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Copyright©2014 Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP)Copyright©2017 Editora Kapulana Ltda.Copyright do texto©2017 Rogério ManjateCopyright das ilustrações©2017 Celestino Mudaulane

Os textos foram adaptados para a nova ortografia da língua portuguesa de expressão brasileira. (Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 – decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008).

Coordenação editorial: Rosana Morais WegProjeto gráfico e lettering: Amanda de AzevedoIlustrações: Celestino Mudaulane

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura infantil 028.5

2. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5

2017

Reprodução proibida (Lei 9610/98)Todos os direitos desta edição reservados à Editora Kapulana Ltda.

Rua Henrique Schaumann, 414 - 3º andar - CEP 05413-010, São Paulo, SP, [email protected] | www.kapulana.com.br

Manjate, RogérioWazi/ Rogério Manjate; [ilustração Celestino Mudaulane].

-- São Paulo : Kapulana, 2017. -- (Contos de Moçambique; 6)

ISBN: 978-85-68846-31-5

1. Ficção - Literatura infantojuvenil 2. Literatura moçambinaca (Português) I. Mudaulane, Celestino. II. Título III. Série.

17-09787 CDD-028.5

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CONTOS DE MOÇAMBIQUE - vol. 6

TEXTO DE ROGÉRIO MANJATEILUSTRAÇÕES DE CELESTINO MUDAULANE

São Paulo2017

kapulana

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Jhapondo, o caçador mais famoso da região, estava velho e andava triste. Andava triste porque o famoso clã de caçadores estava a desaparecer.

Nenhum dos seus nove filhos e vinte netos quisera ser caçador. E ele não queria morrer triste, porque essa era a pior das mortes.

Jhapondo e Wazi

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Já quase se tinha resignado, quando, numa certa manhã, o seu neto mais novo, Wazi, decidiu largar os brinquedos para caçar com o avô. O velho Jhapondo nem queria acreditar. Era tamanha a ale-gria, que lhe brotou do corpo uma dança jamais vista, para celebrar.

Começou por ensiná-lo a manejar a zagaia e a flecha e a prepa-rar as armadilhas. Como diz o povo, quem sai aos seus não degene-ra, Wazi aprendeu todos os truques e manhas da caça, num abrir e fechar de olhos.

Na primeiríssima flechada, acertou em cheio num coelho. De es-panto, saltou-lhe pelos olhos, o coração. Ele crescera a ouvir as histó-rias do coelho nas quais se dizia que este era o animal mais inteligente e astuto da floresta. Não queria acreditar que o tivesse conseguido.

– Isto prova que és um grande caçador, meu neto.

Pouco tempo volvido, já conseguia apanhar gazelas, cudos, impalas, javalis.

Oh, já me esquecia! Nesse primeiro dia de caça, o outro ensina-mento importantíssimo que Wazi recebeu do velho Jhapondo, foi que nunca e jamais devia comer os frutos das árvores à direita do caminho.

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ANTÍLOPES QUE VIVEM NAS SAVANAS AFRICANAS

ÁRVORES

AVES

INSTRUMENTOS DE CAÇA

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Nós, os africanos vivemos rodeados de tabus. Começamos por dizer o que se não deve fazer, para logo em seguida acenarmos com o castigo terrível que espera quem ousar não cumprir as regras estabelecidas, como forma de dissuadirmos o infrator.

E se alguns tabus podem ter alguma razão de ser, e terem um efeito positivo, outros são infundados e muitas vezes motivados pela ignorância. Podemos acreditar em alguns, duvidamos de outros, ousamos por vezes quebrar e desmistificar outros ain-da. Ao desobedecermos a estas regras há vezes em que nada de mal nos acontece, mas outras há em que nos parece que o castigo realmente teve lugar.

Podemos entender a razão de ser de certos tabus, e noutros casos, a sua utilidade. Por exemplo quando se diz “não se deve varrer a casa à noite, senão aparecem os feiticeiros ou deitamos fora a sorte”, se pensarmos que ainda há poucos anos, as casas não tinham candeeiros, nem luz elétrica, podemos facilmente perceber que por isso, no escuro da noite, corria-se o risco de deitar fora os objetos valiosos, minúsculos — deitando fora a sorte.

WAZI é o nome que dou à recriação da história, que ouvi pela primeira vez no saudoso programa de contos tradicionais “Nkaringana Wa Nkaringana”, da Rádio Moçambique, nos idos anos 70 e 80. Tinha eu entre 7 e 12 anos de idade. Este conto acompanhou-me desde então. E acredito que nele está contido algo essen-cial do pensamento africano.

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Grande parte dos contos tradicionais (incluindo os próprios contadores de histórias) tem por fim ensinar algo, transmitir uma moral. Mas eu, enquanto autor, não pre-tendo moralizar ninguém, nem considero que tenha nada para ensinar, apenas para aprender, partilhar. Por isso, optei por travestir o conto, e sublinhar outros aspectos da vida humana: as escolhas, a liberdade, o amor, o destino, etc. Preferi que Wazi também se divertisse com a sua descoberta. E que não fosse julgado, porque em se-guida, e paradoxalmente, morreria por contar a verdade — o segredo, o que tornaria a legitimidade do castigo duvidosa.

Escolhi reler e recontar esta história tão antiga, à luz da modernidade africana.

O resto deixo ao seu critério, cara leitora ou caro leitor. Esta história significará o que você sentir, interpretar, achar ou até o que você quiser. Liberdade!

ROGÉRIO MANJATE

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ROGÉRIO MANJATENasceu em 1972, em Maputo, capital de Moçambique.

É escritor e profissional de teatro, área na qual atua como ator, encenador e docente. Escreveu e dirigiu o premiado curta-metragem de ficção I love you (2007), e os docu-mentários O meu marido está a negar (2007) e Quitupo Hoyê! (2015).

Atualmente, é docente e diretor do Curso de Teatro da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane

É autor dos livros:

2002 – Amor silvestre. Maputo: Ndjira.2004 – Casa em flor. Maputo: Mwananga.2010 – O coelho que fugiu da história. São Paulo: Ática.2017 – Cicatriz encarnada. Maputo: Cavalo do Mar.

Recebeu vários prêmios literários:

2001 – Prémio Literário Telecomunicações de Moçambique (TDM), Contos.2002 – Prêmio União Latina do Concurso Literário Guimarães Rosa/RFI.2002 – Prémio de Literatura para Crianças do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa.2005 – Prémio 10 de Novembro de Poesia.

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CELESTINO MUDAULANENasceu em 17 de março de 1972, em Maputo, capital de Moçambique.

É professor de Cerâmica e Desenho na Escola de Artes Visuais de Moçambique desde 1993. Foi professor do primeiro curso de Educação Visual no Centro Cultural de Matalana.

É membro do Núcleo de Arte e membro fundador do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique.

Alguns dos prêmios que já recebeu por suas criações artísticas:

1999 – 1º Prémio de Cerâmica – Exposição Anual do Museu Nacional de Arte.2002 – Prémio Fundac Alberto Chissano.2003 – 1º Prémio de Cerâmica – Bienal Telecomunicações de Moçambique (TDM).2005 – 2º Prémio de Cerâmica – Bienal Telecomunicações de Moçambique (TDM).

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O nanquim é uma técnica antiga, que se originou na China, na região da cidade de Nanjing, que já foi a capital chinesa. Essa tinta também foi muito utilizada na Índia, mas ganhou popularidade pelo seu uso no Japão. O nanquim é um material muito usado para a escrita, a pintura e também para o desenho.

Documentos de cerca de 2 mil a. C. comprovam que, na China, o nanquim já era utilizado em manuscritos. Geralmente, a tinta era utilizada em papel, pergaminho ou telas de seda, com pincéis e canetas de bambu (o que originou artes tradicio-nais como a Caligrafia e o Sumiê). Na Europa, o nanquim era utilizado com canetas bico-de-pena que, no início, eram feitas de penas de corvos com a extremidade apontada; depois, evoluiu para penas de aço e canetas recarregáveis.

Por muito tempo, o nanquim foi obtido a partir da tinta preta liberada por moluscos marinhos da família dos octópodes. Atualmente, as tintas são fabricadas a partir de uma combinação de cânfora, gelatina e um pó de cor escura conhecido como pó de sapato (fuligem ou negro de fumo), muito usado na pigmentação de outros produ-tos de cor negra. Ele é uma das variedades mais puras de carvão.

O nanquim é uma tinta que dá ao artista a possibilidade de criar texturas lineares e dar um aspecto detalhista às obras. A tinta tem uma cor saturada e intensa, dando nitidez e clareza aos desenhos.

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[vol. 1] O rei mochotexto de Ungulani Ba Ka Khosailustrações de Américo Mavale

[vol. 2] As armadilhas da florestatexto de Hélder Faife

ilustrações de Mauro Manhiça

[vol. 3] A viagemtexto de Tatiana Pinto

ilustrações de Luís Cardoso artesanato de Tomás Muchanga

[vol. 4] O casamento misterioso de Mwidjatexto de Alexandre Dunduroilustrações de Luís Cardoso

artesanato de Orlando Mondlane

[vol. 5] Kanova e o segredo da caveiratexto de Pedro Pereira Lopesilustrações de Walter Zand

SÉRIE “CONTOS DE MOÇAMBIQUE”

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