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FLÁVIO RIBEIRO COUTINHO

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FL Á V IO R IB E IR O CO U T IN H O

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Marcus Odilon Ribeiro Coutinho

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F L A V I O R I B E I R O C O U T I N H O

A UNIÃO EDITORA

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SÉRIE HISTÓRICA Copyrigh 2000 © A União - Superintendência de Imprensa e Editora

ESTADO DA PARAÍ BA

José Targino Mar anhão Governador Roberto de Sousa Paulino Vice-Governador Roosevelt Vita Secretário-Chefe da Casa 'Civil do Governador Luiz Augusto Crispim Secretário Extraordinário de Comunicação lnstitucional Evaldo Gonçalves de Queiroz Secretário da Educação da Paraiba Francisco Pereira da Silva [únior Sub-Secretário de Cultura

. A UNIÃO - Super intendên cia de Impren sa e Editora

Superintendente José Zélio Marques Neves Diretor Admi nistrativo Clodoaldo Brasilino Filho Diretor Técnico Nelson Coelho da Silva Diretor Operacional (Interino) Deusimar Sarmento

SÉRIE HISTÓ RICA

Coordenação Geral do Pro jeto: Jornalista Nelson Coelho da Silva Execução:

Jornalista William Costa Capa: Milton Nóbrega Assessoria de Marketing:

Jornalista Joanildo Mendes Editoração Eletrônica:

Martinho Sampaio Impressão: A UNIÃO - Superintendência de Imprensa e Editora

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APRESENT AÇÃO

Ao nos debruçarmos sobre a História política parai- bana, nos deparamos com uma galeria de figuras nem sem- pre ilustres, tanto pela condução da causa pública, quanto pelo procedimento pessoal.

Uns, preocupados simplesmente em manter o status quo que lhes dava sustentação,

Outros, pela maneira vergonhosa com que se apode- raram dos cargos para enriquecer e distribuir favores entre parentes, amigos, aderentes e correligionários,

A maioria incluindo ferrenhos perseguidores dos re- presentantes da Oposição, sem se importar se tinham ra- zão, ou não, .

No meio dessas figuras imponentes e portentosas, as honrosas exceções: personagens humanos e mortais, contn» vendo com seu povo e cumprindo o bom destino de respei- tar as queixas dos seus concidadãos, atendendo às necessi- dades sociais e administrando a coisa pública com zelo e parcimônia, responsavelmente,

Segundo o historiador Marcus Odilon, autor do tra- balho que ora apresentamos, o Governador Flávio Ribeiro Couiinho se inclui entre essas honrosas exceções,

Tanto pelo cuidado como administrou o erário públi- co, como pela postura digna no relacionamento com seus contemporâneos de todas as tendências,

Sem nepotismo, e sem perseguir seus opositores, se- gundo enfatiza o historiador Marcus Odilon.

Político hábil, sua atuação vem da Ditadura Vargas, e de vinte anos de perseguição, vítima de insanidade da Re-

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volução de 30, amargando as dificuldaqes que atingiram os perrepistas.

E sua habilidade residia justamente aí, quando atua- va nos bastidores, dos quais emergiu ao alvorecer da rede- mocratização, com a queda do Estado Novo, quando o voto secreto tornou-se realidade, e as mulheres conquistaram o direito de eleger e serem eleitas.

A democracia - antes apenas uma figura de papelão - mudou o panorama político do país, tornando possível o diálogo entre os partidos e os acordos em que se basearam para impulsionar o desenvolvimento econômico e adminis- trativo dos Estados.

Político por vocação, o Doutor Flávio assumiu o Go- verno da Paraíba por duas vezes.

A primeira, como Presidente da Assembléia Legisla- tiva, por licença do titular, Oswaldo Trigueiro, quando a figura do Vice não existia, na legislação eleitoral.

A segunda, eleito pelo voto direto, quando, infeliz- mente, exerceu o mandato por pouco tempo, vitimado por um acidente vascular cerebral (A VC), que o levou à morte.

Com o seu falecimento, o cargo foi assumido pelo Vice, Pedro Moreno Gondim, que deu continuidade às obras iniciadas pelo antecessor, numa prova de que Flávio Ribei- ro Coutinho estava realizando trabalhos essenciais às ne- cessidades do povo paraibano, sem nenhuma construção faraônica supérflua que sobrecarregasse as finanças do Es- tado e inviabilizasse a administração do sucessor.

Todas essas lembranças que honram seu nome como o melhor Governador da Paraíba - expressão usada por Marcus Odilon - foram registradas em sessão comemorati- va ao centenário do seu nascimento, na Assembléia Legisla- tiva da Paraiba, em discurso pronunciado pelo então Depu- tado Fernando Paulo Carrilho Milanez.

Maria José Limeira Jornalista

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Índice

História oficial e depoimentos pessoais ....................................7 Outro depoimento de Nivaldo ........................•................. 12 As origens da família Ribeiro Coutinho ............................. . .13

O Tenente mais rico do Brasil.. .............................................19 U ma festa de arromba ....................................................... . .21 Os amigos do velho Flávio ....................................................22

É pecado ser parente dos santos? ...................................." ....25 Uma loucura que valeu a pena ...............................................26 Flávio Ribeiro e a Primeira República ...................................32 Associação Comercial: A vanguarda em defesa dos produtores .............................................................................'34 Uma perseguição que durou vinte anos .................................38 A Bancada de Princesa ..........................................................41 Militância política e coragem ................................................45 O voto secreto mudou o rosto do Brasil .................................46 Flávio Ribeiro e a redemocratização ......................................50 Um acordo elegante cumprido na íntegra ..............................51 Flávio Ribeiro e Renato Bastos: Varões de Plutarco .............53

O melhor Governador da Paraíba ..........................................55 Tolerância política .................................................................60 Um Governo sem nepotismo .................................................63

Segurança Pública: a paz a todo custo ...................................65

O segredo do bom Governo: os bons auxiliares .....................67 A ampliação do Porto de Cabedelo ........................................70 O leite pasteurizado: uma necessidade ...................................72 O Hospital Edson Rarnalho .....................................................72 Quem, um dia, não perdeu eleição? .......................................73

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História oficial e depoimentos pessoais

o depoimento de quem viveu o fato é da maior importância .

Essa tendência é universal , até porque a Histó- ria oficial das guerras, dos conflitos, dos Papas e das eleições já foi escrita.

Por isto mesmo estou reco lhendo o que posso com os depoimentos que estão mais próximos e estão vivos.

Uma fo nte que está perto é Nair Dantas Ribeiro Coutinho, co m 87 anos de idade, bem vividos, e com uma memór ia invejáve l, lembran do-se de fatos e da - tas, como se ainda es tivesse com 18 an os.

Nasceu e m Caicó, Sertão do vizin ho Estado do Rio Grande do Norte, de uma famíl ia conheci díssima e do melhor conceito em todo o Nordeste.

Mais conhecida ainda pe lo que aconteceu em 1930, quando .. .

Bem, is to todo mundo sabe. Casou -se com Otávio Ribeiro Coutinho, na sua

opinião o homem mais formoso que já pisou nesta terra.

Conheceu-o, bem jovem, na manhã de 2 de no - vembro de 1930 quando, em companh ia de sua (dele) prima Lourdes, passou pela casa do tio (onde mora - va) e pediu flores do jardim para levar aos túmulos

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do Genera l Lavarene Wanderley e dos Tenentes as - sassinados na madrugada de 4 de outubro, pelos re - volucionários da Aliança Libera l.

Por aqueles dias turbulentos e perigosos, um ato como este era prova de rara coragem, levar flores aos túmu los de símbo los da oposição. Daí, surgiu o namoro e, logo ma is, o casamento. Foi morar com seu sogro e sua sog ra, o Ma jor Ribeir inho e Dona Ser afina Pessoa de Me llo Ribe iro Coutinho, es ta úl tima, de fam ília pernamb ucana.

Com eles, não só co nviveu, como ficou sendo depositária de segredos e confidências, um verdadei - ro arquivo v ivo.

Daí é o portuno que se ouça a Na ir falar, e foi o que fiz , em compan hia de seu filho caçula.

Para e la, o tempo não passo u, volto a repetir . De sua saúde (de ferro, diga-se de passage m) quem cuida é o seu genro, Jacinto Medeiros. Está, ass im, em boas mãos. E fica tu do explicado.

Moro u anos, com o sogro e a sogra, na Fazenda "Chaves", mu nicípio de Gurinhém, à margem do as - falto da BR-23 0 em uma das boas casas de fazenda da região.

Mas, quem se destaca na paisage m é um monu- mento pare cido, à primeira vis ta, com uma nave es- pacial ou um o belisco, embora não se ja nada disso .

Em princípios de 1933, o Ma jor Úrs ulo Ribeiro Coutinho co nstruiu-o para servir de cape la, a qua l fun- ciona até h oje.

Já celebraram missa, no loca l, Frei Damião, Mo n- senhor Odilon Pedrosa, e o Padre José Mes quita, este como Vigário da Paróquia de Gurin hém, homem de raras v irtudes cristãs.

Mas, o meu ve lho compadre Niva ldo Paiva, me-

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nino do Cajá, frequenta dor das festas dos Chaves, tem uma nova versão sobre o citado monumento.

Diz ele que o Major fez uma promessa de cons- truir uma igre ja sem uma só telha. E tudo de alvena- ria. Uma beleza.

Esta, porém, não é a versão de Nair, que revela que o projeto da construção é do engenheiro Souto Barcelos, ass im como a planta . O citado engenheiro moro u na Ca pital do Estado. Parece que era estran- geIro. Na verdade, não há conflito nas duas versões. Ela ouv iu de seus sogros que o Ma jor João Ribei - ro da Silv a Coutinho (pai de doze filhos ), veio de Na - zaré da Mata e se casou, no dia 9 de ma io de 1869, com Ana Fran cisca Ferreira de Castro.

Os membros dessa famíl ia (os Ferreira de Cas - tro) já era m donos da Fazenda "C haves", a qua l tinha mais de 10 mil hectares de boas terras, indica das para plantio de algodão.

Hoje, com as sucessivas divisões, decorrentes de inventários, as par tes maiores não chegam a 800 hec - tares. A reforma agrária, nes te caso, se faz dentro da própria fa mília.

Aliás, é bom se explicar o porque desse tí tulo de "Major" .

À época, quem possuía be ns era agraciado pela Guar da Naciona l com patentes que iam de Tenente a Coronel. Generosidade da "belle époque" .

Diga-se de passagem que essas honrarias cust a- vam a lguns contos de réis, mas era tudo lega l, e de acordo com a legislação em uso.

Como Úrsulo era Ma jor e seu pai tinha igual tí - tulo, passaram a ser c hamados d e "Major Ve lho" e "Major Novo".

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Decorrido mais algum tempo, e dev ido ao su- cesso empresarial de todos os ir mãos R~beiro Couti- nho, na boca do povo o Ma jor Velho SU bIU de p osto e passou a ser chamado de Coron~ l. .

Da Primeira Guerra Mundial, Nair se lembr a da comemor ação da vitória (muitas girân dolas queima- das em C aicó, seu berço nata l). Era quase criança.

Da Segunda Guer ra, se lembra da escassez de produtos importados do Sul e do exte~ior. .

Com o torpedeamento dos nav ios cargueI~os, faltou cha rque, sabonetes, loções perf umadas, tngo, pão, etc., em todo o Estado do Rio P~rahyba = Norte.

Nessa altura, viajar para o RIO de janeiro, por exemplo, virou aventura perigosa .

Ela ainda se recorda da irreverê ncia popular, qu e cantava na s rodas de fim de tarde :

Se banana for torpedo macaco pára-quedista, urubu for avião, o Brasil está preparado pra enfrentar qualquer Nação.

A inocente brincad eira mostrava a fragilidade brasileira para participa r do conf lito entre a Alema- nha e quase todo o resto do mundo.

Recorda-se , como hoje, do Doutor L indolfo Cor- reia Lima, professor do Lic eu, que ia lecionar de fra - que e bem perfumado .

Lembra ter ouvido o sogro contar qu e, em 1902 , o Major Velho foi acometido de um derra me cerebral (hoje AVC) e ficou inválido, ainda que ten ha chegado vivo até 1929, e quase centenário.

Mas, sem forças para di rigir os negócios e a ad-

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ministração d a fazenda. Forçou o seu retorno do Re- cife, onde e stava fazendo curso prepa ratório para u ma escola supe rior, e ficou à frente de tudo, por dec isão dos demais irmãos.

Por isso não se formou. Mas, Od ilon Mar oja pressionou-o a adqui rir a

patente da Guarda Nacional . Ela explica, aind a, que, na F azenda" Chaves", vez

por outra, o cangaceiro Antonio Silvino aparecia, e o Major Novo fazia como o s demais fazendeiros da re- gião: recebia os gue rrilheiros, convidando-os a senta- rem-se à mesa para o alm oço e o jantar. A tropa se a rranchava, como podia, nos armazéns. Mas todos eram se rvidos de guizado de carnei- ro, galinha e peru. Me sa farta, ainda que improvisada .

Um dia , Antonio Silvino quis ouvir Dona Ser afi- na tocar piano.

Como não podia ser diferente, foi atendido. O Major, no ent anto, sentiu-se insultado, e mu-

dou-se para ltabaiana, onde nasceu seu filho Jorge, indo morar no Alto de San ta Rita, a parte mais venti- lada da cidade .

Foi nessa oc asião que construiu o monumento em homenagem à Santa de sua devoção .

Em 1930, conta que a família, perseguida pelos aliancista s, se homiziou no Engenho "Botafogo", em Goiana (PE), que pertenc ia a Arqu imedes Bandeira , também casado com uma Pessoa de Mello. Portan to, seu contra-parente .

Não se esquece do primeiro automóvel, em Cai- có, em 1918. Pa ra vê-lo de perto, toda a população saiu de casa em direção à praça princip al, onde estava estacionado o v eículo.

Não ficou n inguém em casa, e os c omentários

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eram desencontrados: imaginavam alguns vizinhos que aquilo era arte do cão, ou sinal do fim do mundo.

Quem vive 87 anos, tem muito a dizer . E quando Nair completar cem anos, aí é que vai

ser bom ouví-la, para saber de tudo. Sendo otimista como é, Nair é daquelas pessoas

que acham que estão certas, e que tristeza não paga a pena.

Outro depoimento de Nivaldo

Um dos depoimentos interessantes sobre o Ma- jor Ribeirinho (ninguém o conhecia pelo nome de Úrsulo) foi prestado por Nivaldo Rodrigues Paiva, hoje residente em Bacabal-MA, mas criança em Cajá, ago- ra cidade, mas, naquele tempo, vila, distante dez qui- lômetros da Fazenda" Chaves" .

Ele diz que, com outros meinos da vizinhança, pegava carona em caminhões que paravam no posto de gasolina, no hotel ou nas barracas, e chegava no "Chaves", onde o Major mantinha em funcionamen- to uma queijeira (o produto tinha ótima aceitação, puro, sem qualquer mistura).

Eles, então, pediam, e o Major lhes dava a raspa, mais saborosa ainda do que o próprio queijo.

Os garotos levavam farinha para misturar, e en- chiam o bucho.

Nivaldo também se recorda (tem hoje 60 anos) das festas do "Chaves", das procissões de Santa Rita de Cássia, da devoção do Major.

Em uma das realizações desses festejos, uma vara de foguetão atingiu o ombro do Major, que precisou ser levado a um hospital, na Capital .

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Nega que tenha visto ou ouvido falar de qual - quer violência praticada por ele, ou a seu mando. '

O Major era um homem profundamene religio- so e de fé, conclui Nivaldo, mas cuidando da festa pro- fana, pagando do próprio bolso o sanfoneiro Manoel de Horácio, o melhor da região, para animar o baile, em tempo de São João, São Pedro, Natal e Ano Novo .

Quem quiser falar com Nivaldo, o telefone é 098- 621-2338, ou Caixa Postal 145, Bacabal -MA.

As origens da família Ribeiro Coutinho

Sempre sou indagado de onde veio a família Ri- beiro Coutinho. Até porque, no século XIX, a História não registra a presença de nenhum deles nas ativida- des econômicas da Paraíba.

Nenhum foi Donatário de Capitania Hereditá- ria, Presidente da Província ou Senador do Império . Não receberam sesmarias .

A família que participou com mais destaque quando nossa terra, de Capitania passou a Província, foi a Carneiro da Cunha, que tinha engenhos na Vila do Conde, em Santa Rita e Espírito Santo.

Um deles foi o Senador Estevão José Carneiro da Cunha, remanescente da República de 1817, mas, em 1824, General em Chefe das tropas fiéis ao Impé- rio. Combateu a Confederação do Equador .

Outro irmão foi Deputado Geral , e um terceiro, após presidir a Província , foi condecorado com o títu- lo nobiliárquico de Barão do Abiay. Era pai da Profes- sora Olívia Olivina Carneiro da Cunha.

Nessa época, por onde andavam os Ribeiros Cou- tinho?

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Há quem diga que Amaro Gomes da Silva Cou- tinho, dono do Engenho do Meio, maçom, republica- no, participante da conspiração e Revolução de 1 817, julgado, condenado e enforcado em Re cife, era um dos nossos.

Mas, perdeu a vida e os bens . Dele herdei o mau hábito de falar mal do Governo . A Justiça portugue sa era cruel : punia rápido, e

estendia o c astigo aos familiares . E quanto mais pu- nia, mais lucrava .

Amaro Gomes da Silva Coutinho não deixou fi- lhos.

Só aparece alguém com esse sobrenome, na Pro- víncia do Rio Parahyba do Norte, em 1869, data do casamento de João Ribeiro da Silva Coutinho com Ana

Ferreira de Castro, que constituem o tronco da família. Os filhos de João perderam o Silva, e ele mesmo

passa a suprimi-Io em quase tudo . Três sobrenomes seriam considerados exageros,

ou talvez tenha havido a preocupação e litista. Quem sabe?

Também os filhos do casa l não usam o nome Maroja que, na verdade, era ape lido de meu bisavô, Manuel Ferreira da Silva.

João Ribeiro da Silva Coutinho, natural de Na- zaré da Mata (Pernambuco), casou- se com Ana Clara Ferreira de Castro e tiveram dezoito filhos, dos quais se criaram onze.

Os homens eram Odilon, João Úrsu lo, Flávio, Úrsulo (Major Ribeirinho ) e Flaviano .

As mulheres: Rangelina (Naná), Débora Úrsula, Otávia, Otaviana, Severina , Ana e Ninosa .

Seis out ros não se criaram : viraram anjos, e es- tão em bom lugar.

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A mortalidade infant il não poupava nenhu ma família .

O casal foi morar na Fazenda " Chaves", que e ra dos Marojas .

Diz o nosso estimado primo, Heitor Coutinh o Maroja, que a propriedade era do sogro. Portanto, de Manuel Ferreira.

Em outra s palavras, He itor quer dizer que a par- te rica da era e xatamen te a família Ferreira, ou se que- rem assumir o apelido , a Maroja .

João, pernambucano, comprador de burros e bois para serviço, vivia em c ima de uma sela e dera o " gol- pe do baú" . Contava com bom visual .

Ótimo. Por isso mesmo, redob rei a admiração ao avô que

não conheci, pois já tinha passado dessa para mel hor quando nasci, em 1939.

Mas, o nosso a vô foi o fundador do clã, no Esta- do do Rio Parahyba do Norte.

Repito: não há registro de Ribeiros Coutinho (os dois nomes juntos), naqueles dias distantes .

João e Ana se casaram , quando ainda havia es- cravatura, e com os escravos tocando o trabalho pesa- do da fazenda.

Os filhos se formaram em Recife ou em Salva- dor.

Bacharéis em Direito foram João Úrsulo e Odi - lon. Flávio, médico, e Flaviano, agrônomo diplomado pela Escola Superior de Agronomia São Bento, em 1920.

O educandário era de religiosos da Ordem dos Beneditinos, em sua maioria, alemães.

Só Flávio exerceu a profissão. Assim mesmo, por

pouco tempo .

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Estabeleceu-se em Belém do Pará, quando a bor- racha fazia da Amazônia um Eldorado .

Ganhou tanto dinheiro receitando quinino para os donos de seringais, que voltou à Paraíba rico. , Passou a fabricar açúcar, sócio do seu irmão João

Ursulo, que foi o primeiro Ribeiro Coutinho a trocar de ramo .

Deixou de criar boi, para plantar cana e indus- trializar a matéria-prima. Mas isso já foi na segunda década do século xx.

Este foi o século da família, que teve em Flávio Ribeiro o chefe do clã, todos seguindo seus passos e, por ele, foram perrepistas, argemiristas e udenistas.

Mas, o forte não foi nunca a política ou os cargos que ocuparam .

Foi, sim, o econômico. Em determinado período após a Segunda Guer -

ra, os Ribeiros Coutinho tinham as seguintes usinas: . . .São João e ~anta Helena, gue pertenciam e eram

dirigidas pe!os filhos de João Ursulo, ou seja, sete ir - mãos : João Ursulo Filho , Renato, Luiz Ignácio, Flávio Sobrinho, Cassiano, Odilon e Abelardo; a Usina Santa Rita, dos filhos de Flávio Ribeiro; a Usina Santana, de Flaviano e seus quatro filhos.

Em Pernambuco, dois filhos de Odilon, dois ba- charéis em Direito, Olívio e Manuel, adquiriram e mantiveram, por alguns anos, a Usina Cachoeira Lisa.? no Ceará, Ubirajara Ribeiro Mindello adquiriu a úni- ca u,sina daquele estado; em Pirpirituba, os três filhos de Ursulo (Major Ribeirinho) montaram a Usina São Francisco .

No Rio Grande do Norte, os filhos de João Úrsu- 10 (sempre eles) adquiriram o controle acionário das Usinas São F rancisco, Ilha Bela (Ce ará-Mir im) e Esti-

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vas, localizada nas imediações da cidade de Coiani - nha.

Em quase todas essas operações, Flávio, o velho Flávio, participou, com sua orientação segura, trans- ferência de influência, entusiasmo, e até com dinheiro .'

As constantes crises do açúcar

o açúcar atravessa, a cada século, duas ou mais crises, e o clã foi perdendo, e passando adiante essas empresas.

Antes, a própria família do poeta Augusto dos Anjos perdera dois engenhos, como também perde- ram sete propriedades os herdeiros do Barão do Ma- raú (1800 a 1870) e, em mãos da família Ribeiro Couti- nho só existe, atualmente, a Usina São João.

Antes desse esvaziamento econômico, porém, Flávio, Odilon, Ribeirinho e Flaviano já haviam en- tregado a alma a Deus.

Mas, foi essa geração a que avançou em todos os campos .

A família era, em 1910, 1915 e 1920, o que cha- mamos hoje de "emergente" .

Mas, uma emergência elegante, todos com di- plomas de cursos superiores .

A criação do Banco Comércio e Indústria

Flávio, o Doutor, o Velho, como ainda hoje é lem- brado, expandiu seus negócios além da Usina Santa Rita e do que herdara e mantinha, como são, no caso, as fazendas de gado nos municípios de Pilar e São Miguel do Taipú .

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Também foi banqueiro. Criou, em 1946, o Banco Comércio e Indústria

da Paraíba ocupando, da data de fundação até a do seu falecimento, em 1963, a Presidência da empresa .

O citado Banco foi inaugurado com sede provi- sória na Rua João Suassuna, com a presença de co- merciantes e do Governador Oswaldo Trigueiro.

Logo, mudou-se para prédio próprio, na esqui- na da Rua Maciel Pinheiro com Ladeira 5 de Agosto, no Varadouro .

O Gerente era João Raposo Filho, seu amigo, fi- lho dos donos dos engenhos Outeiro e Vigário, na Vár- zea do Rio Paraíba.

Os dois outros cargos na Diretoria eram ocupa- dos pelos irmãos Odilon e Flaviano.

A empresa se expandiu e chegou a ter filiais em Santa Rita, Natal, Maceió, Rio de Janeiro, e mais duas agências em João Pessoa, nas ruas Duque de Caxias e Beaurepaire Rohan, e duas em Recife, às ruas Dantas Barreto e Conde da Boa Vista.

Em 1976, a política do Ministro Delfim Neto in- viabilizou o funcionamento dos bancos médios, fazen- do o jogo dos grupos economicamente mais fortes.'

De uma hora para outra, ficou inviável a sobre- vivência de bancos como o Industrial de Campina Grande, Comercial, Aliança, Meirelles, e mais meia dúzia de bancos de Pernambuco, e mais de duzentos em todo o País.

Delfim patrocinou as fusões, sob a alegação de que só bancos grandes permitiram juros baixos. Na verdade, deu-se exatamente o contrário. Até os anos 70, os bancos trabalhavam com juros de 3 por cento em média.

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Hoje, os juros alcançam 14 por cento ao mês, e, às vezes, mais.

E assim sendo, temos que chegar à seguinte con- clusão: o clã Ribeiro Coutinho, no final do milênio, é apenas classe média, como já se disse .

Não pediu e nem foi obsequiado com favores e facilidades pelos sucessivos ditadores dos anos 60, 70 e 80.

Antes pelo contrário.

o Tenente mais rico do Brasil

Flávio Ribeiro Coutinho comprou, na segunda década do século XX, a Usina Cumbe, vizinha à cida- de de Santa Rita, construída por um pernambucano: Antonio Costa Azevedo, que voltou ao berço natal para adquirir a Usina Catende, na cidade do mesmo nome, e tornou-se o maior usineiro de sua época.

Pegou, também o apelido (ou posto?) de Tenen - te da Catende.

Uma coisa digo sem medo de errar: foi o Te nen- te mais rico do Brasil .

Igual, ou maior riqueza dos que integraram a Coluna Prestes."

O Tenente, quando passou pela Várzea paraiba- na, deu um nome estranho à sua Usina: Cumbe.

O que quer dizer esta palavra? Fui ao Dicionário do Aurélio e soube que Cum-

be quer dizer aguardente ou cachaça. Ora, já se viu! Usina que é Usina fabrica açúcar para o café da

manhã, para o sorvete, para o picolé do menino da escola, e para as sobremesas.

O novo dono, ou seja, Doutor Flávio Ribeiro, deu

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nova designação à empresa : Usina Santa Rita, qu e conservou até se exting uir, há dez anos .

Nome de santa italiana, 'de viúva , de advoga da das causas impossíveis e, també m, da cidade, que nu n- ca teve outra denominação.

Falam que Cumb e era um quilo mbo existente nas matas próximas, refúg io de escravos que, pel a fuga, recuperavam a liberda de.

Pode ser. Mas, prati camente, não se sabe d isso muita co isa. Se houve esse quil ombro, não era locali zado onde

ficou a Us ina Santa Rita, um ter reno pla no, que não favorecia guerri lhas ou es conderijos, como era a aci- dentada topografia do Q uilombo de P almares.

A His tória reg istra e ngenhos f abricando açúcar preto e aguardente na região , nas imediações , a partir do ano de fundação da Fe lipéia de Nossa Senhora das Neves.

O engenho do pai de André Vi dal de N egreiros ficava tão perto da li que se ia a pé.

Outro, mais próx imo a inda, era o Engenho da Ajuda (depois, Engen ho Velho ), de Duarte Gomes da Silveira.

O Engenho Tibiry , obje to de val ioso estu do de Guilherme da Silveira de Á vila Lins, er a tão perto, que não chegava a meia légua." Onde espaço para esconder os pre tos fugitivos? Esses engenhos já estavam nesses sít ios antes de os holandeses desembarcarem em Cabede lo. Nome de santo, naquele . tempo, er a moda. Engenho ou usina se quisesse proteção e suces- so, que homenageasse um hóspe de do Céu .

As Usinas São João, Santa Helena, Santana e Santa Maria que o digam."

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Em Pernambu co, na fronteira com nosso E sta- do, existem, até hoje, as Usinas Nossa Sen hora das Maravi lhas e Santa Teresa, Nossa Se nhora do Carmo, Nossa Senhora de Lourdes, Santa Te rezinha, Santo Inácio, e outros santos (as ), todas em Per nambuc o.

Uma festa de arromba

Em 194 6, eu era aluno do Curso P rimário de Dona

Tércia Bonavides, quando casou-se Nanhã (Ana Rita), com Luiz Ignácio.

Eram primos e jovens . O pa i da noiva, tio Flávio Ribeiro C outinho, re-

cebeu , em sua casa, à Rua das Trincheiras, a família e os amIgos.

Como fazia polí tica (presid ia o Diretório Regio- nal da UDN ), não era pequeno o se u círcul o social .

Além do mais , era a prime ira filha a se casar, e ainda tenho gravadas na memória as f ofocas da festa e, principa lmente, os prepara tivos.

A so lenidade real izou-se na igr eja de Lourdes, a menos de trezentos metros da residência da noiva, e a recepção foi no quintal da casa.

Festão, e o "sereno " tomou conta das port as de entrada.

Era gente de todas as classes: taxis tas (na época, chamados de choferes de praça ), empre gadas domés- ticas , costureiras , etc.

Os seguranças de sempre obsta culavam (o que é óbvio) a entrada de curiosos, e só o s convidados ti- nham acesso.

O número de penetras era gran de, a ponto de promover um pe queno tumulto.

Aí apareceu o velho Flávio, em sua rou pa escura

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corno ficava b em em urna so lenidade corno aquela, celebrada pelo Padre Almeida."

Veio para colocar ordem no rec into, chamando o feito à or dem, e p ara fazer valer sua autorid ade?

Nada disso. Chegou e chamou tod o mundo para dent ro de

casa. Todos, sem e xceção, determinando aos garçons que servissem à quela gen te, seus convidados de últi- ma hora, do bom e do me lhor: todos comeram, bebe- ram champanhe, v inho import ados, uísque, com bolo confeitado e empa da de camar ão. Não faltaram peru e presun to.

No dia seguinte, no salão d e aula de Dona Tér- cia, a men ina da, que tinha participado da festa corno penetra, s ervindo-se cor no gente gran de, só f alava nisso.

Até ho je, considero o casame nto de N anhã a maior fe sta que já vi .

Também foi a pri meira. Eu tinha, então, o ito anos de idade .

Os amigos do Velho Flávio

É perfeitamente na tural que os político s tives- sem apelidos e cognomes . Aqui e no mundo. Em ca sa ou lá fora .

Assim sendo, havia Felipe, o Belo; Dom Ma noel,

o Venturoso; Napo leão, Le Petit (corno di zia Victor Hugo de Napo leão lII) .

No nosso País, na segun da meta de do século XX,

entre os a rtistas, por exemplo, são co nhecidos a Sapo- ti (Ângela Maria) e o Rei (Roberto Car los), por exemplo.

Os políticos tinham também seus apelidos: O Cego era José Américo de Almeida; o Amare-

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c ,

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10,9 Argemiro Figueiredo; Doutor Ruis era Ruy Car- neiro, e Flá vio Ribei ro Coutinho era o Velho F lávio.

. Sendo qu e este nome era urna forma carinhosa de tratamento que lhe d ispensavam os amigos e o povo, em geral .

Era assim que o chamava o Doutor Antonio Al- meida (Deputado E stadual em 1947), e corno ainda o chama, até hoje, o j ornalista Hélio Zenai de.

O Velho Fl ávio, quando lançado candidato a Go -

vernador, foi combatido pelo advogado Re nato Tei- xeira Bastos , que igualmente disputava o p leito.

Argemiro, di sputando o Governo em 19 50 (e mal

sucedido), fo i aconselhado pela assessoria de José Pe - reira Lira , seu ali ado e cand idato ao Senado, a a dotar o amarelo corno cor de camp anha, fazendo di stribuir milhare s de lenç os, band eiras, a desivos e tudo na cor amarela. Os hinos da campanha diziam, com todas as letras: "Do Partido do Amarelo todos nós queremos ser".

O próprio Jos é Pereira Lira era chamado de Ca- chimbão, alusão ao seu hábito de fumar cachimbo em público , ainda que com fumo perfumado, p roduto importado .

Cachimbo era usado , nesse tempo, pe la classe C, no interirar das ca sas, e escondido . Lira deu s tatus ao vício.

Além de Per eira Li ra, só um político p araibano fumava seu cachimbo em público: Aureliano L era Ole- gário da Trind ade, saudoso Prefeito de San ta Rita, em 1982.10

Em 1958, no Rio G rande do Norte, a campanha dividiu-se entre os partidár ios do Padre (Monsenhor Walfr edo Gur gel) e do Vel ho (Sena dor Dinarte Ma - riz), quando co rreligionári os de um e de outro lado se

tocavam, e soltavam gritos: / fÉ o Velho!", ou então: / f É

o Padr

e!".

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Mas, o Velho Flávio era a dotado p or amigos e inimigos, ou, para sermo s mais precisos, Flávio Rib ei- ro Coutinho não tinh a inimigos.

Todos eram, pa ra ele, de uma só fanúlia, a sua, e . isto lhe ba stava.

Por out ro lado , o número de amigos mais ch ega- dos, conselheiros d e todas as hor as, era imenso.

Lembro-me d e José Mário P orto e seus irmão s (Giacomo e Franci sco); de Br az Baracuhy; de Eugênio Monteiro Carneiro, Osw aldo Trigueiro, João Medei- ros, Osório Abath, Newton L acerda, Argemiro.

Tinham também out ros, mais s imples, mas me- recedores de estim a, entr e eles, José lnácio (lavr ador de cana em Santa Rita, e "Capitão", na boca do po vo); Nabuco (sexagenário corr etor, paupérrimo, que n as- ceu industrial de algodão, emSou sa) e Braguinha . Este último muito par ecido com Gr egór io, o Anjo Negro do Presid ente Getúli o Vargas.

Além de super -armado e pr onto para qua lquer necessidade, Braguinha cont ava anedotas e levava at é o Chefe o di sse-me-disse das ruas e do Ponto de C em Réis.

O grande rep ertório das piadas de Braguinha é conservado, de co r e sa lteado, por Everaldo Cant ali- ce, resident e em Santa Rit a, à Rua Juarez Tá vora, e funcionário da Ass embléia Legislativa.

Na verdade, ao contrário do que se pode imagi- nar, o V elho Fl ávio gostava d e criar a nedotas, ouvir graças e de se divertir.

Uma de suas pilh érias já usei no li vro "Poder, alegria dos homen s", que repito agora:

Pedia, a um c ompadre, em 19 45, o vo to para o Brigadeiro , candid ato a Presidê ncia da República.

O amigo retrucou: Mas, compa dre, dizem que este homem é capado.

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, ,

, J

É pecado ser parente dos Santos?

Uma das acusaçõe s a Flávio Rib eiro Coutinh o era a de ser net o, bisneto de cristã os-novos. Ou isso era o que dizia Ademar Vida! .

Quem era Ademar Vidal? Era auxiliar de p rimeiro time do Preside nte João

Pessoa, e seu biógraf o. Genro do usin eiro Gentil Lin s, ou seja, um d os

nossos, dos meus, ma is precisament e. Era usineiro (como eu). Foi m al sucedido. O so -

gro fa liu, mas Ademar fez-se marajá e é autor de qua- se cem livros . Viveu na boa vida d e alto funcionári o público.

Cascavi lhou a vida do desafet o, ou seja, de Fl á- via. Nada encontrou de mórbido ou algo parecid o. Se os houvesse, teria armado um circo e rodad o a baiana.

Mas , mesmo assim, não quis entregar os pontos, e gritou pe las estradas da vida:

- Flávio é judeu, cristão-novo, marrano. Inquisi- ção nele!

Pois bem: que fosse . Qual o mal, e que vergonha há? Ser parente dos santos do P rimeiro Te stamento

é pecado? Mas , o que hoj e é até moti vo de orgulho, não o

era na época . Na Europa, o anti-semitismo andava solto. Na Alemanh a, se prendi a, se tomava os bens, se

torturava e, por fim, queima va-se judeu (ou quem ti- vesse uma gota de sangue semita), sem dó nem pie - dade .

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A Alemanha de Hitler submeteu quase todo con- tinente. Havia até quem quisesse esse regime no Brasi l. Na melhor das hipó teses, acusar a lguém de ju- daísmo era hu mor negro .

Flávio nunca respondeu, negando o u confirman- do, essa versão .

Até hoje, tenho minhas dúvidas . Em Amsterdã, existe a Sinagoga Israe lita-Portu-

guesa, cujo rabino é Me ndes Co utinho. Será ou não será uma ponta de ice berg que deve

ser melhor estu dada pelos genea logis tas? As feições , os traços físicos de tod os os se us fa-

miliares podem comprovar a versão . Como político, seu ú nico defei to seria es te? Não

haveria outro? Então, ótimo: a causa está ganha. Ser judeu, ou descen dente de judeu, não é, não

pode ser apontado como defeito de ninguém. Antes pe lo contrário.

Uma loucura q ue valeu a pena

Há quatro décadas, toda assistênc ia médica, em Santa Rita, era quase nada.

O melhor mesmo era pegar a " sopa" (ônibus) ou carona em qualquer automóve l, e vir se receitar o u se operar com Osório Abath , no Hospital São Cristóvão (hoje, o nome cer to é Newton Lacerda ).

Quando a dor era peq uena, passag eira, o doente ia à farmácia de Azevedo (pai de Walte r Azeve do), de Odon Leite (pai de Clodomir, depois deputado fede- ral por Pernambuco) , ou na de Seu Zezé (verea dor

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José Vitalino C arvalho R ocha) , e pronto. Esses três farmacêuticos só e ram superados, em

bom atendime nto e c ompetência, po r um colega de Araruna, o p ai de Humberto Fonseca .

Com tudo i sso, Flávio Ribeiro Coutinho impli- cava.

Achava pouco . Queri a a cidade que adotar a como sua um mo-

delo, coisa de primeiro mundo. Decidiu, então , construir um hospital .· A idéia de ver o nosocômio funcionando lhe ti -

rava o sono. Aliás, era este o maior problema dos seus últi-

mos anos de vida . Por que se preocupar com outra coisa? A Usina S anta Rita ia muito bem, com um ge- .

rente que não tinha defeito. Na balança, estava Ces- lau Gadelh a, com o qual n ão havia dúvida de peso, nem pra mai s, nem pra menos.

A política, seu eterno passatempo, dava para ir tocando.

Desafiara um Presidente, em 1930, perdera seu mandato de Deputado Federal .

Mas, mal de muitos consolo é . Quem esta va sentado na cadeira de Senador pelo

Estado do Rio Parahyba do Norte? José Gaud êncio, em quem votara, um líder do

seu pa rtido, ou o outro. Ou Manuel Tavares Caval- canti, homem de Alagoa Nova, autor de um livro fá- cil, de nome difícil - "Epítome" .

Quem? Qu al dos dois? Pois vejam: nenhum . Vitor iosos, os liberais fecharam o Congresso por

quatro ano s.

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Todos perderam . E ele fora procurado, em casa, na Usina San ta

Rita (ex-Cumbe) pelo Governador Arg emiro Figuei- redo, e voltara a s er ouvido e consultado, a e leger pre- feitos do município e da região.

O primeiro Interventor , ainda imat uro, chegara a suprimir a emancipação de Santa Rita, com o fim de hospi talizá-lo.

Argemiro reabili tara o município, com Pre feitu- ra própria e e leições, voto secreto e v oto femi nino, dando-lh e muito m ais prestígio do que no tempo das atas falsas, dos votos de cabresto, nos quais nunca fora tão bom quanto os bacharéis e os b urocratas .

Mas, no Bras il, nada dura muito tempo. Tudo é efêmero.

As coisas são passageiras . Veio 1935, com os comunistas a meaçando botar

fogo em tudo. Vieram os in tegralistas prome tendo pintar de

verde tudo o q ue era canto da terra, gara ntindo (dizi- am) a verdade única, a fé única, a raça única, e a cor única.

A Interventoria de Ruy Carneiro era branda e conciliadora, sem perseguição a ninguém.

Até José Pereira, do qual não se ouvia falar, há cinco anos, vol tou para sua casa, sua terra , para cui- dar de sua fa mília.

Mas, dia e noi te, vinha aquele mesmo son ho: A Casa de Saúde, o Hospita l, o seu povo, seus

empregados e se us compadres, todos sem assistên cia médica.

Como fazer para ajudá-los? Mas, o tempo de guerra, em termos econômicos,

foi uma paz.

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, \

Nunca o comércio , a indústria e a agricultura saíram-se tão bem.

Doutor Get úlio não e ra perrep ista, era um pai para os pobres.

E para os ricos ? Uma verdadeira mãe . Doutor Flá vio (é melhor chamá-lo assim, pois

assim era como o povo o chamava) pensava dessa for- ma.

Um dia, se decidiu: ir ia ser sua luta para o que desse e viesse:

Construir um Hospital novo, grande, para caber todo o seu povo, e o médico-chefe seria seu filho, João .

Chamou João Crisóstomo e foi claro: - Olha, eu faço um hospital em um ano e, se qui-

ser, em seis meses. Se é loucura, vale a pena. Em en - crenca maior já me meti e minha protetora, a Santa, me livrou . Vou construir sozinho essa ca sa de saúde, ainda que tenha de vender para o açougue de Zé Duré o último boi de Jatobá . Mas, para fazer um filho mé- dico, pa ssam-se cinco anos . Você vai (não me respon- da) fazer vestibula r no Recife, vai se formar, e eu vou construindo o hospit al devagar, comprando os equi- pamentos e inst rumentos cirúrgicos. Quando menos se esperar, vou fazer uma festa só para comemorar sua formatura e a inauguração do hospital . Quem for vivo, verá .

Mas, Deus não quis assim . João Crisóstomo fez vestibular, foi aprovado , e

os pedreiros começaram a edificar o hospital no Papo da Coruja, era assim que se chamava o sítio de sua propri edade, e onde está, hoje, instalado, o Hospital Governador Flávio Ribeiro Coutinho, nome que foi colocado após sua morte.

Mas, Doutor Fl ávio não era Deus.

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Era apenas filho de Deus e correligionário de al- guns santos graduados e superiores hierárquicos na Corte Ce lestial .

O seu tempo, na vida material, estava escrito no Grande Livro do Destino.

O tempo ia passando, os dias correndo ligeiro, morrendo uns, nascendo outros, mas todos envelhe- cendo.

Os santos de seu partido tentando, por todos os meios, parar o tempo. Queriam, mais do que o velho Flávio, a obra construí da e distribuindo saúde ao po - vão.

Aí foi a vez de Santa Rita, Santana, de todos aque -

les santos primitivos, que tinham pelo Doutor Flávio um carinho especial, eram judeus (como ele), como era também judeu o próprio São José Carpinteiro, e Nossa Senhora da Conceição, todos interferindo .

Val ia o espírito de corpo, a solidriedade de sem- pre.

Foram a Deus (claro que a toda hora chegam ca - sos desses para Jeová resolver , ou Ele morreria de té - dio), e leram o Relatório.

Os santos anti-semitas ficaram amuados, de cara fechada . Santo Agostinho resmungou pelos cantos, e São Tomas Morus, inglês e intelectual, ia, mais uma vez, armando das suas, como já fizera na Corte do Rei Henrique VIII .

Mas, aí, Santa Joana D' Arc, camponesa, francesa (por isso mesmo vive arengando com os santos ingle- ses) se meteu no meio e ameaçou o autor de" A Uto- pia" com sua afiada espada.

No Céu, ninguém sente dor, mas que a espada corta , isso é verdade.

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, ,

Aí, viu -se uma ONU dentro do Céu, com a ju - daizada cristã enfrentando os europeus refinados .

Bem, isso já é conversa para quem já morreu, ou ouve os que já morreram (que é o meu caso e o de Hélio Zenaide ).

Mas, tudo se resolveu, com o seguinte veredicto: a paz volta ao Céu (onde só há briga para se sentir as delícias de se fazer as pazes).

Doutor Flávio não teria um dia a mais e um d ia a menos de vida.

Mas, nos últimos anos, ele seria contemplado com

o Governo do Estado do Rio Parahyba do Norte que, no fundo de sua a lma, era seu dese jo.

E o seu filho se formaria em Medicina quando a construção do hospital fosse conclu ída.

Dois ou três anos depois, Flávio, já no Governo, é acometido de um A Vc , licencia -se e depois renun - cia.

Com a morte do pai, João Crisóstomo tem de fi - car à frente da empresa, retorna à Paraíba, e fecha a matrícula na Universidade.

O preço do açúcar cai, no mercado, a construção do hospital pára .

Mas, para os fortes, não há derrota . Hoje , vejamos o placar final: a direção da Usina

Santa Rita (filhos de Flávio e Berenice ) doam o edifí- cio quase concluído a uma instituição filantrópica da Holanda, dirigida por Irmãs de Caridade, papistas, para finalizarem o prédio e colocarem o hospita l em funcionamento, servindo a pobres e ricos.

João Crisóstomo retornou à sala de aula, trocan - do a Faculdade de Medicina de Recife pela de João Pessoa, e pega o canudo de pape l que o torna Médico até o fim dos seus dias.

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Flávio Ribeiro e a Primeira República

À primeira vista, Flávio Ribeiro Coutinho pode ser considerado um político santaritense, com muita honra para este município.

Mas, a rigor, nasceu em Gurinhém, na Fazenda "Chaves" que, à época, pertencia ao município de Pi- lar, um dos mais antigos do Estado, que já existia, quan-

do éramos apenas Capitania: surgiu como aldearnen- to de indígenas catequizados pelos inacianos da Com - panhia de [esus."

Formando-se em Medicina, em Salvador (Bahia), voltou à terra e depois se estabeleceu no Pará, viven - do o Ciclo da Borracha.

Demorou pouco tempo e retornou à Paraíba, onde abriu consultório médico em ltabaiana. Deve ter sido o primeiro médico residindo na próspera cidade. Tudo isso na Primeira República .

Trocou ltabaiana por Santa Rita, ao se tornar só- cio da Usina São João e, logo após, proprietário da Usina Cumbe, a qual pertencia ao Tenente Costa Aze- vedo, pernambucano que retornou à terra natal, onde passa a dirigir a Usina Catende, o maior parque açú-

careiro daqueles tempos . Mas, durante a Primeira República, Flávio Ribeiro

assume a atividade política e está na contra-mão da História, quando ocorre a Revolução de 1930, tudo indicando que chega ao fim sua carreira política, sa- bendo-se como ficaram os perrep istas.

Em recente entrevista, o escritor Celso Furtado, testemunha de tudo o que ocorreu no Estado do Rio Parahyba do Norte, naqueles dias, ainda que menor impúbere, disse que a restrição aos perrepistas durou

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vinte anos . Quando falava em restrição, na verdade, Furta-

do queria dizer vingança, exclusão. Pois bem, Flávio foi surpreendido (poderiam di-

zer seus adversários) com a implantação do voto se- creto e do voto feminino.

Em 1933, não disputou nenhum mandato, mas seu grupo político sim . Elegeu-se o Deputdo Adalber- to Ribeiro; todos os prefeitos de Santa Rita, Espírito Santo e Sapé eram seus aliados.

A região da Várzea constituía perto de 10 por cento do Estado . Pois Santa Rita começava nas mar- gens do Rio Sanhauá e ia ao oceano.

Em outras palavras, faziam parte de seu territó - rio os distritos de Barreiras e Lucena, hoje municípi - os. Sendo que Barreiras, no fim da última guerra, tro - cou de nome, passando a chamar -se Bayeux, em ho - menagem à primeira cidade francesa localizada nas imediações do Canal da Mancha, libertada pelas tro- pas aliadas.

Já Espírito Santo," cortado pelo Rio Paraíba, fa- zia fronteira com Pernambuco, pois integrava-o Pe- dras de Fogo, indo até perto de Pilar . São Miguel de Taipú era, igualmente, território de Espírito Santo.

E Sapé? Chegava às terras do então município de Guarabira. Era solo sapeense Araçá, mais tarde re- batizado de Mari, e igualmente emancipado. Tudo sob a orientação de Flávio Ribeiro Coutinho. Para tanto, não aderiu, mas se aliou, somando todas as forças políticas do Estado à pacificação pro- posta por José Américo .

Quase tudo dava certo pois, pela segunda vez no século, um paraibano chegou a disputar a Presi- dência da República.

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Mais do que perrepista, Flávio Ribeiro era parai- bano.

O voto secreto e feminino o favoreceu. . Nada dependia mais do chefe político, da políti- ca palaciana, da indiferença à opção popular, das atas adulteradas, da imprensa arrolhada.

Como era de excelente visual, bonito (mesmo já em idade avançada), ficava mais fácil se fazer aceito no meio feminino.

Quem freqüenta o auditório do IHGP, em João Pessoa, observe a galeria dos ex-Governadores (Presi- dentes) paraibanos, onde os retratos de dois deles se sobressaem neste campo: são F lávio Ribeiro Coutin ho e Oswaldo Trigueiro.

Parecem até confirmar o grito dos comícios ude - nistas: .

C?swaldo Trigueiro E bonito e é solteiro.

Associação Comercial: A vanguarda em defesa dos produtores

A atuação da Associação Comercial da Paraíba j~ foi decisiva na formação da opinião pública, parti- cipando de tudo que dissesse respeito ao Estado .

Foram da maior expressão os presidentes da en- tidade que, para alguns, era considerada apenas por- ta-voz das classes conservadoras.

Na rea lidade, era a vanguarda em defesa da Pa- raíba.

Na galeria de seus ex-Presidentes, encontram-se nomes de expressão, como: Brito Lira, ex-dono da Usi- na Cumbe e da Fábrica Tibiry; Artur Achiles, mais jor-

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nalista do que qualquer outra coisa, diretor de "O Co- mércio"; Manoel Castro, o maior comerciante de en- tão que, infelizmente, faliu, e se retirou da Paraíba para o Rio de Janeiro; Manoel Londres, farmacêutico e avô dos médicos Jacinto e João Medeiros Filho; Izi- dro Gomes, também advogado e político; Virgínio Veloso Borges; Hermenegildo Di Láscio, italiano, na- turalizado brasileiro, construtor e arquiteto. Entre outros.

Em 1937, Flávio Ribeiro Coutinho foi eleito seu Presidente .

Em 1939, quando o Governo Argemiro Figueire - do era combatido por gregos e troianos, a reeleição de Presidente da Associação Comercial foi acirrada .

Flávio obteve 84 votos, e seu opositor, João Amo- rim, 16 .

Quem era João Amorim? Foi dono da Fábrica de Cigarros que funcionava

na Cidade Baixa, no prédio ocupado, hoje, pela Pre- feitura Municipal de João Pessoa, perto das ruas Gama e MeIo e Cardo so Vieira .

Diga-se de passagem: foram criminosas as refor - mas realizadas nesse edifício, em 1956, que perdeu sua fachada de características Art-Decor.

Hoje, não é mais nada, apenas um marco histó- rico mutilado.

Mas, só se perpetrou esse crime anos depois do desaparecimento de João Amorim. Bem, isso é outra estória.

A fábrica produzia cigarros para as classes me- nos favorecidas, destacando -se os das marcas "Popu - lar" e "Deliciosos" .

Terminou sendo sufocada pela Souza Cruz, que dominava 98 por cento da indústria tabagista nacional.

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Enquanto viveu, João Amorimfazia política e era ligado ao Senador Epitacinho, tendo hospedado, di - versas vezes, o líder maior do PTB, Getúlio Vargas, em sua casa, na Praça Castro Pinto, imediações da Av. João Machado.

Passava o dia vendo suas operárias, enrolando cigarros (todo o trabalho era semi-artesanal), ou to- mando cafezinho na esquina, em companhia do De- putado Antonio Pereira de Almeida, falando sobre o Chefe Nacional, ou o Patrão, como o chamava Alzira Vargas."

Em 1939/1940, conspirou, em companh ia de Hermano Sá, JOSé Leal e outros, a derrubada de Arge- miro, o que foi conseguido.

Isto, porém, não obstaculou que, em 1947, esse grupo se aliasse ao Interventor deposto para eleger Oswaldo Trigueiro para Governador, e Epitacinho, para suplente de Senador. Tudo com a participação e aprovação de Flávio. Tanto assim que Epitacinho foi suplente de Adal- berto Ribeiro (eleito para o Senado no ano anterior ).

A comemoração do pacto realizou-se com um jantar opíparo, na casa da Rua das Trincheiras, onde o velho Flávio residia .

João Amorim era tio de Ieda Regis (filha de José Régis) que, em 1948, casou-se com Cassiano Ribeiro Coutinho, sobrinho do velho Flávio.

Como estou sempre repetindo: brigas, empur- rões, desaforos, não eram o forte da maneira de Flá- vio, e de muitos paraibanos, fazerem política (nem todos, infelizmente) .

Já havia quem considerasse a Política uma arte de povos civilizados.

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Porta-voz do Comércio, Indústria e Agropecuária

À frente da Associação Comercial (1939 /1941), Flávio Ribeiro Coutinho ocupou todos os espaços para proteger o Comércio, a Indústria e a Agropecuária da Paraíba.

Interpretou o que pensavam as classes produto- ras prejudicadas pelos concorrentes de Recife e Natal, que gozavam do direito a fretes mais baratos no em- barque de seus produtos (algodão, principalmente) nos navios .

Aliás, a nossa cotonicultura viveu seus melhores dias, exportando para a Alemanha .

Mas, inesperadamente, o Governo Federa l im- pediu a aquisição dessa fibra pelo Governo alemão. Tudo para atender aos Estados Unidos, já às vésperas da Segunda Guerra Mundial .

Mesmo assim, a Associação Comercial da Paraí- ba procurou o Governo Federal, na tentativa de en- contrar uma saída honrosa para a crise . Em outras palavras: em parte, bancamos a guerra. Defendeu, ainda, os produtores de vinho de caju e jenipapo que, de uma hora para outra, viram-se a braços com uma taxação excessiva.

O pleito da entidade (dirigida por Flávio) foi atendido, permitindo a produção de vinhos tradicio - nais, como os da firma Tito Silva, fábrica locali zada à Rua da Areia .

Ele lu tou, também, para trazer até o Es tado do Rio Parahyba do Norte, o cabo submarino, na época , o mais avançado meio de comunicação, sem o qual as firmas exportadoras de algodão, couros, etc., não teri - am competitividade no mercado internacional .

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Uma perseguição que durou vinte anos

Apuradas as urnas do pleito de 1945, após a que- da do Estado Novo, nossa terra elegeu dois Senado- res: Adalberto RodriguesRibeiroe Vergnaud Wanderley.

Eram os primeiros senadores eleitos pelo voto secreto, em toda nossa História, e com concorrentes.

Como se sabe, o voto secreto foi implantado nas

eleições de 1933, as primeiras após a Revolução (?) de 1930.

Caí em erro no que dizer? Não, pois no Estado do Rio Parahyba do Norte, nos anos 30, nenhum polí-

tico concorreu ao Senado Federal pela Oposição. Ou porque o candidato José Américo tinha a

unanimidade dos paraibanos que o julgavam herdei- ro natural para ser Presidente da República (de fato, foi candidato em 1937, mas o golpe o tirou do páreo),

ou porque deu certo o acordo entre os ex-aliancistas e

ex-perrepistas, todos unidos por Argemiro Figueire- do. Foi tudo na base do conchavo.

Tubo bem. Mas, voltemos aos Senadores Adalberto Ribeiro

e W anderley. O segundo foi nomeado, em 1940, Prefeito de

Campina Grande, e fez uma administração Nota 10, abrindo ruas, desapropriando casas que obstaculavam

o trânsito. Deu uma feição moderna à cidade.

Tudo na marra, muito próprio para um delega- do de ditadura.

Mas, para surpresa de todos, quando José Amé- rico concedeu ao jornalista Carlos Lacerda a famosa entrevista, lançando a candidatura do Brigadeiro

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Eduardo Gomes à Presidência, o primeiro telegrama

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de aplausos que recebeu foi do Prefeito de Campina Grande, o citado Wanderley .

. Após isso, não havia mais clima de permanecer como homem de confiança de Ruy Carneiro, que re- presentava aqui o Estado Novo.

Entregou o cargo e foi para casa. É óbvio que a UDN recém-fundada no Estado

por José Américo e Argemiro, ficou com uma dívida moral para com Wanderley, que por isso mesmo foi lançado candidato a Senador .

Mas, a campanha, ao contrário das maiorias rea-

lizadas até então, (quase unanimidades) na disputa pelo Senado, teve luta.

O PSD, de Ruy Carneiro, partido dos interven- tores, lançou os nomes de José Pereira Lira e Antonio

Guedes, secretário da Interventoria, advogado e filho de Guarabira.

Pereira Lira foi o outro candidato pessedista ao Senado. Foi luta dura, disputada, o que não era hábito. Mas, voltemos a Adalberto Ribeiro, natural do vizinho Estado de Pernambuco, onde também estu- dou e formou-se em Direito, sendo companheiro de

turma do paraibano Augusto dos Anjos.

Não tinha pad

rinho forte. Por isso mesmo, não o contemplaram com ne-

nhuma sinecura, de marajá ou membro do Tribunal de Contas.

Adalberto, ainda muito moço, namorou, noivou e casou-se com Otaviana Ribeiro Coutinho, filha do Major João Ribeiro da Silva Coutinho.

Logo de saída, ocorreu uma coincidência de no- mes: ambos eram Ribeiros, ainda que não fossem pa- rentes, coincidência que ora ajudava ora prejudicava.

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Adalberto veio para o nosso meio e terminou como a maioria dos seus cunhados.

Fundou a Usina "Espírito Santo", a três quilô- metros da cidade de Cruz do Espírito Santo , bem per - to da linha férrea e da estação d e trem.

Isto era da maior importância, numa época em que o transporte rodoviá rio ainda estava engat inhando .

Ele era também engenheiro prático e fez o que pôde para conseguir sucesso na empresa sucro -alcoo- leira qu e montara.

Lutou durante mais de dez anos, de 1912 a 1932 , mas terminou vendendo a usina à vizinha "São João", de seu cunhado João Úrsulo e, hoje, só restam ruínas da casa grande e do prédio onde se fabr icava o açúcar .

O bueiro es tá de pé, protestando contra o aba n- dono a que foi r elegado .

Mas, alguma coisa resiste ao tempo? A capela, pequeno monumento, onde sempre há

missa e freqüentes novenas aos santos prestigiados pelos devotos: São João, Santo Antoni o, São Pedro e Santana.

Sua filha, Maria de Lourdes, com 91 an os, está passando uma t emporada com sua irmã, Nazaré Aba th,

viúva do uro logista Osório Abath e pai do também urologista Aba th Filho, conhe cido pe los mais próxi- mos como Osor inho.

Adalberto, deixando a vida privada, foi eleito, em 1933, Deputado Estadual, e deu con ta do recado, votando com as propostas enviadas por Argemiro Fi - gueiredo à Assembléia Legislativa, de fendendo-o de acusações levianas .

Representava, politicamente, a família da mu- lher, a qual fizera sua . Tornou-se um irmão para os cunha dos.

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Em 1945, c omo já disse, foi eleito Senador. . A essa altura, perrepistas e liberais já conviviam

em paz, e foi suplente de Adalberto, perrepista, o fi- lho do Presidente João Pessoa , o irrequieto Epitacinho.

Também conc orreram, neste pleito, dois candi- datos registra dos pelo PCB: o advogado João Santa Cruz e Carlos Prestes, qu e obtiveram pequena votação.

A Bancada de Princeza

Reconheci, no lançamento de uma plaquete so- bre Manuel Tavares Cavalcanti, que os adversários do autor de "Epítome" foram chamados, com justa ra- zão, de Deputados de Princeza pela irreverência po - pular.

Foram os po líticos Perrepistas, que se julgavam com direitos rigorosame nte iguais aos que se fi liaram à Aliança Liberal. Pretendiam mu ito.

Ao que se pode deduzir, os pessoístas, a liancis - tas, ou qualquer nome que eles tenham - e seus segu i- dores - chegaram ao fanatismo de estranha r a pre- sença, na pugn a eleitoral de março de 193 0, de outra chapa, dando opç ão ao eleitor de votar em o utro can - didato que n ão fossem a queles a pontados pe lo tio e pelo sobrinho que mandavam no Estado do Rio Pa - rahyba do Norte, há quinze anos.

É bem verdade que, no papel , qualquer eleitor poderia se candidatar a qualquer cargo. No pa pel...

Na eleição de 1930, mulher ou homem an alfabe- to eram r igorosament e iguais frente à legislação elei - toral: impedidos de votarem e sere m votados".

1930 foi, de qua lquer forma, um ano que come- çou diferente .

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Os Presidentes de Estado (Governadores ) nunca tinham problemas com eleitores ou com político s dis- sidentes .

Solon, Camilo, Suassuna e outros não enfrenta- ram uma luta, uma campanha propriamente dita.

Foram eleitos como candidatos únicos e, duran- te o mandato ou na sua sucessão, tudo era céu de bri- gadeiro. Para eles, claro.

Já em 1930 foi outra coisa. Um grupo de políticos oriundo de diferentes seg-

mentos ou vertente somou-se, apoiando-se mutua- mente, e se lançaram numa aventura.

Contrariaram o Pres idente do Estado . Pagaram caro pela ousadia .

Este contava, logo de saída, com todos os Prefei- tos e os Delegados de Polícia.

Sim, porque os Prefeitos eram nomeados e, a um simples sinal de independência, seriam demitidos e perseguidos.

Com tudo isso, porém, homens como João Suas- suna, Flávio Ribeiro Coutinho, Acácio Figueiredo, Oscar Soares e José Gaudêncio botaram o time em campo.

Foi coragem para dar e emprestar. Mas, vamos aos deta lhes: quem eram os aliados

de Flávio Ribeiro Coutinho? João Suassuna, advogado, orador brilhante, De-

putado Federal e ex -Presidente do Estado. Casado com Dona Rita Vilar Suassuna, teve filhos, entre os quais o médico João Suassuna Filho, o pediatra Marcos, o uro- logista Saulo, e o advogado Lucas, que foi de todos o único a d isputar eleição. Foi eleito Deputado Estadu- al e tinha raízes em Taperoá . Para concluir, Ariano, o autor de "Auto da C ompadecida ", e outras peças de

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teatro famosas . Como se vê , não era o tipo de coronel como o pintaram ou pintam até hoje.

Outro alidao seu era Acácio Figueiredo, advoga- do com escritório em Campina Grande, que viveu do exercício da profissão. Não voltou a disputar qualquer pleito. Como podia ser coronel, se viveu de uma pro- fissão liberal? Tinha, é verdade, uma pequena propri- edade, quase um sítio para recreio, como hoje o Presi- dente FHC tem, e nem por isso é considerado propri - etário rural .

Oscar Soares viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro . Fundou, no Estado do Rio Parahyba do Norte, o jornal "O Norte", e é tio-avô do roman- cista J ô Soares. Como era coronel, ou "coroné" na boca do povo?

A chapa situacionista tinha raízes rurais bem mais fortes.

Para o Senado, por exemplo, a disputa era entre José Gaudêncio e Manuel Tavares Cavalcanti.

Um e outro eram filhos de fazendeiros, sendo que Manuel Tavares foi herdeiro do Engenho "Geral- do", terra mais fértil e mais valorizada que q ualquer fazenda do Cariri, área de influência da famí lia Gau- dêncio, que ainda hoje faz política.

Acácio Figueiredo era irmão do Deputado Esta - dual Argemiro Figueiredo, anos após, eleito Gover - nador pela Assembléia Legislativa, e permanece como Interventor, após o Golpe do Estado Novo, em 1937 .

Em 1930, Argerniro e o irmão citado se separam politicamente e Argerniro, hábil como sempre foi, fi- cou ao lado do Of icialismo Estadual, deixando o cam - po da aventura e do Quixotismo ao irmão Acácio.

Mas, por que Bancada de Princeza? Porque, como não havia nenhum respeito ao

voto, não havia, também, qualquer respeito à ver da-

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de das urnas, pois, além da apuração, havia o terceiro turno, ou seja, o reconhecimento ou não dos parla - mentares que compunham a Câmara e o Senado.

E a Comissão da Câmara dos Deputados depu- rou os candidatos pessoístas, elegendo a chapa da Oposição.

Mas, essa Comissão não foi uma invenção de úl- tima hora.

Existia há décadas . Neste estranho colégio eleitoral, foi vitoriosa a

bancada oposicionista, da qual Flávio fazia parte . Eram as regras do jogo. Todos as aceitavam, contanto que ganhassem as

eleições. Princeza, o município liderado pelo Deputado

José Pereira, se rebelara, s e separara, se constituíra em Território Livre, aprov eitando-se de fazer fronteira com outro Estado, no caso, P ernambuco.

Então, os Deputados que não eram pessoístas, ficaram chamados de Deputados de Princeza.

O último Deputado p errepista foi Artur dos Anjos. Quem era este senhor? Podem me perguntar os

mais jovens? Respondo-lhes de forma definitiva: Tratava-se do irmão d o poeta Augusto dos Anjos. Nasceram em berço d e ouro, herdeiros do Enge-

nho Pau D' Arco, mas foram vitimados pela falência da família .

Ficaram de mãos vazia s, Foram rebaixados à cl asse média. Antes da quebradeira do Pau D' Arco, concluí-

ram o curso superior Augusto, Artu r, Odilon, e todos os Anjos jovens.

A chapa não fazia ver gonha a quem quer que seja.

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A Bancada de Princeza tinha gabarito para re- presentar qualquer cidade do mundo.

Todos tinham diplomas de Cursos Superiores. Não eram nem comubembes nem deputados da mala comprando votos ou editando calendários às custas do Senado.

O nível era, portanto, superior ao dos nossos atuais parlamentares .

Militância política e coragem

Uma militância política não se faz apenas quan- do se é candidato ou se exerc e um mandato.

Foi assim com o Doutor Flávio Ribeiro Coutinho que participou, de 1934 a 1937, da política, sem dispu- tar nada .

O ex-Governador Trigueiro, em recente trabalho, destaca o empenho do Doutor Flávio na campanha de José Américo, candidato à Presidência da Repú- blica.

Fez o que pôde, se deslocando ao Rio, levando ajuda financeira necessária à campanha".

Ficou ao lado de Argemiro, quando se iniciaram os ataques dos descontentes com a atuação deste Go- verno, e, nas últimas horas, foi ao Palácio - distante 300 metros de sua residência - enfrentar a malta que ameaçava invadir e depor Argemiro, ou mesmo agre- di-lo fisicamente.

Foram horas difíceis. Mas, com coragem e pru- dência, a crise foi contornada.

Nada impediu que, em 1947, recebesse em sua casa Epitacinho, e celebrasse um acordo político em torno do nome de Oswaldo Tri~ueiro para Governa-

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dor, contemplando como Suplente do Senador Adal- berto Ribeiro, o filho de João Pessoa, assegurando, ain - da, a presença de Getúlio Vargas nos comícios nas duas

principais cidades do Estado: a Capital e Campina Grande.

Sempre pertenceu a um só partido, mas suas bri- gas com os adversários eram pequenas, não passando de divergências políticas, o que permitiu, em 1955, que saísse candidato a Governador indicado pelos parti- dos mais fortes.

Não teve contra seu nome nenhum veto de al- gum Deputado Federal ou Senador.

Mas, na Assembléia Legislativa, o Deputado He- raldo Gadelha, do PSB, apoiou o advogado Renato Bastos, candidato a Governador pela esquerda.

o voto secreto mudou o rosto do Brasil

A implantação do voto secreto mudou a paisa- gem política do Brasil .

Assim, ninguém podia mais ser senhor de bara- ço e cutelo, dono do presente e do futuro de um mu- nicípio ou de uma região.

O povo ocupou um espaço bem maior no cená- rio e palco das decisões.

Flávio Ribeiro Coutinho aceitou as novas regras e, por incrível que pareça, foi beneficiado por elas. Mas, teve concorrentes e adversários políticos. Abiatar Vasconcelos (PTB), Arnaldo Bonifácio (PTB), Diógenes Chianca (PSD) e Heraldo Gadelha (PSB) foram lideranças que coexistiram com a sua, e não vejo razão para omitir esses nomes.

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Todos jogaram às claras, sem cartas marcadas e sem jogo sujo.

Em Santa Rita, nunca ocorreu briga de foice no escuro, assassinatos ou espancamentos nas campanhas eleitorais, ainda que todas foram disputadas e, em al- gumas, o candidato apoiado por Flávio tenha perdi- do.

E daí? Aceitavam-se todas as vertentes, e as regras eram

claras. Considerava-se Democracia como a convivência

dos contrários . Por exemplo, em 1945, o Brigadeiro e os candi-

datos udenistas ao Senado perderam por pequenas diferenças .

Registre-se que o municípo de Santa Rita chega- va ao quintal do Palácio da Redenção.

Bayeux, distrito santaritense, e João Pessoa, ti- nham como marco divisor as águas do Rio Sanhauá.

Em outras palavras, ia-se a pé de qualquer rua da antiga Barreiras até o Ponto de Cem Réis, em meia hora.

Nos bairros, subúrbios e periferia da Capital, re - percutia o assistencialismo de Alice Carneiro, esposa do Interventor Ruy Carneiro, a qual fora a primeira Presidenta da LBA, distribuindo telhas, agasalhos, col- chões, dentaduras, fardas e outros auxílios ao povão.

Mas, já na eleição seguinte, em 1947, para a As- sembléia Constituinte (posteriormente transformada em Legislativa), Flávio Ribeiro Coutinho é eleito De- putado Estadual e primeiro Presidente da Casa.

Ser Presidente da Assembléia Legislativa equi- valia, à época, a exercer a Vice-Governadoria.

Isto permite a Flávio substituir o Governador

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Trigueiro, quando se licencia para viajar ao Rio, a tra- to de interesse do Governo.

O líder pessedista Diógenes Chianca não chega à Assembléia nos pleitos de 1950 e 1954 .

Também não consegue se eleger Prefeito em 1947, sendo suplantado pelo médico Flávio Maroja Filho, como ele também ex-Prefeito santaritense.

Diógenes Chianca participara da Aliança Libe- ral e sempre seguiu a orientação do Senador Ruy Car- neiro.

Sua relação com Santa Rita devia-se ao fato de ser proprietário da Fazenda "Guia", onde plantava coqueiros e construira currais de peixes .

A propriedade era uma das melhores do Distri- to de Lucena, que, então, também fazia parte do terri- tório santa-ritense."

Estabelecido em João Pessoa, tinha escritório de representações e atividades assemelhadas na Cidade Baixa.

Residiu à Avenida João Machado, adquirindo a casa que pertenceu a Horácio de Almeida: um sobra- do com grande quintal, ainda hoje bem conservado.

Em 1940, com a queda de Argemiro, subiu Ruy Carneiro ao Palácio da Redenção, e foram substituí- dos todos os Prefeitos, ou quase todos. .

Diógenes Chianca foi nomeado Prefeito de San- ta Rita, onde se manteve até 1945, para sermos mais precisos, até a queda do Estado Novo.

Realizou uma boa administração, destacando-se a construção do Mercado Público, na Praça Antenor Navarro. Um prédio sólido, amplo, que deu condi- ções de Santa Rita ter uma feira dominical conhecida na Grande João Pessoa.

Várias famílias da Capital iam fazer suas com-

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pras semanais (especialmente carne verde) naquela cidade.

Em 1950, ou a partir daí, aparecem Abiatar Vas- concelos e Arnaldo Bonifácio.

Não conseguindo êxito na liderança oposicionis- ta a Flávio, Diógenes Chianca foi substituído por Abi- atar Vasconcelos e Arnaldo Bonifácio.

Na verdade, nas proximidades da Capital, o dis- curso da luta de classes encontrava ressonância.

Chianca e Flávio eram proprietários rurais, e da classe alta, bem apessoados, enquanto que Bonifácio e Abiatar se identificavam mais com a classe C .

Inclusive, os dois fundaram o PTB, falando sem-

pre em Getúlio Vargas, e prestigiando os sindicatos e aCLT.

Eles não tinham nada de seu, a não ser as casas onde moravam, na Avenida Juarez Távora, centro da cidade.

Arnaldo Bonifácio fora, em 1947, eleito verea- dor e atuara segundo o modelo populista.

Em 1950, candidato à Assembléia Legislativa, foi eleito, beneficiando-se dos votos de legenda.

Neste pleito, em Santa Rita, José Américo de AI-

meida venceu Argemiro, candidato da UDN, partido do qual Flávio era Presidente do Diretório Regional .

Já em 1951, na sucessão do Prefeito Maroja Fi- lho, a UDN uniu-se ao PL (grupo Veloso Borges, dono

da Fábrica Tibiry), e lançou João Raposo Filho, tendo como Vice-Prefeito Antonio Gomes Pereira.

Vence o pleito por uma diferença de 612 votos sobre Abiatar Vasconcelos, e Diógenes Chianca fica em

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terceira colocaçãov.

Em 1954, é eleito João Crisóstomo, com menor

diferença .

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Em 1959, a UDN perde, pela primeira vez, uma eleição mun icipal em Santa Rita, para An tonio Te i- xeira de Carvalho, que tem, como V ice-Prefeito, Lou- rival Caetano, dono de padaria em Baveux".

Mas, então, Flávio já estava enfer mo, hospitali- zado no R io de Janeiro, de onde só volto u em uma urna funerária para repousar no Cemitério Sen hor da Boa Sentença, ao lado dos túmulos de seus pais , e ir- mãos.

Flávio Ribeiro e a r edemocr atizaçã o

Eleito pelos deputados da UD N (argemir istas e americ istas) Presidente da Assem bléia Legislativa, o velho Flávio Ribeiro Coutinho viu-se, também, Vice - Governador do Estado, quando houve a redemocrati- zação e foram marcadas as eleições, após a queda do Estado Novo .

À época, inexistiam os mandatos de Vice-Presi- dente da Repúb lica e Vice-Covernador!".

Estes foram criados pelas Const ituintes Federal e Estadual .

Em alguns Es tados, como Pernambuco, inexis- tia, durante mais de uma década, o mandato de Vice- Governador .

Era uma espécie de medida econ ômica, que só se justifica pe la preocupação gastante da nossa elite administrativa .

Na verdade, nas Primeiras Repú blicas, era mai- or o ônus, pois haviam 1°, 2° e 3° Vice -Presidentes nos Estados .

Mas, vol temos aos anos 40 . Flávio, como Presidente da Assembléia, coorde-

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nou a elabora ção da Constituição do Es tado do Rio Parahyba do Nort e, e assumiu, interiname nte, o Go- verno, por u m mês, quando O swaldo Trigueiro de AI- buquerque e Melo se licenciou para viajar à Capital da República, para tratar de interesses do Go verno local.

Nessa ocasião, a Pontes do Baralho sobre o R io Sanhauá ameaçava cair, o que i solaria todo o interior do Estado.

Seria o ca os sócio-eco nômico. O Governador em exe rcício, o velho Flávio, de-

cidiu recuperá -Ia no menor espaço de tempo possí- vel.

Visitava, diariamente, os trabalhos, antes de se dirigir ao Palácio da Redenção, medindo o andam en- to da obra, metro a metro.

O certo é que, antes de devolver o G overno ao titular, completou a recuperação , permitindo a volta do tráfego das " sopas", caminhões e carros de p raça pela ponte, que aind a hoje está segura e sólida, e só foi desativada quando construíram o Viaduto do 4° Centenário s obre as. águas do Sanhauá e do s trilhos do trem ".

Não por que a ponte ameaçasse ruir no vamente, mas por não te r mais condições de atender ao intenso tráfego de veículos na direção da Capital ao inte rior, e VIce-versa.

Um acordo elegante cumprido na íntegra

Argemiro e Oswaldo Trigueiro queriam, a tudo custo, fazer Flávio Ribeiro Coutinho Vice-Governador .

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Já a outra ala da UDN p leiteava o ca rgo para Vi r- gínio VeIos o Borges, empresário bem s ucedido, tam- bém or iundo de Pilar , casado com Do na Priscila Frei - re, irmã do Pa dre Matias e parenta próxi ma de José Amér ico de A lmeida.

Há, com re lação ao assunto, um fato i nteres- sante:

Virgínio era para José Américo o que F lávio re- presentava para Argemiro.

Um e ou tro eram o Número 2. Quem o bservar a política daque la época concor-

dará conosco neste ponto. Quando organizou-se a UDN , em 1945, res ulta-

do de um tratado entre chefias pol íticas, rea lizado na casa gra nde da Fábrica Tibiry (prédio ocupado, hoj e, pelo Fóru m da Comarca ), Flávio , represe ntando o ar- gemirismo , ficou na Presidência do Dire tório, e Virgí- nio Ve loso Borges, na V ice-Presidência.

Em 194 7, quase que ocorria o ro mpim ento entre argemiris tas e a mericis tas: só havia um cargo de Vice- Governador.

Recon heço que, com o argemiris mo contempla- do com a cabeça-de-cha pa, a Vice -Governadoria de- veria ser de livre i ndicação do americ ismo, e essa in- dicação recaía em Virgínio Ve loso Borges.

Não era essa a opinião de Arge miro. Houve ameaças, de parte a parte, mas, O dilon

Ribeiro Coutin ho, sobrinho do velho Fláv io, e gemo de Virgínio, co nvenceu os do is a abrirem mão, e saiu como can didato, José Targino, político de Araruna que, americista de carteira, garantiu respei tar, a todo cus - to, a decisão ma joritária, quando ocorresse a s uces- são, em 195 021.

Cumpriu a palavra.

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Em 1952, Virgínio Veloso Borges foi eleito Senad or.

Era generoso, tendo doado ao Hospital Santa Izabel , em João Pessoa, todo um pavilhão e sala cirúr- gIca.

Construiu e mante ve escola, na sua fábrica, onde se servia mere nda aos alunos ( uma inovação, naq ue- les dias), tinha banda de músic a e criava gado estabu - lado para distribuir leite aos operá rios, quando casa- dos e pai s de filhos .

Edificou uma vil a operária, colocando nas ruas nomes d e expressão nacional, como: General Osório, Oswaldo Cruz, Pedro Américo, etc. , nunca admitin- do que c olocassem seu nome nas placas, ou os nomes de seus familia res.

Mas, os maiores feitos do Senador Virgínio Velo- so Borges foram os três netos : Odilon Filho, Eduardo e Gilberto, filhos de sua f ilha Solange, casada com Odilon Ribeiro Coutinho .

Solange é, também, bisneta do Barão de Maman- guape, que governou as Províncias do Pabahyba, Ma- ranhão e Pihauy, em diferentes ocasiões .

Flávio Ribeiro e Renato Bastos: Varões de Plutarco

Estive recentemente no TRE, em João Pessoa, para apanhar o resultado das eleições de 1955, na Pa- raíba, de modo especial, nos municípios de João Pes- soa e Santa Rita.

Interessava-me saber e provar quem ganhara o pleito, com quantos vot os, e qual a dife rença .

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Como se sabe, concorriam, naquela ocasião, ao Governo, dois grandes paraibanos: Flávio Ribeiro Cou- tinho (UDN, PSD e PL) e o advogado Renato Bastos (PST, PCB, PTB). . Paraibanos, acima de tudo, os candidatos diver- giam porque eram democratas, não tendo, portanto, a obrigação de pensar da mesma maneira .

Fui atendido por Vaninha Mesquita , mãe de mi- nha afilhada Maria Helena, e esposa de Expedito Mes- quita.

Como já sabia (mas agora tenho certidão, uma prova provada), Flávio Ribeiro Coutinho, venceu nessa cidade, sendo que, na Capital, obteve o dobro de vo- tação do seu concorrente . Lembro-me que a luta da campanha foi árdua. Ao lado de Renato Bastos, se posicionava a es- querda, com Damásio Franca e Oliveira Lima, entre outros.

Ao lado de Flávio Ribeiro, os caciques de então: José Américo, Argemiro e Ruy Carneiro.

Em Santa Rita, a briga foi feia. Ao lado de Flávio Ribeiro, se colocavam João

Raposo Filho, Antonio Gomes, Antonio Teixeira ". Egí- dio Madruga fez todo trabalho de rua, de propagan- da e ornamentação de palanques .

Apoiando Renato Bastos, estavam o Deputado Heraldo Gadelha, o ex-Prefeito Diógenes Chianca, e o ex-Deputado Arnaldo Bonifácio.

Foi batalha das mais difíceis, onde pesavam as brigas locais.

A certidão do TRE é uma prova tirando qual- quer dúvida.

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o melhor Governador da Paraíba

Qual o melhor Governador da Paraíba? Todos. - É a resposta certa. Mas, quem queira porque queira me contrariar,

que leia o último livro de Oswaldo Trigueiro de Albu- querque e Melo, Galeria Paraibana, e vai chegar a uma conclusão:

O melhor Governador da Paraíba foi Flávio Ri- beiro Coutinho .

O único defeito desse homem de Estado (se isto pode ser apontado como defeito) foi ter adoecido, vi- timado por uma diabete descompensada, mal de Pa- rkson e AVe . Só foi vencido por estes três inimigos, decorrência da idade.

O Governador Flávio Ribeiro Coutinho não re- cebeu a Chefia do Executivo de mão beijada.

Não foi nomeado por quem qur que seja, nem também foi candidato único .

Ele pertence, para honra sua, à minoria de go - vernadores paraibanos filhos das urnas.

Alcançou o Palácio da Redenção após longa mi - litância político-partidária.

Na eleição de 1955, sucedendo a José Américo de Almeida, foi candidato da UDN (era Presidente do Diretório Estadual), com o apoio do PL, ou seja, do próprio José Américo e de Ruy Carneiro (PSD).

Mas, teve competidor à altura, na pessoa de Re - nato Teixeira Bastos, um dos mais destacados e atuan - tes advogados do nosso fórum, com grande clientela, registrado pelo PST e apoiado pela esquerda e pelo PCB, ainda que na clandestinidade, tinha uma mili - tância invejável .

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O próprio PS T e s eus aliado s, neste ple ito, lança- ram c andidato próprio à Prefeitura da Capit al, na pes- soa do ent ão vereador Dam ásio Barb osa Fra nca. Seu vice era o engenheiro Spi elberg (vereador) .

E Flávio Ribei ro Couti nho foi, na Capita l, o can- didato mais votado, obtendo o dob ro da votação dos demai s.

Venceu em todos os mun icípios do Estad o, in- clusive em Santa Rit a. Em igual d ata e ple ito, o acadê- mico de Medicina , João Crisóstomo, s eu filho, foi eleito

Prefeit o do cit ado município . À época , Santa Rita compreendi a Bayeux e Lu -

cena, poster iormente emancipado s. Flávio Ribeiro Coutinho deu ao seu Go verno uma

moldu ra de tolerânci a máxima. Jamais mand ou reprimir qualquer movimento

grevista ou de cont estação social . Tinha uma con vivência h armônica com as de -

mais agr emiaç ões partid árias. A pro va maio r disso é que, surgindo um a vaga

no Tribunal de Ju stiça, nomeou, com o desembarga- dor, João Santa C ruz, ju stificando seu ato po r ser o escolhid o um adv ogado brilh ante, homem sóbrio em suas atitudes, e de conh ecido saber jurídico.

Quem era João Santa C ruz? Era parente do Pro- fessor Cl áudio Sant a Cruz, em quem votei para De- putado Federal, em 1982 .

Sei que é p ouco para defini-lo. Agor a, veja a nova ge ração: João Sa nta Cruz era

chefe do PCB (P artido C omunista Brasileiro). Por este, foi eleito em 1947, Deputado Estadual, e participou da in stalação da Constituinte estadual.

Depois de se aposentar, concorreu como c andi- dato de Oposição à Prefeitura da Capita l.

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Foi professor da Faculdade de Direito da UFPb, de onde foi demitido e cassado, após o golpe militar de 64 . Mais ainda : foi preso e recolhido ao quartel do 15° RI, juntamente com outras lideranças, en tre as quais João Ribeiro Filho e Maria José Limeira .

Pode, hoje, alguém perguntar: e Doutor Flávio Ribe iro Coutinho sabia da ficha de Santa Cruz no Dops?

Sabia mais ainda, porque também foi De putado e Presi dente da Constituinte, em 1947, colega , por- tanto, de Santa Cruz . Quem vivia, naquela época, sabia de tudo. Primeiro: Santa Cruz nunca escondeu de ni n- guém sua militãncia política . Nunca foram segre dos para ninguém as suas ligações ideológi cas.

Segundo: em 193 5, quando da repressã o da In - tentona Comunista, ocorrida em Natal e Recife, João Santa Cruz foi preso e processado, pelas ligaç ões que mantinha com a A liança Libertadora Naciona l (ALN), braço do Prestismo .

O novo Desembargador editou o Jornal do Povo, e recomendo aos que queiram a verdade, nos s eus mínimos de talhes, pesquisa sobre este órgão de im- prensa, feita sob a responsabi lidade de Batistão (João Batista Bar bosa) e Oduval do Batista .

Mas, voltemos à pergunta inicial: o que f oi cons- truído, rea lizado, promovido, no Governo Fláv io Ri- beiro Coutinho?

A Saelpa, que levou energia elétrica a to das as cidades e vilas da Paraíba e, agora, à zona rur al, pro- curan do o rurícola onde ele more, para apaga r o últi- mo candeeiro. Mas, podem perguntar: a Saelpa foi obra dele? Sim. Porque surgiu da fusão da Co debro e da Eletro Cariri.

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Foi a primeira e statal destinada a estender, pel o mapa da Paraíba, energia g erada pela Chesf,utilizan- do, para tanto, as águas d o Rio São Francisco, na C a- choeira de Paulo Afon so.

Antes, havia, na Capital, a Usina termoelétrica, consumindo lenha da Ma ta Atlântica. Func ionava na Ilha do Bispo, onde o prédio ainda resiste ao tempo .

No restan te do Estado, eram motore s consumin- do óleo diesel e que trabalhavam da s 18 às 23 horas .. Era este o caso de Sap é, Cuarabira, Patos, ltabaian a, Ingá, Gurinhém, etc . .

Flávio atacou o maior problema, o desafio que ' amedrontava a todos.

Entregou a direção d~ Codebro ao Desembarga- dor Braz Baracuhy , que partiu do 'nada de um papel. Fez O que pôde e o que não pôde .

Além do capit al inicial da soci edade anônima coberto pelo Governo Estadual, .apélou para a subs - crição dê Ações Preferenciai s, fazendo ampla camp a- nha .pela imprensa daquele t empo. Mobilizou a todos.

O período ad ministrativo de Fl ávio foi .curto. Na' verdade, curtí ssimo. Licenciou ... se após pouco mais de um ano de Governo, pata tratamento de saúde.

. . Não se recuperou, ainda que se tenha hospit ali-

zado no Ho spital do servid or Público, no Rio de [ a- . '

neir o. Mas, a idéia, os alicerces, o pontapé inicial para

levar ener gia a toda parte foram de sua iniciativa. Nin- guém lhe nega o pioneirisrno .

Seu sucessor, o vice-Governador Pedr o Moreno Gondim, continuou a caminhada. Antes de quatro anos, as prime iras cidades' do interior paraibano já contavam com a luz de P aulo Afonso, libertando-se das trevas, para sempre.

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Mas o nome já era, então, Saelpa. Pedro Gondim também prosseguiu com a po lí-

tica de Flávio de emancipar distritos que integravam velhos mun icípios.

Foi o caso de Rio Tinto, antes part e de Marnan- ?uape; Belém, que per tencia a Caiçara; Cabedelo, que mtegrava o próprio município de João Pessoa, e Solá- nea, que era território bananeirense.

Como era natural, Gondim foi responsáve l pelo maior número de municípios criados em se us dois mandatos.

Governou mais de sete anos quase que i ninter- ruptos .

Mas, do primeiro amor ningué m esquece ou, para usar uma expressão popular corrente: a pr imeira impressão é a que fica .

Por isto é que não se pode esquecer este fa to: Flávio modificou, sacudiu, mexe u, deu novo co-

lorido a? mapa político do Esta do do Rio Para hyba do Norte. E óbvio que houve grandes res istências à cria- ção dos municípios então emancipados.

Brigas de foice quase iguais à da Guerra dos Mas- cates de 1710, que teve origem exatame nte na eman- cipação de Recife, que recebe u combate dos olindenses.

Guerra feia (não há guerra bo nita), com armas de fogo, espadas e mortes de parte a parte.

Ainda bem que, 250 anos após, não se chegou a tanto.

Outra marca registrada do Gover no Flávio Ri- beiro: a criação do Ginásio Estadua l de Sapé.

Antes, só a Capital e Campina Gra nde mereci- am este privil égio>.

Foi, portanto, o primeiro educandário p úblico e gratuito do interior, educando os fi lhos dos p equenos

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comerciantes e outras categorias que não podia m pa- gar pensão para os filhos cursan do o velho Liceu, em João Pessoa, ou o novo Colégio Estadua l de Campina Grande.

Mais uma vez, Pedro Gondim fez o que devia: dar continuidade a esse empenho . E mais do que ou- tro governante, edificou, em seu mandato, pré dios para ginásios estaduais no Brejo, Sertão e Cariri.

Uma prova de que sempre houve conti nuidade administrativa, independente de qual part ido, seja o governante.

A Saelpa de hoje, ou de já há algum tem po, é a maior empresa paraib ana em termos de faturamento. Ninguém pode conceb ê-Ia sem compor a paisagem administrativa de nossa t erra.

Foi abençoado o dinh eiro investi do pelo Gover- nador Flávio Ribeiro Coutinho nessa área .

Hoje, se privatizada , o saldo de sua a lienação va i permitir a construção de um grande n úmero de obras, como abastecimento d'á gua, amp liação da rede de estradas asfaltadas, de tal mo do que va i se multipli- car em termos d e difícil cá lculo aritmé tico esse gasto na edificação do que é hoje a nossa empresa de distri- buição de en ergia elétrica.

Por tudo isso, pelo muito que fez durante o tem- po curto em que ocupou o Palácio da Redenção, F lá- vio Ribeiro Coutinho s ó fez honrar o seu nome e o de sua terra .

Tolerância política

Poucos políticos foram mais tolerantes do que Flávio Ribeiro Coutinho .

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Diga-se de passagem que participou da dis puta eleitoral na Primeira e Segunda Repúblicas, ati ngin- do maior destaqu e após a implantação do voto se cre- to e do voto feminino que emolduram a Democracia .

Foi segundo Vice -Presidente, quando do quatri- ênio de João Suassuna, em 1922 . Antes, foi ele ito e exercia o mandato de Deputado Estadual .

O pai de Ar iano Suassuna (nasceu este no Palá- cio) sucedeu a Solon de Lucena e foi sucedido por João Pessoa. Faltaram concorren tes aos três .

Igual sorte t ambém est ava reservada aos seus vice-Presidentes, sendo esta a regra geral, na queles dias do século passado.

Em 1930, numa eleição d isputadíssima , foi can- didato a Deputad o Federal pela Oposição , ainda que contasse com o apoio do Presidente Washing ton Luiz.

Mas, por uma questão de distância (o Rio de Ja- neiro, então Capital da República), para ganha r a elei- ção bom mesmo era se ter o apoio do Presiden te (Go- vernador ) da Paraíba.

Principa lmente numa eleição em que o Pr esiden- te do Estado era candidato à Vice-Presidência da Re- pública, sem t er que se licenciar ou renunciar ao man dato.

Em tese, o Presidente do Estado podia demitir, a qualquer hora, prefeito de qua lquer cidade, e de lega- do de políci a".

Os candidatos ao Senado e à Câmara do s Depu- tados submetiam-s e a uma eleição com voto desco- berto, aliás, eleição falsa .

A mulher e ra proibida de exercer o dire ito de voto.

Mais ainda: e xistia, na legis lação, o re conheci- mento final, por uma Comissão da Câmara dos Depu - tados, que funcionava como terceiro turno .

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Raramente ocorriam pleitos disputados. E, quan - do houve, os dois lados se proclamaram vitoriosos .

Foi assim em 1900, quando o Desembargador José Peregrino de Araújo" concorreu como o apoio de Álvaro Machado contra João Tavares de Melo Ca- valcanti, ligado este ao ven âncio-epitacismo.

Em 1930, deu-se a mesmíssima coisa. Flávio Ribeiro, João Suassuna e Acácio Figueire -

do chegaram a exercer o mandato de par lamentares eleitos pelo terceiro turno, ou seja, com a depuração dos candidatos aliancistas.

Era a época, com seus vícios, seus defeitos e, ra - ras vezes, com suas virtudes.

Vitoriosa a Revolução, o Congresso fo i fechado e só reabriu as portas quatro anos depois, para nova- mente fechá-Ias com a implantação do Estado Novo (nome da Ditadura de Vargas).

Em 1945, foram marca das as eleições e constitu - íram-se os partidos.

Na Paraíba, os amigos de Argemiro (era o caso de Flávio Ribeiro) e de José Américo se uniram na União Democrática Nacional (UDN), lutando pe la vi- tória do Brigadeiro Eduardo Gomes.

Já os a liados do interventor Ruy Carneiro se abri- garam no Partido Socia l Democrático (PSD ) e, com o apoio de Getúlio (também fundador do PTB), e lege- ram como Presidente da República o General Eurico Gaspar Dutra.

Mas, aqui, em nossa terra, foi vitoriosa a chapa da UDN ao Senado e à Câmara dos Depu tados. F lávio não concorreu no p leito, como também de le não par - ticiparam Ruy Carneiro, José Américo.

Contou-me, há mais de dez anos, em 1982, o ex- deputado Aluízio Campos, que participou dos primei -

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ros dias da UDN, que este partido escolhera como can - didato ao Senado, Argemiro .

Este declinou do convite e confidenciou a Aluí- zio, de quem era primo, o receio de perder o pleito majoritário.

Na época, não existiam, ainda, os escritórios de pesquisa de opinião, e o populismo de Ruy Carneiro atemorizava-o.

Preferiu sair candidato à Câmara dos Deputa- dos, saindo-se como o mais votado.

Mas, convidou Aluízio a acompanhá -lo à Capi- tal, no dia seguinte . Juntos, ofereceram o lugar exata- mente a Flávio Ribeiro, do qua l Argemiro era compadre.

O convite não foi aceito. Dizia, ou diz ainda, Aluízio, que o Patriarca da

V árzea alegou seu passado perrepista. Afinal , tinham decorridos só quinze anos da tra-

gédia da Confeitaria Glória, onde João Pessoa fora as- sassinado, em Recife .

Ainda que tenha sido caso pessoal, os adversári- os iriam fazer deste fato a maior bandeira.

Depois de muita conversação, saiu como candi- dato ao Senado o ex-Deputado estadual e ex -usineiro Adalberto da Cruz Ribeiro, viúvo de Otav iana, uma das irmãs de F lávio.

O outro candidato foi Vergnaud Wanderley, ex- Prefeito de Campina Grande, apontado por José Amé- rico. Os dois foram e leitos.

Um Governo sem nepotismo

Quem não quer um Governador que não enxer - gue só os parentes?

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Hoje, salvo honrosas exceções, chefes de Estado (ou prefeitos) apend eram, repetem e praticam o r e- frão popular. Mateus, primeiro os teus. Outros dize m assim: Mateus, só os teus.

Pois bem, o Go vernador Flávio Ribeiro Coutinho foi uma honrosa exce ção.

Por estranho qu e possa p arecer a alguns, não nomeou parente s para o primeiro, segundo ou tercei- ro escalões .

Mas, no seio d a família, ningu ém era mai s esti- mado (amado, digo m elhor) do que ele.

Retribuía essa af eição de mil formas: cuidando com zelo dos negócios dos irmãos; tom ando como suas as brigas dos sobrinhos (pequ enas, graças a Deus); aju- dando a todos quando , por isso ou por aquilo, um con- tratempo caía sobre algum dos seus; nas doenças, não só era o médico, m as também o enf ermeiro, mudan- do-se para a casa do enfermo e faz endo vigília ao p é do leito.

Vivia em uma época em que , sem antibiótico, o internamento em hospital era uma temeridade .

Anos depoi s, descobriu- se o perigo da infecçã o hospitalar que, na pr imeira metade do século XX, vi- timou tanta gente.

A comunidade, p or intuição, fugia dos hospitai s, e contava-se a e stória do chá-da-meia-noite, servido aos doentes t erminai s. Claro que, em parte, era lenda. Mas, na dúvida, era melhor t ratar-se em casa.

As senhoras, inclu sive da classe mãe, pariam em casa, na cama do casal .

Mas, vol temos a Fl ávio Ribeiro Coutinho , o qual tinha o apreço de todo s que - repito - era devolvid o com igual afeto, sem , contudo, comprometer o e rário público ou d o partido.

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O clã sentia-se desp restigiado (sem, no entanto, se queixar), inviabilizando a carreira política de mui- tos dos seus .

Poderia alguém aleg ar falta de quadros. Não procede essa ale gação, e vou citar dois ou

três nomes do maior valo r que não foram convidados (mas, nem por isso brigaram).

Odilon Ribeiro Cout inho, membro atual da Aca- demia Paraibana de Letras, e um do s maiores confe- rencistas do Brasil, seria um deles.

Outro: [ordão Emerenciano, casado com Maria da Penha, sobrinha do então Governador, autor de vários livros, membro da Academia Pernambucana de Letras, professor universitário no Recife, ex-Chefe da Casa Civil do Governo Cid Sampaio e suplente de Se - nador.

Terceiro nome : todos os seus filhos e sobrinhos, entre os quais me incluo.

Doutor Flávio Ribeiro passou pela Presidência da Assembléia Legislativa da Para íba, sem usar o car- go para assinar enxurrada de nomeações, continuan - do essa política de austeridade como Governador .

Segurança Pública: a paz a todo custo

Na avaliação de muitos, bom Governo é o que planta carvalhos .

Para outros, é o que planta couve. Ou se faz opção pelas obras gigantescas, pere-

nes, como a CodebrojSaelpa, ou pelas medidas ur- gentes, do dia-a-dia , do assistencialismo, mais das ve- zes apontadas como clientelismo .

Mas; o administrado r equilibrado, de seu senso,

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divide a sua preocupação e os recursos com que conta entre as duas verten tes.

Flávio Ribeiro Coutinho foi a ssim. Uma de suas metas, perseguida e alcançada, foi

manter o pagamento do funcionalismo público rigo - rosamente em dia.

Ao lado disso, preocupou-se com a valorização do servidor, atendendo, na medida do possível, os aumentos de ven cimentos do funcionalismo .

Tanto assim que, no seu Governo, foi muito bom o relacionamento com a Aspep, órgão de c lasse, à épo- ca, dirigida (mediante eleição ) pelo líder c lassista Tan- credo Carvalho (ex-diretor do Jornal "Brasil Novo", empaste lado pela Polícia, em 1931).

Tancredo colocava seu mandato e a entidade que dirigia acima dos partidos, enquanto vivenciava, po- rém, uma leve tendência amer icista, que aflorava em seus pronunciame ntos, não obsta nte sua preocupação de sobriedade, que procurava man ter a todo custo" .

Outra tôn ica do Governo Flávio Ribeiro fo i sua preocupação com a Segurança Pública .

Conv idou para dirigir a Polícia M ilitar o Coro- nel Edson Ramalho, Oficia l do Exército, e que deu con -

ta do reca do. A preocupação maior era prevenir assal tos à mão

armada, tumultos, estupros, e tudo o mais que infe li- cita a pop ulação, nos dias atuai s.

Parte do clima de segurança foi garantido pela implantação dos" Cosme e Damião", dupla de solda- dos que, de bicic leta, percorria a noite de João Pessoa.

Como o orçamento do Estado não previa gastos com aquisição de bicicletas, Edson Ramalho solicitou (e foi atendido) doação desses veículos junto à indús- tria e comércio da cidade.

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A principal meta não era a punição dos crimino- sos, mas a prevenção do crime.

Sem ocorrer delitos, garantia-s e a vida do cida- dão comum e evitava-se clima para a parecer os delin - qüentes .

Policiamento ostensivo ainda é o melho r meio de se garantir o sossego e s e evi tar a in justiça.

Por outro lado, durante o seu Governo, não con- traiu dívidas e nem levantou empréstimos .

Em outras palavras, não onerou as f inanças esta- duais nem deixou dív idas para se us sucesso res paga- rem.

Não atiro u, porta nto, com pó lvora a lheia.

o segredo do bom Go vern o: os bons au xiliares

A maioria dos po líticos q ue passaram pelo Palá- cio da Redenção , na Pa raíba, não teve a s orte que co u- be a Flávio Ribeiro Co utinho .

A esco lha que e le fez para dirigir a Impre nsa Oficial e, por tabe la, o jornal" A União", lhe rendeu uma boa biografia.

Sei que sor te igua l também foi reser vada a João Agrip ino, b iografado por Sever ino Ramo s.

Mas, Camilo de Ho landa, Venâncio, Solon, Pe - regrino, Álvaro Mac hado não foram bio grafados.

Natércia Suassuna Ri beiro, dentro do plan o de Nelson Coelho, es creveu so bre João Suassuna que, como obra maior de s ua vida, deixou os filhos , com desta que espec ial para Ariano, o teatrólogo.

Mas, o velho Flávio (c omo era carinhosamente chamado pelos correligionár ios), quando escolheu

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Sabiniano Maia seu auxiliar, foi duplamente contem- plado. Acertou na milhar .

Sabiniano Maia era filho do município de Itatu- ba, (ex -Cachoeira de Cebola).

Perdeu essa denominação durante o Estado Novo, e seu povo gostou do novo nome do municí- pio. Só os saudosistas não se conformam .

Maia deu a A União a função que lhe cabe hoje, como porta-voz do Governo, sem colocá-Ia a serviço de um partido, e sem onerá-Ia de um ou de outro modo. Não roubou, nem deixou roubar .

Ressuscitou o Correio das Artes, e criou A União Agrícola.

Tinha dois vícios que o acompanharam a vida toda e, com eles, baixou à sepultura : gostava de escre- ver, e de trabalhar quando o faziam Prefeito.

Em 1947, foi eleito Prefeito de Guarabira, em dis- putado pleito, lançado pela UDN que, no citado mu- nicípio, era, então, liderado pelo Major Osório Aqui- no e seu filho, o Deputado Osmar de Aquino".

Ganhou nas urnas, tomou posse, e trabalhou dia e noite.

Construiu um mercado novo, fora da área urba- na, dentro do mato.

Na ocasião, fo i criticado pela localização da obra, mas fez a cidade crescer e, hoj e, Guarabira é o maior centro comercial do Brejo.

Tinha sido Prefeito de Mamanguape e, já octo- genário, foi nomeado pelo Governador Tarcísio Buri- ty Prefeito de Sapé.

Passou pela Prefeitura de Campina Grande e foi Secretário de Justiça do Governo João Agripino .

Mas, o que gostava mesmo era de colocar pedra

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em cima de pedra, abrir estradas e fardar o alunado das escolas públicas.

Tudo sem perder a calma, sem se afobar um mi- nuto sequer.

Não fez fortuna. Viveu bem porque o destino lhe deu urna esposa

dedicada e apaixonada. Foi gemo e um dos herdeiros de um dos homens

mais ricos do Estado: Domingos Meirelles Paraguay. Era político e pertenceu a um só partido, a UDN28. O resto de seu tempo passou escrevendo livros. Nunca ficava quieto. Além da biografia do velho Flávio, é autor de

uma monografia de grande valor : "Itabaiana, sua His- tória, sua Memória", de "História de Quatro Viagens"; os relatórios sobre sua presença à frente de Maman- guape e de Guarabira foram transformados em livros.

Nisto se assemelhava a Graciliano Ramos, o sau- doso Prefeito de Palmeira dos Índios (Alagoas).

Transparecia no seu semblante a doçura das pes - soas de boa índole.

Nomeado Interventor de Sapé, se hospedou na casa do Padre Odilon Pedroza (na verdade, Monse- nhor), outro santo e intelectual que tinha visão igual: lia sem parar e escrevia quando tinha tempo. Só para- va para rezar missa, batizar e casar os paroquianos.

Padre Odilon Pedroza foi Diretor do Jornal A Imprensa e, de uma hora para outra, foi transferido para longe da Capital do Estado, por perseguição po - lítica. (1952)

Aceitou calado a injustiça. Entregou tudo a Deus. Também só deixou Sapé para sua última e defi -

nitiva viagem.

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Fez do casti go prêmio e preparou -se para entrar no Céu . Eram este s os homen s que vi viam na Paraíba . Sabiniano Alve s do Rego Maia escreveu, ainda, "Caminhos da Paraíb a", "Crônic as e comentários", "Do alto d a serra", "Em Santa C atarina", "Francisco Edward A guiar", "U m rosário de saudades" , "Sapé - Sua Hi stória, sua Mem ória", "Supe rstições" , e "Tri - bunal Region al Eleitoral", todos relacionados por Ho- rácio de Almeida (atual ização de Mau rílio de Almei- da), no liv ro" Cont ribuição para uma Bibliografia Pa- raibana", editada em 1994 - 3 a edição.

A ampliação do Porto de Cabedelo

Nos meados do século XX, a economia e a vida social do Estado do Rio Parahyba do Norte respira- vam pelo Porto de Cabedelo.

Regist re-se que, com estrada carroçável, ir ao Sul, ou se enviar para lá mercadorias (algodão, sisal, etc) era uma aventura.

Frutas como abacaxi , coco verde e manga, por exemplo , apodreciam em nossos campos, porque um caminhão, para chegar ao Rio de Jan eiro e São Paulo, demorava un s quinz e dias. No inverno, fic ava atola- do na estrada.

Não c abia ao Governo Estadual (nem ha via re- cursos para tanto) asfalta r os 4 m il quilômetros que nos sepa ravam desses grandes centros, e aind a mais em terras de out ros Estados.

Mas, era de re sponsabilidade da Paraíba o po r- to, no estuário do rio, e m Cabedelo".

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Antes, Epitácio Pessoa naufragara na s águas do Rio Sanhauá, ao tentar trazer os nav ios até a Cidade Baixa, ao Varadouro e Porto do Capim.

Não vou dizer que foi o bra do velho Flávio Ri- beiro Cout inho a construçã o do Port o de Cabedelo , muito mais uma realização de Antenor N avarro e Cra- tuliano de Brito, quando exercer am a Interventoria .

Mas, o ve lho Flávio ampliou o cai s, permitindo atracar mais navio s ao mesmo tempo .

Barcos das mais di ferentes ban deiras, garan tin- do o comércio exterior da E uropa e da Amér ica do Norte, chegavam, trazen do peças, m otores, equi pa- mentos, fari nha de trigo (garant indo o pão n osso de cada dia), e o bacalhau, para que se c umprisse o jejum da Quaresma e da Semana San ta.

Com o Porto exportando e importa ndo, ricos nã o eram os supermercados Pão de Açúcar, ou Superbox e Comprebem, de pro priedade de comercian tes de fora.

Com o P orto apare lhado, com boa ma nutenção, ricos eram nossos vizinhos e amigos Álvaro Jorge, a famíli a Aba th e João Miner vino de Araújo, que fre - qüentavam nossas fes tas, compran do vot os para ele- ger a Rainha do pavilhão nos feste jos em homenagem às Padroeiras : Festa das Neves, no centro, das Hor- · tências, em Cru z das Ar mas, da Conce ição, na rua São Migue l, da Torre, das lapin has de Cabede lo e Tam- baú, s ubindo o Cordão Azul ou subindo o C ordão En- carnado, nas fes tas de f im de ano.

Dinheiro daqui ficava aqui. Hoje, vai para o Cent ro-Sul, ou para o estrange i-

ro, montado e m depósi tos bancários , em b ancos de capitalistas do Hemisféri o Norte .

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o leite pasteurizado: uma necessidade

Foi do então Governador Flávio Ribeiro Couti - nho a idéia de pasteurizar o leite consum ido pelo pa - raibano, que ingeria o produto in natura, contamina- do por coliformes fecais e outras impurezas, arri scan- do-se, inclusive, a ser vitimado por doenças transmi- tidas por a nimais .

Eram apontados casos de brucel ose, doença ad- quiri da através do leite de gado.

O Governa dor conseguiu com o FISI, órgão liga - do à ONU, t oda a aparelhagem para i nstalar uma usi- na de pasteur ização, que usaria matéria-pr ima oriun- da da zo na rural, criando, conse qüentemente, um mercado cons umidor para a pecuária leiteira, que é, hoje, um dos pilares da nossa economia.

Infelizmente, esse e quipamen to chegou, desem- barcou, mas não saiu dos ca ixotes" .

Não se c umpriu o contrato (o velho Flávio, en- fermo, já se afas tara do Governo), e o Estado perdeu os grandes lucros que teria com o empreendimento .

Isso a trasou em mais de quinze anos a implanta - ção do lei te pasteurizado na Paraíba.

o Hospital Edson Ramalho

A saú de públi ca continuava tirando o sono do velho Flávio Ribeiro Coutinho. Faltavam leitos para atender a todos os doentes. Enquanto isso, a população da Capital e do inte- rior crescia.

O que fazer? Que providência tomar?

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Flávio comprou terreno para construção de um hospital para a Polícia, que atenderia a todos que pre- cisassem. Um nosocômio do Governo do Estado.

Daí partiu para a construção, fazendo os alicer- ces e levantando as primeiras paredes.

Logo mais, esta sua proposta seria encampada pelo seu sucessor, Pedro Moreno Condir n.

Hoje, é o Hospital Edson Ramalho que, amplia - do por João Agrip ino, continua prestando serviços a toda a comunidade paraibana.

Quem, um dia, não perdeu eleição?

Como todo político (não foi, não se posicionou melhor ou superior a ninguém), Flávio Ribeiro Couti- nho também perdeu eleição.

Afinal, quem não foi, algum dia, mal su cedido nas urnas? Só quem não faz política .

Em 1949, era Presidente da Assembléia Legisla - tiva e tentou a reeleição .

À época, a Mesa da Casa de Epitácio Pessoa era eleita, ou reeleita, por um ano. De tal forma que tentava o s eu terceiro man dato. A essa altura, a UDN (leia-se Argemiro -José Améri co) já estavam distanciados.

Cada um tri lhando caminhos diferentes. Como Argemiro tinha uma bancada maior, fi-

cou com a sigla , com a legenda. José Américo e seus amigos abrigaram -se no PL,

cujo líder maior era o Deputado gaú cho Raul Pilla, parlamentarista mi litante.

Na Assembléia paraibana, os deputados peelis -

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tas sufragam o nome do Deputado João Fernandes de Lima, usineiro como Flávio, acionista da Usina Mon- te Alegre, em Mamanguape .

A vitória de Fernandes ou a derrota de Flávio, foi por dois votos de diferença .

Não houve suborno, troca de favores ou alicia- mento de qualquer espécie .

Tudo se deu como deve acontecer em uma de- mocracia plena de Primeiro Mundo.

Valia, então, a coerência partidária e obediência aos chefes.

Essa estratégia fortaleceu a nova aliança PSD-PL, que voltaria a vencer em 1950, com a chapa José Amé - rico e João Fernandes de Lima, para Governador e Vice- Governador.

Ao que tudo indica, em 1950, Flávio Ribeiro Cou-

tinho entrava no inferno astral, e não conseguiu se reeleger Deputado Estadual, ficando na 2 a suplência da bancada udenista.

Derrota não diz desculpa, mas cabe uma expli - cação:

Disputou, também, o mandato de Deputado Es- tadual e se colocou com 1 0 suplente o seu sobrinho, Luiz Ignácio Ribeiro Coutinho, casado há pouco tem- po com sua filha Nanhã, e que tinha exercido (por eleição) o mandato de Prefeito de Sapé.

Mais ainda: por sua própria insistência, também disputou o mandato de Deputado Estadual, Antonio Ribeiro Pessoa, filho de sua irmã e vizinha, residente à rua das Trincheiras, Otávia, viúva de Adolfo Pessoa, advogado pemambucano, que se colocou na 4 a

suplência . No decorrer da legislatura, faleceu (nos primei -

ros meses), o Deputado José Mariz (pai de Antonio

Mariz, Governador eleito em 1994), permitindo ao 1 0

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suplente (no caso, Luiz Ignácio) exercer o mandato . Foi Flávio convocado, uma ou duas vezes, em

decor rência de licença para tratamento de saúde de outros pa rlamentares.

É bom se dizer que, como Deputado ou Gover- nador, Flávio não recebia honorários.

Doava-os, integralmente, a entidades filantrópi- cas que, na Capital, mantinham hospitais dan do as- sistência aos indigentes.

Ocorre u igual comportamento com Renat o Ri- beiro Cou tinho, e com Virgínio Veloso Borges, qua n- do este ú ltimo foi eleito Senador .

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Referências Bibliográficas

1 Segundo Nivaldo, o Major tinha alma paisana, doce e compreensiva.

2 Localizada no Município de Gameleira, PE . 3 Ainda houve, nos anos 20 , a Usina Espírito Santo,

de Adalberto Ribeiro Rodrigue s, casado com Otavi- ana.

4 O figurino de Delfim era e ste: a quenl tem pouco, tira-se o resto e a quem tem muito, se dá mais. Del- fim foi te sta-de-ferro da Ditadura Militar-64.

5 Alguns desses Tenentes (não foram todos) tornaram- se milionários, entre os quais podem ser citados Amaral Peixoto e Felinto Muller .

6 Primeiro engenho construí do na Capitania por João Tavares, Capitão-Mor . O investimento foi estatal, ou seja, era engenho-real . Portanto, o Rei Felipe II da Espanha e I de Portugal foi usineiro no Parahyba.

7 Existiram, ainda, por pouco tempo, em Pirpirituba , a Usina São Francisco; em Cruz do Espírito Santo, a Usina Espírito Santo e, em João Pessoa, nas terras banhadas pelo rio Gramame, a Usina Santa Alexan - drina .

8 Vigário da Paróquia de N. S. de Lourdes, fundou o Instituto Dom Adauto, voltado para o ensino pro- fissionalizante. Antes, todo dia, após a missa, trans- forma va as capelas da citada igreja em salas de aula, para alfabetizar os filhos das empregadas domésti - cas, engraxates e operários, residentes no Cordão Encarnado, Passeio Geral e rua do Melão, todos seus paroqUIanos.

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9 Devido à palidez do seu rosto, Argemiro era chamado, pelos adversários, de Amarelo de Bodo- congó.

10 Empresários e políticos como Getúlio, Churchill e outros fumavam charutos.

11 Pilar é uma das invocações de Nossa Senhora, mui - to popular na Espanha, berço da Companhia de Je - sus. Ainda bem que o Município sempre conservou este nome.

12 O atual nome é Cruz do Espírito Santo. Mas foi, durante o Estado Novo, denominado de Maguary. 13 Antonio Pereira de Almeida era pai de Anleida, Ana

Lúcia, Graziela, Ana Maria, Langstein, Agassiz e Antonio Almeida Filho. Foi casado com Josita Amo- rim.

14 O eleitorado representava uma pequena parcela da população, devido ao percentual alto de analfabe- tos.

15 A doação foi sua e de todas as empresas e firmas paraibanas, motivadas pela perspectiva de terem um conterrâneo na Presidência da República.

16 Nesta fazenda, no século XII, foi construído, pelos Carmelitas, um santuário de rara beleza, recente- mente recuperado e dedicado a Nossa Senhora da Guia.

17 O candidato a Vice-Prefeito do PTB, da chapa de Abiatar, foi o vereador Plácido de Oliveira Lima, re- sidente em Bayeux . Era dissidente da UDN, pela qual fora eleito em pleito anterior . Seguia seu sobrinho, Luiz de Oliveira Lima, que foi eleito Deputado Es- tadual (1947) e Prefeito da Capital (1951).

18 Com a emancipação de Bayeux, em 1959, a família Caetano consolida sua liderança e, em três eleições, Lourival se elege Prefeito, falecendo no exercício do

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mandato, em 1992. Sua esposa Querina Nina Caeta- no também foi eleita Prefeita, em 1973.

19 Em 1845, Dutra concorreu à Presidência da Repú- blica sem companheiro de chapa, seu candidato a Vice, ocorrendo o mesmo com os demais candida- tos a cargos executivos .

20 Esta obra iniciou-se no Governo Wilson Braga, e foi concluída pelo seu sucessor, Tarcísio Burity .

21 Ex-Deputado Estadual e ex-Prefeito de Araruna, na Primeira República. Primo do atual Governador José Targino Maranhão. Estudou na Inglaterra, onde fez o Curso de Agronomia.

22 Pai da historiadora Martha Teixeira de Carvalho San- tana, sócia do IHGP, e casada com o economista Car- los Antonio, ex-Vereador e ex-Vice-Prefeito de San- ta Rita.

23 Campina Grande, pela sua projeção sócio-econômi- ca, não é, nunca foi nivelada aos demais Municípios do interior. É um caso atípico, difícil de se explicar a quem não é paraibano.

24 O Presidente João Pessoa chegou a pôr em disponi- bilidade Juiz de Direito e Desembargador que não simpatizavam com o Partido do Governo. Apenas Padres escaparam desse procedimento administra - tivo.

25 Bisavô do médico pediatra Antonio Cristóvão. 26 Na sua gestão, doou à Aspep um gabinete odonto-

lógico, instalado na sede da entidade, para atender aos associados .

27 Concorreu pelo PSD, neste pleito, ao mandato, Ed- son Ribeiro Coutinho, proprietário rural no Distrito de Pirpirituba, que integrava Guarabira. O Deputa- do Osmar de Aquino é pai da escritora Laura Aqui - no, autora de O Tenente Estrangeiro.

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28 Foi Presidente do Di retório Regional da Arena, ma s este partido foi, na pr ática, a UDN com rótulo novo.

29 O Deputado José Fernandes de Lima, falando na tribuna da Assembléia Legislativa, em 1953, decla- rou que o Estado da Paraíba era uma ilha, em ter- mos de Economia. Só se comunicava com Belém do Pará ou com qualque r outra praç a do Norte, Nor- deste ou C entro-Sul, por navio . Trem só seria, na prática, para se comunicar com Recife ou Natal . Fora disso, com o s demais Estados e respectivas Capitais, era navio ou nada. Avião seria tão somente par a as viagens de pessoas da Classe A .

30 Era tudo doação do FISI . Fiáoio Ribeiro Couiinho - 1907 Faculdade de Medicina da Bahi«

Flávio Ribeiro Coutinho - 1916 COI/1 34 anos

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Flávio Ribeiro Coutinho e Berenice M indêllo Ribeiro, 110 dia do casamento - 09 de maio de 1925

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Dona Berenice com o primogênico Francisco Leocád io, com 6 meses -

1926

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Flávio Ribeiro Coutinho com a família - 1948 M imosa, João Crisosiomo, José Painho,

Nanhã com o marido Luiz lgnâcio, Francisco Leocádio e Berenice Maria. .

Sentado: Dona Berenice com a neta Berenice Helena

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1954 - DI'. Flávio e Dona Berenice

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