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ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 1 DEPOSIÇÃO DE CLORETOS NA CIDADE DE SALVADOR: UMA PROPOSTA PARA AVALIAR A AGRESSIVIDADE AMBIENTAL NAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DEPOSITION OF CHLORIDES IN THE CITY OF SALVADOR-BA: A PROPOSAL TO EVALUATE THE ENVIRONMENTAL AGGRESSIVENESS IN REINFORCED CONCRETE STRUCTURES VILASBOAS, José (1); MACHADO, Sandro (2); PINTO, Silas (3) (1) Professor Mestre, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Católica do Salvador (2) Professor Pós-Doutor, Departamento de Ciências e Tecnologia dos Materiais, Universidade Federal da Bahia (3) Graduando em Engenharia Civil, Aluno de Iniciação Científica, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Católica do Salvador Endereço para correspondência – Rua Tenente Fernando Tuy, 230, apto 1002, Pituba, Salvador, BA, CEP: 41830-498 Resumo Este trabalho tem como finalidade mapear a cidade de Salvador-BA quanto à sua agressividade ambiental. Para tanto, foi realizada uma experimentação visando identificar a taxa de deposição de cloretos inorgânicos existentes na atmosfera em 20 estações, distribuídas em locais estratégicos, desde a orla até endereços com mais de 10 Km de distância ao mar. A metodologia empregada correspondeu a estabelecida na NBR 6211 (ABNT, 2001), cujos resultados foram analisados como base a NBR 14643 (ABNT, 2001) e utilizados para ajustar os dados obtidos por Vilasboas e Machado (2010). Ademais, estudos foram desenvolvidos com o intuito de avaliar a variação da agressividade ambiental numa edificação localizada no bairro da Federação, os quais demonstraram que há diversidade de microclima numa mesma estrutura. Palavra-Chave: Corrosão, Concreto Armado, Cloretos, Deposição. Abstract This work aims to map the city of Salvador-BA regarding its environmental aggressiveness. Was performed an experiment to identify the rate of deposition of inorganic chlorides in the atmosphere at 20 stations distributed in strategic locations, from the waterfront to addresses with more than 10 Km to the sea. The methodology established corresponded to the NBR 6211 (ABNT, 2001), whose results were analyzed based on the NBR 14643 (ABNT, 2001) and used to fit the data obtained by Vilasboas and Machado (2010). Moreover, studies have been developed in order to assess the variation of environmental aggressiveness in a building located in the neighborhood of the Federation, which showed that there are differences of microclimate within the same structure. Keywords: Corrosion, Reinforced Concrete, Chlorides, Deposition.

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  • ANAIS DO 55 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 55CBC 1

    DEPOSIO DE CLORETOS NA CIDADE DE SALVADOR: UMA PROPOSTA PARA AVALIAR A AGRESSIVIDADE AMBIENTAL NAS

    ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DEPOSITION OF CHLORIDES IN THE CITY OF SALVADOR-BA: A

    PROPOSAL TO EVALUATE THE ENVIRONMENTAL AGGRESSIVENESS IN REINFORCED CONCRETE STRUCTURES

    VILASBOAS, Jos (1); MACHADO, Sandro (2); PINTO, Silas (3)

    (1) Professor Mestre, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Catlica do Salvador (2) Professor Ps-Doutor, Departamento de Cincias e Tecnologia dos Materiais, Universidade Federal da

    Bahia (3) Graduando em Engenharia Civil, Aluno de Iniciao Cientfica, Departamento de Engenharia Civil,

    Universidade Catlica do Salvador

    Endereo para correspondncia Rua Tenente Fernando Tuy, 230, apto 1002, Pituba, Salvador, BA, CEP: 41830-498

    Resumo

    Este trabalho tem como finalidade mapear a cidade de Salvador-BA quanto sua agressividade ambiental. Para tanto, foi realizada uma experimentao visando identificar a taxa de deposio de cloretos inorgnicos existentes na atmosfera em 20 estaes, distribudas em locais estratgicos, desde a orla at endereos com mais de 10 Km de distncia ao mar. A metodologia empregada correspondeu a estabelecida na NBR 6211 (ABNT, 2001), cujos resultados foram analisados como base a NBR 14643 (ABNT, 2001) e utilizados para ajustar os dados obtidos por Vilasboas e Machado (2010). Ademais, estudos foram desenvolvidos com o intuito de avaliar a variao da agressividade ambiental numa edificao localizada no bairro da Federao, os quais demonstraram que h diversidade de microclima numa mesma estrutura. Palavra-Chave: Corroso, Concreto Armado, Cloretos, Deposio.

    Abstract

    This work aims to map the city of Salvador-BA regarding its environmental aggressiveness. Was performed an experiment to identify the rate of deposition of inorganic chlorides in the atmosphere at 20 stations distributed in strategic locations, from the waterfront to addresses with more than 10 Km to the sea. The methodology established corresponded to the NBR 6211 (ABNT, 2001), whose results were analyzed based on the NBR 14643 (ABNT, 2001) and used to fit the data obtained by Vilasboas and Machado (2010). Moreover, studies have been developed in order to assess the variation of environmental aggressiveness in a building located in the neighborhood of the Federation, which showed that there are differences of microclimate within the same structure. Keywords: Corrosion, Reinforced Concrete, Chlorides, Deposition.

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    1 Introduo A cidade de Salvador possui reas que podem ser enquadradas nas classes II (moderada), III (forte) ou IV (muito forte) de agressividade ambiental, dependendo da sua localizao, principalmente em relao ao mar. Contudo, poucos so os dados numricos disponveis para se caracterizar as regies da cidade nessas classes com relao ao nvel de agressividade ambiental. Surge assim a necessidade da determinao da concentrao de cloretos ao longo da costa litornea para delimitao do nvel de agressividade, levando-se em conta, principalmente, os seguintes parmetros: distncia ao mar, velocidade do vento, topografia da regio, obstculos existentes ao deslocamento do vento e do spray marinho, dentre outros. Da constatao dessa falta de dados, surgiu a idia e o interesse de realizar o trabalho aqui descrito. O conhecimento desses dados vai permitir ao projetista considerar de forma preventiva o problema do ataque armadura pela ao de cloretos, o que eliminar e/ou minimizar as intervenes corretivas nas edificaes de concreto armado decorrentes do processo de corroso. Assim, o principal objetivo deste trabalho estudar as taxas de deposio de cloretos em diferentes pontos da cidade de Salvador.

    2 Materiais e Mtodos 2.1Experimentao Para avaliar a agressividade ambiental que atua nas estruturas de concreto armado em Salvador (BA), foi realizada uma experimentao visando identificar a taxa de deposio de cloretos inorgnicos existentes na atmosfera. Para empreender a anlise pretendida, foram escolhidos pontos estratgicos, desde a orla at endereos com mais de 2 km de distncia at o mar. A experimentao foi baseada na NBR 6211 (ABNT, 2001), que por sua vez est fundamentada na norma americana ASTM D 512-89, publicada em 1999. O procedimento brasileiro prescreve o mtodo da vela mida para a determinao, atravs de anlise qumica, do teor de cloretos inorgnicos existente na atmosfera e do que depositado sobre uma superfcie de rea conhecida, durante um perodo de tempo especificado. A norma apresenta um mtodo que se aplica especificamente para determinao do teor de cloretos solveis em gua, como os existentes na atmosfera marinha e na linha de ondas que penetram no continente.

    2.2 Localizao dos pontos de coleta Salvador uma cidade que possui relevo acidentado, cortado por vales. Conta com uma estreita faixa de plancies, que em alguns locais se alargam. Apresenta cerca de 40 quilmetros de litoral, banhado pelo Oceano Atlntico e pela Baa de Todos os Santos, ambos os produtores de on cloreto, que so dispersos ao longo do continente ou

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    barrados por edificaes ou pelo prprio relevo. Assim, a partir das consideraes assinaladas anteriormente, com a finalidade de mapear a cidade do Salvador quanto agressividade ambiental, escolheram-se pontos distribudos em diferentes endereos da orla e do continente. Estabeleceram-se os seguintes parmetros para a realizao do experimento:

    a) poca de coleta: optou-se por realizar o ensaio em todas as estaes do ano, em virtude das variaes climticas;

    b) nmero de coletores: determinado de forma a mapear a cidade do Salvador, totalizando 24 coletores expostos em campo e 01 lacrado para a realizao do ensaio em branco;

    c) tempo para exposio do coletor: adotado como 30 dias, conforme recomendao da NBR 6211;

    d) segurana do equipamento: para que o equipamento no fosse danificado, preferiu-se instal-lo em locais com difcil acesso para os vndalos, como escolas, universidades, residncias, edifcios comerciais e igrejas.

    2.3 Mtodo da vela mida

    Conforme prescrito na NBR 6211, a vela mida consiste em um cilindro envolvido com gaze cirrgica e fixado a um frasco coletor por meio de uma rolha, conforme se pode ver Figura 1. O cilindro foi constitudo de material inerte: vidro de aproximadamente 2,5 cm de dimetro, sobre o qual foi enrolada uma camada dupla de gaze cirrgica. A rea da superfcie da gaze exposta atmosfera correspondeu, aproximadamente, a 100 cm. O cilindro foi introduzido numa rolha de borracha, ficando com uma altura da ordem de15 cm acima desta. A rolha possua dois tubos de vidro localizados o mais prximo possvel do cilindro, pelos quais passavam as extremidades da gaze, que atingiram o fundo do frasco. Estes tubos tiveram formato adequado para que o lquido que descia pela gaze fosse drenado, sem perda, para o frasco coletor. O frasco coletor era constitudo de vidro, com aproximadamente 800 mL de capacidade. As velas foram preparadas em ambiente isento de cloretos, com a utilizao de luvas de PVC, pois as de ltex contm teores de cloreto equivalentes aos existentes nas mos.

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    Figura 1 Vela mida, NBR 6211 (ABNT, 2001)

    As velas midas foram instaladas num suporte adequado, a uma altura mnima de 1 m acima do nvel do solo e em posio mais alta que todos os obstculos situados num raio de 3 m. Possuam uma proteo por meio de uma cobertura de material inerte e opaco de no mnimo 50 cm x 50 cm e que se situava a uma distncia de 20 cm da vela instalada na posio central.

    As velas utilizadas para a realizao do ensaio foram produzidas com materiais adaptados aos especificados na norma. O cilindro e a rolha foram confeccionados por um torneiro, com a utilizao do politetrafluoretileno, conhecido comercialmente como teflon. Para a passagem das duas extremidades da gaze na rolha foram realizados dois furos, com formato afunilado, o mais prximo possvel dos cilindros de vidro. Optou-se por no utilizar os tubos de vidro. Essa opo foi possvel porque o material utilizado para confeco da rolha era inerte. Como coletor, empregou-se um frasco de Erlenmeyer com capacidade de 1000 mL.

    Na instalao das velas ocorreram dificuldades para o encaixe da rolha no frasco, por causa da no uniformidade do dimetro interno da boca do frasco de Erlenmeyer. Assim, houve a necessidade de cortar a rolha, com o auxlio de um estilete, at que ela ficasse com o dimetro compatvel para o encaixe. Os suportes em ao utilizados foram confeccionados por um serralheiro e possuam as dimenses recomendadas pela NBR 6211. Dos 24 suportes preparados, 20 foram instalados no solo ou piso e 4 foram fixados na parede.

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    Cada ponto onde a vela foi instalada correspondeu uma estao, que foi devidamente identificada, conforme se pode constatar observando a Figura 2.

    Figura 2 Placa de identificao

    Para fixar o frasco coletor, trs pinos revestidos com pedaos de mangueira foram projetados na base de apoio, que foi forrada com geotxtil. Estes procedimentos foram adotados como intuito de eliminar o atrito entre o vidro e o ao. O frasco de Erlenmeyer foi hasteado com arame para evitar o seu tombamento com a ao do vento, e, no ponto onde haveria contato direto entre o vidro e o arame, este foi revestido com uma mangueira.

    As coordenadas em graus referentes ao eixo sul e oeste das estaes foram obtidas no Google Earth, bem como as altitudes e as distncias ao mar. As estaes instaladas em coberturas de edificaes tiveram como cota resultante o somatrio do nvel do terreno mais a altura da edificao. Estas informaes esto apresentadas na Tabela 1. A Figura 3 mostra, de forma esquemtica, as zonas de exposio adotadas e as estaes que forneceram as caratersticas climatolgicas do ambiente.

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    Tabela 1 - Localizao dos pontos de coleta do on cloreto em Salvador Ba. Coordenadas Estaes

    S W Altitude

    (m) Distncia ao mar (m)

    Localizao

    E1 125901,17 382804,92 20,00 2848,47 CEPRED - Iguatemi E2 130016,83 383032,53 16,00 700,00 Escola de Medicina Veterinria - Ondina E3 130017,80 383001,77 55,00 665,83 UCSAL - Federao E4 125657,23 382446,02 31,00 2111,4 UCSAL - Pituau E5 130030,85 383043,25 34,00 262,04 FAPESB - Federao E6 125958,26 383036,09 71,40 1226,59 Escola Politcnica - Federao E7 130000,58 383027,54 14,00 1187,43 PAF II - Ondina E8 125951,95 382806,50 24,00 1421,23 Ed.EDIBA - Itaigara E9 125905,06 382704,03 14,00 1531,43 Ed.Civil Business - Caminho das rvores E10 125705,20 382223,92 6,00 37,44 Igreja Santo Expedito - Itapu E11 1255'13,89 3830'08,17 7,00 10506,84 Residncia - Ribeira E12 125714,14 382258,18 6,00 120,75 DECECAP - Itapu E13 125759,50 382424,75 10,00 193,11 Colgio Marista - Patamares E14 125929,59 382619,13 4,00 80,00 CEPE 2004 - Armao E15 125952,66 382718,37 15,00 702,44 Colgio Militar - Pituba E16 130007,09 382713,57 16,00 267,37 Correios - Pituba E17 1256'04,62" 3819'49,69" 15,00 457,51 CEPE - Stella Maris E18 1256'15,45 3829'27,33 42,00 8307,70 Residncia -Largo do Tanque E19 1254'47,89 3829'50,17 6,00 10533,65 Residncia - Ribeira E20 1255'58,28 3830'24,86 6,00 9831,90 SENAI- Bonfim

    Figura 3 Representao esquemtica das zonas de exposio do aparato da vela mida e das estaes climatolgicas instaladas no Aeroporto e em Ondina

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    A ttulo de ilustrao, apresentada a seguir a Figura 4 com foto da Estao 01, localizada no Centro Estadual de Preveno de Deficincia (CEPRED).

    Figura 4 Estao E1 (CEPRED)

    2.3.1 Reagentes

    A NBR 6211 (2001) prescreve que os reagentes devem ser de qualidade para anlise (p.a), em virtude da sua pureza. Enfatiza ainda que qualquer referncia gua deve ser entendida como gua destilada ou desmineralizada, isenta de cloretos. Os reagentes utilizados para a realizao do experimento foram:

    a) gua glicerinada: 1000 mL de gua contendo 200 mL de glicerol CHOH (CH2OH)2 diludos. O glicerol tem a funo de diminuir a evaporao da gua;

    b) cido octanico (CH3(CH2)6 COOH), empregado como fungicida; c) cromato de potassio K2CrO4, usado como sinalizador; e) nitrato de prata AgNO3, utilizado para realizar a titulao que determina o teor de cloreto.

    2.3.2 Procedimento de coleta

    Ao completar o perodo de exposio, as velas foram substitudas para a determinao do teor de cloreto. Para efetuar a troca, utilizou-se de um conjunto de materiais e dispositivos

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    denominado de kit vela, cujos componentes so descritos a seguir e mostrados na Figura 5:

    a) pisseta contendo gua destilada, utilizada para fazer a lavagem do frasco coletor; b) gua glicerinada com cido octanico, soluo inserida no frasco coletor; c) frasco provido de tampa, devidamente identificado e isento de cloretos,

    empregado para a coleta da vela e juno da gua de lavagem com a gua do frasco coletor;

    d) arame galvanizado, utilizado para substituir o instalado em campo quando oxidado;

    e) estilete utilizado para ajustar a rolha de teflon a boca Erlenmeyer; f) tesoura empregada para cortar a fita adesiva; g) luvas utilizadas na coleta e instalao, a fim de que no houvesse contaminao; h) fita adesiva empregada com a inteno de vedar o frasco coletor e a vela; i) vela lacrada e j) haste para fixao do frasco coletor.

    Figura 5 - Materiais utilizados para a realizao da coleta da vela mida, kit vela

    O processo de coleta da vela iniciou-se com a retirada da vela mida e da soluo contida no frasco coletor, colocando-as num recipiente isento de contaminantes. Em seguida, realizavam-se trs lavagens no frasco coletor com gua destilada, tomando-se o cuidado

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    de colocar estas guas de lavagem no mesmo recipiente. A Figura 6 ilustra o processo de coleta.

    Figura 6 - Coleta da vela mida

    Aps realizao da coleta e com o frasco coletor devidamente limpo e fixado em seu respectivo lugar, introduzia-se 400 mL de gua glicerinada com cido octanico no frasco coletor, coloca-se a vela no frasco e, posteriormente, efetuava-se o seu lacre com o emprego de uma fita adesiva. Caso a haste que dava estabilidade ao frasco coletor apresentasse corroso, procedia-se a sua substituio. Ao trmino da coleta, os materiais eram levados ao Laboratrio de Geotecnia Ambiental (GEOAMB) da Escola Politcnica da UFBA para a determinao do teor de ons cloreto. 2.3.3 Procedimento para determinao do teor de cloreto Os ensaios para determinao do teor de cloreto em cada vela mida foram realizados em um ambiente isento de cloretos, tendo-se utilizado luvas de PVC para que no ocorresse a contaminao das amostras com suor (Figura 7).

    Figura 7 - Frascos coletor com suas respectivas identificaes, contendo a vela coletada

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    A vela retirada do frasco com o auxlio de uma pina esterilizada. Desenrola-se a gaze e a coloca em um frasco contendo cerca de 200mL de gua destilada. Em seguida, tampa-se o frasco e agita-se a gua com a gaze para dissolver os cloretos. Posteriormente, com o auxilio de uma pina, retira a gaze do frasco lavando-a e pressionado-a na lateral interna do frasco com o intuito de retirar a gua incorporada na gaze.

    Toda gua existente no frasco coletor como tambm as guas provenientes de lavagem da gaze e do frasco so misturadas e quantificadas, resultando no volume total (Vt). As informaes obtidas, como o volume total de gua (Vt) e a altura da vela, so anotadas em uma planilha referente a estao em estudo. O volume total de gua fica acondicionado em um recipiente de vidro at a realizao da sua titulao.

    Para a determinao do teor de contaminante o, utilizou-se o mtodo volumtrico de Mohr que determina o teor de cloretos solveis em gua, de acordo com a metodologia de anlise utilizada no Instituto de Qumica da Universidade Federal da Bahia.

    No mtodo de Mohr, a padronizao feita utilizando-se o nitrato de prata (AgNO3) com soluo padro de cloreto de sdio (NaC) e como indicador tem-se a soluo de cromato de potssio (K2CrO4). A titulao identificada quando todos os ons de Ag+ tiverem se depositado sob a forma de AgC, havendo a precipitao de cromato de prata (Ag2CrO4), visualizada numa colorao laranja-avermelhada.

    As reaes qumicas ocorridas durante o processo de titulao das amostras so as seguintes:

    NaC +AgNO3 AgC +NaNO3 (1)

    2 AgNO3+K2 CrO4 Ag 2 CrO4+2 KNO3 (2)

    A soluo a ser titulada deve ser neutra ou levemente bsica. O meio excessivamente cido transforma o cromato (CrO42-) em dicromato (Cr2O72-) e o meio excessivamente bsico precipita a prata na forma de AgOH. Antes de realizar a titulao das amostras coletadas em campo, efetuou-se como referncia um ensaio em branco.

    O volume da soluo de AgNO3 empregado para a titulao das amostras de cada coletor foi anotado para se calcular a concentrao de cloreto existente. Utilizou-se a frmula seguinte para que se determinar o teor de cloreto existente em cada amostra:

    Cloretos(mg / )=(V

    aV b). N .35500

    Vam

    (3) onde,

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    Va = volume da soluo padro de nitrato de prata utilizado gasto na titulao da amostra, em mililitros; Vb = volume da soluo de nitrato de prata empregado na titulao da gua destilada (branco), em mililitros; N = normalidade da soluo de nitrato de prata usada; Vam = volume da amostra, em mililitros.

    Com o teor de cloreto de cada experimento em miligramas por litro, calculou-se a taxa de deposio diria de cloretos sobre superfcie conhecida para cada ponto de exposio com a seguinte equao:

    (4) onde,

    VT = volume total da amostra, em litros; A = rea de exposio (da gaze), em metros quadrados; t = tempo de exposio, em dias.

    3 ANLISE E RESULTADOS DA DEPOSIO DE CLORETOS NA ATMOSFERA PELO MTODO DA VELA MIDA

    3.1 Caractersticas climatolgicas do ambiente As caractersticas climatolgicas do ambiente estudado foram fornecidas pela sede do Instituto Nacional de Meteorologia INMET, localizada em Braslia, no Distrito Federal e corresponderam s estaes climatolgicas instaladas no bairro de Ondina (altitude: 51,41m; latitude: 1300'S; longitude: 3830'W) e no aeroporto de Salvador (altitude: 19m; latitude: 1254'S; longitude: 3819'W). Os dados expedidos corresponderam ao perodo de agosto de 2010 a janeiro de 2012, ocasio em que houve deposio de cloretos nas 20 estaes estudadas e se referiram a: direo predominante e velocidade do vento, precipitao, umidade relativa e temperatura, conforme Tabela 2.

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    Tabela 2 - Dados climatolgicos (agosto/2010 a janeiro/2012) - estaes sito em Ondina e no aeroporto. Direo predominante

    do vento Velocidade do

    vento (m/s) Precipitao (mm)

    Umidade relativa (%)

    Temperatura

    (C)

    Ms/ano

    Ondina Aprt Ondina Aprt Ondina Aprt Ondina Aprt Ondina Aprt

    ago./2010 SE ESE 1,8 4,4 176,3 60,9 83 72 23,0 24,4

    set./2010 SE ESE 1,7 5,3 55,8 66,9 81 73 23,8 25,2

    out./2010 NE ENE 1,8 4,6 56,7 18,8 83 73 25,6 26,7

    nov./2010 NE ENE 1,8 4,9 27,2 2,1 80 74 26,3 27,2

    dez./2010 NE ENE 1,6 4,6 102,5 54,7 82 74 26,3 27,3

    jan./2011 NE E 1,5 4,1 170,3 70,2 85 73 25,9 27,4 fev./2011 NE NE 1,5 4,6 46,2 24,2 80 67 27,0 28,5

    mar./2011 NE NE 1,6 3,9 200,7 35,3 85 75 26,7 28,0

    abr./2011 SE SE 1,4 3,9 331,0 51,3 87 72 25,7 27,7

    mai./2011 SE SE 1,5 3,9 304,2 186,3 88 72 24,4 26,3

    jun./2011 SE SE 1,5 3,8 277,7 63,5 88 73 23,4 25,4 jul./2011 SE SE 1,4 4,0 57,6 42,3 83 66 23,2 25,3 ago./2011 SE SE 1,4 4,0 91,3 37,3 84 67 23,3 25,4

    set./2011 SE SE 1,9 4,8 62,0 18,5 81 66 23,5 25,3

    out./2011 NE NE 2,0 5,2 208,5 77,6 86 73 24,8 25,6

    nov./2011 NE NE 2,0 5,0 319,2 17,8 85 74 24,9 27,5

    dez./2011 NE NE 1,5 4,6 100,7 28,6 82 74 26,0 27,9

    jan./2012 NE NE 1,5 4,6 35,7 53,6 80 72 26,4 28,9

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    Pode-se observar que a umidade relativa medida, ao longo do perodo examinado, na estao climatolgica instalada no bairro de Ondina, tem um comportamento pouco varivel, com a as suas medidas entre 80 e 88%, influenciado de forma significativa pela incidncia de chuvas. Nesta mesma estao climatolgica, o comportamento da temperatura mdia apresentou-se bem estvel, em torno de 23 a 27 C.

    Notou-se que, para um mesmo perodo, as medidas de precipitao e umidade relativa obtidos na estao sito em Ondina foram superiores s encontradas na estao localizada no aeroporto de Salvador. Este fato se justifica em funo da primeira estao situar-se em maior altitude, o que possibilita a diminuio da temperatura do ar e acarreta numa menor capacidade do ar em conter umidade, facilitando a saturao e a condensao do vapor de gua, dando origem formao de nuvens e de precipitao. Ao longo do tempo, as precipitaes assinaladas na estao meteorolgica sito em Ondina concentram-se nos perodos de maro a junho e de outubro a novembro de 2011, chegando a valores mdios de 331mm mensais.

    A umidade relativa do ar est diretamente relacionada com o processo de transporte de cloretos no concreto, provocando um aumento da corroso com o seu acrscimo, devido facilidade que esse material tem em absorver a umidade do meio e de perd-la com certa dificuldade. A temperatura constitui um importante fator no processo de transporte de cloretos no concreto, pois o seu aumento intensifica a corroso das armaduras. O vento, na regio do estudo, ao longo do perodo de ago/2010 a jan/2012, apresentou-se com uma maior frequncia nas direes Sudeste e Nordeste, em ambas as estaes climatolgicas situadas em Ondina no Aeroporto. A sua velocidade comportou-se entre 1,4 e 2,0m/s (estao sito em Ondina) e de 3,8 a 5,3 m/s (estao localizada no Aeroporto), tendo-se alcanados os seus valores mximos entre os meses de setembro e novembro, perodo onde se verifica aumento da deposio de cloretos na maioria das estaes. Segundo Morcillo, Chico, Mariaca (2000), o vento desenvolve influncia preponderante na gerao e transporte do aerossol, com efeito acentuado nas medidas de deposio de cloretos a partir do patamar de 3,0 m/s.

    3.2 Resultados de deposio de cloretos nas estaes E1 a E20

    Os resultados da determinao do teor de cloretos, no perodo de setembro de 2010 a janeiro de 2012, em cada estao de monitoramento, so apresentados na Tabela 3.

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    Tabela 3 Teores de cloretos depositados nas estaes E1 a E20, no perodo de set./10 a jan./2012. Concentrao de cloretos mg/(m2.dia)

    Determinaes mensais

    Estaes

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 E1 53,75 96,23 158,00 104,28 153,68 125,23 87,28 101,56 54,44 81,28 70,41 56,48 E2 101,41 121,43 168,24 158,29 115,66 59,59 137,65 130,0 106,62 97,96 112,09 73,88 E3 58,59 59,17 87,84 127,63 52,45 69,94 144,02 114,69 133,56 96,98 87,89 141,57 E4 27,06 - 79,61 162,04 38,31 112,91 105,23 54,63 84,30 192,57 213,60 158,04 E5 197,81 154,04 174,49 202,50 115,56 85,23 80,25 231,18 314,10 174,16 96,28 368,74 E6 114,44 155,29 170,74 111,78 102,79 158,53 220,42 207,17 130,49 100,35 84,00 86,61 E7 84,20 83,20 133,20 110,42 92,17 120,19 134,60 89,93 116,95 68,02 80,01 62,80 E8 65,44 110,15 101,52 111,50 69,54 114,92 78,99 92,55 52,44 72,04 52,11 54,79 E9 83,30 86,24 96,41 81,63 96,78 55,86 64,12 103,51 38,83 89,68 68,41 97,87 E10 1178,84 211,25 243,05 463,90 522,38 1163,54 1077,06 1609,98 1993,15 1641,14 1696,48 2002,65 E11 98,30 83,98 116,46 95,76 122,11 98,85 77,01 45,05 104,80 30,20 192,83 57,70 E12 200,24 205,92 244,25 94.80 115,77 123,45 174,06 576,46 188,26 206,59 304,17 269,05 E13 216,51 346,50 356,07 102,68 475,28 252,75 481,06 1513,82 570,09 641,03 1054,79 740,16 E14 1145,54 1068,95 584,39 863,07 737,82 822,49 - 896,39 933,68 1072,04 983,70 1351,22 E15 88,97 125,41 149,44 90,71 90,92 111,42 117,02 60,52 68,92 88,41 100,04 134,51 E16 179,47 245,11 328,42 163,40 139,14 256,81 798,42 642,57 424,62 568,61 958,46 395,69 E17 149,94 238,63 220,53 96,54 148,87 74,72 139,47 142,00 152,19 86,25 205,67 227,48 E18 98,30 152,34 76,27 127,38 95,70 180,06 71,67 83,14 61,00 130,20 154,66 129,72 E19 195,31 112,30 153,68 65,56 89,21 87,41 68,13 103,76 92,91 160,13 26,56 157,00 E20 100,78 45,15 98,26 114,37 101,82 82,64 80,25 91,68 62,54 68,81 121,38 139,36

    3.3 Efeito da distncia em relao ao mar

    A diminuio de cloretos, em cada estao de monitoramento, medida que existe um distanciamento do mar, comportou-se de maneira evidente (Tabela 4 e Figura 8) e confirma o assinalado por Morcillo (1998), ou seja, uma vez formado o aerossol marinho, o mesmo caminha na direo do continente e tem a sua relao com a salinidade atmosfrica influenciada por variveis como direo e velocidade dos ventos predominantes, distncia da costa, topografia, zona de altitude, etc.

    A relao entre a deposio mdia de cloretos e a distncia ao mar (corrigida em funo da direo predominante do vento), no perodo de set./2010 a jan./2012 (Figura 8), propicia, como resultado do ajuste da curva, um coeficiente de determinao R2= 0,8682, significando que 86,82% da variabilidade em Tx explicada pela regresso, conforme Equao 5 seguinte.

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    (5)

    onde,

    TxC a deposio mdia de cloretos em mg/(m2.dia) e

    X a distancia da estao ao mar, em Km, corrigida em funo da direo predominante do vento (SE).

    Tabela 4 - Resumo e classificao da deposio de cloretos nas estaes de monitoramento E1 a E20.

    Estaes

    Teor mdio de cloretos, [mg/(m2.d)]

    Distncia (m)

    Classificao de contaminao da

    atmosfera por C-

    (NBR14643)

    Agressividade Risco de deteriorao

    da estrutura

    E1 95,22 2845,00 E2 115,23 933,00 E3 97,86 754,00 E4 111,66 2173,00 E5 182,86 295,00 E6 136,88 1664,00 E7 97,97 1433,00 E8 81,33 1667,30 E9 80,22 1847,00

    B2

    Moderada

    Pequeno

    E10 1150,29 37,00 B3 Forte Grande E11 93,59 10437,00 E12 225,25 149,00

    B2

    Moderada Pequeno

    E13 562,56 202,00 E14 950,84 92,00

    B3 Forte Grande

    E15 102,19 1042,00 B2 Moderada Pequeno E16 425,06 356,40 B3 Forte Grande E17 156,86 461,00 E18 113,37 8330,00 E19 109,33 10687,00 E20 92,25 10031,00

    B2

    Moderada

    Pequeno

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    Figura 8 Relao entre a deposio mdia de cloretos e a distncia em relao ao mar (na direo predominante do vento SE), no perodo de set./2010 a jan./2012

    4 Referncias AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D 512-89 - Standard test method for chloride ion in water. Philadephia, 1999.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 6211: corroso atmosfrica determinao de cloretos na atmosfera pelo mtodo da vela mida. Rio de Janeiro, 2001. 6 p.

    _____. NBR 14643: corrosividade atmosfrica classificao da corrosividade de atmosferas. Rio de Janeiro, 2001. 11 p.

    MORCILLO, M. Corrosin y proteccin de metales em ls atmosferas de iberoamerica. Madrid: Cyted, 1988. 52 p.

    MORCILLO, M.; B.; MARIACA, L.; OTERO, E. Salinity in marine atmospheric corrosion: its dependence on the wind regime existing in the site. Corrosion Science, v. 42, p.91-104, 2000.

    VILASBOAS, J. M.; MACHADO, S. L. Uma proposta de classificao da agressividade ambiental para a cidade de Salvador-BA. Revista Ibracon de Estruturas e Materiais, v.3, p. 219 - 247, 2000.