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Sociedade Espiritualista Mata Virgem Curso de Umbanda Diferenças entre os Sexos _ Mulher não pode trabalhar menstruada! _ Mulher não pode tocar atabaques! _ Mulher grávida não pode incorporar! _ Homem não pode incorporar guia feminino! Essas afirmações estão corretas? Vejamos... No Candomblé... Enquanto o princípio que estrutura a sociedade ocidental é o patriarcalismo, o machismo, nas comunidades de “terreiro” o que estrutura o sistema é o princípio da unidade dos contrários, o princípio da sexualidade. Este princípio da sexualidade é o que estrutura todo o sistema. Nas “roças” de candomblé os trabalhos são divididos social e sexualmente, ou são divididos em funções que, por sua vez, estão assentados em princípios bem preservados na tradição. As funções obedecem à idade de iniciação do povo-de-santo. Assim, uma mulher menstruada, por exemplo, não poderá jamais tocar em alguns objetos sagrados por causa do seu estado, assim como os homens da “roça” não poderão jamais conhecer os segredos de algumas funções femininas. Mas o que é importante destacar é que as funções femininas e as funções masculinas se complementam, isto é, não existe uma sem a outra. Essa reciprocidade é fundamental para a estruturação do sistema mítico e social do 1

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Sociedade Espiritualista Mata Virgem

Curso de UmbandaDiferenças entre os Sexos

_ Mulher não pode trabalhar menstruada!_ Mulher não pode tocar atabaques!_ Mulher grávida não pode incorporar!_ Homem não pode incorporar guia feminino!

Essas afirmações estão corretas? Vejamos...

No Candomblé...Enquanto o princípio que estrutura a sociedade ocidental é o patriarcalismo, o machismo, nas

comunidades de “terreiro” o que estrutura o sistema é o princípio da unidade dos contrários, o princípio da sexualidade.

Este princípio da sexualidade é o que estrutura todo o sistema. Nas “roças” de candomblé os trabalhos são divididos social e sexualmente, ou são divididos em funções que, por sua vez, estão assentados em princípios bem preservados na tradição. As funções obedecem à idade de iniciação do povo-de-santo. Assim, uma mulher menstruada, por exemplo, não poderá jamais tocar em alguns objetos sagrados por causa do seu estado, assim como os homens da “roça” não poderão jamais conhecer os segredos de algumas funções femininas. Mas o que é importante destacar é que as funções femininas e as funções masculinas se complementam, isto é, não existe uma sem a outra. Essa reciprocidade é fundamental para a estruturação do sistema mítico e social do candomblé.

Pessoas do sexo feminino carregam as ENI (esteiras) embaixo do braço; os do sexo masculino sobre os ombros.

O torço das mulheres tem duas abas que chamamos de orelhas; o dos homens uma só aba, ou seja, uma só orelha.

Os potes são levados na cabeça apenas por mulheres, a cozinha dominada por elas com seus temperos e olores, os Mariwos desfiados por homens.

Homem não pode ser ekedi, ainda que haja mudança de sexo, nasceu homem. Homem não raspa Nanã. Homem de orixá masculino não cozinha, não retira axé de aves, não quina folhas.

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Na Umbanda...Todas as religiões “dominantes” tem um papel secundário para as mulheres. Observe-se:

Islamismo, Judaísmo, Cristianismo entre outras. Todas têm como papel fundamental um Deus “masculino” o que gera desconforto no momento de se admitir uma sacerdotisa. As comunidades consideradas pagãs sempre tiveram suas deusas femininas e em alguns casos “superiores” em poder aos deuses masculinos. Observando atentamente algumas dessas culturas entenderemos que tais deusas são a contrapartida dos deuses masculinos, na verdade seus complementos estruturais. Clareia a observação se tomarmos por entendimento as bases dessas culturas que são a pura observação da natureza. E na natureza tudo se complementa: sol e lua (Guaraci e yaci), dia e noite, água e terra.

Como se sabe a cultura Umbandista tem matizes das nações africanas, que tem uma cultura milenar de respeito ao equilíbrio da natureza. Poderíamos dizer que os candomblés brasileiros foram os primeiros a admitirem sacerdotisas mulheres desde o seu princípio e diga se de passagem que sempre desempenharam e desempenham ainda um papel que merece todo nosso respeito. Essas mães-de-santo, algumas famosas Yalorixás tiveram papel fundamental na construção da identidade Brasileira e do povo das religiões afro-brasileiras. Essas mulheres guerreiras usam de uma sensibilidade admirável no aconselhamento de seus “filhos” e trabalho dentro de suas comunidades. Dentro das casas de Umbanda ainda hoje predominam as sacerdotisas e ao que nos parece continuarão predominando fabulosamente.

A sociedade considerada moderna se compraz em alardear que busca a igualdade para as mulheres em relação ao homem, mas a observação, mesmo superficial, já desmente a falácia. As mulheres trabalham em cargos inferiores, ganham salários inferiores e tem posições hierárquicas inferiores, isso considerando somente cargos. Se considerarmos a violência de que são vítimas, juntamente com as crianças estaríamos entrando em estado de emergência.

A Umbanda sempre teve, por sua cultura, o ser feminino como estrutura fundamental em seu conceito social. Tratada com respeito e considerada portadora do Axé gerador da vida, não são subalternas, mas indispensáveis para a manutenção de um bom Axé em uma casa.

Houve época em que as médiuns eram proibidas de serem diri gentes espirituais, sacerdotisas, mães, etc., mesmo que elas já estives sem pre paradas. Nesta época  elas não podiam ser ogâs, ou seja, aquelas que tocam ou assumem a responsabilidade da curim ba (atabaques) do terreiro.

A mulher no Candomblé não toca atabaque, por alguns dogmas da religião, principalmente em relação à menstruação. Na Umbanda não importam os dogmas e conceitos do candomblé. Seguimos, sim, as recomendações passadas diretamente pelos nossos guias e mentores. Nunca vimos um caboclo ou preto-velho proibindo mulher de tocar atabaque, por isso afirmamos, na Umbanda mulher toca e canta sim e, diga-se de passagem, muitas vezes melhor do que os próprios homens.

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A mulher assim que soubesse da sua gravidez era afastada, pois a mes ma não poderia trabalhar na corrente.

Quando a mulher incorporava guias masculinos, precisava-se amarrar um pano em seu corpo para blo que ar as energias femininas.

As mesmas não podiam “trabalhar” no seu terreiro, quando estavam mens truadas, justificando que seu cor po es tava aberto e, assim sendo, im puro.

As indiferenças, os preconceitos, pres sões e humilhações foram atitudes  vindas de uma socie dade machista que se julgava superior, que refletiam na época, na vida espiritual, social e afe tiva. Mas, mesmo assim, a mulher con fiou na dua lidade de  Pai/Mãe Olorum e, prin ci pal mente, tempo/evolução.

Desde os primórdios da Umbanda, as mulheres podiam incorporar Orixás mas culinos e também guias como Caboclo, Preto-Velho, Baiano, Boiadei ro, Marinhei ro, Ciganos, Exu e Exu Mi rim, e já tinham como guia chefe, men tor ou guia de frente uma entidade mas culina. São tantas as mulheres, senho ras, meninas, moças, idosas que trabalham, e se formos analisar, hoje a maioria dos terreiros  é composta por um número maior de mulheres médiuns.

Muitas mulheres são tão guerrei ras, líderes, inteligentes quanto os ho mens. Não há diferença para Pai/Mãe Olorum, pois na sua dualidade gerou de seu interior seres masculinos e seres femininos, com o mesmo princípio e genética, os criou e os dotou com qualidades, atributos e atri bui ções iguais.

Tem pai sacerdote, dirigente espi ritual que até hoje não incorpora Orixás femi ninos, como também não incorpora Ca bocla, Preta Velha, Cigana, Erê fe minino, Pomba Gira e até mesmo orixás femininas.

Existem muitos que ainda acreditam que toda Pomba Gira foi uma prostituta e que só trabalha o lado sexual, que só serve para arrumar companheiro ou desmanchar relacionamentos, que se incorporar num médium masculino este vai virar homossexual, e por ai vai…

A Menstruação muda algo?Oxum é a Senhora da Beleza e da Bondade. Sua saudação, “Aiê iêu”, deriva do iorubá Oóre

Yeye O (oóre, bondade; yeye, mãe; ou seja, Salve a Mãe da Bondade! ou Salve a Bondade da Mãe!) e podemos perceber aqui sua característica fundamental.

É Oxum que toma conta do sangue menstrual e mostrou que este proclama a realidade do poder feminino, a possibilidade de gerar filhos. Não deve por isso, constituir nas mulheres vergonha e inferioridade, mas sim um grande motivo de orgulho. Na Natureza, seu grande poder, é então exercido sobre a água doce, que fertiliza o solo e sem a qual, a vida na terra não seria possível.

Ela é a patrona da gravidez. O desenvolvimento do feto é colocado sob sua proteção como o do bebê até que ele comece a “armazenar” conhecimentos e linguagem. Nesse sentido é a regente de todo o processo de coroação do médium uma vez ser esse o momento de “nascimento” de seus Orixás de cabeça.

Por deixarmos imantados os objetos com nosso toque, a mulher menstruada não deve preparar ou oferecer nada, por estar eliminando nesses períodos cargas negativas expelidas com o sangue.

Alguns autores e dirigentes dizem que a mulher com menstruação não deve participar da gira e muito menos incorporar.

Diz-se também que pode haver a aproximação de espíritos atrasados atrás da energia do sangue. O que é um perfeito absurdo, visto que se algum espírito quiser sangue, ele irá aos matadouros e nunca a um terreiro organizado e protegido.

Segundo algumas mães-de-santo o corpo feminino é um corpo mais acessível às energias 3

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externas pela própria característica do ser mulher: é um corpo "aberto" que deixa a mulher, mensalmente aberta, ao longo da menstruação e ao longo da gravidez. Essas experiências tão femininas são momentos nos quais as mulheres são particularmente sensíveis e têm seus corpos transformados, acompanhando obrigatoriamente os ritmos da natureza.

Na verdade, ocorre que, em algumas mulheres, esse período menstrual se faz acompanhar de cólicas que geram mal-estar, impossibilitando-as ao exercício da mediunidade, não somente pela problemática menstrual, mas devido à influência física refletida sobre a mente, dificultando uma concentração adequada para os trabalhos. Ainda temos como outro fator a conhecida T.P.M. que mexe com o psicológico das mulheres, este é o fator mais importante da tal “proibição”, esta é a natureza da mulher disso todos sabemos, mas alguns fazem disso um grande TABU uma forma pejorativa/ignorante de fazer Umbanda. Caso a mulher não tenha T.P.M., cólicas menstruais, em nada irão prejudicar a mediunidade, pois reafirmo o período menstrual é da natureza da mulher.

A menstruação em si, em nada influi na mediunidade, interpretar de outra forma é ignorância. Nada impede também a médium de ir ao Terreiro e contribuir para com o andamento da Gira, auxiliando como cambono, ekede, etc.

E durante a gravidez?

O próprio guia chefe da médium poderá dizer se ela pode continuar trabalhando durante a gravidez ou não.

Nós pedimos apenas a gestante que evite os trabalhos de desobsessão e descarrego.

Os guias não usam fumo ou bebida neste período.Em termos físicos os Obstetras costumam solicitar que a gestante

evite as atividades que lhe causarem DESCONFORTO fora isso, pode ter uma atividade normal.

Em algumas casas, a gestante fica na assistência durante toda a gravidez e na quarentena pós-parto.

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O Mito Do Tambor Bàtá

Segundo os mitos, nos primórdios da civilização, não existia nada parecido com o tambor na cidade de Oyo-Oro. Ali morava uma mulher chamada Ayántoke, mas todos a chamavam de Ayán. Esta mulher não tinha filhos e andava sozinha pelo mato, sempre carregando um pedaço de madeira oco. Um dia, viu uma pele de bode e pensou que poderia cobrir as extremidades da madeira que carregava e tirar um som. Porém, quando ela batia no couro com um pedaço de pau ele rasgava. Ela insistiu várias vezes no seu intento, tendo usado até um pedaço de couro em forma de tira para bater nas extremidades do tronco, sem sucesso. Um dia, quando tentava

mais uma vez, Exu apareceu e deu-lhe tiras de couro de veado e disse que amarrasse com firmeza o couro no tronco. E foi nesse momento que o tambor emitiu um som melodioso. Ayán começou a tocar o tambor por toda a cidade e as pessoas corriam para ouvi-la, muito surpresos, porque nunca tinham ouvido nada igual. Ayán passou a ganhar muitos presentes. Xangô – Divindade do trovão – Rei da Cidade, quando a ouviu tocar, convidou-a para morar no palácio. Ela tornou-se a tocadora oficial do palácio de Xangô. Todos sabiam que ela não podia ter filhos, mas também sabiam que, mais cedo ou mais tarde, ela teria um filho, já que qualquer mulher estéril que entrasse no palácio de Xangô se tornava fértil.

E assim foi... Ayán casou-se com Xangô e logo teve um filho que foi chamado de Aseorogi. Ela passou toda a arte de tocar e construir o tambor para o seu filho Aseorogi é, até hoje, o nome dado a todos os membros de uma família cultuadora do tambor, entre os povos iorubás.

Ayán, então, é o símbolo do tambor Batá, orixá dos tocadores e que é cultuado somente por eles. Entendemos, então, o conceito de Ayán como sendo o espírito do tambor Bàtá, que sobreviveu nos terreiros nagôs no Brasil, como um ritmo específico, produzido pelos atabaques rum, rumpi e lê e que faz parte do universo de diversas Divindades.

O Mito relata de forma clara, que o tambor e a arte de tocar foram criados por uma mulher e passados por direito aos homens e isto não ocorreu somente com o tambor, existem outras funções determinadas aos homens e que originaram das mulheres.

Você Aprendeu:

As diferenças entre os Sexos dentro do ritual. A Tradição no Candomblé sobre os papéis masculinos e femininos. Se esta tradição se mantem na Umbanda. Se a menstruação ou gravidez influenciam no trabalho mediúnico.

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