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TributoProf. Dr. Mario Christian Meyer

Um 'Gigante na FlorestaPor Eliana Spengler

, .

Mario Christian Meyer é um homem incomum. Cientista derenome internacional, este cidadâo do mundo fez de sua trajetoria devida mn hino de amor à Natureza e a tudo 0 gue ela contém. Filho depais suiços, viveu de forma intensa a infância e adolescência noBrasil, tendo 0 privilégio de crescer admirando a exuberância daMata Atlântica ao fundo da primeira casa, situada de trente para umapraia selvagem no Rio de Janeiro, c os belos vales vistos da luxuriantepropriedade no alto da Lapa, na Mata Atlântica do Parana (Gruta doMonge), paJ:a onde seus pais rmidaram-se alguns anos mais tarde.

As retinas do menino atento, inteligente, perceptivo e de l'arasensibilidade, começaram cedo a registrar todas as formas de belezacom as guais a Natureza 0 presenteava, e a arquiva-las em seucérebro e em seu coraçâo. '

A partir dos 10 anos de idade, fez da biblioteca de seu pai mndos seus refùgios prediletos: ali ele alimentava 0 espirito corn as

historias dos autores classicos brasileiros, gue lhe traziam ricosrelatos sobre a selva virgem e os indics. Pesquisava enciclopédias embusca de respostas para seus questionamentos sobre 0 sentido davida. Na adolescência, lendo Montaigne, Rousseau e Lockeencontrou muitas respostas, mas nâo sabia ainda que naquelearnbiente impregnado de saber forjava-se a mente critica eobservadora de um grande cientista.

Em 1976, graduou-se em ciências médicas no Brasil. Especiali-zou-se em Ncuropsiquiatria Infantil na França, naFaculté de MédecineXavier Bichai e den continuidade a seus estudos, entre outros, noHarbord Hospital (University ofWasJ~ington), nos Estados Unidos e noDowing College (University of Cambridge), na Inglaterra. Em 1981,quando retornou da Universidade de Washington, decidiu passarmn tempo em Manaus e vasculhar-lhe as cercanias. E é des se pri-meirb encontro impactante corn a floresta em sua plenitude que seucoraçâo registra 0nascedouro de um grande am.or pela Amazônia.

Solve 0 Macaco-de-cheiro

Como Professor Assistente da Pontificia UniversidadeCatolica do Parana e depois coma Professor Associado, a partir de1.983, desenvolveu cooperaçôes cientificas internacionais emdiversos paises Europeus. Conduziu pesquisas e cursos de pos-graduaçâo em Neuropsiquiatria do Desenvolvimento e Psiquiatriada Criança e integrou-se dentro dos melhores centros de pesquisado mundo, como 0 Collège de France, 0 Institut National de la Santé et dela Recherche Médicale - INSERM (Paris) e 0 Departamento deN europsiquiatria Infantil e Bio-psicopatologia do Hospital Saint-Anne.

Suas publicaçôes e conferências nacionais e internacionaisdespertaram 0 interesse da UNESCO, que 0 con vidou para "estudara coritribuiçâo das ciências ocidentais (neuropsiquiatria,neurolingüistica, psicologia e psico-rnotricidade) no tratamento dasdeficiências de aprendizagem da lingua. Este projeto levou-o pelaprimeira vez ao coraçâo da flores ta amazônica, onde realizou longoestudo in situ sobre 0 sistema simbolico de representaçôes gréficasda linguagem usada pelos indios em seus pictogramas, ideogramas,petroglifos e pinturas corporais, e sua interaçâo com a linguagemocidental. "

o impacto de seu primeiro contato corn a grandiosidade dafloresta e corn a forma de vida dos mdios traduziu no âmago de seuser a célebre hase de Victor Hugo: "Em cerias ocasiôes, qualquer que seiaa posiçiio do corpe; a alma esté! de joelh.os ", Ali, no coraçâo da Amazônia.sua mente cientifica abriu espaço para abrigar 0 riquissimoconhecimento empirico dos amerindios. Corn generosidade ehumildade. entregou-se à harrnoniosa sinfonia orquestrada pelasaves deleitadas corn a beleza da terra virgem, pura, verde. Integrou-se à Ina ta, aos rios, à cultura ancestral dos indios, seus rituais etarefas. Sorveu avidamente a vida em sua magica integraçâoHomem-Natureza, Pintou a tela viva, delicada e palpitante dosrostos e dos corpos das crianças indigenas. Foi iniciado pelo ritoindigena "Dança da Tucandeira 1/ e fi cou assombrado com osresultados do tratamento que lhe prescreveram os "médicos daflores ta" para evitar uma reaçâo alérgica às toxinas das formigasgigantes Tucandeiras, e com a percepçâo do conhecimento que osmesmos tinham das reaçôes anafilaticas e das propriedadesterapêuticas de cada planta.

Em dezembro de 1985, lançou sen livro "Apprentissage de lalangue maternelle écrite" editado pela UNESCO, corn prefacio do

Gigantes: Abraçando a Amazônia

grande Mestre do Collège de France, 0 Professor Julian deAjuri agqerra. Nesse livro 0 Professor Meyer "expôe de formainédita a aprendizagem da lingua escrita pelas populaç6esdesfavorecidas", 0 que faz do mesmo, até os dias atuais, umareferência sobre 0 tema. A partir dessa publicaçâo, seguiram-seoutras e mu ltiplicaram-se os seminarios e conferências emdiversos paises. Seus estudos sâo publicados por renomadaseditoras cientificas, coma a LAROUSSE e refletem a harmoniosafusâo entre a ciência ocidental e a "ciência empirica" dos indics,levando 0 leitor a entender 0 gue Einstein 'guis dizer quandoafirmou qu e "110 pensamenio cieniifico exis te um elemen ta poé lico".

No desenvolvimento de seu trabalho, multiplicaram-se,também, suas jornadas de estudo. Ao retorno de cada missâo,trazia nos olhos a mata virgem, bela, hostil e majestosa. Nocoraçâo, a hannonia compartilhada com os amerindios em suaintegraçâo corpo-espirito com a Natureza. Em seu cérebro, 0

alargamento de seu vasto saber cientifico, complementado pelo1 rico conhecimento empirico dos indigenas. Mas, em muitospontos, deparou-se tarnbém com a vasta destruiçâo causada por

incursôes na floresta perpetradas por pessoas desprovidas deidealismo, que se traduzem ern açôes perniciosas de biopirataria.

Preocupado corn 0 crescente numero de tribos aculturadas,vislumbrou 0 ris co iminen te de perda da valiosissima cultura ancestraldos amerindios, 0 que equivaleria a implodir todo 0 conhecimentocontido na "Universidade Viva da Natureza", termo que Meyer usacom reverência para denominar a floresta e seus habitantes que aindapreservarn as tradiçôes. Sua preocupaçào culminou na elaboraçâo deurn ample projeto de desenvolvimento sustentàvel da ri cabiodiversidade da Amazônia e Mata Atlântica, associando 'as culturasAmerindias e Ocidentais. Seu projeto de salvaguarda é resultado deexaustivos estudos desenvolvidos, alternadamente. no coraçâo daflorèsta e em Centros de Pesquisa e Desenvolvimento de Excelência daEuropa, .e visa a implementaçâo de biotecnologias, através dotreinamento participative de equipes indigenas capazes de fabricarbio-prbdutos que gerarao riquezas para suas comunidades,preservando a biodiversidade e sua maior herança: a cultura repassadade geraçâo em geraçâo, durante milênios, a qual se encontre ameaçadaem seus ultimos e preciosos redutos.

Salve 0 Uacari-branco

É fundador e presidente do P.I.5.A.D (Programa Internacionalde Salvaguarda da Amazônia, Mata Atlântica e Amerindios para 0

Desenvolvimento Sustentavel), 0 que toma {mica essa instituiçâoem fins lucrativos é 0 Iato de constituir-se uma federaçâo de centres

de excelência na area de Ciências da Vida, que visa estabelecer umaaliança eqüitativa entre 0 conhecimento milenar ancestral dosIndics, principalmente no que tange à bicdiversidade e 0

conhecimento cientifico e tecno16gico moderno essencialmentesobre a biotecnologia, para 0beneficie de todos, através de projetospragrnaticos de desenvolvimento sustentavel.

Atualmente, a pedido da renomada Editora Toute Latitude, 0

Professor Dr.Mario Christian Meyer esta escrevendo um novo livro,no qual brin~ara a'comunidade cientifica e leitores Ieigos com seusprofundos conhecimentos sobre a Amazônia e seu eqüitativoprojeto de salvaguarda. Sera mais um presente deste homem queentendeu, desde cedo, 0 sentido das belas palavras de FernandoPessoa: If A vida é muiio curia para sel' pequena. If

Gigantes: Abraçando a Amazônia