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1 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: UMA ABORADAGEM À LUZ DO DIREITO NACIONAL E INTERNACIONAL Tania Leticia Wouters Anez Graduanda em Direito pela UNIVEM RESUMO: Desde os primórdios da civilização o homem sempre se preocupou em aproveitar ao máximo os recursos naturais, por meio de métodos e técnicas cada vez mais avançados. A revolução biotecnológica introduziu no mercado mundial um novo tipo de alimentos, os geneticamente modificados. A proposta do presente artigo é, de forma singela, levantar e analisar o modo como a legislação nacional e internacional trata os aspectos inerentes às biotecnologias e especificamente os OGMs. Busca-se por meio do presente levantamento, situar o tema no contexto mundial, eis que, quando se fala em aspectos jurídicos ligados à biossegurança oriundos da revolução tecnológica, o estudo não pode, nem deve, estar reduzido ao estudo no âmbito nacional, sob pena da abordagem realizada parecer incompleta. Primeiramente, porque o mundo globalizado assim o exige, e num segundo momento mostra-se uma necessidade decorrente da tutela efetiva dos direitos. Isto é, a solução adequada dos conflitos envolvendo temas muito recentes no cotidiano jurídico onde a proteção à saúde e segurança do ser humano precise ser tutelada, como o caso dos organismos geneticamente modificados, requerem para seu deslinde adequado o auxílio da legislação internacional, seja de Tratados Internacionais propriamente ditos ou a busca de referenciais teóricos e práticos da abordagem realizada outros locais, para assim possibilitar uma maior segurança jurídica na hora de adotar-se determinados padrões legislativos e de aplicá-los ao caso em concreto. PALAVRAS-CHAVE: biodireito, biotecnologia, organismos geneticamente modificados, tratados internacionais, eficácia interna.

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    ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: UMA ABORADAGEM LUZ DO DIREITO NACIONAL E INTERNACIONAL

    Tania Leticia Wouters Anez Graduanda em Direito pela UNIVEM

    RESUMO: Desde os primrdios da civilizao o homem sempre se preocupou em aproveitar ao mximo os recursos naturais, por meio de mtodos e tcnicas cada vez mais avanados. A revoluo biotecnolgica introduziu no mercado mundial um novo tipo de alimentos, os geneticamente modificados. A proposta do presente artigo , de forma singela, levantar e analisar o modo como a legislao nacional e internacional trata os aspectos inerentes s biotecnologias e especificamente os OGMs. Busca-se por meio do presente levantamento, situar o tema no contexto mundial, eis que, quando se fala em aspectos jurdicos ligados biossegurana oriundos da revoluo tecnolgica, o estudo no pode, nem deve, estar reduzido ao estudo no mbito nacional, sob pena da abordagem realizada parecer incompleta. Primeiramente, porque o mundo globalizado assim o exige, e num segundo momento mostra-se uma necessidade decorrente da tutela efetiva dos direitos. Isto , a soluo adequada dos conflitos envolvendo temas muito recentes no cotidiano jurdico onde a proteo sade e segurana do ser humano precise ser tutelada, como o caso dos organismos geneticamente modificados, requerem para seu deslinde adequado o auxlio da legislao internacional, seja de Tratados Internacionais propriamente ditos ou a busca de referenciais tericos e prticos da abordagem realizada outros locais, para assim possibilitar uma maior segurana jurdica na hora de adotar-se determinados padres legislativos e de aplic-los ao caso em concreto.

    PALAVRAS-CHAVE: biodireito, biotecnologia, organismos geneticamente modificados, tratados internacionais, eficcia interna.

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    INTRODUO

    Ao chegarmos ao sculo XXI, podemos afirmar que a dinmica de soluo de conflitos que chegam ao judicirio exige a cada dia do julgador, uma perspectiva multidisciplinar, especialmente aps a revoluo tecnolgica onde os avanos cientficos caminham a um ritmo muito mais rpido que os conceitos jurdicos. neste contexto que o julgador acaba situado num campo nebuloso no qual as recentes legislaes envolvendo temas muito novos, como o caso dos Organismos Geneticamentes Modificados OGMs, nos quais sequer os cientistas conseguem afirmar a inocuidade de um eventual dano, que dir o jurista. A busca e o subsidio para a soluo dos conflitos em outros campos do saber, torna-se hoje em dia uma necessidade, pois o meio pelo qual ser possvel justificar e estruturar o limite da aplicao da norma no caso em concreto. neste contexto que surgiu o Biodireito.

    A construo do saber jurdico deve ser voltada emancipao das concepes clssicas da cincia jurdica, a recente formulao do Biodireito como ramo novo e revolucionrio, implica numa concepo do conhecimento de carter transdisciplinar, atualizao constante e altamente dinmico.

    Na linha de pensamento de Kassamayer (2005, p. 483), encontramos a acertiva de que os avanos tecnolgicos-cientficos na rea das cincias biolgicas conduziram ao entrelaamento dessa cincia nas suas diversas ramificaes e o Direito, possuindo como fio condutor a bioetica. O Biodireto, conseqentemente, ter como foco de pesquisa as interaes entre os avanos tecnolgicos e suas possveis repercusses no mundo jurdico.

    O avano da engenharia gentica e a introduo no mercado mundial de um novo tipo de alimento, os geneticamente modificados ou transgnicos, tm gerado muita polmica. De um lado, a indstria da biotecnologia deposita extrema confiana na segurana da engenharia gentica e sua importncia para o desenvolvimento econmico e, de outro lado, h uma desconfiana generalizada da sociedade, motivada em parte pela ausncia de informao.

    (Morais, 2004, 104) em brilhante exposio aborda a questo das influncias geradas pela disseminao de medos e temores oriundos da falta de informao quando se trata do estudo das novas tecnologias, e explica in verbis:

    Os medos e temores que as pessoas sentem de uma nova tecnologia geralmente advm das imagens e impresses que receberam. Os diversos filmes realizados sobre energia

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    nuclear e seus efeitos catastrficos conduzem o publico a pensar, de forma generalizada, que os alimentos irradiados seriam mais perigosos que alguns produtos qumicos, o que no verdade. Deve-se considerar, portanto, que o comportamento dos consumidores influenciado por imagens e notcias negativas. Um exemplo se d naquelas que relacionam os alimentos transgenicos ao monstro de Mary Shelley. Algumas pesquisas indicam que as polticas ambientais respondem mais a avaliaes de leigos que aos anseios de cientistas e ecologistas, propriamente ditos. Isso acontece porque as pessoas que no compreendem bem determinadas tecnologias, tendem a sentir mais medos e receios em relao a ela, comportando-se de maneira a pressionar legisladores e reguladores, para que eles as afastem dos riscos.

    Portanto, a falta de informao ligada percepo que as pessoas tm da probabilidade de certos eventos ocorrerem, permite avaliar o modo como os indivduos percebem o eventual risco. Analisando o consumidor brasileiro atravs da pesquisa de opinio pblica OPP081/2001, realizada pelo IBGE, apresentou: quanto ao conhecimento de organismos transgnicos, 66% no ouviu falar, 31% j ouviu falar e 3% no sabe; quanto preferncia por alimentos transgnicos e no-transgnicos 13% no sabe, 14% prefere alimentos transgnicos e 74% prefere alimentos no-transgnicos; e a opinio quanto ao plantio de organismos transgnicos, at que se esclarea melhor as dvidas quanto aos seus riscos: 67% entende que deveria ser proibido; 23% que no deveria ser proibido e 9% no sabe ou no opinou. Pode-se concluir que a falta de informao adequada ligada aos alimentos geneticamente modificados, termina dificultando um posicionamento adequado e causando as to prejudiciais cascatas de informao.

    Diante da ausncia de informao segura dirigida populao, o desafio do legislador consiste em incorporar no ordenamento jurdico, um conjunto normativo claro e objetivo, e possibilitar assim a concepo de uma viso comum e acessvel a toda populao das noes cientificas interligadas ao cotidiano do mundo contemporneo e ao biodireito.

    Portanto, as leis nacionais devem estar estruturadas sobre regras e princpios que permitam uma abertura incorporao dos direitos humanos na criao de um direito internacional das cincias da vida - a expresso vida aqui utilizada na sua concepo mais ampla, envolvendo todo ser vivo animal ou vegetal - inspirado na proteo da dignidade humana.

    Pretende-se, neste contexto realizar um levantamento das legislaes brasileira e internacional envolvendo Organismos Geneticamente Modificados ou

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    transgnicos, assim como tambm realizar uma analise no Tratado de Cartagena sobre a Biossegurana com a finalidade de melhor situar o tema no contexto interno e externo.

    A NOVA LEI DA BIOSSEGURANA NACIONAL: LEI N 11.105/2005

    A nova Lei estabelece normas de segurana e mecanismos de fiscalizao de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurana CNBS, reestrutura a Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana CTNBio, e dispe sobre a Poltica Nacional de Biossegurana.

    Aspecto interessante que cabe salientar sobre essa Lei que a mesma condensou toda a matria relativa a Biossegurana que vigorava no Brasil, possibilitando assim uma melhor abordagem, uma vez que trata de tema bastante recente e repleto de legislaes esparsas, o que deixava o trabalho do julgador e do interprete no caso em concreto bastante dificultoso. Trata-se de um avano legislativo que atende ao escopo da lei. Alm de regulamentar as relaes sociais e levar justia ao caso em concreto, a mesma deve estar disposta de forma tal que facilite a sua interpretao e aplicao. Nas palavras de Bobbio (1999, p. 122) todas as normas devem formar no seu conjunto uma unidade. Sendo assim, a nova Lei de Biossegurana Nacional atende a esse pressuposto quando copila, em um nico texto, boa parte da legislao esparsa referente ao assunto em discusso.

    A liberao de Organismos Geneticamente Modificados vem sendo condicionada observncia dessa Lei, que exige alm do conhecimento cientifico acerca das caractersticas, riscos e propriedades de tais produtos, a observncia de todo o procedimento previsto e avaliao prvia da Comisso Tcnica de Biossegurana Nacional, isto , a realizao do Estudo Prvio do Impacto Ambiental (EPIA) e apresentao de Relatrio do Impacto no Meio Ambiente (Rima) visando desta maneira regulamentar o disposto no artigo 225 1 da CF. Com a ratificao pelo Brasil da Conveno da Biodiversidade, a observncia do princpio da precauo deve ser plena, pois no haveria outro caminho na ausncia de segurana em relao ao meio ambiente seno ser cauteloso.

    Para a pesquisadora Eliana Gouveia Fontes:

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    [...] a falta de experincia com os organismos modificados geneticamente OGMs e o potencial destes organismos para causar certos efeitos adversos como resultado dos genes altamente aliengenas inseridos em seus genomas, so base das regulamentaes de biossegurana. Apesar de que a capacidade de produzir alteraes genticas precisas aumente a confiana de que as mudanas no intencionais no genoma no iro ocorrer, isto no assegura que todos os aspectos ecolgicos importantes do fentipo posam ser preditos

    A Resoluo n 17 da Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria - Anvisa no controle sanitrio dos alimentos, visando proteger a sade da populao estabelece as diretrizes bsicas para a avaliao do risco e segurana dos alimentos. O risco que a probabilidade de um determinado evento indesejvel ocorrer.

    A legislao brasileira de Biossegurana estabelece que a analise de risco seja feita caso a caso. A Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria deve procurar atribuir-se da responsabilidade de levar em conta as implicaes a longo prazo do consumo dos alimentos transgnicos sobre a sade humana, estabelecendo normas e regras sobre o consumo desses alimentos.

    O PROTOCOLO DE CARTAGENA SOBRE A SEGURIDADE DA BIOTECNOLOGIA

    O Protocolo de Cartagena sobre Biossegurana, firmado em Montreal, Canad, em 28 de Janeiro do ano 2000, entrou em vigor em 11 de setembro de 2003. Esse foi o primeiro acordo internacional sobre o transporte de organismos geneticamente modificados e representa um avano significativo na tentativa de se fixar normas-padro de biossegurana no mbito mundial. Proporciona um enfoque completo para a conservao da biodiversidade, a utilizao adequada dos recursos naturais e a participao justa e eqitativa dos benefcios da biotecnologia.

    A entrada em vigor do Protocolo serviu de referncia legislativa internacional bsica para a proteo da diversidade biolgica e da sade humana em relao a eventuais danos que possam advir da liberao de OGM no meio ou da ingesto de produtos ou alimentos transgnicos. Eis que, ao ter como fim precpuo a implementao do Principio da precauo, agora direcionado especificamente aos organismos geneticamente modificados.

    Atualmente, o princpio da precauo vem sendo utilizado relacionando o risco em vez das causas. Pode ser definido como a relao entre agir virtuosamente

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    e a natureza do conhecimento cientfico, que sempre incompleto. A base conceitual do princpio da precauo a certeza da incerteza, sendo assim, esse princpio interfere em diferentes interesses e relaes sociais (ROCHA, 2003).

    A biossegurana pode ser entendida luz do princpio da precauo como o conjunto de atos voltados preveno, o controle, diminuio e/ou eliminao dos riscos sade humana e ao meio ambiente em decorrncia do emprego e/ou desenvolvimento de modernas tecnologias.

    A previso legal ptria do Princpio da Precauo encontrada no caput do artigo 225 da CRF e no artigo 2 da Lei n 6.938/1981, este princpio prioriza a preveno, determinando que um dever legal do rgo pblico buscar informao cientifica para o prprio rgo ou para a populao. Este princpio anda de parelha com o da eficincia, includo em sede constitucional pela emenda constitucional n 19. mais eficiente, barato e simples prevenir que reparar os danos causados (SGUIN, 2002, p. 93).

    O princpio da precauo ser usado como base tomada de decises sobre importao de sementes, alimentos ou produtos transgnicos ou geneticamente modificados. Objetiva-se, a proteo igualitria de todos os pases importadores de OGMs contra possveis acusaes de discriminao comercial ou de imposio de barreiras no alfandegrias. Depois, restou expressamente estabelecido que nenhuma referncia no texto do Protocolo poder ser interpretado como uma submisso a qualquer outro documento ou organizao internacional. Na prtica, o Protocolo de Biossegurana se desvincula de qualquer tentativa de condicionar a sua vigncia a regras da Organizao Mundial do Comrcio - OMC, ressalvando o direito de cada parte-signatria estabelecer normas mais rgidas ou critrios prprios para a aceitao e liberao de sementes, gros ou produtos geneticamente modificados.

    Uma outra novidade trazida pelo Protocolo a previso de um processo de notificao e registro de produto, de modo a garantir que a remessa, transporte, uso, liberao e comercializao de sementes e gros transgnicos somente possam ocorrer aps o recebimento de autorizao explcita por parte do pas importador.

    O Protocolo reconhece que os pases podem recusar a remessa de produtos transgnicos por entender que sua introduo possa ter impactos scio-econmicos indesejveis, alm de potenciais riscos ambientais, que devero ser avaliados

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    atravs de Estudos de Impacto Ambiental, a exemplo do que determina a Constituio Brasileira.

    A REGULAMENTAO DOS TRANSGENICOS NA UNIO EUROPIA.

    A regulao dos transgenicos na Unio Europia foi feita de modo comunitrio no inicio de 1990, visando proteo sade de seus cidados e o meio ambiente perante o mercado da biotecnologia que comeava a se desenvolver. A normatizao europia composta por: Regulamento n 1.829/2003; Regulamento n 1.830/2003; Regulamento n 258/97; Regulamento n 18/2001; Regulamento n 178/2002; Diretiva n 18/2001; e Regulamento n 172/2002.

    A Diretiva n 18/2001 aborda questes relativas colocao no mercado de produtos que contenham organismos geneticamente modificados. Antes da colocao no mercado necessria uma notificao autoridade competente do Estado-membro, onde o organismo geneticamente modificado foi inserido pela primeira vez. necessria, tambm, a autorizao da autoridade estatal. No seu artigo 21, afirma que os Estados-Membros devem tomar as devidas medidas para assegurar a rotulagem de OGMs e de produtos que contenham OGMs.

    O regulamento n 178/2002, objetivando elevar o nvel de proteo da vida e da sade dos seres humanos e proteger os interesses dos consumidores, atravs da garantia de boas prticas comerciais no setor de alimentos. Criou a Autoridade Europia para a Segurana dos Alimentos e estabeleceu as diretrizes gerais que regem a legislao alimentar no mbito europeu.

    Para atingir seus objetivos, a autoridade emitir pareceres cientficos que sero elaborados por seus painis e comits, dentre os quais, encontra-se o painel dos organismos geneticamente modificados que tem competncia para se manifestar sobre o assunto no mbito da Unio Europia. Portanto, encontra-se diretamente vinculada aprovao e liberao dos organismos geneticamente modificados.

    O regulamento EC n 1.829/2003 busca o estabelecimento de procedimentos para a autorizao e superviso dos gneros alimentcios e alimentos para animais que sejam geneticamente modificados, e tambm o Regulamento n 1.830/2003 relativo sua rasteabilidade. Dispem que todos os alimentos destinados ao consumidor final e coletividades, que contenham ou

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    sejam constitudos por organismos geneticamente modificados, ou que sejam produzidos ou contenham ingredientes produzidos a partir de OGMs devero ser rotulados. O artigo 13 do Regulamento n. 1829/2003, preceitua que se um alimento for constitudo por mais de um ingrediente, o rtulo dever trazer uma lista de ingredientes com as indicaes de que um deles geneticamente modificado ou produzido a partir de um ingrediente geneticamente modificado.

    O artigo 6 da Diretiva 13/2000 dispe sobre os percentuais utilizados na rotulagem de alimentos na Unio Europia, tal exigncia ser aplicvel aos alimentos que contenham material que: seja constitudo por OGMs numa proporo no superior a 0,9% dos ingredientes que os compem; seja produzido a partir de OGMs numa proporo no superior a 0.9% dos ingredientes que os compem; ou contenha OGM numa proporo no superior a 0,9% dos ingredientes que os compem, sendo, para tanto, considerados individualmente, ou do prprio gnero alimentcio, se este consistir num nico ingrediente desde que a presena desse material seja acidental ou tecnicamente inevitvel. Este limite poder ser reduzido caso os avanos biotecnolgicos o permitam.

    Para tanto, o prprio regulamento disciplina a forma e modo como sero includos nas excees supra. J o regulamento 1.830/2003, objetiva atraves do quadro regulatrio para rasteabilidade dos OGMs, facilitar a rotulagem exata, o controle ambiental e a retirada de produtos do mercado, em caso de necessidade (MORAIS, 2004, p.141)

    A REGULAMENTAO DOS TRANSGNICOS NOS ESTADOS UNIDOS

    (Rodrigues, 2003, pg.134) Nos Estados Unidos da Amrica, a legislao e regulamentao da utilizao de tcnicas para a elaborao de Organismos Geneticamente Modificados e o consumo destes produtos a mais flexvel que existe em todo o mundo. Eis que, os componentes transgnicos em alimentos so considerados neste pas como aditivos, no requerendo sequer passar pela aprovao do FDA (Food and Drug Administration), rgo responsvel pela realizao de testes de segurana em Organismos Geneticamente Modificados a serem colocados no mercado do consumo. Sendo que para as polticas americanas, qualquer tipo de cerceamento no passa de mero excesso de protecionismo.

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    Assim sendo, o posicionamento americano mostrar-se oposto ao da Unio Europia e conforme preleciona Capra, apud Rodrigues (2003, p. 134):

    [...] nos Estados Unidos, as empresas de biotecnologia persuadiram a Administrao de Alimentos e Medicamentos (FDA) a considerar os alimentos transgnicos como substancialmente equivalentes aos alimentos tradicionais , o que exime os produtores de alimentos de submeter seus produtos aos testes normais da FDA e da Agencia de Proteo Ambiental (EPA) e deixa a critrio das prprias empresas rotular ou no os seus produtos como transgnicos. Assim, o pblico no informado sobre a rpida disseminao de alimentos transgnicos e os cientistas tem muito mais dificuldade para identificar os possveis efeitos nocivos.

    Sendo assim, a rotulagem de alimentos transgnicos facultativa, no havendo registros de sequer um produto venda no mercado que esteja sendo rotulado. As implicaes dessa total desregulamentao, no que diz respeito rotulagem, so no mnimo preocupantes. Posto que, qualquer leso sade do consumidor, seja intoxicao alimentar ou dificuldade no tratamento de doena oriunda do consumo generalizado e contnuo desses produtos no pode ser identificado e nem registrado, pois no h meios para que seja feito algum tipo de monitoramento do consumo de alimentos transgnicos.

    Observa-se, portanto, que em matria de regulamentao, o Brasil se encontra em posio vantajosa diante dos Estados Unidos. Cabe salientar que a defesa do Estado Democrtico de Direito deve buscar a garantia dos direitos mnimos do cidado. Quando a discusso gira em torno da ponderao de princpios constitucionais, envolvendo a liberadade de pesquisa aqui entendida como o incentivo biotecnologia - e o princpio da dignidade humana aqui envolvendo o direito do consumidor ser informado e a garantia do meio ambiente sadio -, no restam dvidas que este ltimo deve prevalecer.

    Neste sentido, Salet (2002, p. 88) soluciona de forma brilhante o aparente conflito quando afirma in verbis:

    justamente para efeitos da indispensvel hierarquizao que se faz presente no processo hermenutico, que a dignidade da pessoa humana tem sido reiteradamente considerada como o princpio (e valor) de maior hierarquia da nossa e de todas as ordens jurdicas que a reconhecem [...]. Assim, no mbito desta funo hermenutica do Princpio da dignidade da pessoa humana, poder-se- afirmar a existncia no apenas de um dever de interpretao conforme a Constituio e dos direitos fundamentais, mas acima de tudo aqui tambmafinado o pensamento de Juarez Freitas de uma hermeneutica que, para alm do

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    conhecido postulado in dubio pro libertate, tenha sempre presente o imperativo segundo o qual em favor da dignidade no deve haver dvida

    Sendo a dignidade da pessoa humana, princpio fundamental presente na quase totalidade das legislaes do mundo, toda norma constitucional e infraconstitucional lhe deve observncia, sob pena de descrdito ao sistema como um todo, pois estamos diante de principio basilar, fundamental em toda ordem jurdica que se diz democrtica e que priva pelo respeito aos direitos humanos.

    E luz do que dispe a Declarao Universal da ONU (SALET, 2002, p. 45), o elemento nuclear da noo de dignidade da pessoa humana parece continuar sendo reduzido e a doutrina majoritria conforta esta concluso primordialmente matriz kantiana, centrando-se, portanto, na autonomia e no direito de autodeterminao de cada pessoa.

    Portanto, quando se fala em organismos geneticamente modificados, a rotulagem condio sine quan non para o exerccio pleno do direito de escolha e do direito de informao. Assim sendo, e levando-se em considerao que o direito de autodeterminar-se da forma que melhor entender e em conformidade com a ordem jurdica uma garantia inerente dignidade humana. Qualquer ato do poder pbico que signifique restrio a este direto, implica em ofensa indireta a principio fundamental.

    EQUIVALNCIA SUBSTANCIAL

    O conceito de equivalncia substancial surgiu em 1990, de uma consulta sobre a avaliao da Biotecnologia na produo e processamento de Alimentos no que se refere segurana alimentar, na qual a Organizao Mundial de Sade (OMS) convocou a Organizao para a Alimentao e Agricultura (FAO).

    Aps a incorporao da biotecnologia no cotidiano do direito internacional atravs da Agenda 21 e da Conveno sobre Diversidade Biolgica. A FAO, a OMS e outras organizaes internacionais promovem informaes e avaliaes sobre a biossegurana. Assim, Joint, 1996, p.2 apud Morais (2004, p. 92) afirma:

    Durante a consulta, as agencias FAO e OMS endossaram o conceito de equivalncia substancial (ES) uns dos mais importantes princpios para a avaliao e segurana de alimentos transgnicos desenvolvido em 1993 pelo Grupo de especialistas Nacionais em Biossegurana, da Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE).

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    Observa-se que o conceito de equivalncia substancial usado por Joint, 1996, p.2 apud Morais (2004, p. 92) trabalha com a idia de que alimentos ou componentes alimentares geneticamente modificados, cuja analise de segurana os coloque num patamar de igualdade em termos de segurana com o alimento similar convencional, devem ser tratados da mesma maneira.

    Contudo, a diferenciao deve ser indicada no rotulo, ao final o dever de informao do consumidor deve ser tutelado pouco interessa se so exatamente iguais para efeitos da tutela coletiva do consumidor. Importante que, no caso em concreto, o consumidor tenha informao completa dos meios utilizados para a obteno do produto, no caso se houve utilizao direta ou indireta de organismo geneticamente modificado ou se foi obtido pelas vias tradicionais.

    CONCLUSO

    O positivismo jurdico mostra-se incompleto na soluo dos novos conflitos sociais, posto que, cada dia que passa, a concepo do mundo e consequentemente do universo jurdico sendo vem sendo alterada, seja pelos novos padres de conduta social, pela velocidade das informaes, pela corrida tecnolgica que muitas vezes consegue ser mas rpida que a imaginao do homem comum, ou pela existncia de fronteiras meramente formais entre os Estados oriunda da globalizao. Globalizao esta - que tudo indica - tende a, num futuro prximo, adquirir dimenses jurdicas.

    Quando falamos em Organismos Geneticamente Modificados ou transgnicos, levando em considerao as implicaes legais e os eventuais riscos no meio ambiente ou na sade do homem, a soluo mais ponderada que se vislumbra a existncia de uma legislao nica em todos os pases. Enquanto, caminha-se a este objetivo, procurou-se, de forma singela, uma anlise da regulamentao nacional e internacional que nos permita unir esforos busca da melhor legislao para todos.

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    BIBLIOGRAFIA

    BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurdico. 10. ed Braslia: Editora da UNB, 1999. MORAIS, Roberta Jardim de. Segurana e rotulagem de alimentos geneticamente modificados seragem: uma aboradagem do direito econmico. 1.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

    ROCHA, Crmen Lcia Antunes. O direito a vida digna. Belo Horizonte: Frum, 2004.

    RODRIGUES, Maria Rafaela Junqueira Bruno. Biodireito: alimentos transgnicos. 1. ed. So Paulo: Lemos e Cruz, 2002.

    SEGUIN, Elida. O direito ambiental: nossa casa planetria. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

    SILVA, Reinaldo Pereira e. Biodireito: a nova fronteira dos direitos humanos. So Paulo: LTr, 2003.

    ODA, Leila Macedo. A biotecnologia e sua regulamentao no brasil e no mundo. Disponvel em < http://www.tropicologia.org.br/conferencia/2000biotecnologia.htm>. Acesso em: 05. mai. 2005.

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