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7280 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N. o 249 — 29 de Dezembro de 2005 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Lei n. o 58/2005 de 29 de Dezembro Aprova a Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n. o 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Con- selho, de 23 de Outubro, e estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161. o da Constituição, o seguinte: CAPÍTULO I Disposições gerais Artigo 1. o Objectivos 1 — A presente lei estabelece o enquadramento para a gestão das águas superficiais, designadamente as águas interiores, de transição e costeiras, e das águas sub- terrâneas, de forma a: a) Evitar a continuação da degradação e proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos ecossis- temas aquáticos, no que respeita às suas neces- sidades de água; b) Promover uma utilização sustentável de água, baseada numa protecção a longo prazo dos recursos hídricos disponíveis; c) Obter uma protecção reforçada e um melho- ramento do ambiente aquático, nomeadamente através de medidas específicas para a redução gradual e a cessação ou eliminação por fases das descargas, das emissões e perdas de subs- tâncias prioritárias; d) Assegurar a redução gradual da poluição das águas subterrâneas e evitar o agravamento da sua poluição; e) Mitigar os efeitos das inundações e das secas; f) Assegurar o fornecimento em quantidade sufi- ciente de água de origem superficial e subter- rânea de boa qualidade, conforme necessário para uma utilização sustentável, equilibrada e equitativa da água; g) Proteger as águas marinhas, incluindo as ter- ritoriais; h) Assegurar o cumprimento dos objectivos dos acordos internacionais pertinentes, incluindo os que se destinam à prevenção e eliminação da poluição no ambiente marinho. 2 — A presente Lei da Água assegura a transposição da Directiva n. o 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro, que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água. Artigo 2. o Âmbito 1 — A presente lei tem por âmbito de aplicação a totalidade dos recursos hídricos referidos no n. o 1 do artigo anterior qualquer que seja o seu regime jurídico, abrangendo, além das águas, os respectivos leitos e mar- gens, bem como as zonas adjacentes, zonas de infiltração máxima e zonas protegidas. 2 — O disposto na presente lei não prejudica a apli- cação dos regimes especiais relativos, nomeadamente, às águas para consumo humano, aos recursos hidro- minerais geotécnicos e águas de nascente, às águas des- tinadas a fins terapêuticos e às águas que alimentem piscinas e outros recintos com diversões aquáticas. Artigo 3. o Princípios 1 — Para além dos princípios gerais consignados na Lei de Bases do Ambiente e dos princípios consagrados nos capítulos seguintes da presente lei, a gestão da água deve observar os seguintes princípios: a) Princípio do valor social da água, que consagra o acesso universal à água para as necessidades humanas básicas, a custo socialmente aceitável, e sem constituir factor de discriminação ou exclusão; b) Princípio da dimensão ambiental da água, nos termos do qual se reconhece a necessidade de um elevado nível de protecção da água, de modo a garantir a sua utilização sustentável; c) Princípio do valor económico da água, por força do qual se consagra o reconhecimento da escas- sez actual ou potencial deste recurso e a neces- sidade de garantir a sua utilização economica- mente eficiente, com a recuperação dos custos dos serviços de águas, mesmo em termos ambientais e de recursos, e tendo por base os princípios do poluidor-pagador e do utiliza- dor-pagador; d) Princípio de gestão integrada das águas e dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados e zonas húmidas deles directamente dependen- tes, por força do qual importa desenvolver uma actuação em que se atenda simultaneamente a aspectos quantitativos e qualitativos, condição para o desenvolvimento sustentável; e) Princípio da precaução, nos termos do qual as medidas destinadas a evitar o impacte negativo de uma acção sobre o ambiente devem ser adop- tadas, mesmo na ausência de certeza científica da existência de uma relação causa-efeito entre eles; f) Princípio da prevenção, por força do qual as acções com efeitos negativos no ambiente devem ser consideradas de forma antecipada por forma a eliminar as próprias causas de alte- ração do ambiente ou reduzir os seus impactes quando tal não seja possível; g) Princípio da correcção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e da imposição ao emissor poluente de medidas de correcção e recuperação e dos respectivos custos; h) Princípio da cooperação, que assenta no reco- nhecimento de que a protecção das águas cons- titui atribuição do Estado e dever dos par- ticulares; i) Princípio do uso razoável e equitativo das bacias hidrográficas partilhadas, que reconhece aos Estados ribeirinhos o direito e a obrigação de

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7280 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Lei n.o 58/2005de 29 de Dezembro

Aprova a Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacionala Directiva n.o 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Con-selho, de 23 de Outubro, e estabelecendo as bases e o quadroinstitucional para a gestão sustentável das águas.

A Assembleia da República decreta, nos termos daalínea c) do artigo 161.o da Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I

Disposições gerais

Artigo 1.o

Objectivos

1 — A presente lei estabelece o enquadramento paraa gestão das águas superficiais, designadamente as águasinteriores, de transição e costeiras, e das águas sub-terrâneas, de forma a:

a) Evitar a continuação da degradação e protegere melhorar o estado dos ecossistemas aquáticose também dos ecossistemas terrestres e zonashúmidas directamente dependentes dos ecossis-temas aquáticos, no que respeita às suas neces-sidades de água;

b) Promover uma utilização sustentável de água,baseada numa protecção a longo prazo dosrecursos hídricos disponíveis;

c) Obter uma protecção reforçada e um melho-ramento do ambiente aquático, nomeadamenteatravés de medidas específicas para a reduçãogradual e a cessação ou eliminação por fasesdas descargas, das emissões e perdas de subs-tâncias prioritárias;

d) Assegurar a redução gradual da poluição daságuas subterrâneas e evitar o agravamento dasua poluição;

e) Mitigar os efeitos das inundações e das secas;f) Assegurar o fornecimento em quantidade sufi-

ciente de água de origem superficial e subter-rânea de boa qualidade, conforme necessáriopara uma utilização sustentável, equilibrada eequitativa da água;

g) Proteger as águas marinhas, incluindo as ter-ritoriais;

h) Assegurar o cumprimento dos objectivos dosacordos internacionais pertinentes, incluindo osque se destinam à prevenção e eliminação dapoluição no ambiente marinho.

2 — A presente Lei da Água assegura a transposiçãoda Directiva n.o 2000/60/CE, do Parlamento Europeue do Conselho, de 23 de Outubro, que estabelece umquadro de acção comunitária no domínio da políticada água.

Artigo 2.o

Âmbito

1 — A presente lei tem por âmbito de aplicação atotalidade dos recursos hídricos referidos no n.o 1 do

artigo anterior qualquer que seja o seu regime jurídico,abrangendo, além das águas, os respectivos leitos e mar-gens, bem como as zonas adjacentes, zonas de infiltraçãomáxima e zonas protegidas.

2 — O disposto na presente lei não prejudica a apli-cação dos regimes especiais relativos, nomeadamente,às águas para consumo humano, aos recursos hidro-minerais geotécnicos e águas de nascente, às águas des-tinadas a fins terapêuticos e às águas que alimentempiscinas e outros recintos com diversões aquáticas.

Artigo 3.o

Princípios

1 — Para além dos princípios gerais consignados naLei de Bases do Ambiente e dos princípios consagradosnos capítulos seguintes da presente lei, a gestão da águadeve observar os seguintes princípios:

a) Princípio do valor social da água, que consagrao acesso universal à água para as necessidadeshumanas básicas, a custo socialmente aceitável,e sem constituir factor de discriminação ouexclusão;

b) Princípio da dimensão ambiental da água, nostermos do qual se reconhece a necessidade deum elevado nível de protecção da água, de modoa garantir a sua utilização sustentável;

c) Princípio do valor económico da água, por forçado qual se consagra o reconhecimento da escas-sez actual ou potencial deste recurso e a neces-sidade de garantir a sua utilização economica-mente eficiente, com a recuperação dos custosdos serviços de águas, mesmo em termosambientais e de recursos, e tendo por base osprincípios do poluidor-pagador e do utiliza-dor-pagador;

d) Princípio de gestão integrada das águas e dosecossistemas aquáticos e terrestres associadose zonas húmidas deles directamente dependen-tes, por força do qual importa desenvolver umaactuação em que se atenda simultaneamente aaspectos quantitativos e qualitativos, condiçãopara o desenvolvimento sustentável;

e) Princípio da precaução, nos termos do qual asmedidas destinadas a evitar o impacte negativode uma acção sobre o ambiente devem ser adop-tadas, mesmo na ausência de certeza científicada existência de uma relação causa-efeito entreeles;

f) Princípio da prevenção, por força do qual asacções com efeitos negativos no ambientedevem ser consideradas de forma antecipadapor forma a eliminar as próprias causas de alte-ração do ambiente ou reduzir os seus impactesquando tal não seja possível;

g) Princípio da correcção, prioritariamente na fonte,dos danos causados ao ambiente e da imposiçãoao emissor poluente de medidas de correcçãoe recuperação e dos respectivos custos;

h) Princípio da cooperação, que assenta no reco-nhecimento de que a protecção das águas cons-titui atribuição do Estado e dever dos par-ticulares;

i) Princípio do uso razoável e equitativo das baciashidrográficas partilhadas, que reconhece aosEstados ribeirinhos o direito e a obrigação de

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7281

utilizarem o curso de água de forma razoávele equitativa tendo em vista o aproveitamentooptimizado e sustentável dos recursos, consis-tente com a sua protecção.

2 — A região hidrográfica é a unidade principal deplaneamento e gestão das águas, tendo por base a baciahidrográfica.

Artigo 4.o

Definições

Para efeitos de aplicação da presente lei, entende-sepor:

a) «Abordagem combinada» o controlo das des-cargas e emissões em águas superficiais, deacordo com a abordagem definida no artigo 53.o;

b) «Águas costeiras» as águas superficiais situadasentre terra e uma linha cujos pontos se encon-tram a uma distância de 1 milha náutica, nadirecção do mar, a partir do ponto mais próximoda linha de base a partir da qual é medida adelimitação das águas territoriais, estenden-do-se, quando aplicável, até ao limite exteriordas águas de transição;

c) «Águas de transição» as águas superficiais naproximidade das fozes dos rios, parcialmentesalgadas em resultado da proximidade de águascosteiras mas que são também significativa-mente influenciadas por cursos de água doce;

d) «Águas destinadas ao consumo humano» todaa água no seu estado original, ou após trata-mento, destinada a ser bebida, a cozinhar, àpreparação de alimentos ou a outros fins domés-ticos, independentemente da sua origem e deser ou não fornecida a partir de uma rede dedistribuição, de camião ou navio-cisterna, emgarrafas ou outros recipientes, com ou sem finscomerciais, bem como toda a água utilizada naindústria alimentar para o fabrico, transforma-ção, conservação ou comercialização de produ-tos ou substâncias destinados ao consumohumano, excepto quando a utilização dessa águanão afecta a salubridade do género alimentíciona sua forma acabada;

e) «Águas interiores» todas as águas superficiaislênticas ou lóticas (correntes) e todas as águassubterrâneas que se encontram do lado terrestreda linha de base a partir da qual são marcadasas águas territoriais;

f) «Águas subterrâneas» todas as águas que seencontram abaixo da superfície do solo, na zonasaturada, e em contacto directo com o solo oucom o subsolo;

g) «Águas superficiais» as águas interiores, comexcepção das águas subterrâneas, águas de tran-sição, águas costeiras, incluindo-se nesta cate-goria, no que se refere ao estado químico, as águasterritoriais;

h) «Águas territoriais» as águas marítimas situadasentre a linha de base e uma linha distando12 milhas náuticas da linha de base;

i) «Áreas classificadas» as áreas que integram aRede Nacional de Áreas Protegidas e as áreasde protecção e preservação dos habitats naturais,fauna e flora selvagens e conservação de avesselvagens, definidas em legislação específica;

j) «Aquífero» uma ou mais camadas subterrâneasde rocha ou outros estratos geológicos suficien-temente porosos e permeáveis para permitiremum escoamento significativo de águas subter-râneas ou a captação de quantidades significa-tivas de águas subterrâneas;

l) «Autoridade Nacional da Água» o órgão daAdministração Pública responsável pela aplica-ção da presente lei e pelo cumprimento daDirectiva n.o 2000/60/CE, do Parlamento Euro-peu e do Conselho, de 23 de Outubro, em todoo território nacional;

m) «Bacia hidrográfica» a área terrestre a partirda qual todas as águas fluem para o mar, atravésde uma sequência de rios, ribeiros ou eventual-mente lagos, desaguando numa única foz, estuá-rio ou delta;

n) «Bom estado das águas subterrâneas» o estadoglobal em que se encontra uma massa de águassubterrâneas quando os seus estados quantita-tivo e químico são considerados, pelo menos,«bons»;

o) «Bom estado das águas superficiais» o estadoglobal em que se encontra uma massa de águassuperficiais quando os seus estados ecológicoe químico são considerados, pelo menos,«bons»;

p) «Bom estado ecológico» o estado alcançado poruma massa de águas superficiais, classificadocomo Bom nos termos de legislação específica;

q) «Bom estado químico das águas superficiais»o estado químico alcançado por uma massa deáguas superficiais em que as concentrações depoluentes cumprem as normas de qualidadeambiental definidas em legislação específica;

r) «Bom estado químico das águas subterrâneas»o estado químico alcançado por um meio hídricosubterrâneo em que a composição química étal que as concentrações de poluentes:

i) Não apresentem efeitos significativos deintrusões salinas ou outras;

ii) Cumpram as normas de qualidade am-biental que forem fixadas em legislaçãoespecífica;

iii) Não impeçam que sejam alcançados osobjectivos ambientais específicos estabe-lecidos para as águas superficiais asso-ciadas nem reduzam significativamente aqualidade química ou ecológica dessasmassas;

iv) Não provoquem danos significativos nosecossistemas terrestres directamentedependentes das massas de águas sub-terrâneas;

s) «Bom estado quantitativo» o estado de um meiohídrico subterrâneo em que o nível freático étal que os recursos hídricos subterrâneos dis-poníveis não são ultrapassados pela taxa médiaanual de captação a longo prazo, não estandosujeito a alterações antropogénicas que possamimpedir que sejam alcançados os objectivosambientais específicos para as águas superficiaisque lhe estejam associadas, deteriorar signifi-cativamente o estado dessas águas ou provocardanos significativos nos ecossistemas terrestresdirectamente dependentes do aquífero, podendo

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ocorrer temporariamente, ou continuamenteem áreas limitadas, alterações na direcção doescoamento subterrâneo em consequência devariações de nível, desde que essas alteraçõesnão provoquem intrusões de água salgada ououtras e não indiquem uma tendência antro-pogenicamente induzida, constante e clara-mente identificada, susceptível de conduzir atais intrusões;

t) «Bom potencial ecológico» o estado alcançadopor uma massa de água artificial ou fortementemodificada, classificado como Bom nos termosdas disposições de normativo próprio;

u) «Controlos das emissões» os controlos que exi-jam uma limitação específica das emissões,designadamente um valor limite de emissão, ouque de outro modo especifiquem limites ou con-dições quanto aos efeitos, à natureza ou a outrascaracterísticas de uma emissão ou das condiçõesde exploração que afectem as emissões;

v) «Descarga directa nas águas subterrâneas» aintrodução de poluentes nas águas subterrâneas,sem percolação através do solo ou do subsolo;

x) «Disposição de águas residuais» a recolha,transporte, tratamento e descarga de águas resi-duais, assim como a descarga de lamas prove-nientes do tratamento de águas residuais;

z) «Estado das águas subterrâneas» a expressãoglobal do estado em que se encontra uma massade águas subterrâneas, determinado em funçãodo pior dos seus estados, quantitativo ou quí-mico;

aa) «Estado das águas superficiais» a expressão glo-bal do estado em que se encontra uma massade águas superficiais, determinado em funçãodo pior dos seus estados, ecológico ou químico;

bb) «Estado ecológico» a expressão da qualidadeestrutural e funcional dos ecossistemas aquá-ticos associados às águas superficiais, classifi-cada nos termos de legislação específica;

cc) «Estado quantitativo das águas subterrâneas»uma expressão do grau em que uma massa deáguas subterrâneas é afectada por captaçõesdirectas ou indirectas;

dd) «Impacte significativo sobre o estado da água»o resultado da actividade humana que causeuma alteração no estado das águas, ou coloqueesse estado em perigo, ou que preencha osrequisitos definidos para o efeito pelos orga-nismos competentes para a gestão das águas;

ee) «Infra-estruturas hidráulicas» quaisquer obrasou conjuntos de obras, instalações ou equipa-mentos instalados com carácter fixo nos leitosou margens destinadas a permitir a utilizaçãodas águas para fins de interesse geral;

ff) «Lago» ou «lagoa» um meio hídrico lênticosuperficial interior;

gg) «Largura da margem» a margem das águas domar, bem como das águas navegáveis ou flu-tuáveis sujeitas actualmente à jurisdição dasautoridades marítimas ou portuárias, com a lar-gura de 50 m; margem das restantes águas nave-gáveis ou flutuáveis com a largura de 30 m; mar-gem das águas não navegáveis nem flutuáveis,nomeadamente torrentes, barrancos e córregosde caudal descontínuo, com a largura de 10 m;quando tiver a natureza de praia em extensão

superior à estabelecida anteriormente, a mar-gem estende-se até onde o terreno apresentartal natureza; a largura da margem conta-se apartir da linha limite do leito; se, porém, estalinha atingir arribas alcantiladas, a largura damargem é contada a partir da crista do alcantil;

hh) «Leito» o terreno coberto pelas águas, quandonão influenciadas por cheias extraordinárias,inundações ou tempestades, nele se incluindoos mouchões, lodeiros e areais nele formadospor deposição aluvial, sendo o leito limitadopela linha da máxima preia-mar das águas vivasequinociais, no caso de águas sujeitas à influên-cia das marés;

ii) «Linha de base» a linha que constitui a deli-mitação interior das águas costeiras, das águasterritoriais e da zona económica exclusiva e adelimitação exterior das águas do mar inte-riores;

jj) «Margem» a faixa de terreno contígua ousobranceira à linha que limita o leito das águascom largura legalmente estabelecida;

ll) «Massa de água artificial» uma massa de águasuperficial criada pela actividade humana;

mm) «Massa de água fortemente modificada» amassa de água superficial cujas característicasforam consideravelmente modificadas por alte-rações físicas resultantes da actividade humanae que adquiriu um carácter substancialmentediferente, designada como tal em normativopróprio;

nn) «Massa de águas subterrâneas» um meio deáguas subterrâneas delimitado que faz parte deum ou mais aquíferos;

oo) «Massa de águas superficiais» uma massa dis-tinta e significativa de águas superficiais, desig-nadamente uma albufeira, um ribeiro, rio oucanal, um troço de ribeiro, rio ou canal, águasde transição ou uma faixa de águas costeiras;

pp) «Monitorização» o processo de recolha e pro-cessamento de informação sobre as várias com-ponentes do ciclo hidrológico e elementos dequalidade para a classificação do estado daságuas, de forma sistemática, visando acompa-nhar o comportamento do sistema ou um objec-tivo específico;

qq) «Norma de qualidade ambiental» a concentra-ção de um determinado poluente ou de grupode poluentes na água, nos sedimentos ou nobiota, que não deve ser ultrapassada para efeitosde protecção da saúde humana e do ambiente;

rr) «Objectivos ambientais» os objectivos definidosnos artigos 45.o a 48.o da presente lei;

ss) «Poluente» qualquer substância susceptível deprovocar poluição, definida em normativo pró-prio;

tt) «Poluição» a introdução directa ou indirecta,em resultado da actividade humana, de substân-cias ou de calor no ar, na água ou no solo quepossa ser prejudicial para a saúde humana oupara a qualidade dos ecossistemas aquáticos oudos ecossistemas terrestres daqueles directa-mente dependentes, que dê origem a prejuízospara bens materiais ou que prejudique ou inter-fira com o valor paisagístico ou recreativo oucom outras utilizações legítimas do ambiente;

uu) «Recursos disponíveis de águas subterrâneas»a diferença entre o caudal médio anual a longo

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7283

prazo de recarga total do meio hídrico subter-râneo e o caudal anual a longo prazo necessáriopara alcançar os objectivos de qualidade eco-lógica das águas superficiais associadas, paraevitar uma degradação significativa do estadoecológico dessas águas e prejuízos importantesnos ecossistemas terrestres associados;

vv) «Região hidrográfica» a área de terra e de marconstituída por uma ou mais bacias hidrográ-ficas contíguas e pelas águas subterrâneas e cos-teiras que lhes estão associadas, constituindo-secomo a principal unidade para a gestão dasbacias hidrográficas;

xx) «Rio» a massa de água interior que corre, namaior parte da sua extensão, à superfície masque pode também escoar-se no subsolo numaparte do seu curso;

zz) «Serviços de águas» todos os serviços prestadosa casas de habitação, entidades públicas ou qual-quer actividade económica através de:

i) Represamento, captação, armazenamento,tratamento, elevação, adução e distribui-ção de águas superficiais ou subterrâneas;

ii) Recolha, tratamento e rejeição de águasresiduais;

aaa) «Sub-bacia hidrográfica» a área terrestre a par-tir da qual todas as águas se escoam, atravésde uma sequência de ribeiros, rios e eventual-mente lagos, para um determinado ponto deum curso de água, normalmente uma confluên-cia ou um lago;

bbb) «Substâncias perigosas» as substâncias ou gru-pos de substâncias tóxicas, persistentes e sus-ceptíveis de bioacumulação, e ainda outras subs-tâncias que suscitem preocupações da mesmaordem;

ccc) «Substâncias prioritárias» as substâncias defi-nidas como tal em normativo próprio por repre-sentarem risco significativo para o ambienteaquático ou por seu intermédio, sendo a suaidentificação feita através de procedimentos deavaliação de risco legalmente previstos ou, porrazões de calendário, através de avaliações derisco simplificadas;

ddd) «Substâncias perigosas prioritárias» as substân-cias identificadas como apresentando um riscoacrescido em relação às substâncias prioritárias,sendo a sua selecção feita com base em nor-mativo próprio relativo a substâncias perigosasou nos acordos internacionais relevantes;

eee) «Utilização da água» os serviços das águas equalquer outra actividade que tenha um impactesignificativo sobre o estado da água;

fff) «Valores limite de emissão» a massa, expressaem termos de determinados parâmetros espe-cíficos, a concentração ou o nível de uma emis-são que não podem ser excedidos em certosperíodos de tempo, a definir em normativopróprio;

ggg) «Zona ameaçada pelas cheias» a área contíguaà margem de um curso de água que se estendeaté à linha alcançada pela cheia com períodode retorno de 100 anos ou pela maior cheiaconhecida no caso de não existirem dados quepermitam identificar a anterior;

hhh) «Zona adjacente» a zona contígua à margemque como tal seja classificada por um acto regu-

lamentar por se encontrar ameaçada pelo marou pelas cheias;

iii) «Zona de infiltração máxima» a área em que,devido à natureza do solo e do substrato geo-lógico e ainda às condições de morfologia doterreno, a infiltração das águas apresenta con-dições especialmente favoráveis, contribuindoassim para a alimentação dos lençóis freáticos;

jjj) «Zonas protegidas» — constituem zonas pro-tegidas:

i) As zonas designadas por normativo pró-prio para a captação de água destinadaao consumo humano ou a protecção deespécies aquáticas de interesse econó-mico;

ii) As massas de água designadas comoáguas de recreio, incluindo zonas desig-nadas como zonas balneares;

iii) As zonas sensíveis em termos de nutrien-tes, incluindo as zonas vulneráveis e aszonas designadas como zonas sensíveis;

iv) As zonas designadas para a protecção dehabitats e da fauna e da flora selvagense a conservação das aves selvagens emque a manutenção ou o melhoramentodo estado da água seja um dos factoresimportantes para a sua conservação,incluindo os sítios relevantes da redeNatura 2000;

v) As zonas de infiltração máxima.

CAPÍTULO II

Enquadramento institucional

Artigo 5.o

Administração Pública

Constitui atribuição do Estado promover a gestão sus-tentada das águas e prosseguir as actividades necessáriasà aplicação da presente lei.

Artigo 6.o

Regiões hidrográficas

1 — No quadro da especificidade das bacias hidro-gráficas, dos sistemas aquíferos nacionais e das baciascompartilhadas com Espanha e ainda das característicaspróprias das Regiões Autónomas dos Açores e daMadeira, são criadas as seguintes regiões hidrográficas:

a) Minho e Lima (RH 1), que compreende asbacias hidrográficas dos rios Minho e Lima edas ribeiras da costa entre os respectivos estuá-rios e outras pequenas ribeiras adjacentes;

b) Cávado, Ave e Leça (RH 2), que compreendeas bacias hidrográficas dos rios Cávado, Ave eLeça e das ribeiras da costa entre os respectivosestuários e outras pequenas ribeiras adjacentes;

c) Douro (RH 3), que compreende a bacia hidro-gráfica do rio Douro e outras pequenas ribeirasadjacentes;

d) Vouga, Mondego, Lis e Ribeiras do Oeste(RH 4), que compreende as bacias hidrográficasdos rios Vouga, Mondego e Lis, das ribeirasda costa entre o estuário do rio Douro e a foz

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do rio Lis e as bacias hidrográficas de todasas linhas de água a sul da foz do Lis até aoestuário do rio Tejo, exclusive;

e) Tejo (RH 5), que compreende a bacia hidro-gráfica do rio Tejo e outras pequenas ribeirasadjacentes;

f) Sado e Mira (RH 6), que compreende as baciashidrográficas dos rios Sado e Mira e outraspequenas ribeiras adjacentes;

g) Guadiana (RH 7), que compreende a baciahidrográfica do rio Guadiana;

h) Ribeiras do Algarve (RH 8), que compreendeas bacias hidrográficas das ribeiras do Algarve;

i) Açores (RH 9), que compreende todas as baciashidrográficas do arquipélago;

j) Madeira (RH 10), que compreende todas asbacias hidrográficas do arquipélago.

2 — As regiões hidrográficas do Minho e Lima, doDouro, do Tejo e do Guadiana integram regiões hidro-gráficas internacionais por compreenderem baciashidrográficas compartilhadas com o Reino de Espanha.

3 — O Governo define por normativo próprio, nostermos do n.o 3 do artigo 102.o, a delimitação georre-ferenciada das regiões hidrográficas.

Artigo 7.o

Órgãos da Administração Pública

1 — As instituições da Administração Pública a cujosórgãos cabe exercer as competências previstas na pre-sente lei são:

a) A nível nacional, o Instituto da Água (INAG),que, como autoridade nacional da água, repre-senta o Estado como garante da política nacio-nal das águas;

b) A nível de região hidrográfica, as administraçõesdas regiões hidrográficas (ARH), que prosse-guem atribuições de gestão das águas, incluindoo respectivo planeamento, licenciamento efiscalização.

2 — A representação dos sectores de actividade e dosutilizadores dos recursos hídricos é assegurada atravésdos seguintes órgãos consultivos:

a) O Conselho Nacional da Água (CNA), enquantoórgão consultivo do Governo em matéria derecursos hídricos;

b) Os conselhos da região hidrográfica (CRH),enquanto órgãos consultivos das administraçõesda região hidrográfica para as respectivas baciashidrográficas nela integradas.

3 — A articulação dos instrumentos de ordenamentodo território com as regras e princípios decorrentes dapresente lei e dos planos de águas nelas previstos ea integração da política da água nas políticas transversaisde ambiente são asseguradas em especial pelas comis-sões de coordenação e desenvolvimento regio-nal (CCDR).

Artigo 8.o

Autoridade nacional da água

1 — À autoridade nacional da água compete asse-gurar a nível nacional a gestão das águas e garantir

a consecução dos objectivos da presente lei, além degarantir a representação internacional do Estado nestedomínio.

2 — Compete, nomeadamente, à autoridade nacionalda água:

a) Promover a protecção e o planeamento daságuas, através da elaboração do plano nacionalda água e da aprovação dos planos específicosde gestão de águas e dos planos de gestão debacia hidrográfica;

b) Promover o ordenamento adequado dos usosdas águas através da elaboração dos planos deordenamento das albufeiras de águas públicas,dos planos de ordenamento dos estuários e dosplanos de ordenamento da orla costeira;

c) Garantir a monitorização a nível nacional, coor-denando tecnicamente os procedimentos e asmetodologias a observar;

d) Promover e avaliar os projectos de infra-estru-turas hidráulicas de âmbito nacional ou cujaárea de implantação ultrapasse os limites deuma região hidrográfica;

e) Inventariar as infra-estruturas hidráulicas exis-tentes que possam ser qualificadas comoempreendimentos de fins múltiplos e propor omodelo a adoptar para o seu financiamento egestão;

f) Assegurar que a realização dos objectivos ambien-tais e dos programas de medidas especificadasnos planos de gestão de bacia hidrográfica sejacoordenada para a totalidade de cada regiãohidrográfica;

g) Definir a metodologia e garantir a realizaçãode análise das características de cada regiãohidrográfica e assegurar a sua revisão periódica;

h) Definir a metodologia e garantir a realizaçãode análise das incidências das actividades huma-nas sobre o estado das águas e garantir a suarevisão periódica;

i) Definir a metodologia e garantir a realizaçãode análise económica das utilizações da água,assegurar a sua revisão periódica e garantir asua observância nos planos de gestão de baciahidrográfica;

j) Garantir que se proceda ao registo das zonasprotegidas em cada região hidrográfica e garan-tir a sua revisão periódica;

l) Instituir e manter actualizado um sistema nacio-nal de informação sobre títulos de utilizaçãodos recursos hídricos;

m) Propor o valor da taxa de recursos hídricos;n) Pronunciar-se sobre programas específicos de

prevenção e combate a acidentes graves depoluição, em articulação com o Serviço Nacionalde Bombeiros e Protecção Civil, o Instituto doAmbiente e outras entidades competentes;

o) Declarar a situação de alerta em caso de secae iniciar, em articulação com as entidades com-petentes e os principais utilizadores, as medidasde informação e actuação recomendadas;

p) Promover o uso eficiente da água através daimplementação de um programa de medidaspreventivas aplicáveis em situação normal emedidas imperativas aplicáveis em situação desecas;

q) Aplicar medidas para redução de caudais decheia e criar sistemas de alerta para salvaguardade pessoas e bens;

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7285

r) Estabelecer critérios e procedimentos norma-tivos a adoptar para a regularização de caudaisao longo das linhas de águas em situações nor-mais e extremas, através das necessárias infra--estruturas;

s) Inventariar e manter o registo do domíniopúblico hídrico;

t) Aprovar os programas de segurança de barra-gens, delimitar as zonas de risco e garantir aaplicação do Regulamento de Segurança deBarragens;

u) Promover a divulgação junto das entidadespúblicas, incluindo as entidades regionais a quese refere o artigo 101.o, de toda a informaçãonecessária ao cumprimento do disposto na pre-sente lei, nomeadamente toda a informaçãonecessária a assegurar o cumprimento das obri-gações impostas pela Directiva n.o 2000/60/CE,do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23de Outubro.

3 — A autoridade nacional da água, na medida emque tal se revele necessário ao cumprimento das suasobrigações como garante da aplicação da presente lei,deve:

a) Verificar periodicamente o cumprimento dosprazos para elaboração e revisão dos planos acargo das ARH e, bem assim, fiscalizar a exe-cução dos mesmos e sempre que necessáriosubstituir-se às ARH na respectiva elaboração;

b) Definir critérios e parâmetros técnicos quedevem ser observados nas suas actividades nodomínio da gestão dos recursos hídricospelas ARH;

c) Solicitar às ARH e aos restantes organismospúblicos dotados de atribuições no domíniohídrico informação sobre o desempenho dascompetências dos seus órgãos com vista à apli-cação da presente lei;

d) Apreciar os planos de actividades e os relatóriosdas ARH em tudo o que respeite à gestão dosrecursos hídricos, submetendo o seu parecer àconsideração do Ministro do Ambiente, doOrdenamento do Território e do Desenvolvi-mento Regional;

e) Delegar nas ARH, ao abrigo de protocolos pre-viamente estabelecidos, as competências a seucargo relativas a cada região hidrográfica quemelhor possam ser asseguradas pela respec-tiva ARH;

f) Delegar nas ARH, ao abrigo de protocolos pre-viamente estabelecidos, as competências paraa elaboração dos planos de ordenamento dasalbufeiras de águas públicas, dos planos de orde-namento de estuários e dos planos de ordena-mento da orla costeira cuja água não seja uti-lizada para consumo humano ou fins múltiplos;

g) Propor ao Governo a aprovação dos actos legis-lativos e regulamentares que se revelem neces-sários ou convenientes;

h) Celebrar com as ARH, com outros organismospúblicos e com utilizadores dos recursos hídricosos contratos-programa necessários à prossecu-ção das suas atribuições.

Artigo 9.o

Administrações das regiões hidrográficas

1 — São criadas as ARH do Norte, do Centro, doTejo, do Alentejo e do Algarve, com a jurisdição ter-ritorial a seguir definida:

a) A ARH do Norte, com sede no Porto, abran-gendo as RH 1, 2 e 3;

b) A ARH do Centro, com sede em Coimbra,abrangendo a RH 4;

c) A ARH do Tejo, com sede em Lisboa, abran-gendo a RH 5;

d) A ARH do Alentejo, com sede em Évora, abran-gendo as RH 6 e 7;

e) A ARH do Algarve, com sede em Faro, abran-gendo a RH 8.

2 — No caso das RH 9 e 10, os actos legislativos pre-vistos no artigo 101.o definem as estruturas institucionaisque asseguram a administração de cada uma destasregiões hidrográficas.

3 — As ARH são pessoas colectivas de âmbito regio-nal dotadas de autonomia administrativa e financeirae património próprio, competindo ao Governo aprovaros respectivos estatutos.

4 — As ARH estão sujeitas à superintendência etutela do Ministro do Ambiente, do Ordenamento doTerritório e do Desenvolvimento Regional, podendo asinerentes competências ser delegadas no presidentedo INAG.

5 — São atribuições da ARH, na respectiva área ter-ritorial, a protecção e a valorização dos componentesambientais das águas.

6 — Compete à ARH, através dos seus órgãos eserviços:

a) Elaborar e executar os planos de gestão debacias hidrográficas e os planos específicos degestão das águas;

b) Decidir sobre a emissão e emitir os títulos deutilização dos recursos hídricos e fiscalizar essautilização;

c) Realizar a análise das características da regiãohidrográfica e das incidências das actividadeshumanas sobre o estado das águas;

d) Realizar a análise económica das utilizações daságuas das respectivas regiões;

e) Definir e aplicar os programas de medidas pre-vistos nos planos de gestão de bacias hidrográ-ficas e ainda as previstas nos artigos 32.o a 43.o,sem prejuízo do n.o 6 do artigo 43.o, com iden-tificação da área territorial objecto das medidasde protecção e valorização dos recursos hídricose da monitorização dos seus efeitos;

f) Elaborar ou colaborar na elaboração, tal comodefinido pela autoridade nacional da água, dosplanos de ordenamento de albufeiras de águaspúblicas, nos planos de ordenamento da orlacosteira e nos planos de ordenamento dos estuá-rios na área da sua jurisdição;

g) Elaborar o registo das zonas protegidas, nos ter-mos dos artigos 48.o e 37.o a 39.o;

h) Promover a requalificação dos recursos hídricose a sistematização fluvial;

i) Identificar as zonas de captação destinadas aágua para consumo humano, nos termos doartigo 37.o e do n.o 4 do artigo 48.o;

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7286 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005

j) Aplicar o regime económico e financeiro nasbacias hidrográficas da área de jurisdição, fixarpor estimativa o valor económico da utilizaçãosem título, pronunciar-se sobre os montantesdos componentes da taxa de recursos hídricos,arrecadar as taxas e aplicar a parte que lhe cabena gestão das águas das respectivas bacias ouregiões;

l) Estabelecer na região hidrográfica a rede demonitorização da qualidade da água e elaborare aplicar o respectivo programa de monitori-zação de acordo com os procedimentos e ametodologia definidos pela autoridade nacionalda água.

7 — Podem ser delegadas total ou parcialmente pelaARH, através do seu órgão directivo, as seguintes com-petências nos órgãos das entidades a seguir indicadas,mediante a prévia celebração de protocolos ou contratosde parceria:

a) Nas autarquias, poderes de licenciamento e fis-calização de utilização de águas e poderes paraelaboração e execução de planos específicos degestão das águas ou programas de medidas pre-vistas nos artigos 30.o e 32.o;

b) No Instituto para a Conservação da Natureza,poderes de licenciamento e fiscalização de uti-lização de águas sitas em área classificada sobsua jurisdição ou poderes para elaboração e exe-cução de planos específicos de águas ou de pro-gramas de medidas previstas nos artigos 30.oe 32.o;

c) Nas associações de utilizadores e em conces-sionários de utilização de recursos hídricos,poderes para elaboração e execução de planosespecíficos de águas ou para a elaboração e exe-cução de programas de medidas previstas nosartigos 30.o e 32.o

8 — A ARH pode celebrar contratos-programa comqualquer das entidades indicadas no número anteriorcom vista a garantir a execução das medidas previstasnos artigos 30.o e 32.o que tais entidades hajam acordadoexecutar por delegação da ARH.

9 — A ARH dispõe de receitas próprias, que cobrempelo menos dois terços das despesas totais, com exclusãodas despesas co-financiadas pelo orçamento da UniãoEuropeia, e que são emergentes nomeadamente da taxade recursos hídricos, da cobrança de coimas e da apli-cação dos planos de gestão de bacia hidrográfica, dosplanos específicos de gestão das águas e das medidasprevistas no artigo 32.o

Artigo 10.o

Comissões de coordenação e desenvolvimento regional

1 — As CCDR são os órgãos desconcentrados doMinistério do Ambiente, do Ordenamento do Territórioe do Desenvolvimento Regional a quem cabe, em termosregionais:

a) A protecção e valorização das componentesambientais das águas integradas na ponderaçãoglobal de tais componentes através dos instru-mentos de gestão territorial;

b) O exercício das competências coordenadorasque lhe são atribuídas por lei no domínio daprevenção e controlo integrados da poluição.

2 — Para os efeitos previstos no número anterior, asCCDR contam com a necessária colaboração técnicadas ARH.

Artigo 11.o

Conselho Nacional da Água

1 — O CNA é o órgão de consulta do Governo nodomínio das águas, no qual estão representados os orga-nismos da Administração Pública e as organizações pro-fissionais, científicas, sectoriais e não governamentaismais representativas e relacionadas com a matéria daágua.

2 — Ao CNA cabe em geral apreciar e acompanhara elaboração do Plano Nacional da Água, dos planosde gestão de bacia hidrográfica e outros planos e pro-jectos relevantes para as águas, formular ou apreciaropções estratégicas para a gestão sustentável das águasnacionais, bem como apreciar e propor medidas quepermitam um melhor desenvolvimento e articulação dasacções deles decorrentes.

3 — Ao CNA cabe igualmente contribuir para o esta-belecimento de opções estratégicas de gestão e controlodos sistemas hídricos, harmonizar procedimentos meto-dológicos e apreciar determinantes no processo de pla-neamento relativamente ao Plano Nacional de Água eaos planos de bacia hidrográfica, nomeadamente os res-peitantes aos rios internacionais Minho, Lima, Douro,Tejo e Guadiana.

Artigo 12.o

Conselhos da região hidrográfica

1 — Os CRH são os órgãos consultivos das ARH,em que estão representados os ministérios, outros orga-nismos da Administração Pública e os municípios direc-tamente interessados e as entidades representativas dosprincipais utilizadores relacionados com o uso consump-tivo e não consumptivo da água na bacia hidrográficarespectiva, bem como as organizações técnicas, cien-tíficas e não governamentais representativas dos usosda água na bacia hidrográfica.

2 — Ao CRH compete, em geral:

a) Apreciar e acompanhar a elaboração do planode gestão da bacia hidrográfica e os planos espe-cíficos de gestão das águas, devendo emitir pare-cer antes da respectiva aprovação;

b) Formular ou apreciar a proposta de objectivosde qualidade da água para a bacia hidrográfica;

c) Dar parecer sobre a proposta de taxa de recursoshídricos;

d) Pronunciar-se sobre questões relativas à repar-tição das águas;

e) Apreciar as medidas a tomar contra a poluição;f) Formular propostas de interesse geral para uma

ou mais bacias da região hidrográfica;g) Dar parecer sobre o plano de actividades e o

relatório e contas da ARH;h) Dar parecer sobre o plano de investimentos

públicos a realizar no âmbito da respectivaregião hidrográfica;

i) Dar parecer sobre outros programas e medidasque o director da ARH submeta à sua apre-ciação.

3 — O Governo define no estatuto da ARH a com-posição, forma e critérios de indicação e número derepresentantes das instituições e entidades que integremos CRH.

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7287

Artigo 13.o

Administrações portuárias

1 — Nas áreas do domínio público hídrico afectas àsadministrações portuárias, a competência da ARH paralicenciamento e fiscalização da utilização dos recursoshídricos considera-se delegada na administração por-tuária com jurisdição no local, sendo definidos por por-tarias conjuntas dos Ministros das Obras Públicas,Transportes e Comunicações e do Ambiente, do Orde-namento do Território e do Desenvolvimento Regionalos termos e âmbito da delegação e os critérios de repar-tição das respectivas receitas.

2 — As portarias previstas no número anterior cons-tituem igualmente título de utilização dos recursos hídri-cos pela administração portuária, fixando as respectivasobrigações e condicionamentos, de acordo com um regimeequiparado, para este efeito, ao regime dos empreen-dimentos de fins múltiplos previstos no artigo 76.o

3 — O exercício pelas administrações portuárias dascompetências delegadas nos termos do n.o 1 observaas regras decorrentes da presente lei e dos planos apli-cáveis e as orientações do delegante, sem prejuízo darespectiva avocação em casos devidamente justificadose as regras especiais a definir nos termos do n.o 4 doartigo 80.o

CAPÍTULO III

Ordenamento e planeamento dos recursos hídricos

SECÇÃO I

Disposições gerais

Artigo 14.o

Princípio

1 — O ordenamento e planeamento dos recursoshídricos visam compatibilizar, de forma integrada, a uti-lização sustentável desses recursos com a sua protecçãoe valorização, bem como com a protecção de pessoase bens contra fenómenos extremos associados às águas.

2 — Devem ser planeadas e reguladas as utilizaçõesdos recursos hídricos das zonas que com eles confinamde modo a proteger a quantidade e a qualidade daságuas, os ecossistemas aquáticos e os recursos sedi-mentológicos.

Artigo 15.o

Âmbito de intervenção

1 — As medidas de ordenamento e planeamento dosrecursos hídricos têm como âmbito de intervenção, paraalém dos seus próprios limites geográficos, o territórioenvolvente com incidência nesses recursos e as zonasobjecto de medidas de protecção dos mesmos.

2 — Entende-se por «território envolvente com inci-dência nos recursos hídricos» as margens dos lagos ealbufeiras de águas públicas e as orlas costeira e estua-rina nas quais importa impor regras de harmonizaçãodas suas diversas utilizações com a preservação dosrecursos e meios hídricos.

3 — As zonas objecto de medidas de protecção dosrecursos hídricos compreendem os perímetros de pro-tecção e as áreas adjacentes às captações de água paraconsumo humano, as áreas de infiltração máxima pararecarga de aquíferos e as áreas vulneráveis à poluiçãopor nitratos de origem agrícola.

4 — Podem também vir a ser objecto dessas medidasde protecção determinadas áreas, nomeadamente partesde bacias, aquíferos ou massas de água, que, pelas suascaracterísticas naturais e valor ambiental, económico ousocial, assumam especial interesse público.

Artigo 16.o

Instrumentos de intervenção

O ordenamento e o planeamento dos recursos hídri-cos processam-se através dos seguintes instrumentos:

a) Planos especiais de ordenamento do território;b) Planos de recursos hídricos;c) Medidas de protecção e valorização dos recursos

hídricos.

Artigo 17.o

Articulação entre ordenamento e planeamento

1 — O Programa Nacional de Política de Ordena-mento do Território e o Plano Nacional da Água devemarticular-se entre si, garantindo um compromisso recí-proco de integração e compatibilização das respectivasopções, e por sua vez os planos e programas sectoriaiscom impactes significativos sobre as águas devem inte-grar os objectivos e as medidas previstas nos instru-mentos de planeamento das águas.

2 — Os instrumentos de planeamento das águas refe-ridos nos artigos 23.o a 26.o vinculam a AdministraçãoPública, devendo as medidas preconizadas nos instru-mentos de gestão territorial, designadamente nos planosespeciais de ordenamento do território e nos planosmunicipais de ordenamento do território, ser com elesarticuladas e compatibilizadas, bem como com as medi-das de protecção e valorização previstos no artigo 32.o

3 — As medidas pontuais de protecção e valorizaçãodos recursos hídricos devem ser compatíveis com as orien-tações estabelecidas nos planos de recursos hídricos.

SECÇÃO II

Ordenamento

Artigo 18.o

Ordenamento

Compete ao Estado, através do ordenamento adequadodas utilizações dos recursos hídricos, compatibilizar a suautilização com a protecção e valorização desses recursos,bem como com a protecção de pessoas e bens contrafenómenos associados aos mesmos recursos.

Artigo 19.o

Instrumentos de ordenamento

1 — Os instrumentos de gestão territorial incluem asmedidas adequadas à protecção e valorização dos recur-sos hídricos na área a que se aplicam de modo a asse-gurar a sua utilização sustentável, vinculando a Admi-nistração Pública e os particulares.

2 — Devem ser elaborados planos especiais de orde-namento do território tendo por objectivo principal aprotecção e valorização dos recursos hídricos abrangidosnos seguintes casos:

a) Planos de ordenamento de albufeiras de águaspúblicas;

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7288 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005

b) Planos de ordenamento da orla costeira;c) Planos de ordenamento dos estuários.

3 — A elaboração, o conteúdo, o acompanhamento,a concertação, a participação, a aprovação, a vigênciae demais regimes dos planos especiais do ordenamentodo território observam as regras constantes dos actoslegislativos que regem estes instrumentos de gestão ter-ritorial e as regras especiais previstas na presente leie nos actos legislativos para que esta remete.

Artigo 20.o

Planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas

1 — As albufeiras de águas públicas podem ser con-sideradas protegidas, condicionadas, de utilização limi-tada e de utilização livre.

2 — Os planos de ordenamento das albufeiras deáguas públicas estabelecem, nomeadamente:

a) A demarcação do plano de água, da zona reser-vada e da zona de protecção;

b) A indicação do uso ou usos principais da água;c) A indicação das actividades secundárias permi-

tidas, da intensidade dessas utilizações e da sualocalização;

d) A indicação das actividades proibidas e comrestrições;

e) Os valores naturais e paisagísticos a preservar.

3 — Sem prejuízo de outras interdições constantes delegislação específica, nas zonas de protecção das albu-feiras são interditas as seguintes acções:

a) O estabelecimento de indústrias que produzamou usem produtos químicos tóxicos ou com ele-vados teores de fósforo ou de azoto;

b) A instalação de explorações pecuárias intensi-vas, incluindo as avícolas;

c) O armazenamento de pesticidas e de adubosorgânicos ou químicos;

d) O emprego de pesticidas, a não ser em casosjustificados e condicionados às zonas a tratare quanto à natureza, características e doses dosprodutos a usar;

e) O emprego de adubos químicos azotados oufosfatados, nos casos que impliquem risco decontaminação de água destinada ao abasteci-mento de populações e de eutrofização daalbufeira;

f) O lançamento de excedentes de pesticidas oude caldas pesticidas e de águas de lavagem comuso de detergentes;

g) A descarga ou infiltração no terreno de esgotosde qualquer natureza não devidamente tratadose, mesmo tratados, quando excedam determi-nados valores fixados nos instrumentos de pla-neamento de recursos hídricos dos teores defósforo, azoto, carbono, mercúrio e outrosmetais pesados;

h) A instalação de aterros sanitários que se des-tinem a resíduos urbanos ou industriais.

4 — Os planos de ordenamento de albufeiras de águaspúblicas podem ter por objecto lagoas ou lagos de águaspúblicas, em condições a definir em normativo próprio.

Artigo 21.o

Planos de ordenamento da orla costeira

1 — Os Planos de ordenamento da orla costeira têmpor objecto as águas marítimas costeiras e interiorese os respectivos leitos e margens, assim como as faixasde protecção marítima e terrestre, definidas em legis-lação específica ou no âmbito de cada plano.

2 — Os planos de ordenamento da orla costeira esta-belecem opções estratégicas para a protecção e inte-gridade biofísica da área envolvida, com a valorizaçãodos recursos naturais e a conservação dos seus valoresambientais e paisagísticos, e, nomeadamente:

a) Ordenam os diferentes usos e actividades espe-cíficas da orla costeira;

b) Classificam as praias e disciplinam o uso daspraias especificamente vocacionadas para usobalnear;

c) Valorizam e qualificam as praias, dunas e falé-sias consideradas estratégicas por motivosambientais e turísticos;

d) Enquadram o desenvolvimento das actividadesespecíficas da orla costeira e o respectivo sanea-mento básico;

e) Asseguram os equilíbrios morfodinâmicos e adefesa e conservação dos ecossistemas litorais.

3 — Os planos de ordenamento da orla costeira sãoregulados por legislação específica.

Artigo 22.o

Planos de ordenamento dos estuários

1 — Os planos de ordenamento dos estuários visama protecção das suas águas, leitos e margens e dos ecos-sistemas que as habitam, assim como a valorizaçãosocial, económica e ambiental da orla terrestre envol-vente, e, nomeadamente:

a) Asseguram a gestão integrada das águas de tran-sição com as águas interiores e costeiras con-finantes, bem como dos respectivos sedimentos;

b) Preservam e recuperam as espécies aquáticase ribeirinhas protegidas e os respectivos habitats;

c) Ordenam a ocupação da orla estuarina e sal-vaguardam os locais de especial interesseurbano, recreativo, turístico e paisagístico;

d) Indicam os usos permitidos e as condições a res-peitar pelas várias actividades industriais e detransportes implantadas em torno do estuário.

2 — O regime dos planos de ordenamento dos estuá-rios consta de legislação específica a publicar para oefeito.

SECÇÃO III

Planeamento

Artigo 23.o

Planeamento das águas

Cabe ao Estado, através da autoridade nacional daágua, instituir um sistema de planeamento integradodas águas adaptado às características próprias das baciase das regiões hidrográficas.

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7289

Artigo 24.o

Objectivos e instrumentos de planeamento

1 — O planeamento das águas visa fundamentar eorientar a protecção e a gestão das águas e a compa-tibilização das suas utilizações com as suas disponibi-lidades de forma a:

a) Garantir a sua utilização sustentável, assegu-rando a satisfação das necessidades das geraçõesactuais sem comprometer a possibilidade de asgerações futuras satisfazerem as suas própriasnecessidades;

b) Proporcionar critérios de afectação aos váriostipos de usos pretendidos, tendo em conta ovalor económico de cada um deles, bem comoassegurar a harmonização da gestão das águascom o desenvolvimento regional e as políticassectoriais, os direitos individuais e os interesseslocais;

c) Fixar as normas de qualidade ambiental e oscritérios relativos ao estado das águas.

2 — O planeamento das águas é concretizado atravésdos seguintes instrumentos:

a) O Plano Nacional da Água, de âmbito terri-torial, que abrange todo o território nacional;

b) Os planos de gestão de bacia hidrográfica, deâmbito territorial, que abrangem as baciashidrográficas integradas numa região hidrográ-fica e incluem os respectivos programas demedidas;

c) Os planos específicos de gestão de águas, quesão complementares dos planos de gestão debacia hidrográfica e que podem ser de âmbitoterritorial, abrangendo uma sub-bacia ou umaárea geográfica específica, ou de âmbito sec-torial, abrangendo um problema, tipo de água,aspecto específico ou sector de actividade eco-nómica com interacção significativa com aságuas.

Artigo 25.o

Princípios do planeamento das águas

O planeamento das águas obedece aos seguintes prin-cípios específicos:

a) Da integração — a actividade de planeamentodas águas deve ser integrada horizontalmentecom outros instrumentos de planeamento daadministração, de nível ambiental, territorial oueconómico;

b) Da ponderação global — devem ser considera-dos os aspectos económicos, ambientais, técni-cos e institucionais com relevância para a gestãoda água, garantindo a sua preservação quan-titativa e qualitativa e a sua utilização eficiente,sustentável e ecologicamente equilibrada;

c) Da adaptação funcional — os instrumentos deplaneamento das águas devem diversificar a suaintervenção na gestão de recursos hídricos emfunção de problemas, necessidades e interessespúblicos específicos, sem prejuízo da necessáriaunidade e coerência do seu conteúdo planifi-cador no âmbito de cada bacia hidrográfica;

d) Da durabilidade — o planeamento da água deveatender à continuidade e estabilidade do recurso

em causa, protegendo a sua qualidade ecológicae capacidade regenerativa;

e) Da participação — quaisquer particulares, uti-lizadores dos recursos hídricos e suas associa-ções, podem intervir no planeamento das águase, especificamente, nos procedimentos de ela-boração, execução e alteração dos seus ins-trumentos;

f) Da informação — os instrumentos de planea-mento de águas constituem um meio de gestãode informação acerca da actividade administra-tiva de gestão dos recursos hídricos em cadabacia hidrográfica;

g) Da cooperação internacional — no âmbito daregião hidrográfica internacional, o planea-mento de águas deve encarar, de forma con-certada, os problemas de gestão dos recursoshídricos.

Artigo 26.o

Participação no planeamento

Na elaboração, revisão e avaliação dos instrumentosde planeamento das águas é garantida:

a) A intervenção dos vários departamentos minis-teriais que tutelam as actividades interessadasno uso dos recursos hídricos e dos organismospúblicos a que esteja afecta a administração dasáreas envolvidas;

b) A participação dos interessados através do pro-cesso de discussão pública e da representaçãodos utilizadores nos órgãos consultivos da gestãodas águas;

c) A publicação prévia, nomeadamente no sítioelectrónico da autoridade nacional da água, detoda a informação relevante nos termos doartigo 85.o, incluindo o projecto de plano e todasas propostas e pareceres recebidos ao longo doprocesso de discussão.

Artigo 27.o

Regulamentos

No caso de um instrumento de planeamento das águasconcluir pela necessidade de submeter algumas activi-dades dos administrados aos condicionamentos ou res-trições autorizados por lei, impostos pela protecção eboa gestão das águas, são fixadas em regulamento, apro-vado por portaria do Ministro do Ambiente, do Orde-namento do Território e do Desenvolvimento Regional,as normas que estabeleçam tais condicionamentos erestrições.

Artigo 28.o

Plano Nacional da Água

1 — O Plano Nacional da Água é o instrumento degestão das águas, de natureza estratégica, que estabeleceas grandes opções da política nacional da água e os prin-cípios e as regras de orientação dessa política, a aplicarpelos planos de gestão de bacias hidrográficas e por outrosinstrumentos de planeamento das águas.

2 — O Plano Nacional da Água é constituído por:

a) Uma análise dos principais problemas das águasà escala nacional que fundamente as orientaçõesestratégicas, as opções e as prioridades de inter-venção política e administrativa neste domínio;

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7290 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005

b) Um diagnóstico da situação à escala nacionalcom a síntese, articulação e hierarquização dosproblemas e das potencialidades identificados;

c) A definição de objectivos que visem formas deconvergência entre os objectivos da política degestão das águas nacionais e os objectivos glo-bais e sectoriais de ordem económica, social eambiental;

d) A síntese das medidas e acções a realizar paraatingir os objectivos estabelecidos e dos con-sequentes programas de investimento, devida-mente calendarizados;

e) Um modelo de promoção, de acompanhamentoe de avaliação da sua aplicação.

3 — O Plano Nacional da Água é aprovado por decre-to-lei, devendo o seu conteúdo ser também disponibi-lizado através do sítio electrónico da autoridade nacionalda água.

4 — O Plano Nacional da Água deve ser revisto perio-dicamente, devendo a primeira revisão do actual PlanoNacional da Água ocorrer até final de 2010.

Artigo 29.o

Planos de gestão de bacia hidrográfica

1 — Os planos de gestão de bacia hidrográfica sãoinstrumentos de planeamento das águas que, visandoa gestão, a protecção e a valorização ambiental, sociale económica das águas ao nível da bacia hidrográfica,compreendem e estabelecem:

a) A caracterização das águas superficiais e sub-terrâneas existentes na região hidrográfica oude cada secção da região hidrográfica interna-cional, incluindo a identificação dos recursos,a delimitação das massas de águas superficiaise subterrâneas e a determinação das condiçõesde referência ou do máximo potencial ecológicoespecífico do tipo de águas superficiais;

b) A identificação das pressões e descrição dosimpactes significativos da actividade humanasobre o estado das águas superficiais e subter-râneas, com a avaliação, entre outras, das fontestópicas e difusas de poluição, das utilizaçõesexistentes e previstas e das alterações morfo-lógicas significativas e o balanço entre as poten-cialidades, as disponibilidades e as necessidades;

c) A designação como artificial ou fortementemodificada de uma massa de águas superficiaise a classificação e determinação do seu potencialecológico, bem como a classificação e determi-nação do estado ecológico das águas superfi-ciais, de acordo com parâmetros biológicos,hidromorfológicos e físico-químicos;

d) A localização geográfica das zonas protegidase a indicação da legislação comunitária ou nacio-nal ao abrigo da qual essas zonas tenham sidodesignadas;

e) A identificação de sub-bacias, sectores, proble-mas ou tipos de águas e sistemas aquíferos querequeiram um tratamento específico ao nível daelaboração de planos específicos de gestão daságuas;

f) A identificação das redes de monitorização ea análise dos resultados dos programas de moni-torização sobre a disponibilidade e o estado das

águas superficiais e subterrâneas, bem comosobre as zonas protegidas;

g) A análise económica das utilizações da água,incluindo a avaliação da recuperação de custosdos serviços de águas e a identificação de cri-térios para a avaliação da combinação de medi-das com melhor relação custo-eficácia;

h) As informações sobre as acções e medidas pro-gramadas para a implementação do princípioda recuperação dos custos dos serviços hídricose sobre o contributo dos diversos sectores paraeste objectivo com vista à concretização dosobjectivos ambientais;

i) A definição dos objectivos ambientais para asmassas de águas superficiais e subterrâneas epara as zonas protegidas, bem como a identi-ficação dos objectivos sócio-económicos decurto, médio e longo prazos a considerar, desig-nadamente no que se refere à qualidade daságuas e aos níveis de descargas de águasresiduais;

j) O reconhecimento, a especificação e a funda-mentação das condições que justifiquem:

i) A extensão de prazos para a obtençãodos objectivos ambientais;

ii) A definição de objectivos menos exi-gentes;

iii) A deterioração temporária do estado dasmassas de água;

iv) A deterioração do estado das águas;v) O não cumprimento do bom estado das

águas subterrâneas ou do bom estado oupotencial ecológico das águas superfi-ciais;

l) A identificação das entidades administrativascompetentes e dos procedimentos no domínioda recolha, gestão e disponibilização da infor-mação relativas às águas;

m) As medidas de informação e consulta pública,incluindo os resultados e as consequentes alte-rações produzidas nos planos;

n) As normas de qualidade adequadas aos váriostipos e usos da água e as relativas a substânciasperigosas;

o) Os programas de medidas e acções previstospara o cumprimento dos objectivos ambientais,devidamente calendarizados, espacializados,orçamentados e com indicação das entidadesresponsáveis pela sua aplicação.

2 — O conteúdo dos planos de gestão de bacia hidro-gráfica é objecto de normas a aprovar nos termos don.o 3 do artigo 102.o

3 — Os planos de gestão de bacia hidrográfica sãorevistos de seis em seis anos.

4 — No caso de regiões hidrográficas internacionais,a autoridade nacional da água diligencia no sentido daelaboração de um plano conjunto, devendo, em qualquercaso, os planos de gestão de bacia hidrográfica ser coor-denados e articulados entre a autoridade nacional daágua e a entidade administrativa competente do Reinode Espanha.

5 — Os planos de gestão de bacia hidrográfica devemser publicados no Diário da República e disponibilizadosno sítio electrónico da autoridade nacional da água.

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7291

Artigo 30.o

Programas de medidas

1 — Com vista à concretização do quadro normativorelativo à protecção da água e à realização dos objectivosambientais estabelecidos, o plano de gestão da baciahidrográfica assegura o estabelecimento de um pro-grama de medidas para cada região hidrográfica ou paraa parte de qualquer região hidrográfica internacionalque pertença ao seu território.

2 — Os programas de medidas a elaborar para cadaregião hidrográfica compreendem medidas de base emedidas suplementares, funcionalmente adaptadas àscaracterísticas da bacia, ao impacte da actividadehumana no estado das águas superficiais e subterrânease que sejam justificadas pela análise económica das uti-lizações da água e pela análise custo-eficácia dos con-dicionamentos e restrições a impor a essas utilizações.

3 — Os programas de medidas de base, enquantorequisitos mínimos a cumprir, compreendem as medidas,projectos e acções necessários para o cumprimento dosobjectivos ambientais, ao abrigo das disposições legaisem vigor, nomeadamente:

a) Medidas destinadas à prevenção e controlo dapoluição causada por fontes tópicas, incluindoa proibição da descarga de poluentes na águaou o estabelecimento de um regime de licen-ciamento, ou registo baseado em regras geraisde carácter obrigatório, incluindo controlos deemissões para os poluentes em causa, nos ter-mos dos artigos 46.o e 53.o;

b) Medidas destinadas à prevenção e controlo dapoluição causada por fontes difusas, que podemassumir a forma da exigência de uma regula-mentação prévia, como a proibição da descargade poluentes na água ou o estabelecimento deum regime de licenciamento, ou registo baseadoem regras gerais de carácter obrigatório;

c) Medidas destinadas à prevenção e controlo inte-grados da poluição proveniente de certas acti-vidades, incluindo o estabelecimento de medi-das destinadas a evitar ou reduzir as emissõesdessas actividades para o ar, a água ou o solo;

d) Medidas destinadas ao controlo das captaçõesde águas superficiais, incluindo a criação derepresas e outras infra-estruturas hidráulicas, ede águas subterrâneas, através do estabeleci-mento de um regime de licenciamento ouregisto;

e) Medidas destinadas à cessação ou redução pro-gressiva da poluição das águas superficiais cau-sada por substâncias prioritárias perigosas esubstâncias prioritárias, respectivamente, e àredução progressiva da poluição causada poroutras substâncias perigosas susceptíveis deimpedir que sejam alcançados os objectivos paraestas águas;

f) Medidas destinadas à concretização dos prin-cípios da recuperação dos custos dos serviçosde águas e do utilizador-pagador, através doestabelecimento de uma política de preços daágua e da responsabilização dos utilizadores, emconsonância com a análise económica das uti-lizações da água e com a correcta determinaçãodos custos dos serviços de águas associados comas actividades utilizadoras dos recursos hídricos;

g) Medidas destinadas à protecção das massas deágua destinadas à produção de água para con-sumo humano, incluindo medidas de salva-guarda dessas águas de forma a reduzir o tra-tamento necessário para a produção de águapotável com a qualidade exigida por lei;

h) Medidas destinadas à protecção e melhoria daqualidade das águas balneares;

i) Medidas destinadas à conservação das avesselvagens;

j) Medidas destinadas à prevenção de riscos deacidentes graves que envolvam substâncias peri-gosas;

l) Medidas a adoptar por força de avaliação préviade impactes ambientais;

m) Medidas relativas à utilização de lamas de depu-ração na agricultura por forma a evitar os seusefeitos nocivos, promovendo a sua correctautilização;

n) Medidas relativas à protecção das águas contradescargas de águas residuais urbanas;

o) Medidas relativas à utilização de produtos fito-farmacêuticos que contenham substâncias ouproduzam resíduos nocivos para a saúdehumana ou animal ou para o ambiente;

p) Medidas contra a poluição causada por motivosde origem agrícola;

q) Medidas relativas à conservação de habitatsnaturais e de flora e fauna selvagens;

r) Proibição das descargas directas de poluentesnas águas subterrâneas, salvo situações especí-ficas indicadas no n.o 4 que não comprometamo cumprimento dos objectivos ambientais, e con-trolo da recarga artificial destas águas, incluindoo estabelecimento de um regime de licencia-mento;

s) Medidas destinadas a promover a utilização efi-caz e sustentável da água a fim de evitar com-prometer o cumprimento dos objectivos espe-cificados nos artigos 45.o a 48.o;

t) Definição dos requisitos e condições da atri-buição de títulos de utilização;

u) Medidas destinadas à manutenção e melhoriadas condições hidromorfológicas das massas deágua que podem assumir a forma da exigênciade licenciamento, ou registo baseado em regrasgerais de carácter obrigatório, quando essa exi-gência não esteja já prevista na legislação;

v) Medidas destinadas à prevenção de perdas sig-nificativas de poluentes de instalações indus-triais para prevenir e reduzir o impacte de casosde poluição acidental, nomeadamente atravésde desenvolvimento de sistemas de alerta edetecção desses incidentes, tendo em vista aminimização dos impactes e a redução dos riscospara os ecossistemas aquáticos;

x) Programa de investimentos a realizar para atin-gir os objectivos definidos e calendarizados noPlano Nacional da Água.

4 — Constituem situações específicas em que podeser autorizada a descarga directa de poluentes nas águassubterrâneas, nos termos da alínea r) do n.o 2, asseguintes:

a) A injecção de água que contenha substânciasresultantes de operações de exploração e extrac-ção de hidrocarbonetos ou de actividades minei-

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ras e injecção de água por motivos técnicos emformações geológicas de onde se extraíramhidrocarbonetos ou outras substâncias ou emformações geológicas que, por razões naturais,são permanentemente inadequadas para outrosfins, não devendo essas injecções conter outrassubstâncias além das resultantes das actividadesacima mencionadas;

b) A reinjecção de água bombeada de minas epedreiras ou de água relacionada com a cons-trução ou manutenção de obras de engenhariacivil;

c) A injecção natural ou de gás de petróleo lique-feito (GPL) para fins de armazenamento emformações geológicas que, por razões naturais,são permanentemente inadequadas para outrosfins;

d) A injecção de gás natural ou de GPL para finsde armazenamento noutras funções geológicasquando exista uma necessidade imperiosa desegurança de abastecimento de gás e quando ainjecção se destine a prevenir qualquer perigo,presente ou futuro, de deterioração da qualidadede quaisquer águas subterrâneas recipientes;

e) A construção, obras de engenharia civil em gerale actividades semelhantes, à superfície ou sub-terrâneas, que entrem em contacto com águassubterrâneas, podendo, para estes fins, deter-minar-se que essas actividades devem ser con-sideradas como tendo sido autorizadas, na con-dição de se realizarem segundo regras geraisobrigatórias relativamente a essas actividades;

f) Descargas de pequenas quantidades de substân-cias com objectivos científicos, para caracteri-zação, protecção ou reparação de massas deágua, limitadas ao volume estritamente neces-sário para os fins em causa.

5 — As medidas previstas no n.o 3 são acompanhadaspelas providências necessárias para se não aumentar apoluição das águas marinhas e delas não pode resultardirecta ou indirectamente o aumento da poluição daságuas superficiais, salvo se a omissão de tais medidascausar o aumento da poluição ambiental no seu todo.

6 — Os planos de gestão de bacia hidrográfica inte-gram outras medidas suplementares para conseguir umamaior protecção ou uma melhoria adicional das águasabrangidas pela presente lei sempre que tal seja neces-sário para o cumprimento de acordos internacionaisrelevantes.

7 — São publicados os actos legislativos necessáriospara que possam ser adoptados nos planos de gestãoda bacia hidrográfica os programas de medidas previstasneste preceito, devendo as medidas novas ou revistasincluídas na revisão dos planos estar plenamente ope-racionais no prazo máximo de três anos a partir da suaadopção.

Artigo 31.o

Planos específicos de gestão das águas

1 — Os planos específicos de gestão das águas, com-plementares dos planos de gestão de bacia hidrográfica,constituem planos de gestão mais pormenorizada a nívelde sub-bacia, sector, problema, tipo de água ou sistemasaquíferos.

2 — Os planos específicos de gestão das águas podemincluir medidas de protecção e valorização dos recursoshídricos para certas zonas.

3 — Os planos específicos de gestão das águas e assuas actualizações devem ter um conteúdo similar aodos planos de gestão de bacia hidrográfica, com as neces-sárias adaptações e simplificações, e cumprir as demaisobrigações que resultem da presente lei e da legislaçãocomplementar nela prevista.

4 — Uma vez aprovado o Plano Nacional da Águae os respectivos planos de gestão de bacia hidrográfica,devem os planos específicos de gestão das águas serrevistos em conformidade com aqueles.

5 — Os planos específicos de gestão das águas esta-belecem o prazo da sua avaliação e actualização.

6 — Os planos específicos de gestão das águas devemser publicados no Diário da República e disponibilizadosno sítio electrónico da autoridade nacional da água.

SECÇÃO IV

Protecção e valorização

Artigo 32.o

Tipos de medidas

1 — É estabelecido um conjunto de medidas para sis-temática protecção e valorização dos recursos hídricos,complementares das constantes dos planos de gestãode bacia hidrográfica.

2 — Essas medidas têm por objectivo:

a) A conservação e reabilitação da rede hidrográ-fica, da zona costeira e dos estuários e das zonashúmidas;

b) A protecção dos recursos hídricos nas captações,zonas de infiltração máxima e zonas vulneráveis;

c) A regularização de caudais e a sistematizaçãofluvial;

d) A prevenção e a protecção contra riscos decheias e inundações, de secas, de acidentes gra-ves de poluição e de rotura de infra-estruturashidráulicas.

3 — Tendo em vista a sua preservação e perenidade,as zonas objecto das referidas medidas devem ser tidasem conta na elaboração e na revisão dos instrumentosde planeamento e de ordenamento dos recursos hídricos.

4 — O regime das medidas para protecção e valorizaçãodos recursos hídricos, bem como das zonas de intervenção,deve ser objecto de legislação ou regulamentação espe-cífica.

Artigo 33.o

Medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográficae zonas ribeirinhas

1 — As medidas de conservação e reabilitação da redehidrográfica e zonas ribeirinhas compreendem, nomea-damente:

a) Limpeza e desobstrução dos álveos das linhasde água, por forma a garantir condições deescoamento dos caudais líquidos e sólidos emsituações hidrológicas normais ou extremas;

b) Reabilitação de linhas de água degradadas edas zonas ribeirinhas;

c) Prevenção e protecção contra os efeitos da ero-são de origem hídrica;

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7293

d) Correcção dos efeitos da erosão, transporte edeposição de sedimentos, designadamente aonível da correcção torrencial;

e) Renaturalização e valorização ambiental e pai-sagística das linhas de água e das zonas envol-ventes;

f) Regularização e armazenamento dos caudaisem função dos seus usos, de situações de escas-sez e do controlo do transporte sólido;

g) Criação de reservas estratégicas de água, quandoe onde se justifique;

h) Amortecimento e laminagem de caudais decheia;

i) Estabelecimento de critérios de exploração iso-lada ou conjugada de albufeiras.

2 — A correcção dos efeitos da erosão, transportee deposição de sedimentos que implique o desassorea-mento das zonas de escoamento e de expansão das águasde superfície, quer correntes quer fechadas, bem comoda faixa costeira, e da qual resulte a retirada de mate-riais, tais como areias, areão, burgau, godo e cascalho,só é permitida quando decorrente de planos específicos.

3 — Os planos específicos de desassoreamento defi-nem os locais potenciais de desassoreamento quegarantam:

a) A manutenção das condições de funcionalidadedas correntes, a navegação e flutuação e o escoa-mento e espraiamento de cheias;

b) O equilíbrio dos cursos de água, praias e faixalitoral;

c) O equilíbrio dos ecossistemas;d) A preservação das águas subterrâneas;e) A preservação das áreas agrícolas envolventes;f) O uso das águas para diversos fins, incluindo

captações, represamentos, derivação e bomba-gem;

g) A integridade dos leitos e margens;h) A segurança de obras marginais ou de trans-

posição dos leitos;i) A preservação da fauna e da flora.

4 — A adequação de uma actividade de extracção deinertes como medida de desassoreamento constituirequisito necessário para o exercício dessa actividade,nos termos do n.o 3 do artigo 60.o, e sem prejuízo doregime de avaliação de impacte ambiental e do planode recuperação paisagística.

5 — As medidas de conservação e reabilitação da redehidrográfica devem ser executadas sob orientação dacorrespondente ARH, sendo da responsabilidade:

a) Dos municípios, nos aglomerados urbanos;b) Dos proprietários, nas frentes particulares fora

dos aglomerados urbanos;c) Dos organismos dotados de competência, pró-

pria ou delegada, para a gestão dos recursoshídricos na área, nos demais casos.

Artigo 34.o

Medidas de conservação e reabilitaçãoda zona costeira e estuários

1 — As medidas de conservação e reabilitação dazona costeira e dos estuários compreendem, nomea-damente:

a) Limpeza e beneficiação das margens e áreasenvolventes;

b) Reabilitação das margens e áreas degradadasou poluídas;

c) Protecção das orlas costeiras e estuarinas contraos efeitos da erosão de origem hídrica;

d) Desassoreamento das vias e das faixas acos-táveis;

e) Renaturalização e valorização ambiental e pai-sagística das margens e áreas envolventes.

2 — As medidas de conservação e reabilitação dazona costeira e dos estuários devem ser executadas soborientação da correspondente ARH, sendo da respon-sabilidade:

a) Dos municípios, nos aglomerados urbanos;b) Dos proprietários, nas frentes particulares fora

dos aglomerados urbanos;c) Dos organismos dotados de competência, pró-

pria ou delegada, para a gestão dos recursoshídricos na área, nos demais casos.

Artigo 35.o

Medidas de conservação e reabilitação das zonas húmidas

1 — As medidas de conservação e reabilitação daszonas húmidas compreendem, nomeadamente:

a) A garantia do equilíbrio hidrodinâmico e a qua-lidade das águas de superfície e subterrâneas;

b) A preservação das espécies aquáticas e ribei-rinhas protegidas e os respectivos habitats;

c) A ordenação da ocupação das zonas periféricase a salvaguarda dos locais de especial interesseecoturístico e paisagístico;

d) A definição dos usos permitidos e as condiçõesa respeitar pelas actividades económicas implan-tadas em torno das zonas húmidas;

e) A renaturalização e recuperação ambiental daszonas húmidas e das zonas envolventes.

2 — A declaração e a delimitação das zonas húmidascom especial interesse para a conservação da naturezae da biodiversidade são objecto de legislação específica.

Artigo 36.o

Medidas de protecção especial dos recursos hídricos

1 — Os perímetros de protecção e zonas adjacentesàs captações, zonas de infiltração máxima e zonas vul-neráveis são consideradas zonas objecto de medidas deprotecção especial dos recursos hídricos, sendo condi-cionadas, restringidas ou interditas as actuações e uti-lizações susceptíveis de perturbar os seus objectivosespecíficos, em termos de quantidade e qualidade daságuas.

2 — Nas zonas referidas no número anterior, os uti-lizadores do domínio hídrico podem ser obrigados acumprir ou respeitar acções e instruções administrativas,designadamente nos domínios da construção de infra--estruturas, da realização de medidas de ordenamentoe da sujeição a programas de fiscalização.

3 — Se das medidas referidas no número anteriorresultar uma compressão substancial do título autori-zativo dos utilizadores do domínio hídrico, o Estadoé obrigado a indemnizar os utilizadores, nos termosgerais.

4 — Para as águas das zonas que são objecto de medi-das de protecção especial de recursos hídricos são defi-

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nidos objectivos e normas de qualidade, cuja aplicaçãodeve ser sujeita a programas de monitorização e decontrolo.

Artigo 37.o

Medidas de protecção das captações de água

1 — As áreas limítrofes ou contíguas a captações deágua devem ter uma utilização condicionada, de formaa salvaguardar a qualidade dos recursos hídricos super-ficiais e subterrâneos utilizados.

2 — O condicionamento referido no número anteriordeve ser tipificado nos planos de recursos hídricos enos instrumentos especiais de gestão territorial, quepodem conter programas de intervenção nas áreas limí-trofes ou contíguas a captações de água do territórionacional.

3 — As medidas de protecção das captações de águasubterrânea para abastecimento público de consumohumano desenvolvem-se nos respectivos perímetros deprotecção, que compreendem:

a) Zona de protecção imediata — área da super-fície do terreno contígua à captação em que,para a protecção directa das instalações da cap-tação e das águas captadas, todas as actividadessão, por princípio, interditas;

b) Zona de protecção intermédia — área da super-fície do terreno contígua exterior à zona de pro-tecção imediata, de extensão variável, onde sãointerditas ou condicionadas as actividades e asinstalações susceptíveis de poluírem, alterarema direcção do fluxo ou modificarem a infiltraçãodaquelas águas, em função do risco de poluiçãoe da natureza dos terrenos envolventes;

c) Zona de protecção alargada — área da super-fície do terreno contígua exterior à zona de pro-tecção intermédia, destinada a proteger as águasde poluentes persistentes, onde as actividadese instalações são interditas ou condicionadas emfunção do risco de poluição.

4 — Nas zonas sujeitas a risco de intrusão salinapodem ser limitados os caudais de exploração das cap-tações existentes e interdita a construção ou a exploraçãode novas captações de água ou condicionado o seuregime de exploração.

5 — Aos proprietários privados dos terrenos que inte-grem as zonas de protecção e as zonas adjacentes éassegurado o direito de requerer a respectiva expro-priação, nos termos do Código das Expropriações.

6 — A declaração e a delimitação dos perímetros deprotecção e das zonas adjacentes às captações de águapara abastecimento público de consumo humano sãoobjecto de legislação específica, que define as áreasabrangidas, as instalações e as actividades sujeitas arestrições.

7 — As propostas de delimitação e respectivos con-dicionamentos são elaboradas pela administração daregião hidrográfica territorialmente competente, combase nas propostas e estudos próprios que lhe sejamapresentados pela entidade requerente da licença ouconcessão de captação de águas, em conformidade comos instrumentos normativos aplicáveis.

8 — As entidades responsáveis pelas captações deágua para abastecimento público já existentes, quer este-jam em funcionamento quer constituam uma reservapotencial, devem promover a delimitação dos perímetros

de protecção e das zonas adjacentes nos termos previstosnos números anteriores.

9 — Os perímetros de protecção e as zonas adjacentesdas captações de água para abastecimento público sãorevistos, sempre que se justifique, por iniciativa da admi-nistração da região hidrográfica territorialmente com-petente ou da entidade responsável pela captação.

Artigo 38.o

Zonas de infiltração máxima

1 — As áreas do território que constituam zonas deinfiltração máxima para recarga de aquíferos para cap-tação de água para abastecimento público de consumohumano devem ter uma utilização condicionada, deforma a salvaguardar a qualidade dos recursos hídricossubterrâneos, nomeadamente através de:

a) Delimitação de zonas especiais de protecçãopara a recarga de aquíferos;

b) Definição e aplicação de regras e limitações aouso desse espaço, condicionante do respectivolicenciamento.

2 — O condicionamento da utilização deve ser tipi-ficado nos planos de recursos hídricos e nos planos espe-ciais de ordenamento do território, que podem conterprogramas de intervenção nas áreas de maior infiltraçãodo território nacional.

3 — A declaração e a delimitação das zonas de infil-tração máxima para recarga de aquíferos para captaçãode água para abastecimento público de consumohumano devem ser objecto de legislação específica, ondese definam as instalações e actividades sujeitas arestrições.

4 — As propostas de delimitação e os respectivos con-dicionamentos são elaborados pela administração daregião hidrográfica territorialmente competente.

5 — A delimitação das zonas de infiltração máximapara recarga de aquíferos pode ser revista, sempre quese justifique, por iniciativa da administração da regiãohidrográfica territorialmente competente ou da entidaderesponsável pela captação.

Artigo 39.o

Zonas vulneráveis

1 — As áreas do território que constituam zonas vul-neráveis à poluição das águas causada ou induzida pornitratos de origem agrícola devem ter uma utilizaçãocondicionada, de forma a salvaguardar a sua qualidade,nomeadamente através de:

a) Delimitação dessas zonas especiais de protecção;b) Definição e aplicação de regras e limitações ao

uso desse espaço, condicionante do respectivolicenciamento.

2 — O condicionamento da utilização deve ser tipi-ficado e regulado nos planos específicos de gestão daságuas e nos planos especiais de ordenamento do ter-ritório, que podem conter programas de intervenção naszonas vulneráveis do território nacional.

3 — A declaração e a delimitação das zonas vulne-ráveis à poluição causada ou induzida por nitratos deorigem agrícola devem ser objecto de legislação espe-cífica, onde se definam as restrições a respeitar.

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7295

4 — As propostas de delimitação e os respectivos con-dicionamentos são elaborados pela administração daregião hidrográfica territorialmente competente, a quemigualmente compete a sua revisão, sempre que sejustifique.

Artigo 40.o

Medidas de protecção contra cheias e inundações

1 — Constituem zonas inundáveis ou ameaçadas pelascheias as áreas contíguas à margem dos cursos de águaou do mar que se estendam até à linha alcançada pelamaior cheia com probabilidade de ocorrência numperíodo de retorno de um século.

2 — As zonas inundáveis ou ameaçadas pelas cheiasdevem ser objecto de classificação específica e de medi-das especiais de prevenção e protecção, delimitando-segraficamente as áreas em que é proibida a edificaçãoe aquelas em que a edificação é condicionada, para segu-rança de pessoas e bens.

3 — Uma vez classificadas, as zonas inundáveis ouameaçadas pelas cheias ficam sujeitas às interdições erestrições previstas na lei para as zonas adjacentes.

4 — Os instrumentos de planeamento de recursoshídricos e de gestão territorial devem demarcar as zonasinundáveis ou ameaçadas por cheias e identificar as nor-mas que procederam à sua criação.

5 — Na ausência da delimitação e classificação daszonas inundáveis ou ameaçadas por cheias, devem osinstrumentos de planeamento territorial estabelecer asrestrições necessárias para reduzir o risco e os efeitosdas cheias, devendo estabelecer designadamente que ascotas dos pisos inferiores das edificações sejam supe-riores à cota local da máxima cheia conhecida.

6 — É competência da autoridade nacional da águaa aplicação de medidas para redução dos caudais decheia, de acordo com critérios e procedimentos nor-mativos estabelecidos.

7 — Até à aprovação da delimitação das zonas inun-dáveis ou ameaçadas pelas cheias, estão sujeitos a pare-cer vinculativo da administração da região hidrográficaterritorialmente competente o licenciamento de opera-ções de urbanização ou edificação, quando se localizemdentro do limite da cheia, com período de retorno de100 anos, ou de uma faixa de 100 m para cada ladoda linha de água, quando se desconheça aquele limite.

8 — É competência da autoridade nacional da água,em articulação com o Serviço Nacional de Bombeirose Protecção Civil e a ARH competente, a criação desistemas de alerta para salvaguarda de pessoas e bens.

Artigo 41.o

Medidas de protecção contra secas

1 — Dos programas de intervenção em situação deseca deve constar a definição das metas a atingir, asmedidas destinadas aos diversos sectores económicosafectados e os respectivos mecanismos de implemen-tação.

2 — As medidas de intervenção em situação de secadevem contemplar, designadamente, a alteração e even-tual limitação de procedimentos e usos, a redução depressões no sistema e a utilização de sistemas tarifáriosadequados.

3 — As áreas do território mais sujeitas a maior escas-sez hídrica devem ser objecto de especial atenção naelaboração dos programas de intervenção em situaçãode seca.

4 — Deve ser prioritariamente assegurada a dispo-nibilidade da água para o abastecimento público e, emseguida, para as actividades vitais dos sectores agro--pecuário e industrial.

Artigo 42.o

Medidas de protecção contra acidentes graves de poluição

1 — Nos programas de prevenção e de combate aacidentes graves de poluição, nomeadamente os cons-tantes dos planos de recursos hídricos, devem ser:

a) Identificados e avaliados os riscos de poluiçãode todas as fontes potenciais, nomeadamenteunidades industriais, estações de tratamento deáguas residuais e antigas minas abandonadas,depósitos de resíduos e circulação de veículosde transporte de substâncias de risco;

b) Identificadas todas as utilizações que possamser postas em risco por eventuais acidentes depoluição, muito em particular as origens paraabastecimento de água que sirvam aglomeradosmais populosos;

c) Definidas as medidas destinadas às diversassituações previsíveis nos sectores de actividadede maior risco e os respectivos mecanismos deimplementação, estruturadas de acordo com osníveis de gravidade da ocorrência e da impor-tância dos recursos em risco.

2 — Deve ser estabelecido um sistema de aviso ealerta, com níveis de actuação de acordo com o previstonos programas, cabendo em primeiro lugar à entidaderesponsável pelo acidente a obrigação de alertar as auto-ridades competentes.

3 — As águas devem ser especialmente protegidascontra acidentes graves de poluição, de forma a sal-vaguardar a qualidade dos recursos hídricos e dos ecos-sistemas, bem como a segurança de pessoas e bens.

Artigo 43.o

Medidas de protecção contra rotura de infra-estruturas hidráulicas

1 — A segurança das infra-estruturas hidráulicas,sobretudo das grandes barragens, deve ser asseguradade forma a salvaguardar a segurança de pessoas e bens.

2 — Os correspondentes programas de segurançadevem incluir cartas de riscos, tendo em conta o estudode ondas de inundação apresentado no projecto, queinclui a determinação das alturas da água a atingir naszonas inundáveis e dos respectivos tempos de concen-tração, bem como níveis de actuação para o sistemade aviso e alerta.

3 — Os programas de segurança devem especificaras condições de utilização admitidas para as infra--estruturas hidráulicas e condicionar as utilizações e osrespectivos licenciamentos a jusante, tendo nomeada-mente em consideração os cenários de risco caracte-rísticos de cada infra-estrutura hidráulica, esvaziamentosrápidos, sismos e galgamentos rápidos.

4 — As zonas de risco devem ser objecto de clas-sificação específica e de medidas especiais de prevençãoe protecção, delimitando-se graficamente as áreas nasquais é proibida a edificação e aquelas nas quais a edi-ficação é condicionada, para segurança de pessoas ebens.

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5 — Os condicionamentos de utilização do solodevem ser tipificados nos planos de recursos hídricose nos instrumentos de gestão territorial.

6 — Cabe aos proprietários das infra-estruturashidráulicas elaborar os respectivos programas de segu-rança, de acordo com a legislação específica aplicável,comunicando-os à autoridade nacional da água e aoServiço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil,devendo tais programas, no caso de barragens, observaro Regulamento de Segurança de Barragens e ser tam-bém submetidos à aprovação da autoridade nacionalda água.

7 — No âmbito dos mesmos programas de segurança,os proprietários são responsáveis pelo estabelecimentode sistemas de aviso e alerta, cabendo-lhes ainda a obri-gação de alertar as autoridades competentes em casode necessidade.

8 — A autoridade nacional da água deve delimitaras eventuais zonas de risco, ouvidas as câmaras muni-cipais com jurisdição nas áreas abrangidas.

Artigo 44.o

Estado de emergência ambiental

1 — Em caso de catástrofes naturais ou acidentes pro-vocados pelo homem que danifiquem ou causem umperigo muito significativo de danificação grave e irre-parável, da saúde humana, da segurança de pessoas ebens e do estado de qualidade das águas, pode o Pri-meiro-Ministro declarar, em todo ou em parte do ter-ritório nacional, o estado de emergência ambiental, sobproposta do Ministro do Ambiente, do Ordenamentodo Território e do Desenvolvimento Regional, se nãofor possível repor o estado anterior pelos meios normais.

2 — Caso seja declarado o estado de emergênciaambiental nos termos do número anterior, é criado umconselho de emergência ambiental, presidido peloMinistro do Ambiente, do Ordenamento do Territórioe do Desenvolvimento Regional, composto pelas enti-dades por este nomeadas que, em função das circuns-tâncias excepcionais verificadas, possam contribuir paraa reposição do estado ecológico anterior ou para a dimi-nuição dos riscos e danos criados.

3 — No período de vigência do estado de emergênciaambiental, as ARH podem:

a) Suspender a execução de instrumentos de pla-neamento das águas;

b) Suspender actos que autorizam utilizações dosrecursos hídricos;

c) Modificar, no respeito pelo princípio da pro-porcionalidade e atendendo à duração do estadode emergência ambiental, o conteúdo dos actosque autorizam utilizações dos recursos hídricos;

d) Definir prioridades de utilização dos recursoshídricos, derrogando a hierarquia estabelecidana lei ou nos instrumentos de planeamento daságuas;

e) Impor comportamentos ou aplicar medidas cau-telares de resposta aos riscos ecológicos;

f) Apresentar recomendações aos utilizadores dosrecursos hídricos e informar o público acercada evolução do risco.

4 — Os actos de emergência ambiental referidos nonúmero anterior devem ser ratificados pelo Ministro

do Ambiente, do Ordenamento do Território e doDesenvolvimento Regional.

5 — O estado de emergência ambiental tem a duraçãomáxima de três meses.

CAPÍTULO IV

Objectivos ambientais e monitorização das águas

Artigo 45.o

Objectivos ambientais

1 — Os objectivos ambientais para as águas super-ficiais e subterrâneas e para as zonas protegidas sãoprosseguidos através da aplicação dos programas demedidas especificados nos planos de gestão de baciashidrográficas.

2 — Os programas de medidas devem permitir alcan-çar os objectivos ambientais definidos referentes ao bomestado e bom potencial das massas de água, o mais tardeaté 2015, sem prejuízo das prorrogações e derrogaçõesprevistas nos artigos 50.o e 51.o

3 — No caso de massas de água transfronteiriças, adefinição dos objectivos ambientais é coordenada comas entidades responsáveis do Reino de Espanha, no con-texto de gestão coordenada da região hidrográficainternacional.

4 — No caso de mais de um objectivo ser estabelecidopara uma mesma massa de água, prevalece o que formais exigente.

5 — O estado da água adequado aos vários tipos deusos considerados na presente lei é determinado, tendoem conta os fins e os objectivos enunciados, atravésdas normas de qualidade previstas:

a) Na presente lei e respectivas disposições com-plementares;

b) Nos planos de gestão de bacia hidrográfica erestantes instrumentos de planeamento daságuas;

c) Nas zonas especiais de protecção de recursoshídricos;

d) Nos títulos de utilização dos recursos hídricos.

6 — Nos instrumentos indicados no número anteriorpodem também ser determinados parâmetros quanti-tativos para tipos ou usos específicos de águas.

7 — O estado da água exprime uma ponderação ade-quada, necessária e proporcional dos bens e interessesassociados.

Artigo 46.o

Objectivos para as águas superficiais

1 — Devem ser aplicadas as medidas necessárias paraevitar a deterioração do estado de todas as massas deágua superficiais, sem prejuízo das disposições seguintes.

2 — Com o objectivo de alcançar o bom estado dasmassas de águas superficiais, com excepção das massasde águas artificiais e fortemente modificadas, devemser tomadas medidas tendentes à sua protecção, melho-ria e recuperação.

3 — Com o objectivo de alcançar o bom potencialecológico e bom estado químico das massas de águasartificiais ou fortemente modificadas devem ser tomadasmedidas tendentes à sua protecção e melhoria do seuestado.

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7297

4 — Deve ainda ser assegurada a redução gradual dapoluição provocada por substâncias prioritárias e ces-sação das emissões, descargas e perdas de substânciasprioritárias perigosas.

5 — São definidas em normas a aprovar, nos termosdo n.o 3 do artigo 102.o, a classificação e apresentaçãodo estado ecológico das águas de superfície e a moni-torização do estado ecológico e químico das águas desuperfície.

Artigo 47.o

Objectivos para as águas subterrâneas

1 — Devem ser aplicadas as medidas destinadas a evi-tar ou limitar a descarga de poluentes nas águas sub-terrâneas e prevenir a deterioração do estado de todasas massas de água.

2 — Deve ser alcançado o bom estado das águas sub-terrâneas, para o que se deve:

a) Assegurar a protecção, melhoria e recuperaçãode todas as massas de água subterrâneas, garan-tindo o equilíbrio entre as captações e as recar-gas dessas águas;

b) Inverter quaisquer tendências significativas per-sistentes para o aumento da concentração depoluentes que resulte do impacte da actividadehumana, com vista a reduzir gradualmente osseus níveis de poluição.

3 — Os estados quantitativo e químico das águas sub-terrâneas e a sua monitorização são regulados por nor-mas a aprovar, nos termos do n.o 3 do artigo 102.o

4 — A descarga directa de poluentes nas águas sub-terrâneas é proibida, à excepção de descargas que nãocomprometam o cumprimento dos objectivos específicosestabelecidos na presente lei, que podem ser autorizadasnas condições definidas por normas a aprovar, nos ter-mos do n.o 3 do artigo 102.o

Artigo 48.o

Objectivos para as zonas protegidas

1 — Devem ser assegurados os objectivos que justi-ficaram a criação das zonas protegidas, observando-seintegralmente as disposições legais estabelecidas comessa finalidade e que garantem o controlo da poluição.

2 — Deve ser elaborado um registo de todas as zonasincluídas em cada região hidrográfica que tenham sidodesignadas como zonas que exigem protecção especialno que respeita à protecção das águas superficiais esubterrâneas ou à conservação dos habitats e das espé-cies directamente dependentes da água.

3 — O registo das zonas protegidas de cada regiãohidrográfica inclui os mapas com indicação da locali-zação de cada zona protegida e uma descrição da legis-lação ao abrigo da qual essas zonas tenham sido criadas.

4 — Devem ser identificadas em cada região hidro-gráfica todas as massas de água destinadas a captaçãopara consumo humano que forneçam mais de 10 m3

por dia em média ou que sirvam mais de 50 pessoase, bem assim, as massas de água previstas para essesfins, e é referida, sendo caso disso, a sua classificaçãocomo zonas protegidas.

Artigo 49.o

Massas de água artificiais ou fortemente modificadas

1 — Uma massa de água superficial pode ser desig-nada como artificial ou fortemente modificada se ocor-rerem cumulativamente as duas seguintes condições:

a) Se as alterações a introduzir nas característicashidromorfológicas dessa massa de água, neces-sárias para atingir bom estado ecológico, serevestirem de efeitos adversos significativossobre:

i) O ambiente em geral;ii) A capacidade de regularização de cau-

dais, protecção contra cheias e drenagemdos solos;

iii) Utilizações específicas, nomeadamente anavegação, equipamentos portuários, acti-vidades de recreio, actividades para asquais a água esteja armazenada, incluindoo abastecimento de água potável, a pro-dução de energia ou a irrigação; ou

iv) Outras actividades igualmente importan-tes para o desenvolvimento sustentável;

b) Se os benefícios produzidos pelas característicasartificiais ou fortemente modificadas da massade água não puderem, por motivos de exequi-bilidade técnica ou pela desproporção dos cus-tos, ser razoavelmente obtidos por outros meiosque constituam uma melhor opção ambiental.

2 — A designação de uma massa de água como arti-ficial ou fortemente modificada e a respectiva funda-mentação constam do plano de gestão de bacia hidro-gráfica, sendo obrigatória a sua revisão de seis em seisanos.

Artigo 50.o

Prorrogações de prazo

O prazo estabelecido no n.o 2 do artigo 45.o podeser prorrogado para efeitos de uma realização gradualdos objectivos para as massas de água, uma vez queestejam preenchidos os requisitos do artigo 52.o, desdeque, em alternativa, não se verifique mais nenhuma dete-rioração no estado de massa de água afectada ou severifiquem todas as seguintes condições:

a) As necessárias melhorias no estado das massasde água não poderem ser todas razoavelmentealcançadas devido, pelo menos, a uma dasseguintes razões:

i) A escala das melhorias necessárias sópoder ser, por razões de exequibilidadetécnica, realizada por fases que excedamo calendário exigível;

ii) Ser desproporcionadamente dispendiosocomplementar as melhorias nos limitesdo calendário exigível; ou

iii) As condições naturais não permitiremmelhorias atempadas do estado da massade água; e

b) A prorrogação do prazo bem como a respectivajustificação serem especificamente referidas eexplicadas no plano de gestão de bacia hidro-gráfica; e ainda

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c) As prorrogações serem limitadas a períodos quenão excedam o período abrangido por duasactualizações do plano de gestão de bacia hidro-gráfica, excepto no caso de as condições naturaisserem tais que os objectivos não possam seralcançados nesse período; e finalmente

d) Tenham sido inscritos no plano de gestão de baciahidrográfica uma breve descrição das medidaspara que as massas de água venham progressi-vamente a alcançar o estado exigido no final doprazo prorrogado, a justificação de eventuais atra-sos significativos na aplicação dessas medidas eo calendário previsto para a respectiva aplicaçãoe tenha sido incluída na actualização do planode gestão de bacia hidrográfica uma análise deexecução das medidas previstas e uma brevedescrição de quaisquer medidas adicionais.

Artigo 51.o

Derrogações

1 — Podem ser adoptados objectivos ambientaismenos exigentes do que os previstos nos artigos 46.oe 47.o, quando as massas de água estejam tão afectadaspela actividade humana, conforme determinado pelasanálises previstas no n.o 2 do artigo 30.o, ou o seu estadonatural seja tal que se revele inexequível ou despro-porcionadamente dispendioso alcançar esses objectivose desde que se verifiquem, para além dos requisitosdefinidos no artigo 52.o, todas as condições seguintes:

a) As necessidades ambientais e sócio-económicasservidas por tal actividade humana não possamser satisfeitas por outros meios que constituamuma opção ambiental melhor, que não impliquecustos desproporcionados; e

b) Seja assegurado, no caso das águas de superfície,a consecução do mais alto estado ecológico equímico possível, dados os impactes que nãopoderiam razoavelmente ter sido evitadosdevido à natureza de actividade humana ou depoluição;

c) Seja assegurado, no caso das águas subterrâneas,a menor modificação possível no estado destaságuas, dados os impactes que não poderiamrazoavelmente ter sido evitados devido à naturezade actividade humana ou de poluição; e

d) Não ocorram novas deteriorações do estado damassa de água afectada; e

e) Sejam especificamente incluídos no plano de ges-tão de bacia hidrográfica os objectivos ambientaismenos exigentes e a sua justificação e que osmesmos sejam revistos de seis em seis anos.

2 — A deterioração temporária do estado das massasde água não é considerada um incumprimento dos objec-tivos estabelecidos em conformidade com a presentelei desde que, além dos requisitos do artigo 52.o, seobservem os requisitos dos n.os 3 e 4 e se a mesmaresultar de:

a) Circunstâncias imprevistas ou excepcionais; oub) Causas naturais ou de força maior que sejam

excepcionais ou não pudessem razoavelmenteter sido previstas, particularmente inundaçõesextremas e secas prolongadas; ou

c) Circunstâncias devidas a acidentes que nãopudessem ter sido razoavelmente previstas.

3 — A deterioração temporária admitida no n.o 2 sóse considera justificada desde que estejam preenchidosos seguintes requisitos:

a) Sejam tomadas todas as medidas para evitaruma maior deterioração do estado das águase para não comprometer o cumprimento dosobjectivos ambientais noutras massas de águanão afectadas por essas circunstâncias;

b) Se encontrem indicadas no plano de gestão debacia hidrográfica as condições em que podemser declaradas as referidas circunstâncias impre-vistas ou excepcionais, incluindo a adopção dosindicadores apropriados;

c) As medidas a tomar nestas circunstâncias excep-cionais estejam incluídas no programa de medi-das e não comprometam a recuperação da qua-lidade da massa de água quando essas circuns-tâncias deixarem de se verificar;

d) Os efeitos das circunstâncias excepcionais ouque não pudessem razoavelmente ter sido pre-vistas sejam analisados anualmente e sejam jus-tificados à luz dos motivos indicados noartigo 50.o e sejam tomadas todas as medidaspara restabelecer a massa de água no estadoem que se encontrava antes de sofrer os efeitosdessas circunstâncias tão cedo quanto for razoa-velmente viável;

e) Seja incluída na actualização seguinte do planode gestão de bacia hidrográfica uma brevedescrição dos efeitos dessas circunstâncias e dasmedidas tomadas ou a tomar nos termos destenúmero.

4 — É admissível o incumprimento dos objectivosambientais definidos neste capítulo para as massas deágua, desde que se observem os requisitos do n.o 5 edo artigo 52.o, quando:

a) O facto de não se restabelecer o bom estadodas águas subterrâneas, o bom estado ecológicoou, quando aplicável, o bom potencial ecológico,ou de não se conseguir evitar a deterioraçãodo estado de uma massa de águas superficiaisou subterrâneas, resultar de alterações recentesdas características físicas de uma massa de águassuperficiais ou de alterações do nível de massasde águas subterrâneas; ou

b) O facto de não se evitar a deterioração do estadode uma massa de água de classificação Excelentepara Bom resultar de novas actividades humanasde desenvolvimento sustentável.

5 — O incumprimento de objectivos, permitido non.o 4, pressupõe ainda a observância de todos os seguin-tes requisitos:

a) Que sejam tomadas todas as medidas exequíveispara mitigar o impacte negativo sobre o estadoda massa de água;

b) Que as razões que expliquem as alterações este-jam especificamente definidas e justificadas noplano de gestão de bacia hidrográfica e sejamrevistas de seis em seis anos;

c) Que as razões de tais modificações ou alteraçõessejam de superior interesse público ou os bene-fícios para o ambiente e para a sociedade decor-rentes da realização dos objectivos definidos,nos termos deste capítulo, sejam superados

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pelos benefícios das novas modificações ou alte-rações para a saúde humana, para a manutençãoda segurança humana ou para o desenvolvi-mento sustentável;

d) Que os objectivos benéficos decorrentes dessasmodificações ou alterações da massa de águanão possam, por motivos de exequibilidade téc-nica ou de custos desproporcionados, ser alcan-çados por outros meios que constituam umaopção ambiental significativamente melhor.

Artigo 52.o

Condições aplicáveis às prorrogações e derrogações

As prorrogações e derrogações estão sujeitas àsseguintes condições:

a) Não constituam perigo para a saúde pública;b) Não comprometam os objectivos noutras massas

de água pertencentes à mesma região hidro-gráfica;

c) Não colidam com a execução da restante legis-lação ambiental;

d) Não representem um menor nível de protecçãodo que o que é assegurado pela aplicação dalegislação em vigor à data da entrada em vigorda presente lei.

Artigo 53.o

Abordagem combinada

1 — Todas as descargas para águas superficiais sãocontroladas de acordo com a abordagem combinadaestabelecida no presente artigo.

2 — São estabelecidos, ao abrigo da legislação apli-cável, nos planos de gestão de bacia hidrográfica:

a) Controlos de emissões com base nas melhorestécnicas disponíveis;

b) Valores limites de emissão pertinentes;c) No caso de impactes difusos, controlos que

incluam, sempre que necessário, as melhorespráticas ambientais.

3 — Sempre que um objectivo ou uma norma de qua-lidade estabelecidos nos termos da lei tornar necessáriaa imposição de condições mais estritas que as que resul-tariam da aplicação do número anterior, são instituídos,nesse sentido, controlos de emissões mais estritos.

Artigo 54.o

Monitorização do estado das águas de superfíciee subterrâneas e zonas protegidas

1 — Devem ser definidas para cada região hidrográ-fica redes de recolha de dados para monitorização devariáveis biológicas, hidrológicas e climatológicas, físi-co-químicas, de sedimentos e da qualidade química eecológica da água.

2 — Deve estar operacional até 2006 um programanacional de monitorização do estado das águas super-ficiais e subterrâneas e das zonas protegidas que permitauma análise coerente e exaustiva desse estado em cadaregião hidrográfica, assegurando a homogeneidade e ocontrolo de qualidade e a protecção de dados e a ope-racionalidade e actualização da informação colhida pelasredes de monitorização.

3 — Para as águas superficiais o programa deveincluir:

a) O volume e o nível de água ou o caudal namedida em que seja relevante para a definiçãodo estado ecológico e químico e do potencialecológico;

b) Os parâmetros de caracterização do estado eco-lógico, do estado químico e do potencial eco-lógico.

4 — Para as águas subterrâneas o programa deveincluir a monitorização do estado químico e do estadoquantitativo.

5 — Para as zonas protegidas o programa é comple-mentado pelas especificações constantes de legislaçãono âmbito da qual tenha sido criada cada uma dessaszonas.

6 — As especificações técnicas e os métodos norma-lizados de análise e de controlo do estado de água sãoestabelecidos em normas a aprovar, nos termos do n.o 3do artigo 102.o

Artigo 55.o

Revisão e ajustamentos

Se os dados de monitorização ou outros indicaremque não é possível que sejam alcançados os objectivosdefinidos nos termos dos artigos 45.o a 48.o, a autoridadenacional da água investiga as causas do eventual fracassoe, se as mesmas não decorrerem de causas naturais oude força maior, promove:

a) A análise e revisão dos títulos de utilização rele-vantes, conforme adequado;

b) A revisão e ajustamento dos programas de con-trolo conforme adequado;

c) A adopção de eventuais medidas adicionaisnecessárias para atingir esses objectivos,incluindo o estabelecimento de normas de qua-lidade, adequadas segundo os procedimentosfixados em normativo próprio.

CAPÍTULO V

Utilização dos recursos hídricos

Artigo 56.o

Princípio da necessidade de título de utilização

Ao abrigo do princípio da precaução e da prevenção,as actividades que tenham um impacte significativo noestado das águas só podem ser desenvolvidas desde queao abrigo de título de utilização emitido nos termose condições previstos nesta lei e em decreto-lei a aprovarao abrigo do n.o 2 do artigo 102.o, o qual regula aindaas matérias versadas na alínea a) do n.o 1 do artigo 63.o,do n.o 3 do artigo 66.o, do n.o 5 do artigo 67.o, do n.o 9do artigo 68.o e do n.o 1 do artigo 69.o

Artigo 57.o

Deveres básicos dos utilizadores

1 — Os utilizadores dos recursos hídricos devemactuar diligentemente, tendo em conta as circunstâncias,de modo a:

a) Evitar qualquer perturbação do estado da água,determinado nos termos da presente lei, e, em

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especial, qualquer contaminação ou alteraçãoadversa das suas capacidades funcionais;

b) Obter um uso económico da água sustentávele compatível com a manutenção da integridadedos recursos hídricos.

2 — As águas são usadas de modo a evitar a criaçãode riscos desrazoáveis ou de perigos para a sua inte-gridade, para a qualidade do ambiente ou para as reser-vas públicas de abastecimento.

3 — Quem construa, explore ou opere uma instalaçãocapaz de causar poluição hídrica deve, em caso de aci-dente, tomar as precauções adequadas, necessárias eproporcionais para, tendo em conta a natureza e exten-são do perigo, prevenir acidentes e minimizar os seusimpactes.

Artigo 58.o

Utilização comum dos recursos hídricos do domínio público

Os recursos hídricos do domínio público são de usoe fruição comum, nomeadamente nas suas funções derecreio, estadia e abeberamento, não estando este usoe fruição sujeito a título de utilização, desde que sejafeito no respeito da lei geral e dos condicionamentosdefinidos nos planos aplicáveis e não produza alteraçãosignificativa da qualidade e da quantidade da água.

Artigo 59.o

Utilização privativa dos recursos hídricos do domínio público

1 — Considera-se utilização privativa dos recursoshídricos do domínio público aquela em que alguém obti-ver para si a reserva de um maior aproveitamento dessesrecursos do que a generalidade dos utentes ou aquelaque implicar alteração no estado dos mesmos recursosou colocar esse estado em perigo.

2 — O direito de utilização privativa de domíniopúblico só pode ser atribuído por licença ou por con-cessão qualquer que seja a natureza e a forma jurídicado seu titular, não podendo ser adquirido por usucapiãoou por qualquer outro título.

Artigo 60.o

Utilizações do domínio público sujeitas a licença

1 — Estão sujeitas a licença prévia as seguintes uti-lizações privativas dos recursos hídricos do domíniopúblico:

a) A captação de águas;b) A rejeição de águas residuais;c) A imersão de resíduos;d) A ocupação temporária para a construção ou

alteração de instalações, fixas ou desmontáveis,apoios de praia ou similares e infra-estruturase equipamentos de apoio à circulação rodoviá-ria, incluindo estacionamentos e acessos aodomínio público hídrico;

e) A implantação de instalações e equipamentosreferidos na alínea anterior;

f) A ocupação temporária para construção ou alte-ração de infra-estruturas hidráulicas;

g) A implantação de infra-estruturas hidráulicas;h) A recarga de praias e assoreamentos artificiais

e a recarga e injecção artificial em águassubterrâneas;

i) As competições desportivas e a navegação, bemcomo as respectivas infra-estruturas e equipa-mentos de apoio;

j) A instalação de infra-estruturas e equipamentosflutuantes, culturas biogenéticas e marinhas;

l) A sementeira, plantação e corte de árvores earbustos;

m) A realização de aterros ou de escavações;n) Outras actividades que envolvam a reserva de

um maior aproveitamento desses recursos porum particular e que não estejam sujeitas aconcessão;

o) A extracção de inertes;p) Outras actividades que possam pôr em causa

o estado dos recursos hídricos do domíniopúblico e que venham a ser condicionadas porregulamentos anexos aos instrumentos de gestãoterritorial ou por regulamentos anexos aos pla-nos de gestão da bacia hidrográfica.

2 — No caso de a utilização estar também sujeita notodo ou em parte a concessão, aplicar-se-á unicamenteeste último regime a toda a utilização.

3 — A extracção de inertes em águas públicas devepassar a ser executada unicamente como medida neces-sária ou conveniente à gestão das águas, ao abrigo deum plano específico de gestão das águas ou de umamedida tomada ao abrigo dos artigos 33.o ou 34.o

Artigo 61.o

Utilizações do domínio público sujeitas a concessão

Estão sujeitas a prévia concessão as seguintes uti-lizações privativas dos recursos hídricos do domíniopúblico:

a) Captação de água para abastecimento público;b) Captação de água para rega de área superior

a 50 ha;c) Utilização de terrenos do domínio público

hídrico que se destinem à edificação deempreendimentos turísticos e similares;

d) Captação de água para produção de energia;e) Implantação de infra-estruturas hidráulicas que

se destinem aos fins referidos nas alíneasanteriores.

Artigo 62.o

Utilização de recursos hídricos particulares

1 — Estão sujeitas a autorização prévia de utilizaçãode recursos hídricos as seguintes actividades quandoincidam sobre leitos, margens e águas particulares:

a) Realização de construções;b) Implantação de infra-estruturas hidráulicas;c) Captação de águas;d) Outras actividades que alterem o estado das

massas de águas ou coloquem esse estado emperigo, para além das referidas no númeroseguinte.

2 — Estão sujeitas a licença prévia de utilização eà observância do disposto no plano de gestão de baciahidrográfica as seguintes actividades quando incidamsobre leitos, margens e águas particulares:

a) Rejeição de águas residuais;b) Imersão de resíduos;

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7301

c) Recarga e injecção artificial em águas sub-terrâneas;

d) Extracção de inertes;e) Aterros e escavações.

3 — Na medida em que tal não ponha em causa osobjectivos da presente lei, pode ser dispensada peloregulamento anexo ao plano de gestão de bacia hidro-gráfica ou pelo regulamento anexo ao plano especialde ordenamento do território aplicável a necessidadede autorização prévia prevista no n.o 1 ou substituídapela mera comunicação às autoridades que fiscalizama utilização dos recursos hídricos.

4 — A captação de águas particulares exige a simplescomunicação do utilizador à entidade competente paraa fiscalização de utilização de recursos hídricos quandoos meios de extracção não excedam os 5 cv, salvo sea referida captação vier a ser caracterizada pela auto-ridade competente para o licenciamento como tendoum impacte significativo no estado das águas.

Artigo 63.o

Requisitos e condições dos títulos de utilização

1 — A atribuição dos títulos de utilização deveassegurar:

a) A observância das normas e princípios da pre-sente lei e das normas a aprovar, previstas noartigo 56.o;

b) O respeito pelo disposto no plano de gestãode bacia hidrográfica aplicável;

c) O respeito pelo disposto nos instrumentos degestão territorial, nos planos específicos de ges-tão das águas e nos regulamentos previstos noartigo 27.o;

d) O cumprimento das normas de qualidade e dasnormas de descarga;

e) A concessão de prevalência ao uso consideradoprioritário nos termos da presente lei, no casode conflito de usos.

2 — O título de utilização deve determinar que o uti-lizador se abstenha da prática de actos ou actividadesque causem a degradação do estado das massas de águase gerem outros impactes ambientais negativos ou invia-bilizem usos alternativos considerados prioritários.

Artigo 64.o

Ordem de preferência de usos

1 — No caso de conflito entre diversas utilizações dodomínio público hídrico são seguidos os critérios de pre-ferência estabelecidos no plano de gestão de bacia hidro-gráfica, sendo em qualquer caso dada prioridade à cap-tação de água para abastecimento público face aosdemais usos previstos, e em igualdade de condições épreferido o uso que assegure a utilização economica-mente mais equilibrada, racional e sustentável, sem pre-juízo da protecção dos recursos hídricos.

2 — Ao ponderar a situação de conflito referida non.o 1, são considerados não só os novos pedidos de títulosde utilização como os títulos de utilização em vigor quepossam ser revogados.

3 — Em caso de declaração de situação de escassez,a ordem de prioridade referida nos números anteriores

pode ser alterada pela administração da região hidro-gráfica, ouvido o conselho de região hidrográfica.

4 — São consideradas como utilizações principais dodomínio público hídrico as referidas no artigo 61.o ecomo complementares todas as restantes.

Artigo 65.o

Pedido de informação prévia

Qualquer interessado pode dirigir à ARH competenteum pedido de informação prévia sobre a possibilidadede utilização dos recursos hídricos para o fim pretendido,mas a informação prestada só constituirá direitos ouinteresses legalmente protegidos na esfera do reque-rente se tal vier a ser reconhecido no diploma com-plementar previsto no artigo 56.o

Artigo 66.o

Regime das autorizações

1 — Uma vez apresentado o pedido de autorização,o mesmo considera-se deferido se não for comunicadaqualquer decisão no prazo de dois meses, desde quese não verifique qualquer dos pressupostos que impu-sesse o indeferimento.

2 — Por força da obtenção do título de utilização edo respectivo exercício, é devida uma taxa de recursoshídricos pelo impacte negativo da actividade autorizadanos recursos hídricos.

3 — Pelas normas a aprovar nos termos do artigo 56.oé definida a tramitação dos pedidos de autorização eo respectivo regime e bem assim são fixados objecti-vamente os pressupostos que permitam o respectivoindeferimento.

Artigo 67.o

Regime das licenças

1 — A licença confere ao seu titular o direito a exerceras actividades nas condições estabelecidas por lei ouregulamento, para os fins, nos prazos e com os limitesestabelecidos no respectivo título.

2 — A licença é concedida pelo prazo máximo de10 anos, consoante o tipo de utilizações, e atendendonomeadamente ao período necessário para a amorti-zação dos investimentos associados.

3 — A licença pode ser revista em termos temporáriosou definitivos pela autoridade que a concede:

a) No caso de se verificar alteração das circuns-tâncias de facto existentes à data da sua emissãoe determinantes desta, nomeadamente a degra-dação das condições do meio hídrico;

b) No caso de necessidade de alteração das suascondições para que os objectivos ambientaisfixados possam ser alcançados nos prazos legais;

c) Para adequação aos instrumentos de gestão ter-ritorial e aos planos de gestão de bacia hidro-gráfica aplicáveis;

d) No caso de seca, catástrofe natural ou outrocaso de força maior.

4 — Por força da obtenção da licença de utilizaçãoe do respectivo exercício são devidas:

a) Uma taxa de recursos hídricos;b) Uma caução adequada destinada a assegurar

o cumprimento das obrigações do detentor dotítulo que sejam condições da própria utilização.

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5 — Por normas a aprovar nos termos do artigo 56.oé definido o procedimento de atribuição e o regimede licença.

Artigo 68.o

Regime das concessões

1 — A concessão de utilizações privativas dos recursoshídricos do domínio público é atribuída nos termos decontrato a celebrar entre a administração e o con-cessionário.

2 — A concessão confere ao seu titular o direito deutilização exclusiva, para os fins e com os limites esta-belecidos no respectivo contrato, dos bens objecto deconcessão, o direito à utilização de terrenos privadosde terceiros para realização de estudos, pesquisas e son-dagens necessárias, mediante indemnização dos prejuí-zos causados, e ainda, no caso de ser declarada a uti-lidade pública do aproveitamento, o direito de requerere beneficiar das servidões administrativas e expropria-ções necessárias, nos termos da legislação aplicável.

3 — A escolha do concessionário pela administraçãoé realizada através de:

a) Decreto-lei, nos termos previstos no númeroseguinte;

b) Procedimento pré-contratual de concurso público;c) Procedimento iniciado a pedido do interessado,

nos termos do disposto n.o 5 do presente artigo.

4 — A escolha do concessionário apenas pode ser rea-lizada por decreto-lei quando a mesma recaia sobreempresas públicas a quem deva caber a exploração deempreendimentos de fins múltiplos, referidos noartigo 75.o, ou de empreendimentos equiparados, nostermos do n.o 2 do artigo 13.o

5 — A administração poderá escolher como conces-sionário o interessado que apresente um pedido nessesentido, desde que, durante um prazo não inferior a30 dias contados a partir da afixação dos editais e dapublicação no jornal oficial, não seja recebido outropedido com o mesmo propósito, sendo que, sempre que,no decurso desse prazo, outro interessado apresentarum idêntico pedido de atribuição de concessão, a admi-nistração abre um procedimento concursal entre os inte-ressados, gozando o primeiro requerente de direito depreferência em igualdade de condições.

6 — O contrato de concessão de utilização do domíniopúblico hídrico menciona todos os direitos e obrigaçõesdas partes contratantes e o seu prazo de validade, quenão é superior a 75 anos.

7 — As condições de concessão podem ser revistasnos termos previstos no contrato de concessão.

8 — Em contrapartida da utilização do domíniopúblico hídrico é devida uma taxa de recursos hídricospor força da utilização dominial, do impacte efectivoou potencial de actividade concessionada, no estado dasmassas de águas, e ainda, se for caso disso, uma rendapelos bens e equipamentos públicos afectos ao uso efruição do concessionário.

9 — O regime e o modo de atribuição de concessões,incluindo as cauções adequadas para assegurar o cum-primento das obrigações do concessionário, constam dedecreto-lei.

Artigo 69.o

Cessação dos títulos de utilização

1 — O título de utilização extingue-se com o termodo prazo nele fixado e nas demais condições previstasnas normas a aprovar nos termos do artigo 56.o

2 — Findo o prazo fixado no título:

a) No caso de concessão, as obras executadas eas instalações construídas no estrito âmbito daconcessão de utilização de recursos hídricosrevertem gratuitamente para o Estado;

b) No caso de licença, as instalações desmontáveissão removidas e as instalações fixas são demo-lidas, salvo se a administração optar pela rever-são a título gratuito.

3 — No caso de remoção ou demolição, o titular delicença deve repor a seu cargo a situação que existiaanteriormente à execução das obras.

4 — Constituem causas de revogação dos títulos deutilização:

a) O não cumprimento dos requisitos gerais e ele-mentos essenciais do título;

b) A não observância de condições específicas pre-vistas no título;

c) O não início da utilização no prazo de seis mesesa contar da data de emissão do título ou a nãoutilização durante um ano;

d) O não pagamento, durante seis meses, das taxascorrespondentes;

e) A invasão de áreas do domínio público nãolicenciado ou concessionado;

f) A não constituição do depósito requerido paraa reparação ou levantamento da obra ou ins-talação;

g) A ocorrência de causas naturais que coloquemem risco grave a segurança de pessoas e bensou o ambiente, caso a utilização prossiga.

5 — Uma vez revogado o título de utilização e comu-nicada a decisão ao seu detentor, deve cessar de imediatoa utilização dos recursos hídricos, sob pena da aplicaçãode sanções pela utilização ilícita, devendo presumir-sehaver grave dano para o interesse público na continua-ção ou no recomeço da utilização pelo anterior detentordo título revogado.

6 — Os títulos de utilização podem ser revogados forados casos previstos no número anterior, por razõesdecorrentes da necessidade de maior protecção dosrecursos hídricos ou por alteração das circunstânciasexistentes à data da sua emissão e determinantes desta,quando não seja possível a sua revisão.

7 — No caso da situação referida no número anterior,o detentor do título, sempre que haja realizado, aoabrigo do título, investimentos em instalações fixas, nopressuposto expresso ou implícito de uma duraçãomínima de utilização, deve ser ressarcido do valor doinvestimento realizado em acções que permitiriam a frui-ção do direito do titular, na parte ainda não amortizada,com base no método das quotas constantes, em funçãoda duração prevista e não concretizada.

Artigo 70.o

Associações de utilizadores

1 — A totalidade ou parte dos utilizadores do domíniopúblico hídrico de uma bacia ou sub-bacia hidrográfica

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pode constituir-se em associação de utilizadores ou con-ferir mandato a estas com o objectivo de gerir em comumas licenças ou concessões de uma ou mais utilizaçõesafins do domínio público hídrico.

2 — As associações são pessoas colectivas de direitoprivado cujo modo de criação, reconhecimento, esta-tutos e regras de funcionamento são objecto de normasa aprovar, nos termos do n.o 3 do artigo 102.o

3 — Pode a ARH atribuir como incentivo à consti-tuição da associação de utilizadores e à sua colaboraçãona gestão dos recursos hídricos parte dos valores pro-venientes da taxa dos recursos hídricos, através da cele-bração de contratos-programa.

4 — Sempre que for reconhecido pelo Governo comovantajoso para uma mais racional gestão das águas,podem ser concedidos direitos de preferência às asso-ciações de utilizadores já constituídas na atribuição denovas licenças e concessões.

5 — Podem ser delegados à associação de utilizadorespela administração da região hidrográfica competênciasde gestão da totalidade ou parte das águas abrangidaspelos títulos de utilização geridos pela associação.

6 — Pode ser concedida pelo Estado à associação deutilizadores a exploração total ou parcial de empreen-dimentos de fins múltiplos.

Artigo 71.o

Instalações abrangidas por legislação especial

1 — O pedido de utilização susceptível de causarimpacte transfronteiriço, e como tal enquadrável nasdisposições da Convenção para a Protecção e o Apro-veitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidro-gráficas Luso-Espanholas, implica por parte da entidadecompetente para a atribuição do título de utilização acomunicação à autoridade nacional de água para efeitosde consulta às autoridades responsáveis do Reino deEspanha.

2 — Quando o pedido de título de utilização respeitara actividade sujeita a licenciamento ambiental no quadroda prevenção e controlo integrado da poluição, a emis-são de título de utilização deve ser requerida e apreciadano procedimento de licença ambiental, sendo as con-dições do título de utilização parte integrante dos termosdessa licença.

3 — As utilizações que correspondam a projectossujeitos a prévia avaliação do impacte ambiental ficamsujeitas à observância do regime jurídico da avaliaçãoprévia do impacte ambiental.

Artigo 72.o

Transmissão de títulos de utilização

1 — O título de utilização é transmissível, como ele-mento da exploração agrícola ou do estabelecimentocomercial ou industrial em que se integra, mediantecomunicação à autoridade competente para o licencia-mento, com a antecedência mínima de 30 dias, em queo alienante e o adquirente comprovem que se mantêmos requisitos necessários à manutenção do título.

2 — O disposto no número anterior é também apli-cável à transmissão de participações sociais que asse-gurem o domínio de sociedade detentora do título.

3 — O título é ainda transmissível mediante autori-zação da entidade competente para a emissão do título,a qual pode ser concedida antecipadamente, caso em

que a transmissão só é eficaz após notificação da enti-dade competente com a antecedência mínima de 30 dias.

4 — O Governo, através do decreto-lei emanado doMinistério do Ambiente, do Ordenamento do Territórioe do Desenvolvimento Regional, pode instituir paracerta bacia hidrográfica ou parte dela a possibilidadede serem transaccionados títulos de utilização de água,regulamentando o respectivo mercado, de modo a garan-tir a necessária transparência na formação dos respec-tivos preços e fixando as respectivas condições quepodem envolver a dispensa da prévia autorização oua substituição desta por prévia verificação ou registo.

Artigo 73.o

Sistema de informação das utilizações dos recursos hídricos

O Sistema Nacional de Informação dos Títulos deUtilização dos Recursos Hídricos deve incluir o registoe caracterização sumária de todas as autorizações, licen-ças e concessões de utilização, qualquer que seja a enti-dade emissora, devendo conter os direitos e obrigaçõesdos utilizadores e os critérios legais da emissão e fis-calização da utilização, em ordem a assegurar a coe-rência e transparência na aplicação do regime de uti-lização dos recursos hídricos.

CAPÍTULO VI

Infra-estruturas hidráulicas

Artigo 74.o

Princípio da autorização da utilização de recursos hídricoscom recurso a infra-estruturas hidráulicas

A utilização de recursos hídricos mediante infra--estruturas hidráulicas deve ser autorizada sempre queconstitua uma utilização sustentável e contribua paraa requalificação e valorização desses recursos ou paraa minimização de efeitos de situações extremas sobrepessoas e bens.

Artigo 75.o

Infra-estruturas hidráulicas públicas e privadas

1 — Constituem infra-estruturas hidráulicas públicasaquelas cuja titularidade pertença a pessoas colectivaspúblicas ou a sociedade por elas dominadas e cuja gestãolhes caiba directamente ou, no caso de concessão, sejaatribuída a sociedades dominadas por pessoas colectivaspúblicas.

2 — Constituem infra-estruturas hidráulicas privadasaquelas cuja titularidade pertença a entidades privadasou cuja gestão seja atribuída, no caso de concessão,a entidades privadas, nomeadamente a associação deutilizadores.

3 — Compete ao Estado, através dos organismos daadministração central, regional e local competentes oude empresas públicas ou concessionárias, a promoçãode infra-estruturas hidráulicas que visem a segurançade pessoas e bens, a garantia de água para abastecimentopúblico das populações e para actividades sócio-eco-nómicas reconhecidas como relevantes para a economianacional, bem como as que respeitem ao tratamentode efluentes de aglomerados urbanos.

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Artigo 76.o

Empreendimentos de fins múltiplos

1 — As infra-estruturas hidráulicas públicas de âmbitoregional ou nacional, concebidas e geridas para realizarmais uma utilização principal, são consideradas comoempreendimentos de fins múltiplos.

2 — Consideram-se infra-estruturas de âmbito:

a) Municipal aquelas cujos objectivos ou efeitosse confinem à área de um município e de umaregião hidrográfica;

b) Regional aquelas cujos objectivos ou efeitos seestendam a mais de um município, mas se con-finem aos limites de uma região hidrográfica;

c) Nacional aquelas cujos objectivos ou efeitos seestendam a mais de uma região hidrográfica.

3 — Pelas normas a aprovar nos termos do n.o 2 doartigo 102.o, deve ser estabelecido o regime económicoe financeiro, bem como as condições em que são cons-tituídos e explorados por entidades públicas ou privadasos empreendimentos de fins múltiplos, de acordo comos seguintes princípios:

a) Sempre que o empreendimento seja exploradopor uma pessoa colectiva de direito privado,ainda que de capitais públicos, a exploraçãodeve ser titulada por contrato de concessão;

b) São administrados pela entidade exploradora doempreendimento os bens do domínio públicohídrico afectos ao empreendimento, podendoser transmitidos a esta entidade, pelo contratode concessão, total ou parcialmente, as com-petências para licenciamento e fiscalização dautilização por terceiros de tais recursos hídricospúblicos;

c) As concessões atribuídas às entidades explora-doras dos empreendimentos são outorgadaspelo Ministro do Ambiente, do Ordenamentodo Território e do Desenvolvimento Regional,em nome do Estado, cabendo a tutela sobrea concessionária a esse membro do Governoconjuntamente com o ministro responsável pelosector de actividade em causa.

CAPÍTULO VII

Regime económico e financeiro

Artigo 77.o

Princípio da promoção da utilização sustentável dos recursos hídricos

1 — O regime económico e financeiro promove a uti-lização sustentável dos recursos hídricos, designada-mente mediante:

a) A internalização dos custos decorrentes de acti-vidades susceptíveis de causar um impacte nega-tivo no estado de qualidade e de quantidadede água e, em especial, através da aplicação doprincípio do poluidor-pagador e do utilizador--pagador;

b) A recuperação dos custos das prestações públi-cas que proporcionem vantagens aos utilizado-res ou que envolvam a realização de despesaspúblicas, designadamente através das prestaçõesdos serviços de fiscalização, planeamento e de

protecção da quantidade e da qualidade daságuas;

c) A recuperação dos custos dos serviços de águas,incluindo os custos de escassez.

2 — Os utilizadores dos recursos hídricos que utilizembens do domínio público e todos os utilizadores de recur-sos hídricos públicos ou particulares que beneficiem deprestações públicas que lhes proporcionem vantagensou que envolvam a realização de despesas públicas estãosujeitos ao pagamento da taxa de recursos hídricos pre-vista no artigo 78.o

3 — Os utilizadores de serviços públicos de abaste-cimento de água e drenagem e tratamento de águasresiduais ficam sujeitos à tarifa dos serviços das águasprevista no artigo 82.o

4 — As políticas de preços da água devem constituirincentivos adequados para que os utilizadores utilizemeficientemente os recursos hídricos, devendo atender-seàs consequências sociais, ambientais e económicas darecuperação dos custos, bem como às condições geo-gráficas e climatéricas da região ou regiões afectadas.

5 — As políticas referidas nos números anteriores sãofundamentadas na análise económica das utilizações deágua referida no artigo 83.o, tendo em conta os princípiosde gestão dos recursos previstos no artigo 3.o

Artigo 78.o

Taxa de recursos hídricos

1 — A taxa de recursos hídricos (TRH) tem comobases de incidência objectiva separadas:

a) A utilização privativa de bens do domíniopúblico hídrico, tendo em atenção o montantedo bem público utilizado e o valor económicodesse bem;

b) As actividades susceptíveis de causarem umimpacte negativo significativo no estado de qua-lidade ou quantidade de água, internalizandoos custos ambientais associados a tal impactee à respectiva recuperação.

2 — A utilização de obras de regularização de águassuperficiais e subterrâneas realizadas pelo Estado cons-titui também base de incidência objectiva da TRH, pro-porcionando a amortização do investimento e a cober-tura dos respectivos custos de exploração e conservação,devendo ser progressivamente substituída por uma tarifacobrada pelo correspondente serviço de água.

3 — A TRH corresponde à soma dos valores par-celares aplicáveis a cada uma das bases de incidênciaobjectivas.

4 — As bases de incidência, as taxas unitárias apli-cáveis, a liquidação, a cobrança e o destino de receitasda TRH, bem como as correspondentes competênciasadministrativas, as isenções referidas no n.o 3 doartigo 80.o e as matérias versadas no n.o 2 do artigo 79.oe no n.o 2 do artigo 81.o, são reguladas por normasa aprovar nos termos do n.o 2 do artigo 102.o

Artigo 79.o

Aplicação da taxa de recursos hídricos

1 — As receitas obtidas com o produto da taxa derecursos hídricos são aplicadas:

a) No financiamento das actividades que tenhampor objectivo melhorar a eficiência do uso daágua e a qualidade dos recursos hídricos;

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7305

b) No financiamento das acções de melhoria doestado das águas e dos ecossistemas associados;

c) Na cobertura da amortização dos investimentose dos custos de exploração das infra-estruturasnecessárias ao melhor uso da água;

d) Na cobertura dos serviços de administração egestão dos recursos hídricos, objecto de utili-zação e protecção.

2 — As normas a aprovar nos termos do n.o 2 doartigo 102.o definem o critério de repartição das receitaspelos órgãos a quem cabe exercer as competências pre-vistas na presente lei ao nível da região hidrográficae ao nível nacional, tendo em atenção os respectivosplanos de actividades.

Artigo 80.o

Lançamento e cobrança da taxa de recursos hídricos

1 — A taxa é cobrada pelas autoridades licenciadoras,quando da emissão dos títulos de utilização que lheder origem e periodicamente, nos termos fixados porestes títulos.

2 — O Governo promove a introdução progressivada taxa, em função das necessidades de financiamentodos planos de gestão e protecção das águas e das ins-tituições responsáveis pelos mesmos, mas considerandoigualmente as consequências económicas, sociais eambientais da sua aplicação.

3 — Não são sujeitas à taxa as utilizações que sejamreconhecidas por decreto-lei como insusceptíveis de cau-sar impacte adverso significativo no estado das águase dos ecossistemas associados, nem de agravar situaçõesde escassez.

4 — Pode ser aplicado um regime especial às admi-nistrações portuárias, a aprovar por decreto-lei.

Artigo 81.o

Outras receitas

1 — As receitas emergentes da execução de obras outrabalhos previstos no plano de gestão de bacia hidro-gráfica ou dos planos específicos de gestão das águasou do funcionamento corrente de ARH, são receitaspróprias da ARH.

2 — O produto das coimas aplicadas constitui receitaprópria da ARH na proporção definida nas normas pre-vistas no n.o 4 do artigo 78.o

3 — Os saldos de gerência transitados constituemreceita própria da ARH.

Artigo 82.o

Tarifas dos serviços de águas

1 — O regime de tarifas a praticar pelos serviçospúblicos de águas visa os seguintes objectivos:

a) Assegurar tendencialmente e em prazo razoávela recuperação do investimento inicial e de even-tuais novos investimentos de expansão, moder-nização e substituição, deduzidos da percenta-gem das comparticipações e subsídios a fundoperdido;

b) Assegurar a manutenção, reparação e renova-ção de todos os bens e equipamentos afectosao serviço e o pagamento de outros encargosobrigatórios, onde se inclui nomeadamente ataxa de recursos hídricos;

c) Assegurar a eficácia dos serviços num quadrode eficiência da utilização dos recursos neces-sários e tendo em atenção a existência de recei-tas não provenientes de tarifas.

2 — O regime de tarifas a praticar pelas empresasconcessionárias de serviços públicos de águas obedeceaos critérios do n.o 1, visando ainda assegurar o equi-líbrio económico-financeiro da concessão e uma ade-quada remuneração dos capitais próprios da concessio-nária, nos termos do respectivo contrato de concessão,e o cumprimento dos critérios definidos nas bases legaisaplicáveis e das orientações definidas pelas entidadesreguladoras.

3 — O Governo define em normativo específico, nostermos do n.o 3 do artigo 102.o, as normas a observarpor todos os serviços públicos de águas para aplicaçãodos critérios definidos no n.o 1.

Artigo 83.o

Análise económica das utilizações da água

1 — À autoridade nacional da água cabe assegurarque:

a) Em relação a cada região hidrográfica ou a cadasecção de uma região hidrográfica comparti-lhada com o Reino de Espanha, se realize umaanálise económica das utilizações da água nostermos da legislação aplicável;

b) A análise económica contenha as informaçõessuficientes para determinar, com base na esti-mativa dos seus custos potenciais, a combinaçãode medidas com melhor relação custo-eficáciapara estabelecer os programas de medidas aincluir nos planos de gestão de bacia hidro-gráfica;

c) A política de preços da água estabeleça um con-tributo adequado dos diversos sectores econó-micos, separados, pelo menos, em sector indus-trial, doméstico e agrícola, para a recuperaçãodos custos;

d) O contributo referido na alínea anterior sejabaseado numa análise económica que tenha emconta os princípios do poluidor-pagador e doutilizador-pagador e que atenda às condiçõesgeográficas e climatéricas da região afectada eàs consequências sociais, económicas e ambien-tais da recuperação dos custos, nos termos don.o 4 do artigo 77.o;

e) A política de preços contribua para uma uti-lização eficiente da água.

2 — A decisão de não aplicar a uma determinada acti-vidade de utilização da água o disposto nas alíneas c),d) e e) do número anterior não constitui uma violaçãoda presente lei, desde que não comprometa a prosse-cução dos seus objectivos, devendo ser incluídas noplano de gestão de bacia hidrográfica as razões sub-jacentes à decisão.

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CAPÍTULO VIII

Informação e participação do público

Artigo 84.o

Princípio da participação

Compete ao Estado, através da autoridade nacionalda água e das ARH, promover a participação activadas pessoas singulares e colectivas na execução da pre-sente lei, especialmente na elaboração, revisão e actua-lização dos planos de gestão de bacia hidrográfica, bemcomo assegurar a divulgação das informações sobre aságuas ao público em geral e em especial aos utilizadoresdos recursos hídricos, nos termos e com os limites esta-belecidos na legislação aplicável.

Artigo 85.o

Conteúdo da informação

1 — A informação sobre as águas compreende, sobqualquer forma de expressão e em todo o tipo de suportematerial, os elementos relativos:

a) Ao estado das massas de água, abrangendo, paraeste efeito, os ecossistemas terrestres e aquá-ticos e as zonas húmidas directamente depen-dentes dos ecossistemas aquáticos;

b) Aos factores, actividades ou decisões destinadosa proteger as massas de água e os referidos ecos-sistemas e zonas húmidas, ou que os possamafectar, incluindo quaisquer elementos sobre asrespectivas consequências para a saúde públicae a segurança das pessoas;

c) Aos planos, programas e estudos em que seapoiam as decisões das autoridades competen-tes, com incidência nas massas de água.

2 — Em relação a cada região hidrográfica e noâmbito da elaboração, revisão e actualização dos planosde gestão de bacia hidrográfica, a informação a publicare a facultar ao público, incluindo os utilizadores, paraefeitos de consulta e envio de comentários escritos,compreende:

a) O calendário e programa de trabalhos para aelaboração do plano de gestão de bacia hidro-gráfica, incluindo as medidas de consulta aadoptar, até três anos antes do início do períodoa que se refere o plano de gestão;

b) A síntese das questões significativas relativas àgestão da água identificadas na bacia hidrográ-fica, até dois anos antes do início do períodoa que se refere o plano de gestão;

c) O projecto do plano de gestão de bacia hidro-gráfica, até um ano antes do período a que serefere o plano de gestão;

d) Outros elementos considerados relevantes paraa discussão e participação do público pela auto-ridade nacional da água ou exigidos pela legis-lação aplicável, incluindo os critérios de ava-liação.

3 — O acesso aos documentos de apoio e à infor-mação de base utilizados na elaboração e actualizaçãodos projectos de planos de gestão de bacias hidrográficasdeve ser assegurado pela autoridade nacional da água,mediante pedido dos interessados.

4 — O disposto nos n.os 2 e 3 visa promover a par-ticipação activa das pessoas singulares ou colectivas naelaboração dos planos de gestão das bacias hidrográficas,pelo que é garantido o período mínimo de seis meses,a contar da data de publicação da informação referidanesses números, para o envio de comentários e pare-ceres, os quais são divulgados no sítio electrónico daautoridade nacional da água.

Artigo 86.o

Origem da informação

1 — As informações a que se refere o artigo anteriorsão as que têm origem ou são detidas por quaisquerentidades públicas ou por entidades privadas que, sobcontrolo de uma entidade pública, tenham responsa-bilidades pelo interesse público, exerçam funções públi-cas ou prestem serviços públicos relacionados com aságuas.

2 — As informações sobre águas detidas pelas enti-dades referidas no número anterior devem ser regu-larmente actualizadas e encaminhadas para a autoridadenacional da água.

Artigo 87.o

Sistema nacional de informação das águas

1 — A gestão integrada das informações sobre aságuas, incluindo a sua recolha, organização, tratamento,arquivamento e divulgação, é assegurada pela autori-dade nacional da água, através de um sistema nacionalde informação das águas.

2 — Incumbe à autoridade nacional da água criar umarede nacional de informações respeitantes às águas ecolocá-la à disposição tanto das entidades que tenhamresponsabilidades, exerçam funções públicas ou prestemserviços públicos directa ou indirectamente relacionadoscom as águas como da comunidade técnica e científicae público em geral.

3 — A autoridade nacional da água deve enviar àComissão Europeia e a qualquer outro Estado membrointeressado cópia dos planos de gestão de bacia hidro-gráfica e das respectivas actualizações, bem como dosrelatórios intercalares de execução dos programas demedidas previstas nesses planos, bem como das análisesprevistas nas alíneas g) e h) do n.o 2 do artigo 8.o edos programas de monitorização previstos no artigo 54.o,num prazo de três meses a contar da sua publicação.

Artigo 88.o

Direito de acesso à informação

1 — No âmbito dos procedimentos administrativosconexos com as águas, todas as pessoas singulares oucolectivas têm direito de informação procedimental nostermos do Código do Procedimento Administrativo eda legislação em matéria de acesso à informaçãoambiental.

2 — Todas as pessoas singulares ou colectivas têmdireito de acesso às informações respeitantes às águasoriginadas ou detidas por quaisquer das entidades refe-ridas no artigo 86.o, nos termos do disposto no Códigodo Procedimento Administrativo e na legislação emmatéria de acesso à informação ambiental.

3 — O acesso às informações respeitantes às águaspode estar sujeito ao pagamento de uma taxa destinadaa cobrir os custos envolvidos na disponibilização de

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7307

informação, nos termos da tabela previamente aprovadapor portaria do Ministro do Ambiente, do Ordenamentodo Território e do Desenvolvimento Regional.

CAPÍTULO IX

Fiscalização e sanções

Artigo 89.o

Princípio da precaução e prevenção

Na aplicação da presente lei, os organismos de Admi-nistração Pública devem observar o princípio da pre-caução e da prevenção, sem prejuízo de fiscalização dasactividades que envolverem utilização dos recursoshídricos.

Artigo 90.o

Inspecção e fiscalização

1 — A verificação do cumprimento das normas pre-vistas na presente lei pode revestir a forma de:

a) Fiscalização, a desenvolver de forma sistemáticapelas autoridades licenciadoras, no cumpri-mento da obrigação legal de vigilância que lhescabe sobre os utilizadores dos recursos hídricos,quer disponham ou não de títulos de utilização,e de forma pontual em função das queixas edenúncias recebidas relativamente à sua áreade jurisdição;

b) Inspecção a efectuar pelas entidades dotadasde competência para o efeito de forma casuísticae aleatória, ou em execução de um plano deinspecção previamente aprovado, ou ainda noâmbito do apuramento do alcance e das res-ponsabilidades por acidentes de poluição.

2 — A fiscalização compete às ARH com jurisdiçãona área da utilização e às demais entidades a quemfor conferida legalmente competência para o licencia-mento da utilização dos recursos hídricos nessa área,cabendo-lhes igualmente a competência para a instau-ração, a instrução e o sancionamento dos processos decontra-ordenações por infracções cometidas na sua áreade jurisdição.

3 — Colaboram na acção fiscalizadora as autoridadespoliciais ou administrativas com jurisdição na área,devendo prevenir as infracções ao disposto nesta lei eparticipar as transgressões de que tenham conheci-mento.

4 — A inspecção compete à Inspecção-Geral doAmbiente e do Ordenamento do Território.

5 — As entidades fiscalizadoras referidas no n.o 2devem manter um registo público das queixas e denún-cias recebidas e do encaminhamento dado às mesmas.

Artigo 91.o

Sujeição a medidas de inspecção e fiscalização

1 — Em geral, estão sujeitas a medidas de inspecçãoe fiscalização todas as entidades públicas e privadas,singulares ou colectivas, que exerçam actividades sus-ceptíveis de causarem impacte negativo no estado dasmassas de água.

2 — Estão especialmente sujeitos a medidas de ins-pecção e fiscalização:

a) Os titulares de autorizações, licenças ou con-cessões de utilização dos recursos hídricos;

b) Os proprietários e operadores das instalaçõescuja construção ou operação seja regulada pelapresente lei;

c) As entidades gestoras de sistemas de abaste-cimento público de água para consumo humanoe de tratamento de águas residuais;

d) Os proprietários e possuidores de produtos, ins-talações ou meios de transportes susceptíveis decausar risco aos bens protegidos na presente lei;

e) As pessoas que desenvolvam actividades suscep-tíveis de pôr em risco bens protegidos pela pre-sente lei ou que tenham requerido título de uti-lização para desenvolver tais actividades.

Artigo 92.o

Planos de inspecção e de fiscalização

1 — No âmbito da aplicação do princípio da precau-ção e prevenção, a autoridade nacional da água, con-juntamente com as entidades licenciadoras, de inspecçãoe de fiscalização competentes, deve promover a elabo-ração de planos de inspecção e de fiscalização, dos quaisdevem constar o âmbito espacial, temporal e material,os programas e procedimentos adoptados e o modo decoordenação das entidades competentes em matéria defiscalização e de inspecção.

2 — Os planos de inspecção e de fiscalização sãopúblicos, devendo ser objecto de divulgação nas com-ponentes que não comprometam a sua eficácia.

Artigo 93.o

Acesso a instalações, à documentação e à informação

1 — No exercício das suas funções, deve ser facultadaàs entidades com competência de inspecção e de fis-calização devidamente identificadas a entrada livre nasinstalações onde se exercem as actividades sujeitas amedidas de fiscalização ou de inspecção.

2 — Os responsáveis pelas instalações sujeitas a medi-das de inspecção ou de fiscalização são obrigados a facul-tar a entrada e a permanência às entidades referidasno número anterior e a prestar-lhes a assistência neces-sária, nomeadamente através da apresentação de docu-mentação, livros ou registos solicitados, da abertura decontentores e da garantia de acessibilidade a equi-pamentos.

3 — No âmbito da acção inspectiva ou fiscalizadora,o respectivo pessoal pode recolher informação sobreas actividades inspeccionadas, proceder a exames aquaisquer vestígios de infracções, bem como a colheitasde amostras para exame laboratorial.

Artigo 94.o

Dever de informar em caso de perigo

1 — As pessoas e entidades sujeitas a medidas de fis-calização devem informar imediatamente a autoridadenacional da água e as entidades licenciadoras, fiscali-zadoras e autoridades de saúde de quaisquer acidentese factos que constituam causa de perigo para a saúdepública, para a segurança de pessoas e bens ou paraa qualidade da água.

2 — Qualquer entidade administrativa que tomeconhecimento de situações que indiciem a prática deinfracções às normas de protecção da qualidade da águaou que se traduzam em perigo para a saúde, para a

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segurança de pessoas e bens ou para a qualidade daágua deve dar notícia à autoridade nacional da águae às entidades licenciadoras, fiscalizadoras e autoridadesde saúde.

Artigo 95.o

Responsabilidade civil pelo dano ambiental

1 — Quem causar uma deterioração do estado daságuas, sem que a mesma decorra de utilização conformecom um correspondente título de utilização e com ascondições nele estabelecidas, deve custear integralmenteas medidas necessárias à recomposição da condição queexistiria caso a actividade devida não se tivesse veri-ficado.

2 — A obrigação prevista no número anterior, no casode a actividade lesiva ser imputável a uma pessoa colec-tiva, incide também solidariamente sobre os respectivosdirectores, gerentes e administradores.

3 — Compete à autoridade nacional da água, direc-tamente ou através da ARH com jurisdição na áreade utilização, definir o plano necessário à recuperaçãodo estado das águas nos termos do n.o 1 e executaras obras e restantes medidas nele previstas, certificandoo custo suportado e estimado e cobrando judicialmentedo infractor a respectiva importância, através de exe-cução fiscal.

4 — A autoridade nacional da água e as entidadescompetentes em matéria de fiscalização podem igual-mente determinar a posse administrativa do imóvel ondeestá a ser realizada a infracção de modo a permitir aexecução coerciva das medidas previstas.

5 — O disposto nos números anteriores não prejudicaa responsabilidade civil pelos danos causados a terceiros,nos termos gerais da lei.

Artigo 96.o

Realização voluntária de medidas

1 — No âmbito da aplicação das medidas previstasna legislação, a autoridade nacional da água e as enti-dades competentes em matéria de licenciamento, fis-calização e de inspecção podem determinar ao infractora apresentação de um projecto de recuperação que asse-gure o cumprimento dos deveres jurídicos exigíveis.

2 — Caso o projecto seja aprovado pela autoridadenacional da água, com modificações e medidas suple-mentares se necessário, deve ser objecto de um contratode adaptação ambiental, com a natureza de contratoadministrativo, a celebrar entre a entidade licenciadorae o infractor.

3 — A autoridade nacional da água e as entidadescompetentes em matéria de licenciamento e de fisca-lização podem também, com o consentimento do infrac-tor e em conjunto com o projecto de recuperação pre-visto no número anterior, estabelecer um sistema degestão ambiental e determinar a realização de auditoriasambientais periódicas por uma entidade certificada.

4 — O incumprimento pelo utilizador do contrato deadaptação ambiental ou do sistema de gestão previstono número anterior constitui, para todos os efeitos, vio-lação das condições do título de utilização, sem prejuízode execução das garantias reais ou pessoais que hou-verem sido prestadas ao abrigo desse contrato.

Artigo 97.o

Regime de contra-ordenações

1 — O regime especial de contra-ordenações, embar-gos administrativos e sanções acessórias pelas infracçõesàs normas da presente lei e dos actos legislativos nelaprevistos é definido em normativo próprio, observandoos princípios e regras da presente lei.

2 — Até à publicação do normativo referido no n.o 1,aplicam-se as disposições legais em vigor, sem prejuízodo disposto nos números seguintes.

3 — As coimas aplicáveis variam entre um limitemínimo de E 250 e um limite máximo de E 2 500 000e a fixação de coima concreta depende da gravidadeda infracção, da culpa do agente, da sua situação eco-nómica e do benefício económico obtido.

4 — A coima deve, sempre que possível, exceder obenefício económico que o agente retirou da práticada infracção.

5 — A valorização dos bens dominiais de que bene-ficiam os utilizadores não titulares de título de utilizaçãoválido é fixada por estimativa pela ARH, devendo acoima devida ser sempre superior ao valor da taxa quedeixou de ser paga, calculada tendo por base essaestimativa.

6 — Sem prejuízo da responsabilidade criminal pordesobediência, as entidades competentes em matéria defiscalização podem fixar uma sanção pecuniária compul-sória nos termos a definir no normativo referido no n.o 1.

7 — Sem prejuízo do disposto no número anterior,se a alteração do estado das águas que resultou da infrac-ção cometida se tiver estendido à área de jurisdiçãode uma entidade distinta daquela em cuja área se veri-ficou a infracção, deve de imediato este facto ser levadoao conhecimento da entidade competente para a ins-tauração do processo de contra-ordenação.

CAPÍTULO X

Disposições finais e transitórias

Artigo 98.o

Revogação e alteração da legislação anterior

1 — A presente lei, na data da sua entrada em vigor,derroga as normas legais e regulamentares contráriasao que nela se dispõe.

2 — A presente lei, na data da entrada em vigor dosactos legislativos previstos nos n.os 1 e 2 do artigo 102.o,revoga expressamente os seguintes actos legislativos:

a) Decreto-Lei n.o 70/90, de 2 de Março;b) Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro;c) Decreto-Lei n.o 46/94, de 22 de Fevereiro;d) Decreto-Lei n.o 47/94, de 22 de Fevereiro;e) Capítulos III e IV do Decreto-Lei n.o 468/71,

de 5 de Novembro;f) Decreto-Lei n.o 254/ 99, de 7 de Julho.

3 — É alterado o artigo 42.o do Decreto-Lein.o 380/99, de 22 de Setembro, na redacção que lhefoi dada pelos Decretos-Leis n.os 53/2000, de 7 de Abril,e 310/2003, de 10 de Dezembro, que passa a ter aseguinte redacção:

«Artigo 42.o

1 — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2 — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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N.o 249 — 29 de Dezembro de 2005 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 7309

3 — Os planos especiais de ordenamento do territóriosão os planos de ordenamento de áreas protegidas, osplanos de ordenamento de albufeiras de águas públicas,os planos de ordenamento da orla costeira e os planosde ordenamento dos estuários.»

Artigo 99.o

Prazos a observar na aplicação da presente lei

Devem ser observados os prazos a seguir indicadospara as matérias seguintes referidas na presente lei quese encontrem ainda por executar:

a) Até seis meses após a entrada em vigor destalei a identificação de massas da água para con-sumo humano, nos termos da alínea i) do n.o 6do artigo 9.o e do n.o 4 do artigo 48.o, e o registodas zonas protegidas, previsto na alínea g) don.o 6 do artigo 9.o e no n.o 2 do artigo 48.o;

b) Até seis meses após a entrada em vigor destalei a análise de características das regiões hidro-gráficas, o estudo do impacte das actividadeshumanas sobre o estado das águas e a análiseeconómica das utilizações da água, previstos nasalíneas g), h) e i) do n.o 2 do artigo 8.o e naalínea c) do n.o 6 do artigo 9.o;

c) Até final de 2010 a revisão do Plano Nacionalda Água prevista no n.o 4 do artigo 28.o;

d) Até 2006 os programas de monitorização refe-ridos na alínea l) do n.o 6 do artigo 9.o e noartigo 54.o;

e) Até 2009 a aprovação dos planos de gestão debacia hidrográfica previstos no artigo 29.o;

f) Até 2010 as políticas de preços previstas nasalíneas c), d) e e) do n.o 1 do artigo 83.o;

g) Até 2012 a aplicação dos programas de medidasprevistos no artigo 30.o e a aplicação da abor-dagem combinada para o controlo das descargaspoluentes nos termos da legislação referida noartigo 53.o;

h) Até 2015 a consecução dos objectivos ambien-tais, nos termos do artigo 45.o, e a revisão dosprogramas de medidas previstos no artigo 30.o

Artigo 100.o

Disposição transitória sobre títulos de utilização

1 — Os títulos de utilização emitidos ao abrigo dalegislação anterior mantêm-se em vigor nos termos emque foram emitidos desde que os mesmos sejam levadosao conhecimento da respectiva ARH no prazo de umano e sem prejuízo da sujeição dos seus titulares àsobrigações decorrentes da presente lei e dos actos legis-lativos que os complementem.

2 — No caso de infra-estruturas hidráulicas tituladaspor mera licença, podem os seus titulares requerer asua conversão em concessão, sempre que à luz da pre-sente lei devesse ser esta a modalidade a adoptar, masa concessão assim atribuída não pode ter prazo superiorao necessário para concluir a amortização dos inves-timentos realizados ao abrigo do título.

3 — No caso de títulos de utilização existentes emque estejam reunidas as condições necessárias para aqualificação da infra-estrutura como empreendimentode fins múltiplos, pode a mesma ser submetida ao regimeprevisto no artigo 76.o sob proposta da autoridade nacio-

nal da água e decisão do Ministro do Ambiente, doOrdenamento do Território e do DesenvolvimentoRegional.

4 — O Governo promove, através das normas quevierem a regular o regime de utilização, nos termos don.o 2 do artigo 102.o, as condições necessárias para aprogressiva adaptação de títulos referidas nos númerosanteriores e para a regularização de todas as utilizaçõesnão tituladas de recursos hídricos existentes nesta dataque se revelem compatíveis com a aplicação desta leie das normas nela previstas, fixando, designadamente,o prazo e as condições dessa regularização e, bem assim,a possibilidade de isenção total ou parcial de coimapela utilização não titulada anterior à data da publicaçãodesta lei, no caso de a regularização se dever a iniciativado interessado.

Artigo 101.o

Regiões Autónomas

A presente lei aplica-se às Regiões Autónomas dosAçores e da Madeira, sem prejuízo dos diplomas regio-nais que procedam às necessárias adaptações.

Artigo 102.o

Normas complementares

1 — O Governo deve aprovar no prazo de um mêsapós a entrada em vigor da presente lei, em normativopróprio, as normas complementares necessárias à apli-cação dos anexos da Directiva n.o 2000/60/CE, do Par-lamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro.

2 — O Governo deve aprovar no prazo de três mesesapós a entrada em vigor da presente lei os decretos-leiscomplementares da presente lei que regulem a utilizaçãode recursos hídricos e o regime económico e financeiro.

3 — O Governo deve regular no prazo de um anoapós a entrada em vigor da presente lei as matériasversadas no n.o 3 do artigo 6.o, no n.o 4 do artigo 20.o,no n.o 2 do artigo 29.o, no n.o 6 do artigo 37.o, no n.o 5do artigo 46.o, nos n.os 3 e 4 do artigo 47.o, no n.o 6do artigo 54.o, no n.o 2 do artigo 70.o, no n.o 3 doartigo 76.o, no n.o 3 do artigo 82.o, no n.o 1 do artigo 97.oe no n.o 2 do artigo 103.o

Artigo 103.o

Disposições transitórias sobre a constituição das ARH

1 — Até à entrada em funcionamento de cada ARH,que deve ocorrer no prazo máximo de dois anos a contarda entrada em vigor da presente lei, a CCDR com juris-dição na área assegura, através dos seus serviços com-petentes em matéria de recursos hídricos, o exercíciodas competências de licenciamento e fiscalização atri-buídos pela presente lei à ARH.

2 — Por portaria conjunta do Ministro de Estado edas Finanças e do Ministro do Ambiente, do Ordena-mento do Território e do Desenvolvimento Regional,serão transferidos para as ARH os meios patrimoniaise financeiros e as posições jurídicas contratuais detidaspelas correspondentes CCDR para desempenho dassuas competências no domínio dos recursos hídricos e,bem assim, o pessoal afecto a tal desempenho.

3 — Durante o período de dois anos, cabe transito-riamente à autoridade nacional da água o exercício dascompetências atribuídas às ARH não abrangidas pelon.o 1, podendo o Ministro do Ambiente, do Ordena-mento do Território e do Desenvolvimento Regionalfazer cessar por portaria este regime transitório, total

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ou parcialmente, em função da capacidade demonstradapor cada ARH para assumir o exercício de tais com-petências.

Artigo 104.o

Planos de bacia hidrográfica

Enquanto não forem elaborados e aprovados os pla-nos de gestão de bacia hidrográfica, os actuais planosde bacia hidrográfica equiparam-se-lhes para todos osefeitos legais.

Artigo 105.o

Conselhos da bacia hidrográfica

Até à constituição dos conselhos de região hidrográ-fica mantêm-se em funcionamento os actuais conselhosde bacia, com a composição e competências definidasna lei.

Artigo 106.o

Autoridades marítimas e portuárias

1 — A presente lei não afecta as competências legaisda Autoridade Marítima Nacional nem as competênciaslegais no domínio da segurança marítima e portuáriadas autoridades marítimas e portuárias.

2 — Os títulos de utilização sobre o domínio públicomarítimo não podem ser emitidos sem o parecer favo-rável da autoridade marítima nacional.

Artigo 107.o

Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao dasua publicação.

Aprovada em 29 de Setembro de 2005.

O Presidente da Assembleia da República, em exer-cício, Manuel Alegre de Melo Duarte.

Promulgada em 15 de Dezembro de 2005.

Publique-se.

O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.

Referendada em 19 de Dezembro de 2005.

O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto deSousa.

Lei n.o 59/2005de 29 de Dezembro

Primeira alteração à Lei n.o 5/2001, de 2 de Maio, que considerao tempo de serviço prestado na categoria de auxiliar de educaçãopelos educadores de infância habilitados com cursos de for-mação a educadores de infância para efeitos da carreiradocente, e ao Decreto-Lei n.o 180/93, de 12 de Maio, que deter-mina a transição dos auxiliares de educação dos serviços eestabelecimentos do sector da segurança social para a carreirade educador de infância.

A Assembleia da República decreta, nos termos daalínea c) do artigo 161.o da Constituição, a lei seguinte:

Artigo 1.o

Alteração à Lei n.o 5/2001, de 2 de Maio

1 — O artigo 1.o da Lei n.o 5/2001, de 2 de Maio,que considera o tempo de serviço prestado na categoria

de auxiliar de educação pelos educadores de infânciahabilitados com cursos de formação a educadores deinfância para efeitos de carreira docente, passa a tera seguinte redacção:

«Artigo 1.o

1 — É equiparado a serviço efectivo em funçõesdocentes, para efeitos de progressão na carreira e deaposentação, o tempo de serviço prestado:

a) Na categoria de auxiliar de educação pelos edu-cadores de infância habilitados com os cursosde promoção a educadores de infância a quese refere o despacho n.o 52/80, de 12 de Junho,que exerceram, de forma efectiva e com carácterde regularidade, as funções inerentes à categoriade educador de infância;

b) Nas categorias de vigilante, ajudante de crechee jardim-de-infância, monitor ou outra catego-ria, independentemente da respectiva designa-ção, pelos educadores de infância que frequen-taram com aproveitamento os cursos de pro-moção a que se reportam o despacho n.o 52/80,de 12 de Junho, o despacho 13/EJ/82, de 20de Abril, e o despacho conjunto do Secretáriode Estado da Educação e Administração Escolare do Secretário de Estado da Segurança Socialde 20 de Abril de 1983, publicado no Diárioda República, 2.a série, n.o 108, de 11 Maio de1983, que exerceram, de forma efectiva e comcarácter de regularidade, as funções inerentesà categoria de educador de infância;

c) Nas categorias referidas nas alíneas anteriorespelos educadores de infância habilitados comos cursos de educador de infância ministradospor estabelecimentos, públicos ou privados,reconhecidos pelo Governo e que ingressaramnestes cursos até ao ano lectivo de 1986-1987que exerceram, de forma efectiva e com carácterde regularidade, as funções inerentes à categoriade educador de infância;

d) Noutras categorias profissionais pelos educado-res de infância habilitados com os cursos de pro-moção a educadores de infância a que se refereo despacho n.o 52/80, de 12 de Junho, que exer-ceram, de forma efectiva e com carácter de regu-laridade, as funções inerentes à categoria deeducador de infância.

2 — Para efeitos do disposto no número anterior, con-sidera-se tempo de serviço aquele durante o qual oseducadores de infância exerceram, com funções peda-gógicas, enquanto detentores de alguma das categoriasmencionadas, antes, durante e após a frequência e con-clusão com aproveitamento dos cursos referidos e atéà integração nos quadros da carreira docente, as funçõesinerentes à categoria de educador de infância.»

Artigo 2.o

Alteração ao Decreto-Lei n.o 180/93, de 12 de Maio

O artigo único do Decreto-Lei n.o 180/93, de 12 deMaio, que determina a transição dos auxiliares de edu-cação dos serviços e estabelecimentos do sector da segu-