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MANUAL DEDOUTRINA DASASSEMBLIASDe DEUSNO BRASIL

Elaborado pelo

Conselho de Doutrina da CGADB

Todos os direitos reservados. Copyright 2000 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Colaboradores

Pr. Antnio Silva

Pr. Isaque Strobel

Pr. Geremias do Couto

Reviso Doutrinaria

Pr. Paulo Roberto Freire da Costa

(Presidente do Conselho de Doutrina)

Pr. Paulo Cesar Lima da Silva

(Secretrio do Conselho de Doutrina)

Pr. Dionsio Igncio Rocha

Reviso de estilo

Pr. Paulo Csar Lima da Silva

Digitadores

Sandra Pinheiro

Anderson Pereira

Alexandre F. Lima da Silva

Capa e Projeto Grfico

Flamir Ambrsio

Editorao Eletrnica

Olga Rocha dos Santos

Preparao dos originais

Judson Canto

Reviso de Provas

Alexandre Coelho

As citaes bblicas foram extradas da verso Almeida Revista e Corrigida, Edio de 1995 da Sociedade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio.

Casa Publicadora das Assemblias de Deus

Caixa Postal 331

20001-970 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

6 Edio 2004

Conselho

De Doutrina das

Assemblias de Deus

No Brasil

Presidente

Pr. Paulo Roberto Freire da Costa, SP

Secretrio

Pr. Paulo Csar Lima da Silva, RJ

Relator

Pr. Lzaro Benedito Alves, MT

Membros

Dionsio Igncio Rocha, SP

Wilson Ferreira, ES

Antnio Domingos dos Santos, PA

Juvenil do Santo Pereira, SC

Ronaldo Fonseca de Souza, DF

Antnio Xavier dos Santos Vale, TO

Edson Alves da Silva, AM

Jos Deusdeditt Farias, CE

Raimundo Joo de Santana, RN

Sumrio

PALAVRA DO PRESIDENTE

1. SOBRE DEUS

2. SOBRE A BBLIA

3. SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS

4. SOBRE O PECADO

5. SOBRE A SALVAO

6. SOBRE O BATISMO EM GUAS

7. SOBRE O ESPRITO SANTO

8. SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

9. SOBRE O JUZO VINDORO

10. SOBRE A VIDA ETERNA

BIBLIOGRAFIA

PALAVRA DO PRESIDENTE

A grande maioria dos cristos est vivendo ao sabor de experincias msticas supersticiosas. Pior: nem sequer procuram investigar se o que esto experimentando consubstancia a verdade plena das Escrituras Sagradas. Destarte, tornam-se divulgadores de opinies que nem mesmo sabem se so verdadeiras ou falsas. Tudo isso est ocorrendo este o meu entendimento pelo fato de termos nos acostumado a escutar, a gravar e a repetir sem ler ou comparar o contedo doutrinrio de todas as in-formaes bblicas que nos so passadas. Por essa e por outras razes muito mais fortes que precisamos tomar a iniciativa de reler, reinvestigar, reanalisar e reinterpretar, ponto a ponto, todas as doutrinas bblicas esposadas pelas Assembleias de Deus no Brasil, a fim de termos uma viso mais comprometida com a coerncia e com a autenticidade das Sagradas Escrituras.

Embora saiba, por observao, que ousadia, coragem, esprito pioneiro, iniciativas novas e especialmente muita prudncia so virtudes especiais do evanglico tradicional das Assembleias de Deus, tenho a abso luta certeza de que necessitamos redescobrir a Palavra de Deus que, infelizmente, vem sendo substituda em alguns de nossos plpitos.

Acredito piamente que o problema fundamental para a proliferao da subcultura pentecostal, na forma de um astigmatismo teolgico, est na falta de prioridade. A Palavra de Deus est ficando em segundo plano em nossas reunies.

Estranhamente, alguns lderes evanglicos fecham-se numa alienao intolervel, quase medieval. Fazem ouvidos moucos, evitam confrontos, preferem no sa-ber, no ouvir, no ler e no aprender a fazer o que certo. Afora isso, existe ainda uma constelao enorme de evanglicos que esto muito aqum dos limites permitidos em termos de conhecimento bblico. Da crescerem, em algumas culturas evanglicas e num rit-mo alucinante, tantos absurdos, distores e discre-pncias que comprometem comportamentos e defor-mam padres cristos.

Tendo em vista fortalecer as nossas posies dou-trinrias, uma vez que estamos sendo ameaados pela presena de novos pensamentos, modismos e ideias comprovadamente herticas, desejamos neste manual analisar o nosso credo, objetivando munir o nosso povo da verdade para poder enfrentar as heresias hodiernas.

Assentado isso, termino aqui fazendo minhas as palavras do profeta Osias:

O meu povo est sendo destrudo, porque lhe falta o conhecimento .

Pr. Paulo Roberto Freire da Costa

Presidente do Conselho de Doutrina da CGADB

1SOBRE DEUS

Cremos em um s Deus, que Santo, Criador de todas

as coisas, soberano, eterno, subsistente em trs

Pessoas: o Pai, o Filho e o Esprito Santo

(Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).

Em nenhuma parte da Bblia Sagrada os escritores bblicos se empenham para provar a existncia de Deus. Eles partem do pressuposto bsico de que Deus existe e ocupam-se em descrever to-somente as aes de Deus e o seu carter (Gn 1.1; Hb 11.3).

Mas a Bblia d testemunho de Deus em ao no mundo fsico, na histria e na vida particular dos indivduos. Esses testemunhos despertam, aperfeioam e fortalecem a f na Pessoa de Deus.

Embora a Bblia fale de homens que dizem em seus coraes que "no h Deus", a presena divina no mundo fato real e insofismvel.

Os ateus praticantes que tentam banir a Deus de seus pensamentos fazem-no pelo fato de o terem retirado primeiramente de suas vidas. Mas de um escritor alemo a desconcertante frase sobre o atesmo: "Cada ateu abriga um crente no corao". "

Existncia de Deus

De acordo com alguns biblistas, a existncia de Deus uma verdade primria e fundamental. Uma verdade primria ou fundamental quando se caracteriza pela universalidade, necessidade e auto-evidncia. Ou seja: uma verdade que aceita universalmente, que se impe como necessria para que se possa explicar as demais realidades e que se mostre por si mesma, sem depender de uma prova preliminar, dada pelo homem, para ser aceita.

So concebidos como verdades primrias o tempo, o espao, o nmero, causa e efeito, idia do bem e do mal. As noes dessas verdades so intuitivas no homem e desenvolvem-se pela experincia. Assim tambm Deus para o ser humano: uma verdade fundamental, primria, que aceita e vivida na experincia da vida.

A idia de que Deus existe universal. Em qualquer cultura, povo ou poca encontra-se esta crena. A existncia de Deus necessria para que o homem tenha resposta adequada para as questes fundamentais levantadas pelo pensamento humano. Ela auto-evidente: mostra-se por si s [sic]. Independe de ser aprovada pelo homem para

que seja aceita por verdade. como uma flor que, exalando seu perfume, prova sua existncia e presena aos circunstantes que tm a capacidade de sentir o cheiro. *

*Severa, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemtica. Curitiba: AD Santos, s.d.

O livro Teologia sistemtica: uma perspectiva pentecostal, de Stanley Horton, publicado pela CPAD, tem uma viso bem contempornea dos temas dogmticos

Acerca de Deus disse J: "[...] faz grandes coisas que ns no compreendemos" (J 37.5,6, grifo nosso).

No porque no compreendemos uma coisa que ela deixa de existir. Mesmo que Deus no seja alcanado pela compreenso humana, Ele continua reinando soberano sobre tudo e sobre todas as coisas: "Vs sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e o meu servo, a quem escolhi; para que o saibas, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haver" (Is 43.10).

A natureza de Deus

Deus apresentado na Bblia como infinitamente perfeito (Dt 18.13; Mt 5.48). Logo, a sua obra perfeita (Dt 32.4), e tambm os seus caminhos (SI 18.30). Todas as caractersticas de sua Pessoa e de sua natureza no so apenas expresses de alguma atitude que demonstra ou possui, mas constituem a prpria substncia de sua divindade.

No se pode explicar a natureza de Deus, mas somente crer nEle. Podemos basear a nossa doutrina sobre Deus nas pressuposies j citadas e nas evidncias demonstradas nas Escrituras. Alguns textos bblicos atribuem pessoa de Deus qualidades que os seres humanos no possuem, ao passo que outros textos o descrevem em termos de atributos morais compartilhados pelos seres humanos, ainda que de forma limitada. Por exemplo, Deus santo por natureza, e o homem, por participao (Rm 1.4; 2 Co 7.1; 1 Ts 3.13).

O Antigo Testamento usa o termo "santo" em sentido absoluto apenas quando se refere majestade incriada e inteiramente inacessvel de Deus, sendo que tudo o mais, em comparao a Ele, o absolutamente no-santo (x 15.11).

Em comparao a Deus, ningum e nada santo ou puro, e homem nenhum pode se atrever a chamar-se santo ao lado de Deus (J 4.17; 15.4; 25.4-6). S Deus santifica, i. , s Ele faz o homem participar de sua santidade; de Deus que vem a santidade de Israel.

A esse princpio segue imediatamente o seu aspecto tico, que realado, sobretudo pelo contraste com a pecaminosidade do homem.

A natureza de Deus identificada com mais freqncia por aqueles atributos que no possuem analogia com o ser humano. Deus existe por si mesmo, sem depender de outro ser. Ele a fonte originria da vida, tanto ao cri-la quanto ao sustent-la. Deus esprito; Ele no est confinado existncia material e imperceptvel ao olho fsico. Sua natureza imutvel, j mais se altera. Posto que o prprio Deus o fundamento do tempo, Ele no pode ser limitado pelo tempo. Ele eterno, sem comeo nem fim. Deus totalmente consistente dentro de si mesmo. O espao no pode limit-lo, pois Ele onipresente. Deus tambm onipotente, pois poderoso para fazer tudo que esteja de

acordo com a sua natureza e segundo os seus propsitos. Alm disso, onisciente; conhece efetivamente todas as coisas passadas, presentes e futuras. Em todos esses atributos o cristo pode achar o consolo e a confirmao da f, ao passo que o incrdulo advertido e motivado a crer.

De acordo com Cari Braaten, Deus tanto contnuo como tem um ser contnuo, tudo o mais temporrio.

preciso ressaltar ainda que no existe contradio entre a natureza perfeita de Deus e o seu poder ilimitado. Porque Deus jamais far coisa alguma incompatvel com a sua perfeita santidade. Ele, que tudo pode (J 42.2), s faz o que lhe apraz (SI 115.3). Porm, existem coisas que o Onipotente no pode fazer: Ele no pode mentir (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18), no pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2,13) e no pode fazer injustia (J 8.3; 34.12). Ele sempre santo em todas as suas obras (SI 145.17). Deus tambm no faz acepo de pessoas (2 Cr 19.7; Rm 2.11).

Os atributos de Deus

Atributo aquilo que qualifica um ser. Ao conhecer os atributos de um objeto, buscamos a essncia de sua natureza. Quando conhecemos a Deus, descobrimos os seus atributos e o reconhecemos como um ser infinito.

Encontramos nas Escrituras os atributos de Deus. Elas declaram o que Ele e o que Ele faz. verdade que, como criatura, desvend-los ou relacion-los no seu todo tarefa difcil, se no de todo impossvel para ns.

O apstolo, escrevendo sobre a glria de Deus, declara: "Aquele que tem, ele s, a imortalidade e habita na luz inacessvel; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno" (1 Tm 6.16).

Encontramos nas Escrituras os atributos absolutos de Deus: vida, personalidade, imutabilidade, unidade, verdade, amor, santidade, bondade, misericrdia e justia.

Os atributos naturais de Deus so: onipresena, oniscincia e onipotncia.

Onipresena. Deus relaciona-se com tudo e todos ao mesmo tempo. Est presente em toda a sua personalidade. No h como fugir da presena de Deus. "Para onde me irei do teu Esprito ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao cu, tu a ests; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali ests tambm; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, at ali a tua mo me guiar e a tua destra me suster" (SI 139.7-10).

Oniscincia. Deus onisciente porque conhece todas as coisas. Nada h que se esconda de sua oniscincia. "E at mesmo os cabelos da vossa cabea esto todos contados" (Mt 10.30). Na oniscincia de Deus, o futuro tambm est presente: "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e no h outro Deus, no h outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princpio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda no sucederam" (Is 46.9,10). A oniscincia de Deus garante-nos que todos os futuros julgamentos sero de acordo com a verdade.

Onipotncia. O apstolo Joo, na ilha de Patmos, assim descreve parte de sua viso apocalptica: "Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no cu; e a primeira voz, que como de trombeta ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-

ei as coisas que depois destas devem acontecer. E logo fui arrebatado em esprito, e eis que um trono estava posto no cu, e um assentado sobre o trono" (Ap 4.1,2).

Quando Deus apareceu a Abro, em Gnesis 17.1, disse-lhe: "Eu sou o Deus Todo-poderoso [...]". Entendemos que o mundo fsico ou material e o mundo espiritual dependem de seu poder e por ele so controlados. do trono que emana toda ordem para o mundo visvel e para o invisvel. Deus no est sujeito a nenhuma fora exterior ou contrria sua vontade. soberano em todo o Universo: "Ele o que est assentado sobre o globo da terra, cujos moradores so para ele como gafanhotos; ele o que estende os cus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar" (Is 40.22; cf. vv. 12-15).

A Trindade

Ainda que no se encontre nas Escrituras a palavra "Trindade", bblico, no entanto, o fundamento dessa doutrina, presente nos ensinos proferidos por Jesus Cristo e seus apstolos.

Encontramos no Antigo Testamento a doutrina da Trindade: a) na criao e formao do homem (Gn 1.1,26); b) na disperso dos rebeldes de Babel (Gn 11.1-7); c) na chamada do profeta Isaas (Is 6.3) e em tantas outras passagens.

Mas no Novo Testamento que encontramos de forma mais explcita essa doutrina. No incio do ministrio de Jesus, por ocasio do seu batismo em guas, o Esprito Santo desce sobre Ele e o Pai lhe diz: "Este o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17). Observa-se nesse episdio a Trindade em cena, ratificando assim a sua realidade no Novo Testamento. Vemos tambm, em Joo 14.16, que Jesus roga ao Pai para que envie aos discpulos o Esprito Santo.

Findando o seu ministrio, Jesus ordena aos discpulos que preguem e ensinem o Evangelho a todas as naes, "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo" (Mt 28.19). Essa mais uma clara referncia Trindade.

Nos ensinos de Paulo, h referncias cabais sobre a Trindade. Aos irmos da Igreja em Corinto ele diz: "A graa do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo sejam com vs todos. Amm!" (2 Co 13.13).

Diante do exposto, impossvel que se negue a doutrina da Trindade nas Escrituras, visto que a encontramos no somente nos textos considerados por alguns como simples inferncias, mas tambm, e principalmente, nos textos que so referncias reais, e no somente verbais.

Concluindo, Paulo cita, em Efsios 1.3, a obra da Trindade na salvao dos homens, referindo-se ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abenoou com todas as bnos espirituais nos lugares celestiais em Cristo".

2SOBRE A BBLIA

Cremos na inspirao divina e plenria da Bblia,

bem como na sua infalibilidade e Inerrncia,

como nica regra infalvel de f normativa

para a vida e o carter cristos

(2 Tm 3.14-17).

Desde os primrdios da civilizao o homem, para viver em grupo, necessitou de normas que regulassem os seus direitos e deveres. Surge assim, aps laboriosas experincias, a Constituio, que, transgredida, priva o cidado dos bens maiores: a vida, a liberdade etc. Semelhantemente, no mundo espiritual, Deus estabeleceu a Bblia Sagrada como fonte de vida. A Palavra de Deus liberta da escravido do pecado os que vivem na mentira. Horace Greeley assim define a importncia da Bblia: " impossvel escravizar mental ou socialmente um povo que l a Bblia". Os princpios bblicos so os fundamentos da liberdade humana: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertar" (Jo 8.32). A Bblia lida, crida e vivida liberta o homem da escravido do pecado, pois quem comete pecado escravo do pecado. Necessitamos da Bblia, pois alimento para a alma: "Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu corao; porque pelo teu nome me chamo, Senhor, Deus dos Exrcitos" (Jr 15.16).

A Escritura Sagrada a segurana para caminharmos no mundo de trevas: "Lmpada para os meus ps a tua palavra e luz para o meu caminho" (SI 119.105). Muitos andam em trevas por no conhecerem a luz gloriosa de Deus.

A Bblia a maravilhosa biblioteca de Deus com seus sessenta e seis livros. acima de tudo a verdade para o fatigado peregrino; hbil, eficaz e vigoroso cajado. Para os sobrecarregados e oprimidos pelos fardos da vida, ela suave descanso; para os que foram feridos pelos delitos e pecados, um blsamo consolador. Aos aflitos e desesperados, sussurra uma alegre mensagem de esperana. Para os desamparados e arrastados pelas tormentas da vida, uma ncora segura; para a solido, uma mo repousante [sic] que acalma e tranqiliza suas mentes. **

** Eleanor, L. Doan.

A autenticidade da Bblia

A autenticidade da Bblia baseia-se na sua infalibilidade e inerrncia. Os atributos da divindade so por ela revelados. Ela autntica em tudo, pelo fato de o prprio Deus ser o seu Autor, e o Esprito Santo, o seu Inspirador. Nela so autnticas e inerrantes as revelaes e os fatos narrados.

Nestes ltimos dias, o racionalismo tem se oposto vorazmente contra a autenticidade, a infalibilidade e a autoridade da Bblia. Mas o atesmo jamais poder ofuscar a autenticidade das Escrituras. O problema do ateu em no querer aceitar a Bblia como Palavra de Deus est na forma como ele se comporta ao ler as Escrituras, pelo fato de no querer observar o que ela realmente est dizendo. Uma das principais afirmaes da autenticidade da Bblia sustentada por Jesus, quando diz aos judeus que as Escrituras do testemunho dEle (Jo 5.39). Ora, se Jesus j existia antes da fundao do mundo e as Escrituras falam a respeito dEle, isso de fato prova a autenticidade da Bblia Sagrada.

Outra passagem das Escrituras que revela a sua autenticidade a meno de Jesus ao profeta Jonas, cujo livro foi escrito aproximadamente 790 anos antes de Cristo. Nessa passagem Jesus afirma que Jonas esteve no ventre do grande peixe por trs dias e trs noites e que o profeta pregou aos ninivitas. Diante disso, chega a ser grotesco tentar obscurecer ou mesmo contestar a inerrncia das Escrituras, visto que o prprio Jesus Cristo confirmou a sua veracidade: "Santifica-os na verdade, a tua palavra a verdade" (Jo 17.17).

A inspirao da Bblia

A alta crtica, oriunda do liberalismo teolgico que varreu a Europa nos sculos XIX e XX, recrudesceu a batalha entre a f e a cincia. Baruch Spinoza, um dos cones do modernismo histrico, foi o mais voraz crtico da inspirao bblica, ao asseverar que no foi Moiss o autor do Pentateuco. Por isso foi excomungado da comunidade judaica, morrendo em total isolamento.

Da para a frente, as Escrituras tornaram-se o grande alvo dos ataques de filsofos e telogos liberais como Harnack, Bultimann, Renan, Schweitzer, Reimarus, Dibelius, Bultman, Straus e tantos outros que tentaram ridicularizar a Bblia como livro inspirado por Deus.

Em face dos mais densos ataques da Escola Alem desferidos contra as Escrituras, o fundamentalismo, movimento antiliberal do sculo XIX, saiu em defesa da inspirao plenria das Escrituras.

Conquanto devamos ter cuidado para no pensar a inspirao como psicografia que, alis, de origem maligna , no podemos negar o fato inextirpvel de que s o sopro criativo e inteligente de Deus (graph theopneustos, 2 Tm 3.16), pde preservar a estrutura, a lgica e a coerncia que a Bblia possui.

As Escrituras tanto falam da inspirao do escritor quanto da inspirao do escrito: um o agente, o outro o efeito. Por exemplo, o texto de 2 Timteo 3.16 ("Toda a Escritura divinamente inspirada") faz referncia ao escrito como inspirado. J 2 Pedro 1.21 ("Homens santos de Deus falaram inspirados pelo Esprito Santo") fala do escritor.

A inspirao plenria da Bblia fato incontestvel porque assuntos vitais como expiao, salvao, ressurreio, recompensa e castigo futuros requerem a direo de um Esprito infalvel a fim de se evitarem informaes que levem ao erro.

Dentro do mesmo assunto, destacam-se ainda duas posies que os modernistas no conseguem negar, embora no concordem com elas: a) a inspirao plenria e verbal da Bblia e b) a inspirao e inerrncia das Escrituras.

Inspirao plenria e verbal. Inspirao plenria significa que toda a Bblia inspirada em todas as suas partes. Cristo nunca faz distino entre os livros da Bblia quanto sua origem divina e autenticidade, mas aplica a expresso "Palavra de Deus" a todo o cnon do Antigo Testamento. O mesmo fizeram os apstolos (2 Tm 3.16).

Inspirao verbal significa que, na preparao das Santas Escrituras, a superintendncia do Esprito Santo se estende s prprias palavras empregadas. As Escrituras constantemente afirmam que as suas palavras foram dadas ou dirigidas pelo Esprito Santo (At 28.25; 1 Co 2.13; 2 Pe 1.21).

Inerrncia da Bblia. Inerrncia no significa que os escritores eram infalveis, mas que seus escritos foram preservados de erros. Inerrncia significa que a verdade transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, no expressava erro algum.

Verificao

O Antigo Testamento declara-se escrito sob inspirao especial de Deus. A expresso "Deus disse" ou "disse Deus" , como forte indicador da chancela divina nos escritos sagrados, usada mais de 2.600 vezes na Bblia.

A Lei, os Salmos, os Profetas, os Evangelhos, as Epstolas, o Apocalipse enfim, todo o Antigo Testamento e todo o Novo Testamento , recebem de Deus um cuidado especial na sua inspirao. O Novo Testamento cita as leis antigas e faz meno delas com harmonia. Por isso h uma diferena insondvel entre a Bblia e qualquer outro livro. Essa diferena deve-se origem, forma e organizao da Bblia.

Contendo 66 livros escritos por uns quarenta autores, num perodo de mais ou menos 1.600 anos, abrangendo uma variedade de tpicos, a Bblia demonstra uma unidade de tema e propsito que s se explica como tendo ela uma mente diretriz.

Quantos livros suportam sucessivas leituras? Quantos conseguem ser lidos todos os dias da vida? A Bblia pode ser lida no s muitas vezes, mas todos os dias e em todas as horas da vida. A Bblia tem o seu lugar reservado em todas as bibliotecas do mundo, em cada casa e no corao do homem. Ela pode ser lida centenas de vezes, sem que se possam sondar as suas profundezas e sem que se perca o interesse pela sua leitura.

A Bblia est traduzida em milhares de idiomas e dialetos e lida em todos os pases do mundo. O tempo no a afeta. um dos livros mais antigos do mundo e ao mesmo tempo o mais moderno.

As defesas intelectuais da Bblia tm o seu lugar, mas, afinal de contas, o melhor argumento o prtico. A Bblia tem produzido resultados prticos indiscutveis: tem influenciado civilizaes, transformado vidas e trazido luz, inspirao e conforto a milhes de pessoas. E, nesse e em muitos outros sentidos, a sua obra ainda continua.

3SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS

Cremos, como dizem as Escrituras, na concepo

virginal de Jesus, como obra exclusiva

do Esprito Santo

(Is 7.14; At 1.9; Rm 8.34).

Em nosso credo, confessamos que Jesus foi concebido pelo Esprito Santo. Desde o iluminismo essa doutrina tornou-se uma das mais disputadas. Na teologia contempornea, Emil Brunner nega a concepo virginal de Cristo em seu livro The Mediator. Ele o chama de "curiosidade biolgica" e v uma possvel conexo com o docetismo porque essa doutrina fazia com que o Esprito Santo usurpasse a funo do pai humano. Como poderia Jesus ser como ns em todos os sentidos se realmente no tinha um pai humano? Karl Barth, telogo contemporneo de linha ortodoxa, rejeita os argumentos de Brunner, chamando-os de "um mau negcio". Wolfhart Pannenberg toma o partido de Brunner, perguntando se os argumentos de Barth a favor da concepo virginal no o colocam "na trilha da mariolatria romana". Para Pannenberg, "a histria da concepo virginal traz todas as marcas de uma lenda". Ele conclui: "A teologia no pode manter a idia da concepo virginal de Jesus como fato miraculoso a ser postulado na origem de sua vida terrena".

De acordo com a teologia modernista, a verdade da concepo pelo Esprito Santo consiste em que Deus foi o autor da salvao realizada atravs de Cristo desde o incio, e no apenas em sua ressurreio, nem na cruz, nem no batismo. Ou seja, desde o momento de sua concepo por Maria. Segundo a linha teolgica liberal, a histria da concepo virginal de Jesus vista como um smbolo.

Como fica evidente, o interesse primrio da teologia liberal demolir e esvaziar o sobrenatural da concepo de Jesus. A concepo virginal por eles chamada de "uma extravagante interveno no curso da natureza".

Nascimento sobrenatural

Quando o Manifesto do Crculo de Viena (1929), com sua ideologia puramente cientfica, comeou a defender o contedo e o mtodo das cincias da natureza como nica ferramenta capaz de subministrar uma cosmoviso rigorosa, exata e cientfica, asseverando que no h mistrios, e sim problemas que podem ser claramente formulados, investigados e resolvidos, acabou por subtrair o sobrenatural, estreitando totalmente o espao para a f e para a teologia.

Mas a reduo do conhecimento ao campo experimental, que, por sua vez, se baseia no imediatamente dado, elimina da f a verdadeira natureza do conhece-mento. Contra isso manifestou-se L. Wittgenstein, no seu Tratado lgico de filosofia: "O que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e sobre aquilo de que no se pode falar, deve-se calar".

absolutamente impossvel falar da concepo virginal de Jesus com a excluso do sobrenatural. At porque a Bblia um livro que acentua o tempo todo as intervenes sobrenaturais de Deus na histria humana. Visto pelo mbito do sobrenatural, a concepo virginal de Jesus um dos maiores milagres efetuados por Deus no Novo Testamento.

Lucas, por exemplo, fala do nascimento de Joo Batista como resultante do sobrenatural e desemboca a sua narrativa no nascimento inusitado de Jesus Cristo: "E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descer sobre ti o Esprito Santo, e a virtude do Altssimo te cobrir com a sua sombra; pelo que tambm o Santo, que de ti h de nascer, ser chamado Filho de Deus" (Lc 1.35).

A concepo virginal de Jesus, como ao sobrenatural pujante, avilta os crculos da cincia, mexe com os brios dos ateus, desafia a teologia liberal e confunde os agnsticos. Conquanto a Bblia no se preocupe em descer a detalhes racionais formais, no se exclui de contar o nascimento de Jesus como fato decorrente da interveno sobrenatural e direta de Deus. De fato, o milagre da concepo virginal de Jesus quebra todas as leis cientficas, como tambm transcende as cincias sociais e humanas, pelo fato de mostrar-se como algo absolutamente inexplicvel.

Embora nos ltimos dois sculos os telogos liberais e filsofos modernistas tenham desenvolvido um preconceito contra o sobrenatural, a concepo virginal de Jesus fato indiscutvel no Novo Testamento.

Paulo declara que Jesus "nascido de mulher" (Gl 4.4). E continua: "[...] grande o mistrio da piedade: Aquele que se manifestou em carne [...]" (1 Tm 3.16, grifo nosso). Diz ainda: "[...] sendo em forma de Deus [...] tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.6,7). Desse modo, Paulo ensina a encarnao. As expresses "nascido de mulher" e "grande o mistrio da piedade", por absoluta unanimidade dos biblistas, referem-se concepo virginal de Jesus.

Prova da concepo virginal

A prova escriturstica da concepo virginal de Jesus pode ser vista em alguns dos fatos narrados pelos evangelistas Mateus e Lucas. O primeiro mostra os escrpulos de Jos, sua perplexidade e temores, bem como os seus planos de fuga diante da revelao intrigante do anjo. O segundo, Lucas, apresenta o comportamento de Maria, sua fala, suas perguntas, bem como a perplexidade em face da paradoxal revelao.

Do exposto, conclumos que ambos os evangelistas:

a) concordam que a concepo de Jesus foi milagrosa;

b) declaram tambm que foi predita pelos anjos e c) mostram que nesse nascimento cumpriram-se as profecias: "Portanto, o mesmo Senhor vos dar um sinal: eis que uma virgem conceber, e dar luz um filho, e ser o seu nome Emanuel" (Is 7.14).

O dogma da Virgem Maria

O dogma catlico da Virgem Maria declara que Maria, mesmo aps o nascimento de Jesus, permaneceu virgem. de Atansioo distorcido dogma de Maria "Me de Deus". Todavia, a Bblia rebate essa idia estapafrdia com uma passagem clssica do Novo Testamento, que mostra claramente que Maria teve filhos e filhas:

No este o filho do carpinteiro? E no se chama sua me Maria, e seus irmos, Tiago, e Jos, e Simo, e Judas? E no esto entre ns todas as suas irms? Donde lhe veio, pois, tudo isso? (Mt 13.55,56).

4SOBRE O PECADO

Cremos que o pecado degenerou o homem e, como conseqncia,

destituiu-o da glria de Deus e que somente o arrependimento

e a f na obra expiatria e redentora de Jesus Cristo

o podem restaurar a Deus

(Rm 3.23; At 3.19).

No h necessidade de se discutir a realidade do pecado. A histria e o prprio conhecimento ntimo do homem oferecem abundantes testemunho do fato. Muitas teorias, porm, apareceram para negar, desculpar ou diminuir a natureza do pecado. As Escrituras, porm, asseveram: "Enganoso o corao, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecer?" (Jr 17.9); "No h quem faa o bem, no h sequer um" (SI 14.3); "Todos ns andamos desgarrados como ovelhas" (Is 53.6); "Pois j dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos [gentios], todos esto debaixo do pecado" (Rm 3.9); "Se dissermos que no temos pecado, enganamo-nos a ns mesmos, e no h verdade em ns" (1 Jo 1.8).

A pura verdade que o pecado uma realidade incontestvel, pois est presente tanto na histria como na conscincia de cada ser humano. Os que tentam relativizar a existncia do pecado, exorciz-la, bani-la, ou at mesmo neg-la, devem atentar para a declarao do velho telogo Berkroft: "O pecado uma coisa que existe na realidade, seja latente nos vulces adormecidos da natureza humana, seja patente na devastadora paixo ardente do homem".

Obviamente, no preciso dizer que este mundo no perfeito e nem as coisas so como deveriam ser. As injustias sociais, as economias inquas e desequilibradas, as dominaes imperialistas, que matam e destroem para impor o seu poder, esto a para provar a degenerao do ser humano. Alm disso, temos a imoralidade, os enganos, o orgulho desmedido, os furtos, a violncia rural e urbana, os assassinatos, o abuso de menores, os estupros, as mentiras torpes e premeditadas, as aes maquiavlicas da mais profunda crueldade, levadas a efeito todos os dias na morte dos meninos de rua, nas guerras (derramamento intil de sangue) com fins polticos e econmicos. Se isso ainda no for suficiente para provar a realidade do pecado aos que o negam, temos ainda o testemunho incontestvel das religies falsas e pags que, com seus sacrifcios cruentos, evidenciam o sentimento de culpa pelo pecado que impulsiona os homens a oferecer holocaustos.

E o que dizer da literatura mundial, repleta de ponderaes ou citaes que exprimem a realidade fatdica do pecado, como um fato triste e reconhecido em toda parte?

Sou uma criatura cada [...] uma base inqua existia em minha vontade antes de determinado ato (Coleridge).

Todos temos pecado, uns mais, outros menos (Sneca).

No vejo em outros qualquer falta que eu mesmo no possa ter cometido (Goethe).

No penses que tens feito qualquer progresso em direo perfeio at que sintas que s o menor de todos os seres humanos (Thomas Kempis).

Cada pessoa tem de condenar-se a si mesma, com justia, por ser o maior pecador que conhece (Law).

Depois de todas essas provas exaustivas da pecaminosa condio de todo o gnero humano, no h o que desmentir ou negar: o pecado uma realidade presente no mundo que "jaz no maligno".

A origem do pecado

Uma vez que difcil para a mente humana compreender o problema da origem do pecado, podemos dizer que, biblicamente, a primeira demonstrao de pecado ocorreu quando Satans, por causa da soberba, foi expulso da presena de Deus. "E tu dizias no teu corao; Eu subirei ao cu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregao, me assentarei, da banda dos lados do Norte" (Is 14.13). Essa passagem no se refere apenas ao rei de Tiro, mas tambm, no seu sensus plenior, a Satans (Lc 10.18).

A soberba e a prepotncia foram os elementos que provocaram o primeiro pecado. A essncia do pecado , portanto, arrogncia, desejo de ser igual a Deus, a assero da independncia humana contra Deus, a constituio da razo, moralidade e cultura autnomas. "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimrias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse mulher: assim que Deus disse: No comereis de toda rvore do jardim?" (Gn 3.1).

O pecado, portanto, originou-se da livre escolha do homem em querer tornar-se como divindade. Pois, disse a serpente mulher, "sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E, vendo a mulher que aquela rvore era boa para se comer, e agradvel aos olhos, e rvore desejvel para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu tambm a seu marido, e ele comeu com ela" (Gn 3.5,6).

A conseqncia do pecado

Quando Ado, deixando de obedecer a Deus, caiu em transgresso, ele no s prejudicou a si mesmo como tambm a toda a raa humana, a quem ele representava (Rm 5.12). O primeiro efeito da desobedincia de Ado foi morte, na expresso redundante do hebraico: "morrendo morrers" (Gn 2.17). No se tratava to-somente da morte fsica, porm, porque fisicamente Ado continuou vivendo, mas da morte espiritual, a separao de Deus (Ef 2.1-5). Por isso quando se d converso do pecador a Deus, ele (o pecador) recebe vida espiritual, que antes no existia nele em conseqncia da transgresso de Ado (Rm 5.12-14). pior conseqncia do pecado

a morte, tanto a espiritual e fsica quanto a eterna (Gn 3.19; Ap 20.14; 21.8). A morte, na linguagem bblica, ser o ltimo inimigo a ser vencido (1 Co 15.26).

O pecado, portanto, trouxe vrias e terrveis conseqncias aos homens, entre as quais a morte eterna, que significa uma existncia de sofrimento resultante da separao eterna de Deus numa existncia m e degradante.

A natureza do pecado

O carter santo de Deus norma absoluta, nica e final para o julgamento dos valores morais. No h, portanto, norma moral parte de Deus. Logo, pode-se declarar, sem medo de estar errando, que o pecado mau porque diferente de Deus.

O pecado, visto por essa tica, descrito como transgresso de qualquer das leis de Deus, as quais foram dadas como norma para a criatura racional. O pecado c um ato e um estado da vontade pessoal contra Deus e sua vontade. Origina-se da totalidade da pessoa arraigada e relacionada com aquilo que transcende a mesma pessoa, expressa-se na complexidade da fora e da fraqueza da pessoa e resulta na distoro de todas as relaes pessoais.

Conforme o ensino das Escrituras Sagradas, todo homem est afastado de Deus pela corrupo do pecado. Essa natureza consiste na perda da justia original que o homem tinha antes de pecar. Por conseguinte, todo homem est corrompido, e essa corrupo manifesta-se em uma averso a todo o espiritual, uma inimizade com Deus e uma inclinao positiva para o mal. Portanto, o pecado, em sua natureza, envolve tanto a culpabilidade quanto a corrupo. O estado de pecado em que o homem caiu consiste no crime do primeiro pecado de Ado, na falta de retido original, na corrupo de toda sua natureza, o que ordinariamente chamado de pecado original.

Agora, para sustentarmos a doutrina bblica do pecado original, temos que estabelecer trs pontos, a saber:

1. Todos os homens, descendentes de Ado por gerao ordinria, esto destitudos da justia original e sujeitos corrupo da natureza.

2. A corrupo original afeta todos os homens, no somente no corpo, mas tambm as faculdades da alma.

3. Sua natureza tal que antes da regenerao os homens esto completamente indispostos e espiritualmente incapazes e contrrios a tudo que bom (Ef 2.1).

Encerramos citando Karl Barth, telogo contemporneo, que define o pecado como uma oposio ao modus vivendi cristocntrico:

Pecado tudo aquilo que, visto em Cristo, se caracteriza essencialmente como oposto de sua conduta.

5SOBRE A SALVAO

Cremos na salvao presente, imediata, completa e perfeita

e na justificao do homem recebidas gratuitamente

de Deus pela f no sacrifcio efetuado por Jesus Cristo

(At 10.43; Rm 3.24-26; 10.13; Hb 5.9; 7.25).

A doutrina da salvao uma das mais ricas em toda a Bblia Sagrada. Ela o grande dom de Deus aos homens: "Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isso no vem de vs; dom de Deus. No vem das obras, para que ningum se glorie" (Ef 2.8,9). A salvao no uma conquista humana, e sim um dom de Deus. Nenhum ser humano deve imaginar que os seus mritos possam conquistar a salvao. Primeiramente, porque "todos pecaram"; segundo, porque s atravs de Jesus Cristo o homem pode ser salvo. a salvao, como manifestao concreta da graa de Deus, que nos traz a regenerao, a justificao, a santificao, a libertao, a cura e tantas outras bnos. Na Epstola aos Romanos, encontramos a grandiosa catedral teolgica levantada salvao. Ali o Esprito Santo, o grande escultor divino, inspira o apstolo

Paulo a esculpir uma das suas obras-primas acerca do plano presciente de Deus para salvar o homem de seus pecados.

Etimologicamente, a palavra salvao significa "ser tirado de um perigo", "livrar", "curar", "dar escape". A Bblia fala da salvao como a libertao do tremendo perigo de uma vida sem Deus.

A salvao tem sua origem em Deus, que estabeleceu o seu plano antes da fundao do mundo (Ef 1.4). Quando o homem (Ado), no jardim do den, desobedeceu a Deus, o seu pecado trouxe graves conseqncias aos seus descendentes (Rm 5.12,17-19). Porm Deus no foi apanhado de surpresa. Ele j tinha, no princpio, estabelecido o meio eficaz para salvar o homem. No livro de Gnesis, aparece a promessa de um Redentor: a "semente da mulher" (Gn 3.15; comp. com Gl 4.4 e Is 7.14). Na "plenitude dos tempos", cumprindo-se o que fora prometido, nasce o Salvador em Belm de Jud, e, conforme orientao recebida do anjo Gabriel, enviado da parte de Deus, deram-lhe o nome de Jesus, cuja misso se acha destacada no significado do seu nome (Mt 1.21; Lc 2.11).

Nos dias de seu ministrio, quando procurado por Nicodemos (Jo 3.1,2, 16), Jesus revela a razo de sua vinda ao mundo, dentro do que j havia sido estabelecido (Ef 1.4; Ap 13.8). Pela resposta de Jesus a Nicodemos "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unignito, para que todo aquele que nele cr [...] tenha a vida eterna" , entendemos que s Ele, Jesus Cristo, pode salvar (At 4.12). No plano de Deus para

salvar o homem, estava includa a morte de Cristo na cruz (Is 53.4-6; Jo 10.17,18; Hb 10.7-14). Paulo acentua a morte de Cristo, destacando que o nico meio pelo qual o homem pode ser resgatado da maldio da Lei (Gl 3.13,14).

Os trs aspectos da salvao

1 Justificao. Um dos assuntos mais gloriosos da Bblia a justificao. Trata-se de um termo forense e significa "declarar algum justo", no sentido de absolvio. A justificao descreve a nova condio do homem pecador diante de Deus. O homem, antes culpado e condenado morte eterna, recebe o perdo dos pecados e simultaneamente declarado justo por Deus (Rm 8.33). Aos olhos de Deus, o nosso pecado no existe mais (SI 103.12; Mq 7.18,19; Rm 3.23-26). Na justificao, recebemos algo que ultrapassa o perdo, porque com o perdo recebemos a quitao dos nossos pecados; com a justificao, porm, Deus nos torna santos, como se nunca houvssemos pecado (Rm 5.1).

2. Regenerao. A salvao no advm de uma soma de ritos a serem praticados. Ela ocorre instantaneamente na vida de quem sinceramente cr no Senhor Jesus Cristo, e o recebe como Salvador e Senhor. Entretanto, h uma seqncia lgica a ser observada. Jesus disse: "Ningum pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, no o trouxer; e eu o ressuscitarei no ltimo dia" (Jo 6.44). Ele tambm declarou: "Quando ele [o Esprito Santo] vier, convencer o mundo do pecado, e da justia, e do juzo: do pecado, porque no crem em mim; da justia, porque vou para meu Pai, e no me vereis mais; e do juzo, porque j o prncipe deste mundo est julgado" (Jo 16.8-11). O instrumento usado pelo Esprito Santo para realizar essa obra a Palavra de Deus: "De sorte que a f pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). Vemos, portanto, que na salvao dos pecados h participao efetiva do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Todavia no est restringida a liberdade de escolha do homem: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Esse o convite feito por Jesus. Cabem ao pecador duas opes: aceitar ou rejeitar (Jo 12.47,48).

As Escrituras falam de muitos apelos feitos ao homem para que ele retorne a Deus (Pv 1.23; Mt 18.3; Jo 7.37). A converso a resposta do pecador convicto chamada de Deus feita pelo Esprito Santo. H, no arrependimento dos pecados, dois pontos a serem considerados: o lado negativo, que o sentimento de culpa pela transgresso das leis de Deus e que leva o homem ao arrependimento, e o positivo, a f.

O arrependimento (methania, no grego), que significa "dar meia-volta", "mudana de mente", trata-se de uma mudana de atitude em relao ao pecado, que abandonado e recusado. O pecador arrependido reconhece a sua culpa diante de Deus, a qual acompanhada de um sentimento de tristeza pelo pecado cometido (SI 51.1-3,12; 2 Co 7.10).

O lado positivo do arrependimento est no fato de o pecador no somente virar as costas para algo, mas tambm voltar-se para Deus. uma atitude de f, que permite ao ser humano arrependido entrar numa relao positiva com Deus. Isso enfatiza a importncia da f, que fundamental no relacionamento com Cristo (Hb 11.6).

Conclumos que a regenerao descrita como o abandono das coisas opostas vontade de Deus e a entrega total em obedincia a Ele. Assim sendo, um fato que se d simultneo salvao.

3. Santificao. Uma coisa tornar-se cristo. Outra viver a vida crist. Tudo que recebemos na salvao, na justificao e na regenerao se manifesta na santificao. Isso significa vida crist na prtica (1 Ts 4.3; 2 Co 7.1; Hb 12.14). A santificao apresenta trs aspectos:

a) Santificao posicional Nesse sentido, ela imediata. "Na qual vontade [Deus] que temos sido santificados pela oblao do corpo de Jesus Cristo feita uma vez" (Hb 10.10). Esse fato se d na converso do pecador: imediato, total, e coloca o homem na posio de filho de Deus (1 Pe 1.3,4), ou seja, posicionalmente santo (Rm 1.7; Hb 3.1).

b) Santificao progressiva "Quem santo seja santificado ainda" (Ap 22.11). Essa santificao acontece no decorrer da vida crist. Enquanto a santificao posicional imediata, a progressiva dinmica e paulatina. Quanto mais o crente se consagra para Deus, mais santificado se torna (1 Co 7.1). A santificao progressiva aperfeioa-se no temor de Deus. Ela aperfeioada com orao, estudo da Palavra de Deus, jejum, e atravs de uma vida dedicada obra de Deus (Rm 6.12,13, 22).

c) Santificao completa (absoluta) Acontecer por ocasio da redeno do corpo, na ressurreio (Rm 8.22,23) ou no arrebatamento, quando formos transformados.

O novo nascimento

Quando Nicodemos, cujo nome significa "conquistador do povo", foi ter com Jesus noite, deixou transparecer no seu argumento o prprio significado do seu nome. Ele tentou impressionar Jesus s custas de elogio: "Rabi, bem sabemos que s mestre vindo de Deus, porque ningum pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus no for com ele" (Jo 3.2). Toda essa meno elogiosa no impressionou Jesus, que em contrapartida lhe respondeu sobre a necessidade do "novo nascimento", o que nada tinha a ver com os elogios de Nicodemos.

Nicodemos deixa transparecer em suas palavras que no entendia nada a respeito do novo nascimento, apesar de ser ele mestre em Israel. Foi ento que Jesus passou a ensin-lo sobre o significado e como acontece o novo nascimento: "Aquele que no nascer da gua e do Esprito..." (Jo 3.5).

H quem confunda novo nascimento com batismo em gua. S que esse argumento no tem consistncia por falta de embasamento bblico. Ningum batizado em gua para nascer de novo, porque s se batiza quem j nascido de novo.

A palavra "gua", citada no texto, refere-se Palavra de Deus, como o confirmam as prprias Escrituras. Paulo, em Efsios 5.26, apresenta a Palavra como gua que santifica a Igreja ("[...] para a santificar pela lavagem da gua, pela palavra de Deus"). Jesus tambm declara, em Joo 15.3: "Vs j estais limpos pela palavra que vos tenho falado". Vemos ento que a Palavra de Deus um dos elementos fundamentais para que se possa nascer de novo.

Jesus acrescenta ainda gua a expresso "Esprito". Isso quer dizer que o novo nascimento no resulta apenas da ao da Palavra, mas tambm da do Esprito Santo, concordando com o que est escrito em Joo 16.8: "Quando ele [o Esprito Santo] vier, convencer o mundo do pecado [...]". Assim, entendemos que, aplicando o Esprito Santo a Palavra de Deus conscincia e ao corao do pecador e recebendo este com sinceridade a verdade de Deus, acontece de imediato e de forma sobrenatural o que

chamamos de novo nascimento: "Ele nos gerou de novo pela palavra da verdade [...] em vs enxertada, a qual pode salvar a vossa alma" (Tg 1.18,21).

do homem tambm uma parcela de responsabilidade no novo nascimento. Quando Tiago escreve que devemos receber "com mansido a palavra em vs enxertada" e o escritor aos hebreus que "a palavra da pregao nada lhes aproveitou, porquanto no estava misturada com a f naqueles que a ouviram", conclumos que o homem tem a responsabilidade de aceitar a Palavra.

Com a operao da gua a Palavra de Deus e do Esprito Santo, qualquer criatura humana pode nascer de novo. Alis, isso continua acontecendo, quando os mensageiros de Cristo anunciam o Evangelho, levando a Palavra, sob a uno do Esprito Santo, aos que ainda no foram alcanados para a salvao.

O novo nascimento contrasta com o nascimento natural. Jesus foi enftico ao responder a Nicodemos (Jo 3.6) que o novo nascimento nada tem a ver com a doutrina da reencarnao. Isso tambm est claro em Joo 1.13, que nos mostra a grande diferena entre nascer da vontade da carne, da vontade do varo, e nascer da vontade de Deus. Por ser o novo nascimento uma obra exclusiva do Esprito Santo e do poder da Palavra de Deus, no basta nascer num lar evanglico para alcan-lo, porque "filho de crente no crente".

Deus tem uma famlia na terra (Ef 2.20; 3.14,15) composta por aqueles que nasceram de novo conforme a recomendao de Jesus a Nicodemos: "Necessrio vos nascer de novo..."

6SOBRE O BATISMO EM GUAS

Cremos no batismo bblico efetuado por imerso do

Corpo inteiro uma s vez em guas, em nome do

Pai, do Filho e do Esprito Santo, conforme

determinou o Senhor Jesus Cristo

(Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12).

O batismo em guas (do grego baptz, "mergulhar", "submergir") uma das duas ordenanas que Cristo deixou Igreja (Mt 28.19). Atravs do batismo, o novo convertido, que j faz parte do Corpo de Cristo pelo novo nascimento, d o seu testemunho pblico do que lhe aconteceu. Trata-se, portanto, de uma confisso pblica de f em Cristo, por intermdio de atos e palavras, onde o batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades da Bblia Sagrada.

No ato do batismo em guas, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para Cristo, para viver agora em "novidade de vida" (Rm 6.4).

As guas do batismo no visam limpar os nossos pecados. O Novo Testamento mostra claramente ser o sangue de Jesus, e no as guas do batismo, o que nos purifica e perdoa. Mediante o sangue de Jesus somos justificados, nossa conscincia purificada e somos redimidos (Rm 5.9; Hb 9.14; 1 Pe 1.18,19).

Embora a igreja catlica e algumas denominaes evanglicas pratiquem o batismo por asperso ou efuso, a histria e a etimologia do verbo grego baptz mostram ser a imerso a forma bblica.

Pedro, ao falar sobre o batismo para "perdo dos pecados" (At 2.38), usou a mesma expresso grega utilizada por Joo Batista, quando este afirmou: "E eu, em verdade, vos batizo com gua, para o arrependimento" (Mt 3.11). O batismo de Joo Batista no produzia o arrependimento, mas apontava para ele. Assim tambm a expresso petrina. "Para perdo dos pecados" significa "por causa do perdo dos pecados" ou "como testemunho de que os vossos pecados foram perdoados". Nesse caso, o batismo tornou-se no somente um testemunho, mas um compromisso de viver uma nova vida no poder do Cristo ressuscitado.

O batismo em guas s para os convertidos

De acordo com a Bblia o batismo em guas somente para os que j se converteram a Cristo. Jesus ordenou a seus discpulos: "Portanto, ide, ensinai [fazei discpulos em] todas as naes, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo".

Observe que a ordem do texto fazer primeiro discpulos e depois batizar. Em Marcos 16.16, o crer vem antes do batismo. Quando Filipe pregava e em nome de Deus realizava milagres, as pessoas criam e ento eram batizadas (At 8.12). Essas pessoas foram batizadas sempre depois de terem crido. Em alguns casos, pessoas receberam o batismo com Esprito Santo antes de serem batizadas em guas, mas est bem claro que o batismo em guas somente para aqueles que confessam Cristo como Salvador.

Considerando todos esses exemplos, chegamos a concluso de que no devemos, em hiptese alguma, batizar crianas, pois elas, no tendo ainda chegado idade da razo, no tm nenhuma capacidade de confessar a Cristo como Salvador.

A Bblia contra o rebatismo

O batismo em guas deve ser ministrado uma s vez. nesse sentido que Paulo escreve aos Efsios: "[...] uma s f; um s batismo" (Ef 4.5).

O batismo

O modo. A palavra "batizar", usada na frmula de Mateus 28.19,20, significa literalmente, como j foi explicado, "mergulhar" ou "imergir, submergir". Alguns, mesmo pertencendo a igrejas que batizam por asperso, admitem que a imerso o modo primitivo de batizar.

A frmula. "[...] batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo" (Mt 28.19). H quem confunda a declarao de Pedro em Atos 2.38 com a frmula citada em Mateus 28.19. As palavras proferidas por Pedro no representam uma frmula batismal, e sim uma declarao de que as pessoas que reconheciam Jesus como Senhor e Cristo recebiam batismo.

A Didaqu, um documento escrito aproximadamente no ano 100 d.C, fala do batismo cristo celebrado em nome do Senhor Jesus Cristo. Mas o mesmo documento, ao descrever o rito detalhadamente, usa a frmula trinitria. Por ser essa a determinao de Jesus, os que nele crem e o recebem como Senhor jamais deveriam mudar a frmula por Ele estabelecida.

Quem deve se batizado. Todos os que sinceramente se arrependem de seus pecados e recebem a Cristo como Salvador e Senhor so elegveis para o batismo (At 2.4). O batismo em guas uma confisso pblica de f em Cristo, por intermdio de atos e palavras, na qual o batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades concernentes encarnao, morte e ressurreio de Cristo.

No ato do batismo, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para Cristo, vivendo agora em novidade de vida. Concluindo, o batismo em guas, em si, no tem nenhum poder de salvar uma pessoa. Mesmo porque no se batiza algum para ele ser salvo, e sim porque j salvo.

7SOBRE O ESPRITO SANTO

Cremos no Esprito Santo como a terceira Pessoa

da Trindade, genuno Deus, eterno, onipotente,

onipresente e onisciente

(Jo 16.13,14).

Sobre a doutrina acerca do Esprito Santo, urge prevenirmos os mal-entendidos. Isso porque o tipo de relacionamento que a maioria dos cristos vem tendo com o Esprito Santo, a terceira Pessoa da Trindade, absolutamente estranho e ao mesmo tempo paradoxal, quando analisado luz da nossa declarao de f, que diz: "Cremos [...] em um s Deus eternamente subsistente em trs Pessoas: O Pai, o Filho e o Esprito Santo".

Esse relacionamento resulta, ao que tudo indica, da m compreenso das metforas que a Bblia usa para caracterizar algumas das manifestaes do Esprito Santo, aliada ao uso exaustivo, sistemtico, repetitivo e exagerado de simbologia em algumas culturas pentecostais. Isso fica provado quando ouvimos e analisamos as oraes feitas ao Esprito Santo, quando lhe atribumos apenas poder energtico. J parou para observar como ns oramos: " Deus, manda a fora do Esprito, o poder do Esprito, a uno do Esprito e nos enche de sua virtude..."?

De fato o Esprito Santo fora, poder, mas sobretudo a terceira Pessoa da Trindade, a) Ele pode entristecesse (Ef 4.30); b) Ele capaz de sentir cimes (Tg 4.5); c) Ele capaz de sentir conosco as agonias da nossa existncia (Rm 8.26,27); d) Ele capaz de ensinar (1 Co 2.11,13); e) Ele tem vontade (1 Co 12.11); f) Ele ama (Rm 15.30).

A razo principal de muitos cristos no viverem em ntimo e profundo relacionamento com o Esprito Santo como Pessoa e como Deus est no hbito mental adquirido de imagin-lo sempre como algo, e no como Algum. Toda essa dificuldade que a maioria tem de se relacionar com o Esprito Santo, de v-lo como uma Pessoa que fala, sente, ouve, ama, em razo do uso exagerado da simbologia a Ele referente.

Quem est acostumado a s ouvir que o Esprito Santo como fogo, vento, chuva, orvalho, pomba etc., jamais conseguir enxerg-lo como uma Pessoa, imagin-lo- sempre de forma impessoal. Por essa percepo distorcida em relao a terceira Pessoa da Trindade, um escritor norte-americano denominou o Esprito Santo de "fulano", no seu livro Pai, Filho e Fulano. At hoje o Esprito Santo tratado de forma impessoal, sem que lhe demos a honra, o louvor e a adorao devidos. No podemos esquecer que o Esprito Santo o Deus presente entre ns.

A teologia de Jesus acerca do Esprito Santo bastante clara no Evangelho de Joo (cf. Jo 16.13,14). A palavra de ordem nesse evangelho que o Esprito Santo seria enviado em lugar de Jesus para ajudar os homens em todas as suas carncias (Jo 1416). O termo grego aqui traduzido por "outro" lln, e no hteron, significando que o Esprito Santo outro ajudador, separado e distinto de Cristo, embora da mesma "espcie", e no uma forma distinta ou separada de ajudador. Ele a continuao do Senhor Jesus entre ns, embora sob uma manifestao ou presena de categoria diferente. Jesus procurou consolar os seus discpulos mostrando-lhes que, embora fosse ocorrer em breve alguma modalidade de separao entre Ele e os seus seguidores, em outro sentido bem real Ele haveria de permanecer com eles para todo o sempre, porque o Esprito Santo haveria de descer para estar no meio deles e com eles.

Joo 16.13,14, deixa claro que o relacionamento do Esprito Santo com Jesus seria na mesma base do relacionamento que este mantinha com o Pai. Jesus dizia que nada do que falava era de si mesmo, mas do Pai. Da mesma forma o versculo acima declara que o Esprito Santo tem o mesmo tipo de comportamento para com Jesus. Isso quer dizer que a nica maneira de se conhecer o Filho de Deus por meio da comunho com o Esprito Santo.

Observe que exatamente isso o que Jesus revela nas suas clssicas palavras registradas em Joo 14.7,10: "Se vs me conhecsseis a mim, tambm conhecereis a meu Pai; e j desde agora o conheceis e o tendes visto. [...] As palavras que eu vos digo, no as digo de mim mesmo, mas o Pai, que est em mim, quem faz as obras".

Comparando esses versculos com os versculos 13 e 14 do captulo 16 do mesmo evangelho, chegamos s seguintes concluses:

a) Assim como Jesus veio ao mundo para glorificar o Pai, o Esprito Santo est entre os homens para glorificar Jesus com as suas obras.

b) Assim como Jesus o Mediador entre Deus e os homens, o Esprito Santo o Mediador entre Jesus e a sua Igreja.

c) Assim como Jesus no falava de si mesmo, mas do Pai, o Esprito Santo tambm no fala de si mesmo, mas nos revela tudo o que tem ouvido de Jesus.

d) Assim como Jesus veio ao mundo para revelar o Pai, o Esprito Santo est no mundo para revelar Jesus aos homens.

e) Assim como Jesus nos revela as profundezas de Deus, s o Esprito Santo pode revelar-nos profundamente a Pessoa de Jesus.

f) Assim como Jesus glorificou o Pai em toda a expresso de sua vida e no deixou de ser adorado, louvado, exaltado, o Esprito Santo glorifica a Jesus em todas as suas manifestaes, mas isso no impede que Ele receba as nossas oraes, adoraes, louvores, exaltaes, pois Ele Deus.

g) Assim como Jesus o nico caminho para Deus, o Esprito Santo cumpre o papel de convencer o pecador de que Jesus o nico caminho para Deus.

O batismo com o Esprito Santo

O batismo com o Esprito Santo uma bno distinta da salvao. Conquanto a terceira Pessoa da Trindade tenha papel relevante na converso e passe, desde ento, a

habitar no novo crente, o Novo Testamento deixa claro que h um momento especfico da vida crist em que o salvo recebe esse batismo, tambm chamado de revestimento. Essa experincia, toda vez que mencionada no livro de Atos dos Apstolos, aparece como algo distinto do novo nascimento (At 2.38; At 11.12-17).

Com o surgimento do neopetencostalismo, vieram tambm tona vrias teorias diferentes sobre a evidncia inicial do batismo no Esprito Santo. H quem afirme ser essa evidncia uma exploso de alegria, outros inserem no ato de ungir com leo a garantia do batismo e alguns preferem deixar a questo em aberto, sem determinar uma frmula especfica.

Mas a Bblia continua sendo o nosso padro nessa rea, identificando o falar em lnguas como a evidncia inicial do batismo no Esprito. Foi assim no dia de Pentescoste (At 2.1-31). A experincia repetiu-se por ocasio da converso de Cornlio e de sua famlia (At 10.45,46), bem como com a chegada do apstolo Paulo em feso, em sua primeira viagem missionria (At 19.1-6). Nesses casos, o fenmeno que indicava o batismo era o falar em lnguas. Mesmo no episdio da evangelizao de Samaria, quando os apstolos impuseram as mos para que os crentes recebessem o Esprito Santo, fica implcita a idia de um fenmeno fsico, visvel, que levou o mgico Simo a ambicionar a possibilidade de exercer o mesmo milagre (At 8.14-24). Pelo contexto de Atos, o que poderia ser seno o falar em lnguas? Assim as lnguas identificam o crente quando este batizado no Esprito Santo.

O batismo no Esprito Santo tem como finalidade capacitar o crente para a vida crist vitoriosa e, sobre tudo, para testemunhar com ousadia sobre a sua f em Cristo, mesmo nas circunstncias adversas, em que as convices espirituais podem at ser provadas pelo martrio. Nessas horas, o poder advindo do batismo no Esprito Santo que dar fora ao crente para suportar a dura prova da perseguio (At 13.44-52).

Por isso, vale a pena estimular os crentes buscar o batismo no Esprito Santo.

Os dons espirituais

O Brasil e o mundo tm vivenciado, nos ltimos setenta anos, uma efervescncia de dons espirituais, em razo da redescoberta do poder do Esprito Santo. Evidentemente, muitas coisas nos meios pentecostais e neopentecostais so expresses de excessos e de imaturidade, todavia, conquanto precisem de alguns ajustes bblicos, os movimentos pentecostal e neopentecostal refletem uma ao efetiva, nova e revolucionria do Esprito Santo na vida da igreja atual.

Assuntos tais como milagres, lnguas estranhas, profecias, considerados anacrnicos, obsoletos ou verdadeiros apndices por algumas denominaes tradicionais foram redescobertos e liberados das algemas dos dogmas e das sistemticas denominacionais. O Esprito Santo deixou de ser teoria para ser Algum real Deus presente e adorado pela igreja, causando extremo impacto aos denominacionalistas histricos.

Faz-se necessrio dizer que esses movimentos divinos vm sempre como contraponto a uma situao de morbidez, frieza e indiferena na rea da devoo, da misso e dos objetivos, razo por que a proposta essencial dos grandes avivamentos da histria foi consertar erros de percurso tomados pela Igreja. Assim foi entre o catolicismo e o protestantismo; depois, entre o protestantismo e movimento evanglico; depois, entre o movimento evanglico e o pentecostal. Todas essas mudanas fazem parte do mover de

Deus na histria, mudando o status quo da Igreja, principalmente quando este j no atende aos apelos do Reino de Deus.

Acerca dos dons espirituais temos cinco consideraes a fazer:

1. No se pode restringir nem absolutizar o nmero de dons. O Novo Testamento no traz uma lista exaustiva e especfica de dons, isso porque cada lista acrescenta algo outra. Enquanto Romanos 12.6-8, por exemplo, apresenta uma lista caracterstica de dons, 1Corntios 7.7 exibe outra; j os captulos 12 e 14 de 1

Corntios apresentam outros dons, que no encontramos nas duas primeiras listas. Efsios 4.11-13 apresenta uma quarta lista, e, finalmente, 1 Pedro 4.10,11 compe uma quinta. Ou seja, as listas so diversas umas com mais, outras com menos dons; umas nas quais faltam dons, outras em que eles so acrescentados. Logo, no devemos dogmatizar a respeito do assunto, afirmando que os dons existentes so aqueles acerca dos quais o Novo Testamento fala. Primeiro, porque o Novo Testamento no nos oferece uma lista exaustiva de dons. Segundo, porque cada escritor deixou de citar uma srie, que outros mencionam, o que significa que na mente deles no havia a sistematizao que encontramos em alguns livros atuais.

2. Os dons so mais numerosos do que aqueles que o Novo Testamento apresenta. A indicar pelo estudo do Novo Testamento, conclumos que os dons podem ser mais numerosos do que aqueles que comumente aceitamos. De qualquer maneira, porm, todos os dons tm que, fundamentalmente, fazer sentido com o esprito geral da Escrituras. Ou seja, Deus soberano para prover novas formas de manifestar a sua graa atravs da vida humana.

3. Dons espirituais so diferentes de talentos naturais e de habilidades adquiridas. Talentos e habilidades podem ser tambm usados na obra de Deus. No entanto quem os usa apenas de forma natural ficar muito aqum das suas reais possibilidades como homem ou mulher de Deus. Estar tambm desprezando algo que, afinal de contas, foi providenciado por Deus "a cada um para o que for til (1 Co 12.7). E no devemos nos contentar com menos do que aquilo que Deus tem para ns.

4. Dons espirituais no so para transformar pessoas em seres superespirituais nem para tomar algum melhor ou superior a outros crentes. O batismo no Corpo de Cristo, que diferente do batismo com o Esprito, coloca-nos em situao de igualdade com os demais membros do Corpo, criando entre ns uma unio essencial.

5. Todos os dons so importantes, at os menos aclamados pela teologia sistemtica. Temos um problema srio aqui, porque muitos pentecostais tendem a classificar alguns dons como mais importantes que outros. Mas a verdade que todos obedecem a uma ordem de utilidade comunitria. Apresentamos, a seguir, alguns desses dons no to proclamados nos meios pentecostais.

a) O dom de servio (no grego, diakonia, Rm 12.6-8) Desse vocbulo deriva a palavra "dicono". Geralmente o termo significa o cuidado das necessidades fsicas (At 6.1,2). A pessoa que serve a outrem guiada pelo dom do Esprito, faz, por vezes, o mesmo que outros fariam simplesmente por motivos humanitrios. Mas h, sem dvida, duas diferenas notveis: o dom espiritual resulta numa maior efetividade, graas ao poder sobrenatural, e o motivo ser certamente o que Pedro indicou: "[...] para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo [...]".

b) O dom do ensino (no grego, didakson, Rm 12.6) Esse dom tem por finalidade instruir e consolidar os outros na verdade do Evangelho. Os dons descritos na lista da Primeira Carta aos Corntios como "palavra da sabedoria" e a "palavra da cincia [ou do conhecimento]" esto estreitamente relacionados com o dom de ensinar. O ensino no se limita s palavras, tambm produzido atravs do exemplo e da influncia sutil do carter daquele que ministra o ensino.

c) O dom de exortar (Rm 12.6-8) O termo grego para "exortar" parakleto, que significa "ajudador" literalmente, "ir em socorro de algum" em qualquer necessidade. uma espcie de "estimulador da f". Encorajamento ou conforto a aplicao desse dom, "pondo um corao novo" naqueles que tenham sofrido derrotas ou perdas ou que estejam sob provaes.

d) O dom de contribuir Significa mais do que dar no sentido filantrpico. Significa dar com o corao cheio do amor de Deus. Isso significa que esse dom vai alm da mordomia crist.

e) O dom de presidir (ou governo, Rm 12.8). Literalmente, significa "tomar o comando ou diretivas de qualquer grupo". Duas palavras so utilizadas no Novo Testamento com respeito a esse dom: prostemi (Rm 12.8) e kybrnesis (1 Co 12.28). A primeira significa "estar frente, comandar", e a segunda, "administrar", conceitos que se entrelaam. A palavra adjetivamente relacionada ao dom de presidir "diligentemente", isto , com sinceridade, zelo, e de forma metdica. O governo exige viso, pacincia, consistncia quanto a objetivos e fora de vontade para continuar quando outros desistem. Quem governa deve governar em cima de cada situao, ser interessado, no afrouxar nos padres de controle, estar sempre frente, tocando as coisas com garra. tambm quem planeja e induz os outros a se empenharem na realizao dos planos. uma espcie de organizador de programas.

f) O dom da compaixo (Rm 12.8) O portador desse dom sente alegria, tem empatia, se compadece da dor do prximo, misericordioso para com os irmos, ajuda quem no tem condies de ajudar-se a si mesmo. O dom da compaixo move as aes sociais mais sublimes.

g) O dom do socorro (1 Co 12.28) Os que possuem tal dom geralmente investem a sua vida na perspectiva de servio aos cristos em dificuldades. So aquelas pessoas que receberam do Esprito Santo a sensibilidade para detectar problemas srios, pressentir onde esto os verdadeiros carentes, experimentando prazer em permanecer junto deles.

A segunda lista paulina de dons espirituais encontra-se em 1 Corntios 12.7-11. Algumas diferenas apreciveis so evidentes quando a comparamos com a lista da Carta aos Romanos. O nico dom comum s duas listas o da profecia, o qual Paulo considera, em 1 Corntios 14, superior aos demais. Sugeriu-se que os dons mencionados na Carta aos Romanos so parte da vida cotidiana da comunidade crist, sendo que a esse grupo de dons pertenceriam os mais extraordinrios, os mais transitrios e os menos universais. O fato de as listas serem to diferentes mostra-nos que os dons espirituais abarcam um nmero de capacidades para muito alm do que aquilo que geralmente pensamos. possvel que a diferena existente entre as duas listas sugira a situao de cada uma das igrejas a que Paulo escreveu. A igreja em Roma parece ter sido uma comunidade bem mais estvel e espiritual. No estava envolvida em lutas internas nem sob o ataque de doutrinas herticas. A igreja em Corinto, ao contrrio, era a que dava mais problemas na poca. Estava dividida em faces (1 Co 1.103.23),

revoltada contra a autoridade de Paulo (4.1-21), maculada pela imoralidade (5.1-13) e por litgios (6.1-8). As suas ceias haviam-se convertido em glutonarias e bebedices (11.8-34). Doutrinas herticas eram toleradas at o ponto de uma negao geral da ressurreio (15.1-8). Nota-se uma melhoria no intervalo entre a primeira e a segunda epstola, mas ainda estava muito longe de ser uma igreja estvel (2 Co 13.1-10).

8SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

Cremos na segunda vinda premilenial de Cristo, em duas fases

distintas. A primeira, invisvel ao mundo, para arrebatar a sua

Igreja da terra, antes da grande tribulao; a segunda,

visvel e corporal, com sua Igreja glorificada, para

reinar sobre o mundo durante mil anos

(Zc 14.5; 1 Ts 4.16, 17; 1 Co 15.51-54; Jd 14; Ap 20.4).

H alguns aspectos a destacar sobre a vinda de Jesus Cristo que formam o alicerce da doutrina escatolgica exarada nas Escrituras Sagradas, das quais no podemos nos afastar, pelo fato de serem o cerne da doutrina sobre as ltimas coisas. Se no, vejamos:

O fato de sua vinda

O fato da vinda de Jesus mencionado mais de trezentas vezes no Novo Testamento. O apstolo Paulo refere-se ao evento umas cinqenta vezes. A vinda de Jesus uma das mais importantes doutrinas do Novo Testamento. Assim disse o apstolo dos gentios: "Se esperarmos em Cristo s nesta vida, somos os mais miserveis de todos os homens" (1 Co 15.19).

maneira de sua vinda

Ser de maneira pessoal (Jo 14.3; At 1.10,11; 1 Ts 4.16; Hb 9.28; Ap 22.7). H quem discorde da opinio de que a vinda de Jesus seja literal e pessoal. Outros h que ensinam que a morte a segunda vinda de Jesus. A Bblia mostra, porm, que a segunda vinda de Jesus no tem nada a ver com a morte, pois os mortos em Cristo ressuscitaro nessa ocasio. Quando o crente parte para a eternidade, ele vai para a presena de Deus, mas na vinda de Jesus Ele que vem para nos buscar (Fp 3.20,21). Alguns sustentam que a vinda de Jesus foi a descida do Esprito Santo no dia de Pentecoste. Outros, no entanto, ensinam que Cristo veio no tempo da destruio de Jerusalm, no ano 70 d.C.

Nenhuma dessas afirmaes tem base bblica. Na vinda de Jesus, haver duas coisas importantssimas: a ressurreio dentre os mortos e a transformao dos crentes que estiverem vivos. Esses dois fatos no ocorreram ainda, mas acontecero no dia da vinda de Jesus. (1 Ts 4.16-18).

A vinda de Jesus, ainda que oculta aos olhos do mundo, ser literal e pessoal. Isso possvel porque, aps a sua ressurreio, Jesus foi visto diversas vezes pelos discpulos.

Porm, o mundo no o viu sequer uma vez. Enquanto a vinda de Jesus ser motivo de glria para aqueles que o esperam, ser de sofrimento e agonia para os mpios.

O tempo de sua vinda

Muitos j tentaram determinar a data da vinda de Jesus, mas em nenhuma delas "o Senhor veio na hora marcada" pelos homens. Antes, os que tentaram estabelecer datas ficaram envergonhados pelo fato de Jesus no ter vindo segundo suas previses. "No vos pertence saber os tempos ou as estaes que o Pai estabeleceu pelo seu prprio poder" (At 1.7).

O dia da vinda de Jesus no foi revelado a ningum. um mistrio oculto em Deus que ser revelado somente quando Jesus vier. Ns sabemos como ser, mas no sabemos quando ser (Mt 24.36). Segundo o que diz a Escritura, o arrebatamento da Igreja ter lugar no cu e nas nuvens (1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.16). A palavra de Deus revela-nos que ser de forma repentina.

Os destaques da vinda de Jesus

H uma diferena entre o arrebatamento e a vinda de Jesus em glria. Primeiro Ele vem para os seus (Jo 14.3). Depois, Ele vem com os seus (Mt 24.30; Ap 1.7).

O Tribunal de Cristo

Aps o encontro da Igreja com o Senhor Jesus nos ares, por ocasio do arrebatamento (1 Ts 4.17), o povo de Deus que foi arrebatado, j com o corpo glorificado, comparecer perante o Tribunal de Cristo (2 Co 5.10), para que as suas obras realizadas na terra, atravs do corpo, em prol da causa do Evangelho, sejam aprovadas (1 Co 3.12-15), a fim de que recebam (ou no) galardo.

Em Apocalipse 22.12 est escrito: "E eis que cedo venho, e o meu galardo est comigo para dar a cada um segundo a sua obra". Paulo faz referncia a isso em 2 Timteo 4.8, quando diz que a "coroa da justia" lhe ser entregue. Pedro diz que "quando aparecer o Sumo Pastor, alcanareis a incorruptvel coroa de glria" (1 Pe 5.4).

No Tribunal de Cristo todos os que foram arrebatados ressuscitados e transformados , iro receber galardo "segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Co 5.10).

O que ser julgado

No se trata de julgamento dos pecados, pelo fato de terem sido eles julgados em Cristo por ocasio de sua morte (1 Jo 1.7; 1 Pe 2.24), pois Jesus no recorda jamais aquilo que perdoou (Hb 8.12). No Tribunal de Cristo, o julgamento no ser de condenao (Rm 8.1; Jo 5.24), mas da qualidade do trabalho prestado na obra de Deus (1 Co 3.12,13). Por outro lado, se o ser-vio prestado foi to-somente para a glria pessoal, haver detrimento (1 Co 3.13-15), mas no estar em jogo a salvao, somente o prejuzo de no se receber galardo (Mt 6.2,5,16).

9SOBRE O JUZO VINDORO

Cremos no juzo vindouro que recompensarei os

fiis e condenar os infiis

(Ap 20.11-15).

A segunda vinda de Jesus, na sua segunda fase, tambm resultar no grande julgamento final. Para muitos, essa uma das perspectivas mais assustadoras com respeito ao futuro. Mas, enquanto os mpios entram em perplexidade por causa da esmagadora realidade do Juzo Final, os cristos fiis, ao contrrio, aguardam o fato com alegria e efusivo jbilo.

Os objetivos do Juzo Final

Ao estudarmos sobre o Juzo Final na Bblia Sagrada, devemos ter em mente que seu objetivo no verificar nossa condio ou estado espiritual, pois Deus j o conhece. Antes, seu objetivo manifestar publicamente a nossa condio.

Interpretaes

Alguns interpretam o Juzo Final de forma cclica, como se os eventos que ocorrem dentro da histria fossem, na realidade, um julgamento sobre o mundo. de Friedrich Schelling a idia de que a histria do mundo o julgamento do mundo.

Contra essa opinio, a Bblia tem a dizer o seguinte:

O Juzo Final um evento definido que ocorrer no futuro. Jesus aludiu a ele em Mateus 11.24: "Porm eu vos digo que haver menos rigor para os de Sodoma, no Dia do Juzo, do que para ti".

As Escrituras especificam que o julgamento ocorrer aps a segunda vinda de Cristo. Jesus disse: "Porque o Filho do homem vir na glria de seu Pai, com os seus anjos; e, ento, dar a cada um segundo as suas obras" (Mt 16.27). Essa idia tambm encontrada em Mateus 13.37-43, 24.29-35, 25.31-46 e 1 Corntios 4.5.

Quando ocorrer o Juzo Final

De acordo com a Palavra de Deus, o juzo do trono branco (Ap 20.11,12) acontecer no "fim" (1 Co 15.24), aps o Milnio, quando a ltima revolta de Satans tiver sido esmagada (Ap 20.10,11).

Deus juiz (Rm 2.16), mas deu ao Filho o direito de julgar (Jo 5.22,27; At 10.42). Jesus, que esteve na terra, enviado por Deus como Salvador e com autoridade para

perdoar pecados, agora aparece no Apocalipse como Juiz para julgar (1 Pe 4.5). No julgamento final, a Igreja glorificada ter a sua participao (1 Co 6.2,3).

Haver ressurreio dos mortos (Jo 5.28,29). Essa ressurreio distinta daquela que se dar no dia do arrebatamento (1 Ts 4.16), pois se trata da ressurreio de todos os mortos, desde Ado.

Quem comparecer diante do trono branco

Todos os que morreram do princpio da criao at o fim do Milnio, ressuscitaro naquele dia e comparecero diante do trono branco (Ap 20.11,15) para serem julgados.

O Juiz do trono branco

Embora se fale em Deus como o Juiz (Hb 12.23), fica evidente, por algumas referncias, que Ele delegar essa autoridade ao Filho. Jesus mesmo disse: "O Pai a ningum julga, mas deu ao Filho todo o juzo. E deu-lhe o poder de exercer juzo, porque o Filho do Homem" (Jo 5.22,27; cf. At 10.42). Paulo afirma que Cristo julgar os vivos e os mortos: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que h de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino" (2 Tm 4.1).

Conquanto no saibamos os detalhes, h referncias claras na Bblia de que a Igreja tomar parte do julgamento final. Em Mateus 19.28 e Lucas 22.28-30, Jesus d a entender que os discpulos julgaro as 12 tribos de Israel. Tambm lemos que os crentes se assentaro em tronos e julgaro o mundo (1 Co 6.2,3; Ap 3.21; 20.4).

Todos os anjos malignos sero julgados

Assim como todos os mpios sero julgados (Mt 25.32; 2 Co 5.10; Hb 9.27), todos os anjos malignos sero julgados nessa ocasio. Pedro escreve que "Porque, se Deus no perdoou aos anjos que pecaram, mas,havendo-os lanado no inferno, os entregou s cadeias da escurido, ficando reservados para o Juzo" (2 Pe 2.4). Judas 6 traz uma declarao quase idntica. Os anjos bons, por outro lado, participaro do julga-mento, tendo a responsabilidade de reunir todos os que sero julgados (Mt 13.41; 24.31).

O julgamento do trono branco irreversvel

Uma vez concludo, o julgamento ser permanente e irrevogvel. Os justos e os mpios sero enviados para as suas respectivas habitaes, que sero definitivas. No h indcio de que o veredicto possa ser mudado. Ao concluir seu ensino sobre o julgamento final, Jesus disse que os que estiverem sua esquerda iro "para o tormento [castigo] eterno", mas os justos ingressaro na "vida eterna" (Mt 25.46).

10SOBRE A VIDA ETERNA

Cremos na vida eterna de gozo, de justia e felicidade para os

fiis e de tristeza e tormento para os infiis

(Ap 20.11-15).

Novo Testamento acentua mais a ressurreio do corpo do que aquilo que acontece imediatamente depois da morte. A morte continua sendo uma inimiga cruel, mas j no para ser temida (1 Co 15.55-57; Hb 2.15). Para o crente, o viver Cristo e o morrer lucro. Isso significa que morrer receber mais de Cristo (Fp 1.21). Logo, morrer e estar com Cristo muito melhor que permanecer no corpo presente, embora devamos ficar aqui enquanto Deus considera que isso seja necessrio (Fp 1.23,24). Depois disso, a morte nos trar o repouso ou cessao das nossas labutas e sofrimentos terrestres e a entrada na glria (2 Co 4.17; cf. 2 Pe 1.10,11; Ap 14.13). ***

A descrio que Jesus faz em Lucas 16 sobre o ps-morte reveladora e de extremo impacto. Em primeiro lugar, mostra que os destinos tanto dos mpios quanto dos justos no podero ser mudados depois da morte. E, em segundo lugar, que depois da morte se segue o juzo (Hb 9.27).

O inferno como lugar de tormento eterno

Embora o homem moderno tenha dificuldades para entender a doutrina bblica sobre o inferno, as Escrituras afirmam-lhe uma existncia real. No se trata apenas de um estado subjetivo da pessoa sem Cristo no alm, e sim de um lugar. Muitas passagens bblicas do conta de sua existncia como um lugar para onde os mpios iro (Mt 25.41,46; Mc 9.45,46; Lc 16.19-31; 2 Ts 1.7-9; Ap 20.10; 21.8).

Conforme Zacarias de Aguiar, o termo mais usado para designar o destino final dos mpios sugere uma localidade. A idia de punio eterna derivada da palavra hebraica ge hinnon ("vale de Hinom") e do seu correspondente grego gehenna, termo que traduzido por "inferno" e que originalmente indicava um vale prximo de Jerusalm, o vale de Hinom, onde os pagos sacrificavam os seus filhos ao dolo Moloque. Depois passou a ser um vale onde as impurezas da cidade eram queimadas diuturnamente, com fogo que nunca se apagava. Assim, gehenna ("inferno") passou a ser um lugar de imundcies e de destruio, transformando-se num smbolo do juzo divino. ****

No Novo Testamento, gehenna visto como uma "fornalha de fogo" onde "haver pranto e ranger de dentes" (Mt 13.42,50), lugar "onde o seu bicho no morre, e o fogo nunca se apaga" (Mc 9.48). O inferno lugar de castigo escatolgico de eterna durao (Mt 25.46). o lugar de castigo para os mpios bem como para satans e os demnios (Mt 25.41), a besta e o falso profeta (Ap 19.20; 20.10) e tambm a morte (Ap 20.14).

Outras expresses equivalentes so "fogo eterno", "lago de fogo", "lago ardente de fogo e enxofre". Inferno, portanto, um lugar real.

Destinaes diferentes

Em Daniel 12.2 lemos: "E muitos dos que dormem no p da terra ressuscitaro, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno" (grifo nosso).

Esse versculo, como tantos outros pronunciados por Jesus Cristo, no Novo Testamento, revela que aps o julgamento final o destino dos justos ser um, e o dos mpios, outro. Os justos iro para o descanso eterno, e os injustos, para o tormento eterno.

Lucas 16 mostra a irreversibilidade desse fato. O rico, que representa todos aqueles que vivem para si mesmos, numa total indiferena em relao a Deus e aos apelos do seu Reino, foi lanado no inferno. Mas Lzaro, representante de todos os que confiam em Deus e vivem para agradar-lhe, foi para o seio de Abrao. Assim, mais do que evidente que haver diferena de destinao entre os que servem a Deus e os que no servem. Vejamos isso mais de perto:

O estado final dos mpios

Segundo Stanley Horton, o destino final dos mpios descrito na Bblia como algo terrvel e que vai alm de toda imaginao. So as "trevas exteriores", onde haver choro e ranger de dentes por causa da frustrao e do remorso ocasionados pela ira de Deus (Mt 22.13; 25.30; Rm 2.8,9; Jd 13). uma "fornalha de fogo" (Mt 13.42,50), onde o fogo pela sua natureza inextinguvel (Mc 9.43; Jd 7). Causa perda eterna, ou destruio perptua (2 Ts 1.9), e a "fumaa do seu tormento sobe para todo o sempre" (Ap 14.11).

De acordo com o relato bblico, a situao dos mpios de separao total de Deus. A f, a esperana e o amor, que sempre permanecem para ns (1 Co 13.13) faltaro naquele ambiente. O repouso do qual desfrutaremos nunca estar disposio deles e nem a alegria e a paz que nosso Senhor concede queles que crem. Ser, tambm, um lugar de solido, excludo da comunho com Deus. E a amargura e o ranger dos dentes, bem como sua natureza cada e imutvel, impediro a comunho uns com os outros. *****

O estado final dos justos

H vrias maneiras de notar a condio futura dos justos. A mais comum, obviamente, "cu". As palavras para "cu", no hebraico e no grego (shmayin e ouranos), so empregadas basicamente de trs maneiras na Bblia: a) para designar o universo inteiro (Gn 1.1), numa perspectiva cosmolgica; b) como um sinnimo de Deus (Lc 15.18,21) e c) para designar a morada de Deus (Mt 6.9; Jo 14.1-6).

Segundo a Bblia, o cu ser caracterizado pela re-moo de todos os males. Estando com as pessoas, Deus "limpar de seus olhos toda lgrima, e no haver mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque j as primeiras so passadas" (Ap 21.4). No apenas as aflies, mas tambm a prpria fonte do mal, aquele que nos tenta para o pecado, ser condenado eterna-mente: "E o diabo, que os enganava, foi lanado no lago de fogo e enxofre, onde est a besta e o falso profeta; e de dia e de noite sero atormentados para todo o sempre" (Ap 20.10). A presena do Deus perfeita-mente santo e do Cordeiro sem mcula significa que no cu no haver pecado ou mal de espcie

alguma. Sabemos relativamente pouco sobre as atividades dos remidos no cu, mas h uns poucos lampejos do que ser a nossa existncia futura. Uma qualidade de nossa vida no cu ser o descanso. O descanso, tal como o termo empregado em Hebreus, no um mero cessar das atividades, mas a experincia de alcanar um alvo de importncia crucial. Assim, h referncias freqentes peregrinao pelo deserto na rota para o "descanso" da Terra Prometida (Hb 3.11,18). Um descanso semelhante aguarda os crentes (Hb 4.9-11). O cu, portanto, ser o encerramento da peregrinao do cristo, o fim da luta contra a carne, o mundo e o diabo. Haver trabalho a fazer, mas isso no implicar luta para superar foras contrrias. ******

Um reino de vida eterna

No ser um reino de imortalidade, porque imortais todos j somos agora. A vida eterna, conforme referida nas Escrituras, no apenas a imortalidade. De quem estiver no inferno, dir-se- que est na morte eterna. No entanto, essa morte eterna no inexistncia. Na Bblia, morte no sinnimo de inexistncia. Estar morto estar sem vida. Mas para entendermos isso preciso que saibamos que, para Deus, vida no sinnimo de existncia e morte significa alienao da verdadeira vida que s se vive em Deus e como Deus.

A vida eterna a existncia em Deus e com Deus para sempre. A morte eterna a existncia fora de Deus e diferente de Deus para sempre. O inferno da alma ser descobrir que a vida s vida em Deus e com Deus e ter que assumir uma eterna existncia exilada dessa condio desprezada na histria.

*** Horton, Stanley M. Teologia. Sistemtica: uma perspectiva pentecostal

**** Severa, Zacarias de Aguiar. Manual de teologia sistemtica. Ed AD Santos

***** Horton, Stanley M. Teologia Sistemtica: uma perspectiva pentecostal

****** Erickson, Millard J. Introduo teologia sistemtica.

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