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Resumo: O Estado de Goiás vem se configurando como grande
produtor brasileiro de cana-de-açúcar. Até o ano de 2011 tinha
aproximadamente 33 usinas de álcool e açúcar em operação no
território goiano, distribuídas em cinco mesorregiões, definidas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cana-de-açúcar
na safra de 2000/2001 representava 4,5% de toda a área plantada em
Goiás e em 2009/2010 passou a ocupar 12,8% da área de uso agrícola,
portanto, houve crescimento de 315,8% nos últimos dez anos. Para o
desenvolvimento do presente artigo foi feita uma análise de correlação e
regressão entre a quantidade produzida de cana-de-açúcar e o preço
recebido pelos produtores em Goiás. O resultado para o teste
apresentou um coeficiente de correlação positiva de 88,2%, com
significância estatística (p<0,05). Com referência ao teste de regressão,
o resultado revelou que 75,3% da variação da produção de cana-de-
açúcar em Goiás podem ser explicados pelo preço recebido pelo
produtor e que 24,7% permanecem não explicados pela respectiva reta
de regressão.
Palavras-chave: cana-de-açúcar, preço, produção, correlação,
regressão.
Introdução Nos últimos anos, o Brasil se tornou o maior produtor
mundial de cana-de-açúcar, álcool e açúcar. A criação do
Programa Nacional do Álcool – PROÁLCOOL (1975) e a
utilização crescente de carros com motores flexíveis a
partir de 2003 foram alguns dos fatores que ajudaram a
incentivar ainda mais a produção de cana. Na esteira do
crescimento da produção nacional, o estado de Goiás
tornou-se destaque, redesenhando a geografia de
produção e de expansão da cultura. Segundo o último
levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM)
de 2010, a produção goiana de cana, representava 6,7%
da produção brasileira, posicionando o Estado como
quarto produtor nacional. Para a safra 2010/2011,
segundo estimativa do Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola do IBGE - LSPA, Goiás passou a ser o
terceiro produtor do país, superando a produção do
estado do Paraná.
A cana-de-açúcar está espalhada por 193 municípios
goianos que são abrangidos pelas cinco Mesorregiões
Geográficas definidas pelo IBGE. Ao analisar as
mesorregiões, fica evidente a concentração em duas: a
do Sul Goiano que, em 2010, concentrava 77,4% da
produção e a mesorregião do Centro Goiano que
respondeu por 17,9%. As duas mesorregiões
representaram 95,3% da produção estadual. No recorte
municipal, os maiores produtores naquele ano foram:
Quirinópolis (7,7%), Santa Helena de Goiás (6,7%),
Porteirão (4,6%) e Mineiros (4,2%).
O cultivo de cana tem se expandido por todo o estado de
Goiás, chegando a ocupar, aproximadamente, 12,8% da
área de uso agrícola do Estado (safra 2009/10), sendo
que no ano de 2000, essa área representava 4,5% da
área plantada em Goiás. Assim, a área plantada cresceu
315,8% nos últimos dez anos. Deste modo, a cadeia da
cana-de-açúcar vem se firmando como um dos principais
setores da economia goiana.
Produção e preço da cana-de-açúcar em Goiás
Dinamar Maria Ferreira Marques1 Tallyta Carolyne Martins da Silva2 André Luiz Miranda Silva Zopelari3 Dr. Reginaldo Santana Figueiredo4
1 Economista. Aluna do Programa de Pós-graduação em Agronegócios – Mestrado (UFG). [email protected] 2 Graduanda em Estatística (UFG). [email protected]
3 Doutorando em Ciência do Sistema Terrestre no INPE. [email protected]
4 Doutor em Economia pela UFRJ e Professor do programa de Pós-Graduação em Agronegócio (Mestrado) da Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected]
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Nesse sentido, Miziara (2011), em seu artigo a “Expansão
da Lavoura de Cana em Goiás e Impactos Ambientais”,
associa a expansão agrícola moderna com o
desmatamento das regiões que ainda não foram
utilizadas para a atividade produtiva, como parte da
região Norte do país, identificando esse acontecimento
como a expansão da “fronteira agrícola”, fenômeno que já
havia acontecido nos anos 1970. Ainda, que a expansão
do setor sucroalcooleiro em Goiás está se dando nas
áreas de cerrado, que antes não eram utilizadas para
cultura de cana, o que tem tornado o estado de Goiás
uma região muito demandada para tal cultura, ou seja,
está surgindo uma “nova fronteira agrícola”.
Quanto ao mercado de açúcar e etanol, este vem se
ampliando em todo território brasileiro nos últimos anos. A
produção de cana tem crescido bastante, com a
ocupação de novas regiões, alinhando-se ao aumento da
demanda interna e externa. Embora a produção de cana-
de-açúcar tenha aumentado de forma expressiva nas
regiões Sudeste, Centro-Oeste e parte do Sul do país, o
estado de São Paulo ainda responde sozinho por cerca
de 60% de toda produção brasileira (IBGE, 2011).
1 – Breve histórico
Há mais de 500 anos, a cana-de-açúcar já tinha sua
importância na história da agricultura brasileira. Foi por
muito tempo monocultura de exportação. Houve
momentos na Europa que o açúcar era tão valioso quanto
o ouro, sua produção era limitada a quantidades que não
supriam a demanda do mercado. Assim, o seu plantio era
um negócio bastante rentável, mas não era possível
cultivar na Europa, principalmente, por questões
climáticas. (UNICA, 2011).
No Brasil, a introdução da cana-de-açúcar iniciou-se sob
o regime das sesmarias, período em que houve grandes
doações de terras para quem quisesse plantar cana,
tentativa de reprodução da bem-sucedida experiência de
Cabo Verde; doação de vastas porções de terra para
quem se aventurasse vir ao Brasil se dedicar ao cultivo da
monocultura de cana-de-açúcar (LOURENÇO et al,.
2009).
No início, a cana foi plantada em solo de massapê, sob o
clima tropical quente e úmido, com mão de obra escrava
e vinda da África. Assim se iniciou o primeiro ciclo
econômico brasileiro, o “ciclo da cana-de-açúcar”. O
enriquecimento de Portugal com o comércio do açúcar
estimulou a produção na América Central tanto por
franceses quanto por espanhóis e ingleses. (UNICA,
2011).
No Brasil, a capitania com maior produção era,
inicialmente, a de Pernambuco, de Duarte Coelho, onde
foi criado o primeiro centro açucareiro do país. Depois, o
plantio se estendeu para as capitanias da Bahia de Todos
os Santos, São Tomé (Rio de Janeiro) e São Vicente
(São Paulo). Embora mais distantes da Europa, as duas
últimas foram as primeiras a lucrar com o açúcar. Em São
Paulo, a cana ocupou a Serra do Mar, com a instalação,
em 1532, do Engenho dos Erasmos, do governador-geral
Martim Afonso de Souza (UNICA, 2011).
O processo de colonização e crescimento da agricultura
brasileira e goiana está ligado a vários ciclos
agroindustriais, como da cana-de-açúcar, com grande
desenvolvimento na região Nordeste; a borracha na
região Amazônica, o café como importante fonte de
poupança interna e o principal financiador do processo de
industrialização do país e mais recentemente, a soja
como principal commodity brasileira na pauta de
exportação. (UNICA, 2011).
Segundo a Conab (2010), são produzidos diversos
produtos a partir do caldo de cana-de-açúcar e dos
resíduos sólidos e líquidos da moagem da mesma.
Destaca-se como produtos oriundos da cana o açúcar, o
álcool etílico, a cachaça, rapadura, além da cogeração de
energia elétrica gerada a partir da queima do bagaço da
cana. As indústrias são montadas para produzir tanto
açúcar como álcool etílico, sua produção é em função do
preço de mercado desses dois produtos. A partir da
década de 1970, com a implantação de políticas
macroeconômicas que possibilitaram a criação de
33
programas de incentivos ao consumo de álcool etílico
como combustível automotivo, o cultivo de cana ganhou
força. Tais programas contribuíram para a expansão da
cana no território brasileiro.
Goiás, em 2000, representava 2,9% da área plantada de
cana e a produção participava em 3,1% da nacional. Em
2009 a área passou a representar 6,0% e a produção
6,5% dos totais nacionais.
A expansão da área plantada de cana-de-açúcar em
Goiás é explicada pelas vantagens que o Estado possui
em relação a outras unidades da federação. Os custos
com a lavoura de cana em Goiás são menores, a colheita
é quase toda mecanizada, são realizados altos
investimentos em tecnologia, são plantadas variedades
mais produtivas, os preços das terras são baixos,
comparados com São Paulo, maior produtor brasileiro,
além da boa produtividade (83,4 t/ha). Tudo isso torna
Goiás atrativo para essa cultura.
A cana vem se tornando um produto dinamizador do
agronegócio goiano, representa 18,5% do valor da
produção agrícola, sendo que a soja, o principal produto,
representa 48,4% e o milho, 13,7%. Juntos, os três
produtos representam 79,6% do valor da produção das
lavouras temporárias (SEGPLAN 2011).
Conforme Tabela 2, a ocupação da cana-de-açúcar no
estado de Goiás ganhou força a partir de 2002. A área
plantada em Goiás de 2002 a 2010 cresceu 345,4% e a
produção cresceu 368,1%. Em termos de rendimento
médio (produção em relação à área colhida), Goiás em
2002 produziu 80,5 t/ha, saltando para 82,9 t/ha em 2010.
Na comparação com a produção brasileira, em 2002 o
rendimento médio foi de 71,4 t/ha, chegando em 2010
com 79,0 t/ha. Com base nesses dados, observa-se que
em Goiás a produção tem melhor rendimento, o que
também contribuiu para a forte expansão da cana no
território goiano no período em análise.
Ano Área colhida (ha) Produção (t)
Rendimento médio (t/ha)
Brasil Goiás GO/BR (%)
Brasil Goiás GO/BR (%)
Brasil Goiás
2002 5.100.405 145.069 2,8 364.389.416 11.674.140 3,2 71,4 80,5
2003 5.371.020 164.861 3,1 396.012.158 12.907.592 3,3 73,7 78,3
2004 5.631.741 176.328 3,1 415.205.835 14.001.079 3,4 73,7 79,4
2005 5.805.518 196.596 3,4 422.956.646 15.642.125 3,7 72,9 79,6
2006 6.355.498 232.577 3,7 477.410.655 19.049.550 4,0 75,1 81,9
2007 7.080.920 278.000 3,9 549.707.314 22.387.847 4,1 77,6 80,5
2008 8.140.089 401.100 4,9 645.300.182 33.112.209 5,1 79,3 82,6
2009 8.617.555 523.808 6,1 691.606.147 43.666.585 6,3 80,3 83,4 2010 9.076.706 578.666 6,4 717.462.101 48.000.163 6,7 79,0 82,9
Da produção da cana brasileira, 50% se transforma em
álcool e 50% em açúcar, em média. Nos demais países
produtores de cana, a totalidade é direcionada para a
produção de açúcar (CARVALHO; OLIVEIRA, 2006).
Como pode ser observado no gráfico abaixo, durante a
safra 2008/2009, o setor sucroalcooleiro no Brasil moeu
569,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar,
produzindo 31,0 milhões de toneladas de açúcar e 27,5
milhões de m3 de álcool. Conforme Tabela 3, 95,9% da
cana processada ocorrem em nove estados, sendo São
Paulo responsável por 60,9% do processamento e o
estado de Goiás, por 5,2% do processamento brasileiro.
A produção de álcool em Goiás é superior à produção de
açúcar. Assim, enquanto o álcool goiano representa 6,3%
da produção nacional, o açúcar representa 3,1%.
Conforme levantamento do Instituto Mauro
Tabela 1 – Área colhida, produção e rendimento médio – 2002- 2010
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal
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Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
(IMB-Segplan-GO), até o ano de 2011 havia 33
usinas de álcool e açúcar em operação em Goiás.
Brasil e Unidades da Federação
Cana processada
Participação/BR (%)
Produção de álcool
Participação/BR (%)
Produção de açúcar
Participação/BR (%)
Rio Grande do Norte 3.186.768 0,6 114.909 0,4 197.914 0,6
Pernambuco 18.949.518 3,3 530.467 1,9 1.521.275 4,9
Alagoas 27.309.285 4,8 845.363 3,1 2.200.862 7,1
Minas Gerais 42.480.968 7,5 2.167.616 7,9 2.207.621 7,1
São Paulo 346.292.969 60,9 16.722.478 60,8 19.662.436 63,3
Paraná 44.829.652 7,9 2.048.752 7,4 2.459.512 7,9
Mato Grosso 15.283.134 2,7 952.171 3,5 478.424 1,5
Mato Grosso do Sul 18.090.388 3,2 1.076.161 3,9 657.078 2,1
Goiás 29.486.508 5,2 1.726.080 6,3 958.419 3,1
Região Centro Sul 504.962.891 88,7 25.101.963 91,2 26.749.819 86,2
Região Norte Nordeste 64.099.738 11,3 2.410.999 8,8 4.299.387 13,8
Brasil 569.062.629 100 27.512.962 100,0 31.049.206 100,0
A cana também está presente na balança comercial de
Goiás. Em 2008 a exportação de açúcar representava
4,8% das exportações do Estado, em 2010 expandiu para
7,3%. A exportação do agronegócio goiano representa
3,9% da exportação do agronegócio brasileiro. A pauta de
exportação goiana é basicamente composta por produtos
advindo deste setor, complexo soja participa com 39,9%
das vendas estaduais, e complexo carne com 26,5%, daí
a importância do agronegócio para a economia goiana
(Tabela 4).
Produtos 2008 2009 2010
Kg Líquido US$ FOB Kg Líquido US$ FOB Kg Líquido US$ FOB
TOTAL 5.440.306.822 4.091.751.671 5.372.521.799 3.614.963.748 5.861.541.670 4.044.660.617
Complexo Carne 370.694.770 1.084.570.378 377.546.880 830.714.397 390.136.885 1.015.571.031
Complexo soja 3.801.848.608 1.634.018.361 3.833.098.079 1.519.966.625 3.830.214.499 1.374.628.633
Complexo minério 415.443.766 806.399.453 394.717.063 794.906.187 396.514.485 941.606.113
Açúcares 85.259.538 32.262.074 294.404.162 105.601.832 428.802.493 195.404.522
Demais Produtos 767.060.140 534.501.405 472.755.615 363.774.707 815.873.308 517.450.318
Tabela 2 - Produção de cana, álcool e açúcar - 2008/09
Fonte: Única Elaboração: Os autores
Tabela 3 - Estado de Goiás- exportação – 2008-2010
Fonte: Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
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Mapa 1 – Produção de cana-de-açúcar em Goiás (2000)
Fonte: IMB – Goiás em Dados, 2005 Elaboração: Segplan-GO/IMB – Gerência de Estudos Socioeconômicos e Especiais – 2012
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Fonte: IMB – Goiás em Dados, 2011 Elaboração: Segplan-GO/IMB – Gerência de Estudos Socioeconômicos e Especiais – 2012
Mapa 2 – Produção de cana-de-açúcar em Goiás (2010)
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2 – Metodologia
Buscou-se fazer uma aplicação estatística, com teste de
correlação e regressão, para explicar a crescente
expansão da cana-de-açúcar em Goiás, a partir do ano
2000. As possíveis correlações existentes entre a
quantidade produzida e o preço da cana-de-açúcar
recebido pelos produtores goianos na porta da fazenda
permitem inferir sobre o comportamento de ambas as
variáveis. Já na análise de regressão, o quanto uma
variável (preço recebido) pode ter influenciado a outra
(quantidade produzida).
Nesse trabalho foi considerado como variável dependente
a produção de cana-de-açúcar e como variável
independente o preço recebido pelo produtor na porta da
fazenda. Primeiramente, foi realizada a análise
exploratória dos dados como, por exemplo, gráficos de
dispersão (Gráfico 1) para o período correspondente
entre 2000 e 2010.
Karl Pearson e Francis Galton são os criadores da
fórmula de correlação. Garson (2009) afirma que
correlação “é uma medida de associação bivariada (força)
do grau de relacionamento entre duas variáveis”. Para
Triolla (2008), “existe correlação entre duas variáveis
quando uma delas se comporta mediante variações na
outra”. Para Moore (2007), “A correlação mensura a
direção e o grau da relação linear entre duas variáveis
quantitativas”. Em uma frase: o coeficiente de correlação
de Pearson (r) é uma medida de associação linear entre
variáveis.
Segundo Triolla (2008), uma análise de correlação pode
ser calculada respeitando-se os seguintes requisitos:
1. A amostra de dados ��, �� tem que ser uma
amostra de dados quantitativos independentes;
2. O diagrama de dispersão deve confirmar que os
pontos se aproximam de uma reta;
3. Quaisquer outliers devem ser removidos caso
tenha erros nos dados.
O coeficiente de correlação mede a intensidade da
relação linear entre os valores quantitativos
emparelhados�����em uma amostra e é representado
pela fórmula:
� = �Ʃ∑ �� − �Ʃ∑ ��∑��
���Ʃ∑ �� − �Ʃ∑ �����Ʃ∑��� − �Ʃ∑����
Sendo que:
representa o número de pares presentes;
∑ representa a soma dos itens indicados;
∑ denota a soma de todos os valores de ;
�Ʃ∑ ��indica os valores de x devem ser somados e o
total elevado ao quadrado;
∑ � indica que cada valor de x deve ser multiplicado por
seu valor correspondente de �. Depois de obtidos todos
esses produtos calcula-se a sua soma;
�representa o coeficiente de correlação linear para uma
amostra;
�letra grega Rô, usada para representar o coeficiente de
correlação linear para uma população.
O modelo estatístico de regressão linear simples, MRLS,
é um modelo que estabelece uma relação linear entre
uma variável dependente e outras variáveis
independentes (ou explanatórias), e um termo de erro
(PYNDYCK, 2002).
Muitas vezes o modelo explicativo de apenas duas
variáveis é insuficiente para explicar a correlação,
necessitando de outra variável para ajustar o modelo de
regressão. Deste modo, precisa-se ampliar o modelo de
regressão simples para um que envolva mais variáveis,
que leva o nome de modelo de regressão múltipla
(PYNDYCK, 2002). O sucesso de qualquer teste
econométrico depende de dados confiáveis e
apropriados. Portanto, seguindo essa premissa, para a
realização deste artigo foram utilizadas informações
retiradas de fontes oficiais.
38
Para Stevenson (2001), regressão e a correlação são
duas técnicas estreitamente relacionadas que envolvem
uma forma de estimação. A análise da correlação e
regressão compreende a análise de dados amostrais para
saber como duas ou mais variáveis estão relacionadas
uma com a outra numa população. A análise de
correlação dá um número que resume o grau de
relacionamento linear entre duas variáveis; a análise de
regressão tem como resultado uma equação matemática
que descreve o relacionamento entre as variáveis. A
equação pode ser usada para estimar, ou predizer,
valores futuros de uma variável quando se conhecem ou
se supõem conhecidos valores da outra variável. A
análise de correlação é útil em trabalho exploratório,
quando um pesquisador ou analista procura determinar
quais variáveis são potencialmente importantes e o
interesse está basicamente no grau ou força do
relacionamento.
A regressão constitui uma tentativa de estabelecer uma
equação matemática linear (linha reta) que descreve o
relacionamento entre duas variáveis. A finalidade de uma
equação de regressão seria estimar valores de uma
variável, com base em valores conhecidos da outra. Outra
finalidade das equações de regressão é explicar valores
de uma variável em termos da outra, isto é, podemos
suspeitar de uma relação de causa e efeito entre duas
variáveis (STEVENSON, 2001).
A equação linear tem duas importantes características, o
coeficiente angular da reta e a cota da reta em
determinado ponto. Uma equação linear tem a forma
� = � + ��, onde � e � são valores que se determinam
com base nos dados amostrais, �é a cota da reta em
� = 0, e � é o coeficiente angular. A variável � é a
variável a ser predita, �é o valor preditor. O coeficiente
angular é representado por � = ∆�
∆�.
No caso específico deste artigo, a análise da regressão
indicará a relação entre o aumento no preço da cana e a
produção de cana.
O teste de correlação entre as variáveis de produção de
cana e preço recebido pelos produtores goianos foi
estimado pelo método de Correlação Linear de Pearson e
utilizou-se o programa SPSS Statistics, versão 17.0.
Segundo CALLEGARI-JACQUES (2003, p. 90), o
coeficiente de correlação pode ser avaliado
qualitativamente da seguinte forma:
se 0,00 <|��|< 0,30 , existe fraca correlação linear;
se 0,30 ≤|��|< 0,60 , existe moderada correlação linear;
se 0,60 ≤|��|< 0,90 , existe forte correlação linear;
se 0,90 ≤|��|< 1,00 , existe correlação linear muito forte.
3 – Resultados e discussão
A Tabela 4 apresenta a evolução da produção e do preço
da cana-de-açúcar em Goiás, com base nos dados de
2000 a 2010. Com base nesses dados e nos conceitos
estatísticos discutidos, buscou-se as possíveis
correlações na evolução da produção de cana-de-açúcar
e dos preços recebidos pelos produtores pela tonelada de
cana. Com referência ao preço recebido pelos produtores,
considerou-se que o mercado brasileiro e goiano de cana-
de-açúcar funciona sem interferência governamental, ou
seja, em plenas condições de livre.
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Ano Produção de cana Preço da cana (R$/t)
2000 10.162.959 19,98
2001 10.253.497 23,50
2002 11.674.140 25,35
2003 12.907.592 24,96
2004 14.001.079 30,30
2005 15.642.125 27,19
2006 19.049.550 27,01
2007 22.387.847 33,97
2008 33.112.209 37,46
2009 43.666.585 38,06
2010 47.733.283 36,50
A partir do Gráfico1, comparação do comportamento da
produção de cana-de-açúcar com o movimento de preços
pago ao produtor, pode-se inferir que, à medida que
aumenta o preço, a produção tende a crescer. No ano de
2007, conforme observado, a variação no preço da cana
pago aos produtores atingiu seu máximo 25,8%. No ano
seguinte a produção de cana atingiu uma variação de
47,9%, a maior da série analisada. Na sequência, 2009 e
2010, o movimento de variação de ambos seguiu o
mesmo comportamento, de redução na variação.
0,9
13,910,6
8,511,7
21,8
17,5
47,9
31,9
9,3
17,6
7,9-1,5
21,4
-10,3
-0,7
25,8
10,3
1,6
-4,1
-20,0
-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Produção de cana-de-açúcar (t)
Preço da cana (R$/t)
Fonte: Fonte: IBGE /FGV
Tabela 4 – Goiás: Produção e preço da cana – 2000- 2010
Fonte: Fonte: IBGE /FGV
Gráfico 1 – Goiás: Variação na produção e no preço da cana – 2001- 2010 (%)
40
0
10000000
20000000
30000000
40000000
50000000
60000000
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Pro
du
ção
de
ca
na
(t)
Preço da cana (R$)
Segundo Hotelling (1936), pode-se testar se duas
variáveis possuem relação linear por meio do teste de
hipótese (teste de hipótese para ρ = 0). A forma simétrica
da distribuição, quando ρ = 0, torna possível testar a
hipótese H�:ρ = 0contra a hipótese H�:ρ ≠ 0, através da
distribuição t de Student.
Considerando a hipótese nula H�:ρ = 0, no caso
específico do presente artigo obteve-se p-valor
insignificante, assim se rejeitou a hipótese que preço e
produção de cana não possuam relação linear.
O coeficiente de correlação foi de 88,2%, portanto tem-se
forte correlação linear. O Gráfico 2 indica uma relação
linear entre as variáveis produção e preço da cana em
Goiás, nota-se que na medida em que aumenta o preço
da cana pago ao produtor, aumenta-se a produção de
cana.
A análise de regressão tem como resultado uma equação
que descreve a relação entre a produção de cana e o
preço, ou seja, uma equação de oferta. Os resultados
indicam que o aumento no preço da cana parece ter
influenciado um aumento na sua produção. O preço da
cana pode explicar até 75,3% da produção de cana em
Goiás.
A tabela 5 apresenta as estimativas para os coeficientes
de regressão e seus respectivos p-valores:
Coeficientes p-valor
a -35097319 0,008
b 1932470 0,000
Gráfico 2 - Dispersão da produção e preço da cana em Goiás – 2000- 2010
Fonte: Fonte: IBGE /FGV
Tabela 5 – Estimativas para os coeficientes de regressão
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Os resultados anteriores mostram que a variável
independente preço é significativa (p-valor= 0,000) para
explicar a produção de cana-de-açúcar em Goiás. Assim,
ajustando-se o MRLS para descrever a produção de
cana-de-açúcar (�) de acordo com a variação do preço
(�), temos:
�!"#çã!& = −35.097.319+ 1.932.470 ∗ ��ç!.
No intervalo de tempo analisado, a cada unidade em reais
espera-se que a produção média aumente em
1.932.470t.
Com a criação do Programa Nacional do Álcool –
PROÁLCOOL – em 1975, a obrigatoriedade da mistura
do álcool anidro à gasolina, e o lançamento, em 2003,
pelas montadoras Volkswagen, GM e Fiat, de carros com
motores flexíveis (flexfuel), que funcionam com qualquer
proporção de mistura de álcool e gasolina, impulsionou o
consumo de álcool, resultando em preços mais elevados,
com isso incentivou o aumento da produção.
Considerações Finais
O setor sucroenergético tem se mostrado, nos últimos
anos, um dos mais importantes segmentos dentro da
economia goiana, pelo dinamismo e pela sua capacidade
de impulsionar os demais setores. É uma atividade
relevante para o crescimento e/ou desenvolvimento
socioeconômico de Goiás. Neste contexto, a cadeia
produtiva da cana-de-açúcar tem contribuído para isso,
na medida em que diversas indústrias processadoras tem
se instalado no território goiano, gerando novos empregos
e agregando valor a produção primária, seja produzindo
álcool, açúcar ou gerando energia mais limpa, reduzindo
o impacto ao meio ambiente.
O presente artigo teve como objetivo exploratório, fazer
uma discussão conceitual estatística, com base nos
dados de produção de cana-de-açúcar e preços
recebidos pelos produtores em Goiás visando identificar a
correlação existente entre as variáveis e a regressão. A
análise de correlação mostrou-se positiva e significativa; a
regressão com a variável produção de cana e preço
recebido pelos produtores em Goiás revelou efetiva
influência deste sobre aquela. A correlação da produção
de cana-de-açúcar com o preço é importante, pois
permite verificar a sensibilidade do aumento na produção
em relação aos preços praticados, e o resultado foi uma
correlação positiva, ou seja, aumentos de preço do
produto acarretaram aumento na produção. Contribuiu
para os resultados apresentados nos testes
econométricos o crescente aumento da área plantada de
cana, da produção e do rendimento médio por hectare,
tornando o estado de Goiás atrativo para esse tipo de
cultura e para a instalação de diversas indústrias
processadoras de álcool e açúcar.
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