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Professor: Barney Bichara Módulo: Teoria dos Atos Administrativos CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS Ato administrativo não é sistematizado por nenhuma lei, e acabou sendo sistematizado pela doutrina. Portanto, há muitas abordagens diferentes sobre o mesmo tema. Estudar atos administrativos é começar, antes de tudo, separando os conceitos diversos que existem sobre a mesma matéria. Aqui trataremos sobre os principais pontos dos atos administrativos que precisamos saber. O primeiro conceito, fundamental para a compreensão do assunto, é o conceito de Fato Administrativo. Estamos falando de Fato, e não ainda de Ato. O ATO diz alguma coisa, ele declara, enuncia. O FATO não, ele simplesmente ocorre, acontece. E daí a primeira distinção fundamental entre ato administrativo e fato administrativo . A doutrina clássica do Direito Administrativo Brasileiro, a do Prof. Oswaldo Aranha Bezerra de Mello, diz que: “Fato Administrativo corresponde a atos materiais relacionados ao exercício da atividade administrativa”. Temos que lembrar que o Estado é uma pessoa jurídica de direito público, dotada de capacidade política, e que exerce atividades essenciais, zelando pela sobrevivência da sociedade e a sobrevivência do próprio Estado. São quatro as funções do Estado : 1- a função legislativa, atribuída precipuamente ao órgão chamado Legislativo, e que consiste em gerar, produzir o direito novo. 2- a função jurisdicional, atribuída principalmente mas não exclusivamente ao órgão chamado Poder Judiciário, e que consiste em aplicar a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais com força de coisa julgada, com força de definitividade. 3- a função administrativa, atribuída principalmente ao órgão chamado Poder Executivo, e é essa que nos interessa ao Direito Administrativo, ao ato administrativo. A função administrativa consiste em aplicar a lei ao caso concreto. Igual a função jurisdicional? É. Só que a função jurisdicional aplica a lei ao caso concreto para resolver uma lide, um conflito social e mais, com força de coisa julgada. Quando o Estado exerce a função administrativa e aí pratica atos administrativos ele também aplica a lei ao caso concreto, mas aplica a lei ao caso concreto para realizar os fins do Estado, para realizar a vontade estatal, é a aplicação imediata, concreta, para realizar os fins do Estado. E nunca é definitiva, nunca é imutável e, 1

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Professor: Barney BicharaMódulo: Teoria dos Atos Administrativos

CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS

Ato administrativo não é sistematizado por nenhuma lei, e acabou sendo sistematizado pela doutrina. Portanto, há muitas abordagens diferentes sobre o mesmo tema. Estudar atos administrativos é começar, antes de tudo, separando os conceitos diversos que existem sobre a mesma matéria. Aqui trataremos sobre os principais pontos dos atos administrativos que precisamos saber.

O primeiro conceito, fundamental para a compreensão do assunto, é o conceito de Fato Administrativo. Estamos falando de Fato, e não ainda de Ato.

O ATO diz alguma coisa, ele declara, enuncia. O FATO não, ele simplesmente ocorre, acontece. E daí a primeira distinção fundamental entre ato administrativo e fato administrativo.

A doutrina clássica do Direito Administrativo Brasileiro, a do Prof. Oswaldo Aranha Bezerra de Mello, diz que: “Fato Administrativo corresponde a atos materiais relacionados ao exercício da atividade administrativa”.

Temos que lembrar que o Estado é uma pessoa jurídica de direito público, dotada de capacidade política, e que exerce atividades essenciais, zelando pela sobrevivência da sociedade e a sobrevivência do próprio Estado.

São quatro as funções do Estado: 1- a função legislativa, atribuída precipuamente ao órgão chamado Legislativo, e que consiste em gerar, produzir o direito novo.2- a função jurisdicional, atribuída principalmente mas não exclusivamente ao órgão chamado Poder Judiciário, e que consiste em aplicar a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais com força de coisa julgada, com força de definitividade.3- a função administrativa, atribuída principalmente ao órgão chamado Poder Executivo, e é essa que nos interessa ao Direito Administrativo, ao ato administrativo. A função administrativa consiste em aplicar a lei ao caso concreto. Igual a função jurisdicional? É. Só que a função jurisdicional aplica a lei ao caso concreto para resolver uma lide, um conflito social e mais, com força de coisa julgada. Quando o Estado exerce a função administrativa e aí pratica atos administrativos ele também aplica a lei ao caso concreto, mas aplica a lei ao caso concreto para realizar os fins do Estado, para realizar a vontade estatal, é a aplicação imediata, concreta, para realizar os fins do Estado. E nunca é definitiva, nunca é imutável e,

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isso, entre outras coisas, é que vai diferenciar o ato administrativo do ato jurisdicional (ato judicial).4- a função política (ou de governo) que consiste em definir os fins do Estado. Conforme diz Celso Antonio Bandeira de Mello, a função política consiste em gerir os negócios superiores do Estado, consiste em definir os fins do Estado. Enquanto à função administrativa realiza os fins do Estado, a função política indica que fins são esses.

O ato administrativo é o ato praticado pelo Estado para exercer uma de suas funções. Qual é essa função? É a função administrativa. Como o ato administrativo é praticado para realizar a função administrativa, é bom lembrar que quem o exerce com primazia é o Poder Executivo, mas os outros Poderes (Legislativo e Judiciário) atipicamente desempenham função administrativa. Por exemplo, quando um órgão administrativo faz um procedimento licitatório, a licitação feita pelo órgão Legislativo é uma sucessão de atos administrativos. Portanto temos o Poder Legislativo exercendo secundariamente a função administrativa. Quando o Poder Judiciário realiza um concurso público para preenchimento de quadro de analistas e serventuários, temos o Poder Judiciário temos o Poder Judiciário exercendo atipicamente a função administrativa. Se os três poderes exercem função administrativa, significa que os três poderes praticam atos administrativos.

CONCEITO DE FATO ADMINISTRATIVO

Muitos doutrinadores (e isso dificulta o nosso estudo porque primeiro se explica uma coisa e depois se explica outra) vão dar outro enfoque ao fato administrativo. Eles vão dizer que fato administrativo é uma espécie de fato jurídico, um fato jurídico que produz conseqüências no Direito Administrativo. Se o acontecimento produz conseqüências relevantes no Direito Administrativo, é fato administrativo (primeiro conceito). Outros vão dizer que fato administrativo são os atos materiais realizados no exercício da função administrativa (segundo conceito).Certo é que o fato não enuncia nada, ele só ocorre, só acontece. E não se aplicam aos fatos a teoria dos atos, ou seja, a anulação, convalidação, revogação só se aplicam aos atos administrativos.

A - MARIA SILVYA DI PIETRO: considera que FATO ADMINISTRATIVO é espécie de fato jurídico, (que é qualquer acontecimento que crie extingua ou modifique direito), mas produzindo efeitos no direito administrativo. Ex: morte de um servidor público. A morte é um acontecimento, é um fato. E sendo morte do servidor, produz efeitos no direito administrativo, qual seja, a vacância do cargo público.

Maria Sylvia entende que se o fato tem repercussão no Direito Administrativo, então é fato administrativo. Se o fato é irrelevante

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para o Direito Administrativo tem-se o chamado “fato da administração”. Ela fala em fato da administração como acontecimento irrelevante pro Direito Administrativo, fato da administração para ela, portanto, não é sinônimo de fato administrativo. O primeiro (fato da administração) é irrelevante, o segundo (fato administrativo) é relevante pro Direito Administrativo.

***Atenção: Os conceitos atinentes à parte de Contratos Administrativos como fato da administração e fato do príncipe não se confundem com o que ela diz dessa parte da matéria. É apenas uma coincidência de expressões. Fato da administração em Contratos Administrativos é algo completamente diferente!

B - JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO (corrente minoritária, doutrina clássica): para a doutrina clássica o FATO ADMINISTRATIVO corresponde aos atos materiais realizados no exercício da função administrativa. São atos materiais que traduzem uma alteração dinâmica dentro da administração, independente de criar/extinguir/modificar ou não direitos. Dois exemplos que clareiam esse conceito:

1º Exemplo: Imagine que um determinado município decide demolir um prédio que ameaça desabar (está muito velho, corroído pelo tempo). A Administração decide praticar um ato administrativo determinando a sua demolição. A Administração pratica um ato administrativo dizendo “que seja demolido o edifício X porque ele coloca em risco a coletividade”. Praticar o ato determinando a demolição é um ATO ADMINISTRATIVO, é o Estado dizendo,declarando. E encher o prédio de bomba e explodi-lo é um ATO MATERIAL. O FATO ADMINISTRATIVO é o ato material para realizar a função administrativa, ou seja, ir e demolir. O ATO diz, o FATO ocorre.

2º Exemplo: Imagine que um estado da federação decida construir uma nova sede administrativa. O Governador determina o deslocamento das antigas sedes, das antigas repartições para a nova instalação. O ATO administrativo enuncia: “que seja feita a mudança para as novas instalações até o dia tal”, já o FATO é mudar, é realizar a mudança.

ATOS DA ADMINISTRAÇÃO

O que são atos da administração?A- Adotada por Celso Antônio e Oswaldo Aranha Bandeira de MelloÉ expressão ampla que se refere a todos os atos praticados pelo Poder Executivo. Essa primeira posição enfoca o sujeito, quem pratica o ato, ou seja, o Poder Executivo.Portanto, se foi o Poder Executivo quem praticou, são atos da administração. Podem ser atos materiais, de direito privado, individuais, políticos, gerais, podem nem gerar efeitos jurídicos, já

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não está em foco a natureza deles e sim em quem os pratica. Atos da administração são todos os atos praticados pelo poder executivo, to-dos!

* Observe esse raciocínio: o Poder Legislativo exerce atipicamente função administrativa correto? Então ele pratica atos administrativos de forma atípica. O poder judiciário exerce atipicamente função administrativa ok? Então ele pratica atipicamente atos administrativos. Porém, somente o poder executivo pratica os atos da administração, pois atos da administração são os atos do poder executivo.Portanto, nem todo ato administrativo é ato da administração, e nem todo ato da administração é ato administrativo (atos administrativos são só os de Direito Público, como veremos depois)

B- Adotada por Maria Silvya Di PietroÉ a expressão ampla que se refere a todos os atos praticados no exercício da função administrativa. Portanto, aqui não se quer saber quem pratica o ato (o sujeito). Para Maria Sylvia o Poder Judiciário pratica atos da administração. Para essa segunda posição o enfoque não é em quem pratica o ato, o enfoque é no ato praticado. Se o ato praticado é realizado para praticar a função administrativa, é ato administrativo. Pode ser exercido pelo Legislativo, Executivo, Judiciário.

A primeira abordagem considera o sujeito, e a segunda considera a atividade. Os dois posicionamentos estão corretos. Não existe certo e errado, são apenas posicionamentos com enfoques diferentes e os dois são sujeitos a críticas. Portanto, na hora de marcar a opção certa OBSERVE O CONTEXTO DA QUESTÃO!

“Ato da administração” é expressão muito ampla e designa todos os atos da administração pública, não vai interessar se ele é geral ou individual, não interessa se ele é regido pelo direito público ou pelo direito privado , se é unilateral ou bilateral, se produz efeitos jurídicos ou não produz efeitos jurídicos, não interessa! Qualquer ato praticado pela administração pública para exercer a função administrativa eu chamo de forma ampla, genérica, de ato da administração.

ATO ADMINISTRATIVO

Dentro do universo de atos praticados pela Administração, temos uma espécie de ato que é o tema do nosso curso. É o ato administrativo.

O que é ato administrativo?

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Nesse ponto, mais uma vez, os doutrinadores vão dizer “eu posso dar ao ato um conceito amplo ou um conceito estrito, tudo depende de meu ponto de referência”A- em sentido amplo (Celso Antônio Bandeira de Mello) É toda declaração do Estado (gerais ou individuais, unilaterais ou bilaterais, que produza efeitos jurídicos ou não) ou de quem lhe faça as vezes, subjacente (inferior) à lei e a titulo de cumprí-la, regida pelo Direito Público e sujeita a apreciação do Poder Judiciário. Não há ato admnistrativo que seja regido pelo direito público, se não for regido pelo direito público, será ato da administração.

Vamos separar esse conceito para explicá-lo com detalhes:

1º parte - “é toda declaração do Estado” – primeira coisa já dissemos: o ato administrativo é uma declaração, ele diz, enuncia, exterioriza a vontade do Estado. Porque isso é importantíssimo? Porque se a Administração não fala, não se pronuncia, se a Administração não exterioriza a sua vontade, nós não temos ato administrativo. Como assim? Bom, pense em inúmeras situações nas quais a Administração se cala, se omite, quando deveria dizer. Essas situações nas quais a Administração se omite quando a lei diz que ela deveria se pronunciar, a doutrina chama de “O Silêncio da Administração”. Então falar em silêncio da Administração é falar sobre todas as situações nas quais a lei diz que a Administração tem o dever de se pronunciar, mas a Administração não se pronuncia.

2º parte - “ou de quem lhe faça as vezes”: o que isso quer dizer? Quer dizer que há outras pessoas além do Estado que podem falar por ele. Por exemplo, as concessionárias, as permissionárias de serviços públicos, aqueles que exercem função delegada, enfim, os que não são o Estado, mas praticam atos administrativos.

O silêncio da administração (o não-ato). É a situação caracterizada pela não manifestação do Estado quando ele estava obrigado a fazê-la. É a inércia da administração quando deveria fazer algo. O silêncio da administração não é ato administrativo, pois o silêncio é exatamente a não-manifestação. Na verdade, o silêncio da administração é um fato administrativo, pois apesar de produzir efeitos no Direito Administrativo, não é declaração de vontade.Exemplo: mudei-me para salvador. Lá fui ao DETRAN e fiz um requerimento para que minha carteira de motorista fosse transferida para Salvador. Fico esperando. Continuo esperando. A administração não diz que sim, nem diz que não; pelo contrário, ela permanece inerte, não faz nada. Ela não pratica um ato administrativo, pois este é manifestação de vontade, mas seu silêncio é um fato administrativo, pois produz efeitos no direito administrativo. O SILÊNCIO É UM FATO ADMINISTRATIVO, POIS É UM ACONTECIMENTO QUE GEROU REPERCUSSÃO NO DIREITO ADMINISTRATIVO. O SERVIDOR QUE DEVERIA AGIR E NÃO AGIU FOI OMISSO E RESPONDERÁ POR NEGLIGÊNCIA DO SERVIÇO! OMISSÃO NÃO É ATO ADMINISTRATIVO, MAS COMO PRODUZ CONSEQUENCIAS JURÍDICAS É FATO ADMINISTRATIVO.

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** A primeira hipótese que temos que vislumbrar é se a lei atribui algum efeito ao silêncio da administração. Por ex., imagine uma lei que diga que em 10 dias, diante do silêncio da administração, o pedido será deferido. A primeira idéia é essa: se a lei atribui efeito ao silêncio, aplicam-se os efeitos da lei. Mas na maior parte das vezes, temos a situação em que o cidadão requer algo, mas a administração não diz que sim nem que não. Por ex, um cidadão vai pedir um medicamento, pois sofre de determinada doença. Nisso ele faz um requerimento administrativo mas a administração não diz nem que sim nem que não, e a lei não atribui efeito ao silêncio da administração. O que se faz então? Há duas medidas: 1- Pedir novamente ajuizando um recurso administrativo; 2- Recorrer ao Poder Judiciário. Nessa segunda hipótese de recorrer ao Poder Judiciário, há duas opiniões. A primeira opinião é a de que o Juiz vai acolher o pedido e ordenar que a Administração SE MANIFESTE em determinado prazo, sob pena de multa. Observe que o juiz não vai ordenar a Administração à fornecer os medicamentos, pois segundo os adeptos dessa corrente, se ele fizesse isso estaria substituindo o próprio administrador. O juiz não pode interferir na decisão que cabe ao administrador (CORRENTE MAJORITÁRIA). A segunda opinião, de qual Celso Antônio é adepto, diz que tudo depende do ato. Se for um ato vinculado, o juiz pode suprir a omissão com a sentença. Ele aprecia se atributos estão ali, e, se estiverem, ele supre a omissão com a decisão; mas se o ato for discricionário só a administração pode escolher como praticá-lo, então o juiz deve ordenar a Administração Pública para que ela pratique o ato de forma motivada.Ato vinculado é aquele que a lei fixa os requisitos. Fixando os requisitos, a administração se limita a praticar o ato e ponto final. A Administração olha se os requisitos que a lei exige estão presentes e pratica o ato. No ato vinculado não há liberdade de escolha, não há alternativas, pois a lei diz como ele deve ser, resta à Administração cumprir os ditames da lei. Ato discricionário é aquele que a lei dá uma margem de liberdade, a lei dá à administração pública uma margem de escolha à administração pública para que ela possa definir, no caso concreto, o que melhor atende ao interesse público. Dentro desses limites legais a administração é livre para escolher como e se o ato vai ser praticado.

3º parte - “inferior à lei e a titulo de cumpri-la” – o ato administrativo só existe para dar cumprimento à lei, ele só existe para especificar a lei, pra explicar a lei e tornar possível a sua aplicação, ele existe para exteriorizar a vontade da lei, E se ato só existe para cumprir a lei ele NUNCA poderá contrariar a lei. Ele JAMAIS pode dizer o que ela não diz, ou dizer mais do que ela diz. Ele é inferior à lei, e existe para cumprir a lei.

4º parte - “regida pelo Direito Público”- se o ato não for regido pelo Direito Público ele não é ato administrativo. Ele pode ser o que ele quiser, mas ato administrativo ele não vai ser! Mas o que significa dizer isso? Significa dizer que quando se pratica o ato administrativo, quem pratica o ato age na qualidade de Poder Público, revestido de poderes públicos, prerrogativas, privilégios que colocam a administração publica acima do nível da sociedade e também revestido de restrições. Aplica-se o regime jurídico administrativo.

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5º parte -“sempre se sujeita à apreciação do Poder Judiciário”- outro ponto que não podemos esquecer. Todos os atos administrativos se sujeitam a apreciação do Poder Judiciário. TODOS! Não interessa se o ato é discricionário ou vinculado. É ato administrativo? É! Então ele se sujeita a apreciação do Poder Judiciário. É isso que diferencia o ato administrativo do ato judicial. O ato judicial é imutável, o ato administrativo não é imutável pois sempre se sujeita a apreciação do poder judiciário. No Brasil vigora o sistema inglês, também chamado de Unidade de Jurisdição, consagrado no ART. 5, XXV que diz “A lei não excluirá do judiciário lesão ou ameaça de lesão à direito” Por isso todos os atos administrativos podem ser apreciados pelo Poder Judiciário no que toca à sua legitimidade.

Esse é o conceito AMPLO de ato administrativo.

Alguns doutrinadores acham esse conceito é amplo demais, pensam que essa definição acaba abrangendo outras categorias de atos que não nos interessam, atos que podem não ser administrativos. Por isso criaram uma definição mais concisa, de modo a abranger somente os atos administrativos propriamente ditos. Eles não vão dizer que ato administrativo é toda declaração, em vez disso, vão dizer que ato administrativo é uma declaração unilateral que produz efeitos imediatos. O que o conceito restrito faz é diminuir a categoria dos atos e dizer “ato administrativo não é qualquer ato” são apenas os unilaterais e que produzem efeitos jurídicos imediatos.

B- Ato administrativo em sentido estrito (Maria Sylvia Di Pietro)É apenas a declaração unilateral e que produz efeitos jurídicos concretos (concretos = produz efeitos imediatos), do Estado ou de quem lhe faça as vezes (autarquia, fundação pública, empresa pública e sociedade de economia mista), inferior à lei (não cria lei, tão somente a explica) e a titulo de cumpri-la, regida pelo Direito Público e sujeita a apreciação do Poder Judiciário (porque no Brasil vigora o sistema inglês e todos os atos administrativo podem ser apreciados pelo poder judiciário sob o aspecto da legalidade).

As duas definições estão certas, a segunda é apenas mais específica que a primeira, não há definição certa e definição errada aqui.

Portanto: ato administrativo é a declaração do Estado, é uma exteriorização, é a manifestação de vontade do Estado ou de quem lhe faça as vezes , pois há outras pessoas que não o Estado que praticam atos administrativos (autarquias, fundações públicas, empresa pública, sociedade de economia mista). A empresa pública e a sociedade de economia mista, mesmo sendo estas de direito privado, praticam atos administrativos. Concessionárias se serviço público como TIM, OI, VIVO, praticam atos administrativos também. Ato administrativo é o ato do Estado ou de quem lhe faça as vezes. O ato administrativo é inferior a lei, ele só explica a lei, ele não cria a

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lei. Além disso, não pode contrariar a lei. Ele é regido pelo direito público, é revestido de poder. Todo ato administrativo é sujeito a apreciação do poder judiciário no que toca à legalidade.

Súmula 333 STJ : Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

Vale lembrar a súmula 333 do STJ que diz que cabe mandado de segurança contra atos praticados em licitação por empresas públicas (por ex: caixa econômica federal e empresa brasileira de correios e telégrafos) e contra atos, praticados em licitação, por sociedades de economia mista (banco do brasil, banco do nordeste, eletrobrás e petrobrás). Quando uma sociedade de economia mista, mesmo de direito privado, pratica atos de licitação, elas praticam atos administrativos.

O que é fato Administrativo?Para alguns, fato administrativo são atos materiais realizados no exercício da função administrativa. Para outros, fato administrativo corresponde a uma espécie de fato jurídico, são acontecimentos que produzem conseqüências no Direito Administrativo.O que é fato da administração?É o acontecimento irrelevante. Se for relevante é fato administrativo; se for irrelevante é fato da administração. O que é ato da administração?É a expressão mais ampla para designar quaisquer atos praticados pela Administração Pública. Qualquer ato, seja ele geral, individual, unilateral, bilateral, discricionário, vinculado, de direito público, de direito privado, que produz efeitos, que não produz efeitos. É a expressão mais ampla. O que é ato administrativo?É espécie do gênero “ato da administração”. É a declaração do Estado ou de quem lhe faça as vezes, regido pelo Direito Público, inferior à lei e à título de cumpri-la e sujeito à apreciação do Poder Judiciário.

* Lembrando que o SILÊNCIO DA ADMINISTRAÇÃO não é ato! É fato!Não é ato porque não é declaração de vontade. É fato porque produz conseqüências no Direito Administrativo. E para sanar o silêncio, ou se propõe um recurso administrativo ou uma ação judicial (com todas aquelas ponderações). CARACTERÍSTICAS DO ATO ADMINISTRATIVO

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O ato pode ser visto no que toca à sua perfeição, pode ser visto no que toca a sua validade, ou pode ser visto no que toca a sua eficácia. Esse é o ato: é perfeito, válido e eficaz.

É como se fosse eu: eu sou carioca, sou estudante, sou mulher. Posso ser três coisas ao mesmo tempo? Claro! Uma coisa não exclui a outra! São três realidades diferentes que caminham juntas porque se referem à mesma pessoa. E assim é o ato administrativo.

Quando o ato administrativo é perfeito?Quando ele completou seu ciclo de formação.Quando um ato administrativo é válido?Quando foi praticado conforme o Direito.Quando um ato administrativo é eficaz?Quando está apto à produzir seus efeitos jurídicos.

1- PERFEIÇÃODiz respeito à formação do ato, isto é, perfeito é o ato que completou seu ciclo de formação. Imperfeito, portanto é o que não está formado.

Perfeição, validade eficácia são realidades diferentes que caminham lado a lado. Perfeito é o ato administrativo que completou todo o seu ciclo de formação, todas as etapas que a lei exige; a doutrina gosta de conceituar dizendo que “perfeito é o ato que completou todo o seu ciclo de formação.” Ato imperfeito é aquele que não completou o seu ciclo de formação, não está completo e, se o ato não está perfeito ele não pode produzir os seus efeitos. Se o ato não está perfeito ele

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ainda não nasceu, ou seja, ele ainda não está apto à produzir suas conseqüências jurídicas.

2-VALIDADEDiz respeito à conformidade do ato com o ordenamento jurídico. Ou o ato está de acordo com o ordenamento ou não está. Não existe ato “mais ou menos válido”. O ato nulo é inválido? SIMO ato anulável é inválido? SIMO ato inexistente é inválido? SIMPois todos estão em desconformidade com o ordenamento jurídico.

Diferente da perfeição nós temos a validade e, aí, sem sombra de dúvida é onde temos que nos concentrar. Validade diz respeito à conformidade do ato com o ordenamento jurídico. Perfeito é o ato que foi praticado conforme o ordenamento jurídico. Não digo praticamente conforme a lei é necessário que ele observe o ordenamento jurídico (a legislação, os princípios que compõe o ordenamento). Portanto válido é o ato praticado conforme a lei, mas também conforme a razoabilidade, a legalidade, a proporcionalidade. Se válido é o ato que foi praticado conforme o ordenamento jurídico, inválido é o ato que foi praticado em desconformidade com o ordenamento jurídico, é a antítese. Não existe ato mais ou menos válido, não tem meio termo, é 8 ou 80: ou um ato é válido, ou é inválido.

3- EFICÁCIADiz respeito à aptidão do ato para produzir seus efeitos típicos. Efeito jurídico típico é o efeito jurídico principal. Logo, o ato que não está pronto para produzir efeitos, é ineficaz. Exemplo: um Governador edita um ato com a seguinte frase no final “ está ato entrará em vigor daqui há 50 dias.” O ato é válido? Sim. Mas é eficaz? Não. Só será eficaz quando entrar em vigor “daqui a 50 dias” não sendo eficaz, portanto, na data de sua publicação.

A eficácia diz respeito à aptidão do ato para produzir seus efeitos jurídicos típicos. Se um ato está apto a produzir seus efeitos jurídicos típicos, ele é eficaz. Percebam que o ato administrativo pode produzir outros efeitos que não os seus efeitos principais/próprios/típicos, os efeitos que estão previstos na lei. Se ele produzir outros efeitos que não são os seus efeitos previstos em lei, ele ainda não é um ato eficaz.

Observe que como são três realidades independentes:*Eu posso ter um ato administrativo perfeito, inválido e ineficaz: perfeito significa que ele se completou; inválido significa que ele foi praticado em desconformidade com o Direito; e ineficaz significa que o ato não está apto para produzir todos os seus efeitos jurídicos.

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* Eu posso ter um ato administrativo perfeito, inválido e eficaz: perfeito significa que ele se completou; inválido significa que ele foi praticado em desconformidade com o Direito; e eficaz significa que o ato está apto para produzir todos os seus efeitos jurídicos. Mas por quê? Porque enquanto não declarada formalmente a invalidade do ato, ele produz todos os seus efeitos como se válido fosse .

* Eu posso ter também um ato perfeito, válido e ineficaz: perfeito porque se completou; válido porque foi praticado em conformidade com o ordenamento; e ineficaz porque embora perfeito e em conformidade com a lei ele não produz seus efeitos típicos. Imagine um ato, por exemplo, sujeito a termo, à condição. Imagine que o Governador faça um decreto (decreto é ato administrativo!) dizendo que o ato entra em vigor em 40 dias após a publicação. Feito hoje, o decreto é perfeito, feito em conformidade com a lei é valido, mas como só vai produzir efeitos daqui a 40 dias, de hoje até o quadragésimo dia ele é ineficaz para produzir seus efeitos.

ATENÇÃO: você deve ter observado que, antes de qualquer coisa, o ato precisa ser perfeito, porque antes, ele precisa existir.

4- PERFEIÇÃO, VALIDADE, EFICÁCIA E EXEQUIBILIDADE* DO ATO ADMINISTRATIVO(*)Professor José dos Santos Carvalho Filho cita também a exeqüibilidade como atributo do ato administrativo.O Professor José dos Santos Carvalho Filho fala que além da perfeição, da validade e da eficácia, ainda existe mais ou outro plano que devemos apreciar: a exeqüibilidade. A exeqüibilidade diz respeito à efetiva capacidade do ato para produzir DIREITOS. Então a exeqüibilidade é algo à mais do que a eficácia, pois enquanto a eficácia é a aptidão do ato para produzir efeitos, a exeqüibilidade é a capacidade real do ato de produzir direitos, é a efetiva operatividade do ato. Segundo o Prof. José dos Santos Carvalho Filho o ato pode ser: perfeito, válido, eficaz e exeqüível. (Segue diagrama)

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A exequibilidade é um ‘plus’ em relação à eficácia, é o ato estar produzindo efeitos naquele momento. Por exemplo: ato editado às 16h do dia 31/12 é exequível? Não. Só será exequível em 02/01 do ano seguinte!A maioria dos doutrinadores encaixa a exeqüibilidade no campo da eficácia, mas o Prof. José dos Santos não: só ele faz essa distinção.

Ato nulo, ato anulável ou ato inexistente: tanto o ato nulo quanto o anulável quanto o inexistente são atos inválidos, pois foram praticados em desconformidade com o ordenamento. Dizer que o ato é nulo, anulável ou inexistente é tão somente dizer como o Direito reage à esses atos, quais são as conseqüências jurídicas que advém desses vícios.

ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVOO que são atributos? São características, são qualidades. Se o ato administrativo é a uma declaração do Estado ou de quem lhe faça as vezes, inferior à lei e no sentido de cumpri-la, regido por normas de Direito Público e sujeito à apreciação do Poder Judiciário, essa declaração do Estado tem características/qualidades/atributos.Um ato administrativo que tem qualidades especiais que o tornam diferente de todos os outros atos jurídicos.

Mas o que os atos administrativos têm que os tornam especiais?

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1- Para C. A. Bandeira de Mello os atributos do Ato Administrativo são: A- Presunção de Legitimidade;B- Imperatividade;C- Exigibilidade;D- Executoriedade.

2- Para Maria Silvya Zanella Di Pietro, os atributos do Ato Administrativo são: A- Presunção de Legitimidade e Veracidade;B- Imperatividade;C- Autoexecutoriedade (desdobrada em Exigibilidade Executoriedade);D- Tipicidade (só ela fala em tipicidade).

* COMEÇANDO POR MARIA SYLVIA: A- Presunção de Legitimidade e Presunção de Veracidade**** Importante: todos os atos da administração possuem essa característica! É o único atributo que está em todos os atos da administração. E se todos os atos da administração possuem essa característica, todos os atos administrativos, que lato sensu , são espécies destes, também.

A presunção de legitimidade diz respeito ao Direito, à conformidade do ato com o ordenamento: presume-se que o ato praticado pela administração foi praticado por um sujeito competente, na forma prescrita na lei e dentro de seus limites, objetivando a finalidade legal. E se presume legítimo, até prova em contrário. Dizer que o ato administrativo tem presunção de legitimidade é a mesma coisa que dizer que ele tem “fé pública”Já a presunção de veracidade diz respeito a fatos: se a Administração diz que o fato no qual se baseou o ato aconteceu, ele realmente aconteceu! Ele se presume verdadeiro até prova em contrário. O Ato Administrativo é um ato de poder, é a expressão de uma das funções do Estado, e o Estado é soberano. Por isso, seus atos estão acima dos atos dos particulares e têm presunção de legitimidade e veracidade. Vale lembrar também que a Administração Pública atua diante da Legalidade, que é uma legalidade em sentido amplo pois alberga além da lei os princípios do Direito. Se a CF impõe que a Administração Pública Direta e Indireta o dever de agir com legalidade, presume-se que todos os atos que ela praticar sejam praticados conforme a lei.Vale dizer também que no Brasil vigora o sistema inglês, que diz que a lei não excluirá do judiciário lesão ou ameaça de lesão ao Direito, por isso, mesmo tendo presunção de legitimidade e veracidade, se o ato não estiver conforme a lei ele poderá ser destruído, pois ele não é definitivo e se sujeita à controle.

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Existe também o Principio da Segurança Jurídica, pois se cada ato da Administração pudesse ser contestado antes de produzir efeitos, a Administração ficaria completamente “presa”, engessada.

Quando é dito que o ato administrativo se presume verdadeiro e legítimo até prova em contrário, o que se quer falar é que essa presunção é relativa, é uma presunção juris tantum, que admite prova em contrário! Se alguém provar que o ato não é verdadeiro ou legítimo, obviamente essa presunção será afastada, mas cabe à outra pessoa interessada provar, pois a presunção é de que todos os atos administrativos são legítimos e verdadeiros.Ex1: (multa de trânsito. Valor de 80 reais e menos 03 pontos na carteira). Chega na sua casa uma notificação, um ato administrativo portanto, dizendo que você no dia X estava dirigindo o seu veículo Y e falando ao telefone celular. Há presunção de veracidade e legitimidade nesse ato. Mas se você pensa que há algo inverídico ou ilegítimo nele cabe a você reunir suas provas e atacar o ato.

A 1ª conseqüência jurídica da presunção de legitimidade e da presunção de veracidade dos atos administrativos é a autoexecutoridade. Porque imagine só: se um ato é verídico e legítimo, a administração não precisa pedir autorização ao juiz para executá-lo. Ela executa o ato por si mesma e automaticamente. A 2ª conseqüência da presunção de legitimidade e presunção de veracidade é que o ato administrativo, mesmo inválido, produz seus efeitos como se válido fosse. Isso é muito perigoso, embora o ato seja praticado em desconformidade com a lei, ele produz

efeitos como se válido fosse, afinal, ele é presumidamente legítimo e verídico. Até a própria Administração anular o ato, até o Poder Judiciário anular o ato, ele vai ficar por aí produzindo efeitos tal qual um ato válido. Ex2: A lei diz que toda farmácia só pode vender medicamentos controlados retendo o receituário específico, sob pena de multa. Fulaninho, que é fiscal, vai fiscalizar a farmácia e, ao perceber que eles não retém o receituário na venda dos medicamentos controlados, fica muito chateado e LACRA farmácia. Na verdade, o ato de fulaninho é inválido pois não foi realizado conforme a lei. A lei deu competência ao Fulaninho para multar e não para lacrar/fechar a farmácia. Mas diante da presunção de legitimidade e veracidade que todo ato administrativo tem, ele vai produzir seus efeitos. Portanto, a farmácia vai ficar lacrada até que o dono ajuíze uma ação para que: 1- A Administração anule o ato. 2- O Juiz anule o ato. Até o ato ser declarado formalmente inválido, a farmácia vai ficar fechada.

A 3ª conseqüência está no Art. 168 do Código Civil, que diz:

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Art. 168 . As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

Celso Antônio defende a aplicação do Art.168, ou seja, se o ato tiver alguma nulidade, o juiz pode reconhecer de ofício e o MP pode argüir caso seja parte.

Mas, segundo Maria Silvya Di Pietro , como o ato tem administrativo tem presunção de legitimidade e veracidade, o juiz não pode reconhecer a nulidade de ofício e nem o MP, isso só pode ser feito à requerimento das partes. (POSIÇÃO PARTICULAR)

Portanto, Maria Sylvia diz: NÃO SE APLICA O ART. 168, CC; e para CELSO ANTÔNIO SE APLICA O ART. 168, CC.

B- Imperatividade / Coercibilidade / Poder Extroverso (doutrina italiana)Significa que o ato administrativo se impõe ao seu destinatário, criando pro seu destinatário um dever, uma obrigação de forma unilateral, quer ele aceite ou não.O ato é de poder! Ele sai da esfera administrativa para alcançar um terceiro (por isso é extroverso) e cria para ele uma obrigação. A administração praticou um ato? Então a obrigação foi criada indepentente de sua vontade, unilateralmente.Ex1: em janeiro chega uma cartinha escrito “IPTU 2010” chamada “Lançamento”. Quando a administração pratica esse lançamento tributário, você é obrigado à pagar o valor que ela definir, da forma que ela definir, e você está obrigado à cumprir.

Apenas os atos que criam obrigações possuem imperatividade, logo, não é todo ato administrativo que tem imperatividade, mas a-pe-nas os que criam obrigações.

Todo ato que sai da esfera administrativa e não te obriga a fazer determinada coisa, não tem imperatividade. Por exemplo, que ao invés de criar obrigações, há atos que criam direitos. Um ato em que o Poder Público dá uma licença para a construção de uma casa não tem imperatividade; bem como um ato de nomeação de alguém que passou em um concurso não tem imperatividade.

Em prova: todo ato administrativo é imperativo?Não! Apenas os que criam obrigações!

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Ex.1: Ato de Nomeação.: você passa no concurso para Delegado em Florianópolis. Você mora no RJ, acha o Sul muito distante, e não quer ir. Você tem obrigação de ir lá e tomar posse? Não! Porque o ato administrativo de nomeação não tem imperatividade/coercibilidade/poder extroverso.Ex.2: Ato de autorização (Licença): a Administração te autoriza a portar arma de fogo, a ter porte de arma. Você tem obrigação de ter uma? Óbvio que não. É ato administrativo sem coercibilidade, imperatividade, poder extroverso. Ex.3: Licença para construir um prédio: a Administração te deu uma licença pra constuir um prédio. Você tem obrigação de construí-lo? Não! A licença está dada, mas você constrói de quiser.

C – Autoexecutoridade/ Executoridade (IPC!)Significa que o ato administrativo pode ser colocado em prática sem prévia autorização/intervenção do Poder Judiciário. A Administração pode executar seus atos sem recorrer ao Judiciário. Se o ato é resumidamente legítimo e verdadeiro, a administração pode colocá-lo em prática desde já. Em outras palavras, a administração pode colocar o ato em prática sem pedir ao juiz. Isso é autoexecutoriedade. Isso não acontece por ex., nos negócios jurídicos entre particulares. Quando eu empresto mil reais para um colega e ele não me paga, eu não posso ir lá e obrigá-lo à pagar o que ele me deve, eu tenho que ir ao judiciário com minhas provas e propor uma ação de cobrança para que o juiz ordene o tal colega à pagar os débitos que ele tem comigo. A executoridade / autoexecutoriedade só existe em duas situações:

1º situação: quando a lei expressamente trouxer previsão / estabelecer. Quando a lei diz que a administração poderá montar/interditar/multar, se a lei diz que a administração pode então a lei está declarando que o ato é autoexecutório. A administração pode executar o ato sem acionar o Judiciário. Ex: aplicar multa – a administração pode aplicar uma multa quando a lei fixa essa penalidade. MAS, observe: a administração pode aplicar a multa (e nesse ato há autoexecutoriedade), mas não pode cobrar a multa, ou seja, transformar com suas próprias mãos a multa em dinheiro! A administração deve pegar a multa e o ato administrativo, inscrever a pessoa em dívida ativa, acionar o judiciário com uma ação de execução fiscal para aí sim, receber o pagamento. Então: a aplicação da multa é ato autoexecutório, mas a cobrança pecuniária de multa não é ato autoexecutório.

2º situação: quando as circunstâncias do caso exigem: Quando a Administração age pelo interesse público ou deixa de agir e ele perece. Neste caso não há lei autorizando, mas a situação exige uma atitude imediata e enérgica. Se a finalidade da administração é

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proteger o interesse público, ela deve agir rapidamente quando houver o perigo do perecimento.

A plicação de multa é ato

autoexecutório SIM!

X Cobrança pecuniária da multa NÃO!

Observe: o IBAMA multou uma fábrica em 400 milhões. A fábrica está obrigada a pagar? Sim. Mas se ela não quiser pagar, a execução da dívida é imediata? Não. O IBAMA tem que inscrever na dívida ativa, pegar o título e levar a esfera do Judiciário para promover a execução fiscal. Se é necessário a propositura de ação judicial é porque ele não é o que? Autoexecutório.

Obs: Maria Silvya Zanella Di Pietro desdobra a autoexecutoriedade em dois pontos:

1º Exigibilidade: significa que a administração pode praticar atos que se traduzem em meios indiretos de coerção, sem pedir ao judiciário. Na exigibilidade a administração pratica um ato, e esse ato cria uma obrigação pra você (é a imperatividade). A Administração quer você cumpra a obrigação e, para te convencer a cumpri-la, pratica atos administrativos que se traduzem em meios indiretos de coerção, para que você cumpra a obrigação. Por ex.: você não cumpriu a obrigação? A administração dá uma advertência. Não cumpriu ainda? A administração multa. Não cumpriu ainda? Multa novamente. E tudo isso significa o que? Uma pressão pra que cumpra

AUTOEXECUTORIDADE

EXIGIBILIDADE EXECUTORIEDADE

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a obrigação. Praticar esses atos indiretos de coerção ser pedir ao juiz chama-se exigibilidade.

2º Executoriedade: significa que a administração pode praticar atos que se traduzem em meios diretos de coerção, sem a intervenção do poder judiciário.A executoriedade equivale a uma execução forçada, é como se a administração fizesse justiça com as próprias mãos. Por ex.: Uma fábrica está poluindo o meio ambiente. A administração vai lá e adverte. A fábrica continua poluindo. A administração vai lá e multa. A fábrica continua poluindo. Então a Administração vai lá e desliga o forno da fábrica, lacra tudo e fecha. Esse é o meio direto de coerção, e a Administração o executa sem autorização do Judiciário. Se o dono da fábrica achar que foi desproporcional, ele que vá levar sua pretensão à análise do juiz.

D- TipicidadeNão são todos os doutrinadores que reconhecem a tipicidade como um atributo do ato administrativo. A Maria Sylvia Di Pietro fala sobre esse atributo e os livros que também falam sobre ele seguem o pensamento dessa importante doutrinadora. A tipicidade é o atributo do ato que tem o seguinte significado: o ato administrativo está descrito na lei, bem como seus efeitos. De modo que, para cada finalidade que a Administração Pública pretende alcançar há um ato administrativo típico. O ato que está descrito na lei possui o atributo da tipicidade. Se a Administração quer punir o servidor existe o ato de demissão; se a Administração quer atender a necessidade do serviço existe o ato remoção; se ela quer proteger um bem porque esse bem se reveste de características importantes para a história brasileira a Administração pratica o ato de tombamento;

Nem todo ato possui esse atributo, apenas os unilaterais. Só ato unilateral é típico. Por quê? Por causa do Principio da legalidade no ãmbito da administração, que se traduz em “a administração só faz o que a lei manda”. Se o ato é unilateral é típico, ele tem que estar na lei, concorda? Partiu da administração.

Qual o único atributo presente em todos os atos administrativos? Presunção de veracidade e presunção de legimitidade

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RESUMO DA AULA 2

Perfeição , Validade e Eficácia são realidades diversas que coexistem.

* São características do ato administrativo:

Presunção de Veracidade ou Presunção de Legitimidade (é o único atributo que existe em todos os atos

administrativos);

Imperatividade ou Coercitividade ou Poder Extroverso (o ato cria uma obrigação, um dever para o seu destinatário);

Autoexecutoriedade ou Executoridade (a Administração pratica atos administrativos sem recorrer ao Judiciário; o ato só é autoexecutório quando a lei diz ou quando as circunstâncias

exigem, pois há perigo de perecimento);

Tipicidade (o ato corresponde a figuras definidas na lei; só existe nos atos unilaterais; é apontado apenas por Maria Sylvia

Zanella Di Pietro).

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ELEMENTOS / REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Alguns doutrinadores preferem chamar de requisitos, mas aqui vamos usar o termo elementos. Falar sobre os elementos é falar sobre o que integra a declaração do Estado chamada “atos administrativos”, que juntos formam essa vontade do Estado. Vamos estudar então o que compõe os atos administrativos.Não existe uniformidade no que diz respeito à essa matéria, mas a maioria dos doutrinadores aponta como elementos do ato administrativo o sujeito, a forma, o objeto (alguns chamam de conteúdo), o motivo e a finalidade. São, portanto, 05 elementos (lembre do filme “O 5º Elemento”, com a Milla Jovovich).

(A idéia é a seguinte: o ato administrativo é a declaração de vontade da administração pública, inferior a lei, regida pelo direito público e sujeita a apreciação do poder judiciário. Esta declaração chamada ato administrativo tem um sujeito, que é quem pratica o ato; essa declaração de vontade tem uma forma, que é a maneira pela qual ela se exterioriza; essa declaração tem um objeto que é o efeito que a declaração produz; essa declaração tem um motivo, que é o que levou à prática do ato, é a razão/causa; essa declaração tem uma finalidade, afinal, quando o Estado praticou o ato, ele praticou pra quê?!)

Com base em quê a doutrina aponta esses cinco elementos? Com base no Art. 2º da Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965

A Lei 4.717/65 (Lei de Ação Popular) diz:

Art. 1º - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de

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economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Art. 2º - São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:a) incompetência;b) vício de forma;c) ilegalidade do objeto;d) inexistência dos motivos;e) desvio de finalidade.

Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou;b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

Em cada elemento devemos verificar o conceito, se ele é vinculado ou discricionário; que tipo de vício pode existir em cada um deles; se o vício/ilegalidade no mesmo é sanável ou insanável; então vamos devagar e recebendo as informações aos pouquinhos.

A- Sujeito (a lei 4.717/65 chama de competência, ao invés de sujeito)

B- Forma C- Objeto (também chamado de conteúdo)D- MotivoE- Finalidade

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A- SujeitoO Estado como pessoa jurídica só pode ter sua vontade exteriorizada através de pessoas naturais, pessoas físicas, chamadas de agentes públicos, e os atos desses agentes são imputados ao Estado. Sujeito portanto, é o agente público incumbido pela lei de praticar o ato administrativo. A lei diz quem é que vai praticar o ato. Esse sujeito deve ter capacidade(1) e competência(2).

A capacidade do sujeito é definida pelas regras de direito civil. É a maioridade, o pleno gozo de suas faculdades mentais, o não ter a vontade viciada (não há impedimento, suspeição, coação, nem dolo, nem fraude). Além de capaz, o sujeito precisa ser competente, e é aí que o Direito Administrativo entra pois quem define regras de competência é o Direito Administrativo.A competência é a atribuição dada pelo direito positivo (Administrativo) para que o sujeito pratique o ato. Essa atribuição é definida em regra pela lei, mas pode ser também definida pela Constituição Federal, no caso de regras de competência mais importantes, para autoridades mais importantes. Ex.: Art 84 (competência privativa do Presidente da República).No caso de órgãos de escalão inferior, a competência pode ser definida por ato administrativo interno, atos normativos internos. Ex: uma autarquia que internamente foi feito um ato normativo determinando a competência de um determinado setor: “compete ao setor X a emissão de passagens aéreas”. Em regra a competência é fixada pela lei, e, excepcionalmente, pela Constituição e por atos administrativos internos. As características da competência são:

Competência é inderrogável. Ela não pode ser modificada pela vontade/acordo das partes, não pode ser modificada pela vontade da Administração ou dos agentes públicos.

Competência é improrrogável. O agente competente não se torna competente. Se a competência é definida pela norma, não pode um incompetente se tornar competente, a não ser que a regra de competência mude. Incompetência não se transmuta em competência;

Competência não se presume, competência decorre de norma expressa;

Competência é irrenunciável. O agente competente não pode dizer que não vai agir, ele é obrigado à praticar o ato pois a competência é definida pela lei. Mas, atenção: a competência admite delegação e avocação (vide Art. 11 ao Art. 17 da Lei 9784/99);

CAPÍTULO VIDA COMPETÊNCIA

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.

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Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: I - a edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. § 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante. § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado. Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publicamente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.>>>> Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir.

A delegação de competência ocorre quando o superior transfere para o subordinado o exercício de uma competência que a lei atribuiu a ele. É como se a lei dissesse: “Ivi, você é o agente competente”, e eu transferisse para o meu subordinado o exercício da competência: “-Veja bem subordinado, eu estou ocupadíssima hoje, portanto você realizará esse ato em meu nome.”

A avocação é o contrário, é quando o superior hierárquico chama pra si o exercício de uma competência que a lei fixou para o subordinado.

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Na avocação a competência é definida na norma para o subordinado, mas o superior chama para si.

A Lei 9784/99 em seu Art.13 traz em seu texto os casos nos quais não é possível a delegação.

Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:I - a edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos;III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Em suma, a lei vai dizer: se for competência exclusiva o superior não pode delegar pro inferior; se for decisão de recurso administrativo o superior não pode delegar pro inferior; se for competência para editar ato normativo o superior não pode delegar pro inferior.Tirando essas três exceções (incisos I, II e III), a regra é a possibilidade de delegação, ao passo que a avocação tem natureza excepcional.

Observe que as regras de competência do Direito Processual Civil são totalmente diferentes das regras de competência do Direito Administrativo. No Direito Administrativo o incompetente nunca se torna competente, só se a lei mudar. Como a competência só decorre da norma expressa, não se pode modificá-la.

VÍCIO NO SUJEITOVício é ilegalidade dentro do ato. O ato é inválido, seja o vício em quaisquer dos elementos do ato.

A ilegalidade que pode viciar o ato dentro do sujeito é o vício na capacidade e/ou na competência. Se o sujeito for incapaz ou incompetente há vício no ato.

Vício na capacidade = incapacidade superveniente (sujeito ficou louco); Vício na capacidade = menoridade, suspeição e impedimento (vícios na vontade, vontade viciada, por exemplo, pelo fato de o beneficiário do ato ser um inimigo mortal, um parente, alguém com quem se tem vínculo, etc.). Os vícios na capacidade são sanáveis, são passíveis de correção, de convalidação. O ato é ilegal, mas é sanável, pode ser convalidado.

Vício na competência: se o ato foi praticado por quem não tinha atribuição legal para fazê-lo, haverá vício na competência. Vício na competência é em regra sanável. Só não é sanável se a competência for exclusiva e o ato não puder ser convalidado/sanado. O Art. 2º §único alínea “a”da lei 4717/65 (Lei de Ação Popular) traz o conceito legal de incompetência:

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Vide art.18 ao Art. 20 da Lei 9784/99:

Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que:I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro.

Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar.Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.

Art. 20. Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.

Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.

Parágrafo único: para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:a- a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou.

B- FormaA forma é o meio pelo qual o ato se exterioriza. A forma de exteriorizados atos administrativos em regra é a forma escrita. E a doutrina vai dizer, como a regra do ato administrativo é a forma escrita, aplica-se o Princípio da Solenidade. Porque dizemos que o ato administrativo é solene? Porque a regra é que o ato administrativo seja escrito, só isso. Obviamente existem exceções à regra. O sinal de trânsito com a luz vermelha é um ato da administração que indica: PARE; O apito do guarda, a faixa de pedestres, todos são atos administrativos e, no entanto, não têm forma escrita. Outro exemplo consta no parágrafo único do Art. 60 da Lei 8.666/93. Muita atenção nele!

Art.23: As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação:

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I - para obras e serviços de engenharia: a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais);

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais); c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais).

Art. 60. Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interessadas, as quais manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático do seu extrato, salvo os relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.

Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a 5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em regime de adiantamento.

Pegou? Então, o ato administrativo pode ser verbal no caso de contratos de pequenas compras e pronto pagamento, assim entendidas aquelas com valor não superior a 4 mil reais (5% de 80 mil reais) feitas em regime de adiantamento.

O elemento “forma” pode ser analisada em dois sentidos

Sentido amplo: formalidade ou formalização.É o conjunto de providências que envolvem a prática do ato. Ou seja, se a lei mandou fazer por escrito, você escreve. Se a lei mandou publicar, você publica. Se a lei mandou registrar, você registra.

Sentido estrito: é o meio pelo qual o ato administrativo se exterioriza, é a forma escrita. É, via de regra, exteriorizado por escrito. Daí a doutrina falar em solenidade dos atos administrativos: é o ato por escrito. Há ato administrativo sem ser por escrito? Sim. Ex1:os sinais de trânsito por exemplo (vermelho:pare; verde:siga;); o apito do guarda; sons e desenhos são atos não escritos e também vão produzem efeitos. Ex2: lei 8666, art. 59, §único (licitações) - nos contratos de pronta entrega e pronto pagamento em regime de adiantamento, a forma poderá ser verbalo ato pode ser verbal. Ou

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seja, eu tenho um ato administrativo cuja forma pode ser verbal. Recebi a mercadoria, é até 4 mil reais? O ato pode ser verbal.

Motivação do AtoArt.50, lei 9784/99Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

A motivação é a justificação do ato, é a explicação do ato, é a exposição dos motivos, é a indicação dos pressupostos de fato e de direito que ensejaram a prática do ato.Motivar nada mais é do que é explicar o porquê de o ato ser praticado. A doutrina vai dizer: motivar, explicar, justificar, é uma exigência de uma Administração Pública democrática, pois a sociedade tem o direito de saber o porquê dos atos. A motivação integra a forma do ato administrativo. Por quê? Porque no exato momento em que a administração exterioriza o ato

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(na hora em que o agente público escreve, pois o ato em regra é escrito) é que ela vai explicar as razões dele.

Em seu Art. 2º, a lei 9784/99 diz que a motivação é um princípio que deve ser observado pela Administração Pública.

A motivação é obrigatória ou facultativa? A Administração tem o dever de motivar ou é tem a faculdade/opção de motivar? Ela explica se quiser ou ela tem que explicar?Para a maioria dos administrativistas, como Celso Antônio Bandeira de Mello e Maria Sylvia Di Pietro, a Administração Pública tem o dever de motivar os seus atos pois a sociedade tem o direito de conhecer os motivos que levam a Administração Pública à agir. Para a doutrina moderna a motivação é sempre obrigatória.Outros vão dizer que a motivação só é obrigatória quando a ler disser.E nesse sentido caminha o Art. 50(*), da lei 9784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal), que dispõe que a motivação só é obrigatória nos casos previstos.

Portanto, em todos os outros casos (nos casos que não estão no Art.50 da Lei 9784/99) a motivação é facultativa, a Administração Pública explica seus atos se quiser.

(*) Esse é para saber de cor!

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;V - decidam recursos administrativos;VI - decorram de reexame de ofício;VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. § 1o a motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. § 2o na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos

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das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados. § 3o a motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

VÍCIO NA FORMA

Vício é ilegalidade dentro do ato.

Falta de motivação, quando a motivação integra a forma (prevista em lei), é vício na forma e não vício no motivo! Se a motivação integra a forma do ato, quando não há motivação o vício é na forma. Atenção nisso!

O Art 2º §único, alínea “b” da lei 4717/65 traz o conceito legal de vício na forma:

b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;Na prova pode vir um conceito “enxugado” dizendo: “há vício na forma quando a forma prescrita em lei não foi observada.” E esse conceito é plenamente aceitável, está certinho embora não seja a lei in fine. O vício na forma é insanável.

C- Objeto ou ConteúdoObjeto ou conteúdo é o efeito jurídico i mediato que o ato produz , é o que o ato enuncia, prescreve. O José dos Santos Carvalho Filho, tentando explicar esse conceito de forma mais clara diz que objeto/conteúdo é a transformação jurídica produzida pelo ato, é o que o ato extinguiu, criou ou modificou.Se o ato administrativo é um ato jurídico, o que ele cria? O que ele extingue? O que ele modifica? Essa transformação que ele causa, é seu objeto. Ex1- Qual o objeto do ato administrativo do tombamento?Impôr restrições parciais do direito de propriedade. Não pode reformar, vender, alugar, etc.Ex2- Quando a Administração remove um servidor da Bahia para o Rio de Janeiro, o objeto é a transformação jurídica, o efeito imediato que o ato de remoção efetuou, ou seja, é o deslocamento do servidor da Bahia para o Rio de Janeiro.

VÍCIO NO OBJETO/CONTEÚDO

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Vício é ilegalidade dentro do ato.

OBS: a alínea “c” do §único, Art. 2º da lei 4717/65 define vício no objeto.

c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;

Se o objeto é ilícito, impossível, ilegal ou imoral o vício é insanável.

D- MotivoMotivo é o fato que ensejou a prática do ato administrativo. O que aconteceu que levou a Administração a praticar aquele ato. É a causa do ato. A Administração Pública exerce um ato por alguma causa e também porque a lei determinou que, diante do surgimento dessa causa, a Administração deveria agir. Ex: Ato administrativo de tombamento. Qual é a causa do tombamento? É o bem se revestir de características que ensejam a sua preservação. Uma casa do século XVIII, em Tiradentes-MG, se reveste de características referentes à história do Brasil, e por esse motivo ela pode ser tombada.

Motivo é diferente de motivação, que é diferente de móvel. Veja o quadro.

Motivo elemento do ato administrativo.Motivação é a exposição dos motivos.Móvel é a intenção do agente, é o que passa na cabeça do agente, que só é relevante se o ato administrativo for discricionário.

VÍCIO NO MOTIVO

Vício é ilegalidade dentro do ato.

A lei 4717/65, Art. 2º, §único, alínea “d”, que traz o conceito de vício no motivo.

d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;

Por ex., se a casa do séc. XVIII do exemplo anterior não for do séc. XVIII, o motivo que levou a prática do ato administrativo é inexistente.

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Teoria dos Motivos Determinantes

Originada na jurisprudência do Conselho de Estado Francês e há muito tempo acolhida pelo STF, diz que as razões que a Administração Pública invoca para a prática do ato vinculam a validade do ato. A validade do ato está condicionada à existência e à veracidade dos motivos apresentados. De modo que, se o motivo for falso ou se for inexistente, o ato é inválido. Certos atos são discricionários, portanto a Administração tem liberdade para praticá-los, ela pode escolher como praticar esses atos. Na hora em que ela apresentar o motivo que a leva a praticar o ato, caso o motivo seja falso ou caso não exista o motivo, o ato será considerado inválido. Ato inválido, conforme já foi visto, é aquele que não é praticado conforme manda o Direito.Se administração praticou um ato, mas o motivo não existiu ou o motivo foi falso, e a administração apresentou esses motivos falsos e/ou inexistentes, o ato é inválido. Ato inválido é ilegal, e se é ilegal, será apreciado pelo Poder Ju-di-ci-á-ri-o!

Quando o Poder Judiciário aprecia os motivos ele aprecia a legalidade do ato.

Mesmo nos atos discricionários, nos casos de a autoridade ter optado por motivar mesmo tendo apenas a faculdade e não a obrigação, os motivos vinculam a validade do ato. Ex.: Cargo de provimento em comissão. O cargo de provimento em comissão é de livre nomeação e livre exoneração. Portanto, a administração não precisa motivar. Se a administração não motivar, obviamente o juiz não terá como apreciar os motivos. Mas se ela motivar, os motivos apresentadas vinculam a validade do ato! O motivo tem que ser verdadeiro e existente!

Essa é a teoria dos motivos determinantes. Neste caso, o juiz poderá analisar o ato sob o aspecto da legalidade e reconhecer a invalidade deste. O vício no motivo é insanável.E – Finalidade

A finalidade é o efeito jurídico mediato que o ato produz. É o que a Administração busca ao praticar o ato administrativo. Ex.: Ato administrativo de remoção de SP para o RJ. O ato administrativo de remoção tem como efeito imediato (efeito imediato = objeto ou conteúdo) o deslocamento do servidor de um lugar pra outro, enquanto que o efeito mediato (efeito mediato = finalidade) é atender a necessidade do serviço, afinal, se um servidor foi removido de SP para o RJ é porque há maior necessidade dele aqui no RJ do que lá em SP.

A finalidade pode ser vista em dois aspectos: em sentido amplo e sentido estrito.

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Em sentido amplo a finalidade é o interesse público. Acima de tudo, a finalidade dos atos administrativos é o interesse público. Ela demite, nomeia, abre concurso, apreende, tudo para atender ao interesse público. Em sentido estrito a finalidade é o efeito jurídico m ediato que o ato produz, isto é, é o que administração busca com a prática do ato.

VÍCIO NA FINALIDADE

Vício é ilegalidade dentro do ato. O vício no elemento finalidade é o “desvio de poder” ou “desvio de finalidade”, conceituado no §único, alínea “e”, da lei 4717/65.

e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

O vício na finalidade é insanável. Para vício de finalidade, “pau que nasce torto nunca se endireita. Pau que nasce torto até a cinza é torta”. Se um ato nasceu com uma finalidade que não foi a descrita na lei, tem como corrigir? Não, é vício insanável, não se convalida.

RESUMO

Quais são os elementos que compõem o ato administrativo? Sujeito, forma, objeto, motivo e finalidade.

Quais são os atributos dos atos administrativos? Presunção de Legimitidade e Veracidade, Autoexecutoriedade, Imperatividade e Tipicidade. (Mª Silvya Di Pietro)

Vício no sujeito e na forma em regra são sanáveis, corrigíveis, podem ser convalidados.Vício na finalidade, objeto e motivo não podem ser corrigidos, não é possível a convalidação.

-------------- Tem que lembrar! Não pode esquecer! ------------ VÍCIOS (RESUMO)

A- SUJEITO: No sujeito, podem existir três tipos de vício:- Excesso de poder: é quando o agente exorbita a competência que tem. Por ex., o agente é competente para multar um estabelecimento, mas o fecha. - Função de Fato: é quando quem pratica o ato é um agente de fato, mas não de direito, ou seja, não foi regularmente investido na função. Se alguém que não tem investidura regular pratica um ato administrativo, tem-se a função de fato. É importante porque o ato

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praticado pelo funcionário público de fato reputa-se válido perante terceiro de boa fé. O ato tem um vício, não é válido. Mas em virtude da boa fé do terceiro e da segurança jurídica, ele reputa-se válido. Por ex., alguém que não foi submetido a concurso praticou um ato como se servidor fosse. - Usurpação de Função Pública : Usurpação de função pública é crime tipificado pelo código penal no Art. 326. É tão grave que é considerado crime. Quem usurpa função pública portanto pratica crime. O vício é tão grave que o ato é considerado inexistente.O vício no sujeito, em regra, pode ser convalidado. Uma exceção é o ato praticado pelo usurpador de função pública, que não pode ser convalidado.

A diferença entre função de fato e usurpação de função pública é que na função de fato houve investidura, mas a investidura foi irregular. Enquanto que na usurpação de função pública NUNCA houve investidura!

B-FORMAHá vício na forma quando a forma praticada no exercício do ato não for a forma prescrita em lei. Há vicio na forma quando ela é incompleta ou está em desacordo com a lei. O vício na forma, em regra, pode ser convalidado.

C- OBJETOHá vício no objeto quando este é ilícito, impossível, indeterminado ou imoral. Em regra o vício no objeto não pode ser convalidado.

D- MOTIVOHá vício no motivo quando o motivo é inexistente ou falso. Aplica-se aqui a Teoria dos Motivos Determinantes. O ato é inválido. Em regra, o vício no motivo não pode ser convalidado.

E- FINALIDADEHá vício na finalidade quando há desvio de finalidade, também chamada de desvio de poder (não confunda desvio de poder com excesso de poder!!). Desvio de finalidade ou desvio de poder é quando o agente pratica um ato visando outra finalidade que não a prevista em lei. A lei diz que a finalidade do ato é uma, mas o agente pratica o ato visando finalidade diversa, que não a que a lei tipificou para o ato.Ex: X é prefeito e tem competência para desapropriar qualquer imóvel. X é inimigo mortal de Y, e por isso desapropria o imóvel dele só para prejudicá-lo, para persegui-lo enquanto rival. O ato acontece de acordo com a lei, mas a finalidade é diversa. Isso é desvio de poder ou desvio de finalidade. Em regra o vício na finalidade não pode ser convalidado. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

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Como se extingue o ato administrativo? Como não há lei que discipline o assunto, há divergências doutrinárias. A maioria dos doutrinadores considera que os atos administrativos se extinguem pelo (a):

1- Cumprimento de seus efeitos / Advento do termo (extinção natural) – é a forma natural pela qual o ato administrativo se extingue. O ato cumpriu os efeitos que a lei estabelecia. Ex: a Administração concede férias ao servidor. Quando o servidor entra de férias, goza suas férias e retorna o ato administrativo concessão de férias foi efetivamente cumprido.

OBS: Pelo cumprimento dos seus efeitos ou pelo advento do termo - O ato administrativo termina porque ele cumpriu seus efeitos (ele acaba), um ato cujo termo previsto adveio (aconteceu), ou ocorreu uma condição resolutiva; é a forma natural do ato terminar, ele termina porque cumpriu seus efeitos.Ex: a Administração determinou a interdição de uma farmácia, e a farmácia foi interditada (ato terminou então); a administração determinou o tombamento de um prédio e o prédio foi tombado (fim do ato administrativo porque cumpriu). Ou adveio o termo.Ex: você pede a administração para usar a praça para fazer um show de jazz. A Administração autoriza a utilização da praça para o show entre às 19hs de sábado e a meia noite. A autorização vai durar até meia noite. Adveio o termo do ato e a condição resolutiva. Ocorrendo o show no horário determinado, o ato termina.

2- Perda do sujeito (Extinção Subjetiva) – o ato administrativo acaba pela perda do sujeito, nesse ponto é importante ficarmos atentos, porque o sujeito que desaparece é o sujeito da relação jurídica criada pelo ato, porque o sujeito que é elemento do ato NUNCA desaparece, ele é fixado na lei, ele ta lá. Ex.: imagine que X fex concurso público e foi aprovado; ele é nomeado pela administração e chamado para tomar posse; o aprovado é atropelado por um ônibus; o que acontece com o ato administrativo de nomeação? Ele se extingue pela perda do sujeito, pois se o nomeado morreu não tem ninguém pra tomar posse.

3- Extinção Objetiva (José dos Santos Carvalho Filho chama de ‘Extinção Subjetiva’)- é quando há perda do objeto. O objeto que se perde é o objeto da relação jurídica constituída pelo ato. Ex.: X e Y são sócios de um posto de gasolina; Y decide colocar água na gasolina pra lucrar mais; a Administração Pública descobre e determina o fechamento do posto de gasolina; ato administrativo = determinar o fechamento do posto; Y liga pra X e diz: ferrou! A casa caiu; X e Y extinguem a pessoa jurídica posto de gasolina e dão baixa na junta comercial; se o posto de gasolina ( a sociedade empresária) foi desconstituída, o que acontece com o ato administrativo? Se perde; se não há mais posto de gasolina pra lacrar, o ato se extingue pela perda de seu objeto.

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OBS: Perda do sujeito ou perda do objeto da relação jurídica constituída pelo ato.Na verdade você pode resumir isso daqui dizendo “perda do elemento infungível do ato”, porque os elementos infungíveis do ato são sujeito e objeto.Ex: o Governador nomeia um secretário (ato administrativo de nomeação). Diante da nomeação o secretário fica tão feliz que infarta e morre. Onde está o sujeito da relação jurídica? Morreu. Então o ato se extinguiu for falta de sujeito da relação jurídica.Ex2: um particular pede autorização à administração de uma escola estadual para colocar uma cantina no pátio (ato administrativo de permissão de uso de bem público). Só que em virtude de um curto circuito o prédio da escola pega fogo e é completamente destruído. Sendo a escola destruída, o ato administrativo

4- Renúncia do Destinatário– na renúncia o beneficiário do ato renuncia, ele abre mão de um direito que o ato lhe criava. Ex: X pede autorização à Administração Pública para colocar uma banca de revistas numa praça pública. A Administração concede a autorização; mas com o passar do tempo X chega a conclusão que não vale a pena:”é muito trabalho porá pouco dinheiro”; então X renuncia ao direito que o ato administrativo lhe concedeu.

5- Retirada – (é a forma mais importante pela qual o ato se extingue). O ato administrativo se extingue pela retirada, que ocorre quando a administração que praticou o ato pratica um outro ato depois; o segundo ato retira o primeiro, e é à ele que damos o nome de retirada. A retirada é a prática de um ato administrativo que extingue o anterior.

Quais são as formas de retirada?INVALIDAÇÃO/ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO, CADUCIDADE, CASSAÇÃO, CONTRAPOSIÇÃO.Falar em invalidação, anulação, revogação, caducidade, cassação, contraposição, é falar em fundamentos da retirada.

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ANULAÇÃO:A anulação também é chamada de invalidação, são expressões sinônimas. O ato administrativo é invalidado/anulado quando há ILEGALIDADE. Se o ato foi invalidado ou anulado, nem precisa de mais explicações, já se sabe que ele era ilegal, que estava viciado, que continha vício.

REVOGAÇÃO:Quando falamos em revogação falamos que a retirada se fundamentou em oportunidade, conveniência. Significa dizer que embora o ato seja legal ele é/tornou-se inconveniente, inoportuno, e por ser inoportuno ele não atende ao interesse publico e vai ser extinto.

ATOS DISCRICIONÁRIOS E VINCULADOS:Apenas os atos administrativos discricionários possuem mérito. Ou seja, só há mérito quando há discricionariedade. Mérito é a oportunidade e conveniência de definir o que é melhor para a Administração. Discricionariedade é a liberdade de agir dentro dos parâmetros legais. A discricionariedade é reconhecida pela lei em três situações:

1- Quando a lei expressamente diz que a administração é livre para agir (para escolher o que é mais conveniente e oportuno). Ex: cargo de provimento em comissão (livre nomeação e livre exoneração). A lei diz que a autoridade competente é livre para nomear e exonerar, ou seja, diz que a autoridade tem total liberdade para realizar esses dois atos (nomeação e exoneração, em se tratando de cargo de provimento em comissão).

2- Quando houver lacuna na lei. Ex: Art.25, lei 8666/93. O Art. 25 da lei 8666/93 traz os casos de inexigibilidade de licitação. E a lei vai dizer que é inexigível a

RETIRADA

ANULAÇÃO OU

INVALIDAÇÃOREVOGAÇÃO CASSAÇÃO CONTRAPOSIÇÃOCADUCIDADE

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licitação sempre que for inviável a competição e vai trazer três exemplos de situações. Mas observe que o legislador não pode prever todas as situações nas quais a licitação será dispensável e, por isso, quando surgir uma situação não prescrita na lei, fica reconhecida a liberdade para a administração avaliar se há ou não necessidade de licitar. Fica reconhecida a discricionariedade à Administração para realizar o ato conforme for melhor.

3- Quando a lei atribui uma competência, mas não diz como a competência será exercida. Ex: quando a lei diz que a Administração é competente para realizar algum ato mas não diz de que modo o ato será realizado. Nesse caso há liberdade (discricionariedade) pra realizar o ato conforme melhor aprouver à Administração.

(LER SUBTÓPICO DE FLS. 35)

CASSAÇÃO:É a retirada em virtude de o destinatário descumprir as condições que a lei determinava. Ex1: X é proprietário de um hotel; o hotel de X ta com a taxa de ocupação lá em baixo, não ta ganhando dinheiro; X tem uma idéia: vai transformar o hotel numa casa de prostituição. A Administração Pública, ao tomar conhecimento dessa situação, cassa o ato de licença para funcionamento do hotel, pois o beneficiário deixou de cumprir as condições impostas pela lei.Ex2: Y pede autorização para porte de arma à Administração. A Administração avalia as características de Y e, considerando o interesse público, autoriza o porte de arma à Y. Mas a lei diz que quem tem porte de arma não pode ser encontrado portando a arma e alcoolizado; Y é encontrado dessa maneira numa blitz. A administração cassa a autorização de porte de arma de Y.

Toda licença é ato administrativo vinculado e toda autorização é ato administrativo discricionário.

A doutrina classifica os atos administrativos de diferentes formas. Quanto à liberdade de atuação, o ato administrativo pode ser vinculado ou discricionário. Falar em ato discricionário ou vinculado leva em conta a liberdade que a lei conferiu a administração. Se a lei dá liberdade à Administração tem-se o ato discricionário, pois se tem liberdade para apreciar oportunidade e conveniência; se a lei fixa todos os requisitos quer dizer que o ato administrativo é vinculado. Sendo assim, A Administração Pública se limita a olhar a lei e, uma vez presentes os requisitos, é obrigada a realizar o ato. Toda autorização é ato administrativo discricionário pode ser apreciada pela Administração, enquanto toda licença é ato administrativo vinculado, por isso, estando presentes os requisitos legais, a administração é obrigada a realizar o ato (concedê-la).

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CADUCIDADE: (caducidade = velho = bingo)A caducidade é a retirada do ato administrativo., em virtude de norma superveniente. A Administração pratica o ato administrativo. Mas em virtude de norma jurídica superveninente incompatível com a realidade anterior na qual o ato foi praticado, o ato é extinto, já que não se adapta à nova realidade. Ex.: Exemplo do Bingo - X está a fim de montar um bingo e pede licença de funcionamento para a Administração. Como toda licença, estando presentes os requisitos legais para sua concessão, ela é obrigatória. Portanto a Administração avalia se os requisitos estão presentes e concede. Sendo assim, X consegue sua licença. O bingo ta funcionando, tá bombando, até que vem uma norma superveniente dizendo “jogos de azar são uma atividade ilegal”. Se surgiu uma norma dizendo que a atividade é ilegal, a licença anteriormente deferida CADUCA. Acaba. Então a caducidade é a extinção do ato administrativo pela sua não adaptação à norma jurídica superveniente. X não fez nada errado! Por isso não é cassação. A licença que foi dada não é ilegal.

ATENÇÃO:Ao estudar a matéria Serviços Públicos (e essa matéria virá mais pra frente) veremos que o serviço público pode ser delegado, e a delegação de serviços públicos pode ser feita por Concessão de Serviços Públicos, Permissão de Serviços Públicos e Autorização de Serviços Públicos.

Quando nós estudamos a Concessão, estudamos a importantíssima lei 8987/95 que, no Art. 35, elenca as formas pelas quais se extingue o contrato de concessão.

Art. 35. Extingue-se a concessão por:

I - advento do termo contratual;

II - encampação;

III - caducidade; (*)

IV - rescisão;

V - anulação; e

VI - falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual.

§ 1o Extinta a concessão, retornam ao poder concedente todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos

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ao concessionário conforme previsto no edital e estabelecido no contrato.

§ 2o Extinta a concessão, haverá a imediata assunção do serviço pelo poder concedente, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e liquidações necessários.

§ 3o A assunção do serviço autoriza a ocupação das instalações e a utilização, pelo poder concedente, de todos os bens reversíveis.

§ 4o Nos casos previstos nos incisos I e II deste artigo, o poder concedente, antecipando-se à extinção da concessão, procederá aos levantamentos e avaliações necessários à determinação dos montantes da indenização que será devida à concessionária, na forma dos Arts. 36 e 37 desta Lei.

(*) O que precisa ser muito bem compreendido é que a caducidade do contrato de concessão de serviços públicos (Art. 35, III, lei 8987/85) é diferente da caducidade do ato administrativo. Nessa lei a caducidade do contrato de concessão é a extinção do contrato de concessão porque o concessionário violou a lei ou o contrato administrativo. Aqui, a caducidade é a extinção do ato administrativo, forma de retirada em virtude de norma superveniente, incompatível com a situação anterior na qual o ato foi praticado. Em contextos diferentes essa expressão adquire significados diferentes.

CONTRAPOSIÇÃO:A quinta forma de retirada é a contraposição, também chamada de derrubada. A contraposição ou derrubada é a retirada do ato administrativo porque existem dois atos diferentes. Tem-se dois atos administrativos diferentes, fundado em competências diversas, só que de efeitos contrapostos. Ex.: nomeação e exoneração. O efeito da nomeação é contraposto ao efeito da exoneração. Enquanto a nomeação chama o individuo para ingressas no cargo publico, a exoneração tira o agente público do cargo. Nesse caso o efeito de um ato derruba o efeito do outro ato. (a exoneração derruba a nomeação)

Portanto, o ato se extingue: pelo cumprimento de seus efeitos; pela perda do sujeito; pela perda do objeto; pela renúncia do destinatário e pela retirada. Há cinco formas de retirada que englobam as situações diversas nas quais o ato administrativo será invalidado quando a administração praticar um segundo ato que provoque a extinção do primeiro. São cinco as formas de retirada ( formas pelas quais o segundo ato extingue o primeiro): a invalidação ou anulação; a revogação; a cassação; a caducidade; a contraposição. Com a

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ressalva de que a caducidade (forma de retirada) não tem o mesmo significado de “caducidade” forma de extinção do contrato de concessão. São expressões com significados diferentes, de acordo com o contexto.

• (SUB-TÓPICO) DIFERENÇA ENTRE ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO

Há várias formas de extinção dos atos administrativos, dentre elas, a retirada. Quando a retirada se funda em legalidade chamamos a retirada de invalidação ou anulação; quando a retirada se funda em oportunidade e conveniência chama-se revogação. Tanto a revogação quanto a anulação/invalidação são formas de retirada. Há três diferenças entre a anulação e revogação que são:

• A primeira diferença entre anular e revogar é o fundamento jurídico. O fundamento jurídico da anulação é a legalidade, só o ato ilegal é anulado. Enquanto o fundamento da revogação é a oportunidade e a conveniência, portanto, o ato administrativo objeto de revogação é legal e válido, porém, inconveniente. Observe que só o ato válido e legal pode ser revogado, os atos ilegais são sujeitos á anulação. Ok?

• A segunda diferença é a competência para anular e revogar o ato.

Quem tem competência para anular o ato administrativo é: I. - A própria Administração Pública, pelo Princípio da

Autotutela (Súmula 346 e 473 do STF); II. - um terceiro interessado que pode requerer à

administração a anulação do ato (um cidadão que tenha verificado a existência de um vício no ato);

III. - o Poder Judiciário, pois no Brasil vigora o Sistema Inglês / Unidade de Jurisdição, e não se excluirá do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão à direito, e qualquer ato administrativo, vinculado ou discricionário, poderá ser analisado pelo Poder Judiciário no que toca à sua legalidade. Enquanto isso, o ato administrativo (inconveniente e inoportuno) só pode ser revogado pela própria administração pública.

Já a competência para revogação do ato é exclusiva da administração pública, pois o ato, pra ser revogado, tem que ser válido, legal, inconveniente e inoportuno, e apenas a própria Administração pode apreciar a oportunidade e a conveniência. O poder Judiciário não aprecia o mérito do ato, e sim sua

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legalidade. Oportunidade e conveniência é mérito, e só existe nos atos discricionários. O Judiciário apenas pode dizer se o ato é legal ou ilegal, mas TODO ATO SUJEITO À REVOGAÇÃO É SEMPRE LEGAL, ele só não é conveniente! Então como o Judiciário vai agir? Não agindo! Oportunidade e conveniência é mérito, então, apenas a Administração Pública é competente para revogar atos administrativos.

PERIGO: O Poder Judiciário só poderá revogar o ato quando ele mesmo tiver praticado, ou seja, quando atipicamente estiver praticando um ato administrativo. Ex: O Poder Judiciário está realizando uma licitação. No meio da licitação o Poder Judiciário julga que a contratação é inconveniente ou inoportuna. O que ele faz? Diante de um ato legal, válido, porém inconveniente e inoportuno, ele simplesmente revoga a licitação, pois nessa situação, ele pode. No exercício de suas funções típicas (julgar), o judiciário jamais revogará um ato administrativo. Ex2: Um servidor do Judiciário (da Administração Judiciária) teve férias concedidas para daqui a um mês. Mas há muito serviço acumulado. Por isso o Poder Judiciário revoga as férias do servidor. Tá certo? SIM. Foi o poder judiciário, exercendo função administrativa atipicamente, quem praticou o ato de concessão de férias, portanto, o Tribunal pode revogar o ato porque a concessão de férias em um mês era válida, legal, mas inconveniente. E óbvio, porque foi o Poder Judiciário quem praticou o ato.

• A terceira diferença entre a anulação e a revogação são os seus efeitos.

A doutrina clássica diz que o efeito da anulação sempre é ex-tunc, isto é, retroativos. Sempre que a Administração anula um ato administrativo são efeitos ex-tunc, são efeitos que tem o poder de apagar todos os efeitos produzidos pelo ato, afinal, o ato administrativo ilegal é viciado e ESTÉRIL.

POSIÇÃO PARTICULAR: O Celso Antonio Bandeira de Mello defende que o efeito da anulação dependerá da natureza do ato que se está anulando. Se o ato administrativo é um ato ampliativo de direito (amplia os direitos de alguém), caso ele seja anulado, o efeito da anulação é ex-nunc (pró-ativo), vale de hoje pra frente. Isso em virtude do Princípio da Boa Fé. Nesse sentido, C.A.B.M. cita inúmeros julgados. Ex: servidor está recebendo uma gratificação a alguns meses. D repente a Administração percebe que a gratificação está sendo paga ao servidor errado. O que ela deve fazer? Deve parar se pagar a gratificação ao servidor, e não pedir de volta todo o valor que já pagou até o

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momento. O servidor não tem que devolver nada, os efeitos são ex-nunc, tudo o que passou continua como está. MAS, diz C.A.B.M., se o ato for restritivo de direito (ex: tombamento) os efeitos são ex-tunc, ou seja retroagem até a origem do ato pois o cidadão não pode ser prejudicado por um erro da administração.

Os efeitos da revogação são ex-nunc, ou seja, efeitos pró-ativos. Observe: só os atos legais são revogados. Se o ato é legal ele produz efeitos normalmente e, sendo revogados, seus efeitos são pra frente.

TEORIA DAS NULIDADES DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

O direito privado traz uma dicotomia entre ato nulo e ato anulável, sendo ato anulável o que admite convalidação e o ato nulo o que não admite. A questão é saber se essa teoria é aplicável ao Direito Administrativo.

A doutrina diverge acerca da aplicação da teoria das nulidades do direito civil aos atos administrativos, surgindo duas posições:

1ª posição: Teoria Monista - (Hely Lopes Meirelles e Diógenes Gasparini)A dicotomia entre ato nulo e anulável do direito civil não se aplica ao ato administrativo, logo, todo ato administrativo ilegal deve ser anulado. *o primeiro argumento deles é fundamentado com o princípio da legalidade. Se a administração só faz o que a lei manda, no caso de um ato ilegal, essa ilegalidade não pode permanecer, não pode ser convalidada.*o segundo argumento é mais convincente: no direito civil a nulidade relativa só pode ser arguida pela parte interessada. O juiz inclusive não pode reconhecê-la de ofício, pois o interesse é da parte. Já quando a nulidade é absoluta o juiz pode reconhecer de ofício, o MP pode arguir, porque o interesse aí já é público, e não particular.A administração pública depende o interesse público. Se ela permite que um ato ilegal seja convalidado, quem é que ela está lesando? A sociedade! Por isso os atos ilegais devem ser anulados.

Portanto essa distinção entre nulidade relativa gerando ato anulável e nulidade absoluta gerando ato nulo não existe para os atos administrativos. Aqui ato ilegal é ato nulo.

2ª posição: Teoria Dualista (majoritária em função da l9784/99;)(Nesse sentido, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Maria Silvya Di Pietro, José dos Santos Carvalho Filho e a lei 9784/99, no art. 55).

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Admite a aplicação da dicotomia do direito civil aos atos administrativos, logo, temos atos administrativos nulos e anuláveis. Se o ato administrativo tem um vício que pode ser corrigido, temos um ato administrativo anulável. E se temos um ato administrativo que não pode ser corrigido, o ato é nulo. Os nulos não podem ser convalidados e os anuláveis podem ser convalidados.

“art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria administração.”

3ª corrente: Miguel Seabra FagundesNão concorda com a primeira posição nem com a segunda. Para Seabra Fagundes o ato pode ser absolutamente inválido, relativamente inválido ou irregular. Se ele é absolutamente inválido todos os efeitos que ele produziu devem desaparecer. Se o ato for relativamente inválido os efeitos que o ato produziu permanecerão, ou pelo menos alguns deles. Se o ato é irregular é porque ele tem pequenos defeitos e todos os seus efeitos irão permanecer. Miguel Seabra discorda da dicotomia existente no Direito Civil e considera que a invalidade do ato será diagnosticada caso à caso, sempre em prol do interesse público.

4ª Posição: Celso Antônio Bandeira de MelloCelso Antônio Bandeira de Mello divide os atos inválidos em três categorias.

Ato inexistente Ato nulo Ato anulável

Ele propõe, ao lado do ato nulo e do ato anulável o ato inexistente. E diz que o ato irregular não é inválido, ele é válido, embora tenha pequenos defeitos. E se o ato irregular é válido, ele deve permanecer como está, embora possua seus pequenos defeitos, isso não o compromete. Observe que a própria lei apenas fala em ato nulo e anulável. Mas Celso Antônio ainda enxerga outra categoria de atos inválidos, qual seja, a dos atos inexistentes. Quem critica Celso Antônio argumenta que não é necessário criar a categoria de “ato inexistente” pois os efeitos dos atos inexistentes são os mesmos dos atos nulos. Mas Ceso Antônio responde conceituando o ato inexistente.

Diz:

Atos inexistentes correspondem a condutas criminosas, brutalmente inadmissíveis pelo Direito; os atos administrativos inexistentes são imprescritíveis e admitem

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resistência manomilitare (uso da força física para não cumprir o ato). Não se convalidam e não admitem conversão.

E difere os atos inexistentes dos atos nulos:

O ato nulo não pode ser convalidado, mas pode ser convertido; o ato nulo prescreve; o ato nulo não admite resistência manomilitare .

O ato anulável, ao contrário do ato inexistente e do ato nulo, pode ser convalidado, portanto justificada estaria a criação dessas três categorias diversas. Ato inexistente - condutas criminosas, brutalmente inadmissíveis pelo Direito. Ex: imagine que a administração pratique ato autorizando o funcionamento de um bingo, ou autorizando o trabalho escravo em uma fazenda; esse ato é inexistente porque corresponde à uma conduta criminosa. E ainda por cima, admite resistência mano militare, ou seja uma pessoa pode lutar para resistir à esse ato.

Ato nulo: é aquele que tem contém um vício que, segundo a lei, enseja a nulidade. Por isso dizemos que o vício é insanável, que não admite convalidação. O vício é insanável quando ocorre no motivo, na finalidade ou no objeto. Quando um vício é insanável? Quando o vício ocorrer na finalidade, no objeto e no motivo. E obviamente quando a lei diz que o ato é nulo. O ato nulo não pode ser convalidado. O ato nulo prescreve e não admite resistência.

Ato anulável: é o que possui vício sanável. O vício é sanável, em regra, quando ocorre na forma e no sujeito. Ele admite convalidação.

Obs: O ato irregular é válido. Ato irregular tem vício de natureza material, ligado à forma. Ex: Se há uma ordem de serviço dizendo que todo ato deve ter fonte Times New Roman, tamanho 12, espaçamento simples, e alguém faz um ato com fonte Arial, tamanho 10, ele é inválido? Não. Ele só é irregular, afinal ele só tem pequenos vícios de natureza material na forma.

Esquema Celso Antônio Bandeira de Mello

Ato inválido ElementoViciado

Convalidação

Prescrição ResistênciaManomilitare

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Ato nulo - Finalidade- Objeto- Motivo(ou nulo por lei)

Não admite convalidação

Prescreve(05 anos) *

Não admite resistência

Ato anulável -Forma-Sujeito

Admite convalidação

Prescreve(05 anos) *

Não admite resistência

Ato inexistente

Conduta criminosa

Não admite convalidação

São imprescritíveis

Admite resistênciaMano militare

(*) assim, por interpretação extensiva da regra do art. 21 da lei da ação popular, ou por analogia, a fim de que se preserve a harmonia do sistema, mantendo-o como um todo possível coerente, lógico e racional, a conclusão necessária será a de que a prescrição de toda e qualquer pretensão que tenha a administração pública com relação à invalidação de seus atos administrativos deverá ter o prazo de cinco anos".

LIMITES AO PODER DE ANULAR O ATO ADMINISTRATIVO

Limite temporal: Art. 54, Lei 9784/99 diz: a administração tem o prazo de 05 anos para anular o ato administrativo. Passados 05 anos, não pode a Administração anulá-lo. Não interessa se o vicio é no objeto, na forma, na finalidade, se o vício é sanável ou insanável. Se passaram mais de 05 anos, a Administração não pode mais tocar no ato. Mas para esse requisito dos 05 anos realmente valer, o destinatário do ato tem que estar de boa fé, porque se ele estiver de má fé a administração pode anular o ato à qualquer tempo; e o ato tem que ser ampliativo de direitos, ele tem que criar direitos pro cidadão.

Limite da Teoria do Fato Consumado: teoria do fato consumado é acolhida pelos tribunais e reconhecida pela jurisprudência. Podemos resumir essa teoria no seguinte Ditado: “Agora, Inês é Morta.” Os efeitos jurídicos do ato se consolidaram e não há mais o que fazer, embora haja uma ilegalidade, um vício, os efeitos de consolidaram e, em nome da Segurança Jurídica e da Boa Fé, a administração deixa como está.

LIMITES AO PODER DE REVOGAR O ATO ADMINISTRATIVO

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Todas as hipóteses nas quais o ato administrativo não pode ser revogado são hipóteses de coisa julgada administrativa. A coisa julgada administrativa não tem o mesmo sentido de coisa julgada judicial. Coisa julgada administrativa é a qualidade de imutabilidade de uma decisão feita pela própria Administração. O ato no qual já existe coisa julgada administrativa não poderá ser modificado na órbita administrativa, somente poderá ser modificado no juízo de legalidade do Poder Judiciário.

Há situações em que a Administração não revoga o ato porque não é possível mais revogar (coisa julgada administrativa) e, nesses casos, o limite não é temporal, não é o tempo que impede a revogação, as limitações são materiais. Não há limitação temporal ao poder de revogar, ou seja, a qualquer tempo a administração pode revogar o ato administrativo.

Os limites materiais ao poder de revogar são:

1- Atos Consumados/Atos Exauridos: não se revoga atos consumados ou exauridos pela simples razão de que eles já aconteceram. Ex1: A Administração concede férias ao servidor X. X entra de férias, goza as férias e retorna à repartição. Tem como revogar as férias de X depois que ele retorna delas? NÃO. É impossível porque as férias já foram gozadas. Existe um limite, portanto, material. O Ato se exauriu. Ex2: A administração determina a demolição de um edifício. O edifício é demolido. Tem como revogar a demolição depois que ele já foi demolido? NÃO. Existe novamente um limite material impedindo que o ato seja revogado, pois ele já se consumou.

2- Atos que Geram Direito Adquirido: (NÃO PODE ESQUECER!) Ato que gera direito adquirido não pode ser revogado.

3- Atos Complexos: os atos administrativos podem ser classificados de várias maneiras, e um desses modos de classificação é quanto a vontade como fator formador do ato. Se só existe um órgão e a vontade para o ato se completar depende dele, o ato é simples; se há dois ou mais órgãos que manifestam vontades homogêneas para que o ato se realize esse ato é complexo, pois é um ato formado por duas vontades. O ato complexo não pode ser revogado.

4- Atos de controle: são tão somente atos que exercem controle sobre outros atos. Se a administração exerceu o controle dizendo que o ato é válido ou inválido, não tem “senão”. Os atos de controle não podem ser revogados.

5- Ato que integra procedimento: atos que integram procedimentos não podem ser revogados.

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6- Ato vinculado: ato vinculado não tem mérito. Os atos vinculados não podem ser revogados.

ADENDO: Celso Antônio Bandeira de Mello, em posição isolada, considera que coisa julgada administrativa só se forma com decisão administrativa em processo contencioso, quando não cabe mais recurso administrativo. Somente com a formação da coisa julgada administrativa o ato seria imutável no âmbito administrativo.

CONVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOSConvalidação é o ato pelo qual a Administração corrige um outro ato administrativo que possui um vício sanável. Convalidar é corrigir. Se a Administração está diante de um ato inválido e esse ato pode ser corrigido, a Administração convalida e a convalidação tem efeitos ex-tunc (efeito retroativo). Por exemplo, se eu convalido um ato hoje, a convalidação retroage até a data da origem do ato. Para a maioria da doutrina a convalidação é um dever, contudo a Lei 9784/99 em seu Art. 55 coloca a convalidação como uma faculdade. Em regra, os que podem ser convalidados (corrigidos) são os que têm vícios na forma ou no sujeito (pois esses vícios são sanáveis). Mas é importante fixar que, enquanto a doutrina defende que a Administração é obrigada a convalidar, a lei diz que a Administração convalida caso queira.

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração.-----------------------------------------------------------------------------------ESTUDE E BOA SORTE!!

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