos estimáveis: R$ 269.845,49

Número de votos: 125

ForlangovRecursos estimáveis: R$ 184.455,47

Número de votos: 336

» ALEXANDRE DE PAULA» ANA VIRIATO

Forlangov talvez soe como um no-me estranho para o eleitor. O poli-cial militar de 40 anos Erivelto For-lan, que concorreu a uma vaga na

Câmara Legislativa pelo Pros, porém, de-veria ser conhecido por quase 1 milhão deeleitores brasilienses — ou seja, um terçoda população do Distrito Federal. Issoporque a legenda alega, na prestação decontas, ter confeccionado 939,9 mil santi-nhos para o candidato. Ao todo, foram R$184 mil em material gráfico, que incluitambém adesivos e botons. Mas Forlan-gov teve um desempenho pífio nas urnas:recebeu apenas 336 votos.

Assim como ele, outros 32 candidatos adistrital da sigla não chegaram a obter se-quer mil votos em 2018, mas receberam,de acordo com as prestações de contas,milhões de reais em material gráfico paraa campanha. A fartura dos itens, custea-dos por recursos públicos dos FundosPartidário e de Financiamento Especial deCampanha, é tamanha que seria possível,por exemplo, estampar por três vezes to-dos os 1,7 milhão de automóveis da capi-tal com os 6 milhões de adesivos que a le-genda diz ter confeccionado.

Confrontados com os dados apresen-tados pelo partido ao Tribunal SuperiorEleitoral (TSE), candidatos da última cor-rida eleitoral ouvidos pelo Correio garan-tem que caciques da legenda inflaram osnúmeros. O apoio com propaganda im-pressa, segundo eles, foi muito mais mo-desto — boa parte do material chegoupoucos dias antes do pleito e a quantida-de era significativamente menor do que adeclarada à Justiça.

A situação os leva a acreditar que diri-gentes partidários embolsaram o valoratestado para custeá-los. “Não recebi essaquantidade (R$ 184 mil em material). Nãotinha conhecimento disso e não me lem-bro de ter visto isso na prestação. É muitoestranho e quero saber do partido qual arazão”, relata Forlangov.

O material de campanha descrito pelodiretório nacional do Pros na prestação decontas dos 33 chega ao custo de R$ 5,7 mi-lhões. O valor inclui pouco mais de R$ 500mil em gastos com advogados, contado-res e despesas de pessoal. Para concretizaro repasse médio de R$ 172 mil em propa-ganda impressa a cada candidato, o parti-do teria utilizado uma brecha na legisla-ção eleitoral, que dispensa a apresentaçãode comprovantes e recibos na transferên-cia de valores em material de campanha.

Essas transações são apresentadas como“receitas estimáveis em dinheiro”.

Os 33 candidatos, juntos, conquista-ram o pífio apoio de 11,9 mil eleitores.Considerando somente os R$ 5,7 milhõesem recursos estimáveis, portanto, cadavoto teria custado aos cofres públicos R$479. O número é mais de 10 vezes superioraos R$ 43,90 investidos por Robério Ne-greiros (PSD), que teve o maior gasto poreleitor entre os 24 que assumiram umavaga na Câmara. A cifra milionária (R$ 5,7milhões) ainda é cerca de seis vezes maiordo que os R$ 870 mil investidos pela siglana candidata a governadora Eliana Pedro-sa, líder das pesquisas durante mais dametade da campanha de 2018.

A gráfica responsável pela impressão demateriais é do próprio partido — o que secomprova pelo CNPJ estampado em al-guns dos santinhos — e fica em Planaltinade Goiás (GO). O Pros é comandado na-cionalmente por Eurípedes Júnior, que,conforme os relatos de candidatos, teriaciência das supostas irregularidades e sebeneficiaria delas. Em outubro, ele foi alvoda Operação Partialis, deflagrada paracombater o desvio de recursos públicos naaquisição de gases medicinais em Brasíliae no Pará. De acordo com a Polícia Federal,os envolvidos no esquema desviaram R$ 2milhões em contratos com o setor público.

AdulteraçãoAo Correio, candidatos destacaram

diversas inconsistências nas prestaçõesde contas do partido, fato negado pelapresidência da sigla (leia mais na página22). Ex-presidente da Associação de Mo-radores deVicente Pires e Região, Gilber-to Camargos, 55 anos, tentou uma vagana Câmara Legislativa pelo Pros e se sur-preendeu com os valores indicados peladireção da legenda. O documento elabo-rado pelos contadores registrava mais deR$ 150 mil em materiais gráficos. Ca-margos se recusou a assinar, pois garan-te não ter recebido mais do que R$ 10mil em propaganda impressa.

Às pressas, elaborou uma nova presta-ção, entregue em janeiro deste ano, que in-clui uma declaração em que justifica oatraso e detalha a suposta tentativa defraude cometida pelo partido. O docu-mento, datado de 31 de janeiro, está dispo-nível no sistema doTSE.

Alguns dos concorrentes, em outra ver-tente, dizem ter aprovado as prestações decontas sob pressão. Eles contam que repre-sentantes do Pros argumentaram que a re-cusa em assinar os papéis poderia gerar

complicações sérias na Justiça Eleitoral.Outros afirmam ainda ter confiado

no partido e referendado a declaraçãosem conferir os valores. É o caso deAdriana Lourenço, 49. Cega, ela relataque assinou a prestação de contas semsaber o conteúdo real. Integrantes doPros não disponibilizaram a versão digi-tal, que poderia ser ouvida por meio derecursos de acessibilidade, tampoucodescreveram a íntegra da documenta-ção. “Eu confiei neles, mas, depois, ou-tras candidatas tiveram esse problema eeu imaginei que, se tinham feito comelas, também teriam feito comigo”, diz.

A datilógrafa Amazônica Brasil, 54,foi uma das candidatas que conver-saram com Adriana sobre a adulteração.“Sou servidora pública, estava em pro-cesso de aposentadoria. Deixar de fazera prestação poderia me prejudicar, fi-quei com medo”, conta. Ela e Adrianadizem ter se sentido sem saída. “O quefazer? Negar e depois ter que procuraradvogado e contador para fazer a decla-ração às pressas? Não temos recurso pa-ra isso. E ficaria sempre a nossa palavracontra a deles”, pontua Amazônica.

O ex-senador Hélio José — conhecidotambém como Hélio Gambiarra — a con-vidou para se candidatar, de acordo com adatilógrafa. Ela e Adriana contam que nãoforam mais atendidas por ele — que su-postamente saberia do esquema — de-pois de reclamar dos valores incomuns. Oex-senador ganhou destaque na capitalapós o vazamento de um áudio em quediz que poderia nomear “uma melancia”para cargos de confiança.

O servidor público Venceslau Guima-rães, 43, teve 690 votos nas eleições do anopassado. Apesar da tímida votação, con-tou com cerca de R$ 674 mil transferidospela sigla, tudo em recursos estimáveis.Em tese, gastou quase R$ 1 mil por voto.Tinha à disposição, segundo a prestaçãode contas, mais de 200 mil adesivos emeio milhão de santinhos, por exemplo.

O Pros declarou investimento deR$ 177 mil com materiais gráficos e orestante, em despesas de pessoal (“a es-pecificar”). Procurado pelo Correio, Ven-ceslau diz não se lembrar de valores exa-tos e não ter notado montante tão alto.“Eles me mandaram material e diziamque colocaram gente para trabalhar paramim em outras regiões. Mas eu não tinhacontrole disso, não tenho como saber seo custo foi esse ou não”, justifica. “Mas,de fato, tive, sim, gente trabalhando paramim porque minha votação foi em váriasregiões”, completa.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Fotos: TSE/Divulgação

Números dos 33 candidatos dalegenda que obtiveram menos

de mil votos

8.783.729Número de santinhos

5.989.812Quantidade de adesivos 10 x 30

3.225.156Número de botons

41.300Quantidade de adesivos 40 x 30

11.920Total de votos conquistados pelos

33 candidatos juntos

LEIA MAIS NA PÁGINA 22

Amazônica Brasil (E)e Adriana Lourençoquestionam prestaçãode contas do partido

Page 2: 771 1 1 A21-CID-2402 · C M Y K C M Y K ELEIÇÕES/Prestaçãodecontasdopartidogarante quealegendagastouR$5,7milhões“emrecursosestimáveis”,com33 candidatos quetiveramsomadosapenasO11

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22 • Cidades • Brasília, domingo, 24 de fevereiro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE

Esquemaalcançafederais

ELEIÇÕES / Candidata pelo Pros à Câmara dos Deputados confirma ao CCoorrrreeiioo que se recusou a assinar a prestação decontas apresentada pela sigla. Valores descritos pelo partido na documentação, garante, não condiziam com a realidade

Gastos menores com os eleitos

» ALEXANDRE DE PAULA» ANA VIRIATO

Osuposto esquema do Pros nãose limitou aos concorrentes àCâmara Legislativa, segundocandidatos ouvidos pelo Cor-

reio. Alguns dos nove nomes na disputapara deputado federal pelo DF tambémteriam recebido do partido recursos emmaterial gráfico incompatíveis com arealidade por meio das receitas estimá-veis em dinheiro.

A advogada Lineuda Ferreira de Me-lo (Lineuda da Sustentabilidade), 62anos, recusou-se a assinar os valoresapresentados pelo partido na docu-mentação que seria enviada à JustiçaEleitoral. “É uma vergonha a forma co-mo o Pros fez. Eles queriam que eu assi-nasse mais de R$ 200 mil sem ter recebi-do nada disso. Eles me pressionaram,mas não aceitei”, conta. “Como vou as-sinar uma prestação dessas se não rece-bi nada? Queriam dizer que recebi mi-lhares de santinhos e adesivos. Eu de-fendo a sustentabilidade, que sentidofaria, inclusive, usar isso?”, questiona.Até hoje, Lineuda segue sem encami-nhar ao TSE o detalhamento dos gastos.Isso porque, segundo ela, não teria con-dições financeiras de bancar os custoscom contadores e advogados.

Ela relata, ainda, ter sido enganadadurante a campanha com promessas deque receberia valoresem dinheiro para cus-tear gastos com mí-dias sociais. Os con-tratos, comenta, fo-ram firmados com for-necedores, mas o di-nheiro da sigla que se-ria utilizado para o pa-gamento jamais che-gou. “Eles me garanti-ram R$ 75 mil. E, de-pois, negaram, nuncame deram, fiquei en-dividada”, reclama. Asdívidas acumuladas eos empréstimos pes-soais de cerca de R$20 mil fizeram comque Lineuda fossediagnosticada comdepressão, segundo afilha dela, a consulto-

ra empresarial Bárbara Ferreira de Me-lo, 30. Ela foi responsável por coordenara campanha da mãe. “Ela se viu assimno meio do processo, como laranja deum partido”, observa.

Santinhos e adesivosAltos valores em receitas em recursos

estimáveis também aparecem nas con-tas do pastor Manoel Xavier e do ex-se-nador Hélio José. O 99º candidato a fe-

deral mais votado —com 13,9 mil votos —,o pastor recebeu R$469 mil nessa modali-dade de repasse. Se-gundo a prestação decontas, foram 1,3 mi-lhão de santinhos e223 mil adesivos. Hé-lio José ganhou maisde R$ 1 milhão pormeio de repasses des-se tipo e conquistou16,5 mil votos (97º co-locado). Segundo can-didatos ouvidos pelareportagem, o ex-par-lamentar sabia do es-quema.

O Correio não con-seguiu localizar o pas-tor Manoel Xavier pa-ra comentar o assun-

to. A reportagem ligou mais de uma vezpara a Assembleia de Deus de Brasília,da qual ele é vice-presidente, e deixourecado. Xavier, porém, não retornou asligações. Hélio José foi contatado viamensagem e por diversas ligações, maso ex-senador também não retornou atéo fechamento desta edição.

Partido negaPor meio da assessoria de imprensa,

o Pros afirmou desconhecer irregulari-dades nos recursos utilizados durante acampanha de 2018. A legenda alegouque a prestação de contas é responsabi-lidade de cada candidato e que cabe àJustiça Eleitoral, “por meio de seus me-canismos, averiguar a regularidade dosdados apresentados”.

A opção pelas transferências direta-

mente em material, segundo a sigla, ti-nha como objetivo evitar que candida-tos e candidatas aplicassem equivoca-damente os recursos. Na divisão dos re-passes, o Pros diz que “buscou investirtanto nos filiados já testados nas urnas,quanto em novas caras, de acordo coma indicação, em especial, dos candida-tos a deputado federal”.

A legenda confirma que o material,quase em sua totalidade, foi impressoem parque gráfico de propriedade daprópria sigla, “o que reduziu significati-vamente os gastos do partido com ma-terial gráfico”, acrescenta o comunica-do. Ainda de acordo com a assessoriade imprensa, o presidente nacional doPros, Eurípedes Júnior, desconhecequalquer irregularidade e aguarda, co-mo a legenda, a manifestação dos ór-gãos competentes.

A extravagância do investimento doPros em distritais que tiveram um de-sempenho pífio na capital federal ficamais clara quando comparada ao mon-tante gasto pela legenda com os depu-tados estaduais eleitos em outras uni-dades da Federação. O partido empla-cou 17 parlamentares em AssembleiasLegislativas. Desses, somente cinco re-ceberam mais do que R$ 172 mil, valormédio aplicado pela sigla ao supostomaterial de campanha dos 33 candida-tos a distritais que não chegaram a milvotos nas urnas, cada.

Os dados comprovam que eleger osestaduais saiu muito mais barato para oPros do que bancar a campanha dos de-putados com resultados fracos no DF.Entre os 17 vencedores, o partido inves-tiu, em média, R$ 120,9 mil. Na prática,isso significa que, em valores médios, alegenda gastou R$ 51 mil a menos comeles do que com os concorrentes do DF.

Em Goiás, estado que elegeu omaior número de deputados esta-duais pelo Pros, os três parlamentaresrecém-empossados receberam cifrassuperiores aos R$ 172 mil dos can-dangos. Mas, proporcionalmente, oinvestimento goiano é menor. O apoiode cada eleitor conquistado por elescustou bem menos à legenda do queR$ 479, valor médio dos votos obtidospelos candidatos brasilienses. Lá, oPros investiu cerca de R$ 14,84 porvoto nos três eleitos.

Estadual da legenda com melhor de-sempenho, o ex-vice-presidente da Sa-neamento de Goiás (Saneago) RubensMarques recebeu R$ 406.940 da legen-da. Desse montante, R$ 104.940 trata-ram-se de “receitas estimáveis em di-nheiro”. O valor custeou 3.870 santi-nhos, 10 adesivos, nove botons, lonapara o comitê, produção de programasde rádio e tevê, entre outros itens. Na

corrida eleitoral, ele conquistou 27.763eleitores ao custo de R$ 14,65, cada um.

NordesteO Nordeste escolheu quatro deputa-

dos estaduais do Pros. É da região o par-lamentar eleito que mais recebeu recur-sos da legenda. Trata-se de Vitor Valim,que assumiu uma cadeira na AssembleiaLegislativa do Ceará, com o apoio de63.641 eleitores. O partido injetou nacandidatura dele R$ 700.074. Ou seja, de-sembolsou R$ 11 por voto no cearense.

Valim é, ainda, o único deputado esta-dual do Pros que angariou mais recursosque Venceslau Guimarães, o brasilienseque recebeu R$ 674.797,49 em materialde campanha, segundo a prestação decontas do Pros à Justiça Eleitoral, masconseguiu somente 690 votos — cadaeleitor do brasiliense custou R$ 977.

No DF, o Pros elegeu um deputado

distrital, o delegado Fernando Fernan-des. Segundo candidato mais votado,teve o apoio de 29,4 mil eleitores. Rece-beu apenas R$ 20 mil do partido.Fernandes se licenciou para assumir aAdministração Regional de Ceilândia eTelma Rufino (Pros) ficou com a cadeirana Câmara Legislativa. A legenda inves-tiu R$ 324 mil na então distrital. No ca-so dela, porém, a maior parte da verbafoi, de fato, transferida em dinheiro pa-ra pagamento de pessoal.

Em 2018, a legenda recebeu cerca deR$ 1 milhão por mês do Fundo Partidá-rio, com descontos de valores bloquea-dos. Para 2019, a previsão mensal é deR$ 1,3 milhão. O Fundo Especial de Fi-nanciamento Eleitoral — criado paracompensar o fim das doações de em-presas às campanhas — injetou R$ 26milhões na legenda, no ano passado. Osdois caixas são abastecidos com recur-sos públicos.

Fraudes e irregularidades emprestações de conta podem ser alvode medidas judiciais tanto no âm-bito eleitoral quanto no penal, afir-ma o juiz titular do Tribunal Regio-nal Eleitoral (TRE) Erich Endrillo.Apesar de não poder comentar ca-sos concretos fora da Corte, ele ex-plica as consequências das irregu-laridades e detalha o modo como astransferências em recursos estimá-veis precisam ser comprovadas.

O que pode ser enquadradoem recursos estimáveis?

São materiais de campanha, imó-veis ocupados no período eleitoral eserviços prestados — como advocaciae contabilidade. A partir desses usos,estima-se quanto se gastou ou quantose gastaria com essas questões no ca-so em que não há recurso financeirodiretamente envolvido, como na doa-ção de prestação de serviços.

Como é a prestação de contadesse tipo de transferência?

A legislação dispensa os recibos ecomprovantes para gastos em sede ematerial gráfico com os candidatos.Então, primeiro, os partidos precisamapresentar uma contabilidade quevai mostrar as saídas. Depois, os can-didatos beneficiados com esses valo-res vão concordar com essa estimati-va feita pelo partido para assegurarque teriam recebido esses recursos,confirmando a entrada. Então, essecontrole é feito com a apresentaçãocontábil de saída pelo partido e deentrada pelo candidato.

Essa dispensa de recibos não criauma brecha para irregularidades?

A verdade é que toda dispensa deum documento fiscal deixa um vazio.Todavia, isso, talvez, possa ser mini-mizado com outros controles. Conta-bilmente, tudo tem de estar registra-do. Não significa necessariamenteuma porta aberta para muitas frau-des, porque é preciso essa apresenta-ção de entrada e saída.

A utilização de recursos de maneiradiferente do que está registrado naprestação de contas pode ter quaisconsequências?

Teoricamente, se nós constatar-mos, numa prestação de contas, quedeterminados valores ou documen-tos não correspondem à verdade, asconsequências jurídicas disso são vá-rias. Às vezes, existe uma suposta ver-dade contábil, que, depois de investi-gações, não se comprova na vida real.Do ponto de visto eleitoral, pode ha-ver desaprovação das contas. Doponto de vista penal, pode haver, emtese, crime de falsidade ideológica oualgo do gênero. A Justiça Eleitoral temsido muito atuante nesse sentido,com apoio dos órgãos de controle.

>> entrevistaERICHENDRILLO,desembargadoreleitoraldoTribunalRegionalEleitoral (TRE)

O que diz a lei

A Resolução nº 23.553/2017 — que dis-põe sobre a arrecadação e os gastos de re-cursos por partidos políticos e candida-tos e sobre a prestação de contas nas elei-ções — dispensa a apresentação de reci-bos e comprovantes para “doações esti-máveis em dinheiro entre candidatos epartidos políticos decorrentes do uso co-mum tanto de sedes quanto de mate-riais de propaganda eleitoral”. O textodiz que essas transferências precisamestar registradas nas despesas financei-ras na conta do partido e nas dos candi-datos beneficiados. O valor individuali-zado é apurado com “o rateio entre to-das as candidaturas beneficiadas, naproporção do benefício auferido”.

É uma vergonha aforma como o Prosfez. Eles queriamque eu assinassemais de R$ 200 milsem ter recebidonada disso. Eles mepressionaram, masnão aceitei”

Lineuda Ferreira de Melo(Lineuda da Sustentabilidade),candidata a deputada federalpelo Pros

17Deputados estaduais eleitos

pelo Pros em todo o Brasil

R$ 14,84Investimento médio do Pros por votonos três estaduais eleitos em Goiás

R$ 26 milhõesTotal do Fundo Especial de Financiamento

Eleitoral destinado ao partido

Reprodução/Facebook

Page 3: 771 1 1 A21-CID-2402 · C M Y K C M Y K ELEIÇÕES/Prestaçãodecontasdopartidogarante quealegendagastouR$5,7milhões“emrecursosestimáveis”,com33 candidatos quetiveramsomadosapenasO11

C M Y KCMYK

ELEIÇÕES / OTribunalRegional Eleitoral deGoiás julgou irregularesas contasdeumacandidatadoPros,mãedopresidenteda sigla,que fezdeclaração semelhanteàsdepolíticosdoDF.Os concorrentesgastaramR$5,3milhões e tiveramdesempenhopífio

Cidades+política e economianoDF Brasília, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE • 17

EEddiittoorreess:: José Carlos Vieira (Cidades) e Ana Maria Campos (Política)[email protected] e [email protected]

TTeellss.. :: 3214-1119/3214-1113/FFaaxx:: 3214-1185AAtteennddiimmeennttoo aaoo lleeiittoorr:: [email protected]

O helicóptero Robinson,utilizado porDona Cida na campanha, foi compradopelo Pros com dinheiro do fundo par-tidário.Em2017,o Correio mostrouqueaaeronave era usada por Eurípedes Júniorao menos duas vezes por semana paratrafegar de casa, em Planaltina de Goiás,paraBrasília— a80kmdedistância— eretornar.O Pros recebeu mensalmente R$1 milhão do Fundo Partidário em 2018,com descontos e valores bloqueados. OFundo de Financiamento Especial deCampanha destinou, também no passa-do,R$26milhões aopartido.

Memória

Denúncia de laranjasna mira da Justiça

» ALEXANDRE DE PAULA» ANA VIRIATO

NoDistrito Federal, o diretório nacio-nal do Pros injetoumilhões de reais nacandidatura de 33 candidatos àCâmaraLegislativa, comooCorreiomostrouon-tem.Todos eles, porém, tiveramdesem-penhopífio nas eleições do anopassadoe não receberam sequermil votos cadaum.Os repasses foram feitos aos candi-datos emmaterial de campanha, comnúmerosexorbitantes.Apropaganda im-pressa pela legenda para esses concor-rentes seria suficiente para que todos osmoradores doDF tivessem recebido di-versossantinhosebotons.Dariatambémpara colar três adesivos emcadaumdos1,7milhãodecarrosdacapital federal.Candidatos, no entanto, ao serem

questionados sobre os valores descritosna prestação de contas, garantiram aoCorreio que os números foram infladospela direção da legenda. O apoio compropaganda impressa, segundo eles, foimuito mais modesto — boa parte domaterial chegou poucos dias antes dopleito e a quantidade era significativa-mentemenor do que a declarada à Jus-tiça. Eles acreditam que a sigla tenhaembolsadoo valor alegado.

Omaterial de campanha descrito pe-lo Pros na prestação de contas chega aocusto total deR$ 5,7milhões.O valor in-clui poucomaisdeR$500mil emgastoscom advogados, contadores e despesasde pessoal. Para concretizar o repassemédio de R$ 172 mil em propagandaimpressa a cada candidato, opartido te-ria utilizado as chamadas“receitas esti-máveis em dinheiro” e se aproveitadode uma brecha na legislação eleitoral,que dispensa a apresentação de com-provantes e recibos na transferência devalores emmateriais de campanha.

ImpressãoOs 33 candidatos, juntos, conquista-

ramo apoio de 11,9mil eleitores. Consi-derando somente os R$ 5,7milhões emrecursos estimáveis, portanto, cada vototeria custado aos cofres públicos R$ 479.A gráfica responsável pela impressão demateriais é tambémadoprópriopartido—oque se comprova pelo CNPJ estam-pado em alguns dos santinhos— e ficaemPlanaltinadeGoiás (GO).Pormeio da assessoria de imprensa, o

Pros alegaque "as contas foramreprova-das em razão de umadivergência de en-tendimento doTRE-GO, que considerou

doações estimáveis em dinheiro comodoação financeira. Contudo, tal entendi-mento é objeto de recurso e, portanto,aindanãoédefinitivo".O partido afirmou desconhecer irre-

gularidades nos recursos utilizados du-rante a campanha de 2018. A legendaalegou que a prestação de contas é res-ponsabilidade de cada candidato e quecabe à Justiça Eleitoral, “por meio deseusmecanismos, averiguar a regulari-dade dos dados apresentados”.A opção pelas transferências direta-

mente emmaterial, segundo a sigla, ti-nha como objetivo evitar que candida-tos e candidatas aplicassem equivoca-damente os recursos. Na divisão dos re-passes, o Pros diz que “buscou investirtanto nos filiados já testados nas urnas,quanto emnovas caras”.A legenda confirma que o material,

quase em sua totalidade, foi impressoemparquegráficodepropriedadeda si-gla, “o que reduziu significativamenteos gastos do partido commaterial gráfi-co”, acrescenta o comunicado. Ainda deacordo com a assessoria de imprensa, opresidente nacional do Pros, EurípedesJúnior, desconhece qualquer irregulari-dade e aguarda, como a legenda, ama-nifestaçãodos órgãos competentes.

Despesas na gráfica do próprio partido

CassaçãoNão é a primeira vez que Dona Cidaenfrenta um imbróglio com a JustiçaEleitoral. Ela foi eleita vice-prefeita dePlanaltina de Goiás (GO) em 2016, mas achapa— que tinha como prefeito DavidAlves (também do Pros) -- foi cassada em2018, sob a acusação de compras de votos.Dona Cida não ficou inelegível porque aJustiça entendeu que a responsabilidadedas ações era apenas de Davi.

Segundo a Justiça Eleitoral, “as irre-gularidades apuradas abarcam cerca de66% damovimentação declarada pelacandidata”. Por isso, o TRE reprovou ascontas de Dona Cida e determinou adevolução da quantia de R$ 1,2milhãoaoTesouroNacional. Os representantesda candidata recorreramdadecisão.

Durante o processo, a defesa de Do-na Cida acrescentou inúmeros docu-mentos à prestação de contas e negouirregularidades. Ao entrar com recurso,os advogados contestaram a decisão dacorte e pediram a aprovação das contasda candidata, alémda suspensãodade-volução de verbas. “Tal conclusão nãose sustenta se analisados os esclareci-mentos e documentos trazidos aos au-tos”, acrescentou adefesa.

» ALEXANDRE DE PAULA

A s contasdecampanhadeMariaAparecida dos Santos, que noanopassadoconcorreuadepu-tada federal pelo Pros deGoiás,

foram reprovadas por unanimidade pe-la Justiça Eleitoral. As irregularidadesapontadas pelo Judiciário são similaresàs declaraçõesprestadaspor candidatosbrasilienses do Pros que tiveram vota-ção pífia e, ainda assim, gastaram R$ 5milhões. Além da semelhança com aspossíveis adulterações noDistrito Fede-ral, o caso revela aindaqueo suposto es-quema de repasses fraudulentos paracandidatos do partido também é umaquestão de família. Dona Cida, como échamadaMariaAparecida, émãedeEu-rípedes Júnior, presidente nacional dalegenda. O Correio mostrou ontemqueaprestaçãode contasdopartidodeclaragastos de R$ 5,7milhões com 33 candi-datos, todos commenos de 1mil votos.Pelosmenos oito deles negam ter rece-bidoa verbadodiretórionacional.

Dona Cida, que foi vice-prefeita dePlanaltina de Goiás, não venceumasconquistouoposto deprimeira suplenteda coligação, com38,8mil votos. O pro-blemaéque a Justiça Eleitoral encontroudiversas irregularidadesna avaliaçãodascontas da campanha, que custouR$ 1,8milhão. Do total gasto porDonaCida, oProsbancouquase tudo, injetandoR$1,7milhão na candidatura. Assim comonocasodos33candidatosadeputadodistri-tal, houve abundância de“recursos esti-máveis emdinheiro”, quando o partidofaz transferências diretas aos candidatosemserviços ematerial gráfico, por exem-plo. Na prática, nesses casos, não há re-passe financeiro da legenda para quemconcorre.ForamR$1,6milhão investidosassim pelo Pros com Dona Cida. Os re-cursos são custeados comdinheiro pú-blico pormeio dos fundos Partidário eEspecialdeFinanciamentoEleitoral.

Chamou a atenção da Justiça, alémde uma série de outros problemas, queparte considerável desses gastos nãopudesse ser comprovada com a análiseda contabilidade da campanha. A legis-lação dispensa a apresentação de reci-bos e comprovantes quando os recur-sos são utilizados para custos com sedeematerial gráfico, mas, ainda assim, épreciso apresentar documentação de-monstrando a entrada e a saída dositens. “Tais falhas são graves porque im-possibilitam a averiguação da regulari-dade da receita estimável, afetando atransparência e a confiabilidade dascontas”, diz trecho do voto do relator dojulgamento das contas da candidata, ojuiz LucianoMtaniosHanna.

A Justiça observou queR$ 768mil te-riam sido gastos com“créditos de paga-mento de pessoal” e R$ 129 mil, com“crédito de controle de cartão combus-tível”. Não houve, no entanto, compro-vação convincente. “Em nenhum doscasos, pode-se aferir a efetiva contrata-ção de cabos eleitorais ou de aquisiçãode combustível pelo partido político e aposterior cessão ou doação à candida-ta”, continua omagistrado.

Alvo de polêmicas envolvendo oPros, o helicópteroda legenda (vejaMe-mória) também foimotivo de avaliaçãopelo Tribunal Regional Eleitoral deGoiás. Dona Cida teria usado, duranteos 45 dias de campanha, 80 horas devoo da aeronave Robinson, no valor deR$ 295,4mil. Segundoa Justiça, os com-provantes, mais uma vez, são insufi-cientesparaatestarogasto.“Aprestado-ra de contas, em realidade, trouxe aosautos certificado da aeronave, registrosde voo e diários de bordo completa-mente ilegíveis”, destacouo juiz.

Tambémomaterial gráfico, principalfocodossupostosdesvioscomcandidatosdoDF, gerouproblemasnaprestaçãodecontas.ForamR$494mil,todosimpressosnagráficadopartido.Autilizaçãodopar-quegráficodoPros, entreoutras supostasartimanhas, fazia, naprática, comqueodinheiropúblico saíssedoPros e voltasseparaaprópria legenda.

Aeronave paga comdinheiro público

DonaCida e Eurípedes Júnior (dir): partido presidido pelo filho gastouR$ 1,7milhão coma candidatura da pastora

Reprodução/Facebook

Reprodução

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C M Y KCMYK

FRAUDE / Denúncias divulgadas pelo CCoorrrreeiioo ajudaram a embasar pedido do órgão para apuração de possíveis irregularidades naseleições. Partido, que destinou mais de R$ 5 milhões em material gráfico a 33 concorrentes, pode ter que devolver recursos

Laranjas do ProsNA MIRA DO MP

Cidades+ política e economia no DF Brasília, quinta-feira, 14 de março de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE • 19

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O QUE DIZ A LEI

Rateio de candidaturasAA rreessoolluuççããoo nnºº 2233..555533//22001177 — que dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos e candidatos e so-bre a prestação de contas nas eleições — dispensa a apresentação de recibos e comprovantes em “doações estimáveis em di-nheiro entre candidatos e partidos políticos decorrentes do uso comum tanto de sedes quanto de materiais de propaganda elei-toral”. O texto diz que essas transferências precisam estar registradas nas despesas financeiras na conta do partido e nas con-tas dos candidatos beneficiados. O valor individualizado é apurado com “o rateio entre todas as candidaturas beneficiadas, naproporção do benefício auferido”.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 20/02/19» ALEXANDRE DE PAULA

O s gastos milionários do Pros comcandidatos que tiveram votaçãopífia nas eleições de 2018 — revela-dos em reportagem do Correio —

estão na mira do Ministério Público e daJustiça Eleitoral. Levantamento feito combase nas prestações de contas entregues aoTribunal Superior Eleitoral (TSE) mostraque a direção nacional da legenda destinoumais de R$ 5 milhões em material gráfico a33 concorrentes a deputado distrital que,juntos, conquistaram apenas 11,9 mil votos.Mas muitos deles negam ter recebido o vo-lumoso apoio da sigla e acusam a direçãoda legenda de desviar os recursos.

O suposto esquema do partido se deupor meio da transferência de materiais grá-ficos para os candidatos, com gasto médiode R$ 172 mil para cada um dos 33. A farturados itens, custeados por recursos públicosdos Fundos Partidário e de FinanciamentoEspecial de Campanha (FEFEC), é tamanhaque seria possível, por exemplo, estamparpor três vezes todos os 1,7 milhão de auto-móveis da capital com os 6 milhões de ade-sivos que a legenda diz ter confeccionado.

Para concretizar as transações, o Pros te-ria usado uma brecha na legislação eleitoral,que dispensa a apresentação de compro-vante e de recebidos na transferência de va-lores em material de campanha. As transa-ções são apresentadas com“receitas estimá-veis em dinheiro”. Desse modo, na prática, apropaganda impressa — produzida em grá-fica do próprio partido — não precisava sercomprovada na prestação de contas.

Em 28 de fevereiro, três dias após a publi-cação das denúncias no Correio, o Ministé-rio Público emitiu parecer questionando osmétodos do partido e pedindo apuração rá-pida do caso à Justiça Eleitoral. O MP fez oposicionamento no processo de prestaçãode contas de Gilberto Camargos, um doscandidatos ouvidos pela reportagem. Ele serecusou a assinar a prestação de contas pro-duzida pelo Pros. Às pressas, elaborou umanova prestação, entregue em janeiro desteano, que inclui uma declaração em que jus-tifica o atraso e detalha a suposta tentativade fraude cometida pelo partido.

DepoimentoCom base na reportagem do Correio e

na justificativa de Camargos, o MP, em peti-ção assinada pelo procurador eleitoral JoséJairo Gomes, requereu ao Tribunal RegionalEleitoral a oitiva do candidato para esclare-cimentos dos fatos e a juntada da reporta-gem aos autos do processo de prestação decontas. O TRE-DF acatou o pedido e a au-diência está marcada para o próximo dia 28.“Entendo que a tomada de depoimento docandidato é medida necessária para escla-recer a verdade acerca dos gastos declara-dos com material de campanha, origináriosde recursos do Fundo Especial (FEFEC)”,escreveu o desembargador Telson Ferreira,ao aceitar o pedido.

A decisão vai na linha da solicitação feitapelo Ministério Público que destaca os indí-cios de irregularidade cometidas pelo parti-do no caso. Segundo o órgão, se a suspeitase confirmasse, ficaria constatado que opartido declarou “entrega de bens em volu-me superior ao que verdadeiramente seriadistribuído”. O MP levantou também a hipó-tese de superfaturamento dos valores gastosem material gráfico. “As irregularidades nar-radas, tanto pelo prestador de contas quan-to pela imprensa, merecem ágil e percucien-te apuração”, escreveu o procurador.

Ele ressaltou, como uma das justificati-vas, o expressivo repasse de recursos públi-cos ao partido. O Pros recebeu R$ 21 milhõesdo Fundo Especial de Financiamento deCampanha e R$ 17 milhões do Fundo Parti-dário apenas no ano de 2018. “O empregoilícito de tais recursos não exime os respon-sáveis (no caso, o Pros) e os beneficiários detais condutas (ou seja, seus candidatos) dascominações legais cabíveis, notadamentedo dever de restituir ao erário os valores uti-lizados indevidamente.”

AdulteraçõesAlguns dos candidatos ouvidos pelo Cor-

reio alegam ter assinado a prestação de con-tas sob pressão, coagidos pelo alerta de queteriam complicações sérias com a JustiçaEleitoral, caso deixassem de entregar os do-cumentos. É o caso de Adriana Lourenço, 49anos. Cega, ela relata que assinou a presta-ção de contas sem saber o conteúdo real. In-tegrantes do Pros não disponibilizaram aversão digital, que poderia ser ouvida pormeio de recursos de acessibilidade, tampou-co descreveram a íntegra da documentação.Ela teria recebido R$ 154 mil do partido emmaterial gráfico. Teve 190 votos e nega os va-lores tão altos. “Recebi pouquíssimo mate-rial e tudo em cima da hora da eleição”, disse.

A datilógrafa Amazônica Brasil, 54, foiuma das candidatas que alertou Adriana dapossível adulteração. Ela, no entanto, diz terassinado a prestação de contas por medo.“Sou servidora pública, estava em processode aposentadoria. Deixar de fazer a presta-ção porque poderia me prejudicar”, contou.Ela e Adriana dizem se sentir impotentes. “Oque fazer? Negar e depois ter que procuraradvogado e contador para fazer a declara-ção às pressas? Não temos recurso para isso.E ficaria sempre a nossa palavra contra a de-les”, ponderou Amazônica. O partido desti-nou R$ 179 mil à ela, que teve 347 votos.

Irregularidades muito similares as que te-riam sido praticadas no DF causaram a re-provação das contas de uma candidata a de-putada federal de Goiás do Pros, Dona Cida.Mãe de Eurípedes Júnior, presidente nacio-nal da legenda, ela recebeu R$ 1,7 milhão dopartido. Chamou a atenção da Justiça, alémde outros problemas, que parte consideráveldesses gastos não pudesse ser comprovadacom a análise da contabilidade da campa-nha. O caso ainda está em fase de recursos.

No DF, o Pros elegeu um deputado distri-tal, o delegado Fernando Fernandes. Segun-do mais votado, recebeu 29,4 mil votos e ape-nas R$ 20 mil do partido. Fernandes se licen-ciou para assumir a Administração Regionalde Ceilândia eTelma Rufino (Pros) ficou coma cadeira na Câmar. A legenda investiu R$324 mil nela. No caso dela, porém, a maiorparte da verba foi transferida, de fato, direta-mente em dinheiro para pagamento de pes-soal e não em recursos estimáveis.

8.783.729NNúúmmeerroo ddee

ssaannttiinnhhooss iimmpprreessssooss

5.989.812QQuuaannttiiddaaddee ddee

aaddeessiivvooss 1100 xx 3300

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11.920TToottaall ddee vvoottoossccoonnqquuiissttaaddooss

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MATERIAL SUSPEITO

Ministério Público emitiu parecer questionando os métodos do partido e pedindo apuração rápida do caso

Partido negairregularidade

O Pros afirma desconhecer irregularida-des nos recursos públicos usados durante acampanha de 2018. A legenda alega que aprestação de contas é responsabilidade decada candidato e que cabe à Justiça Eleitoral,“por meio de seus mecanismos, averiguar aregularidade dos dados apresentados”.

A opção pelas transferências direta-mente em material, segundo a sigla, tinhacomo objetivo evitar que candidatos ecandidatas aplicassem equivocadamenteos recursos. Na divisão dos repasses, o Prosdiz que “buscou investir tanto nos filiadosjá testados nas urnas, quanto em novas ca-ras, de acordo com a indicação, em espe-cial, dos candidatos a deputado federal”.

A legenda confirma que o material, quaseem sua totalidade, foi impresso em parquegráfico de propriedade da própria sigla. “Oque reduziu significativamente os gastos dopartido com material gráfico”, acrescenta ocomunicado. Ainda de acordo com a asses-soria de imprensa, o presidente nacional doPros, Eurípedes Júnior, desconhece qualquerirregularidade e aguarda, como a legenda, amanifestação dos órgãos competentes.

Sobre o julgamento das contas de DonaCida, o Pros alega que“as contas foram repro-vadas em razão de uma divergência de enten-dimento do TRE-GO, que considerou doa-ções estimáveis em dinheiro como doação fi-nanceira. Contudo, tal entendimento é objetode recurso e, portanto, ainda não é definitivo”.

As candidatasAmazônica e AdrianaLourenço dizem servítimas do partido

Page 5: 771 1 1 A21-CID-2402 · C M Y K C M Y K ELEIÇÕES/Prestaçãodecontasdopartidogarante quealegendagastouR$5,7milhões“emrecursosestimáveis”,com33 candidatos quetiveramsomadosapenasO11

C M Y KCMYK

DepoisdequestionamentodoMPàJustiçaEleitoral,PolíciaFederalabre inquéritosobresupostosdesvioscometidospelasiglanaseleiçõesde2018.NoDF,asuspeitaédequeaprestaçãodecontasde,aomenos,33candidatostenhasidoadulterada.Alegendanegaacusações

PF investigaesquema do Pros

Cidades+política e economianoDF Brasília, sexta-feira, 27 de setembro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE • 17

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8.783.729Número de santinhos impressos

para os 33 candidatos

5.989.812Quantidade deadesivos 10 x 30

3.225.156Quantidadede botons

41.300Número de

adesivos 40 x 30

11.920Total de votos conquistados pelos 33

candidatos

Suspeitaemoutrosestados

O suposto esquema de super-faturamento nas prestações decontas de diversos concorrentesdo Pros a deputado distrital, naseleições de 2018, repete-se em es-tados como São Paulo e Goiás.Nas campanhas nos estados, as-sim como no DF, a sigla tambémé suspeita de inflar os númerosdo material gráfico repassadoaos candidatos. Em Goiás, cha-ma a atenção o caso de uma con-corrente a deputada estadualque recebeu R$ 217 mil do parti-do em peças de propaganda. Aprestação de contas mostra que aconcorrente contou com 1 mi-lhão de santinhos. Apesar disso,conquistou somente 103 votos.

Para saber mais

Métodosquestionados

Em 28 de fevereiro,três dias apósa publicação das denúncias noCorreio, o Ministério Público emi-tiu parecer questionando os méto-dos do partido e pedindo apuraçãorápida do caso à Justiça Eleitoral. OMP fez o posicionamento no pro-cesso de prestação de contas de Gil-berto Camargos, um dos candida-tos ouvidos pela reportagem. Ele serecusou a assinar a prestação decontas produzida pelo Pros.Às pres-sas, elaborou uma declaração emque justifica o atraso e detalha a su-posta tentativa de fraude cometidapelo partido. Com base na reporta-gem do jornal e na justificativa deCamargos,o MP,em petição assina-da pelo procurador eleitoral JoséJairo Gomes, requereu, à época, aoTribunal Regional Eleitoral a oitivado candidato para esclarecimentos.No mesmo período, o órgão solici-tou audiência com Marizete Perei-ra, cujo processo deu origem ao in-quérito da Polícia Federal.

MEMÓRIAALEXANDREDEPAULA

Gastos milionários do Proscomcandidatos a deputa-do distrital na campanhade2018sãofocodamirada

Polícia Federal, que abriu inquéri-topara investigar supostosdesviose superfaturamento cometidospela sigla nas eleições do anopas-sado.Aapuração temcomobaseocasodaconcorrenteadistritalMa-rizete Pereira. Ela é, conforme re-velou o Correio em fevereiro, umdos 33 candidatos do partido quereceberam juntos R$ 5,7milhõesemmaterial gráfico, segundo asprestações de contas entregues àJustiça Eleitoral. Somados, elesconquistaramapenas 11,9mil vo-tos.Muitos deles, comoMarizete,negam ter recebido o recurso eacusam a direção da legenda dedesviar os valores, oriundos dosfundos Partidários e Financia-mentoEspecialdeCampanha.

O gasto médio da sigla comcada um dos 33 candidatos foideR$172mil. A farturados itens,custeados por recursos públicos,é tamanha que seria possível es-tampar por três vezes todos os1,7 milhão de automóveis da ca-pital federal comos 6milhões deadesivos que a legenda diz terconfeccionado, em gráfica pró-pria, para os concorrentes.

O inquérito policial foi abertopouco tempodepois de odesem-bargador Telson Ferreira, do Tri-bunal Regional Eleitoral (TRE-DF), expedir, em agosto, manda-dos de busca e apreensão para asede do partido, no Lago Sul, epara a gráfica da legenda, emPla-naltina de Goiás. O MinistérioPúblico se manifestou, no pro-cesso, solicitando que omaterialapreendido fosse encaminhadopara a PF. Os documentos queautorizaramaabertura do inqué-rito estão sob sigilo.

O Correio obteve, com exclu-sividade, cópia do termo do de-poimento à PF do secretário na-cional de Multiculturalismo eIgualdade Racial da legenda, Ed-milsonBoaMorte. Ele coordenouas campanhas do Pros noDF em2018. Ele nega qualquer envolvi-mento direto com os desvios,mas confirmou o esquema e de-talhou de quemaneira as supos-tas irregularidades seriam come-tidas pelo presidente do partido,Eurípedes Júnior.

SegundoodepoimentodeBoaMorte, Eurípedes solicitava que atiragem registrada nomaterial decampanha fossemuito superior àque de fato era produzida. Alémdisso, ele confirmou, ao depor,que os produtos gráficos recebi-dos porMarizete Pereira e outroscandidatos forammuitomenoresdo que os declarados posterior-mentenasprestaçõesde contas.

Assim comoMarizete, candi-datos relatam ter sofrido coaçãopara assinar a prestação de con-tas supostamente adulteradas. Éo caso de Adriana Lourenço, 49anos. Cega, ela relata que assinoua prestação de contas sem sabero conteúdo real. Integrantes doPros não disponibilizaram a ver-

OBS:Combasenaprestaçãodecontasdos33candidatosaoTSE

Amazônica Brasil e Adriana Lourenço: candidatas negam ter recebido a quantidade dematerial gráfico para a campanhade 2018

são digital, que poderia ser ouvi-da pormeio de recursos de aces-sibilidade, tampouco descreve-ram a íntegra da documentação.Ela teria recebido R$ 154 mil dopartido emmaterial gráfico.Teve190 votos e nega ter gasto valorestão altos na campanha. Tambémcandidata, a datilógrafa Amazô-nica Brasil, 54, alertouAdriana dapossível adulteração. Ela, no en-tanto, diz ter assinado a presta-ção de contas pormedo.

Cabos eleitoraisDe acordo como depoimento

de BoaMorte, o esquema de des-vios do Pros nas eleições do ano

passado vai alémdo superfatura-mento dematerial gráfico. Segun-do ele, a sigla inflou valores repas-sados aos candidatos comcartõesde crédito, usados sobretudoparabancar despesas de pessoal e decombustível. O número seria,conformeosecretário,muitomaisalto doqueo valor a que os candi-datos, de fato, tiveramacesso.

Os cabos eleitorais seriam, se-gundo ele, a chave para um es-quema de laranjas e desvios dosvalores. Isso porque, na maioriados recibos, constaria o nome eos dados de pessoas que jamaistrabalharam nas campanhas defato. Além disso, a maioria doscandidatos, diz o secretário, não

teria usado os cartões para essetipo depagamento.

O ex-senador Hélio José, queconcorreu adeputado federal pe-lo partido, está entre os intima-dos para depor pela Polícia Fede-ral. Na prestação de contas dele,se destacam os gastos com pes-soal. Ele recebeu, por meio decartão, cerca de R$ 400 mil parabancar esse tipo de despesa. AoCorreio, diz que se manifestarásobre as questões na Justiça. “Eue os meus advogados vamos ol-har todos os detalhes e nos posi-cionar sobre isso quando formosouvidos. Daminha parte, tenhoconsciência tranquila de quesempre fui ético. A prestação de

contas é responsabilidade dopartido, pois foi feita por ele.”

Outro ladoEmnota enviada pela assesso-

ria de imprensa, a presidência doPros afirmou que tem segurançaacerca da lisura dos atos e de quetodos procedimentos, mesmocom inovação, respeitaram aspremissas legais. “Porém, o parti-doaindanão teve total acessoaosautos para respondermais deta-lhadamente”, diz o texto.

“O Pros acredita que a presta-çãodecontasédeextrema impor-tância para garantir a transparên-cia nas campanhas eleitorais e,

portanto,nãodeveria ter sigilode-cretado, sem sequer dar acesso aopróprio partido, que sofreu exces-sos pormeio demandadodebus-caeapreensão”, complementa.

O Pros afirma que desconheceo andamento do inquérito, tam-bém em sigilo, “em virtude domesmo fator, ou seja, a falta deacesso”. A sigla informa que pro-tocolou, na quarta-feira, um re-querimento que ainda não foianalisadopelaautoridadepolicialresponsável. “Neste sentido, oPros reiteraquedesconhecequal-quer atitude de malversação derecursos na campanha eleitoral econtinuará aguardando a apura-çãodosórgãos competentes.”

PF fez busca e apreensão, a pedido doTRE, na sede do partido emagosto, à procura de documentos que comprovema irregularidade nas eleições

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 20/2/19

Ana Rayssa/CB/D.A Press - 15/8/19

Page 6: 771 1 1 A21-CID-2402 · C M Y K C M Y K ELEIÇÕES/Prestaçãodecontasdopartidogarante quealegendagastouR$5,7milhões“emrecursosestimáveis”,com33 candidatos quetiveramsomadosapenasO11

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ELEIÇÕES 2018 / Documentos colhidos embusca e apreensão na sede do partido e emumagráfica são, segundo a investigaçãodaPolícia Federal, contundentes e indicam irregularidades sistêmicas emprestações de contas no ano passado

PF reforça suspeita desuperfaturamento do Pros

Cidades+política e economianoDF Brasília, quinta-feira, 7 de novembro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE • 17

EEddiittoorreess:: José Carlos Vieira (Cidades) e Ana Maria Campos (Política)[email protected] e [email protected]

TTeellss.. :: 3214-1119/3214-1113/FFaaxx:: 3214-1185AAtteennddiimmeennttoo aaoo lleeiittoorr:: [email protected]

Suspeitosnos estados

O suposto esquema de su-perfaturamento nas presta-ções de contas de diversos con-correntes do Pros a deputadodistrital, nas eleições de 2018,repete-se em estados como SãoPaulo e Goiás. Em Goiás, cha-ma a atenção o caso de umaconcorrente a deputada esta-dual que ganhou R$ 217 mildo partido em peças de propa-ganda. A prestação de contasmostra que a concorrente rece-beu 1 milhão de santinhos.Apesar disso, conquistou so-mente 103 votos.

Para sabermais

Memória

8.783.729Númerodesantinhos impressos

paraos33candidatos

5.989.812Quantidadedeadesivos

comformato10cmx30cm

3.225.156Quantidadedebótons

41,3milNúmerodeadesivos comformato40cmx30cm

11.920Totaldevotosconquistados

pelos33candidatos

Amazônica Brasil e Adriana Lourenço: candidatas a deputada distrital nas últimas eleições negam repasses do Pros

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 20/2/19

A Polícia Federal recolheu os documentos em busca e apreensão na sede do partido em agosto

Ana Rayssa/CB/D.A Press - 15/8/19

» ALEXANDRE DE PAULA

P rovas e documentos ana-lisados pela Polícia Fede-ral reforçam a suspeita dequeoPros adulteroue su-

perfaturou as contas de diversoscandidatos nas eleições de 2018.Um relatório da PF encaminhadoao Tribunal Regional Eleitoral(TRE) no Distrito Federal afirmaque o material é contundente eindica que houve irregularidadesistêmica na prestação de dadosdos concorrentes da legenda emvárias unidadesdaFederação. Emfevereiro, o Correio revelou que33candidatos adeputadodistritalda sigla, com votação tímida, re-ceberamR$ 5,7milhões do parti-do emmaterial gráfico, segundoos registros apresentados pelalegenda. Ouvidos pela reporta-gem, no entanto, parte dos con-correntes nega os valores apre-sentados pelo Pros. O dinheiro éfruto de recursos públicos dosfundos eleitoral e partidário.

Para concretizar o repasse, oPros teria utilizado uma brechana legislação eleitoral quedispen-sa a apresentaçãode recibos eno-tas fiscais quando partidos entre-gammaterial gráfico diretamentepara o candidato. No Distrito Fe-deral, o gasto médio com os 33concorrentes destacados no le-vantamento do Correio foi de R$172mil. No total, eles conquista-ram 11,9 mil votos. A fartura foitanta que eles receberam quase 6milhões de adesivos, o suficientepara estampar pelo menos trêsvezes cada automóvel da frota doDF, de 1,7milhãode veículos.

Os documentos analisados pe-laPF foramrecolhidos embusca eapreensão na sede do partido, noLago Sul, e na gráfica do Pros, emPlanaltina de Goiás. Os manda-dos foramexpedidos pelo desem-bargador do TRETelson Ferreirano âmbito do processo de presta-ção de contas da candidata a dis-trital Marizete Pereira. Segundo orelatório feito após a análise domaterial, à qual o Correio teveacesso, os documentos indicamregistros de vultosas quantias emdoação eleitoral estimada em di-nheiro referente a produtos gráfi-cos cuja entrega aos candidatosnãopôde ser confirmada.

No relatório, o delegado à fren-te do inquérito da PF, Manoel daVieira da Paz Filho, sugere a re-messadomaterial aoTribunal Su-perior Eleitoral (TSE) para que aCorte tome “as providências quejulgar necessárias”. As suspeitaspassaram a envolver candidatosde outras unidades da Federação(veja Para saber mais). Outra su-gestão é a entrega dos documen-tos para o procurador regionaleleitoral para que, “entendendo,requisite a instauração de tantoquantos inquéritospoliciaisacharnecessário, visando apurar espe-cificamente possíveis falsidadesde registro de receitas e despesasnas respectivas prestações decontas eleitorais de cada candida-to doPros noDF, emque visualizepossível irregularidade”.

Candidatos ouvidos pela re-portagem relatam ter sofrido coa-ção para assinar a prestação decontas supostamente adulterada.É o caso de Adriana Lourenço, 49anos. Cega, ela diz que assinou a

prestação de contas sem saber oconteúdo real. Integrantes doPros não disponibilizaram a ver-sãodigital, quepoderia serouvidapor Adriana pormeio de recursosde acessibilidade, tampouco des-creveram a íntegra da documen-tação. Ela teria recebido R$ 154mil do partido emmaterial gráfi-co. Teve 190 votos e nega valorestão altos. Também candidata, adatilógrafa Amazônica Brasil, 54,alertou Adriana da possível adul-teração.Mas ela diz ter assinado aprestação de contas pormedo.

CartõesAlémdas transferênciasdema-

terial gráfico, há “fortes indícios”de desvios de recursos para gastoscom pessoal e combustíveis, se-gundoaPF.Esse tipodepagamen-to foi centralizado em cartões decrédito. “Há informações, aindaem apuração, que indicam quetais pagamentos não ocorreramda forma registradapara as pesso-as registradas nas respectivasprestaçõesdecontasdos candida-tos do Pros, bem comonão houveo correspondente pagamento decombustível para os veículos re-gistrados falsamente nas presta-ções de contas de alguns candida-tos”, diz trecho do texto assinadopelodelegadoManoel.

A suposta fraude nos cartõesfoi levantada pelo secretário naci-onal deMulticulturalismoe Igual-dade Racial da legenda, EdmilsonBoa Morte. Ao Correio, ele afir-mou que a sigla inflou valores re-passados aos candidatos comcartões de crédito, usados sobre-tudo para bancar as despesas depessoal e de combustível. O nú-mero seria, conforme ele,mais al-to do que o valor a que os concor-rentes, de fato, tiveramacesso.

Edmilson nega qualquer en-volvimentodireto comosdesvios,mas confirmou o esquema noscartões e na prestação de contas.Emdepoimento à Polícia Federal,ele detalhou que, namaioria dosrecibos, constaria onomeeos da-dos de pessoas que jamais traba-lharamnas campanhas eleitorais.Além disso, a maior parte doscandidatos, diz o secretário, nãousou os cartões para esse tipo depagamento. Há também um in-quérito aberto para apurar as fa-lhas emâmbito criminal.

Partido negaEm outubro, o Pros fez recla-

mação ao SupremoTribunal Fe-deral (STF) contra a atuação dodesembargador que relata o pro-cesso de prestação de contas deMarizete Pereira. Segundo a sigla,odesembargador ofendeuaauto-ridade do STF ao negar acesso aelementos de prova produzidosnoprocesso.Ocasoestánasmãosdoministro GilmarMendes, quepediu informações aoTREnoDF.

Até o fechamento desta edição,opartidonão retornouosquestio-namentos da reportagem. Emno-ta enviada ao Correio em setem-bro, a sigla negou todas as irregu-laridades. “O Pros reitera que des-conhece qualquer atitude demal-versação de recursos na campa-nha eleitoral e continuará aguar-dando a apuração dos órgãoscompetentes”, informavao texto.

Denúnciaem fevereiro

Em 28 de fevereiro, três dias após a publicação dasdenúncias no Correio Braziliense, o Ministério Públi-co emitiu parecer questionando os métodos do partidoe pedindo apuração rápida do caso à Justiça Eleitoral.O MP fez o posicionamento no processo de prestaçãode contas de Gilberto Camargos, um dos candidatosouvidos pelo jornal. Ele se recusou a assinar a presta-ção de contas produzida pelo Pros. Às pressas, elabo-rou uma declaração em que justifica o atraso e deta-lha a suposta tentativa de fraude cometida pelo parti-do. Com base nas reportagens do Correio e na justifi-cativa de Camargos, o MP, em petição assinada peloprocurador eleitoral José Jairo Gomes, requereu, à épo-ca, ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a oitiva docandidato para esclarecimentos. No mesmo período, oórgão solicitou audiência com Marizete Pereira, cujoprocesso deu origem ao inquérito da Polícia Federal.