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Resumo: O Estado de Goiás vem se configurando como grande produtor brasileiro de cana-de-açúcar. Até o ano de 2011 tinha aproximadamente 33 usinas de álcool e açúcar em operação no território goiano, distribuídas em cinco mesorregiões, definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cana-de-açúcar na safra de 2000/2001 representava 4,5% de toda a área plantada em Goiás e em 2009/2010 passou a ocupar 12,8% da área de uso agrícola, portanto, houve crescimento de 315,8% nos últimos dez anos. Para o desenvolvimento do presente artigo foi feita uma análise de correlação e regressão entre a quantidade produzida de cana-de-açúcar e o preço recebido pelos produtores em Goiás. O resultado para o teste apresentou um coeficiente de correlação positiva de 88,2%, com significância estatística (p<0,05). Com referência ao teste de regressão, o resultado revelou que 75,3% da variação da produção de cana-de- açúcar em Goiás podem ser explicados pelo preço recebido pelo produtor e que 24,7% permanecem não explicados pela respectiva reta de regressão. Palavras-chave: cana-de-açúcar, preço, produção, correlação, regressão. Introdução Nos últimos anos, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, álcool e açúcar. A criação do Programa Nacional do Álcool – PROÁLCOOL (1975) e a utilização crescente de carros com motores flexíveis a partir de 2003 foram alguns dos fatores que ajudaram a incentivar ainda mais a produção de cana. Na esteira do crescimento da produção nacional, o estado de Goiás tornou-se destaque, redesenhando a geografia de produção e de expansão da cultura. Segundo o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) de 2010, a produção goiana de cana, representava 6,7% da produção brasileira, posicionando o Estado como quarto produtor nacional. Para a safra 2010/2011, segundo estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE - LSPA, Goiás passou a ser o terceiro produtor do país, superando a produção do estado do Paraná. A cana-de-açúcar está espalhada por 193 municípios goianos que são abrangidos pelas cinco Mesorregiões Geográficas definidas pelo IBGE. Ao analisar as mesorregiões, fica evidente a concentração em duas: a do Sul Goiano que, em 2010, concentrava 77,4% da produção e a mesorregião do Centro Goiano que respondeu por 17,9%. As duas mesorregiões representaram 95,3% da produção estadual. No recorte municipal, os maiores produtores naquele ano foram: Quirinópolis (7,7%), Santa Helena de Goiás (6,7%), Porteirão (4,6%) e Mineiros (4,2%). O cultivo de cana tem se expandido por todo o estado de Goiás, chegando a ocupar, aproximadamente, 12,8% da área de uso agrícola do Estado (safra 2009/10), sendo que no ano de 2000, essa área representava 4,5% da área plantada em Goiás. Assim, a área plantada cresceu 315,8% nos últimos dez anos. Deste modo, a cadeia da cana-de-açúcar vem se firmando como um dos principais setores da economia goiana. Produção e preço da cana- de-açúcar em Goiás Dinamar Maria Ferreira Marques 1 Tallyta Carolyne Martins da Silva 2 André Luiz Miranda Silva Zopelari 3 Dr. Reginaldo Santana Figueiredo 4 1 Economista. Aluna do Programa de Pós-graduação em Agronegócios – Mestrado (UFG). [email protected] 2 Graduanda em Estatística (UFG). [email protected] 3 Doutorando em Ciência do Sistema Terrestre no INPE. [email protected] 4 Doutor em Economia pela UFRJ e Professor do programa de Pós-Graduação em Agronegócio (Mestrado) da Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected] 32

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Resumo: O Estado de Goiás vem se configurando como grande

produtor brasileiro de cana-de-açúcar. Até o ano de 2011 tinha

aproximadamente 33 usinas de álcool e açúcar em operação no

território goiano, distribuídas em cinco mesorregiões, definidas pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cana-de-açúcar

na safra de 2000/2001 representava 4,5% de toda a área plantada em

Goiás e em 2009/2010 passou a ocupar 12,8% da área de uso agrícola,

portanto, houve crescimento de 315,8% nos últimos dez anos. Para o

desenvolvimento do presente artigo foi feita uma análise de correlação e

regressão entre a quantidade produzida de cana-de-açúcar e o preço

recebido pelos produtores em Goiás. O resultado para o teste

apresentou um coeficiente de correlação positiva de 88,2%, com

significância estatística (p<0,05). Com referência ao teste de regressão,

o resultado revelou que 75,3% da variação da produção de cana-de-

açúcar em Goiás podem ser explicados pelo preço recebido pelo

produtor e que 24,7% permanecem não explicados pela respectiva reta

de regressão.

Palavras-chave: cana-de-açúcar, preço, produção, correlação,

regressão.

Introdução Nos últimos anos, o Brasil se tornou o maior produtor

mundial de cana-de-açúcar, álcool e açúcar. A criação do

Programa Nacional do Álcool – PROÁLCOOL (1975) e a

utilização crescente de carros com motores flexíveis a

partir de 2003 foram alguns dos fatores que ajudaram a

incentivar ainda mais a produção de cana. Na esteira do

crescimento da produção nacional, o estado de Goiás

tornou-se destaque, redesenhando a geografia de

produção e de expansão da cultura. Segundo o último

levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM)

de 2010, a produção goiana de cana, representava 6,7%

da produção brasileira, posicionando o Estado como

quarto produtor nacional. Para a safra 2010/2011,

segundo estimativa do Levantamento Sistemático da

Produção Agrícola do IBGE - LSPA, Goiás passou a ser o

terceiro produtor do país, superando a produção do

estado do Paraná.

A cana-de-açúcar está espalhada por 193 municípios

goianos que são abrangidos pelas cinco Mesorregiões

Geográficas definidas pelo IBGE. Ao analisar as

mesorregiões, fica evidente a concentração em duas: a

do Sul Goiano que, em 2010, concentrava 77,4% da

produção e a mesorregião do Centro Goiano que

respondeu por 17,9%. As duas mesorregiões

representaram 95,3% da produção estadual. No recorte

municipal, os maiores produtores naquele ano foram:

Quirinópolis (7,7%), Santa Helena de Goiás (6,7%),

Porteirão (4,6%) e Mineiros (4,2%).

O cultivo de cana tem se expandido por todo o estado de

Goiás, chegando a ocupar, aproximadamente, 12,8% da

área de uso agrícola do Estado (safra 2009/10), sendo

que no ano de 2000, essa área representava 4,5% da

área plantada em Goiás. Assim, a área plantada cresceu

315,8% nos últimos dez anos. Deste modo, a cadeia da

cana-de-açúcar vem se firmando como um dos principais

setores da economia goiana.

Produção e preço da cana-de-açúcar em Goiás

Dinamar Maria Ferreira Marques1 Tallyta Carolyne Martins da Silva2 André Luiz Miranda Silva Zopelari3 Dr. Reginaldo Santana Figueiredo4

1 Economista. Aluna do Programa de Pós-graduação em Agronegócios – Mestrado (UFG). [email protected] 2 Graduanda em Estatística (UFG). [email protected]

3 Doutorando em Ciência do Sistema Terrestre no INPE. [email protected]

4 Doutor em Economia pela UFRJ e Professor do programa de Pós-Graduação em Agronegócio (Mestrado) da Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected]

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Nesse sentido, Miziara (2011), em seu artigo a “Expansão

da Lavoura de Cana em Goiás e Impactos Ambientais”,

associa a expansão agrícola moderna com o

desmatamento das regiões que ainda não foram

utilizadas para a atividade produtiva, como parte da

região Norte do país, identificando esse acontecimento

como a expansão da “fronteira agrícola”, fenômeno que já

havia acontecido nos anos 1970. Ainda, que a expansão

do setor sucroalcooleiro em Goiás está se dando nas

áreas de cerrado, que antes não eram utilizadas para

cultura de cana, o que tem tornado o estado de Goiás

uma região muito demandada para tal cultura, ou seja,

está surgindo uma “nova fronteira agrícola”.

Quanto ao mercado de açúcar e etanol, este vem se

ampliando em todo território brasileiro nos últimos anos. A

produção de cana tem crescido bastante, com a

ocupação de novas regiões, alinhando-se ao aumento da

demanda interna e externa. Embora a produção de cana-

de-açúcar tenha aumentado de forma expressiva nas

regiões Sudeste, Centro-Oeste e parte do Sul do país, o

estado de São Paulo ainda responde sozinho por cerca

de 60% de toda produção brasileira (IBGE, 2011).

1 – Breve histórico

Há mais de 500 anos, a cana-de-açúcar já tinha sua

importância na história da agricultura brasileira. Foi por

muito tempo monocultura de exportação. Houve

momentos na Europa que o açúcar era tão valioso quanto

o ouro, sua produção era limitada a quantidades que não

supriam a demanda do mercado. Assim, o seu plantio era

um negócio bastante rentável, mas não era possível

cultivar na Europa, principalmente, por questões

climáticas. (UNICA, 2011).

No Brasil, a introdução da cana-de-açúcar iniciou-se sob

o regime das sesmarias, período em que houve grandes

doações de terras para quem quisesse plantar cana,

tentativa de reprodução da bem-sucedida experiência de

Cabo Verde; doação de vastas porções de terra para

quem se aventurasse vir ao Brasil se dedicar ao cultivo da

monocultura de cana-de-açúcar (LOURENÇO et al,.

2009).

No início, a cana foi plantada em solo de massapê, sob o

clima tropical quente e úmido, com mão de obra escrava

e vinda da África. Assim se iniciou o primeiro ciclo

econômico brasileiro, o “ciclo da cana-de-açúcar”. O

enriquecimento de Portugal com o comércio do açúcar

estimulou a produção na América Central tanto por

franceses quanto por espanhóis e ingleses. (UNICA,

2011).

No Brasil, a capitania com maior produção era,

inicialmente, a de Pernambuco, de Duarte Coelho, onde

foi criado o primeiro centro açucareiro do país. Depois, o

plantio se estendeu para as capitanias da Bahia de Todos

os Santos, São Tomé (Rio de Janeiro) e São Vicente

(São Paulo). Embora mais distantes da Europa, as duas

últimas foram as primeiras a lucrar com o açúcar. Em São

Paulo, a cana ocupou a Serra do Mar, com a instalação,

em 1532, do Engenho dos Erasmos, do governador-geral

Martim Afonso de Souza (UNICA, 2011).

O processo de colonização e crescimento da agricultura

brasileira e goiana está ligado a vários ciclos

agroindustriais, como da cana-de-açúcar, com grande

desenvolvimento na região Nordeste; a borracha na

região Amazônica, o café como importante fonte de

poupança interna e o principal financiador do processo de

industrialização do país e mais recentemente, a soja

como principal commodity brasileira na pauta de

exportação. (UNICA, 2011).

Segundo a Conab (2010), são produzidos diversos

produtos a partir do caldo de cana-de-açúcar e dos

resíduos sólidos e líquidos da moagem da mesma.

Destaca-se como produtos oriundos da cana o açúcar, o

álcool etílico, a cachaça, rapadura, além da cogeração de

energia elétrica gerada a partir da queima do bagaço da

cana. As indústrias são montadas para produzir tanto

açúcar como álcool etílico, sua produção é em função do

preço de mercado desses dois produtos. A partir da

década de 1970, com a implantação de políticas

macroeconômicas que possibilitaram a criação de

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programas de incentivos ao consumo de álcool etílico

como combustível automotivo, o cultivo de cana ganhou

força. Tais programas contribuíram para a expansão da

cana no território brasileiro.

Goiás, em 2000, representava 2,9% da área plantada de

cana e a produção participava em 3,1% da nacional. Em

2009 a área passou a representar 6,0% e a produção

6,5% dos totais nacionais.

A expansão da área plantada de cana-de-açúcar em

Goiás é explicada pelas vantagens que o Estado possui

em relação a outras unidades da federação. Os custos

com a lavoura de cana em Goiás são menores, a colheita

é quase toda mecanizada, são realizados altos

investimentos em tecnologia, são plantadas variedades

mais produtivas, os preços das terras são baixos,

comparados com São Paulo, maior produtor brasileiro,

além da boa produtividade (83,4 t/ha). Tudo isso torna

Goiás atrativo para essa cultura.

A cana vem se tornando um produto dinamizador do

agronegócio goiano, representa 18,5% do valor da

produção agrícola, sendo que a soja, o principal produto,

representa 48,4% e o milho, 13,7%. Juntos, os três

produtos representam 79,6% do valor da produção das

lavouras temporárias (SEGPLAN 2011).

Conforme Tabela 2, a ocupação da cana-de-açúcar no

estado de Goiás ganhou força a partir de 2002. A área

plantada em Goiás de 2002 a 2010 cresceu 345,4% e a

produção cresceu 368,1%. Em termos de rendimento

médio (produção em relação à área colhida), Goiás em

2002 produziu 80,5 t/ha, saltando para 82,9 t/ha em 2010.

Na comparação com a produção brasileira, em 2002 o

rendimento médio foi de 71,4 t/ha, chegando em 2010

com 79,0 t/ha. Com base nesses dados, observa-se que

em Goiás a produção tem melhor rendimento, o que

também contribuiu para a forte expansão da cana no

território goiano no período em análise.

Ano Área colhida (ha) Produção (t)

Rendimento médio (t/ha)

Brasil Goiás GO/BR (%)

Brasil Goiás GO/BR (%)

Brasil Goiás

2002 5.100.405 145.069 2,8 364.389.416 11.674.140 3,2 71,4 80,5

2003 5.371.020 164.861 3,1 396.012.158 12.907.592 3,3 73,7 78,3

2004 5.631.741 176.328 3,1 415.205.835 14.001.079 3,4 73,7 79,4

2005 5.805.518 196.596 3,4 422.956.646 15.642.125 3,7 72,9 79,6

2006 6.355.498 232.577 3,7 477.410.655 19.049.550 4,0 75,1 81,9

2007 7.080.920 278.000 3,9 549.707.314 22.387.847 4,1 77,6 80,5

2008 8.140.089 401.100 4,9 645.300.182 33.112.209 5,1 79,3 82,6

2009 8.617.555 523.808 6,1 691.606.147 43.666.585 6,3 80,3 83,4 2010 9.076.706 578.666 6,4 717.462.101 48.000.163 6,7 79,0 82,9

Da produção da cana brasileira, 50% se transforma em

álcool e 50% em açúcar, em média. Nos demais países

produtores de cana, a totalidade é direcionada para a

produção de açúcar (CARVALHO; OLIVEIRA, 2006).

Como pode ser observado no gráfico abaixo, durante a

safra 2008/2009, o setor sucroalcooleiro no Brasil moeu

569,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar,

produzindo 31,0 milhões de toneladas de açúcar e 27,5

milhões de m3 de álcool. Conforme Tabela 3, 95,9% da

cana processada ocorrem em nove estados, sendo São

Paulo responsável por 60,9% do processamento e o

estado de Goiás, por 5,2% do processamento brasileiro.

A produção de álcool em Goiás é superior à produção de

açúcar. Assim, enquanto o álcool goiano representa 6,3%

da produção nacional, o açúcar representa 3,1%.

Conforme levantamento do Instituto Mauro

Tabela 1 – Área colhida, produção e rendimento médio – 2002- 2010

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

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Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

(IMB-Segplan-GO), até o ano de 2011 havia 33

usinas de álcool e açúcar em operação em Goiás.

Brasil e Unidades da Federação

Cana processada

Participação/BR (%)

Produção de álcool

Participação/BR (%)

Produção de açúcar

Participação/BR (%)

Rio Grande do Norte 3.186.768 0,6 114.909 0,4 197.914 0,6

Pernambuco 18.949.518 3,3 530.467 1,9 1.521.275 4,9

Alagoas 27.309.285 4,8 845.363 3,1 2.200.862 7,1

Minas Gerais 42.480.968 7,5 2.167.616 7,9 2.207.621 7,1

São Paulo 346.292.969 60,9 16.722.478 60,8 19.662.436 63,3

Paraná 44.829.652 7,9 2.048.752 7,4 2.459.512 7,9

Mato Grosso 15.283.134 2,7 952.171 3,5 478.424 1,5

Mato Grosso do Sul 18.090.388 3,2 1.076.161 3,9 657.078 2,1

Goiás 29.486.508 5,2 1.726.080 6,3 958.419 3,1

Região Centro Sul 504.962.891 88,7 25.101.963 91,2 26.749.819 86,2

Região Norte Nordeste 64.099.738 11,3 2.410.999 8,8 4.299.387 13,8

Brasil 569.062.629 100 27.512.962 100,0 31.049.206 100,0

A cana também está presente na balança comercial de

Goiás. Em 2008 a exportação de açúcar representava

4,8% das exportações do Estado, em 2010 expandiu para

7,3%. A exportação do agronegócio goiano representa

3,9% da exportação do agronegócio brasileiro. A pauta de

exportação goiana é basicamente composta por produtos

advindo deste setor, complexo soja participa com 39,9%

das vendas estaduais, e complexo carne com 26,5%, daí

a importância do agronegócio para a economia goiana

(Tabela 4).

Produtos 2008 2009 2010

Kg Líquido US$ FOB Kg Líquido US$ FOB Kg Líquido US$ FOB

TOTAL 5.440.306.822 4.091.751.671 5.372.521.799 3.614.963.748 5.861.541.670 4.044.660.617

Complexo Carne 370.694.770 1.084.570.378 377.546.880 830.714.397 390.136.885 1.015.571.031

Complexo soja 3.801.848.608 1.634.018.361 3.833.098.079 1.519.966.625 3.830.214.499 1.374.628.633

Complexo minério 415.443.766 806.399.453 394.717.063 794.906.187 396.514.485 941.606.113

Açúcares 85.259.538 32.262.074 294.404.162 105.601.832 428.802.493 195.404.522

Demais Produtos 767.060.140 534.501.405 472.755.615 363.774.707 815.873.308 517.450.318

Tabela 2 - Produção de cana, álcool e açúcar - 2008/09

Fonte: Única Elaboração: Os autores

Tabela 3 - Estado de Goiás- exportação – 2008-2010

Fonte: Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

34

35

Mapa 1 – Produção de cana-de-açúcar em Goiás (2000)

Fonte: IMB – Goiás em Dados, 2005 Elaboração: Segplan-GO/IMB – Gerência de Estudos Socioeconômicos e Especiais – 2012

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Fonte: IMB – Goiás em Dados, 2011 Elaboração: Segplan-GO/IMB – Gerência de Estudos Socioeconômicos e Especiais – 2012

Mapa 2 – Produção de cana-de-açúcar em Goiás (2010)

37

2 – Metodologia

Buscou-se fazer uma aplicação estatística, com teste de

correlação e regressão, para explicar a crescente

expansão da cana-de-açúcar em Goiás, a partir do ano

2000. As possíveis correlações existentes entre a

quantidade produzida e o preço da cana-de-açúcar

recebido pelos produtores goianos na porta da fazenda

permitem inferir sobre o comportamento de ambas as

variáveis. Já na análise de regressão, o quanto uma

variável (preço recebido) pode ter influenciado a outra

(quantidade produzida).

Nesse trabalho foi considerado como variável dependente

a produção de cana-de-açúcar e como variável

independente o preço recebido pelo produtor na porta da

fazenda. Primeiramente, foi realizada a análise

exploratória dos dados como, por exemplo, gráficos de

dispersão (Gráfico 1) para o período correspondente

entre 2000 e 2010.

Karl Pearson e Francis Galton são os criadores da

fórmula de correlação. Garson (2009) afirma que

correlação “é uma medida de associação bivariada (força)

do grau de relacionamento entre duas variáveis”. Para

Triolla (2008), “existe correlação entre duas variáveis

quando uma delas se comporta mediante variações na

outra”. Para Moore (2007), “A correlação mensura a

direção e o grau da relação linear entre duas variáveis

quantitativas”. Em uma frase: o coeficiente de correlação

de Pearson (r) é uma medida de associação linear entre

variáveis.

Segundo Triolla (2008), uma análise de correlação pode

ser calculada respeitando-se os seguintes requisitos:

1. A amostra de dados ��, �� tem que ser uma

amostra de dados quantitativos independentes;

2. O diagrama de dispersão deve confirmar que os

pontos se aproximam de uma reta;

3. Quaisquer outliers devem ser removidos caso

tenha erros nos dados.

O coeficiente de correlação mede a intensidade da

relação linear entre os valores quantitativos

emparelhados�����em uma amostra e é representado

pela fórmula:

� = �Ʃ∑ �� − �Ʃ∑ ��∑��

���Ʃ∑ �� − �Ʃ∑ �����Ʃ∑��� − �Ʃ∑����

Sendo que:

representa o número de pares presentes;

∑ representa a soma dos itens indicados;

∑ denota a soma de todos os valores de ;

�Ʃ∑ ��indica os valores de x devem ser somados e o

total elevado ao quadrado;

∑ � indica que cada valor de x deve ser multiplicado por

seu valor correspondente de �. Depois de obtidos todos

esses produtos calcula-se a sua soma;

�representa o coeficiente de correlação linear para uma

amostra;

�letra grega Rô, usada para representar o coeficiente de

correlação linear para uma população.

O modelo estatístico de regressão linear simples, MRLS,

é um modelo que estabelece uma relação linear entre

uma variável dependente e outras variáveis

independentes (ou explanatórias), e um termo de erro

(PYNDYCK, 2002).

Muitas vezes o modelo explicativo de apenas duas

variáveis é insuficiente para explicar a correlação,

necessitando de outra variável para ajustar o modelo de

regressão. Deste modo, precisa-se ampliar o modelo de

regressão simples para um que envolva mais variáveis,

que leva o nome de modelo de regressão múltipla

(PYNDYCK, 2002). O sucesso de qualquer teste

econométrico depende de dados confiáveis e

apropriados. Portanto, seguindo essa premissa, para a

realização deste artigo foram utilizadas informações

retiradas de fontes oficiais.

38

Para Stevenson (2001), regressão e a correlação são

duas técnicas estreitamente relacionadas que envolvem

uma forma de estimação. A análise da correlação e

regressão compreende a análise de dados amostrais para

saber como duas ou mais variáveis estão relacionadas

uma com a outra numa população. A análise de

correlação dá um número que resume o grau de

relacionamento linear entre duas variáveis; a análise de

regressão tem como resultado uma equação matemática

que descreve o relacionamento entre as variáveis. A

equação pode ser usada para estimar, ou predizer,

valores futuros de uma variável quando se conhecem ou

se supõem conhecidos valores da outra variável. A

análise de correlação é útil em trabalho exploratório,

quando um pesquisador ou analista procura determinar

quais variáveis são potencialmente importantes e o

interesse está basicamente no grau ou força do

relacionamento.

A regressão constitui uma tentativa de estabelecer uma

equação matemática linear (linha reta) que descreve o

relacionamento entre duas variáveis. A finalidade de uma

equação de regressão seria estimar valores de uma

variável, com base em valores conhecidos da outra. Outra

finalidade das equações de regressão é explicar valores

de uma variável em termos da outra, isto é, podemos

suspeitar de uma relação de causa e efeito entre duas

variáveis (STEVENSON, 2001).

A equação linear tem duas importantes características, o

coeficiente angular da reta e a cota da reta em

determinado ponto. Uma equação linear tem a forma

� = � + ��, onde � e � são valores que se determinam

com base nos dados amostrais, �é a cota da reta em

� = 0, e � é o coeficiente angular. A variável � é a

variável a ser predita, �é o valor preditor. O coeficiente

angular é representado por � = ∆�

∆�.

No caso específico deste artigo, a análise da regressão

indicará a relação entre o aumento no preço da cana e a

produção de cana.

O teste de correlação entre as variáveis de produção de

cana e preço recebido pelos produtores goianos foi

estimado pelo método de Correlação Linear de Pearson e

utilizou-se o programa SPSS Statistics, versão 17.0.

Segundo CALLEGARI-JACQUES (2003, p. 90), o

coeficiente de correlação pode ser avaliado

qualitativamente da seguinte forma:

se 0,00 <|��|< 0,30 , existe fraca correlação linear;

se 0,30 ≤|��|< 0,60 , existe moderada correlação linear;

se 0,60 ≤|��|< 0,90 , existe forte correlação linear;

se 0,90 ≤|��|< 1,00 , existe correlação linear muito forte.

3 – Resultados e discussão

A Tabela 4 apresenta a evolução da produção e do preço

da cana-de-açúcar em Goiás, com base nos dados de

2000 a 2010. Com base nesses dados e nos conceitos

estatísticos discutidos, buscou-se as possíveis

correlações na evolução da produção de cana-de-açúcar

e dos preços recebidos pelos produtores pela tonelada de

cana. Com referência ao preço recebido pelos produtores,

considerou-se que o mercado brasileiro e goiano de cana-

de-açúcar funciona sem interferência governamental, ou

seja, em plenas condições de livre.

39

Ano Produção de cana Preço da cana (R$/t)

2000 10.162.959 19,98

2001 10.253.497 23,50

2002 11.674.140 25,35

2003 12.907.592 24,96

2004 14.001.079 30,30

2005 15.642.125 27,19

2006 19.049.550 27,01

2007 22.387.847 33,97

2008 33.112.209 37,46

2009 43.666.585 38,06

2010 47.733.283 36,50

A partir do Gráfico1, comparação do comportamento da

produção de cana-de-açúcar com o movimento de preços

pago ao produtor, pode-se inferir que, à medida que

aumenta o preço, a produção tende a crescer. No ano de

2007, conforme observado, a variação no preço da cana

pago aos produtores atingiu seu máximo 25,8%. No ano

seguinte a produção de cana atingiu uma variação de

47,9%, a maior da série analisada. Na sequência, 2009 e

2010, o movimento de variação de ambos seguiu o

mesmo comportamento, de redução na variação.

0,9

13,910,6

8,511,7

21,8

17,5

47,9

31,9

9,3

17,6

7,9-1,5

21,4

-10,3

-0,7

25,8

10,3

1,6

-4,1

-20,0

-10,0

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Produção de cana-de-açúcar (t)

Preço da cana (R$/t)

Fonte: Fonte: IBGE /FGV

Tabela 4 – Goiás: Produção e preço da cana – 2000- 2010

Fonte: Fonte: IBGE /FGV

Gráfico 1 – Goiás: Variação na produção e no preço da cana – 2001- 2010 (%)

40

0

10000000

20000000

30000000

40000000

50000000

60000000

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Pro

du

ção

de

ca

na

(t)

Preço da cana (R$)

Segundo Hotelling (1936), pode-se testar se duas

variáveis possuem relação linear por meio do teste de

hipótese (teste de hipótese para ρ = 0). A forma simétrica

da distribuição, quando ρ = 0, torna possível testar a

hipótese H�:ρ = 0contra a hipótese H�:ρ ≠ 0, através da

distribuição t de Student.

Considerando a hipótese nula H�:ρ = 0, no caso

específico do presente artigo obteve-se p-valor

insignificante, assim se rejeitou a hipótese que preço e

produção de cana não possuam relação linear.

O coeficiente de correlação foi de 88,2%, portanto tem-se

forte correlação linear. O Gráfico 2 indica uma relação

linear entre as variáveis produção e preço da cana em

Goiás, nota-se que na medida em que aumenta o preço

da cana pago ao produtor, aumenta-se a produção de

cana.

A análise de regressão tem como resultado uma equação

que descreve a relação entre a produção de cana e o

preço, ou seja, uma equação de oferta. Os resultados

indicam que o aumento no preço da cana parece ter

influenciado um aumento na sua produção. O preço da

cana pode explicar até 75,3% da produção de cana em

Goiás.

A tabela 5 apresenta as estimativas para os coeficientes

de regressão e seus respectivos p-valores:

Coeficientes p-valor

a -35097319 0,008

b 1932470 0,000

Gráfico 2 - Dispersão da produção e preço da cana em Goiás – 2000- 2010

Fonte: Fonte: IBGE /FGV

Tabela 5 – Estimativas para os coeficientes de regressão

41

Os resultados anteriores mostram que a variável

independente preço é significativa (p-valor= 0,000) para

explicar a produção de cana-de-açúcar em Goiás. Assim,

ajustando-se o MRLS para descrever a produção de

cana-de-açúcar (�) de acordo com a variação do preço

(�), temos:

�!"#çã!& = −35.097.319+ 1.932.470 ∗ ��ç!.

No intervalo de tempo analisado, a cada unidade em reais

espera-se que a produção média aumente em

1.932.470t.

Com a criação do Programa Nacional do Álcool –

PROÁLCOOL – em 1975, a obrigatoriedade da mistura

do álcool anidro à gasolina, e o lançamento, em 2003,

pelas montadoras Volkswagen, GM e Fiat, de carros com

motores flexíveis (flexfuel), que funcionam com qualquer

proporção de mistura de álcool e gasolina, impulsionou o

consumo de álcool, resultando em preços mais elevados,

com isso incentivou o aumento da produção.

Considerações Finais

O setor sucroenergético tem se mostrado, nos últimos

anos, um dos mais importantes segmentos dentro da

economia goiana, pelo dinamismo e pela sua capacidade

de impulsionar os demais setores. É uma atividade

relevante para o crescimento e/ou desenvolvimento

socioeconômico de Goiás. Neste contexto, a cadeia

produtiva da cana-de-açúcar tem contribuído para isso,

na medida em que diversas indústrias processadoras tem

se instalado no território goiano, gerando novos empregos

e agregando valor a produção primária, seja produzindo

álcool, açúcar ou gerando energia mais limpa, reduzindo

o impacto ao meio ambiente.

O presente artigo teve como objetivo exploratório, fazer

uma discussão conceitual estatística, com base nos

dados de produção de cana-de-açúcar e preços

recebidos pelos produtores em Goiás visando identificar a

correlação existente entre as variáveis e a regressão. A

análise de correlação mostrou-se positiva e significativa; a

regressão com a variável produção de cana e preço

recebido pelos produtores em Goiás revelou efetiva

influência deste sobre aquela. A correlação da produção

de cana-de-açúcar com o preço é importante, pois

permite verificar a sensibilidade do aumento na produção

em relação aos preços praticados, e o resultado foi uma

correlação positiva, ou seja, aumentos de preço do

produto acarretaram aumento na produção. Contribuiu

para os resultados apresentados nos testes

econométricos o crescente aumento da área plantada de

cana, da produção e do rendimento médio por hectare,

tornando o estado de Goiás atrativo para esse tipo de

cultura e para a instalação de diversas indústrias

processadoras de álcool e açúcar.

Referências Bibliográficas

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