7 dias cortando as pontas dos dedosdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de...

52

Upload: others

Post on 16-Aug-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a
Page 2: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a
Page 3: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOS

Page 4: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

OrganizaçãoRojefferson Moraes

RevisãoZemaria Pinto

DiagramaçãoJackson Abacatu

CapaPaulo Kalvo

[email protected]@gmail.com

LicençaTodos os direitos reservados

04

Page 5: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOS

PÁTRIA A(R)MADA ASSASSINA

Quando pensamos em produzir um fanzine cujo conteúdo fosse de oposição à instalação de um governo fascista no país, não imaginávamos que chegaríamos ao extremo de ver o extermínio em massa da população brasileira, em decorrência da incompetência governamental do presidente que faz da Esplanada dos Ministérios seu parque de diversão pessoal, onde só quem manda é ele, e onde tudo tem que ser feito conforme suas vontades. Isso somado a total falta de habilidade da sua equipe de militares paus-mandados, incapazes de criar uma estratégia eficaz de combate à pandemia, e cujas medalhas apenas comprovam que o alto escalão das forças armadas do Brasil não passa de um covil de cobras traiçoeiras e interesseiras. Hoje estamos às vésperas da marca desesperadora de 300 mil mortes decorrentes de complicações do COVID-19. Com uma população completamente desnorteada. Nem mesmo os apoiadores do presidente sabem mais o que dizer pra defender o indefensável. Quanto a nós? Estamos aqui novamente, 30 participantes, de 11 estados, das 5 regiões do país, em um E-ZINE de RESISTÊNCIA, agora contando com o apoio da Editora Merda na Mão, e da Na Tora Produções (AM), ecoando o grito de FORA GENOCIDA!

05

Page 6: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

SUMÁRIO

ANDRI CARVÃO - pág. 08

AGNER NYHYHWHW - pág. 10

FABIO DA SILVA BARBOSA - pág. 11

EDSON BAPTISTA - pág. 12

TAINÁ VIEIRA - pág. 13

VICTOR HUGO NEVES- pág. 14

ZEMARIA PINTO - pág. 18

GIGIO FERREIRA - pág. 20

MARCOS SAMUEL COSTA - pág. 22

LILIAN MIRANDA - pág. 23

FREDERICO A. PASSOS - pág. 24

DINHO LASCOSKI - pág. 25

ILMAR RIBEIRO - pág. 26

ELIDIOMAR RIBEIRO DA SILVA - pág. 27

MARCO AURÉLIO DE SOUZA - pág. 28

06

Page 7: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

GILMAL - pág. 29, pág. 33

RAFAEL CESAR - pág. 30

PAULO MONTEIRO - pág. 34

GLAUCO MATTOSO - pág. 36

ROJEFFERSON MORAES - pág. 37

JALNA GORDIANO - pág. 38

MARIANE ALVES - pág. 40

FLÁVIO ANTONINI - pág. 41

ODAIR DE MORAIS - pág. 42

JANETE CHARGISTA - pág. 44

JANER JOSÉ - pág. 45

LAÍS FERNANDA BORGES - pág. 46

DORI CARVALHO - pág. 47

07

Page 8: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

ELITE MISERÁVEL

Cidadão

Cristão

Brasil

Servil

Herança rural

Questão cultural

Regime colonial

Atraso industrial

Casa senhorial

Sociedade patriarcal

Racismo estrutural

Identidade nacional

Burocrata

Escravocrata

Primata

Política

Paleolítica

Da servidão

Da escravidão

Da prisão

Dentre outras formas de opressão

08

Page 9: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Pobre é povo

Classe média é povo

Povo é povo

Teleguiado por uma elite miserável

ANDRI CARVÃO, São Paulo – SP

e-mail: [email protected]: https://www.facebook.com/PersonaPoetica/

09

Page 10: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

SIMPLES ASSIM

-Essa pandemia já encheu o saco.-É. Muda de canal. Bota no futebol.

AGNER NYHYHWHW

Rio de Janeiro – RJhttp://partesforadotodo.blogspot.com

10

Page 11: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

ENTERRADOS VIVOS

Atacando a criatividadeMassacrando a imaginaçãoNão entendem a filosofiaSustentam a limitação

Tem de estar tudo bem limpinhoTudo higienizadoDe acordo com a moralDo dito civilizado

Nos enfiam preconceitosPela garganta até o raboParedes de uma grande prisãoNossos membros amarrados

Mas repetem o senso comumComo se fosse grande sabedoriaA maldita competiçãoCausando miopia

Uma vida sem sentirA música e a poesiaÉ como a fria verdade mentirosaO retrocesso e a apatia

FABIO DA SILVA BARBOSA

Porto Alegre – RS [email protected]

11

Page 12: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

EDSON BAPTISTA

Rio de Janeiro, RJ@hghquadrinhos [email protected]

12

Page 13: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Retalho

Triste de mimatormentada por minha futilidadedeixei-me levar pela vaidade dessa vida podretorpe.

Podre é uma palavra feia, fria e fétidacomo a vida dos inúteisdos incultosdos bárbaros dos fascistasdos pedófilos e dos parentes tolos.

Torpe é a alma miserável,sem luz.

Eu preciso de luz,luz forte e quente para queimarmeus pensamentos vaziose esterilizar meu corpo contaminado.

Eu preciso de luz para queimar minha retina,basta-me o coração para olhar o novo mundoque virá após essa negra neblina.

TAINÁ VIEIRA Manaus- [email protected] do Facebook: Tainá Vieira

13

Page 14: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

O SOL DOS AFOGADOS

Vi! Tive sim aquela angústia no peito, o ar que sumia, a sensação de desmaio, a ansiedade que paralisa. Eu cortava um dos ramais lamacentos da cidade, naquele triângulo das bermudas que são intercessões entre a zona rural e o lado urbano. Sentado no meu cavalo de ferro de 150 cilindradas, o velocímetro apontando tímidos 50 km por hora e uma ladeira sem fim à frente. Como é comum na época de dezembro aqui no norte, aquelas nuvens carregadíssimas formando rios voadores gritavam conosco! Zás! Cada qual traduz de acordo com seu nível de conforto ou perigo. No meu caso, entendi assim: Acelera, senão tu ficas no atoleiro. Fiz o velocímetro ficar mais feroz.

Entre trancos, deslizes, zonas alagadiças, briga entre motor e inclinação da pista improvisada, lá estava eu tombado no chão. Havia uma pedra no meio do caminho. Pontuda, camuflada, capoeirista dando a rasteira final. Eu, caído no chão, no cume da montanha, lá onde não mora ninguém. Lá onde temos uma vista panorâmica das desigualdades sociais. Parecia uma pista medieval, uma ponte que levava à rota dos desamparados. E era isso que eu era, um sujeito no meio da mata, caído no nada, a perna torcida, lama na cara, só podendo olhar o horizonte e esperar alguma resposta. Viro meu rosto em busca de uma placa, um sinal de vida e noto um outdoor. Nele estava a foto de um sorriso asqueroso, com dizeres tipicamente falaciosos, endossados por números inventados, sinal de arminha na mão e aquele personagem dos infernos: o presidente ria da situação dos atolados, dos atingidos, dos desamparados. Com força extrema, tiro a moto de cima de mim e me arrasto com a

14

Page 15: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

bolsa nas costas até um ponto em que pudesse enxergar as moradias. Abro minha mochila, pego o binóculo de ver os pássaros, e me sento embaixo de uma frondosa jaqueira. O temporal desaba.

Eu via as casas equilibradas em pernas de paus, as janelas tortas e rotas. Acima delas os rios voadores desaguavam pesadamente, unindo-se aos seus filhotes igarapés, poluídos e maltratados. Eu entendia que aquilo era um acordo de vingança tramado entre a chuva e os rios contra décadas de maus-tratos com as águas, que agora subiam vertiginosamente. Aponto meu binóculo para dentro de uma casa. Vejo um semblante feminino, surrado, pálido; contudo, com os olhos cheios de dignidade.

A correnteza balança a palafita. Seus moradores berram em desespero. A senhora ainda mantinha sua fé e sua distinção. Por calejamento do espírito já não se abatia por nada na vida. Os vizinhos sentiam a iminência em que o casebre despencaria, não havia o que fazer. As pernas da casa eram vencidas pelas pancadas das enxurradas. O fluxo joga o barraco no rio sem levá-lo ao fundo, crianças caem em pranto. Adultos, em desespero. Nossa senhora, que cabe qualquer nome, prostava-se de olhos cerrados em sinal de oração. A casa bate em um barranco, vai para a lateral, choca-se com outras residências, é arrastada por metros adentro do bairro. Alguns adultos já pegam botijões de gás e outros objetos flutuantes e saem a nadar. Minha agora amiga senhora resistia, não se preocupava com a televisão afundando, estava mais interessada em traçar um olhar fixo e calmo pela janela. Se Hahnemann Bacelar visse a cena, faria um quadro intitulado Dignidade. E o arrastão continua metros a fio pela comunidade, a velocidade era frenética. Uma nau

15

Page 16: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

surfando na pororoca do desespero. As pessoas já não gritavam, o momento atônito não deixava distinguir o que era chuva ou lágrimas. A casa ganhava aceleração, quão rápida ela se tornava! Quanta força em suas madeiras caiadas! Quanta vida e morte presentes em madeiras desgastadas e telhados de zinco! Em força constante ela ganha a pista e o lado urbano daquela congruência de abastados e esquecidos. A senhora percebia todo o movimento com a respiração parca, o olhar tranquilo e um descompasso infindo entre seu corpo enfermo e seu estado de espírito plasmado pela firmeza de seus olhos. A casa dá uns rodopios e para em meio à pista, a janela apontada para a ladeira, como se fosse os olhos do casebre. Cabreiro e irritado, este olhar prosopopeico toma uma decisão: Vou partir para cima!E a casa corre como uma bola de bilhar, certeira e rápida, visando ao final da jogada. Busca um alvo, uma tacada final, o seu apogeu. Seu foco era um comitê político pintado de verd’amarelo, recheado de sorrisos toscos do mesmo crápula que se punha no outdoor. A palafita choca-se contra o comitê. Os playboys que lá se abrigavam, notando que estavam em perigo, se jogam na lama. Seus carrões já não serviam pra nada. O choque foi cruel, exato, calculado a ponto de deixar avarias no salão dos liberaloides. Olho os escombros, os restos de tudo: a paisagem ao lado, o céu acima. A chuva para de cair repentinamente. Procuro ver os detalhes dos transtornos do tsunami, e enxergo os sectários do pretenso ditador caídos na lama, achando-se humilhados. Vejo fotos, paredes e panfletos sujos de merda por todos os lados. Os homens dos prédios e os esquecidos davam-se as mãos buscando encontrar um local mais seguro para todos. Debaixo de um piso de pau, sai a minha tapuia, amiga oculta,

16

Page 17: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

a nossa senhora. Cabeça erguida, olhar confortador, mirando tudo ao redor, sem ofegância, semblante límpido, curada! Respirando com tranquilidade e saturação perfeita, ela olha pra cima e vê o lindo e tenebroso sol amazônico. Os aplausos apareciam de todos os lados, ao mesmo tempo que o grito dos pássaros anunciando um novo dia.

VICTOR HUGO NEVES Manaus – AM E-mail. [email protected]

17

Page 18: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

A ÚLTIMA MENSAGEM DE ZECA

As duas devoções de Zeca eram cerveja e santa Rita de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a missa na igreja da padroeira, logo cedo, acompanhando D. Joca. E depois, cerveja, que nem só de fé se alimenta o ser humano. Os apelidos masculinos derivavam dos prenomes: Maria José e Maria João. Filha e mãe. Conheci Zeca quando ainda era sargento do Exército e cursava Letras, na UFAM. Aluna acima da média, destacava-se pelas ideias originais e polêmicas. Tinha o seu cânone particular, onde não cabiam escritores com preocupações sociais. Amava o mundo sórdido e refinado de Rubem Fonseca, os conflitos sexo-religiosos da classe média de Nelson Rodrigues e o intimismo corrosivo de Clarice Lispector – e tinha uma inexplicável paixão por Euclides da Cunha, o cadete rebelde que atirou o sabre aos pés do ministro da Guerra, o jornalista-poeta que denunciou o genocídio de Canudos e a escravização do seringueiro amazônico. Mas escrevia pra caralho, ela justificava com seu habitual poder de síntese. Aliás, Zeca falava mais palavrões que um presidente da república, só que com mais classe e graça. Quando começou a pandemia, Zeca e D. Joca recolheram-se, como mandava o figurino e o bom senso. Elas e o vira-lata Mandrake. Contatos externos, só o essencial. A casa de bairro, com quintal, varanda e churrasqueira, árvores frutíferas e flores, que vivia cheia de amigos, quedou deserta e silenciosa. Grupo de risco, mano, conversa fiada só no uatizapi. Pois foi pelo aplicativo que eu testemunhei uma transformação inimaginável em Zeca. Sua aversão às posições de esquerda terminara em apoio incondicional

18

Page 19: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

ao fascismo emergente – só esse doido pra detonar a petralhada, ela dizia. Andamos meio afastados, depois das eleições. À minha incompreensão – como uma professora pobre, preta e homossexual pode apoiar alguém que odeia professores, pobres, pretos e homossexuais? – respondia com meia dúzia de impropérios. Foi o coronavírus que mostrou a ela, afinal, quem eram os fascistas genocidas: em duas semanas de pandemia, a confiança se transformou em aversão. Tu é doido, mano, esse filho da puta quer matar a gente! Não caio nessa, não!

Zeca foi enterrada no dia 6 de maio, aos 63 anos, às 5 e pouco da tarde. Choviam finos cristais de luz à beira da cova coletiva, onde meia dúzia de amigos choravam sem discrição. Sua última mensagem, datada de quatro madrugadas antes, era um resumo do país pedindo socorro: mano, eu tô fudida!

ZEMARIA PINTOManaus – [email protected]

19

Page 20: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

FUMO DE ROLO

O desespero não morrerá nunca

Pois o óbvio só me traz infelicidade

O fingimento sim – e todas as águas!Desse jeito – melhor afogarmos as mágoas

Não somos Pessoa.

E antes de tudo

Por aqui as questões estão abertas

O Brasil possui um rosto perfeito

E a maioria quer apenas rimas

É preciso que se diga – não somos Pessoa.

E por altivez da banana – estamos satisfeitos! Não somos Pessoa.

Nossa blague voa próximo de qualquer lua

Os doentes mentais possuem muita sorte

Não faria o menor sentido

Um ruidoso suicídio

Por isso não somos Pessoa.

Ultimamente temos montado em palavras

São velhas – é bem verdade

Imagine transformando as outras pessoas?

Isso custa caro

Ao crédito amordaçado na praça

Por isso não somos Pessoa.

Os olhos já murchos sinalizam abatimento

Estamos já com receio de ver a esquina

20

Page 21: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Onde os pombos brincam de tormentoPor isso não somos Pessoa.Toda continuidade é um atrito Afeto das aves de rapina Por isso não somos Pessoa. Nosso grito é muito curto A fronteira sólida é um traço obscuroEsse mártir presidiário dos poemas Por isso não somos Pessoa. O deus que amamentou nossas forçasA farda que vestiu a formiga de fogo O prazer de ver ossos como espinhosPor isso não somos Pessoa. O dom de equilibrar a honra Que há na comida estragada Por isso não somos Pessoa. Até agora fui médico de mim mesmoO inteligente acaba indo embora Por isso não somos Pessoa. Vossa majestade está suando Nossa miséria deixando rastros de beleza A estrada talvez tenha entendido nossa Máquina de falar pulsando e inexpugnável.

GIGIO FERREIRABelém - PAEMAIL: [email protected]

21

Page 22: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

VOZ

Desenterro da voz um rio brandocalmo como canção sem ritmocom suas águas cheias de argila o rio caminhapara terras distantes e abundantes de fracassos ninguém escreverá sobre a paz de um sonhotalvez as visões da poeta Cecilia Pavón sejamreais, talvez todos os gays procurem seu paraísoo peito para descansar a cabeçaum colo masculino para suportar suas tristezas mas a vida de um gay é felizquem disse que não? Tantas luzesbrilhos, conquistas, disputas avanças, tudo é alegria reparadora desenterro da voz o corpo do meu ex-namoro que tem gosto de algo amargo que dói que é negro e magro, um rapaz bonitomas que me feriu a ponto de eu não o ter em nenhuma rede social, ao ponto de ter apagado todos as suas fotosesse rio do passado que passeia nas lembranças tristes o rio o trouxe para minha memóriaeste hombre que es más amargo que el limón al final del tragomais amargo que o final do drinkenterro na voz o sofrimento de parecer todos os dias o membro mais sem função do corpoda minha casa e da minha famíliaum membro que faz uma função que não deveriaque não é sua por natureza como uma perna que escreveao invés de correr...

MARCOS SAMUEL COSTA Pará

22

Page 23: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

LILIAN MIRANDA

BELÉM – [email protected]

23

Page 24: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

O bajulador da maldade

Como estão os seus parentes hoje? E os seus amigos?

Estão todos bem?Onde andará o fantasma que nos assola todas as noites em nossos sonos fingidos?Viveremos para ser testemunhas do julgamento dos culpados?Impávidos, seguiremos silenciosos em nossa covardia vã?Distinto e abjeto senhor, como chegaste até aqui?

Ora bolas, bastaram os votos de um punhado de ignorantes! Reflito sobre a questão, sem atentar que são milhares.

Algozes da vida, a vibrar com a morte de seus opositores.

Néscios a vaguear como cegos em busca de abrigos na chuva.

Onde pretendem chegar? Silenciosas são as manhãs de despedida de atores

desconhecidos,

Ladeados em covas com dezenas de anônimos.

Ouso chamar-te de genocida, asqueroso, sórdido.

Bajulador da maldade, tua morada é a treva e teu cobertor é a morte.

Mao, 25/01/2019

FREDERICO A. [email protected]

24

Page 25: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

DINHO LASCOSKIIndaial - [email protected]: @dinholascoski

25

Page 26: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

MÁSCARAS

Mês de janeiro seguindoFevereiro com esperança da vacinaPolíticos em desacordoMuitas pessoas sem máscara

Está virando bagunçaNinguém se entendendoBares e praias lotadosE hospitais sem leitos

Tudo sem controlePreço dos alimentos aumentandoChuvas destruindo casebresSempre o mais pobre que sofre!

ILMAR RIBEIRORio de Janeiro – [email protected]

26

Page 27: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

MARIPOSAS-BRUXAS E O BICHO-HOMEM

Num universo alternativo Bem diferente do nossoUm bicho-homem entrouVoando pela janela abertaNa casa das mariposas-bruxasIndo pousar na paredeBem no alto, quase no teto

Vovó mariposa-bruxaAo ver o intruso medonhoLogo narrou a crendiceQue diz que é de mau agouroTer um bicho-homem em casaE que quando isso aconteceVai morrer alguém da casa

Pra não morrer alguém da famíliaTem que matar o bicho-homemMas ali ninguém matouPois as mariposas-bruxasNão acreditam em crendicesE em qualquer universoSão melhores que o bicho-homem

ELIDIOMAR RIBEIRO DA SILVA Rio de Janeiro – RJ [email protected]

27

Page 28: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

BESTIÁRIO DE EXCEÇÃO

Sempre que alguém reclama Melhor memória à ditadura – ‘Foi ditabranda’ – Eu penso em ratos Eu lembro de uma ratazana

Sempre quando vejo e ouço Um velho a celebrar o tempo “Em que as ruas eram tranquilas” Eu penso em vermes Penso num porco a urinar sobre A face do Humano

Sempre que a moral é invocada À defesa de um suplício Penso em abutres E rezo e suspiro pelas dores do Homem Lembrando o pau-de-arara Antes da coroa de Cristo

Eu penso numa ratazana Introduzida em Cristo E penso em ratos E penso em vermes Penso em abutres

: penso no porco-humano E noutros corpos De exceção

MARCO AURÉLIO DE SOUZA Ponta Grossa – Paranáhttps://www.facebook.com/marcoaurelio.desouza.73/

28

Page 29: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

GILMALManaus – AM [email protected]

29

Page 30: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

AFETOS ANTIFASCISTAS

Ordeno que a fúria em meu peito resista mais um pouco. Que não se dissipe em medo ou desesperoQue suporte mais um dia, mais uma hora – o quanto for necessário.

E, como consequência, que essa fúria gere em meus lábios palavras quentes, que possam acalentar os irmãos de luta que estão no front, já exauridos.

Ordeno que essa fúria nunca, jamais, vire ódio– Sobretudo seja sempre coragem –

E que eu nunca me iluda sobre a importância do meu peito a ponto de deixar de ser um alvo, diante do perigo iminente em que um irmão se encontre.

Eu ordeno a essas pernas: nunca fraquejem frente ao adversário,ainda que as quebrem, que a ânsia em seguir seja eterna!

[Que nada e nem ninguémpossa arrancar desse couro, dessa pele, a certeza da liberdade.]

Eu ordeno que diante do canhão eu seja escudo, diante da opressão eu seja um tanque de palavras e ações.Eu ordeno que, se requisitadas

30

Page 31: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

pelas balas de um cachorro de farda,minhas entranhas e eu venham ao mundo.

E que eu nunca, NUNCA, me torne uma alma atormentada por seguir um destino de manada...

...rumo ao abatedouro.

Eu ordeno que essa fúria em meu peito seja refúgio, abrigo, bunker, biblioteca, enfermaria – qualquer coisa –mas nunca um quartel.

Eu ordeno a mim e só a mim – gestado, parido e criado por uma guerreira – que nunca me faltem lágrimas de indignação frente à injustiça e à opressão.Que nunca me falte humanidade, mesmo em meio ao escombro do massacre dos gananciosos.Ordeno que meu sangue seja gasolina ou diesel, combustível para meu abraço-molotov.

Eu ordeno que essa fúria em meu peito se atire em direção a qualquer outro peito que se sinta igualmente humano requisitando calor, afago e afeto.Que nunca, nunca falte esperança em cada um dos meus malditos dias

e versos.

Eu ordeno que eu não seja mais um verme sobre a terra; um bandido de gravata e terno.

31

Page 32: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Que eu honre a sorte de caminhar sobre a superfície da Mãe Terra Gaia.

Eu ordeno que eu aceite meu destino de peregrinoe que canto nenhum me seja estranho ou suficiente, que irmão nenhum me baste, que minha família seja a humanidade inteira.

Eu ordeno que eu nunca esqueça as palavras do velho Xamã:Ivy Marã

A terra sagrada, que só é encontrada com a comunidade junta,inteira, de uma só vez, ao mesmo tempo.

Eu ordeno lembrar ao meu irmão“NÃO há o que temer, lembra daquele poema?Não há o que lamentar aqui diante do pelotão de fuzilamento”

Não há cárcere pior do que estar trancado no medo de viver.

No suspiro derradeiro, ainda ordeno:Fúria, faça-me ser amor por inteiro.

RAFAEL CESAR

Manaus -AmContato: [email protected]

32

Page 33: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

33

Page 34: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

O Manifesto Anarko Poético

Iquero a queda de todas as instituiçõesde todos patrões, padres e pastoresde todas as fábricas, igrejas e governosde toda a forma de opressão que forcolocadaque não exista nada além do ser livree do coração selvagem.

IIquero as praças ocupadas por vagabundos,

[bêbados e poetas – profetasartistas possuídos até o sol nascerque nas escolas ensinem Hakim Beytransformando adolescentes em poetas –terroristasque caia a moral e os bons costumesque os filmes de Pasolini passem em loop

[nos cinemase que somente a palavra existanada além da palavranada além AVE, PALAVRA!

IIIquero a queda de toda lógicaa queda de todas as celas de ideiasde toda a limitação

das correntes que prendem o serde toda, . ; ! ?

34

Page 35: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

quesomenteosentirsejaanaoregradetudoqueoabsurdocorralivrenosolhoseouvidos.

IVque bandeiras, pátria ou ídolos não fiquem

[acima de nósquero a distância do lema: Deus, pátria e

[famíliae distância dos fascistas mascarados que

[fazem dessa frase uma oração diáriapessoas que conservam o ódio no olhar e

[veneno na bocaprodutores da barbárie e filhotes de líderes

[messiânicosque são alegres em sua estupidez e

[cegueira.

Vque os sonhos, desejos e sorrisos não

[sejam retiradose mesmo quando o tempo virar apenas

[cinzase as sombras obscuras rasgarem meu

[ventreMINHAS VÍSCERAS GRITARÃO MEU ÚLTIMO POEMA

PAULO MONTEIRO

Belo Horizonte – [email protected]

35

Page 36: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

MEME DO NEGATIVISMO [6157] Estamos é fodidos, Glauco! Nada se pode fazer para deter isso! Só perdem tempo, prestam desserviço aquelles que toparam a parada! Crear immunidade de manada nos resta, mas nem ella dá sumiço no virus que, mutante, ja mestiço será pelas nações, um para cada! Aos poucos, morreremos! Quem não for agora, Glauco, vae anno que vem! Mas, caso sobreviva, ainda, alguem, terá tanta sequela, tanta dor! Não! Pode perguntar a algum doutor! Vão todos desistir! Não irão nem tentar uma vaccina! São tambem incréus, como você, que é perdedor!

GLAUCO MATTOSOSão Paulo – SP No facebook: www.facebook.com/glauco.mattoso.9

Na blogosphera: https://blogocular.wordpress.com/Este poema é do LIVRO DE RECLAMAÇÕES, no link para accesso gratuito. https://issuu.com/ed.casadeferreiro/docs/livro_de_reclama__es

36

Page 37: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

IMORTALIDADE

Acendi o derradeiro cigarro enquanto mirava o horizonte turvo. Os fascistas dominaram novamente o mundo, e nosso peito encharcado de adeuses prematuros parece aquele jardim pisoteado pelos coturnos dos capitães imbecis que se vangloriam de sua burrice, enquanto recebem aplausos de religiosos fanáticos. Os dinossauros talvez estejam felizes, e os mamutes, e as preguiças gigantes, e as crianças prematuras que se tornaram estrelas, talvez todos estejam felizes... Quando o mundo olha para o fundo do precipício, e nos falta oxigênio nos pulmões, e as balas de O2 também choram com nossos filhos, mulheres e amigos, durante a festa de algum político patético que nunca se importou com a vida alheia o mundo fica mesmo parecendo um quadro do Portinari. Acendi o derradeiro cigarro, e o copo de vodca ficou bailando sobre a mesa feito uma bailarina abandonada. É impossível não lembrar dos golpes levados durante a vida, não lembrar dos golpes que não demos quando fomos passados para trás, impossível não lembrar das vaginas límpidas, e dos puteiros lotados e alegres. A casa cheia à meia noite, e vazia durante o vômito de domingo. Os campos regurgitaram mais uma oportunidade de guardar as cinzas das memórias no peito, enquanto a eternidade nos sorri timidamente com toda a franqueza da sua mortalidade. ROJEFFERSON MORAESManaus - [email protected]

37

Page 38: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

DESOLAÇÃO

Existe uma espada mais afiadaMais pesada sobre meu pescoçoE sobre os pescoços dos meus amores tambémMas apenas eu vejo isso, malditos olhos que enxergam a desgraça!Eu acordo sob efeito de remédio barato pra dormir Flerto com a ausência da minha sombra na parede Sou toda um não existirSou um piscar de olhos entre a garra de continuar vivaE a completa loucuraMinha casa claustrofóbica me engole todos os instantes!Estou lambendo a insanidade e seus doces vermes Não há boas notíciasApenas escolherEntre a morte lenta e dolorosaDa asfixia por negligência de quem não se importaOu a lentidão e agonia da fome que trará doenças, desespero, violênciaHumilhação e fimHoje eu quis um revólverHoje eu quis um revólver de novoEu quisUm apenas pra mim.Olhar o futuro e não dar de cara com tijolosVer as rugas no rosto da minha mãe e não sentir medoOuvir a risada dos meus filhos e não sentir medoDesejar o desejo sem medoDe que fosse a última vezMinha alma agoniza num poço de apatiaAfogadaSão vários novos modelos das velhas câmaras de gásDiscursos nazistas de que devemos doar nossas vidas...

38

Page 39: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Eu ouço gargalhadas diante o meu fimEstou cercada de debocheDe religiososDe gente que não consegue enxergar nem a si próprioEu sinto uma enorme vontade de gritarExplodirMutilarMas não tenho mais forças, estou cansadaTodos os dias acrescentam mais um cadáver nas minhas costasEstou carregando corpos de amigos, pessoas que amoE desconhecidosEstou recolhendo os restos mortais da humanidadeSem levantar mais o braçoSem forçasPra continuar arrastando meu cemitério particularEssa máscara serve apenas para cobrirMinha boca cheia de dentes que mastigam a mais pura tristezaSou uma pessoa calma AcovardadaPrestes a explodir Pedaços putrefatos dedesolação

22 01 2021

JALNA GORDIANOManaus – [email protected]

39

Page 40: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

PÁTRIA

PátriaArmadaFuzil.

MARIANE ALVESTriunfo-PEContato: [email protected]

40

Page 41: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

FLÁVIO ANTONINITobias Barreto – SE [email protected]

41

Page 42: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

CENAS

Verde, quase no fim. Amarelo. Os carros vão parando. Alguns motoristas, no entanto, aproveitam o intervalo para furar o sinal. Arrancam feito doidos. Eu, hein?, ela pensa. Pra que isso? Pronto. Vermelho. Agora pode ir. Conta até três antes de colocar o pé no asfalto, exatamente como aprendeu com o pai, que a observa de longe, embaixo da árvore, do outro lado da avenida. Os transeuntes atravessam na faixa de pedestres. Caminham em direção ao shopping. Também parecem apressados. A menina segue entre os automóveis oferecendo um punhado de flores vermelhas de papel crepom. Tem seis anos, no máximo, mas seu riso apresenta o ar injustiçado dos que tão cedo experimentaram os dissabores da vida. Com a língua presa, apresenta-se ao lado dos carros sem nenhum outro argumento, senão o olhar. Que, por si só, já denota fragilidade e abandono. Os motoristas evitam olhá-la. Ou, fingem não vê-la, enquanto ela toca macio no vidro lateral do carro. Com os dedos erguidos indica o preço do artesanato.

42

Page 43: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

Na ponta dos pés, a menina percebe que alcança o retrovisor, contudo, evita tocá-lo, pois, como o pai falou, tem homem que é estressado. Ela é distraída, mas sabe exatamente quando o sinal se abrirá de novo, por isso escorrega entre os carros como quem, ao nadar em águas marítimas, prevê a chegada de uma grande onda. Errou o cálculo, uma vez, e um motoqueiro quase a atropela.Pensou em se desculpar, mas ele seguiu com pressa largando no tráfego apenas um gesto violento e um bruto palavrão. Tem quase certeza que o sinal abriu antes da hora.Sorri, ingênua, e acena, com doçura, ao correr com o ramalhete erguido.Entrega tudo o que conseguiu ao homem que retribui com um sorriso de poucos dentes e exalando um forte cheiro de álcool no final da calçada. O que arrecadaram no dia não dá sequer para comprar um saco de arroz, ele calcula, e guarda, em silêncio, as moedas no bolso da calça.Ela pensa nos irmãos mais novos enquanto se abraçam.Sozinhos na ilha, sorriem para o caos.

ODAIR DE MORAISCuiabá[email protected]

43

Page 44: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

JANETE CHARGISTA São Paulo [email protected]

44

Page 45: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

O PROTESTO SOLITÁRIO DO POETA

Começo de inverno MANAUARAVento frioE eu todo molhado, amanhecidoVou andando na direção do viadutoPenso no cara que construiu aquela aberração...Sorte que sou um cara normal, seu eu fosse doido varridoDescolava uma arma e dava um tiroNa cara desse presidente da república... Tropego... Bêbado... Entorpecido...Ouço uma sirene é o carro funerárioLogo depois outro cortejo fúnebre Porra! Que pandemia desgraçada! Quando me dou conta Estou na parte mais alta do viadutoQue prefiro chamar de elefante branco, inaugurado E logo em seguida interditado por conta de problemas na estruturaEu na parte mais alta do elefante de concreto tiro a roupaFico completamente nu pendurado em um dos postesE GRITO GRITO o estalo do meu grito! Até não ter mais fôlegoDepois visto a roupa desço do elefante brancoE minhas lágrimas salgadas se misturam Com a chuva doceContinuo caminhando pela rua comercial Me perco entre as pessoas sem nenhum centavo no bolso mangueio um caféE volto a ser apenas mais um na multidão

JANER JOSÉManaus - AM

45

Page 46: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

LAÍS FERNANDA BORGESManaus – [email protected]

46

Page 47: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

TODO DIA O TEMPO TODO...

todo dia o tempo todo... amigos conhecidos colegas companheiros mães avós pais irmãos filhosindo embora, sofrendo, morrendo, não tem fim essa agonia...

enquanto isso, os governantes brincam com nossas vidas e os negociantes calculam os lucros... os milhões roubados, os medicamentos perdidos,o ar que nos falta...as centenas de milhares de seres humanos mortos, mortes banalizadas... números, estatísticas... nem lembramos mais os nomes daqueles que perdemos... tantos, tantas vidas tantos sonhos

47

Page 48: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

enquanto isso,os inumanos riem brincam se divertem e tripudiam sobre nossas dores e sofrimentos...e não me digam que não há culpados, porque há!e não me digam que estamos no mesmo barco,porque não estamos!

enquanto isso,fico me perguntando quando serei eu, se serei...até quando a sorte me protegerá?até quando serei eu a fazer as exéquias a trazer a triste notícia a dizer o poema de despedida, quando será?no minuto seguintena próxima horaquando serei eu a desesperada notícia?

26/01/21DORI CARVALHOManaus – [email protected]

48

Page 49: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

49

Page 50: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a

50

Page 51: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a
Page 52: 7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOSdoccdn.simplesite.com/d/0c/03/282319410170495756/29e47fe7...de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a