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686 Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
O PATHOS DO EXÍLIO NO ESCRITOR MILTON HATOUM
Joyce Silva Braga (UERJ)
1. Introdução
A Matizar Filmes, produtora audiovisual, está preparando duas
adaptações para o cinema de dois livros do escritor Milton Hatoum, Re-
lato de um certo oriente (2008) e Órfãos do Eldorado (2008). O autor já
foi traduzido para mais de 20 países e esta será a primeira vez que um li-
vro seu alcançará o cinema. Segundo a produtora, os projetos estão em
fase de desenvolvimento de roteiro e, em seu site, há um espaço reserva-
do para esse projeto, intitulado por “Arquivo Milton Hatoum”. Lá, en-
contramos informações diversas, como fotos, vídeos e entrevistas106. Em
uma dessas entrevistas audiovisuais, nos deparamos com o seguinte co-
mentário do escritor sobre o trabalho de adaptação de seus livros para o
cinema:
Às vezes eu penso nisso, nessa adaptação como trabalho de tradução lite-rária, porque o tradutor não é um traidor, isso daí eu acho uma balela. É que a
fidelidade não passa pela mera transcrição. Então o trabalho não é de adapta-
ção, é um trabalho de transcriação. Eu gostaria de reconhecer o que há de es-sencial no Órfãos do Eldorado ou no Relato ou no Dois Irmãos. O que há de
essencial. Quer dizer, as questões mais fundas dessas narrativas. (HATOUM,
2013).
Esta declaração se mostra importante, já que se trata da metodolo-
gia de seu próprio trabalho, pois Hatoum, além de ficcionista, ensaísta e
professor universitário, como sabemos, também é tradutor. Publicou uma
tradução do conto Um Coração Simples (2004) de G. Flaubert, escritor
que fez viagens a “um certo oriente” e que, como conta Hatoum, fez par-
te de sua formação quando tinha entre 13 ou 14 anos. Em entrevista, o
autor de Dois Irmãos afirma que é amante declarado da obra de Flaubert,
porém afirma que estudou francês ainda jovem porque sua avó libanesa
queria a todo custo que ele falasse francês. “Era uma dívida que tinha
com a obra de Flaubert” (HATOUM, 2013). Sobre a linguagem e o vo-
cabulário de escritor francês, Hatoum conta que “Flaubert tem um lado
preciosista, um vocabulário muito preciso e às vezes um pouco raro, so-
106 Com o avanço da midiatização, a entrevista “poderá se tornar indistintamente biografia, autobio-grafia, história de vida, confissão, diário íntimo, memória e testemunho” (ARFUCH, p. 2010, p. 152).
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bretudo nos contos e romances ambientados na Palestina e no Norte da
África” (HATOUM, 2013).
O escritor afirma ainda que alguma coisa da personagem Felicité,
do conto traduzido, inspirou a personagem Domingas do seu segundo
romance. Felicité, para Hatoum, se torna um nome irônico dentro do con-
to de Flaubert, pois ela era uma empregada doméstica que se configurava
explorada, desgraçada, infeliz e pobre. Domingas e Felicité, se asseme-
lham pois se mostram castradas em seus desejos e emoções, sem esco-
lhas. “Na hora da morte, alucinada pela visão do paracleto, ela vê no pa-
pagaio Loulou – um perroquet Amazone – a figura do Espírito Santo. Es-
sa foi apenas uma de tantas influências conscientes, pois há outras que
sequer sabemos” (HATOUM, 2013).
No romance Dois Irmãos, Domingas, de origem indígena, fora re-
tirada ainda criança de sua aldeia, que ficava próxima a um afluente do
Rio Negro, pelas religiosas das Missões. Ficou no orfanato católico por
uns dois anos e depois, após aprender as rezas e ser alfabetizada na lín-
gua portuguesa, foi oferecida à Zana, mãe dos gêmeos, em troca de doa-
ções. Empregada da família, cuja recompensa era um lugar para dormir e
comida para se alimentar, acabou sendo mãe postiça de Yaqub e moran-
do nos fundos da casa. Nael nos conta que Yaqub
ficava aos cuidados de Domingas, a cunhantã mirrada, meio escrava, meio
ama, louca para ser livre, como ela mesmo me disse certa vez, derrotada, en-tregue ao feitiço da família, não muito diferente das outras empregadas da vi-
zinhança, alfabetizadas, educadas pelas religiosas das missões, mas todas vi-
vendo nos fundos da casa, muito perto da cerca ou do muro, onde dormiam com seus sonhos de liberdade (HATOUM, 2006, p. 50).
Ao discursar sobre o livro que mais o impactou em sua vida, Ha-
toum elenca este conto de Flaubert, que foi lido para ele pela primeira
vez oralmente, por uma certa Madame em Manaus, antes de ele sair de
sua cidade para alcançar outros voos. Nesta palestra, Milton Hatoum as-
sinala que seria perfeitamente provável que as circunstâncias e o momen-
to em que tomou conhecimento do conto tenham sido determinantes para
ele, pois Um Coração Simples o fez vislumbrar os interstícios de uma re-
alidade até então latente. “Sem essa ‘leitura de ouvido’, que me permitiu
desvelar uma realidade que teimava em se esconder no âmbito da família
e no antro da província, não sei se teria escrito o romance Dois irmãos”
(HATOUM, p. 2013).
Hatoum traduziu ainda um conto de Marcel Schwob (1988) e ou-
tro de George Sand (2005). Atualmente, traduz uma novela de Joseph
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Conrad, escritor de origem russa e de nacionalidade britânica. Conrad era
um exilado e sua obra exprime bem esse pathos do imigrante, que dialo-
ga com a obra de Hatoum. Essa tradução, no entanto, “não passa de um
exercício de imaginação. Uma tradução que não será publicada tão cedo,
talvez nunca. Apenas um diálogo com um narrador, nosso cúmplice se-
creto” (HATOUM, 2013).
Segundo Milton Hatoum, desde o Romantismo, grandes poetas e
narradores também foram tradutores, de uma forma ou de outra, pois
“tudo é tradução: um ficcionista traduz sua experiência em linguagem,
um tradutor reflete sobre essa experiência e constrói um texto paralelo”
(HATOUM, 2010). Porém, Hatoum ressalta que se trata de um parale-
lismo que contém um paradoxo, pois nele “há um ponto de fuga que
converge para o texto original” (HATOUM, 2010). Ou seja, explica o es-
critor, “o texto traduzido é uma imagem que se reflete no outro lado do
espelho, mas essa imagem reflete também a essência da obra original”
(HATOUM, 2010). Assim, segundo a sua concepção de trabalho acerca
do ofício de tradutor, para que se produza uma tradução de qualidade é
necessário que o tradutor reflita sobre a experiência que o autor a ser tra-
duzido quis imprimir na obra. “Acredito, mesmo, que o percurso trilhado
pelo tradutor não deve partir da palavra para alcançar a frase, o texto e o
ambiente cultural, e sim o inverso, ou seja: do espírito de uma cultura ao
texto, à frase, à palavra” (HATOUM, 2013).
Esta relação entre o tradutor e o traduzido se mostra mais relevan-
te ao considerarmos que Milton Hatoum é o tradutor de Representações
do Intelectual (2005) de Edward Said, intelectual árabe de grande desta-
que internacional. Como buscaremos demonstrar neste ensaio, ambos os
autores comungam da experiência e da reflexão sobre o exílio, cujo
pathos perpassa suas obras de maneira intensa. Ou seja, ao escolher tra-
duzir Edward Said, Milton Hatoum traz à tona um diálogo profundo com
a cultura árabe e com esse pathos do exílio, enaltecendo tanto a sua expe-
riência de exilado quanto a experiência de Said, que diversas vezes es-
creveu sobre o assunto.
Não sou um tradutor profissional. Traduzi apenas um texto de três de
grandes autores franceses – Marcel Schwob, George Sand e Flaubert – e um livro de Edward Said – Representações do intelectual –. Esses autores france-
ses me interessam por razões literárias; o palestino-americano por razões éti-
cas (HATOUM, 2013).
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2. Edward W. Said
Edward W. Said, nasceu em Jerusalém, em 1935. Foi educado no
Cairo e em Nova York, onde lecionou literatura na Universidade de Co-
lumbia. Said é autor de dezenas de livros e artigos sobre a relação entre
cultura e política, se tornando um dos mais importantes críticos literários
e culturais dos EUA. Com o Orientalismo – O Oriente como invenção do
Ocidente (2007) é considerado precursor do que hoje chamamos de estu-
dos Pós-Coloniais, conforme Eloína Prati dos Santos (2005), já que esses
estudos desenvolveram-se no que ficou conhecido como “teoria do dis-
curso colonialista” (SANTOS, 2005, p. 341), disseminado, principalmen-
te, pelas obras de Edward Said, Gayatri Spivak e Homi Bhabha.
O Orientalismo torna-se, ironicamente, canônico, apesar de Said
ter levado as questões da colônia e do império para o centro das discus-
sões acadêmicas, dirigindo-se “à produção discursiva e textual dos signi-
ficados coloniais ao mesmo tempo em que analisa a consolidação da he-
gemonia colonial” (SANTOS: 2005, p. 346). Neste e nos demais livros
sobre o assunto, como A questão da Palestina (2012) e Cultura e imperi-
alismo (1995), Said expõe, de forma detalhada e extensa a relação entre o
conhecimento e o poder nas relações coloniais, baseando-se, principal-
mente, nos estudos de Foucault e Gramsci sobre a concepção de poder e
de como ele opera, atribuindo o conhecimento como o principal instru-
mento desse poder colonial.
Said distingue, mas, de certa forma, também essencializa, os sistemas de representação da dicotomia oriente-ocidente: o oriente discursivo é calado,
sensual, feminino, irracional e atrasado, despótico, em contraste com o oci-
dente representado como masculino, racional, moral, democrático, dinâmico e
progressivo. (SANTOS, 2005, p. 348).
Para Hatoum, que efetivou a indicação editorial desta obra para a
editora Companhia das Letras, o Orientalismo “foi uma das leituras mais
importantes sobre essa questão da construção imaginária do discurso so-
bre o outro oriental, sobretudo o mundo islâmico” (HATOUM, 2010).
Além disso, Milton Hatoum afirma que este livro é um dos ensaios semi-
nais sobre as relações entre o Oriente e o Ocidente, “sendo que o Oriente,
como Said mostrou, é uma construção, é uma invenção do Ocidente. É
um tipo de representação que o discurso orientalista teceu ao longo da
história, sobretudo a partir do século XVIII” (HATOUM, 2010). Esta in-
dicação editorial figura-se como um outro paralelo com as reflexões de
Said, além de promover um diálogo com a cultura árabe, que, como ve-
remos, perpassa tanto a sua vida quanto a obra.
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Já em Representações do intelectual (2005), obra que Hatoum
traduziu, Said reúne seis conferências transmitidas em 1993 pela BBC, as
prestigiosas Conferências Reith, de que participaram grandes intelectuais
europeus e norte-americanos, desde a inauguração do programa em 1948
por Bertrand Russell. Nestas conferências, expõe as principais marcas
que um intelectual contemporâneo deve possuir: o exílio, o amadorismo,
o desapego às tradições, a marginalidade, a distância crítica e a interven-
ção mediadora. “Foi com essas ideias-chaves que Said compôs as Confe-
rências Reith de 1993”, conforme estudo de Alison Leão (2007). Para
Hatoum, na orelha do livro, este texto ocupa um lugar proeminente na
vasta obra de Said, “porque enlaça a sua vida profissional – professor de
literatura, pensador da cultura, crítico de música – com a militância polí-
tica” (HATOUM, 2005).
Hatoum explica ainda que o leitor, ao adentrar no texto, percebe
que essas duas atividades são inseparáveis, a exemplo da vida e obra de
Sartre, Adorno e Gramsci. Para o escritor manauara, uma das críticas
mais importantes de Said dirige-se “aos que se deixam levar por dogmas
religiosos, patriotadas, questões estritamente nacionalistas e por um pro-
fissionalismo exacerbado” (HATOUM, 2005). O que Edward Said tenta
mostrar, na crítica de Milton Hatoum, é que, para o intelectual secular,
“os deuses sempre falham, e que o profissionalismo e a especialização
extremadas podem significar alienação e indiferença” (HATOUM,
2005).
Esse é o retrato (ou a representação) do intelectual contemporâ-
neo, na acepção de Said. Essa é a condição que Hatoum toma para si e
para sua obra ao se posicionar, principalmente com relação à metáfora do
exílio, que se relaciona com uma “viagem para dentro”, descrita por Said.
Essa “viagem para dentro”, rumo à metrópole, é um mérito dos intelectu-
ais do Terceiro Mundo, de acordo com Said, pois esses intelectuais se
configuram como figuras opositoras do status quo, que se expressam
através da apropriação do discurso dominante da metrópole, porém vol-
tam-se contra essa mesma metrópole para desconstruir suas tentativas de
dominação das regiões de onde esses intelectuais vêm. Esse é um dos
motivos, em nossa perspectiva, de Hatoum voltar seus olhos sempre para
Manaus e, não, por questões regionalistas que a crítica literária sempre
deixa transparecer, cujas reflexões reducionistas buscam enaltecer o exó-
tico e tornar o local (Amazonas ou Manaus) ainda mais distante e inaces-
sível, assim como os orientalistas fazem com o Oriente.
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Ainda sobre a metáfora do exílio, Said expõe em Representações
do intelectual que, ao cruzar as fronteiras, o intelectual do Terceiro Mun-
do que é abrigado na metrópole escapa dos impasses que aprisionam al-
guns intelectuais nacionalistas, enfatizando que a possibilidade de viver
entre dois mundos conduz esse intelectual a atuar como mediador entre
os discursos. Esse entrelugar é uma imagem que perpassa a obra de Said,
pois é o seu lugar, já que a questão da Palestina é a sua questão, a ques-
tão de seu povo. Em seu livro de memórias, sugestivamente intitulado
Fora do Lugar (2004), Said vai retomar esse debate sobre a causa pales-
tina. Afirma Said que, ao retornar pela última vez a Jerusalém, descobriu
que o que havia sido uma rede de cidades e lugarejos nos quais tinham
vivido todos os membros de sua família “era agora uma série de locais is-
raelenses (...) onde a minoria palestina vive sob a autoridade de Israel”
(SAID, 2004, p. 12). Assinala que nessa viagem era frequentemente per-
guntado pelos militares israelenses sobre quando, após o nascimento, ha-
via deixado Israel, já que seu passaporte era norte-americano, porém in-
dicava o local de nascimento como Jerusalém. Em suas respostas, afir-
mava que deixara a Palestina em dezembro de 1947, enfatizando sempre
a palavra Palestina.
O senhor tem algum parente aqui? era a pergunta seguinte, à qual eu res-
pondia: Nenhum, e isso deflagrava em mim um sentimento de tristeza e perda
cuja intensidade eu não havia previsto. Pois no início da primavera de 1948 toda a minha família havia sido varrida do local, e permanecera no exílio des-
de então (SAID, 2004, p. 13).
Essa perda, esse luto, nunca o deixara, como suas memórias nos
mostram. Principalmente quando expõe casos sobre a linguagem e a geo-
grafia. Para Said, era uma sensação de estranhamento como autor tentar
sempre traduzir as experiências que teve não apenas em um ambiente
remoto (Palestina), mas também em uma língua diferente (o árabe).
Cada pessoa vive sua vida em determinada língua; suas experiências, em função disso, são vividas, absorvidas e relembradas nessa língua. A cisão bá-
sica da minha vida era entre o árabe, minha língua nativa, e o inglês, a língua
da minha educação e subsequente expressão como intelectual e professor, e portanto tentar produzir uma narrativa em uma língua ou outra – para não falar
das numerosas maneiras como as línguas se misturavam diante de mim e in-
vadiam o reino uma da outra – tem sido até hoje uma tarefa complicada (SAID, 2004, p. 15).
Essa mistura, ou melhor, essa algaravia, é um paralelo entre a ex-
periência de Said com a obra ficcional de Hatoum. Temos sempre pre-
sente na expressão dos personagens imigrantes de Milton Hatoum, como
Emilie, Zana, Halim, entre muitos outros, essa hesitação com a língua, e,
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às vezes, um silêncio constrangedor. Sobre esse silêncio e hesitação, vale
comentar sobre Yaqub, um dos personagens centrais da trama de Dois
Irmãos (2006). Yaqub é o filho mais velho do casal Zana e Halim, dois
imigrantes árabes, a primeira cristã e o segundo mulçumano. Este filho,
segundo o narrador da obra, era “um ser calado que nunca pensava em
voz alta” (HATOUM, 2006, p. 45). É enviado menino para o sul do Lí-
bano, para morar na aldeia dos parentes de seu pai, aos 13 anos. Um exí-
lio de 5 anos. Seu retorno, já rapaz, aos 18 anos, é comemorado pela fa-
mília. Porém, “a separação fizera Yaqub esquecer certas palavras da lín-
gua portuguesa. Ele falava pouco, pronunciando monossílabos ou frases
curtas; calava quando podia, e, às vezes, quando não devia”. (HATOUM,
2006, p. 13).
Nael, o narrador de Dois Irmãos, acentua que a mãe logo perce-
beu, pois via o filho sorrir, suspirar e evitar as palavras, “como se um si-
lêncio paralisante o envolvesse” (HATOUM, 2006, p. 13), como o silên-
cio que demonstrou ao chegar novamente em sua cidade, já depois da
Guerra, em que Yaqub reconhece uma parte de sua infância vivida em
Manaus.
Se emociona vendo as mangueiras e oitizeiros sombreando a calçada, e
essas nuvens imensas, inertes como uma pintura em fundo azulado, o cheiro
da rua da infância, dos quintais, da umidade amazônica, a visão dos vizinhos debruçados nas janelas e a mãe acariciando-lhe a nuca, a voz dócil dizendo-
lhe: chegamos querido, a nossa casa... (HATOUM, 2006, p. 16).
Yaqub, porém, “olhou para o pai e apenas balbuciou sons embara-
lhados” (HATOUM, 2006, p. 16). Este personagem disse a Nael que
nunca ia esquecer do dia em que saiu de Manaus e foi para o Líbano, pois
tinha sido horrível. “Fui obrigado a me separar de todos, de tudo...não
queria” (HATOUM, 2006, p. 86). Nael expressa que a dor de Yaqub pa-
recia mais forte que a emoção do reencontro com o mundo da infância e
“talvez nada, talvez nenhuma torpeza ou agressão tivesse sido tão violen-
ta quanto a brusca separação de Yaqub do seu mundo” (HATOUM,
2006, p. 86).
Outro ponto para Said é, junto com a linguagem, a geografia, “es-
pecialmente na forma deslocada de partidas, chegadas, adeuses, exílios,
nostalgias, saudades de casa e da viagem em si – que está no cerne das
minhas lembranças daqueles primeiros anos” (SAID, 2004, p. 15). Essa
geografia marca decisivamente sua identidade, pois cada lugar por onde
Edward Said passa a morar, como Jerusalém, Cairo, Líbano e Estados
Unidos, tece “uma rede densa e complicada de valências que constitui
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grande parte do que significa crescer, ganhar uma identidade, formar mi-
nha consciência de mim mesmo e dos outros” (SAID, 2004, p. 15). Essa
geografia que demarca em suas memórias enaltece, profundamente, esse
pathos do exílio que perpassa sua vida e sua obra.
Ainda sobre Fora do Lugar, vale citar que Hatoum escreveu uma
bela resenha sobre esta obra, publicada na revista Bravo, em que centra
sua análise no sentimento do exílio e da dualidade permanente que cami-
nha dentro de Said. Um exemplo dessa dualidade descrita pelo palestino
em suas memórias é o seu próprio nome. Explica Said que levou quase
cinquenta anos para se acostumar, ou, mais exatamente, para se sentir
menos desconfortável com o seu próprio nome, já que, segundo ele,
“Edward era um nome ridiculamente inglês atrelado à força ao sobreno-
me inequivocamente árabe Said” (SAID, 2004, p. 19).
Durante anos, dependendo das circunstâncias específicas, eu pronunciava
rapidamente o ‘Edward’ e enfatizada o ‘Said’; em outras ocasiões, fazia o con-
trário ou então juntava um nome no outro de modo tão rápido que nenhum dos dois soava claro. A única coisa que eu não podia tolerar, mas que muitas vezes
fui obrigado a sofrer, era a reação descrente e, por conta disso, desalentadora:
Edward? Said? (SAID, 2004, p. 20).
Esse pathos, como preferimos chamar aqui, marca Said na carne,
na língua, no nome, na memória de sua terra natal e na lembrança de seus
antepassados. Está presente também em uma outra obra sua, intitulada
Reflexões sobre o Exílio e Outros Ensaios (2003). Em um de seus ensai-
os, Said afirma que, embora a literatura e a história contenham diversos
episódios heroicos e gloriosos (até triunfais, segundo ele) da vida de um
exilado, esses mesmos episódios não passam, para Said, de “esforços pa-
ra superar a dor mutiladora da separação” (SAID, 2003, p. 46), pois “as
realizações do exílio são permanentemente minadas pela perda de algo
deixado para trás para sempre” (SAID, 2003, p. 46). Assim, Edward Said
suplementa suas reflexões sobre o tema, porém agora configurando-o,
conceituando-o.
O exílio nos compele estranhamente a pensar sobre ele, mas é terrível de
experimentar. Ele é uma fratura incurável entre um ser humano e um lugar na-tal, entre o eu e seu verdadeiro lar: sua tristeza essencial jamais pode ser supe-
rada (SAID, 2003, p. 46).
Essa imagem da “fratura incurável” já poderia ser percebida desde
a Grécia antiga, segundo Müller (2006), quando a sentença do banimento
é aplicada ao rei Édipo por ele mesmo, que denotou o pior tipo de pena
que um ser humano poderia receber: “pior que a morte seria vagar pelo
território do não pertencer” (MÜLLER, 2006, p. 276). Tal como a morte,
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Said também o retratou, porém, para o palestino, “sem sua última miseri-
córdia” (SAID, 2003, p. 47).
Dessa forma, o exilado, como vemos com Said e como veremos
mais adiante com Hatoum e muitos de seus personagens, desloca-se na
contramão do viajante, pois é um sujeito para o qual a viagem é imposta,
seja por restrições econômicas, seja por perseguição política, cultural ou
religiosa. A partir dessa imposição, sofre, pena de saudades e figura os
chamados “males da ausência”, como bem definiu Maria José de Quei-
roz. Em seu estudo, Queiroz faz um mapeamento desses males na litera-
tura ocidental desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, ou se-
ja, do Paraíso. Esta pesquisadora afirma que, vinculado à ideia de perda e
desarraigamento, “o exílio é moral, antes de ser político, e liga-se à sorte
do homem sobre a terra” (QUEIROZ, 1998).
Explica Queiroz que, se na Grécia antiga o exílio tinha a feição
política ao produzir banimentos por ostracismos, Roma consagrou aos
exilados a face cruel do processo, com as relegações, confinamentos e
desterros em massa. Edward Said (2003) lembra que essa prática tem
origem na velha pena do banimento, de modo que uma vez banido, o exi-
lado estaria condenado a levar uma vida anômala e infeliz, com o estig-
ma de ser um eterno forasteiro. Com o passar dos séculos, mudanças cul-
turais e históricas conferiram outros significados ao exílio, tornando-o
uma pena a ser aplicada, geralmente a perseguidos políticos e refugiados.
Já nos Estados Modernos, essas práticas foram atualizadas por regimes
totalitários ao longo do século XX, como na ditadura que tivemos aqui
no Brasil.
Por fim, diante desse quadro conceitual sobre o pathos do exílio,
desejamos frisar a reflexão de Said no que tange à construção da identi-
dade do exilado. Através de variados exemplos de poetas e escritores que
se destacaram estando no exílio, como Joyce, Hashid Hussein, Nabokov
ou Faiz Ahamad Faiz, Said argumenta que “esses e tantos outros poetas e
escritores exilados conferem dignidade a uma condição criada para negar
a dignidade – e a identidade às pessoas” (SAID, 2003, p. 48). Ou seja, o
exílio é um processo criado para negar a identidade e a dignidade às pes-
soas e, por isso, esse pathos é uma fratura incurável.
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3. Milton Hatoum
Elegemos discorrer sobre as representações do exílio na constru-
ção discursiva da figura do escritor Milton Hatoum, pois esse pathos se
mostra mais evidente em suas obras ficcionais, além de também perpas-
sar a biografia do escritor. Ou seja, sob nossa perspectiva, a condição do
exilado seria uma reflexão comum presente tanto nas obras estritamente
ficcionais, como romances, contos, crônicas, quanto nas que não abor-
dam o literário de frente, como as traduções, as resenhas, as críticas lite-
rárias. O que realça essa reflexão é uma análise da própria biografia do
escritor amazonense.
Hatoum explica que saiu de Manaus para morar longe do Brasil
por vários motivos, um seria a questão da ditadura, “que marcou a minha
geração” (HATOUM, 2010). Outro seria “porque intuí que a vida intelec-
tual na província era estreita, limitada, e podia me aniquilar” (HATOUM,
2010). Interessante retomar um conto de Hatoum publicado no jornal O
Estado de São Paulo (1998). Vários escritores, cineastas, atores, entre
outros profissionais, foram convocados para responder com a escrita de
um conto a seguinte pergunta: “você tem medo de quê?”. O conto de Ha-
toum intitula-se “Exílio”. O exílio tematizado neste conto é aquele pro-
vocado pela Ditadura Militar no Brasil.
Descreve o narrador do conto que, em dezembro de 1969, em uma
das manifestações contra a Ditadura, estudantes menores de idade, inclu-
sive ele, foram pegos pelos militares. “Depois de chutes e empurrões, eu
e o meu colega rumamos para o desconhecido. M. A. C. quis saber para
onde íamos, uma voz sem rosto ameaçou: calado, mãos para trás e cabeça
entre as pernas”. O narrador, na noite do dia seguinte, foi deixado na es-
trada Parque Taguatinga-Guará. “A inocência, a ingenuidade e a espe-
rança, todas as fantasias da juventude tinham sido enterradas”. MAC
nunca mais foi visto. Segundo o narrador, MAC se tornou “mais um de-
saparecido naquele dezembro em que deixei a cidade”, e que “durante
muito tempo a memória dos gritos de dor trazia de volta o rosto assusta-
do do colega”. O narrador ausenta-se da cidade por longos 32 anos. Em
sua primeira viagem de volta à capital, o narrador encontra um amigo da
época e pergunta sobre o MAC. "Está morando em São Paulo, disse ele.
Talvez seja teu vizinho”. O narrador afirma que havia pensado que MAC
estivesse morto. Seu amigo responde que “de alguma forma ele morreu.
Sumiu do colégio e da cidade, depois ressuscitou e foi anistiado”. O nar-
rador murmura: “Exílio”. Hatoum termina seu conto da seguinte forma:
“Senti um calafrio, ou alguma coisa que lembrava o medo do passado”.
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Esse conto se relaciona diretamente com as reflexões e experiên-
cias de Hatoum, pois o escritor declara que era um militante nessa época,
porém sem ser partidário, sendo preso quando os militares invadiram a
PUC, em setembro de 1977. “Dois anos depois decidi cair fora do Brasil”
(HATOUM, 2012). Hatoum conta que o período pós-AI-5 foi um dos pi-
ores momentos da ditadura. “A UnB foi fechada e até mesmo o Colégio
de Aplicação, onde estudei, que ficava na entrada da faculdade, foi fe-
chado pelos militares” (HATOUM, 2012).
O pathos do exílio relacionado com a ditadura militar está presen-
te em toda a sua escrita ficcional. Um dos exemplos é o romance Cinzas
do Norte, publicado em 2005, que expôs uma visão íntima da uma gera-
ção brasileira que viveu sob a ditadura militar nos anos setenta. Além do
próprio Dois Irmãos, em que há a morte de um poeta, o professor de
francês Antenor Laval, assassinado pela repressão militar, além do irmão
Yaqub, que acredita na política desenvolvimentista do governo. Para Ha-
toum a ditadura e o quadro histórico são apenas pano de fundo, sendo
“importante até para contextualizar a narrativa. Faz parte também da mi-
nha vida, da minha geração, que vivenciou essa época, que cresceu du-
rante o regime militar” (HATOUM, 2010). Sobre esta certa unidade entre
suas obras, Hatoum argumenta que “cada narrativa é fruto de uma expe-
riência de leitura e de vida. E essas experiências vão assumindo contor-
nos diferentes, pois são filtradas diferentemente a cada momento da sua
vida. Por questões que não te tocavam havia dez anos, e hoje te tocam”
(HATOUM, 2012).
O exílio está presente também quando, ao ser questionado sobre
como havia surgido seu primeiro romance, o Relato de um certo oriente,
Hatoum discorre sobre os motivos gerais que levam um escritor a escre-
ver. Mas, para ele, em especial, se deu quando ele estava na Espanha e
recebeu a notícia do falecimento de seu avô. Acrescenta que essa notícia
o chocou, pois estaria acentuada pelo drama da distância, do exílio: “eu
já estava há quinze anos longe de Manaus” (HATOUM, 1993). Seu avô
era o narrador oral de sua infância, conforme nos conta durante a entre-
vista. “E isso provocou em mim o desejo de escrever sobre esse homem,
cuja voz não mais existia; algo assim como a recuperação de uma voz
que se foi...” (HATOUM, 1993). Como vemos, para o escritor, a distân-
cia o ajudou a escrever, pois “o fato de estar longe do Brasil, muito longe
de Manaus, permitiu-me escrever com mais liberdade” (HATOUM,
1993). Este fato acentua a questão: o exílio marca não apenas sua obra,
seus personagens, sua escrita vazada pela memória e pelo esquecimento,
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 697
Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
mas faz parte também de sua biografia, pois Hatoum confessa sobre o
seu “desejo de deixar a margem” através de uma “dupla viagem”:
A primeira, imaginária. O viajante imóvel que durante a sua infância em
Manaus, imagina mundos distantes. A segunda, uma viagem real rumo ao sul
do Brasil e ao outro hemisfério: deslocamento da periferia para vários centros (o centro é sempre plural), o desejo de deixar a margem e navegar no rio de
uma outra cultura ou sociedade (...) É como se o viajante se distanciasse da
‘margem da História’, a fim de assimilar outras culturas, sem no entanto per-der a bússola que aponta para o seu Norte. O Norte, depois da errância e do
exílio, é menos uma geografia do que um lugar que se busca. Lugar que já não
mais existe, ou lugar utópico que só existe na memória. Em outras palavras: essa tentativa de um retorno à terra natal só é possível através da linguagem
(HATOUM, 1993).
Nesta fala de Hatoum percebemos que, ao jogar com o duplo sen-
tido da palavra Norte (região ou rumo), o escritor promove uma densa re-
flexão sobre sua própria errância causada pelo exílio, no sentido de sali-
entar essa fratura incurável, como elencou Said. Hatoum demonstra a
percepção de que ele não poderá nunca mais voltar ao seu lugar, ao seu
Norte, pois não poderá encontrar o mesmo lugar que deixou, pois ele já
não mais existe. Por isso, esse lugar que se torna perda e estranhamento
só é recuperável pela linguagem como um lugar utópico, pois “cada es-
critor elege seu paraíso. E a infância, um paraíso perdido para sempre,
pode ser reinventada pela literatura e a arte. Mas há também vestígios do
inferno no passado, e isso também interessa ao escritor” (HATOUM,
2005).
Do mesmo modo Stuart Hall comenta sua relação com a Jamaica,
com sua família e meio social. Sua família possuía a pele branca, era de
classe média, vivia no contexto jamaicano do engenho e, segundo Hall,
se consideravam praticamente ingleses. Ao nascer, sua irmã foi vê-lo no
berçário e estranhou quando o viu pela primeira vez, dizendo: “De onde
vocês tiraram esse bebê coolie?” (HALL, 2009, p. 386). Hall explica que
coolie era uma palavra depreciativa na Jamaica que designava um india-
no pobre, considerado o mais humilde entre os humildes. “Assim, ela não
diria ‘de onde vocês tiraram esse bebê negro?’, já que naquele ambiente
era impensável que ela pudesse ter um irmão negro. Mas ela notou, sim,
que eu era de uma cor diferente da sua” (HALL, 2009, p. 386). Esse epi-
sódio marca para sempre sua vida, pois, por causa disso, “fui sempre
identificado em minha família como alguém de fora, aquele que não se
adequava, o que era mais negro do que os outros, o ‘pequeno coolie’ ”
(HALL, 2009, p. 386). Hall nos conta que seus pais e sua família viviam
sob o poder colonial britânico subjetivamente, ou seja, encarnavam e rea-
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firmavam os valores do colonizador e que, por isso, em 1951 decidiu
emigrar para se salvar. Somente depois de 50 anos no exílio, depois que
seus pais morreram, ele conseguiu retornar à Jamaica.
Depois que meus pais morreram, ficou mais fácil estabelecer uma nova
relação com a nova Jamaica que emergiu nos anos 70. Esta não era a Jamaica onde eu tinha crescido. Por exemplo, tinha se tornado culturalmente uma soci-
edade negra, uma sociedade pós-escravocrata e pós-colonial, enquanto que eu
havia vivido lá no final da era colonial. Portanto, pude negociá-la como um “estrangeiro familiar” (...) E esta é exatamente a experiência diaspórica, longe
o suficiente para experimentar o sentimento de exílio e perda, perto o suficien-
te para entender o enigma de uma “chegada” sempre adiada (...) Essa lacuna não pode ser preenchida. É impossível voltar para casa de novo (HALL, 2009,
393-394).
Assim como Edward Said e Milton Hatoum, Stuart Hall também
se desloca “para dentro”, para o centro. Vale destacar essa questão do
deslocamento “para dentro”, como Said analisou em Representações do
intelectual, e como observamos anteriormente, pois Hatoum também
descreve que se deslocou da periferia para vários centros. Ou seja, pro-
move essa devoração do discurso dominante, do centro, principalmente o
europeu, para, ao retornar, por meio da linguagem, desconstruir a visão
que se tinha dessa região que o escritor toma como referência e que, por
isso mesmo, se torna referência e palavra de autoridade desse local. Ha-
toum, assim como Hall, exerce a função do intelectual contemporâneo,
segundo a concepção de Edward Said.
Essa “lacuna que não pode ser preenchida”, promovida pelo pro-
cesso do exílio, conforme assinala Stuart Hall em seu depoimento, é re-
tomada por Hatoum em sua literatura pela memória, amplamente utiliza-
da em sua escrita como técnica narrativa. Através desse texto vazado pela
memória, o exílio marca decisivamente sua ficção por meio de vários
personagens que experimentam esse sentimento de perda, de luto por al-
go que já não existe mais, a que só é possível retornar através da lingua-
gem, como Hatoum nos disse acima. Há os que estão, de fato, exilados
geograficamente, como os personagens vindos do Oriente, e os que expe-
rimentam outro tipo de exílio, que chamaremos de exílio interno, con-
forme Queiroz (1998). São aqueles que expressam uma sensação de estar
fora do lugar ou de não ter lugar algum, como vimos com Edward Said
em Fora do lugar (2006). Na literatura de Milton Hatoum, o exílio é um
pathos que provoca um certo tipo de “estranhamento” no personagem,
seja no deslocamento do espaço geográfico, seja no deslocamento no
tempo, ao rememorar um passado irrecuperável pela memória e pela lin-
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 699
Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
guagem, que se mostra sempre lacunar ou que não dá conta de expressar
a totalidade do real.
Em Dois Irmãos, esse sentimento ou sensação de estar fora do lu-
gar que marca o pathos do exílio se apresenta sob variadas formas. Po-
demos discorrer sobre a figura do narrador, Nael, que está em busca de
sua identidade, representando o exílio interno, pois escreve sobre uma
família que, ao mesmo tempo, faz e não faz parte, não está nem dentro
nem fora, ou seja, ocupa o entrelugar. Um lugar de estrangeiro, exilado.
Mas um exílio não geográfico e, sim, um exílio de suas origens, suas raí-
zes, de seu passado, de sua identidade.
Outra questão presente em Dois Irmãos é o pathos do exílio mar-
cado pela imigração de várias famílias libanesas vindas para o Brasil,
como a que está em foco na narrativa. Halim e Zana são imigrantes, fa-
lam a língua de sua terra natal, o árabe, além de manterem determinados
costumes e rituais que trouxeram na bagagem. Porém, o exílio que mais
causa tensão dentro desta narrativa é, sem dúvida, o dos personagens que
dão nome ao romance: Yaqub e Omar. Yaqub é enviado ao Líbano no
período da transição da infância para a adolescência e, posteriormente,
vai fixar residência em São Paulo, longe de Manaus; Omar é um ser “à
deriva”, como bem definiu o narrador Nael e, por isso, mostra-se sempre
sem rumo, um eterno exilado, um estrangeiro. A vida e linguagem desses
dois irmãos definem o sentimento deste romance, pois “o pathos do exí-
lio está na perda de contato com a solidez e a satisfação da terra: voltar
para o lar está fora de questão” (SAID, 2003, p. 52).
Outro paralelo entre Hatoum e Said é sua relação com o mundo
árabe. Recentemente, Hatoum fez a apresentação para uma tradução de
língua portuguesa do poeta árabe Adonis, “que não foi só o principal re-
novador da poesia árabe, realizando uma revolução poética (...) É, ainda
hoje, uma das vozes fundamentais dessa cultura, na qual se destaca pela
constante insubmissão à dominante religiosa” (HATOUM, 2012), afirma
Hatoum. Para o escritor, a adoção do nome de um deus pagão é marca de
sua aversão a um único Deus, já que em seus poemas “a presença da cul-
tura pré-islâmica e pan-mediterrânea é fortíssima” (HATOUM, 2012).
Em todas essas obras e autores sobre os quais Hatoum se debruça
podemos perceber, de alguma forma, um traço, uma ligação com o mun-
do árabe, principalmente com a presença de imigrantes, cultura que re-
monta a sua genealogia familiar, pois Hatoum é descendente de imigran-
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tes árabes, como se coloca publicamente em um depoimento nomeado
“Escrever à margem da história”.
Na minha infância, a convivência com o Outro exterior aconteceu na pró-
pria casa paterna. Filho de um imigrante oriental com uma brasileira de ori-
gem também oriental, eu pude descobrir, quando criança, os outros em mim mesmo (...). Minha língua materna é o português, mas o convívio com árabes
do Oriente Médio e judeus do norte da África me permitiu assimilar um pouco
de sua cultura e religião. De forma semelhante, a cultura indígena se impunha com a presença de nativos que moravam na minha casa e frequentavam o bair-
ro de imigrantes orientais da capital do Amazonas (HATOUM, 1993).
Esse oriente, que não é o “outro lado do mundo”, mas um concei-
to socialmente construído, como vimos com Said em Orientalismo, per-
passa sua obra desde a estreia, com Relato de um certo Oriente, publica-
do em 1989. Nesta narrativa, uma narradora não nomeada regressa após
longos anos de ausência à casa de sua infância. Filha da matriarca Emilie,
uma imigrante árabe que se estabelece em Manaus, a narradora estabele-
ce uma correspondência com o seu irmão distante. Dezenas de cadernos e
inúmeras fitas irão registrar suas impressões pessoais e declarações das
pessoas reencontradas nesse seu regresso ao espaço familiar. Esse relato
é construído a partir da interposição de variadas vozes narrativas, dando
um caráter polifônico ao romance.
O Oriente e o exílio figuram nesta narrativa de maneira intensa,
pois além de Emilie e da narradora, que migram, que se deslocam geo-
graficamente, outros personagens marcam a questão do exílio, tendo des-
taque para um outro filho de Emilie, Hakim, pois ele é o escolhido para
participar da língua dos pais, o árabe, tornando-se, assim, o principal in-
terlocutor de Emilie. Porém, Hakim habitua-se a conviver com “um idi-
oma na escola e nas ruas da cidade, e com outro na Parisiense” (HA-
TOUM, 2008, p. 52), a antiga casa da família, a tal ponto que, por vezes,
tinha a “impressão de viver vidas distintas” (HATOUM, 2008, p. 52).
Hakim experimentaria, assim, a sensação de estar “fora de lugar”.
Também para Milton Hatoum, assim como Said, a paisagem da
infância e a língua em que se fala talvez sejam aquilo que mais marca a
vida de uma pessoa e, principalmente, de um escritor, já que, em entre-
vista a Aida Hanania, Hatoum relaciona a noção de pátria às de língua e
infância.
A língua é a pátria. A brasilidade está presente na língua, mas não sei até
que ponto está presente numa paisagem brasileira: porque não sei se se pode definir exatamente ‘paisagem brasileira’ para quem é da Amazônia. A Ama-
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zônia não tem fronteiras; sim há uma delimitação de ‘fronteiras’, mas para nós não passam de fronteiras imaginárias (HATOUM, 1993).
Mas, se entre as línguas que Hatoum teve contato quando criança,
a opção foi pelo português, pergunta Fernanda Müller, “como imprimir
nela as marcas brasileira e libanesa ao mesmo tempo?” (MÜLLER, 2006,
p. 283). Para a estudiosa, a opção de Hatoum ao fazer literatura é pelo
uso de um português sem sotaque, pois o escritor parece preferir temati-
zar o contato linguístico ao invés de representá-lo. “Para tanto, sobrepõe
a figura do pai, em seu silêncio severo e constrito, à da mãe, tão atenta às
mediações linguísticas” (MÜLLER, 2006, p. 283).
De uma maneira geral, a literatura de Milton Hatoum e, princi-
palmente, Relato de um certo oriente, Dois Irmãos e Cinzas do Norte,
centram-se na criação de personagens marcados pela viagem, pelo exílio.
Todos saem em busca de um eldorado, seja em uma outra cidade, seja em
outro país, seja em busca de uma outra vida, como em Órfãos do Eldora-
do (2008). Nesse processo, Hatoum não representa em suas obras as con-
dições de partida ou de como o comerciante veio a se estabelecer em ou-
tra terra, mas centra-se na família, nos dramas familiares. Focaliza a fa-
mília já estruturada financeiramente, porém desequilibrada emocional-
mente. “Talvez para mostrar que o deslocamento dado no nível psicoló-
gico interfere ainda mais profundamente e é muito difícil de ser supera-
do” (MÜLLER, 2006, p. 284). Como se o Eldorado, o seu paraíso, esti-
vesse sempre selado com a marca da eterna perda, do luto, do pathos do
exílio.
4. A obra de Milton Hatoum
Estas intervenções públicas, sejam através de obras ficcionais ou
não, como depoimentos dados pelo autor, entrevistas, palestras, entre ou-
tros tipos textuais, verbais, audiovisuais ou escritos, o aproxima da figura
do intelectual e de suas funções, conforme discorreu Edward Said. Ou se-
ja, essa imagem construída ao analisarmos o seu espaço biográfico (AR-
FUCH, 2010), projeta o escritor Milton Hatoum como um intelectual, cu-
ja evidência se dá pelo interesse por lugares tão distantes quanto desco-
nhecidos, como o Oriente e a Amazônia. Lugares que fazem parte de sua
história. Lugares que figuram constantemente em sua escrita. Lugares cu-
jas referências simbólicas são espaços em branco, que ele deseja “povoar
de signos” (HATOUM, 1993).
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Por conta disso, vez ou outra temos uma leitura de suas obras co-
mo fazendo parte de um novo regionalismo, verificado pelas análises de
Schollhammer. Para este estudioso, a literatura de Hatoum teria popula-
ridade pois “encontra-se na convergência entre um certo regionalismo
sem exageros folclóricos e o interesse culturalista na diversidade brasilei-
ra” (SCHOLLHAMMER, 2009, p. 87). Karl Eric Schollhammer acres-
centa, ainda, que encontramos na obra de Hatoum o regionalismo ama-
zonense “em confluência com um memorialismo familiar, resgatando a
história dos emigrantes árabes no Brasil” (SCHOLLHAMMER, 2009, p.
87).
De fato, Hatoum nasceu em Manaus no início da década de 1950,
numa família de origem libanesa. Seus avós eram de Beirute, cristãos
maronitas, e seu pai cresceu no Líbano, ainda sob o poder colonial fran-
cês. Para Schollhammer, tanto a tradição da narrativa árabe que Hatoum
herdou do seu avô e dos vizinhos, quanto a influência francesa que sua
família recebeu marcaram sua formação e, posteriormente, sua literatura.
Explica, ainda, que a unanimidade do reconhecimento de Hatoum se de-
ve ao fato de que o interesse da crítica acadêmica pela abordagem dos es-
tudos culturais se consolidaram na década de 1980.
O próprio escritor rejeita essa classificação de regionalista, como
podemos perceber em algumas de suas declarações, em que afirma que
“a literatura regionalista se esgotou há muito tempo. O regionalismo é
uma visão muito estreita da geografia, do lugar, da linguagem. É uma
camisa de forças que encerra valores locais. Minha ideia é penetrar em
questões locais (...) e dar um alcance universal” (HATOUM, 2005). Às
vezes parece até se incomodar com essa terminologia, assinalando que
não acredita nas classificações:
Antes de escrever o Relato, eu já estava vacinado contra a literatura regi-
onalista. Não ia cair na armadilha de representar ‘os valores’ e a cor local de uma região que, por si só, já emite traços fortes de exotismo. Percebi que po-
dia abordar questões a partir da minha própria experiência e das leituras. E fiz
isso sem censuras, sem condescendência, usando recursos técnicos que apren-di com algumas obras (HATOUM, 2006).
De fato, ressalta Maria Luiza Almada Moreira (2006), em seu es-
tudo sobre Relato de um certo oriente e Dois Irmãos, que, em seu primei-
ro romance, o autor não esmiuçou os traços marcantes da cidade, dos
costumes e do vocabulário da região: “Aliás, o arbusto-humano que sur-
ge na cidade de Manaus para em seguida desaparecer no lodaçal próximo
dos barcos e da água, pode até mesmo ser tomado como uma alegoria da
crucificação do exótico” (MOREIRA, 2006, p. 95-96). Contudo, essa po-
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Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
lêmica regionalista está sempre presente, seja em entrevistas, seja em crí-
ticas sobre a obra de Hatoum.
Interessante é a resposta de Hatoum ao ser questionado sobre a
possibilidade de, no futuro, escrever um romance urbano. O escritor
afirma que “romance urbano é quase uma tautologia (...) O norte de meus
romances é uma cidade, Manaus, que mantém vínculos fortes com o inte-
rior do Amazonas, mas também com São Paulo (no Dois Irmãos), e com
o Rio e a Europa, no Cinzas do Norte” (HATOUM, 2006). Essa resposta
suscita outras perguntas, pois, como assevera Moreira, Hatoum, nesta en-
trevista, “procura evidenciar uma espécie de poder que está por detrás da
separação entre romancistas urbanos e regionalistas” (MOREIRA, 2006,
p. 101). Maria Luiza explica que:
Se o escritor pertence à metrópole, como é o caso de Mário de Andrade,
ele não é enquadrado como regionalista, embora sua obra possa apresentar tra-
ços característicos de uma região, mas se escreve a partir de um lugar periféri-co como Hatoum, por exemplo, a pressão sobre ele é muito maior (MOREI-
RA, 2006, p. 101).
De fato, Hatoum declara que, quando publicou seu primeiro ro-
mance, foi uma surpresa para a crítica e para o leitor: “Porque os críticos
se perguntaram, como é que da Amazônia, de onde só se esperam histó-
rias sobre índios e seringueiros e aventura na floresta, surge um romance
sobre a emigração, sobre a memória, um drama familiar...” (HATOUM,
2005). Essas questões descortinam relações de poder, conforme debateu
Edward Said, como vimos anteriormente.
Diante desse contexto, apesar de enquadrado como um novo regi-
onalista, por voltar sempre seus olhos para Manaus, para a colônia de
imigrantes que lá se instalaram, descrevendo como a cidade se moderni-
zou e como se transformou ao longo de um certo período de tempo, pos-
sui uma extrema profusão temática, conforme chamou atenção Maria
Zilda Ferreira Cury. Em dois artigos publicados (CURY, 2000; 2002),
ela abordou a narrativa de Hatoum por dois aspectos distintos: a questão
da alteridade, em um, e a questão do feminino, no outro. Para Maria Zil-
da, ao tematizar a imagem do imigrante, Hatoum abre um leque para
conceitos como: “identidade, tradução cultural, entrelugar, memória, me-
talinguagem, além de outros” (CURY, 2002, p. 175).
Assim como Maria Zilda, que destaca a profusão temática como
marca da obra de Hatoum, nossa perspectiva de análise se afasta da for-
tuna crítica do autor com tendência para uma leitura regionalista. Nossa
visão é a de que, ao dialogar visceralmente com a obra de Edward Said, a
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Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
literatura de Hatoum realiza um movimento de desconstrução de um
imaginário sobre Manaus e sobre a Amazônia. Um movimento que busca
não só reinserir essas subjetividades, mas dar destaque e promover uma
releitura do discurso que se fez até então sobre elas.
Visão próxima do papel do intelectual, segundo a acepção de
Said, pois o intelectual retorna inevitavelmente à sua casa. Como casa, de
acordo com Maria Luiza (2006), devemos entender um noção mais
abrangente, “que envolve não só o espaço do aconchego do lar, bem co-
mo o tempo da infância e as relações familiares, mas de um modo geral,
toda uma tradição da qual o intelectual parte e para a qual se vê compeli-
do a voltar” (MOREIRA, 2006, p. 90). Assim, ao voltar para Manaus e
para o Oriente, sua casa, sua tradição, seja por entrevistas, críticas, con-
tos, romances, entre outros, Hatoum está reafirmando que será sempre
um estrangeiro, um exilado, mas que, de alguma forma, dialogar com es-
sa tradição é tentar reencontrar o Norte do qual se exilou algum dia. Pois,
para Hatoum:
Um escritor só escreve sobre algo que não pode deixar de escrever. Al-
guma coisa que o incomoda ou provoca ou lhe traz inquietação. Tenho a im-
pressão de que alguém escreve porque se sente de alguma maneira “fora do
lugar”, o título do belo livro de Edward Said. Depois de ter publicado meu se-gundo romance (Dois Irmãos), perguntei a mim mesmo: por que elegi como
narrador dos dois livros um personagem descentrado, sem lugar definido na
família, ou cujo lugar fosse um não-lugar? Então pensei, sem concluir nada de definitivo, que a minha vida foi marcada por rupturas sucessivas, por passos
mais ou menos perdidos no Brasil e no exterior, sobretudo por um sentimento
de não pertencer totalmente a uma única região brasileira. O fato de não me adaptar à cidade em que nasci, de ser filho de imigrantes, de ter saído sozinho
do “meu lugar”, tudo isso pode ter influído na escolha desses narradores e per-
sonagens erradios (HATOUM, 2004).
5. Conclusões
Dentro do contexto da crítica biográfica contemporânea, em que
“a figura do autor cede lugar à criação da imagem do escritor e do inte-
lectual” (SOUZA, 2002), buscamos neste ensaio refletir sobre o escritor
Milton Hatoum e suas relações com a cultura árabe. Partindo do conceito
de “espaço biográfico” (ARFUCH, 2010) e da “função autor” (FOU-
CAULT, 1992), buscamos promover um amplo diálogo com tudo o que
pode ser considerado por “obra”, principalmente os textos ficcionais e
entrevistas do escritor, de forma a mapear alguns traços que configuram
sua imagem como marcada pelo pathos do exílio, pelo entrelugar, con-
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 705
Cadernos do CNLF, Vol. XVII, Nº 05. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
forme vimos com Edward Said. Hatoum é, ao mesmo tempo, promotor e
tradutor da obra desse intelectual palestino, o que enaltece sua relação
com o mundo árabe.
Ao elencar e analisar esse pathos que perpassa, sob nossa perspec-
tiva, tanto a obra quanto a vida de Milton Hatoum, buscamos também,
mesmo que em segundo plano, colocar em cena um dos diversos “biogra-
femas” (BARTHES, 1979) que compõem a imagem desse escritor. O
exílio, tomado como “biografema”, ou seja, como signo de um ser frag-
mentário, se torna um significante da vida de Milton Hatoum, iluminan-
do detalhes significativos em sua obra e criando pontes possíveis de lei-
tura sobre esse sujeito que se narra discursivamente diante do espaço pú-
blico.
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