5€¦ · web viewleila janice maxwell mendes. como estÁ a questÃo da cultura no ensino de...

208
LEILA JANICE MAXWELL MENDES COMO ESTÁ A QUESTÃO DA CULTURA NO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) FRENTE AOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS?

Upload: duongquynh

Post on 02-Jul-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

LEILA JANICE MAXWELL MENDES

COMO ESTÁ A QUESTÃO DA CULTURA NO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) FRENTE AOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS?

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIAINSTITUTO DE LETRAS E LINGÜÍSTICA

2002

LEILA JANICE MAXWELL MENDES

COMO ESTÁ A QUESTÃO DA CULTURA NO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) FRENTE AOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS?

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Lingüística do Instituto de Letras e Lingüística da Universidade Federal de Uberlândia como requisito para obtenção do título de Mestre em Lingüística na Área de Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Estrangeira.

Orientadora: Prof.ª Dra. Lilia Maria Eloisa A. de Francis

UBERLÂNDIA-MG

2002

Dissertação defendida e aprovada, em ____ de _____________ de 2002, pela banca

examinadora constituída pelos professores:

____________________________________________

Profª. Drª. Lilia Maria Eloisa Alphonse de Francis

____________________________________________

Prof. Dr. João Bôsco Cabral dos Santos

____________________________________________

Prof.ª Dr.ª Márcia Elizabeth Bortone

Agradecimentos

A Deus “...que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto

pedimos ou pensamos”. (Efésios 3:20)

À minha orientadora, Prof.ª Dra. Lilia Maria Eloisa Alphonse de Francis,

que me ajudou a compreender melhor a ligação entre língua e cultura e que

pela sua orientação, paciência, atenção e amizade constantes, contribuiu de

uma forma magnífica para a realização deste trabalho.

Ao meu pai e à minha irmã Mary Janeta pelo interesse e incentivo em

todos os momentos.

À minha irmã Agnes pelo carinho e pelas valiosas contribuições na redação

deste trabalho.

Aos meus filhos Andressa, André, Alexandre e Arthur, noras Rosani e

Andra e neta Camila pelo seu apoio incondicional, paciência e

compreensão durante a realização deste projeto.

À minha amiga Paula pela ajuda nas pesquisas pela Internet.

Às escolas que participaram da pesquisa e aos professores que

bondosamente cederam parte de seu tempo precioso tornando possível este

trabalho. São elas a) Escolas da rede pública em bairros de periferia: Escola

Estadual Henrique Krüger, Escola Estadual Geraldino Rodrigues da Cunha;

b) Escolas da rede pública em bairros de centro: Escola Estadual Edite

França, Escola Estadual Corina de Oliveira; c) Escolas da rede privada:

Escola São Judas Tadeu, Colégio Oswaldo Cruz.

À Coordenação e Mestres do Curso de Mestrado que sempre atenderam com

muita simpatia aos nossos questionamentos e dúvidas.

Aos muitos amigos que torceram por mim.

SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................................................................7

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO GERAL E OBJETIVOS..............................................8

1.1. Introdução.......................................................................................................8

1.2. Justificativa...................................................................................................10

1.3. Perguntas de Pesquisa...................................................................................10

1.4. Metodologia..................................................................................................11

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................13

2.1. Introdução.....................................................................................................13

2.2. A posição da língua inglesa no mundo.........................................................14

2.3. Definição de cultura......................................................................................17

2.4. Planejamento.................................................................................................22

2.5. Anomia..........................................................................................................28

2.6. Os Parâmetros Curriculares Nacionais.........................................................31

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA.................................................................................40

3.1. Introdução.....................................................................................................40

3.2. Paradigmas de Pesquisa nas Ciências Sociais..............................................40

3.2.1. Paradigma de Pesquisa Positivista......................................................41

3.2.2. Paradigma de Pesquisa Interpretativista.............................................41

3.3. Contexto da Pesquisa....................................................................................45

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE.............................................................................................49

4.1. Introdução.....................................................................................................49

4.2. Análise dos questionários.............................................................................49

4.3. Análise das entrevistas..................................................................................56

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS...................77

5.1. Introdução.....................................................................................................77

5.2. Conclusões....................................................................................................78

5.3. Contribuições pedagógicas...........................................................................82

SUMMARY.....................................................................................................................89

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................90

ANEXO 1 – Questionários .............................................................................................96

ANEXO 2 – Perguntas da Entrevista............................................................................130

ANEXO 3 – Convenções para a transcrição das entrevistas individuais......................131

ANEXO 4 – Transcrições das entrevistas.....................................................................132

5

Africa’s Plea

I am not you – but you will notgive me a chance,will not let me be me.

“If I were you”-but you knowI am not you,yet you will not let me be me.

You meddle, interferein my affairsas if they were yoursand you were me.

You are unfair, unwise,foolish to thinkthat I can be you,talk, act and think like you.

God made me.He made you.For God’s sakeLet me be me.

O Apelo da África1

Eu não sou vocêmas você não me dá uma chance, não permite que eu seja eu.

“Se eu fosse você” -mas você sabeque eu não sou você,no entanto vocênão permite que eu seja eu.

Você se intromete, interferenos meus negócioscomo se fossem seuse você fosse eu.

Você é parcial, insensato,tolo em pensarque eu posso ser você, falar, agire pensar como você.

Deus me criouDeus criou você. Pelo amor de DeusDeixe que eu seja eu.

Roland Tombekai Dempster.

1 Todas as traduções que constam deste trabalho foram realizadas pela pesquisadora.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é tentar perceber como está sendo enfocada a

questão da cultura dos países de língua estrangeira (inglês), nas aulas de língua estrangeira

(inglês) em escolas da rede pública e da rede particular. Tentaremos verificar ao longo do

trabalho, que valores estão sendo repassados aos alunos. Através de uma análise dos

Parâmetros Curriculares Nacionais, verificaremos como este documento aborda a questão

da cultura; pela análise de questionários e entrevistas com os sujeitos da pesquisa,

tentaremos verificar se os professores conhecem este documento e qual sua leitura das

questões de cultura nele abordadas, no que diz respeito à formação de cidadãos crítico-

reflexivos. Tentaremos perceber se é dada importância à discussão destes assuntos entre

os professores de língua estrangeira (inglês) e se os Parâmetros Curriculares Nacionais

deixam abertura para esta discussão em sala de aula com os alunos, visando a um

crescimento mais maduro e crítico.

Trabalharemos dentro da abordagem do paradigma interpretativista, sendo que

os dados serão obtidos através de questionários e entrevistas com os sujeitos participantes

da pesquisa.

O estudo também propõe contribuições para uma atitude crítico-reflexivo-

pedagógica por parte de todos os professores de língua estrangeira (inglês) diante dos

desafios que todo professor enfrenta em seu dia-a-dia. Não podemos jamais esquecer que o

mundo vive um processo de mudanças que acontecem de uma forma acelerada, e que os

alunos precisam ser preparados para acompanhar estas mudanças, de modo a integrar-se à

comunidade contemporânea.

Palavras-chave: Língua estrangeira (inglês) – Cultura – Parâmetros Curriculares

Nacionais - Ensino Fundamental.

CAPITULO 1

INTRODUÇÃO GERAL E OBJETIVOS

1.1. Introdução

Desde a antigüidade, a imposição de culturas estrangeiras ou mesmo a adoção

de hábitos, costumes e tradições de outros povos, tem levantado questionamentos

interessantes, que revelam fatores reais, porém preocupantes. Na história geral lemos sobre

a conquista de Jerusalém pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, no ano 605AC, que é

relatado na Bíblia no livro de Daniel capítulo 1 versículos 3 e 4 da seguinte forma:

“ Disse o rei /.../ que trouxesse /.../ jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutores em ciências, e versados no conhecimento, e que fossem competentes para assistirem no palácio; e lhes ensinasse a cultura e língua dos caldeus”.

Todo povo conquistador tem a preocupação de ensinar ao povo conquistado a

sua língua, os seus costumes, tradições, a sua cultura como maneira de comprovar seu

domínio e poder.

Muito já foi comentado, escrito e falado com relação à questão da cultura no

ensino de língua estrangeira (inglês), embora estas pesquisas tenham sido realizadas em

lugares onde predominava o colonialismo inglês, como a Índia, Hong Kong, Singapura, e

a Malásia. (Pennycook 1994; Phillipson 1992; Kramsch 1996).

A nós interessa a questão da língua inglesa nos tempos modernos, em nosso

país, o Brasil. Está em foco a enorme influência da língua inglesa nas linguagens técnicas,

acadêmicas, de propaganda e até mesmo no cotidiano do povo.

No Brasil existem alguns estudos como por exemplo, os de Moita Lopes,

1996; Busnardo, J. & Braga, D. 1987; Busnardo, J. & El Dash, L. Mimeo; Brito, I. A.,

1999, que tratam deste assunto, mesmo que este país não tenha vivido qualquer

“colonialismo” inglês propriamente dito.

Até há pouco tempo, não havia obrigatoriedade no ensino de qualquer língua

estrangeira nas escolas de nível fundamental e médio. A Lei de Diretrizes e Bases (1996) e

a Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos, expressam que a aprendizagem de uma

língua estrangeira, juntamente com a língua materna, é um direito de todo cidadão.

Tornou-se assim obrigatório o ensino de uma língua estrangeira no ensino fundamental e

médio fazendo com que escolas que anteriormente não tinham a disciplina “Língua

Estrangeira” em seus currículos, optassem pela língua estrangeira “inglês”.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que servem para dar apoio às

discussões e ao desenvolvimento do projeto educativo nas escolas, levando a uma maior

reflexão sobre a prática pedagógica, e contribuindo para uma melhor atualização

profissional, afirmam que a aprendizagem de uma língua estrangeira propicia uma

autopercepção mais significativa como ser humano e como cidadão.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais ainda afirmam que esta escolha é

arbitrária, dependendo da função que a língua desempenha na sociedade e da influência de

uma determinada língua estrangeira em dado ponto geográfico – como por exemplo, o

espanhol em regiões de fronteira com os demais países de língua espanhola da América do

Sul.

No entanto, a língua inglesa é sem dúvida a língua estrangeira mais adotada

nas escolas de ensino fundamental e médio no Brasil, quer sejam particulares ou públicas.

Se, portanto, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a

aprendizagem de uma língua estrangeira leva a uma auto-percepção mais significativa

como ser humano e como cidadão, pergunta-se como é possível alcançar esta percepção.

Seria por meio de uma aceitação passiva de códigos lingüísticos ou através de uma

negociação lingüística dentro da dimensão cultural da língua estrangeira em questão em

contraposição à dimensão cultural da língua materna? É uma preocupação de educadores e

pesquisadores do ensino/aprendizagem de língua estrangeira (inglês) definir que tipo de

aprendizagem cultural contribui para a formação desse sujeito crítico. O “que” ensinar em

cultura e o “como” ensinar cultura são assuntos carentes de definições claras, e que, muitas

vezes, deixam o professor à deriva, sem orientação, aberto à influência de toda propaganda

anglofônica existente na mídia.

9

1.2. Justificativa

O objetivo geral deste estudo é portanto contribuir para que os professores do

ensino fundamental tenham uma melhor compreensão do que seja realmente essa “questão

cultural” no ensino de língua estrangeira (inglês).

De uma forma mais específica pretendemos:

identificar no ensino/aprendizagem, questões da cultura da língua inglesa

que influenciam valores, opiniões e crenças de professores, a partir de uma

análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

investigar/determinar o motivo que leva à escolha da língua estrangeira

ministrada nas escolas de ensino fundamental.

oferecer contribuições para uma atitude reflexivo-pedagógica diante dos

desafios impostos aos professores de língua estrangeira (inglês).

O presente estudo não pretende comprovar hipóteses de uma forma

quantitativa. Outrossim, tenta analisar os dados coletados (questionários, entrevistas e

notas de campo) a fim de constatar a realidade atual do ensino da língua/cultura inglesa,

com o intuito de contribuir para a formação de um professor crítico dentro deste contexto

brasileiro.

1.3. Perguntas de Pesquisa

Assim, esta pesquisa pretende encontrar respostas às seguintes perguntas de

pesquisa:

1. como se deu a escolha da língua estrangeira nas escolas da cidade em

estudo?

2. qual é o efeito que esta escolha tem sobre os profissionais de educação de

língua estrangeira com relação à sua própria cultura e à cultura da língua

estrangeira que ministram (inglês)?

10

3. os professores vêem o ensino de língua estrangeira como “trabalho”, ou

se aproveitam das aulas para “glorificar” a cultura dos povos de língua

inglesa fazendo comparações negativas com relação ao Brasil?

4. os professores acreditam que a aprendizagem de uma língua tem influência

na formação da cidadania do aluno visando ao seu enriquecimento pessoal?

Como eles vêem as determinações dos Parâmetros Curriculares Nacionais

com relação à questão da cultura, no desenvolvimento crítico-reflexivo do

aluno, tornando-o um cidadão mais engajado, mais consciente?

5. o ensino de língua estrangeira seria usado como ferramenta de poder,

propagando um discurso que apresenta vantagens a quem compartilha

desta “lingua franca”?

Tentaremos, ao longo da pesquisa, encontrar respostas para estas questões,

como também pretendemos fazer algumas contribuições para uma pedagogia crítica

fundamentando-nos em trabalhos de vários autores, principalmente aqueles que trabalham

a questão da cultura.

1.4. Metodologia

Esta pesquisa de cunho qualitativa, analítico-descritiva de caráter

interpretativista, foi desenvolvida através de questionários respondidos por professores do

ensino fundamental de escolas da rede pública e da rede particular. Inicialmente foi

aplicado um questionário “Piloto” a um professor que ministra aulas de língua inglesa na

rede pública e outro na rede privada que não estão ministrando aulas nas escolas

selecionadas para a pesquisa. Este questionário “Piloto” teve por objetivo detectar alguma

falha na redação das perguntas, como também cronometrar o tempo utilizado para

respondê-lo.

Posteriormente, os questionários foram aplicados aos professores nas escolas

selecionadas. A seleção das escolas foi realizada por intermédio de indicações de uma

colega de trabalho, que é diretora de uma das escolas estaduais e que sugeriu outras

diretoras, suas amigas que sempre se dispunham a participar de pesquisas como esta.

11

Dentre estas, foram escolhidas duas escolas públicas de periferia, duas escolas públicas de

centro e duas escolas privadas. As escolas particulares foram selecionadas mediante

contato direto com a direção das mesmas e que aceitaram participar da pesquisa. Fazendo a

pesquisa no setor público e privado, nossa intenção foi envolver estes dois setores da

realidade educacional brasileira. Como as escolas públicas atuam no centro e na periferia,

não seria justo deixar de contemplar uma ou outra destas áreas. Por meio de um telefonema

foi feito o primeiro contato o qual foi muito bem aceito junto às escolas públicas, que se

prontificaram em abrir suas portas para qualquer atividade, quer seja para assistir aulas,

fazer entrevistas, etc.. Nenhuma escola recusou-se a participar da pesquisa, como também

não houve qualquer hesitação em dar a permissão devida para a realização de qualquer

atividade que fosse necessária para o bom andamento da mesma.

Por outro lado, é preciso dizer que nas escolas particulares, a receptividade

foi muito diferente. Três escolas contatadas de início negaram-se a participar do projeto

alegando motivos variados. A próxima prontificou-se imediatamente, demonstrando toda

boa vontade em colaborar. Uma outra marcou entrevista pessoal que foi adiada, mas

finalmente, ao compreender a natureza do projeto, também abriu suas portas à pesquisa. Os

questionários foram analisados com base na fundamentação teórica obtida por meio das

leituras realizadas. Todas as respostas foram tabuladas para fácil acesso na análise.

Posteriormente foi realizada uma entrevista com os mesmos professores para se

obter mais clareza em certos aspectos do questionário. As entrevistas foram gravadas, e

transcritas em sua íntegra, sendo também analisadas, fazendo-se uma comparação com os

questionários já respondidos, e finalmente todos os dados foram confrontados com os

pareceres dos Parâmetros Curriculares Nacionais relacionados ao ensino de Língua

estrangeira.

Nos próximos capítulos apresentaremos e discutiremos o arcabouço teórico,

faremos uma breve discussão de paradigmas de pesquisa, nos atendo com mais

profundidade ao paradigma da pesquisa interpretativista que norteou a realização deste

trabalho; apresentaremos também o contexto da pesquisa, seguido pela análise dos dados

colhidos nos questionários, entrevistas e notas de campo. Finalmente, apresentaremos as

nossas conclusões e recomendações.

12

CAPITULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Introdução

Nos dias de hoje é necessário que o professor de língua estrangeira (inglês)

entenda a posição ocupada pela língua inglesa no contexto mundial, como ela é

considerada por todas as pessoas, escolarizadas ou não, e seu reconhecimento como

língua internacional, a “lingua franca” que abre portas para o acesso a diálogos em

qualquer área, lugar e momento.

Pennycook (1994) nos alerta sobre uma idéia que circula pelos bastidores do

ensino de língua estrangeira, aceita pela maioria sem muito questionamento, de que a

decisão de qualquer pessoa ou instituição educacional na escolha do ensino/aprendizagem

de língua estrangeira (inglês) acontece de uma forma:

“natural”, porque apesar do aspecto de imposição desta língua pelos

colonizadores em lugares como a Índia, Singapura, Nigéria, etc., ela se

espalhou como resultado inevitável de forças globais (econômicas, políticas

comerciais, etc..);

“neutra”, porque a partir do momento em que se distancia de seus contextos

originais, ela se torna um meio de comunicação totalmente transparente;

“benéfica” a todos que a aprendem, porque os defensores desta teoria,

acreditam que a comunicação internacional na língua inglesa acontece de

igual para igual.

Fishman (1977) afirma que a língua inglesa não se manifesta sobrecarregada

de ideologia (ênfase nossa), o que muitos autores rebatem ao relatar suas experiências e

conclusões de pesquisas em países que viveram a colonização inglesa. O poeta Roland

Tombekai Dempster, em seu poema “Africa”s Plea” (O apelo da África) expressa de uma

forma bem clara este sentimento de insatisfação vivido por aqueles a quem foi imposto o

“falar, agir e pensar” de uma outra nação, de uma outra cultura.

Neste momento nossa preocupação está na criação de novos significados,

resultantes daquilo que envolve o falar uma língua estrangeira. De acordo com Pêcheux,

“O significado de uma palavra, expressão, proposição, etc., não existe “em si mesmo” (quer dizer, na sua relação transparente com o caráter literal do significante), mas é determinado pelas posições ideológicas trazidas à tona no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (ou reproduzidas) ... Palavras, expressões, proposições, etc., mudam seu significado de acordo com a posição ocupada por aquele que as usa, o que significa que elas encontram seus significados pela referência às posições, quer dizer, pela referência às formações ideológicas ... nas quais estas posições estão inseridas.”2 (1982, p 111; ênfase no original.)

De acordo com Pennycook (1994) é de extrema importância que entendamos a

questão da língua inglesa em si, de um ponto de vista mais amplo, que inclua a

compreensão do fato de que esta língua é falada em todo o mundo, e conseqüentemente

está inserida em inúmeros contextos culturais diferentes, muitas vezes se misturando a eles.

No entanto, percebe-se a necessidade de considerar a língua não apenas em

termos de um sistema de linguagem (a língua inglesa e suas variações) como também em

termos das posições sociais, culturais e ideológicas das pessoas que a usam.

2.2. A posição da língua inglesa no mundo

Hoje, início do século XXI, quando se fala em língua estrangeira,

automaticamente pensa-se em língua inglesa. Quais são os fatores que levaram a essa

globalização, que apresentam sem titubear a língua inglesa como a “lingua franca”?

2 “The meaning of a word, expression, proposition, etc., does not exist ‘in itself’ (i.e. in its transparent relation to the literal character of the signifier), but is determined by the ideological positions brought into play in the socio-historical process in which words, expressions and propositions are produced (i.e. reproduced) ... Words, expressions, propositions, etc., change their meaning according to the positions held by those who use them, which signifies that they find their meanings by reference to those positions, i.e. by reference to the ideological formations ...in which those positions are inscribed.” (Pêcheux 1982, p. 111. Emphasis in original).

14

Sem dúvida alguma, as grandes conquistas do império britânico no século XIX

são responsáveis pelo primeiro impulso dado a essa língua nesse seu processo de

globalização. Porém, o império britânico hoje já não mais existe como tal, mas outras

forças e processos como o desenvolvimento tecnológico, a interdependência mundial no

setor da economia, o crescimento e aperfeiçoamento dos meios de comunicação mundial,

têm agido de forma contundente na manutenção da hegemonia da língua inglesa no mundo.

“A língua inglesa é usada como oficial ou semi-oficial em mais de 60 países e ocupa posição importante em outros 20. Ela é dominante ou está firmemente estabelecida em todos os 6 continentes. É a língua mais usada em livros, jornais, aeroportos e controle aéreo, negócios internacionais e conferências acadêmicas, ciências, tecnologia, medicina, diplomacia, esporte competições internacionais, música popular e propaganda.(...) Todos os anos o Conselho Britânico ajuda 25 milhões de estudantes estrangeiros a aprender a língua inglesa em vários países do mundo. Apenas nos Estados Unidos, 337.000 estudantes estrangeiros foram registrados em 1983.” (Crystal, 1987: 358)3

Perguntamos porém, quais foram os prejuízos que surgiram como resultado do

processo que levou a essas estatísticas acima?

Nos Estados Unidos, as crianças das tribos dos índios Navajo foram obrigadas

a freqüentar escolas dirigidas por ingleses, alfabetizadas e aculturadas na língua inglesa,

adquirindo valores, costumes e estilo de vida que não o seu. Segundo Phillipson (1992),

era como se esses povos étnicos minoritários não fossem “humanos” e para se

humanizarem, seria preciso aprender a língua inglesa e se comportar de acordo com os

valores de uma sociedade capitalista.

Na África, as escolas pouco a pouco vêm “impondo” (Phillipson 1992) o uso

da língua global, abafando os dialetos e valores locais. Pennycook (1994) também trata

deste assunto, e segundo ele, do ponto de vista da ideologia imperialista, a África se

encontrava em uma situação de costumes selvagens deploráveis que precisavam ser

combatidos em nome da civilização. Ele fala ironicamente de como a África se tornou

“negra – escura”, uma vez invadida pela “luz” desta ideologia imperialista “branca”. E os

africanos se dispuseram a demonstrar que eles eram capazes de adquirir habilidade na

3 “English is used as an official or semi-official language in over 60 countries, and has a prominent place in a further 20. It is either dominant or well-established in all six continents. It is the main language of books, newspapers, airports and air-traffic control, international business and academic conferences, science, technology, medicine, diplomacy, sports, international competitions, pop music, and advertising.(...) In any one year, the British Council helps a quarter of a million foreign students to learn English, in various parts of the world. In the USA alone, 337,000 foreign students were registered in 1983”. (Crystal 1987, p. 358)

15

língua “imperial”. Assim, para eles, a competência na língua inglesa era um grande passo

na contradição do mito racial sobre a mentalidade retardada do negro.

Em outros contextos, como por exemplo na Singapura, é política do governo

estabelecer a língua inglesa como a língua oficial e ensinada nas escolas. Na Índia, apesar

de esforços para o enfraquecimento da língua inglesa, ela continua sendo o meio de

instrução na educação superior. Desde o início da colonização inglesa, a imposição da

língua foi entendida como uma forma de modernizar o país, e de acordo com Lorde

Macauly em 1834 citado por Khubchandani (1983: 120) os indianos seriam “uma classe

de pessoas de sangue e cor indiana, mas ingleses nos gostos, nas opiniões, na moral e no

intelecto”.4

De acordo com Phillipson (1992), a língua inglesa nesses países tem uma

importância dupla: internamente ela ocupa o lugar que outras línguas locais poderiam

ocupar, e externamente ela funciona como elo político, comercial, científico, tecnológico,

militar, turístico e de entretenimento. Assim, o relacionamento entre a língua inglesa e as

línguas nativas dos diversos países colonizados por ingleses é um relacionamento de

desigualdade, o que leva a grandes conseqüências em quase todos os âmbitos da vida.

Pennycook (1994) fala dos acontecimentos da década de 30, em que grandes

fundações foram criadas como a Ford e a Rockefeller, as quais muito trabalharam na

difusão da língua inglesa. Na Inglaterra, o rei Edward VIII teve um papel importante na

criação do “British Council for Relations with Other Countries” (Conselho Britânico para

Relações com Outros Países), e os objetivos deste conselho foram definidos da seguinte

forma:

“A base de nosso trabalho tem que ser a língua inglesa... e nosso alvo é algo mais profundo do que o mero conhecimento de umas poucas palavras. Nosso objetivo é levar o maior número possível de pessoas a apreciarem totalmente as glórias de nossa literatura, nossa contribuição para as artes e ciências e nossa participação preeminente na prática política. A melhor maneira de alcançar estes objetivos é promovendo nossa língua em outros países”.5

4 “A class of persons Indian in blood and colour, but English in taste, in opinions, in morals and in intellect”. (Khubchandani 1983:120)

5 “The basis of our work must be the English language ... (and) we are aiming at something more profound than just a smattering of our tongue. Our object is to assist the largest number possible to appreciate fully the glories of our literature, our contribution to the arts and sciences, and our pre-eminent contribution to political practice. This can be best achieved by promoting the study of our language abroad”. (Quoted in White, 1965)

16

Phillipson (1992) e Pennycook (1994) fazem um comentário sobre o livro do

escritor Daniel Defoe, intitulado Robinson Crusoe (1719), afirmando-nos ser esta a

primeira publicação que discute a questão do ensino de língua inglesa frente a outra cultura

embora não sendo um livro didático, e sim um romance que conta a história de um homem

(inglês) em uma ilha deserta fazendo amizade com um nativo “Man Friday”. Eles afirmam

que quando passaram a produzir as primeiras publicações simplificadas (livros

paradidáticos) para estudantes de língua inglesa, o primeiro título escolhido foi justamente

este: Robinson Crusoe (Longman New Method Series, 1926). Salientam ainda a atitude

de Robinson Crusoe em imediatamente começar a ensinar Man Friday a sua língua (inglês)

ao invés de querer aprender a língua de Man Friday. Esta sua atitude é significativa na

história da expansão da língua inglesa, e como sugere Pennycook (1994) leva a um

questionamento sobre a nossa atitude como professores de língua inglesa. Até que ponto

estamos seguindo exatamente os passos de Robinson Crusoe? A nossa atitude como

professores demonstra uma postura de imposição lingüística e cultural a ponto de ofuscar

e deixar de lado a cultura da língua materna? Estamos ensinando novos valores, ideais,

tentando “criar” novas mentalidades, porém fundamentadas em uma cultura ou em valores

que não são os próprios, baseados em raízes que não são naturais? Perguntaríamos então,

o que realmente é cultura? É o que vamos discutir a seguir.

2.3. Definição de Cultura

É necessário adotar um significado para a palavra “cultura” e seu papel no

mundo. Williams (1976) fala da grande dificuldade em se definir satisfatoriamente a

palavra “cultura”. Pennycook (1994) reúne algumas definições diferentes, quais sejam:

cultura é um conjunto de valores superiores que adquirem forma através da

arte, e consequentemente estão ao alcance de uma pequena elite.

cultura é uma forma de vida, é a essência de um povo.

cultura é um conjunto de valores que são impostos à maioria por aqueles

que estão no poder.

cultura é a maneira diferente em que pessoas diferentes dão significado à

sua vida.

17

Kramsch (1996) afirma que a palavra “cultura” é muitas vezes confundida com

a palavra “social”, ou pelo menos equiparada a aquela, principalmente quando se fala em

fatores “socioculturais” que afetam o ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira. Ela

acredita que as duas palavras (“cultura” e “social”) podem se referir ao que ela afirma

serem os dois lados da mesma moeda: o contexto sincrônico e o contexto diacrônico em

que uma língua é usada em comunidades discursivas organizadas. De acordo com Lyons

(1987) contexto sincrônico seria o que se refere ao não-histórico, à imagem da língua tal

qual ela se encontra em determinado ponto no tempo, enquanto que o contexto diacrônico

se refere a histórico, ao desenvolvimento e às mudanças que acontecem em uma língua ao

longo do tempo.

Para Kramsch (1996), ambos os termos têm a ver com o lugar ocupado por

uma pessoa dentro de seu grupo social, uma vez que, segundo a autora, um lugar no mapa

é também um lugar na história. Ela deixa claro assim, que a palavra “cultura” pode se

referir a pelo menos duas maneiras de definir uma comunidade social.

Primeiramente, ela define a palavra “cultura” do ponto de vista das ciências

humanas, dizendo que, nesta perspectiva, há um enfoque na maneira como o grupo social

representa outros grupos e o seu próprio, por meio de sua produção, tal como arte,

literatura, instituições sociais, utensílios de uso diário e mecanismos para reprodução e

preservação através da história. Nesta linha, a análise da questão “cultura” será realizada

sob uma abordagem histórica, baseada no estudo da tradição escrita de textos; isto leva a

uma compreensão do presente e faz predições sobre o futuro, baseadas no passado. Sua

autoridade vem das instituições acadêmicas, as guardiãs do academicismo que codificaram

as regras da exegese e interpretação de textos escritos.

Em segundo lugar ela coloca a palavra “cultura” no âmbito das ciências

sociais. Deste ponto de vista, cultura se refere às atitudes, às crenças, às maneiras de

pensar, de se comportar e de lembrar fatos compartilhados pelos membros de uma dada

comunidade. Nesta linha, a abordagem é etnográfica, baseada em coleta de dados,

observação e análise de fenômenos, principalmente via oral; isto leva a uma compreensão

do presente por meio de uma análise dos acontecimentos vistos, sob o ponto de vista de sua

relação com outros acontecimentos e de sua diversidade social. Sua autoridade se apoia na

descoberta de leis que regulam a vida social.

Richard Brislin (1990:11) define a palavra cultura de forma bastante clara, e

neste trabalho entendemos a palavra “cultura” a partir da seguinte abordagem:

18

“ideais, valores, criação e emprego de categorias, concepções sobre a vida, e atividades dirigidas, que inconscientemente ou subconscientemente são aceitas como “certas” e “corretas” pelas pessoas que se identificam como membros de uma sociedade.”6

A cultura está sempre ligada a questões morais, pois as normas, leis e regras

sociais não são inventadas pelos cientistas, são criadas constantemente pelo próprio povo

no seu dia-a-dia. E são essas normas que distinguem significância cultural de casuísmo

natural. Pelo fato de essas normas sociais permitirem uma certa antecipação de

comportamentos, muitas vezes adquirem uma rigidez moral, que pode até levar à criação

de estereótipos e preconceitos. Elas de certa forma fazem com que a cultura seja

considerada como algo “natural”, e Kramsch (1996) compara esta naturalidade com o

próprio ato de respirar, fazendo com que outras culturas se tornem “não naturais”. Assim, a

cultura anda junto com valores morais, concepções do que seja bom ou ruim, certo ou

errado, bonito ou feio.

A cultura também é arbitrária, e é por isto que para se tornar legítima, se

justifica e mascara suas leis sob uma capa do que é “certo e justo”, tornando-se

ideologicamente legitimada, o que permite ser naturalmente vista daquela maneira.

Transmitir “cultura” não é apenas ensinar como as coisas são hoje e como já

foram, mas também como poderiam ter sido ou até mesmo como podem vir a ser. É difícil

para qualquer ser humano imaginar culturas diferentes da sua própria. É preciso quebrar

estereótipos, compreender que cada ser humano é único, diferente, e qualquer um de nós

poderia ter sido outro qualquer, dadas as circunstâncias diferentes. Portanto, além de ser

história e ciência social, a cultura também é literatura, porque é ela que permite aos leitores

se imaginarem vivendo a vida de outras pessoas. Kramsch (1996) assim afirma que a cultura

se constitui nestes três contextos: o contexto diacrônico do tempo, o contexto sincrônico do

espaço, e o contexto metafórico da imaginação.

Por que falar em cultura se estamos falando do ensino/aprendizagem de uma

língua estrangeira? Pensemos da seguinte forma: a língua é a mediadora da cultura; a

cultura é interpretada pela língua; a cultura é conservada e relatada através da língua. A

tendência mundial é a busca da informação, levando a uma dependência cada vez maior da

troca de informação – e a linguagem e as línguas ocupam posição central nesta troca.

6 “ideals, values, formation and uses of categories, assumptions about life, and goal-directed activities that become unconsciously or subconsciously accepted as ‘right’ and ‘correct’ by people who identify themselves as members of a society”. (BRISLIN, 1990:11)

19

Consequentemente, quando se fala em língua, fala-se em cultura, e quando se fala em

cultura, fala-se em língua. Elas andam de mãos dadas.

A língua tem um papel de grande importância na construção de uma cultura,

como também nas mudanças em uma cultura. Qualquer mudança social acontece de uma

forma lenta. Acredita-se também que ensinar aos membros de uma comunidade como falar

e se comportar no contexto de outra comunidade discursiva, de certa forma muda a relação

social e cultural das duas comunidades, por meio de uma diversificação sutil dessas

mesmas culturas.

Kramsch (1996) ainda comenta que essa visão da construção social da cultura

por meio da língua, não é um ponto de vista familiar à maioria dos professores desta área,

que acreditam ser a cultura um aglomerado de atitudes e idéias existentes

independentemente da língua.(ênfase nossa)

A autora postula que apesar desta alienação foi possível estabelecer uma

ligação entre o ensino de língua e o ensino de cultura, e ela relaciona três ligações distintas:

a universal, a nacional e a local.

Ela afirma que no período em que as únicas línguas ensinadas academicamente

eram o latim, o grego clássico ou o hebraico, ficava bem claro que o modelo cultural

destas línguas era repassado juntamente com o seu ensino. O acesso a estas línguas era o

cartão de entrada para a elite acadêmica da cultura européia. Com relação ao ensino de

línguas modernas, o intuito era ter acesso às obras literárias pertencentes ao cânone, que

repassavam aos que as liam, um ponto de vista cosmopolita, religioso e estético que

acabaria por ser compartilhado pelos falantes de várias línguas.

Para esta autora, com o desenvolvimento da crítica literária e o crescimento da

lingüística como ciência, houve uma cisão entre o ensino de língua e o ensino de cultura,

porque o ensino de língua passou a ser considerado como a aquisição de habilidades dentro

de limites estruturais ou funcionais bastante rígidos, e a cultura era muitas vezes

considerada a 5a habilidade (falar, ouvir, ler, escrever, compreender cultura). Nessa

perspectiva, perde-se a visão da função mediadora da língua na construção social da

cultura. O ensino de cultura desenvolve-se separadamente do ensino de língua, sendo

apresentado sob a forma de “notas culturais” ao final de cada unidade de estudo do livro

didático.

No entanto, na década de 70, o ensino de língua tornou-se mais democrático e

social. Seu objetivo era atender às necessidades de falantes e ouvintes em um contexto de

comunicação local. Assim, o ensino do componente cultural passou a ser visto como as

20

funções e noções pragmáticas que se expressam por meio da língua nas situações de

comunicação do dia-a-dia. Essa noção de cultura entendida como as palavras e ações de

um falante nativo em situações informais do dia-a-dia salientou o contexto sincrônico do

uso da língua.

Phillipson (1992) comenta que até mesmo essa abordagem pragmática do

ensino de língua pode ser imperialista se assumir a posição de que as necessidades básicas

universais do ser humano correspondem automaticamente às idéias e aos ideais universais

compartilhados, sobre as maneiras de pensar e falar a respeito dessas necessidades.

A questão da cultura no ensino de língua estrangeira, segundo Kramsch (1996)

se defronta com um dilema: deve enfocar as coisas em comum ou deve enfatizar as

diferenças entre a cultura materna e a cultura da língua estudada? Ela questiona ainda até

que ponto os professores de língua estrangeira devem exigir que seus alunos se conformem

às convenções de uso lingüístico, e normas de interpretação de pessoas nativas.

Existem hoje no mundo duas tendências educacionais que fazem uma tentativa

de superar as particularidades culturais através de “pontos” que ligam uma cultura à outra.

Uma tendência pedagógica na Europa utiliza com freqüência o termo “intercultural” no

âmbito da educação, para caracterizar a aquisição de informações sobre costumes,

instituições e história de uma sociedade que não seja a sua própria. Acadêmicos e políticos

têm lutado contra esta tendência, pois afirmam que professores de língua são os

responsáveis pelo ensino de língua, e não cultura ou política. Para eles, quem quer

aprender algo sobre a cultura de um país deve viajar para este país e experimentar a cultura

“in loco”. Nos Estados Unidos, a tendência pedagógica introduziu o termo “multicultural”

que se preocupa com a incorporação de questões relacionadas à raça, posição social e

gênero no programa tradicional, com objetivo de sensibilizar os alunos com relação à

realidade histórica que de certa forma colaborou na definição da cultura nos Estados

Unidos. O multiculturalismo tenta diminuir as diferenças nacionais e salientar a

diversidade social e o pluralismo cultural que existe dentro de uma nação, devido às

diferenças étnicas, sociais e de gênero.

É muito fácil para qualquer pessoa acreditar que a cultura de seu próprio país é

universalmente aceita, é “a cultura” que todos os seres humanos conhecem e aceitam.

Porém, a língua estrangeira continua sendo ensinada como se fosse um sistema

fixo de estruturas formais, funções discursivas universais e um meio para a transmissão de

conhecimento cultural. Assim, as questões de cultura são incorporadas à prática educativa

na medida em que reforçam ou enriquecem, porém não são utilizadas para questionar

21

limites entre a realidade própria e outra. Para Kramsch (1996), na realidade “os

professores ensinam língua e cultura, ou cultura na língua, mas não a língua como

cultura”. (ênfase nossa)7 Segundo Halliday (1978) a língua como semiótica social é o

ponto central na compreensão de como a realidade cultural é desenvolvida e representada.

Assim é necessário crer que essa realidade cultural é tão heterogênea e heteroglóssica

quanto a língua em si. É comum ouvir frases como “os latinos agem assim, os europeus

pensam dessa forma, os asiáticos falam assim”, mas o que realmente significa isso?

As características culturais estão embutidas nos relacionamentos históricos de

poder e autoridade que garantem o status social, profissional, político e pedagógico,

através das diversas maneiras de falar de cada um em um momento específico e em um

determinado lugar. O relativismo multicultural ou o pluralismo democrático não

conseguem uma reversão automática destas relações de poder e autoridade, apenas fazem

com que se tornem mais invisíveis.

Esta fundamentação (para o ensino de cultura através do ensino de língua),

afasta a dicotomia tradicional entre o universal e o particular. Ela se ocupa do particular

não para ser envolvido ou consumido por ele, mas como se fosse uma plataforma para o

diálogo, um ponto de partida nesta luta de resgate das diferenças. Esta é uma postura que

leva o aluno e o professor a assumirem o que dizem, e reafirma ao professor de língua, a

sua responsabilidade social e política.

Se conseguirmos entender que cultura e língua não se separam, começaremos a

incorporar estas idéias a um planejamento que leve em conta os objetivos educacionais, o

ser humano e suas necessidades dentro da sociedade em que vive e no mundo. Com base

nestas premissas, tentaremos, a seguir, propor algumas questões que se referem à

elaboração de um planejamento.

2.4. Planejamento

Paiva (1996) nos fala da importância de um objetivo bem definido na

elaboração de um planejamento. Se somos capazes de perceber de uma maneira bem clara,

desde o início do processo, o que se quer e onde se quer chegar, com certeza a tarefa será

mais fácil e produtiva.

7 “... teachers teach language and culture, or culture in language, but not language as culture.” (Kramsch 1996:7)

22

Todo planejamento educacional envolve o ser humano, este indivíduo que

aprende, que reconhece a responsabilidade e a importância de ser alguém, de ser um

cidadão, porém, ao mesmo tempo, reconhece a responsabilidade do SER no cosmos.

Ela ainda afirma que, levando em conta este indivíduo sensível, ético e

holístico, é preciso propiciar a ele espaços cognitivos e afetivos, na busca da formação de

seres críticos, democráticos, que apresentem capacidade de compreensão, capacidade de

produção, capacidade de relacionar conhecimentos já adquiridos com novos

conhecimentos, que saibam expressar sua afetividade, agindo de uma forma atuante e

transformadora.

Em se tratando de planejamento de um curso de língua, muitos fatores ocupam

lugar de destaque no seu bom ou mau desempenho. Como nos mostram Dubin e Olshtain

(1986), algumas perguntas se apresentam como imprescindíveis e suas respostas

oferecerão informações importantes para a elaboração do programa. São elas:

quem são os alunos?

quem são os professores?

por que este programa está sendo elaborado?

onde o programa será implementado?

como este programa será implementado?

Duas técnicas básicas serão utilizadas nesta coleta de dados: a coleta de

informações junto a departamentos de governo, em documentos, relatórios e a aplicação de

questionários e entrevistas que possibilitem a percepção de sentimentos e atitudes objetivos

e subjetivos na comunidade.

Para Dubin e Olshtain (1986) analisando os dados coletados, é possível se

perceber vários pontos relevantes.

O primeiro deles é o contexto em que a língua estrangeira se insere. Pode ser

que haja uma forte tendência positiva com relação ao ensino da língua estrangeira, como

também poderia haver indiferença ou até mesmo negativismo com relação a ela. Fatores

afetivos individuais ou coletivos podem interferir no desempenho dos alunos e com certeza

representam uma faceta que precisa ser levada em conta na elaboração de um programa de

língua estrangeira.

O segundo ponto se refere aos padrões de uso da língua na sociedade. Nesse

item, é necessário primeiramente analisar o papel da língua estrangeira (inglês) na

educação. Qual é o papel do inglês na vida dos estudantes? Existe coerência entre as

23

necessidades gerais e os resultados que se vem obtendo no ensino fundamental e médio?

Um fato que mostra indícios de insatisfação são as inúmeras escolas particulares que

funcionam fora do sistema educacional oficial, justamente para suprir esta falha no

sistema. Apontam para uma discrepância entre as realizações do programa instrucional de

inglês frente às necessidades da sociedade. Dados oficiais podem ser obtidos junto às

secretarias de educação. Em decorrência desta constatação, é preciso fazer uma análise do

programa instrucional existente, no que se refere a resultados obtidos, plano, livros

didáticos utilizados, métodos aplicados, programas para treinamento de professores e as

opiniões dos professores, pais e alunos. Em seguida, é preciso analisar o mercado de

trabalho. Ele exige conhecimento da língua inglesa? Em que área (escrita, fluência,

leitura)? Como está o nível de competência daqueles que procuram emprego? Outro fator

importante é o processo de modernização que vai fornecer informação sobre o contexto em

que a pessoa precisará usar a língua estrangeira. Haverá necessidade de viagens a negócio

para o exterior, participação em seminários e conferências em que se espera o uso da

língua inglesa? Haverá necessidade de receber e acompanhar técnicos, palestrantes

estrangeiros? Assim sendo, que nível de proficiência será necessário?

O terceiro ponto tem a ver com as atitudes individuais e de grupo com relação

à língua. As necessidades de uma sociedade podem ser avaliadas de forma qualitativa e

quantitativa, no entanto o sucesso de qualquer programa só pode ser avaliado levando em

conta as atitudes individuais e de grupo com relação à aprendizagem da língua. Essas

atitudes podem ser divididas em duas categorias: primeiramente as atitudes com relação à

língua e às pessoas que a usam como nativos e à cultura que ela representa e, em segundo

lugar, as atitudes com relação ao processo de aprendizagem em si relacionado às

necessidades prementes, e os resultados alcançados no programa existente.

O quarto ponto refere-se ao contexto sócio-político. As questões políticas,

sociais e econômicas estão intrinsecamente ligadas umas às outras, e também são um fator

importante nesta fase de coleta de dados. Se existe uma abertura por parte do governo, há

possibilidade de um espaço considerável a ser ganho pela língua em questão. Por outro

lado, se os sentimentos nacionalistas forem bastante fortes, buscando a manutenção da

pureza da língua nacional, haverá uma grande resistência, até mesmo no empréstimo de

termos estrangeiros.

Portanto, qualquer pessoa que se proponha a elaborar um programa, precisa ter

respostas claras a estas questões, para que seu programa seja condizente com a realidade e

com as expectativas daqueles a quem o mesmo está sendo proposto.

24

Após a análise feita dos dados coletados, as informações obtidas servirão de

base para as tomadas de decisão no sentido de operacionalizar o programa. Serão

estabelecidos seus objetivos gerais, que podem ser os de permitir uma melhor comunicação

com o restante do mundo, ou mesmo aprender uma outra língua por razões de crescimento

e enriquecimento pessoais. Com relação a um programa implementado em escolas

fundamentais, seria necessário investigar se os alunos pretendem parar seus estudos nesse

nível, ou se pretendem dar continuidade no ensino médio. Nesse caso, os objetivos do

programa seriam finais para quem interrompe seus estudos, porém intermediários para

aqueles que continuarão. Existe também a possibilidade de empresas investirem em seus

funcionários oferecendo cursos para uso em áreas específicas (inglês instrumental). Assim,

se faz uma definição do público alvo, suas necessidades, observando questões como idade,

interesses, expectativas. Existe no mundo do ensino de língua um fator importante que diz

respeito àquilo que está em voga no âmbito da lingüística, decorrente dos estudos e

pesquisas realizadas. Quais as orientações que embasam o ensino de uma língua? Elas

enfatizam a análise ou o uso da língua? Isto será traduzido em um enfoque gramatical e

filosófico (análise da língua) ou em um enfoque pragmático.

Dubin e Olshtain (1986) ainda afirmam que uma verificação dos programas

existentes é aconselhável com o intuito de perceber o motivo do novo projeto. Seria para

sanar deficiências ou para desenvolver e melhorar o programa existente? Para isto se faz

necessário uma análise do programa em uso, abrangendo os seguintes itens:

Em primeiro lugar, uma análise do plano existente. O plano é um documento

de extrema importância, porque ele descreve o objetivo do curso, com detalhamento do

conteúdo (o que), sua ordenação em níveis (quando), os procedimentos, técnicas e

materiais (como) e como será o mecanismo de avaliação. Em alguma parte deste

documento, é possível perceber a abordagem filosófica e educacional que subjaz a todo

programa. Se este plano existe, é um ótimo ponto de partida para se fazer o estudo da

situação existente. Porém, pode acontecer, que este documento não contenha a informação

necessária, ou então, que os objetivos estejam fora da realidade. Como também pode

haver situações em que não haja este plano. De qualquer forma ele terá que ser feito ou

reavaliado de acordo com os dados coletados.

Em segundo lugar, uma análise do material em uso é de extrema importância.

Algumas perguntas precisam ser respondidas neste item, como por exemplo, onde o

material foi produzido e quem foi responsável por ele, para que se possa verificar se ele

está inserido na realidade local, tendo sido desenvolvido por pessoas conhecedoras do

25

sistema e do público ou se foram produzidos por grupos que trabalham no mercado

internacional.

Também é muito importante verificar se o material didático é compatível com

o plano. Não adianta estar a par das pesquisas mais recentes se o material ainda for

antiquado. Este material oferece alternativas para professores e alunos? Cada ser humano

tem uma forma de aprendizagem e todo plano deverá refletir isto, apresentando alternativas

que permitem aos professores e alunos fazerem uma escolha que melhor se adeqüe à sua

situação de aprendizagem.

Quais habilidades são enfocadas no programa? Estão de acordo com o objetivo

geral já apresentado? Os textos são autênticos? São apresentados de forma que proporcione

ao aluno a oportunidade de estar em contato com os vários gêneros de texto que encontrará

em seu dia-a-dia? E qual é o depoimento de professores e alunos já engajados neste

programa?

Em terceiro lugar, o professor é uma figura de grande importância para o

sucesso de um novo programa e de um novo plano. As atitudes dos professores e suas

habilidades em se adequar a um novo paradigma e os reflexos desta nova postura em sua

prática, é de importância vital.

Portanto, ao se fazer uma avaliação dos professores, é necessário levar em

conta sua fluência, como foi seu curso de licenciatura, seu contato com a língua que vai

ministrar, sua experiência pedagógica, e sua atitude com relação às mudanças propostas.

Os professores precisam estar emocionalmente engajados no plano, e precisam ter bastante

flexibilidade, principalmente em planos que deixam muitas decisões nas mão dos

professores.

Em quarto lugar, devemos mencionar os alunos. Eles também são figuras

muito importantes em uma sala de aula, e a fim de que possam se tornar pessoas

responsáveis, talvez seja necessário mudar certos estereótipos de aluno e passar por um

período de “aprender como aprender”; neste processo é importante aprender a participar,

a trabalhar em grupos homogêneos ou não, e a tomar iniciativas no próprio processo de

aprendizagem.

Em quinto lugar, lembremos dos recursos. Quais se apresentam disponíveis ou

não, como o tempo que se tem para aprender a língua, a quantidade de alunos em uma

sala de aula, a disposição das carteiras, a iluminação e ventilação da sala, o equipamento

(gravador, posters, filmes), fatores que muitas vezes limitam a implementação de um

programa.

26

Todo e qualquer planejamento, como o próprio nome indica, precisa ser bem

pensado, seguindo passos bem definidos e apoiando-se em um projeto bem estruturado.

Normalmente é redigido um documento que vai nortear as ações a serem

tomadas. Este documento, via de regra, pode ser dividido em “programa” e “plano”.

Segundo Dubin e Olshtain (1986), o programa é a descrição mais ampla dos objetivos

gerais. Ele é permeado por uma filosofia educacional-cultural, juntamente com uma

orientação teórica a respeito do ensino de línguas. Muitas vezes as políticas nacionais

também se vêm presentes no programa.

O plano é um documento que apresenta os elementos da educação de uma

forma mais detalhada e traduz a filosofia do programa em uma série de passos que levam a

objetivos mais bem definidos.

Um programa pode ser a base para vários planos, cada um enfocando públicos

bem definidos e necessidades específicas. O programa se preocupa com o geral e, como se

apoia em filosofias e idéias também gerais, poderia ter orientação behaviorista, cognitivista

ou humanista. Isto porque as teorias educacionais normalmente baseiam-se em teorias

relacionadas ao ensino/aprendizagem de língua. Assim, o programa com orientação

behaviorista está ligado a um ponto de vista estruturalista da língua, e um ponto de vista

sobre o ensino/aprendizagem de língua baseado no estímulo-resposta. Programas com esta

abordagem tiveram grande êxito nas décadas de 50 e 60.

Porém, a lingüística transformista-generativa dos anos 60 levou a uma

mudança de ponto de vista e a abordagem no ensino de língua passou a enfocar a cognição.

Dos anos 70 até o presente momento, a abordagem humanista se associou ao

ponto de vista do ensino de língua que enfoca a comunicação.

Existem quatro abordagens bem conhecidas que já foram discutidas

extensivamente, em outros contextos, com relação às suas vantagens e desvantagens:

a abordagem de estrutura gramatical, que enfoca os tempos verbais, artigos,

o singular e plural, as formas adverbiais, etc..

a abordagem de noções semânticas, que se organiza em torno de áreas

gerais de compreensão como o espaço, o tempo, as obrigações, etc..

a abordagem funcional, queenfoca as funções sociais da língua como sendo

a unidade central de sua organização e consequentemente se preocupa com

elementos como convites, sugestões, pedidos de desculpa, recusas, etc..

27

a abordagem situacional, bastante conhecida pelas situações do dia-a-dia

constantes de livros de ajuda a turistas.

Se analisarmos estas quatro abordagens, poderemos chegar à conclusão que

para se conseguir resultados positivos, seria mais adequado fazer-se uma combinação

eclética de cada uma delas, dependendo dos objetivos a serem alcançados. Assim, um fator

de grande importância no plano, é sua capacidade inerente de se ajustar, após uma análise

e tomada de decisão consciente e coerente que pode acontecer em qualquer momento do

curso.

Muitas vezes, quando se fala em montar um planejamento, em elaborar um

plano, sente-se pairar sobre todas as discussões e tomadas de decisão uma valorização

excessiva da língua estrangeira em questão, principalmente quando se refere à língua

inglesa, e isto nos leva a falar algo sobre este sentimento, que, se levado a extremos, pode

causar sérios problemas de identidade, o que se denomina anomia.

2.5. Anomia

Bastos (1996) afirma que o sentimento de anomia, de descrédito nacional,

permeia a cultura de nações em desenvolvimento, de povos que viveram uma colonização

predatória, como foi o caso do povo brasileiro.

Segundo Bastos (1996) três momentos na colonização colaboraram para a

introjeção do sentimnto de anomia:

momento em que são colocados mais claramente as diferenças entre os

colonizados e os colonizadores.

momento em que acontece uma valorização dessas diferenças sempre a

favor dos colonizadores.

momento em que acontece uma maximização de tais diferenças,

transformando-as em verdades eternas.

Para Sodré (1985), o Brasil teve sua civilização transplantada. Isto significa

que todos os elementos necessários à implementação do processo de colonização tiveram

de ser importados: os senhores, os trabalhadores e os escravos. Nações que passaram por

28

um processo de colonização predatória, têm grande dificuldade em manter os valores

locais. E mais difícil ainda se torna, para nações como o Brasil, que além de sofrerem uma

civilização transplantada, tiveram uma civilização predatória.

No entanto, Moita Lopes (1982) e Bastos (1988) mostram que, na realidade, os

estereótipos que compõem uma identidade cultural e a imagem que se tem dos povos

desenvolvidos, não apresenta muitas diferenças entre povos de civilização transplantada ou

não, porque o fator que pesa nessa questão é a colonização predatória.

No período após o descobrimento do Brasil, Portugal dependia

economicamente da Inglaterra. A França era o centro cultural mundial. Os portugueses

copiavam os franceses, no entanto sua atitude com relação aos nativos, era de poder e

autoridade. Assim, a elite brasileira na época estudava na França ou Portugal, trazendo

para o Brasil modelos culturais europeus, os quais, ao se confrontarem com a nossa cultura

adquiriram caráter de superioridade. E o povo, cada vez mais introjetava sentimentos de

incapacidade, preguiça, irresponsabilidade, desonestidade.

Aos poucos a França foi perdendo seu lugar, devido ao aumento das viagens e

descobertas e à expansão do Império Britânico. Com isso, como comenta Pennycook

(1994), a confiança nesse Império, a confiança na preeminência da Grã Bretanha como

poder econômico, levou à convicção de que o povo britânico, e sua cultura eram superiores

a qualquer outro. Esta superioridade cultural se refletia na língua inglesa, e passou-se a

acreditar piamente que a habilidade de se comunicar na língua inglesa estava diretamente

ligada à felicidade do ser humano. Implícito nesta idéia, estava o pensamento de que os

demais povos, e principalmente os colonizados, eram inferiores, como também, sua língua

e cultura.

Estes sentimentos negativos introjetados foram amplamente discutidos e

apresentados por Pennycook (1994) ao citar fatos ocorridos na África, Malásia, Singapura,

China, Índia, Hong Kong; o mito do “nativo preguiçoso” e um discurso que colocava a

língua inglesa como o elemento chave para o desenvolvimento, um privilégio na vida do

nativo, era o que levava à crença de que o inglês era a língua capaz de cobrir a distância

entre as diferenças étnicas e religiosas.

Esse jogo de autoridade e dependência, segundo Memmi (1977) foi destrutivo

e criativo. No seu caráter destrutivo, nota-se o fato de que tanto colonizados quanto

colonizadores eram reduzidos a estereótipos, perdendo sua complexidade individual,

particular. Como acontecia isto? Os colonizados eram vistos como incapazes, e acabavam

acreditando nisto. Os colonizadores eram capazes, eficientes, e isto levava a que fossem

29

considerados frios e calculistas, preocupados apenas no que podiam tirar dos colonizados e

da colônia.

Em um primeiro momento neste processo de introjeção de características

negativas, os colonizados negavam-se a si mesmos. Em seguida, passavam a enfatizar a

característica de frieza e calculismo dos colonizadores, e em oposição a isto,

consideravam-se o oposto, sensuais, charmosos, abertos, afetivos, e passavam a se

valorizar nesses termos, os quais eram valorizados também pelos colonizadores.

Em face disto, cada um, colonizadores e colonizados assumiam e conviviam

com esse estereótipo, criando um modelo para colonizador e outro para colonizado. E

podemos afirmar que este estereótipo, sem dúvida alguma, levava a sentimentos de

anomia, quer dizer, o colonizado abandonava seus próprios valores, suas tradições e

costumes, aceitando a cultura, as idéias, os valores e os ideais do colonizador, até mesmo

por motivos de sobrevivência, já que era dominado por ele, e relegado a funções e

trabalhos menos qualificados.

O Brasil foi colonizado pelo povo Português, porém a influência da Grã

Bretanha como o grande conquistadora, como aquela nação que tinha uma Marinha

invencível, que singrava as águas em busca de novas colônias, sempre impondo sua língua

e costumes, a ponto de ser conhecida como o império em que o “sol não se punha”, foi

grande, embora de uma forma indireta. E mais recentemente, com o grande

desenvolvimento tecnológico e o deslocamento do centro econômico para os Estados

Unidos, a influência continua por meio das negociações políticas, do comércio, das

organizações “aparentemente” inofensivas que vêm prestar auxílio e orientação a uma

nação “em desenvolvimento”. Moura (1988) deixa bem claro a infiltração de organizações

com a suposta intenção de ajudar, mas que sempre chegavam com uma segunda intenção

em seus planos, com o objetivo de manipular pessoas, governos, instituições, e espalhar

seus ideais, valores, produtos, língua. Assim, o brasileiro comum tem uma idéia formada

de que tudo aquilo que é importado é melhor do que aquilo que é produzido no Brasil. Os

jovens preferem ter uma calça jeans da marca “Wrangler”, ouvir CDs de grupos

americanos, passar suas férias em “Disneyworld”, devido à grande propaganda em torno

destes produtos, em detrimento a produtos brasileiros. A anomia existe entre o povo

brasileiro, talvez de uma forma mais velada, mas está presente.

Após termos discutido esta questão da anomia, ou descrédito nacional, faz-se

necessário apresentar algumas considerações com relação aos Parâmetros Curriculares

Nacionais, que fundamentam o ensino/aprendizagem nas escolas de ensino fundamental e

30

médio no Brasil; e visto ser um documento de abrangência nacional, vamos tentar observar

quais as orientações nele existentes com relação à questão da cultura da língua estrangeira

a ser ensinada, na nossa pesquisa, o inglês.

2.6. Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais são o resultado de estudos aprofundados

no que refere à tomada de posição sobre o ensino/aprendizagem de língua estrangeira nas

escolas.

Como já foi mencionado, a disciplina língua estrangeira não constava do

currículo escolar como disciplina obrigatória, e após sua inclusão, por ser esta considerada

um direito do cidadão, sentiu-se a necessidade de uma restauração do papel da língua

estrangeira dentro das escolas.

Dentro da experiência prática desta pesquisadora, é possível concluir que o

ensino de língua estrangeira ainda não é considerado um elemento importante na formação

do aluno. Há grandes e sérios fatores que interferem no ensino/aprendizagem de língua

estrangeira, como: classes muito numerosas, falta de material adequado, número reduzido

de aulas por semana, dentre outros. Às vezes, estas aulas ainda são ministradas em Centros

de Línguas, fora do horário regular de aulas, completamente desligado do contexto da

educação global do aluno.

Este deslocamento das línguas estrangeiras do contexto “escola” fica bastante

claro quando se constata o grande número de escolas particulares que ensinam línguas

estrangeiras. É de conhecimento geral que se alguém quer ou tem necessidade real de

aprender uma língua estrangeira qualquer, esta pessoa vai procurar uma escola particular,

porque a própria sociedade não espera que a escola fundamental cumpra esta função.

Assim, as escolas particulares entram para cobrir as lacunas de um ensino que deveria

ocorrer na escola, pois é função da mesma.

Além do mais, os professores das escolas de ensino fundamental não têm uma

visão clara de o que significa “ensinar/aprender inglês”, insistindo em uma abordagem

inspirada em metodologias tradicionais, com visão positivista, deixam de cumprir

plenamente com suas atribuições: proporcionar as qualificações básicas necessárias ao

indivíduo de uma sociedade em processo de globalização irreversível.

31

Os Parâmetros Curriculares Nacionais se fundamentam em duas questões

teóricas, quais sejam: a) uma visão sociointeracional da linguagem que afirma que no

momento do discurso, os participantes deste discurso interagem na construção do

significado. b) uma visão sociointeracional da aprendizagem que envolve o “como” se está

no mundo com alguém, ambos situados em uma instituição, em uma cultura, em uma

história. Assim os processos cognitivos têm uma natureza social, porque são colocados em

ação justamente por esta interação, que na sala de aula, na maioria das vezes, é de caráter

assimétrica. É preciso, portanto, que o professor aja de tal forma a “compartilhar seu

poder e dar voz ao aluno de modo que este possa se constituir como sujeito do discurso e,

portanto, da aprendizagem”, (PCN pg. 15) ao desenvolver pelo menos uma habilidade

comunicativa, que mais tarde, havendo necessidade, poderá ser ampliada, incluindo outras

habilidades comunicativas.

Para que haja uma melhor compreensão dessa visão, seria interessante colocá-

la em contraposição às visões behaviorista e cognitivista que ainda permanecem no meio

educacional.

Dentro da visão behaviorista, de acordo com Cristóvão (1999), a linguagem é

um sistema imutável de estruturas, é algo abstrato que se adquire como que

mecanicamente. Assim, o ensino/aprendizagem é a mera formação de hábitos através da

repetição, levando em conta que o aluno é uma “tabula rasa”. Ao se evitar a formação de

maus hábitos, acontece a prevenção do erro.

Dentro da visão cognitivista, a linguagem para Cristóvão (1999) é um aparelho

mágico alojado no nosso cérebro, o qual é ativado ao se colocar em situação de

aprendizagem de língua, que é uma capacidade inata de todo ser humano. A aprendizagem

portanto, se dá a partir do desenvolvimento, acompanhando os vários estágios de

maturação, que seguem uma ordem natural prevista. Esta aprendizagem é um processo

cognitivo, e várias estratégias de aprendizagem, de produção e de comunicação participam

dele, na construção da compreensão e da assimilação.

Dentro da visão sócio-interacionista, Cristóvão (1999) afirma que a língua é

considerada como sendo um elemento sócio-histórico, implicada em um contexto

ideológico; assim, ela se materializa entre os indivíduos socialmente organizados por meio

de enunciações que sempre são produto da interação locutor-ouvinte. A aprendizagem se

dá através da interação entre os seres humanos levando em conta toda sua carga pessoal,

sua posição, etc. em que os dois constróem seus significados de uma maneira coerente,

com espírito reflexivo-crítico.

32

Devido ao fato de que apenas uma pequena porcentagem da população

brasileira teria a oportunidade de utilizar uma ou outra língua estrangeira como

instrumento de comunicação oral, o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais justifica o

foco nas escolas ser voltado para a leitura, atendendo à função social que as línguas

estrangeiras ocupam no país. Isto também não descarta a possibilidade de inclusão das

outras habilidades havendo necessidade e condições para tal.

Ainda, de acordo com os “Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua

Estrangeira”, a escolha da língua estrangeira a ser ensinada nas escolas é arbitrária,

dependendo de sua influência na sociedade local. Esta influência pode ser mais bem

entendida analisando-se os seguintes fatores presentes nessa consideração.

Em primeiro lugar vamos citar os fatores históricos, relacionados ao papel que

uma determinada língua representa em determinado momento da história da humanidade,

deixando claro seu papel hegemônico no discurso internacional, influenciando culturas,

educação, ciência e trabalho. Podemos citar hoje no mundo, assim como aqui no Brasil, o

papel da língua inglesa, decorrente do grande poder e influência da economia e política

norte-americana, exercendo seu domínio no mundo dos negócios, da tecnologia e no

mundo acadêmico. Não poderíamos também deixar de citar a influência do espanhol, que é

um fenômeno típico da história recente do Brasil. Apesar de ser a língua de nossos

vizinhos, sua expressão era mínima, até que essa influência surgiu e está aumentando por

motivo da crescente interação entre as nações que fazem parte do Mercado das Nações do

Cone Sul (Mercosul).

Em segundo lugar citamos os fatores relativos às comunidades locais. É o caso

de comunidades de imigrantes ou comunidades indígenas, e devido à interação e às

relações envolvidas nessa interação, justifica-se sua inclusão no currículo escolar.

Em terceiro lugar, estão os fatores relacionados à tradição, quando uma língua

estrangeira influencia as relações culturais entre países, simplesmente por tradição. Aqui,

no Brasil, no período após a Proclamação da República, a língua francesa desempenhou

um papel bastante importante, sendo o idioma estrangeiro mais aprendido por toda uma

geração que não considerava sua educação completa sem ter passado algum tempo no país

de origem – a França. Isto se explica porque desde o século XVII a França era o centro

intelectual da Europa.

Por meio da aprendizagem de uma língua estrangeira, o aluno é capaz de

aprender mais sobre esse mundo pluriforme, caracterizado por tantas culturas e valores

diferentes e tantas formas diferentes de organização política e social. Ao conhecer toda esta

33

diversidade, o aluno compreenderá a si mesmo de uma forma mais profunda, e se engajará

discursivamente de uma forma mais consciente e significativa.

É claro que quando o aluno começa a aprender uma língua estrangeira, todo o

processo sociointeracional de construir conhecimento lingüístico e aprender a usá-lo já foi

percorrido pelo aluno ao aprender sua língua materna. Consequentemente, a aprendizagem

de uma língua estrangeira faz com que o aluno adquira mais conhecimento sobre a

linguagem em si, pelas comparações que faz de sua língua materna com a língua

estrangeira, e o leva a agir interativamente nos processos de construção de significados

nessa nova língua.

Nessa visão sociointeracional da linguagem, três tipos de conhecimento são

imprescindíveis na construção de significados, e são enfatizados nos Parâmetros

Curriculares Nacionais.

Em primeiro lugar, conhecimento sistêmico: este conhecimento está ligado aos

níveis de organização da língua e se refere aos conhecimentos léxico-semânticos,

morfológicos, sintáticos e fonético-fonológicos. O conhecimento sistêmico leva as pessoas

a fazerem escolhas gramaticais, lexicais, sintáticas e fonológicas adequadas no momento

da interação, como também a compreenderem os enunciados fundamentados neste

conhecimento.

Cada tema estudado apresenta uma base lexical que será utilizada na produção

quer seja oral ou escrita, acompanhada de itens morfo-sintáticos que vão depender do tipo

de produção a que se propõe, e que recebem tratamento cumulativo, quer dizer, toda vez

que são retomados, podem ser aprofundados e ampliados dependendo da necessidade e

interesse.

Em segundo lugar, o conhecimento de mundo que está ligado àquele

conhecimento que cada pessoa tem sobre o mundo e sobre o que está à sua volta. Tudo o

que o ser humano aprende, vê, percebe, intui, fica armazenado na sua memória em blocos

de informação. De acordo com Koch e Travaglia (1989), estudiosos dividem esse

conhecimento em dois tipos: a) conhecimento enciclopédico (background knowledge) que

representa tudo o que a pessoa conhece e está arquivado na sua memória de longo prazo; b)

conhecimento ativado (foreground knowledge) que é trazido à memória presente. Esses

blocos de informação não são iguais em todas as pessoas, porque resultam de toda uma

vivência, leituras, viagens, etc..

34

No ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira, a falta de conhecimento de

mundo pode causar problemas no momento do engajamento discursivo, como também se o

assunto em questão estiver culturalmente distante do aluno.

Ao aprimorar seu conhecimento de mundo, justamente com a aprendizagem no

nível sistêmico, há um aprimoramento conceptual do aluno, que, ao se defrontar com

outras visões de mundo, outras maneiras de viver, outros costumes, tradições, outra visão

política e social, aprende a valorizar maneiras diferentes de ser, aprende a comparar e

criticar de um maneira consciente e reflexiva.

Em terceiro lugar, nos deparamos com o conhecimento da organização textual:

este conhecimento diz respeito às convenções sobre a organização da informação em textos

orais e escritos, que normalmente são classificados em três tipos básicos: os narrativos, os

descritivos, e os argumentativos. Cada tipo de texto tem seus elementos próprios, como

também esses mesmos elementos podem estar presentes em um e outro tipo. É bom

ressaltar que a organização de textos orais e escritos difere em uma e outra língua e o

usuário escolhe o tipo que mais lhe convém dependendo do alvo a ser atingido.

Assim, esses três conhecimentos estão presentes na construção de significados

por aqueles que participam do mundo social, quer sejam leitores, escritores, ouvintes ou

falantes.

Como então, estes conhecimentos se aplicam ao ensino/aprendizagem de uma

língua estrangeira? A construção do conhecimento está intimamente ligada às funções da

língua estrangeira no ensino fundamental. E nesse sentido, os Parâmetros Curriculares

Nacionais listam diferentes papéis em duas perspectivas distintas. Os papéis do ensino de

língua estrangeira, em uma perspectiva educacional, estão associados à percepção da

cultura do outro e de si próprio, a uma função interdisciplinar e à formação geral do aluno.

Já em uma perspectiva pragmática, os papéis do ensino de língua estrangeira se relacionam

à língua estrangeira e à exclusão social, à língua estrangeira como libertação e à questão do

inglês como língua estrangeira hegemônica. Phillipson (1992), Pennycook (1994),

Kramsch (1998), Fairclough (1992), todos discorrem sobre a questão do poder pela e na

língua e falam sobre a importância de não perpetuarmos a idéia de hegemonia8, mas sim,

desenvolvermos a utilização da língua para uma consciência crítica.

8 Entendemos por hegemonia a idéia prevalecente de que a língua inglesa é de extrema importância na humanização, modernização e desenvolvimento de povos que não a têm como língua materna e assim instituições políticas e sociais se consideram dotadas de poder, autonomia e direito para “orientar” na tomada de decisões, “sugerir” soluções para problemas, sempre com o intuito de promover seus próprios interesses de domínio. (Francis, 1995).

35

Assim, o trabalho do professor seria o de levar a uma conscientização, o que é

também proposto através dos temas transversais, quais sejam: meio ambiente, trabalho e

consumo, pluralidade lingüística, orientação sexual, ética, saúde, cidadania e organização

política na sociedade. É criticada a tendência de se organizarem os conteúdos de forma

simplificada, com textos descontextualizados, exercícios gramaticais e uso de léxicos em

exercícios de transformação, tradução, ou mesmo repetição e cópia. Este tipo de trabalho

levaria ao desinteresse e consequentemente à falta de engajamento discursivo, e sabemos

que sem engajamento, a aprendizagem não está inserida em uma visão sócio-interacional,

portanto não irá ao encontro dos objetivos propostos neste documento.

Acreditamos que ficam bem claras nestas considerações referentes aos

Parâmetros Curriculares Nacionais, as mesmas preocupações que observamos naqueles que

lidam com o planejamento de cursos como Dubin & Olshtain (1986). Precisa ser levado

em conta a individualidade dos alunos, saber quem são, onde se encontram, e

consequentemente onde será implantado o programa, quem será responsável pela sua

implementação, o motivo pelo qual este programa está sendo elaborado. Percebemos que

no geral, todos aqueles envolvidos com a educação querem falar a mesma língua, embora

talvez não demonstrem uma total unidade na atuação, em decorrência dos muitos fatores

que influenciam a implementação em si.

Podemos afirmar portanto, que ao estudar uma língua estrangeira, o aluno se

apoia nos conhecimentos que já tem de sua língua materna, e uma estratégia típica é a

transferência do que sabe em sua língua materna para a aprendizagem da língua

estrangeira. Muitas vezes encontrará pontos convergentes, como também encontrará

pontos divergentes, mas estas questões novas servem para abrir seus horizontes, sendo uma

das grandes contribuições da aprendizagem de uma língua estrangeira.

Discutidas todas estas questões, qual seria realmente o objetivo educacional da

inclusão de uma língua estrangeira no currículo de ensino fundamental, segundo os

Parâmetros Curriculares Nacionais?

“A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo, indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades lingüisticas. Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem, aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna. Ao mesmo tempo, ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas, contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão da(s) cultura(s) estrangeira(s). O desenvolvimento da habilidade de entender/dizer o que outras pessoas, em outros países, diriam em determinadas situações leva, portanto, à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna.

36

Essa compreensão intercultural promove, ainda, a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento.”(PCN pg. 37) (ênfase nossa)

Em momento algum, os Parâmetros Curriculares Nacionais glorificam

qualquer cultura estrangeira, em detrimento à cultura nacional. O ensino de uma língua

estrangeira e as discussões em torno de questões da cultura desta língua, têm como

objetivo uma compreensão maior da riqueza existente em cada cultura, com o intuito de

ajudar na formação de seres que pensam, que refletem, que discutem fazendo comparações

e sendo capazes de retirar os pontos positivos e os pontos negativos, promovendo assim,

um maior amadurecimento cultural e profunda capacidade de reflexão crítica.

Outro aspecto levantado como de grande importância no ensino de uma língua

estrangeira, é sua função interdisciplinar dentro do currículo, levando a verdadeiras

experiências de vida, que levam o aluno ao limiar deste imenso universo, a fim de que

possa compreender aquilo que está bem próximo, aquilo que está fora de si próprio e

aquilo que está longe, em outras culturas.

O ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira também oferece

instrumentos indispensáveis ao trabalho, ao preparar os jovens para atuarem efetivamente

neste mundo, atendendo a todas as suas exigências. Para atuar, é preciso comunicar, e não

só na língua materna, mas também em outras línguas. Isto porque a tendência do mundo

hoje e, com certeza, nos tempos futuros, é a dependência cada vez maior da troca de

informações, e esta troca se realiza por meio da linguagem e das línguas.

Podemos também considerar o conceito freireano de educação – a educação

que liberta. (cf. Freire, 1974). A aprendizagem de uma língua estrangeira abre horizontes,

leva a novas preocupações e ao desenvolvimento pleno do cidadão dentro de seu espaço

social e também em um espaço social mais amplo: o mundo.

Resta-nos, portanto, a pergunta central de nossa discussão - como fica a

situação de dominação da língua inglesa como língua estrangeira? Vimos quais os critérios

que levam à inclusão de uma língua em um currículo escolar, mas na maioria das vezes

estes critérios não são observados e automaticamente faz-se a escolha pela língua inglesa.

Não se pode fugir da importância da posição do inglês em todas as áreas do saber humano,

nos negócios internacionais, na economia mundial, transformando-a na língua de poder

econômico.

No entanto, se compreendemos este papel hegemônico da língua inglesa nas

interações internacionais, existe a possibilidade de levar a aprendizagem da língua inglesa

37

a funcionar na formação de “contra-discursos” lutando pela igualdade entre países e entre

grupos sociais. Porém, é preciso que haja uma consciência crítica desse fato para se poder

“agir no mundo para transformá-lo”.(PCN pg. 40)

Cumpre ressaltar a importância do ensino de línguas estrangeiras na formação

geral do aluno de uma forma consciente; ratifica-se a idéia de seres pensantes, ativos e

construtores do conhecimento e não apenas consumidores de verdades e conhecimentos

únicos. Vale a pena, assim ressaltar alguns pontos-chave na visão sócio-interacional de

aprendizagem: a co-participação social, a construção de conhecimento partilhado, a

interação, a configuração espacial na sala de aula, implicando maior simetria internacional,

a cognição e metacognição construída em procedimentos interacionais. Além do mais, com

relação à cultura, ela tem papel de suma importância na vida de seu povo; cultura não

pode ser comparada em termos de melhor ou pior, mais desenvolvida ou menos

desenvolvida. Ela existe, ela é uma realidade que não pode ser refutada e nela está toda a

essência de um povo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais ainda estabelecem objetivos para a

concretização da função social da língua estrangeira na sociedade brasileira, dentro das

condições de aprendizagem existentes e das necessidades sociais mais emergentes. A esses

objetivos foram sugeridos conteúdos que estejam relacionados aos conhecimentos de

mundo, aos tipos de texto que se vai explorar e a temas que levem a transformações

atitudinais.

A progressão geral dos conteúdos é realizada a partir do conhecimento de

mundo do aluno e do seu conhecimento de organização textual. As escolhas temáticas de

conhecimento de mundo são aquelas que provavelmente terão influência na representação

desse mundo no contexto de produção de um texto. O conhecimento sistêmico depende da

escolha temática, dos tipos de texto e da necessidade para se resolver a tarefa.

Qualquer projeto que proponha uma forma de ensino/aprendizagem precisa

também se preocupar com o “como” este ensino/aprendizagem será verificado, como será

percebido o desenvolvimento, o crescimento individual, que na realidade é o objetivo de

qualquer ensino/aprendizagem. Isto nada mais é do que avaliação e dentro deste

documento, a avaliação é proposta como sendo um processo dinâmico e contínuo de

aprendizagem. É fundamental que os participantes da sala de aula (o professor e o aluno)

compreendam exatamente o que se almeja alcançar e por que. Nesta visão o objetivo da

avaliação não é testar, mas interagir com o aluno e negociar com ele os procedimentos a

serem tomados dentro de seu processo de aprendizagem, mediante critérios estabelecidos.

38

Os Parâmetros Curriculares Nacionais formam um documento atualizado,

moderno, seguindo o paradigma sociointeracional, que reflete as novas tendências de

pesquisas no campo da lingüística. No ensino de língua estrangeira, como já vimos, a

questão da cultura é apresentada como um fatorprimordial, pois ao compreender outras

culturas e seus valores, ao analisá-las com criticidade, haverá maior crescimento, maior

compreensão e valorização da própria cultura e dos próprios valores. Os trabalhos dos

pesquisadores utilizados no nosso arcabouço teórico, (Kramsch, 1996; Phillipson, 1993;

Pennycook, 1994; Moita Lopes, 1996) também enfatizam a importância do fator “cultura”

no ensino de língua estrangeira, apontando para a riqueza desta abordagem e as grandes

possibilidades vislumbradas no ensino/aprendizagem de língua como cultura.

Importante é considerar todos estes pontos já discutidos e tê-los em mente na

elaboração do planejamento, levando em conta também a bagagem cultural dos alunos, a

fim de apresentar a bagagem cultural da língua estrangeira de forma compreensível,

salientando a necessidade de comparação, de reflexão, de crítica ao confrontá-lo com sua

realidade própria.

Todos estes fatores analisados em conjunto e interligados na prática da sala de

aula constituiriam um ambiente mais do que adequado para o ensino de língua estrangeira

de forma totalmente significativa.

Passaremos agora a uma discussão dos paradigmas de pesquisa científica, nos

delongando no paradigma de pesquisa interpretativista que foi utilizado neste trabalho.

39

CAPITULO 3

METODOLOGIA

3.1. Introdução

Neste capítulo apresentaremos os paradigmas que influenciaram e influenciam

as pesquisas realizadas no âmbito das ciências sociais, atendo-nos mais precisamente ao

paradigma de pesquisa interpretativista que foi utilizado neste trabalho.

Até vinte anos atrás, a pesquisa em Lingüística Aplicada era

predominantemente quantitativa. No final da década de 70, começaram a surgir as

pesquisas de natureza qualitativa (utilizada nesta pesquisa), que têm sido alvo de muitas

críticas e defesas, às vezes não muito bem fundamentadas.

De acordo com Moita Lopes (1994), muitas pesquisas realizadas sob o rótulo

de pesquisa em Lingüística Aplicada, não mencionam nem discutem as tradições de

pesquisa nas quais se inserem. Para ele, essa questão é fundamental, devido à necessidade

de se constituir um corpo de metaconhecimento sobre uma determinada área de

investigação, para que aconteça o desenvolvimento desta área.

Falaremos sobre os paradigmas de pesquisa a fim de explicitar o tipo adotado

neste trabalho.

3.2. Paradigmas de Pesquisa nas Ciências Sociais

Uma questão fundamental vem à tona quando se fala em pesquisa na área das

ciências sociais: o fato social é ou não distinto dos fenômenos naturais? Seria possível

analisar o fato social de uma forma objetiva, única, ou ele deve ser interpretado à luz de

outros fatos sociais com os quais interage? Estes questionamentos apontam para os dois

paradigmas básicos da metodologia em ciências sociais que se fundamentam em

concepções ontológicas e epistemológicas bastante diferentes: o paradigma de pesquisa

positivista, que apresenta uma abordagem quantitativa e o paradigma de pesquisa

interpretativista, que apresenta uma abordagem qualitativa. (Moita Lopes 1994).

3.2.1. Paradigma de Pesquisa Positivista

De acordo com Moita Lopes (1994), nas ciências naturais, o paradigma

positivista (métodos quantitativos) ocupa uma posição privilegiada, e na maioria das vezes,

não é questionado, pois é considerado a maneira legítima de produzir ciência. Assim, o

saber científico, é aquele que se origina na tradição positivista, e os pesquisadores que a

utilizam fazem parte de grupos que mantém o monopólio sobre a assim denominada

“verdade científica”, portanto, predomina a idéia de que o mundo social existe

independentemente do homem.

Neste paradigma, a concepção de como se produz conhecimento, é baseada na

experiência pessoal através de observação direta do fato em estudo. Qualquer variável do

mundo social pode receber um tratamento estatístico que leva a generalizações, isto porque

a realidade pode ser reduzida a uma causa que será observável através da padronização

desta realidade em estudo. A objetividade é o ponto central da pesquisa e deve ser atingida

a qualquer preço.

Além disto, a interpretação de dados de natureza quantitativa se mostra

arbitrária, de natureza especulativa, se não levar em conta os dados de natureza qualitativa

e subjetiva.

O paradigma positivista marcou presença como a única maneira de se fazer

pesquisa durante muito tempo, e continua a fazer parte de pesquisas em diversas áreas,

porém não tem monopólio sobre a verdade científica.

3.2.2. Paradigma de Pesquisa Interpretativista

Moita Lopes (1994) também aponta uma tradição epistemológica diferente, que

utiliza métodos qualitativos, e assim, a utilização da metodologia de pesquisa quantitativa

41

não constitui a base para análise dos fatos sociais dentro deste paradigma interpretativista,

pois esta metodologia visa analisar os efeitos de certas variáveis em contraposição a outras.

Este paradigma traz à tona revelações que não estão ao alcance da tradição positivista, pois

se baseiam em princípios diferentes. Os defensores desta posição argumentam que a

natureza do objeto de estudo das ciências sociais é tão diferente do objeto de estudo das

ciências naturais, que não há como utilizar os mesmos meios e procedimentos. O mundo

social tem uma natureza tal que levou a esse repensar com relação aos meios adequados à

produção de conhecimento. Uma característica única do mundo social, é que o homem é

aquele que constrói os significados que o caracterizam, e este homem interpreta e re-

interpreta aquilo que está à sua volta, levando à existência de várias realidades e não

somente uma. Consequentemente, neste modelo, não há verdade única, nem imanente, pois

os fenômenos sociais estão totalmente interligados, e geram diferentes possibilidades de

interpretação entre sujeitos e até mesmo por um único sujeito.

Assim, o paradigma interpretativista não tenta exercer controle sobre as

variáveis sociais, nem manipulá-las; seu objetivo principal é obter uma compreensão mais

profunda do fato social, a partir da análise das diversas interpretações deste mesmo fato

pelos seus participantes.

Partindo do ponto de vista de que fato social e ser humano são duas partes de

um mesmo fenômeno, portanto não se separam, entendemos que na abordagem

interpretativista existe a impossibilidade de haver distanciamento entre o sujeito e o objeto

de estudo. Assim, o pesquisador se torna parte integrante deste estudo. Cabral dos Santos

(1997) comenta a importância de fatores como grau de compreensão, conhecimento e

maturidade do pesquisador em relação ao objeto de estudo. Ele faz uma explanação mais

detalhada destes fatores e salienta que com relação à compreensão do objeto de estudo, é

preciso ter bem claro o referencial-base, é preciso que haja coerência das questões de

pesquisa com a projeção de expectativas, que são as hipóteses acerca da natureza dos

dados que foram coletados dentro do contexto específico, e também é preciso que haja uma

consistência teórica na literatura escolhida para o arcabouço. Com relação ao

conhecimento, este torna-se aparente na medida em que o pesquisador é capaz de fazer a

ligação entre os objetivos da pesquisa e a realidade de sua observação. A maturidade diz

respeito à vivência do pesquisador, porém não ao extremo de afirmar que um pesquisador

sem essa vivência não esteja apto para fazer sua pesquisa. Estes três fatores ligados ao

pesquisador, seriam facilitadores no contexto da pesquisa interpretativista.

42

Assim, ao iniciar sua pesquisa, o pesquisador sabe que ele é parte integrante

desta pesquisa, e entende também que sua visão do estudo será inevitavelmente parcial, e

imbuída de seus próprios valores. Para minimizar este fator, é necessário uma troca

constante com os participantes sociais para se chegar a uma percepção mais condizente

com esta realidade multifacetada. É por isto que o pesquisador na linha interpretativista

normalmente se volta para a compreensão mais profunda de um recorte particular do

mundo social e não se lança a generalizações mais amplas.

É justamente por causa deste fator “subjetividade”, pela negação dos

procedimentos de pesquisa que normalmente são considerados científicos e por não

procurar controlar fatores que possam influenciar os resultados, que este paradigma é

criticado com grande freqüência. Dizem que analisar uma realidade social, que é

tremendamente complexa, sem a padronização de determinados fatores, leva a

interpretações preconceituosas na análise dos dados. (Moita Lopes 1994)

Cavalcanti e Moita Lopes (1991) e Moita Lopes (1994) afirmam que os estudos

realizados fundamentados no paradigma interpretativista, são caracterizados pelo interesse

em conhecer profundamente a realidade social: perceber bem de perto a atuação dos

participantes no contexto, examinar as relações sociais estruturadas neste contexto, e tentar

captar as razões das diversas condutas a partir dos pontos de vista dos próprios sujeitos e

de suas formas individuais de compreender o fato e agir nele ou com ele. Agindo desta

forma, o pesquisador interpretativista tenta evitar qualquer imposição do seu pensamento

próprio e procura fazer uma análise que não apresente conclusões corretas (eliminando

qualquer outra).

Em contraposição ao paradigma positivista que se preocupa primariamente

com o produto, o paradigma interpretativista se preocupa com o processo. Qualquer

pesquisador que trabalha nesta linha sabe da necessidade de se mostrar sensível a cada

idiossincrasia do contexto em estudo, como também sabe o quanto estas mesmas

idiossincrasias podem interferir no rumo da pesquisa. Assim, sua atenção se volta para o

processo pelo qual os sujeitos da pesquisa assimilam, modificam ou abandonam os fatos

sociais, pois seu objetivo é perceber o quanto a realidade interfere nas tentativas de

manipulação do ambiente social. Desta forma, ele não se sente frustrado pelos rumos

inesperados que a pesquisa possa tomar.

A fim de apresentar fidedignamente a perspectiva dos participantes (sujeitos), a

pesquisa interpretativista é essencialmente descritiva, e garante a legitimidade das

inferências ao privilegiar os dados produzidos diretamente pelos sujeitos (questionários,

43

entrevistas, notas de campo). Ao se fazer a contraposição das visões subjetivas de cada

sujeito sobre o fato social, é que o pesquisador responde às críticas relacionadas à falta de

objetividade do paradigma utilizado. Moita Lopes (1994) ainda afirma que qualquer

investigação nas ciências sociais tem a tarefa de dar conta de uma pluralidade de vozes

agindo e interagindo no mundo social. Isto porque nas ciências sociais, a linguagem

funciona como meio de definição dos significados que os sujeitos atribuem a si próprios,

aos outros e aos seus contextos sociais. A linguagem é praticamente a condição para que o

mundo social exista, porque ela possibilita a interação e a construção do mundo social.

Ademais, essas vozes e interações que se apresentam, envolvem questões

relativas a poder, ideologia, história e subjetividade. Fica claro portanto, que não se pode

ignorar a visão de cada participante do mundo social, pois é esta visão individual que

determina o próprio mundo social. Assim, o mundo social é dependente do homem.

Nesse paradigma interpretativista, o acesso ao ato em estudo deve ser feito de

forma indireta ao se interpretar os vários significados que participam do mesmo fato. E

nessa interpretação encontramos o fator qualitativo. Daí, ao se fazer uma generalização,

segundo Moita Lopes (1994), ela precisa ser entendida de uma outra forma, já que não está

ligada a uma causa observável. Para ele, “é uma generalização construída

intersubjetivamente, que privilegia a especificidade, o contingente e o particular”. (Moita

Lopes 1994).

A padronização para o interpretativista, leva a uma realidade distorcida, pois

não capta a multiplicidade de significados que o homem atribui ao mundo social ao

construí-lo. E é justamente essa intersubjetividade que nos permite chegar mais próximos

da realidade que os homens, na sua interação uns com os outros “constroem, destroem e

reconstroem”. (Moita Lopes 1994). Assim, o enfoque na visão interpretativista se volta

para os aspectos processuais do mundo social, em contraposição ao paradigma positivista

que enfoca o produto padronizado, como já foi mencionado acima.

Segundo este autor, a investigação de natureza interpretativista se adequa mais

aos fatos com os quais o lingüista se vê frente à frente, como também é de uma riqueza

incomparável, devido a este enfoque inovador com relação ao fato social.

Entre os adeptos deste paradigma, existe a preocupação em anular os

preconceitos idiossincráticos de cada pesquisador, através de um metaconhecimento sobre

o processo de investigação em si e a observação de certos fatores quais sejam: a)

metodização, que se explica por uma clareza nos procedimentos de investigação; b)

sistematização, que leva ao reconhecimento de que cada investigação está inter-

44

relacionada às outras; c) crítica e auto-crítica, quer dizer, o próprio pesquisador se critica,

como também é criticado por outros pesquisadores na comunidade científica.

Percebe-se o papel importante da linguagem neste processo: ela é a

determinante central do fato social, e o meio de se chegar à sua compreensão através da

análise das várias interpretações dos sujeitos participantes do fato social em estudo, como

também de outros pesquisadores.

Após termos feito uma discussão em torno da questão da metodologia,

principalmente daquela que foi utilizada nesta pesquisa, falaremos sobre o contexto da

mesma, situando os locais de pesquisa e os sujeitos participantes.

3.3. Contexto da Pesquisa

Discutidos os paradigmas de pesquisa, trataremos de contextualizar o universo

desta pesquisa, discorrendo sobre as escolas em que atuam os professores sujeitos da

mesma, especificando os instrumentos de coleta de dados e apresentando o perfil de cada

sujeito participante da pesquisa.

O desenvolvimento desta pesquisa se deu através da análise de questionários

respondidos por professores do ensino fundamental em escolas da rede pública e da rede

privada de Minas Gerais, através de entrevistas com os mesmos professores, e notas de

campo. Inicialmente foi aplicado um questionário “Piloto” a um professor que ministra

aulas de língua inglesa na rede pública e outro na rede privada, porém que não fazem parte

do corpo docente das escolas selecionadas para a pesquisa. Este questionário “Piloto” teve

por objetivo detectar alguma falha na redação das perguntas, como também cronometrar o

tempo utilizado para respondê-lo. Assim, ao contatar os professores participantes da

pesquisa, seria possível dizer exatamente quanto tempo seria necessário para responder ao

questionário – cerca de 15 (quinze) minutos.

Em seguida, foi feita a escolha das escolas participantes da pesquisa. Já

havíamos decidido que a pesquisa deveria se estender às escolas da rede pública e privada,

assim envolvendo estes dois setores da realidade educacional brasileira. Como as escolas

públicas atuam no centro e na periferia, também não seria justo deixar de contemplar uma

ou outra destas áreas. Assim, decidimos trabalhar com duas escolas públicas de periferia,

duas escolas públicas de centro, e duas escolas privadas, possibilitando assim uma idéia

45

tanto do setor público como do setor privado, em bairros carentes e bairros privilegiados.

Com esta decisão em mente, e como já mencionamos na Introdução, entramos em contato

com as escolas da rede pública através da apresentação de uma colega de trabalho que

também é diretora. Através de um telefonema à direção das escolas, foi feito um primeiro

contato, que foi muito bem aceito junto às escolas públicas, que se prontificaram em abrir

suas portas para qualquer atividade, quer fosse assistir aulas, fazer entrevistas, etc..

Nenhuma se recusou a participar da pesquisa, como também não houve qualquer hesitação

em dar sua permissão para a realização de qualquer atividade que fosse necessária para a

realização da mesma.

Por outro lado, é preciso dizer que nas escolas particulares, a receptividade foi

muito diferente. Nestas escolas, a seleção foi feita tendo em mãos uma lista das mesmas.

Assim fizemos contato com a direção de uma a uma até que nos aceitaram. Três escolas

contatadas de início, se negaram a participar do projeto, alegando motivos variados: não se

interessavam em expor seus professores e alunos a tais pesquisas, não dispunham de tempo

dentro de seu cronograma para interrupções desta natureza, não era seu costume envolver a

escola em qualquer pesquisa a ser realizada por pessoas não ligadas a ela. A próxima se

prontificou imediatamente, demonstrando toda boa vontade em colaborar. Uma outra quis

compreender mais profundamente a natureza da pesquisa antes de se comprometer e

marcou um horário para entrevista com a direção, que foi adiado, mas após contatos por

telefone, a entrevista foi realizada, e ao compreender a natureza do projeto, a direção e

supervisão foram bastante amáveis e também abriram suas portas à pesquisa. Notas de

campo foram realizadas em cada uma destas conversas por telefone e/ou pessoais, fazendo

parte do corpus deste trabalho.

As escolas que participaram da pesquisa foram mencionadas na página de

agradecimentos, e sendo necessário mencioná-las no corpo do trabalho, será utilizada a

seguinte legenda: EE1P (Escola Estadual 1 de periferia); EE2P (Escola Estadual 2 de

periferia); EE3C (Escola Estadual 3 de centro); EE4C (Escola Estadual 4 de centro); EP1

(Escola particular 1); EP2 (Escola particular 2). Os sujeitos participantes da pesquisa

passam a ser chamados de PF 1 a 8 quando se fala das “professoras” e PM 1 e 2 quando se

fala dos “professores”.

Cada escola pública conta com apenas um professor de língua inglesa, e dentre

as escolas particulares, a EP1 tinha cinco professores de língua inglesa, e a EP2 tinha dois.

Consequentemente, fazem parte da pesquisa, tornando-se sujeitos participantes dela, 11

(onze) profissionais, sendo nove mulheres e dois homens.

46

O primeiro passo à realização desta pesquisa, a aplicação do questionário, foi

relativamente fácil, devido à abertura, aprovação e disponibilidade das várias direções das

escolas, juntamente com seus professores, e o reconhecimento (por parte dos professores)

de que precisariam de apenas 15 (quinze) minutos de seu tempo para respondê-lo.

Desenvolvemos nosso trabalho junto aos professores, portanto, na primeira semana de

Novembro de 2000.

Este questionário nos forneceu dados sobre a vida acadêmica de cada

participante, sua titulação, seu período de atuação nas escolas (matutino, vespertino,

noturno), o tipo de escola (classe social atendida) e algumas perguntas básicas com relação

aos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Ao iniciarmos a análise dos dados coletados nos questionários, percebemos a

necessidade de uma entrevista a fim de tornar mais claros alguns aspectos e aprofundar

mais em outros. Estas entrevistas foram realizadas durante o mês de maio de 2001, sendo

que cada professor foi contatado, definindo um horário que lhe causasse menos transtorno,

algumas sendo realizados nas casas dos mesmos e outras, nas escolas em que atuam.

Nesta segunda fase, a PF9 que ministrava aulas em uma das escolas da rede

particular, havia saído da escola e no momento ocupa um cargo público de bastante

importância. Mesmo assim, queria que ela participasse da entrevista, porque já havia

respondido ao questionário, e tinha experiências para relatar, mas seus compromissos neste

novo emprego tornaram totalmente impraticáveis o agendamento de um horário: mesmo à

noite, horário de almoço, final de semana, qualquer sugestão era descartada, até que

minhas ligações deixaram de ser atendidas. Acredito que um pouco de descompromisso

com a educação, que já não era mais sua área de trabalho, se aliou ao fato da agenda

lotada.

Portanto, no momento das entrevistas, apenas 10 (dez) professores

participaram.

Como este “corpus” coletado não constitui em si mesmo os dados, mas apenas

as fontes das quais serão extraídos os dados, o processo envolve também a etapa das

transcrições, que foram realizadas durante os meses de junho e julho de 2001, segundo os

moldes de Marcuschi (1998). Na transcrição das falas dos participantes foram mantidos os

traços de fala informal. Um detalhamento das outras convenções utilizadas nas transcrições

se encontra nos anexos deste trabalho.

Passaremos agora a uma análise mais detalhada dos questionários, das

entrevistas e notas de campo, confrontando-os com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

47

atentando para as perguntas de pesquisa, para assim chegarmos às conclusões deste

trabalho, e podermos oferecer algumas contribuições que sejam de utilidade aos

professores de língua estrangeira (inglês).

48

CAPITULO 4

ANÁLISE

4.1. Introdução

Com base nas respostas obtidas das perguntas iniciais do questionário, foi

possível montar um perfil dos professores que participaram da pesquisa.

Com relação à sua formação, verificamos que oito são licenciados em Letras e

três destes já fizeram uma especialização (pós-graduação latu sensu). Um está cursando o

segundo ano do curso de Letras, um é zootécnico e o outro é estudante de fisioterapia. Nas

escolas públicas, todos têm licenciatura em Letras Português/Inglês. O estudante de Letras,

o zootécnico e o estudante de fisioterapia, lecionam na mesma escola particular.

Nove destes professores lecionam apenas no turno matutino, um no matutino e

vespertino e um apenas no vespertino. Sete professores classificam sua escola como sendo

de classe média (os professores da EP1 e EP2); as EE1C e EE2C foram consideradas como

sendo de classe média-baixa e carente, com base na informação obtida no questionário; as

EE3P e EE4P foram classificadas por seus professores como sendo de classe média-baixa

e baixa.

4.2. Análise dos Questionários

Passaremos agora à análise propriamente dita de suas respostas encontradas

nos questionários, tentando perceber, através de suas afirmações, qual sua atitude com

relação ao ensino/aprendizagem de língua estrangeira inglês. Com relação à graduação de

cada um dos professores, neste caso, percebemos que todos os professores das escolas

públicas são graduados no curso de Letras. Porém em uma das escolas particulares, um

professor estava no segundo ano do curso de Letras, outro era zootécnico e outro era

estudante de fisioterapia. É possível concluirmos que, neste caso, as escolas públicas têm

maior preocupação em contratar professores licenciados, enquanto que nas escolas

particulares, o índice de professores não licenciados é grande, e já que os três professores

não graduados ou de outra área estão entre os cinco professores de uma das escolas

particulares (EP2), nesta escola, o índice de professores que não se preparou

especificamente para ser educador, professor de inglês, sobe para 60%.

Quando perguntados se já haviam lido os Parâmetros Curriculares Nacionais

(pergunta 1 do questionário, em anexo), nove professores já conheciam seu conteúdo,

porém dois não (PF7, a zootécnica e PF5, a estudante de fisioterapia).

Com relação à leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais relativos ao

ensino de língua estrangeira inglês (pergunta 2 do questionário, em anexo), sete

professores já os haviam lido e quatro não. (a PF7 e a PF5 não os conheciam, como

também as duas professoras das escolas públicas de periferia, PF2 e PF6).

Com relação à terceira pergunta do questionário que diz respeito ao

posicionamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais frente ao ensino de língua

estrangeira (inglês), os quatro professores que não conheciam os Parâmetros Curriculares

Nacionais não deram resposta, mostrando coerência com suas respostas anteriores (PF2,

PF5, PF6, PF7). Os outros sete fizeram um resumo da idéia central contida nos mesmos,

demonstrando terem conhecimento da proposta do governo, ou pelo menos terem tido

contato, discussões com relação a este documento. PF1: “O ensino de Língua Estrangeira

deve não apenas capacitar o aluno a compreender e a produzir enunciados corretos no novo

idioma, como contribuir para sua formação geral enquanto cidadão.” PF4: “Levar o aluno

a compreender o mundo multiforme e multicultural em que vive ...” PF8: “Os Parâmetros

oferecem /.../ um ensino de qualidade /.../ de acordo com as necessidades sociais, políticas,

econômicas e culturais para que seja formado um cidadão capaz de atuar com competência

na sociedade.” PM1: “ ... usar a língua inglesa como instrumento para se /.../ ter acesso a

informações e grupos sociais /.../ conhecendo a forma de ser, agir e sentir”. Apesar destes

discursos aparentemente engajados, percebemos algumas falhas de compreensão. Não são

os Parâmetros Curriculares Nacionais que “oferecem /.../ um ensino de qualidade.” (PF8).

50

Eles apenas apresentam idéias devidamente fundamentadas, que, se compreendidas pelos

professores e levadas avante em suas aulas, vão contribuir para um ensino de qualidade.

Quando lhes foi perguntado se concordam com as idéias propostas pelos

Parâmetros Curriculares Nacionais (pergunta 4 do questionário, em anexo), a PF1

respondeu que não concordava, pois “... os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem

uma realidade bem diferente das Escolas Estaduais”. Três não deram opinião (PF7, PF5 e

a professora de uma das escolas públicas, PF2); sete deram sua opinião, dizendo concordar

com a nova postura do governo. PM2: “... a cada dia que passa, a interação com uma

língua estrangeira se torna mais marcante em nossa cultura.” A PF4 fez um comentário

que acredito relevante no contexto: “A posição assumida pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais visa melhorar a atuação do professor e a aprendizagem do aluno. Espero que

saia do papel para a prática em todos os níveis: fundamental e médio.” Esta professora

deixa transparecer uma certa falta de fé na real implementação do projeto. Talvez pela

situação política de nosso país, pelos tantos outros projetos que já foram criados mas que

na realidade não existiram.

Acredito importante ressaltar que, no dia em que estivemos na EP2

conversando com seu diretor, a supervisora da escola e a coordenadora da área de inglês,

foi feito um comentário por esta última, que acredita que os Parâmetros Curriculares

Nacionais não vão funcionar devido à implantação dos ciclos. Ela já recebeu na escola

vários alunos vindos de escolas do Estado para a 5a série, que mal sabiam ler em

português, e isto causava grandes problemas, inclusive com relação ao

ensino/aprendizagem de língua inglesa. A supervisora também fez seu comentário, e como

já havia participado de congressos e discussões em Brasília e Belo Horizonte sobre a

questão dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da implantação dos ciclos no ensino

fundamental, sua opinião é que “funciona no papel”, mas também acha muito difícil que

seja implantado exatamente como deveria ser.

Quando foi perguntado aos professores se suas aulas refletiam os ideais dos

Parâmetros Curriculares Nacionais de língua estrangeira (pergunta 5 do questionário, em

anexo), a PF2 respondeu que desconhecia os Parâmetros Curriculares Nacionais e que

suas aulas se baseiam em sua formação profissional; as PF5 e PF7 não responderam,

coerentemente com suas respostas até então; os demais afirmaram que suas aulas estão de

51

acordo, embora dentre estes a PF6 que havia dito não conhecer os Parâmetros Curriculares

Nacionais de língua estrangeira, aqui respondeu afirmativamente, demonstrando uma certa

incoerência com suas respostas anteriores. Como poderá dizer que suas aulas refletem os

ideais dos Parâmetros Curriculares Nacionais se não conhece seu conteúdo específico?

Na pergunta 6 do questionário, lhes foi perguntado se o ensino de língua

estrangeira leva à cidadania mais consciente, ao que dez responderam sim, pois como diz

o PM2 “Quando você aprende uma língua estrangeira, a sua concepção de vida irá

mudar /.../ todo conhecimento adquirido irá ampliar sua visão de mundo.”; PF1 “ ...

adquirir conhecimento através de um outro idioma, ele ((o aluno)) passa a entender melhor

os problemas sócio-econômicos que envolvem o seu país em relação aos outros países.”;

PF2 “ ... ((conhecer)) a língua e cultura de povos tão mais evoluídos, pode refletir na

formação de uma cidadania mais crítica e quem sabe até se espelhar e procurar seguir os

modos de vida desses povos, que, acredito eu, são brilhantes”. As respostas desta última

professora demonstram uma certa glorificação da cultura dos países de língua inglesa. E

como ela leva isto para suas aulas? Como consegue auxiliar no desenvolvimento de seres

humanos reflexivo-críticos, sem preconceitos, cidadãos coerentes com sua própria

realidade? A PF6 diz que “ ... hoje o inglês é uma segunda língua para nós e temos um

turbilhão de informações escritas e se não tivermos noções da língua, não saberemos

decifrá-las.” Esta professora na realidade não respondeu à pergunta proposta, pois apenas

mencionou “informações escritas” e a necessidade de “decifrá-las”, o que pode contribuir

para se alcançar uma cidadania mais consciente, pois para isto é preciso entender tudo o

que está à nossa frente, e saber julgar baseado em muitos fatores, mas ainda podemos

vislumbrar outros aspectos neste processo de desenvolvimento da cidadania, além da mera

decodificação. Além do mais, esta professora classifica a língua inglesa como nossa

“segunda língua”. A PF7 não respondeu a esta pergunta.

Com relação à pergunta 7 do questionário, todos os professores disseram que

usam livro didático em sala de aula; porém a PF4 disse que intercala com outras atividades.

Todos os onze professores responderam às perguntas 8 e 9 do questionário

afirmando que trabalham as questões de cultura em sala de aula. As PF1, PF2, PF4 e PF6

deram como exemplo a festa de “Halloween”, embora não explicaram como realizam esta

festa, nem como ela é passada aos alunos. É possível notar que as festas de “Halloween”

realizadas nas escolas fundamentais hoje em dia, não estão ligadas ao ensino de língua

52

inglesa – são um evento da escola. Fica aqui um questionamento: por que a realização de

uma festa de “Halloween” em escola de ensino fundamental? Será que o contexto histórico

e a relevância que ela tem dentro do seu país de origem (Inglaterra) é apresentado? Sendo

realizada em escola particular de ensino de línguas estrangeiras, o evento é compreensível,

visto que este tipo de escola se propõe a ensinar a língua em todas as suas habilidades,

como também a cultura desta língua. Mas em escola de ensino fundamental ela é

apresentada com que fundamento? Embora o que vamos relatar agora não tenha sido parte

de nossa pesquisa, acreditamos ser importante neste contexto. No ano passado,

conversando com uma garota de 5a série, fantasiada para ir à festa de “Halloween” de sua

escola, (uma escola estadual da cidade, que não faz parte da pesquisa) fizemo-lhe várias

perguntas com relação à festa e dentre elas, perguntamos o que era a festa de

“Halloween”, ao que ela respondeu: “faz parte do folclore brasileiro”.

Os PM1 e PM2 citaram o costume de sempre dizer “please” e “thanks” como

sendo um costume tipicamente inglês. Na realidade é a forma educada de pedir ou

agradecer por qualquer coisa em qualquer língua, porém acreditamos que na língua inglesa

seja usada realmente com mais freqüência do que na língua portuguesa. A PF7 citou a

questão dos “eventos e datas”. A PF8 falou do costume da “mesada” e “outras

atividades”. A PF3 citou a “Olimpíada na Austrália” (que acontecia no momento). PF9

falou de um aluno que tinha ido aos Estados Unidos e “relatava experiências” aos colegas.

A PF5 não citou exemplo.

A pergunta 10 pretendia estabelecer se o ensino de aspectos culturais dependia

do objetivo do curso, ao que os professores PF1, PF4, PF6, PF8, PF9, PM1 e PM2

responderam que o ensino dos aspectos culturais depende sim do objetivo do curso, porém

os PF2, PF3, PF5, PF7, acreditam que não, embora não tivessem justificado sua afirmação.

Com relação à pergunta 11 que questionava sobre a necessidade da introdução

de aspectos culturais no ensino fundamental, apenas o PM2 acredita que não é necessário,

os demais respondendo afirmativamente.

A pergunta 12 pretendia verificar qual a reação dos alunos quando lhes eram

apresentados aspectos culturais da língua estrangeira. As respostas dos alunos com base no

depoimento dos professores refletem reações diversas, algumas positivas (Que

interessante! Que estranho!) e outras negativas (Que bobeira! Ainda bem que não moro

lá!):

53

TABELA 1- Reação dos alunos

Que interessante! Que estranho! Que bobeira! Ainda bem que não moro lá!

PF1 X

PF2 X

PF3 X

PF4 X

PF5 X

PF6 X

PF7 X X

PF8 X

PF9 X X

PM1 X X X X

PM2 X

As perguntas 13 e 14 pretendem obter informações sobre as fontes de

informação utilizadas pelos professores e em quais países de língua inglesa eles buscam

estas informações.

TABELA 2 – Fontes de pesquisa.

Livros Revistas Filmes Contatos Vivência EUA Inglaterra Todos

PF1 X X X X

PF2 X X X X X X

PF3 X X X X X X

PF4 X X X X

PF5 X X X X

PF6 X X X

PF7 X X X

PF8 X X X X X X X

PF9 X X X X X X X

PM1 X X X X X X

PM2 X X X X X

54

Acreditamos que seja interessante registrar que os quatro professores que têm

contato pela vivência, isto é, por já terem tido oportunidade de viajar para o exterior, são

professores nas EP1 e EP2. Verificamos que apenas as PF4 e PF5 buscam informações em

todos os países de língua inglesa. Isto demonstra uma abertura maior, um conhecimento

mais profundo de o que seja o ensino de língua inglesa, já que língua inglesa não se

representa apenas pelos “Estados Unidos” ou “Inglaterra”, mas por todos os países que a

utilizam em sua comunicação. A PF5 nesta questão demonstrou uma boa compreensão de

que língua inglesa na realidade é a língua falada em todos os países que a utilizam quer

como primeira ou segunda língua, oficial ou não, envolvendo os sotaques, costumes e

tradições específicos de cada um.

Na pergunta 16 a questão tinha por objetivo perceber como os professores

viam a cultura de países de língua inglesa em relação à sua própria. Os professores PF1,

PF2, PF4, PF5, PF8, acreditam que a cultura dos países de língua inglesa é mais

desenvolvida que a brasileira, enquanto que os professores PF3, PF6, PF7, PF9, PM1, PM2

a consideram apenas “diferente”. Se considerarmos o total de onze professores, podemos

afirmar que aparentemente, menos da metade trabalha de uma forma que poderíamos dizer

glorifica a cultura dos países de língua inglesa. No entanto, se considerarmos que a média

de alunos por sala é de 40 (quarenta), isto nos leva a crer que um grande número de alunos

está recebendo informações positivas com relação à cultura dos países de língua inglesa,

em detrimento de sua própria.

Respondendo à pergunta 17, as professoras PF2 e PF6 acreditam que são os

problemas de ordem cultural que impedem o Brasil de sair do assim chamado “Terceiro

Mundo”, enquanto que os demais professores discordam dessa posição. Podemos dizer que

a maioria tem consciência dos reais problemas de seu país.

Na pergunta 15 foram listados alguns adjetivos para que os entrevistados os

relacionassem como sendo mais característicos do povo brasileiro ou do povo de língua

inglesa. Os resultados foram os seguintes:

55

TABELA 3 – Adjetivos relacionados a falantes da língua inglesa e da língua

portuguesa.

Povo brasileiro Povo de língua inglesa3 Honesto 86 Desonesto 10 Sério 1010 Brincalhão 04 Educado 98 Mal educado 27 Trabalhador 95 Preguiçoso 19 Romântico 00 Realista 81 Formal 99 Informal 10 Disciplinado 109 Indisciplinado 0

FONTE: Adaptado de Moita Lopes (1996)

Analisando os resultados deste quadro, é possível perceber ainda um

preconceito bastante arraigado com relação a estereótipos do povo brasileiro e dos povos

de língua inglesa. A grande maioria define o povo brasileiro com os adjetivos negativos

como “desonesto”, “preguiçoso”, “mal-educado”, e “indisciplinado”. Até o “brincalhão” e

“informal” parece que adquirem uma conotação negativa nesta classificação. Por outro

lado, os povos de língua estrangeira inglês são “honestos”, “sérios”, “educados”,

“trabalhadores”, “disciplinados”.

Após termos feito esta análise dos questionários, foi realizada uma entrevista

com cada sujeito a fim de aprofundar alguns pontos relevantes. Esta entrevista foi realizada

tendo como ponto de partida quatro perguntas (em anexo) que nortearam o

desenvolvimento da mesma. Todas as perguntas foram feitas aos professores, talvez não da

mesma forma ou ordem, dependendo de como acontecia o andamento da entrevista.

4.3. Análise das entrevistas

A palavra cultura, como já foi visto na fundamentação (pp.18-19) tem vários

significados, e alguns professores, embora já tendo respondido ao questionário que deixava

56

claro que a problemática sendo analisada se referia à cultura do povo, da nação, as

tradições, os costumes, os valores, e apesar de um pequeno retrospecto antes do início de

cada entrevista, ao lhes ser feita a primeira pergunta, responderam entendendo cultura em

seu sentido amplo “ ...a teoria do saber...” (PF3); “... um CONHEcimento que a pessoa

adquire né, com relação a, a todo aspecto da FORmação da pessoa, intelectual ...” (PM2);

“ ... uma série de conhecimentos, (+) que ele ((o aluno)) vai adquirindo ao longo da vida.”

(PF4); “ ... cultura é tê informação a todo tipo de de NOTÍCIA, né, tanto lado político,

quanto do lado da literatura.” (PF5); “todo tipo de informaÇÃO que a pessoa pode

adquirí....” (PF6). Foi necessário trazer a palavra cultura para dentro do contexto “ensino

de língua estrangeira, inglês”, para que pudessem dar seu parecer sobre a palavra “cultura”

dentro deste ponto de vista.

Assim, os sujeitos definiram cultura como sendo:

PF1 - “ ... o modo de um, de um, de uma pessoa ou uma, uma população

inteira agir.”

PF2 - “Ensinar cultura, eh, para mim, é ensinar os costumes, né, de um

determinado país, de um determinado povo, né, a maneira de viver, né,

as tradições do povo.”

PF3 - “ ... da forma que cê tá colocando, como é que é a alimentação; como é

que é o dia-a-dia;”.

PM1- “Cultura é toda problemática histórica de uma nação, que vem desde, por

exemplo, o seu início até os dias atuais, passando por vários estágios.”

PM2- “ ... CULTURA, o, o QUE as pessoas daquele país, COMO elas pensam,

como elas se relacionam, o estilo de vida, etc.”

PF4 - “... ((implica)) como ele vai empregar ((as noções culturais)) né, no seu

dia-a-dia. Na vida dele, no convívio.”

PF5 - “ ... cultura é cê conhecê acho que cada cultura do, dos LUGARES,

entendeu, da, como que eu te falo, tipo assim, conhecê, o, os costumes,

os costumes de um PAÍS, de outro, de uma região, de outra.”

PF6 - “ ... é a individualidade de cada um. De ONDE ele vem, e que eh, a

culTUra da língua seria o ACRÉSCIMO daquilo que a gente adquire,

né?”

57

PF7 - “... são costumes, são os hábitos das, das pessoas que vivem em

determinado lugar, né? As informações, a sociedade, tudo o que

ENVOLVE relacionamento e hábito, eu acho.”

PF8 - “ ... o que o povo tem, o que o povo traz, desde a formação desse povo,

desde que nós fomos descobertos ...”

Nenhum dos sujeitos mencionou explicitamente a questão dos valores, dos

ideais, prendendo-se mais às questão das tradições, atividades, hábitos. Entretanto, quando

se fala “no modo de uma população inteira agir”, “aquilo que o povo traz”, “a

problemática de uma nação desde seu início”, “como elas ((as pessoas)) pensam”, podemos

subentender a questão dos ideais e valores que regem o comportamento desse povo.

A PF4 e a PF6 não conseguiram passar um conceito claro de o que seja

cultura. A PF4, apesar de perguntas que voltavam à preocupação inicial, o conceito de

cultura, levou suas respostas para o lado da prática, afirmando que os Parâmetros

Curriculares Nacionais pedem que o professor passe informações culturais (que ela não

definiu o que sejam), “... no Parâmetro Curricular, pede para você passar informação para

ele ter eh, noções ((culturais)) a respeito do, da língua /.../ a partir de como ele ((o aluno))

vai empregar, né, no seu dia-a-dia. Na vida dele, no convívio.” Na realidade, não

apresentou o seu conceito de o que seja cultura.

A PF6 também deixou a questão no ar, levando a noção da palavra cultura para

um ponto de vista pessoal ao dizer que cultura “...é a individualidade de cada um.” Está

certo que uma comunidade é formada por um grupo de indivíduos, cada um tendo a sua

individualidade própria, mas cultura é algo compartilhado por esse grupo, como já foi

mencionado na fundamentação; são os valores, os ideais compartilhados por um grupo de

pessoas que se consideram membros de um grupo social. Ademais, ao afirmar que “... a

cultura da língua seria o ACRÉSCIMO daquilo que a gente adquire”, demonstrou uma

incapacidade de expor seu pensamento de uma forma compreensível. Fica claro nos

comentários desta professora, que ela já participou de debates, cursos referentes à

abordagem sócio-interacionista, mas fica um ponto de interrogação com relação à sua

compreensão exata de o que seja. Ela apresenta idéias captadas ao longo de sua vida

profissional “... a língua falada não é a mesma coisa da língua escrita.” , “ ... os alunos, eles

têm um bloqueio a respeito da língua inglesa. ‘Professora, mas eu não sei nem o português,

como é que eu vou fa falar no inglês?’” Mas na realidade, percebe-se que ela não sabe

lidar com estas situações. Esta professora comenta o seguinte: “... porque nós SOMOS

58

influenciados pela língua inglesa que é nossa segunda língua. Aí a imporTÂNCIA de se

estudá a língua inglesa na escola, né?” Aqui ela deixa bem claro seu pensamento com

relação à “normalidade” em se aceitar questões da cultura dos países de língua inglesa no

nosso dia-a-dia (“... é nossa segunda língua.”) No decorrer da entrevista, ela fala da festa

de “Halloween”: “ ...Eh, hoje até a gente já, já, já assim, já, já até familiarizou o

“Halloween”, né, que é uma cultura deles, que a gente também, isso também faz parte

hoje da cultura da escola, né, porque todo ano a gente promove a festa.” Até parece que

pelo simples fato de que “... todo ano a gente promove a festa.”, o evento já faz parte da

cultura brasileira. Com relação à festa de “Halloween”, não queremos deixar a impressão

de que somos contra tal evento, mas sim, somos contra a forma em que está acontecendo

nas escolas de ensino fundamental e médio. Acontece hoje como a PF6 afirmou de uma

forma “natural”, sem que se passe para os alunos a informação de que é uma tradição que

remonta ao período dos celtas na Inglaterra, e que é mantida em alguns países de língua

inglesa.

No entanto é possível observar contradições no discurso desta professora, ao

afirmar no final de sua entrevista “... assim como nós temos a NOSSA cultura, eles têm a

cultura deles. /.../ NÃO como forma de imitação, tá?” Porém ela nos deixa entender que

sua forma de trabalho não salienta tanto essa individualidade, mas sim, uma imitação dos

costumes de um país que nos fornece “... nossa segunda língua...”, “...isso também faz

parte hoje da cultura da escola, né, porque todo ano a gente promove a festa.”

Com relação a se trazer o aspecto cultural para dentro da sala de aula, todos

concordaram que é possível, mas houve uma certa dificuldade em exemplificar de uma

forma concreta esta realidade. Os exemplos mais citados, foram a questão das datas

comemorativas, músicas, o dia-a-dia, alimentação, o uso de palavras inglesas no nosso

contexto de Brasil, e a questão do cumprimento.

PF1- “Ó, um exemplo! /.../ Quando tem data, datas comemorativas, eu procuro

mostrar como eles celebram as datas, né, no dia das mães, como é feito lá

/.../ inclusive chegando em outubro, a gente trabalha demais, né, o

“Halloween”, por que? No Brasil, agora parece que passou a ser uma

data assim, bem comemorada, né, no Brasil inteiro. A gente vê, eu

mostro pra eles também.”

59

Para esta professora, lidar com esses assuntos é uma forma de fugir de o que

ela chama “... ficar trabalhando somente a gramática ...” porque o aluno fica “... ausente da

sala.” As questões culturais são interessantes, como diz ela, e utilizadas no sentido de “...

mostrar pra eles terem mais conhecimento de como é lá ...”. Mas ela não deixou

transparecer o trabalho de reflexão crítica, ao fazer comparações entre as culturas

diferentes. É um extra, que vai transformar a aula em algo mais interessante, que vai

aguçar a curiosidade dos alunos apenas em saber como é.

PF2 - “Olha, eu acho que, é como eu falei mesmo, através de texto, né, até

mesmo quando a gente vai trabalhar música, que eles gostam muito de

música ...”

Também foi uma resposta vaga e quando lhe foi pedido um exemplo concreto,

sua resposta foi “ (+) (+) É, tá difícil.” ((risos)) Dá para notar que na realidade, fala-se em

cultura, mas a verdadeira idéia de o que seja e para que ser trabalhada nas escolas, está

longe daquela apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Além do que, apesar

de ter dito que o texto, a música era utilizada para trabalhar questões de cultura, ela, logo

em seguida, disse que “Aí eu procuro uma música que tenha, né assim, verbos no passado

ou no presente, né, e NÃO fico só naquilo ali, em verbos, só falá em verbos. A gente

trabalha também a LETRA da música, né a tradução, vamos supor, daí a gente tem que

entender o que está falando, né?” O texto na realidade é um pretexto para falar de

gramática e se fazer tradução que não leva a nenhuma discussão em torno de ideais e

valores, e consequentemente não leva ao crescimento do aluno como um ser crítico. A

música, que é uma manifestação da cultura de um país, está sendo utilizada para se fazer

estudos tradicionais de língua, e não para se discutir o que está nas entrelinhas, por detrás

das palavras, que situação sócio-cultural está sendo refletida naquela narração ou poema.

Uma discussão neste nível com certeza estaria dando abertura para inúmeros

questionamentos, e aí sim, poderíamos dizer que aspectos de cultura estariam sendo

introduzidos em sala de aula.

PF3 - “Ah, sim. /.../ da forma que cê tá colocando, como é que é alimentação;

como é que é o dia-a-dia;” “... eu esPEro às vezes, acontecer alguma

coisa, /.../ então às vezes eu tento tá relacionando.”

60

Esta professora salientou o aspecto de alimentação, em um trabalho conjunto

com a professora de ciências na “semana da boa alimentação”. Ela relata aos alunos

experiências pessoais que tenta usar como temas de discussão, utilizando também coisas

que acontecem no mundo. Às vezes, segundo ela, o livro aborda alguma questão, e hoje

tornou-se fácil procurar algo, para enriquecer uma aula. A música, a informática também

podem ser utilizadas como fontes de informação e ela ainda conta com o auxílio dos alunos

em procurar material. Como é professora da EP2, tem esta vantagem que os alunos têm

acesso a bons livros, revistas, jornais, Internet. Embora apresentando suas idéias de uma

forma meio confusa, ela deixa transparecer essa preocupação de reflexão em cima das

diferenças, mostrando que “devido à cultura” não é possível que todos ajam da mesma

forma. Quando a PF3 fala de trabalho em conjunto com outros professores, verificamos

que está sendo realizado um trabalho interdisciplinar. Os Parâmetros Curriculares

Nacionais procuram mostrar a importância da dimensão social da aprendizagem no

processo de construção da cidadania, o que pode ser atingindo quando se observa o aluno

como um ser inteiro, não fragmentado; quando a orientação educacional também se fizer

de uma forma integral, relacionando as disciplinas umas com as outras, como também

com o cotidiano, com a prática.

PM1 - “Por exemplo, o, eh, um dia desse eu tava trabalhando com as

“seasons”, com as estações”.

O PM1 então passa a relatar como desenvolveu este tópico com os alunos,

falando sobre as diferenças das estações do ano lá e aqui, quando começam e terminam,

como as pessoas se vestem, como se alimentam e o que esperar se você viajar para os

Estados Unidos, por exemplo, em determinada época. Ele repete várias vezes que ele

trabalha desta forma levando o aluno “... a viver dois mundos ao mesmo tempo, mas dois

mundos paralelos.”, com o objetivo “... dele ((o aluno)) PENSAR, ...”, “... ele vai TER

que pensar.” Notamos uma preocupação deste professor em desenvolver a criticidade em

seus alunos, justamente ao apresentar as questões culturais, fazendo comparações com sua

terra natal, analisando os pontos positivos e negativos que automaticamente levam a

conclusões.

PM2- “ Eu tenho vários amigos americanos, então eu converso, eu entro muito

em contato com eles, pra saber se vocês, se EU né, estou realmente, mais

61

ou menos, né, vamos dizer assim, eh, me aproximando da língua. /.../ eu

busco muito costumes da língua inglesa ...”; “... bom, uma que os

PRÓprios livros didáticos já fornecem um pouco, né. /.../ É importante

levar para dentro da sala de aula, para que o aluno tenha uma visão

EXTRA daquilo que está no livro.”

Embora este professor fala de seu envolvimento, em não se prender a livros, a

procurar informações a mais, ele não deixa claro como realmente faz isso. Conversa com

amigos estrangeiros, para checar informações, que parece levar para a sala para mero

enriquecimento de seus alunos com relação a alguma coisa que já está no livro. Este

professor cita várias vezes a importância do léxico no ensino/aprendizagem de uma língua

estrangeira, e para ele, trazendo estas informações para seus alunos, é uma forma de ajudá-

los pois assim “... TAMBÉM enriquecerão o vocabulário deles /.../ o léxico deles será

ampliado também.” Porém não explicita como estas informações que ele apresenta em

sala de aula poderão ser utilizadas pelos seus alunos no desenvolvimento de uma

consciência crítica. Além disto, parece haver uma pequena confusão no uso dos termos

“vocabulário” e “léxico”. O PM2 deixa uma dúvida com relação à sua compreensão destas

duas palavras, pois tende a usá-las como se fossem dois conceitos diferentes.

PF4 - “A gente vê filme, a respeito de, de países que utilizam em, a língua

inglesa, sabe? Então, a PARTIR daí, cada um vai formando seu

conceito, né?”

Esta professora também fala de um exemplo prático relacionado à alimentação,

e ela deixa claro que sua postura em sala de aula é de uma mediadora ao afirmar que

“Porque são ELES que têm que tirar a, o contexto de tudo isso.” e “ ... levar o aluno a

pensar, refletir.” Ela trabalha através de debates levando os alunos a concluírem “ ... que

existem noções di, DIFERENTES, e um convívio DIFERENTE.” Seu trabalho parece ser

bastante consciente, e embora trabalhe em uma escola pública (EE4C), tem acesso a

informações, vídeos e leva os alunos a discutirem a realidade a partir daquilo que

assistiram ou ouviram. Seus alunos também fazem pesquisa, tudo isto num clima de

comparação, de discussão de valores.

62

PF5 - “... eu acho que não é tã:::o difícil, sabe, mas também não é tã:::o fácil. A

gente tem que imaginá::: /.../ tem que imaginá mu:::ito, né? Eu, eu lia

com eles o texto, porque geralmente vem no texto, né? /.../ discuti:::a, e

perguntava que que eles achavam. Muitos queriam sê igual ...”

Esta professora (aluna do curso de fisioterapia) na realidade demonstrou que

tem pouco engajamento com relação à questão “educação” em si. Sua postura como

professora, mostra uma certa falta de compromisso com o papel de educador. Referindo-se

aos alunos, quando discutiam questões culturais “... muitos queriam sê igual ...” e com

relação à sua atitude própria “... a gente ‘ah, se fosse assim ia sê BOM, sabe.’ Por que que

ia sê bom, né? A gente discutia, mas FALAVA, ‘só que num tem jeito, né gente’, ...” Seu

objetivo nessas “discussões” era levar conhecimento a seus alunos. Repetiu várias vezes

que os alunos gostavam, participavam e se interessavam mesmo, mas além dos textos do

livro, não trouxe nenhum outro exemplo prático. Além do mais, ao dizer “ ... a gente

discutia, mas FALAVA, ‘só que num tem jeito, né gente’?”, deixa-nos entender que as

discussões eram tendenciosamente favoráveis à cultura da língua estrangeira, e sua

resposta ao “... muitos queriam sê igual ...” nos mostra esta tendência ao simplesmente dar

por encerrado a discussão apresentando uma “desculpa” “... só que num tem jeito, né

gente?” Em um momento como este, ela poderia fazer tanto pela formação de seus alunos,

levando-os a perceber estas diferenças culturais, geográficas, seja o que fosse, como

diferenças inerentes de cada povo que precisam ser respeitadas, mas que copiadas,

transportadas para outros lugares, dificilmente funcionam.

PF6 - “Olha, nas datas comemorativas, dia das mães, dia dos pais, né, dia dos

namorados, dia do “Halloween”, sabe?”

Estes foram os exemplos citados por esta professora, em uma tentativa de

“...ASSOCIÁ a língua, no sentido assim da FALA, aos costumes que as pessoas têm lá,

né?” Também não foi clara em como abordaria estas questões em sala, se apenas

aproveitando as datas comemorativas ou se utiliza textos, etc. Também não deixa claro sua

atitude ao trazer estas datas comemorativas para a sala de aula. Como já comentamos, esta

professora mostra algum conhecimento da linha de trabalho que fundamenta os Parâmetros

Curriculares Nacionais, mas tem dificuldade em colocar suas idéias de uma maneira clara:

“...ASSOCIÁ a língua, no sentido assim da FALA, aos costumes que as pessoas têm

lá ...”.

63

PF7 - “ (+) Com os livros, com os livros /.../ então a gente discutia sobre.”

Entre o questionário e a entrevista, esta professora (a zootecnista) já não

trabalhava mais na EP2. Ela relata que na escola tinha um centro de línguas e neste centro,

os professores procuravam decorar a sala com murais que apresentassem assuntos da

cultura americana. Ela alega ter saído da escola porque “... a gente realmente NÃO dá aula

de inglês em colégio ...” O assunto mais comentado pelos alunos, o que mais os

interessava, era a festa de “Halloween”. Seus momentos culturais em aula parecem estar

ligados à comparação e boa parte dos alunos têm uma noção muito favorável com relação

àquilo que é estrangeiro. “... tem muito assim: ‘LÁ é tudo bom, e aqui nada, nada é bom,

tudo, nada presta.’” Sua postura nesta situação está clara quando ela afirma que tenta “...

mostrar que também não É assim, que aqui tem coisas boas e que lá tem coisas ruins

também”. Ela reclama da falta de interesse por parte dos alunos (“até 70%”) o que levava a

certa dificuldade nas discussões, por questões de disciplina. No entanto, mesmo ao

promover estas discussões sobre assuntos relacionados à cultura, seu objetivo era “...

treinar mesmo a língua”.

PF8 - “... ALÉM do livro, a gente traz em vídeo. Ele mistura costumes, com

música ...”

Esta professora é coordenadora da área de língua inglesa no ensino

fundamental da escola (EP2) e citou um convênio da escola com uma Escola Especializada

em Línguas que faz parte de uma rede nacional bem conhecida, que implica o

fornecimento de vídeos e músicas para sua escola; ela também menciona uma ligação da

EP2 com uma Editora Multinacional que fornece materiais especificamente para os alunos

da EP2. É interessante notar que nenhum dos outros quatro professores desta escola citou

estes convênios como meios de auxiliar seu trabalho em sala de aula. Ela fala também do

Centro de Línguas dando o exemplo da limpeza “lixo no lixo”, coisa que acontece com

mais regularidade e continuidade nesse Centro de Línguas, porque os alunos aprenderam

que “... na Inglaterra as crianças são responsáveis pela limpeza de sua sala de aula.” Há

uma tentativa de trazer a cultura da língua estrangeira para dentro da sala de aula em

termos mais práticos, quase que imitativos, (...“ALI, é proibido. /.../ mas o Centro de

Línguas é PROIBIDO tê um papel no chão, porque sou eu que tô ali, entende?”) mas não

64

foi possível perceber qualquer discussão em torno dos ideais, ou valores no sentido de

desenvolvimento da capacidade crítico-reflexiva. O convênio e ligação com a Editora

Multinacional que poderiam ser um grande enriquecimento para aulas de discussão e

reflexão crítica, devido à grande quantidade de material a que têm acesso, parecem não

estar sendo aproveitados como poderiam ser, na promoção de debates enriquecedores,

multiculturais, que, com certeza levariam à momentos de reflexão profunda.

Com relação à pergunta sobre a possibilidade de desenvolver a criticidade e a

consciência política, as respostas foram:

PF1 - “É, eu acho que pra, no Brasil, assim, sendo realista, eu quero mostrar

para eles, mais é em termos de conhecimento, a nível de saber um dia

pra eles poderem passar pra outra pessoa, mas eu acho que

FORMAÇÃO, eu acho que é meio difícil, sinceramente.”

Esta professora comenta muitas vezes sobre o tipo de vida de seus alunos: “... o

aluno, ele tem muitos problemas...”, “... porque a vida deles, eles trazem uma bagagem

muito sofrida.” E sua conclusão com relação a isto, é “Então, às vezes pra um ou pra

outro, não vai fazer efeito.” Ela fala do interesse dos alunos, “... tem muitos que são muito

interessados.../.../ quer dizer, que interessam, tem alguns, tem uns que são totalmente

desinteressados...”, usando expressões um tanto contraditórias, que no final, não é

possível chegarmos a uma conclusão se são interessados ou não. Sua postura ao responder

esta pergunta mostra até um certo preconceito, ao afirmar que no Brasil é um tanto difícil

levar a uma formação mais consciente através do ensino de língua. Ela sempre joga a culpa

desta questão na situação sócio-econômica de seus alunos, na falta de material, no número

de alunos em sala. Em várias falas, ela reforça a idéia que o ensino de questões culturais é

mais como um extra, embora ela quisesse que fosse levado mais a sério, alegando a falta de

material para que isso seja possível.

PF2 - “... crescimento é esse mesmo, PEssoal, que eu acho que é importante

para a pessoa, né, para ela tê uma auto-estima mais elevada, e também

pro lado profissional, que eles vão chegá lá um dia, né...?” “... a ser um

cidadão melhor. Né, e ter mais visão, consegui enxergar um pouco mais

além.”

65

Esta professora acredita realmente que deve se copiar e imitar a cultura dos

povos de língua inglesa. No questionário, ela afirma que “... o aprendizado da língua e

cultura de povos tão mais evoluídos pode refletir na formação de uma cidadania mais

crítica e quem sabe até se espelhar e procurar seguir os modos de vida desses povos,

que acredito eu, são brilhantes.” Ela comenta em sua entrevista que “... eles levam uma

vida bem, bem diferente da gente, pra melhor...” Ela concorda que apresentando a

diferença “... né, da vida que esse pessoal leva com a nossa, né, pa vê se isso ajuda até

mesmo a mudá a maneira deles pensá, né, e quererem algo mais.” A mudança exigida,

sonhada por esta professora, não nasce de reflexão crítica, mas de imitação. Ela compara

os adolescentes lá e aqui “... até os adolescentes mesmo, a maturidade que eles têm, em

relação aos nossos aqui, é, é outra cabeça, né.” Ela acredita que esta cópia leva sim a

crescimento, tanto pessoal como profissional. Ela ainda faz um comentário sobre a política

“Né, e a gente comparando com o nosso, com o nosso país, é diferente, parece que né, (+)

que nem isso as pessoas conseguem escolher e ter sucesso na escolha.” Sua visão de Brasil

e brasileiros é bastante negativa e tememos as possíveis conclusões que estes alunos

venham a ter com relação à sua própria cultura e à cultura do “outro”. Ela ainda comenta

que neste ano ela “... eu tô só com duas aulinha de inglês... /.../ o mais eu tô trabalhando é

com o português.” A sua maneira de falar das aulas de inglês pode ser considerada um

tanto pejorativa, pois sabemos que no Brasil usamos a terminação diminutiva, quando

falamos de uma maneira carinhosa, ou quando na realidade consideramos aquele fato ou

coisa de uma forma insignificante. E já que ela até agora falou tão bem da língua inglesa e

dos costumes dos povos de língua inglesa, notamos uma incoerência nessa sua fala

“aulinha”. Se ela realmente acredita em tudo o que disse, deveria estar procurando dar o

maior número de aulas possíveis, para propagar as idéias que tem, no entanto, sua

preocupação não parece tanta assim. Em outra resposta, ela diz não ter lido os Parâmetros

Curriculares Nacionais por falta de tempo – ora, quem acredita em algo, sempre acha

tempo para se dedicar a isto, ler a respeito, se informar.

PF3 -“... tendo uma formação desse nível, eu acho que automaticamente ele vai

ter uma cabeça DIFERENTE.”; “... faço enxergá-los também que, que

também não é como assim, só como a gente quer, né?”

Embora esta professora tenha divagado bastante em suas respostas, podemos

concluir que ela acredita sim, que o ensino de língua estrangeira vai ajudar na formação

66

geral do aluno. Ela mostra um posicionamento realista com relação aos fatos ou situações

que às vezes não são como queríamos, principalmente quando se começa a fazer

comparações com outras culturas; sua experiência é positiva porque é possível perceber

que seus alunos conseguem enxergar estas diferenças não como aspecto negativo, mas

como diferenças e que cada realidade é única, e todos nos complementamos.

PM1 - “Então ele, em cima, ele vai TER que pensar. Por exemplo, como que

está lá, e que está aqui. Então eu levo a viver dois mundos ao mesmo

tempo, mas dois mundos paralelos. /.../ O objetivo dele PENSAR.”

O PM1 é um professor consciente de seu papel como professor de língua, tem

idéias claras, condizentes com a realidade brasileira. Ele discute questões culturais com

seus alunos em sala de aula com o objetivo “... dele ((o aluno)) PENSAR...” Este professor,

já deu aula em escolas públicas, embora agora atua na rede particular e tem ampla

experiência destas duas realidades, mas nem por isso critica a situação ou o aluno.

Compreende a posição do aluno, e sua grande preocupação é levar este aluno a pensar por

si só, justamente nestes momentos de reflexão em torno das diferenças de uma cultura ou

outra. Ele também compreende a posição do professor, assumindo esta, com dignidade.

PM2 - “... quando ele, aparecer pra ele um comentário SOBRE esta área, ele

vai ter um, um vocabulário maior, ele vai ter uma, ele vai ter mais vias

de, mais alternativas para poder se comunicar com aquela pessoa.”

O PM2 complementa dizendo que “... se você ensina SÓ uma coisa e não

procura expandir, o aluno pode muitas vezes ficar bitolado naquilo que você passou pra ele

/.../ porque na realidade, você NÃO O ensinou (+) a ter várias opções, você ensinou ele

UMA única via, sendo que na realidade nós temos VÁRIAS.” Este professor acredita que

fazendo analogias, comparações, é possível se chegar a uma melhor compreensão. Ele

enfatiza bastante a questão do léxico no ensino/aprendizagem de língua. Para ele, a

discussão de questões culturais vai também automaticamente levar a um enriquecimento

no vocabulário e consequentemente na capacidade de comunicação.

PF4 - “... eu acho que é só por aí. É por aí que a gente começa, né?”

67

“Por aí”, para esta professora significa levar o aluno a pensar, refletir. Ela

demonstra ter abertura com os alunos no sentido de ouvir o “... que vem jogan, sendo

jogado pra gente no dia-a-dia”, mas ao mesmo tempo, levando-os a examinar e tirar suas

conclusões, o que leva a um pensamento crítico-reflexivo.

PF5 - “Ah, eu acho que ajuda PORQUE vai ser uma pessoa que vai saber

conversar do assunto ...” “No crescimento do aluno, pessoal, acho que

despertar o interesse por outras (+) (+) culturas”.

Esta professora não demonstra muita maturidade ao falar da questão de

desenvolver a criticidade em seus alunos. Na verdade, poderíamos inferir pelo seu discurso

que falta esta criticidade em sua própria fala. Ela demonstra superficialidade de

pensamento em todas as suas respostas, parece não levar muito a sério a função de

professora de língua. “Saber conversar do assunto”, não necessariamente leva o aprendiz

ao desenvolvimento da capacidade crítico-reflexiva, pois informações a gente consegue em

qualquer lugar, e informação simplesmente não leva a pensar, a refletir.

PF6 - “... eu acho assim, eh, na MINHA opinião, COMO cidadão, talvez até n,

até não, porque aqui nós temos essas datas comemorativas. Mas eu acho

que a gente tá trabalhando junto, a cultura do país, e buscando eh, assim,

através da cultura, uma forma de auxiliá, eh, no estudo da língua mesmo,

né? Então, eh, você junta cultura e junta também a parte do ensino, né?”

Para esta professora, o objetivo do ensino/aprendizagem da língua inglesa é

“...CHEGÁ a aprendizagem da língua inglesa. Alguma coisa referente à língua inglesa.”

Ela em momento algum, fala da educação de seu aluno como um todo, da formação de seu

aluno como cidadão. O ensino de língua é para levar o aluno a ter algum interesse a mais.

As informações culturais devem ser associadas à língua “... no sentido assim da FALA, aos

costumes que as pessoas têm lá...” Esta professora, apesar de ter um certo conhecimento

da abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais, demonstra apenas ter absorvido

palavras, frases sugestivas, mas não parece saber aplicar isto na realidade da sala de aula.

PF7 – “É, porque tem muito assim: LÁ é tudo bom, e aqui nada, nada é bom,

tudo, nada presta. Mas aí a gente tenta mostrar que também não É

68

assim, que aqui tem coisas boas e que lá tem coisas ruins também,”;

“Eu acho que formação deles como cidadão, eu acho assim, muito

FORTE, né?

Essa professora não acredita totalmente na força da educação sobre o aluno

como um todo, como cidadão. Ela salienta o ensino de questões culturais com relação ao

fato de se saber “... com quem a gente tá lidando” ((quando se fala com estrangeiros)); “...

não adianta você saber FALAR uma língua e não saber NADA a respeito do POVO que

fala essa língua.” É uma fala bonita e perspicaz que poderia ser levada à outra realidade -

conhecer o povo que fala a língua para um enriquecimento maior do aluno, para uma

compreensão profunda do sentimento de que cada um está ocupando um determinado

lugar no mundo com diferenças várias, sim, mas que não diminuem mas sim caracterizam

uma individualidade marcante.

PF8 - “Porque (+) por que que o americano faz isso e o brasileiro não faz. Por

que que o americano, ele é EXTREMAMENTE educado pra limpeza, e

o brasileiro não é. Então a gente tem TODAS as diferenças, a gente

vem, e isso VEM colaborar.” “Ele ((o aluno)) tá vendo a ((cultura)) do

OUTRO, ele pode basear no outro e na DELE.”

Esta professora salienta um trabalho “... NÃO a nível de comparação, mas a

nível de eh, IGUALDADE”. Ela tenta levar os alunos a uma reflexão sobre quem são,

como são, por que agem assim, de onde vieram e o que fazem, e, comparando com outras

culturas, estes alunos poderão chegar a conclusões mais reais. Seus olhos vêm problemas

lá como aqui “Porque a gente aqui tem MUITO ((risos)) problema como eles TAMBÉM

têm.”, portanto não está mostrando apenas o lado positivo da questão, mas a realidade tal

qual é.

A pergunta ligada à abordagem dos PCNs levou a respostas bastante

interessantes:

PF1 - “... sinceramente falando, eh, em termos do PCN, pra mim, eh, um, TÁ

no papel. A realidade é totalmente diferente.”

69

Esta professora disse no questionário que conhecia os Parâmetros Curriculares

Nacionais como também os Parâmetros Curriculares Nacionais relativos à Língua

Estrangeira. No entanto, demonstrou certa insegurança ao falar deles na entrevista “... que

eu já li, que tô lembrada, né?” “... porque eu não leio diariamente, nem assim, não tô

lembrada de, porque eu já li no começo do ano, que na escola a gente tem, eu tenho em

casa. Mas assim, eu procuro, já li, ...” Parece até que estava tentando convencer com

relação à leitura dos mesmos. Mas repete várias vezes “a realidade é outra.” Nesta questão

da realidade ser outra, ela fala do livro adotado da escola, com relação às diferenças

individuais de seus alunos, alegando que “Cê não vai seguir aquilo à risca. Infelizmente

não é assim.” Acreditamos que o livro didático é para ser usado pelo professor,

adaptando-o a seu mundo - a sala de aula. Não há necessidade de segui-lo à risca, pois ele é

como se fosse um mapa que, com criatividade e bom senso será seguido, fazendo as

devidas alterações que forem necessárias na trajetória do ensino/aprendizagem,

adequando-o àquela realidade. Ela demonstra certa rigidez na compreensão deste fato, e

tenta se esquivar da discussão em torno do conteúdo dos Parâmetros Curriculares

Nacionais ao dizer que “... TÁ no papel...”, não demonstrando nenhuma disposição em

tirá-lo do papel e adequá-lo à sua realidade que repete “... é outra.”

“PF2 - “É porque é assim, igual por exemplo /.../ a coisa mais difícil que tinha

era conseguí tê, montá um grupo de estudo, né?” “Não. Na, na voltado

pra, para o inglês ((PCN)), não.” “É, ((conhecimento)), é nenhum,

nenhum. Da língua inglesa, não”.

Esta professora respondeu ter conhecimento dos Parâmetros Curriculares

Nacionais mas não dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira. Alega

falta de tempo e horário para a formação de “grupos de estudos”. Vemos aqui a

necessidade urgente de auxiliar o professor a conhecer a fundamentação que vai nortear

não apenas as suas aulas, mas todo o processo de educação dos seus alunos. Acreditamos

que a direção da escola precisa se fazer bastante presente e tem a incumbência de trabalhar

a filosofia educacional do país, adequada à sua região e realidade local junto a seus

professores; isto, com o intuito de facilitar o pleno desenvolvimento dos alunos,

preparando-os para uma participação integral na vida social e política de seu país.

70

PF3 - “Ah, eu acho que tá mais ou menos, num sei, não me lembro muito bem,

mas eu acho que é mais ou menos eh, sobre aquelas questões que você

colocou...” /.../ Tá TUDO ligado, tá tudo assim, tudo é uma uma

cadeia.” “... a gente tem estudado muito isso aí, né? /.../ não vai ter

como cê trabalhá sem estar por DENTRO realmente. Então eu já tô

sentindo mais assim, mais leve, tá transcorrendo tranqüilo.”

Ao responder o questionário, esta professora respondeu que conhecia e já havia

lido os Parâmetros Curriculares Nacionais, no entanto suas respostas acima demonstram

desconhecimento. Ao falar de estar “TUDO ligado /.../ uma cadeia” ela está se referindo à

interdisciplinaridade e não à questão da cultura no ensino de língua estrangeira. Ao dizer

“... a gente tem estudado muito isso aí, né? /.../ não vai ter como cê trabalhá sem estar por

DENTRO /.../ eu já tô sentindo mais assim, mais leve ...”, lemos nas entrelinhas uma certa

preocupação da necessidade de realmente conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais,

mas não convence de estar “... mais leve...” . O que realmente sentimos ao fazer esta

entrevista foi uma certa falta de esclarecimento com relação aos conceitos e sua prática

pessoal, ou seja, na prática, parece estar engajada, demonstra preocupação em discussões e

reflexões, mas não conseguiu fazer uma ligação com os Parâmetros Curriculares

Nacionais, talvez por não conhecê-los realmente a fundo.

PM1 - “... nisso aí ((PCN e cultura)) você pode ter certeza que eu estou de

pleno acordo. /.../ Estudar a cultura é válido e eu acho MUITO

importante.”

A primeira resposta deste professor a esta pergunta foi um desabafo, porém

dirigido à questão da interdisciplinaridade, que, segundo ele, está sendo abordada como um

fim e não um meio. Ele acredita que as coisas fluem naturalmente, não com imposição. Sua

reclamação mais enfática foi com relação à elaboração de provas com questões

interdisciplinares. Ele concorda que as relações entre as disciplinas são uma realidade,

mas repete, que é preciso que as coisas fluam naturalmente. Com relação às questões

culturais, ele concorda plenamente que elas vão acrescentar algo ao aluno – mas sempre

repete, é preciso ter um objetivo. Ele menciona tradições americanas como por exemplo

“Halloween”, que para ele é “... mais uma forma de expressão.” /.../ então se eu tenho uma

FESTA que eh, traz alegria pro povo, embora ela seja de outra origem, por isso eu não sou

71

contra.” Esse “por isso” se refere ao futebol que ele diz ser a paixão do povo brasileiro e

que “... perde pra todo mundo...”. Então ele acha que é necessário “... uma forma também

das pessoas se expressarem, serem felizes.” Assim, ele não é contra a imitação desde que

traga alegria a um povo sofrido e que tem poucas alegrias no seu dia-a-dia. Pelas suas

respostas, esta imitação acontece de uma forma consciente, não apenas copiando e

acreditando ser coisa natural, mas copiando com a compreensão de que aquilo não é nosso,

mas se traz diversão, é válido.

PM2 - “.. os PCNs, eu creio que eles vieram auxiliar o trabalho do professor

em sala de aula. Só que eu acho que ainda falta muito trabalho do

profissional para ele entender os PCNs.”

Ele comenta que “... apesar de que os Parâmetros Curriculares Nacionais falam

pra dar uma ênfase, para que o aluno saia apto, né falando uma, uma segunda língua.”,

quando na verdade, não é isso que os Parâmetros Curriculares Nacionais comentam. De

forma alguma descartam o ensino das quatro habilidades se houver possibilidade para isto,

mas eles enfatizam a leitura como sendo a habilidade que mais seria utilizada pelo aluno

brasileiro. É importante sua colocação no que diz respeito ao posicionamento do

profissional frente aos Parâmetros Curriculares Nacionais. E podemos perceber através

deste estudo, que, na realidade, os professores demonstram ter pouco conhecimento dos

mesmos, e em alguns casos não parecem estar se empenhando em buscar compreendê-los.

Voltando à fala do professor, ele não respondeu à pergunta feita sobre a abordagem dos

Parâmetros Curriculares Nacionais com relação à questão da cultura. Porém também não

demonstrou desprezo para com os mesmos, e acredito que sua preocupação com relação à

uma melhor compreensão por parte dos professores seja bastante significativa, mesmo que

essa compreensão talvez se refira a ele próprio.

PF4 - “... de acordo com os PCNs, né, você verifica que você vai, NÃO vai

cobrar GRAMÁTICA do aluno. Vai cobrar de forma

DIFERENCIADA.” “... ((o objetivo)) é pra melhor conhecimento do

aluno, né, ele vai eh, tê, eh, facilidade em usar no seu dia-a-dia. (+) É

isso aí.”

72

Novamente percebemos uma idéia equivocada com relação aos Parâmetros

Curriculares Nacionais. E ela ainda entra em contradição: “... NÃO vai cobrar

GRAMÁTICA do aluno. Vai cobrar de forma DIFERENCIADA.” E que forma

diferenciada seria esta? Ela não entra em detalhes. Ela também reclama da quantidade de

alunos em sua sala (45). Mas segundo ela, a abordagem cultural vai simplesmente dar

maiores informações ao aluno, para que ele tenha “... facilidade em usar no seu dia-a-dia.”

Para ela, alcançar seu objetivo de uma melhor formação dos alunos tanto no aspecto

cultural como intelectual, é muito importante, mas para isso seriam necessárias salas

homogêneas e com menos alunos.

PF5 - “Que que é o PCN? Tchô te perguntá.” /.../ “Porque eu tive uma reunião

uma vez lá no NNN ((outra escola estadual em que ela trabalhava)),

que leu uns negócio lá, mas acho que não tem nada a ver de PCN não.”

“Eu não tenho conhecimento. Eu prefiro não falá.” “Porque minha mãe

inclusivemente é diretora da escola. Na época, ((do questionário)) eu

perguntei pra ela né? Só que, igual falei: já que eu não sei, não vou

colocá”.

Esta professora novamente mostra seu desconhecimento, agora com relação

aos Parâmetros Curriculares Nacionais, e suas respostas foram dadas em tom de

brincadeira. Notamos como ela se refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais “... uns

negócio lá...”, demonstrando até uma falta de respeito com relação a um documento que

aponta a filosofia base de todo processo de educação no Brasil.

PF6 - “Eh, EU, pra ti dizê a verdade, não tenho assim um conhecimento

PROFUNDO, um conhecimento no que se diz respeito à língua

inglesa /.../ mas eu acho que eh, ele, ele, ele procura assim, se nós

seguirmos eh, bem assim o, o PCN, é bem em cima disso daí.”

“((objetivo))... pra ASSOCIÁ, né... pra TRAZÊ uma cultura de lá pra

cá. /.../ Eh, uma maneira de facilitá, /.../ pra torná MAIS PRAZEROSO

pra eles, e FACILITÁ o trabalho do professor dentro da sala de aula.”

Quando esta professora respondeu o questionário, disse que conhecia os

Parâmetros Curriculares Nacionais, porém não havia lido os de língua estrangeira. Assim,

73

na verdade, não tinha muito do que falar. No entanto, ela afirma que “Os Parâmetros

Curriculares Nacionais é bem em cima disso daí...” Podemos entender que a PF6 interpreta

os Parâmetros Curriculares Nacionais como sendo um coletânea de idéias que servem para

tornar o trabalho do professor mais fácil em sala de aula e tornar a aula mais prazerosa. É

necessário entender, no entanto, a relevância da discussão e da reflexão, que levarão à

formação do aluno consciente e participativo, um cidadão engajado no contexto político-

sócio-cultural brasileiro.

PF7 - “(+) Mhm.(+) Eu não sinto não. Eu acho que não”. “Pelo MENOS com

o tempo que eu tive, que foi POUCO, né, não tenho assim muita

experiência em colégio, mas assim, no meu ponto de vista, não.”

Ao responder o questionário, esta professora disse que desconhecia os

Parâmetros Curriculares Nacionais, nunca havia lido e nem emitiu qualquer opinião sobre

seu posicionamento. No entanto, ela aqui emite uma posição negativa, bastante enfática,

pois interrompemos seu discurso algumas vezes tentando re-direcionar a pergunta, mas sua

resposta era sempre “não” afirmando sentir que os Parâmetros Curriculares Nacionais não

estimulam a abordagem cultural. Entendemos assim que esta professora chegou a uma

conclusão sem ter lido ou refletido sobre o conteúdo dos Parâmetros Curriculares

Nacionais.

PF8 – “... realmente a PROPOSTA é RESGATAR, é vim, é vir trazendo o que

a gente TEM, e a gente tá guardado. Porque a gente tem guardado

dentro da gente. A NOSSA cultura é importante. E os Parâmetros vêm

eh, EXIGIR que o professor resgata essa cultura. /.../ a partir da

proposta dos Parâmetros Curriculares que é RESGATAR a cultura,...”

Esta professora comenta sobre ter participado de cursos e debates com relação

aos Parâmetros Curricularas Nacionais, e fala do resgate da cultura nacional e da cultura da

língua estrangeira. Deixa transparecer, neste momento da entrevista, que seu trabalho

acontece de uma forma consciente, procurando incitar reflexão sobre as atitudes adotadas

na escola, em contraposição àquelas atitudes que seriam mais condizentes com a realidade

brasileira.

74

Ela afirma que o livro adotado na escola em parceria com a editora

internacional é fruto de estudos feitos pela equipe da escola dos Parâmetros Curriculares

Nacionais e livros de diferentes editoras a fim de se chegar a um que vai levar a criança a

“... entendê por um todo, não só aquele, não só o verbo “to be” /.../ mas pra ela entendê a

língua num todo...” Entrei em contato com a Editora, e através de uma funcionária

credenciada, e com respaldo de sua supervisora, obtive confirmação desta ligação entre a

Editora e a EP2, com a exclusividade de uso de uma série chamada “Cool” que é o livro

utilizado por apenas esta professora dentre os 5 (cinco) professores da escola; os demais

professores (quatro) utilizam a série “Open Doors”. A funcionária da Editora ainda

afirmou que os livros publicados pela sua empresa são desenvolvidos por escritores

nativos da língua inglesa, e voltados para o mercado mundial. A EP2, é que fez a opção

pelo uso com exclusividade, da série “Cool”. Não houve qualquer esclarecimento por

parte dos professores durante suas entrevistas com relação ao motivo que nem todos

utilizam a série “Cool”, e nem a PF8 que é coordenadora do departamento de Língua

Inglesa fez qualquer comentário sobre este assunto. Como o livro didático a ser utilizado

em qualquer escola é escolhido na própria escola por uma equipe que esteja ligada ao

assunto, talvez houvesse algum motivo específico que levasse a maioria dos professores a

trabalhar com outro livro.

A PF1 e a supervisora da EP2, comentam a implementação dos Parâmetros

Curriculares Nacionais e é interessante notar que ambas usam a expressão “no papel”.

Quer dizer, elas concordam em teoria, concordam com o que está proposto, mas duvidam

que seja implantado da forma como deve ser. Mudanças são sempre processos

complicados, mas se “no papel” é razoável, é viável, é preciso que acreditemos e façamos a

nossa parte para que realmente dê certo. Qualquer novo projeto, no papel, representa uma

coisa, mas para que ele saia do papel, para que seja colocado em prática, é preciso a

atuação dos educadores e todos aqueles que estão envolvidos no processo educativo. Se

queremos crescimento, mudança, não podemos ficar eternamente atrelados ao “velho” que

já passou pelo crivo da aprovação e com o qual já estamos todos acostumados. Portanto

acreditamos que não adianta dizer que algo funciona “no papel” - nós professores é que

temos que agir, tirá-lo do papel e levá-lo para o ambiente da sala de aula, acreditando e

fazendo o máximo para que dê certo e funcione também na prática.

A PF1 e a PF6 ambas concordam com a questão das datas comemorativas,

especialmente com a comemoração do “Halloween”, considerando-o um evento natural, já

incorporado à realidade brasileira. Podemos considerar o índice de tal aprovação como

75

sendo relativamente baixo (18%), porém é necessário que agucemos nosso espírito crítico-

reflexivo para analisarmos quais informações passamos aos nossos alunos, como

passamos estas informações, tendo em vista qual objetivo.

É de suma importância que nos tornemos reais pesquisadores a fim de

levarmos as informações devidas para nossa sala de aula. Isto representa um tipo de

pesquisa – a pesquisa em busca de mais informação, mais conhecimento. Mas acreditamos

ser de maior importância que cada um de nós enquanto professor, aprenda a refletir sobre

sua própria prática, analisando cuidadosamente sua atuação frente a seus alunos. Se nós

professores enxergarmos nossa sala de aula como um lugar para constante investigação,

com certeza vamos chegar a vários questionamentos e reflexões, que ocasionarão

mudanças, que indubitavelmente contribuirão para o nosso crescimento e o de nossos

alunos também.

Talvez esta característica, a de pesquisador da própria prática, esteja faltando

entre muitos professores. Eles se formam, e acreditam que estão prontos para o mercado

de trabalho e que com o certificado em mãos, está encerrado seu processo de educação.

Dos onze professores participantes da pesquisa, apenas três deram continuidade ao seu

processo de formação realizando um curso de pós-graduação: os PM1 e PF8, ambos

professores da EP2 e a PF9 (que não participou da segunda fase da pesquisa) era

professora da EP1. Podemos lançar uma pergunta: o que acontece com os professores das

Escolas Estaduais? Diríamos que estão enquadrados entre estes professores que fazem suas

licenciaturas e nada mais?

Como a tecnologia e as novas descobertas surgem a passos largos, se faz

mister questionar, buscar e crescer também a passos largos, para que nossa prática reflita

todo este novo universo, e para que haja também um reflexo de tudo isto nos nossos

alunos, na medida em que estamos contribuindo para a formação de pessoas mais

engajadas, mais críticas, mais reflexivas, mais compromissadas com o mundo. Vamos

colocar em nossas mentes o seguinte objetivo: questionar, refletir, para aprender, para

crescer.

76

CAPITULO 5

CONCLUSÕES E CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS

5.1. Introdução

O objetivo deste trabalho foi perceber como está sendo enfocada a questão da

cultura dos países de língua estrangeira (inglês), nas aulas de língua estrangeira (inglês) em

escolas públicas e particulares, além de verificar como estão sendo passados os valores

desta cultura aos alunos. Como todo trabalho realizado em escolas de ensino fundamental

tomam como base teórica os Parâmetros Curriculares Nacionais, queríamos também

verificar o que este documento diz em relação a esta questão, e como os professores de

língua estrangeira posicionam-se frente às suas orientações.

No capítulo 1 desta dissertação, apresentamos algumas questões básicas que

consideramos de grande importância para a realização desta pesquisa, quais sejam: a

justificativa, as perguntas de pesquisa e o modo como iríamos trabalhar para alcançar estes

objetivos. No capítulo 2 apresentamos a fundamentação teórica que norteou todo o nosso

trabalho. Apresentamos, no capítulo 3, a metodologia adotada na pesquisa, como também

alguns detalhes sobre o contexto da pesquisa e como aconteceu a coleta de dados. No

capítulo 4, fizemos a análise dos dados coletados, discutindo alguns pontos baseando-nos

na fundamentação teórica.

Neste capítulo, tentaremos apresentar algumas conclusões a que nos foi

possível chegar, bem como algumas contribuições para professores que trabalham nesta

área e que talvez também estejam com estas mesmas dificuldades.

5.2. Conclusões

Acreditamos que ao analisarmos os questionários e entrevistas, nos foi possível

responder às perguntas da pesquisa apresentadas no Capítulo 1 (pp. 10-11). Acreditamos

também já ter ficado claro que este trabalho não se propõe a criticar qualquer dos sujeitos

da pesquisa nem os estabelecimentos em que atuam, nem oferecer soluções, nem se

considerar dono de alguma verdade. Nossa intenção é apresentar a realidade, e com

bastante humildade, fundamentando-nos em leituras que relatam as conclusões e resultados

a que chegaram grandes pesquisadores, aplicá-las a esta realidade encontrada.

Acreditamos ser possível afirmar que, na realidade, apesar das falas, das

afirmações com relação ao conhecimento da fundamentação básica do

ensino/aprendizagem de língua estrangeira que rege todas as escolas de ensino

fundamental e médio no Brasil, podemos perceber que as determinações dos Parâmetros

Curriculares Nacionais não estão realmente sendo levadas em conta com o compromisso

que tal documento exigiria. A realidade da prática destes professores, mostra mais uma

questão de intuição, algo sem fundamentação teórica, haja vista sua dificuldade em discutir

o conteúdo dos Parâmetros Curriculares Nacionais, confrontando-os com sua realidade de

sala de aula. E assim, podemos lançar um questionamento: não é importante conhecer

profundamente os objetivos específicos de sua disciplina propostos para cada ciclo? Não é

necessário haver unidade no ensino/aprendizagem? Não é necessário conhecer a filosofia

que norteia seu trabalho?

Repetidas vezes, mesmo em questões não relacionadas ao

ensino/aprendizagem, percebemos que se uma pessoa não tem o conhecimento necessário

com relação a um assunto qualquer, não sabe discorrer sobre ele com segurança, não

saberá aplicá-lo à prática, seja qual for. Ensinar está intrinsecamente ligado à prática, e é

isto que notamos entre os professores da pesquisa: a falta de conhecimento de como aliar a

teoria à prática. Conhecem a fundamentação (até certo ponto) dos Parâmetros Curriculares

Nacionais, mas não sabem como aplicá-la na prática da sala de aula, que é o lugar onde se

evidencia todo o trabalho de um professor.

Um fator que ficou bastante claro é que os Parâmetros Curriculares Nacionais

existem, formam um documento que está presente em todas as escolas de ensino

fundamental e médio, mas a sua aplicação na prática ainda deixa muito a desejar. Com

certeza requer comprometimento de todas as pessoas que estão envolvidas no sistema

78

educacional, desde a direção da escola, os professores, os alunos, os pais e a sociedade em

geral.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais não são um aglomerado de “dicas” para

a prática do professor, mas são orientações que estão permeadas de uma preocupação

profunda com o desenvolvimento do professor, que, portanto, deve aproveitar-se delas para

promover reflexão constante e consciente sobre sua prática pedagógica, para poder levar

avante a formação de seres humanos também reflexivos e conscientes.

Por outro lado, certos fatores também nos chamam a atenção com relação à

realidade brasileira. Os Parâmetros Curriculares Nacionais são um documento de

orientação para professores, no entanto, muitas destas orientações tornam-se impraticáveis

dentro de nossa realidade – não podemos exigir mudanças radicais nos professores, se as

instituições, os currículos e os materiais didáticos, também não acompanham essa

mudança. Foi possível perceber este empecilho que muitas vezes mantém o professor

preso a uma realidade que ele gostaria de mudar, mas que pela própria situação se vê

incapaz de lutar contra este contexto em que exerce a sua profissão. O número de alunos

por sala é um fator que traz grandes dificuldades à atuação do professor. Contatos com as

direções das escolas nos levam a dizer que a média de alunos por sala é de 40 (quarenta)

alunos, o que para o ensino de língua não é considerado o ideal.

Existe também o ponto de vista que, ao entrar em uma sala de aula para

ministrar qualquer aula, o professor automaticamente se envolve com planos de ensino,

com sistemas educacionais e práticas de sala de aula, com a preocupação de cumprir a

tarefa, ou seja, terminar o livro até o final do ano; quer dizer, ele se envolve mais com o

lado burocrático do ensino, aquilo que precisa “aparecer” nos registros da escola,

esquecendo-se até certo ponto do lado humano de seu aluno, do lado das diferenças

individuais, do lado da aprendizagem e do crescimento pessoal. Assim, poderíamos

perguntar: até que ponto um sistema educacional continua repetindo as mesmas falhas

que levam às mesmas conseqüências? Até que ponto reproduz as desigualdades culturais

e sociais? Será que o professor atuando em um sistema como este, reflete sobre os

questionamentos que deveriam ser base para sua prática, como por exemplo, o que é

língua, o que é educação, o que é cultura, o que é autoridade e comunicação?

Pessoas que estudam uma língua estrangeira, estão frente ao desafio de

aprender um código lingüístico que faz parte de outra cultura, e que existe em contextos

sociais que não são os seus próprios; assim, ocupam a posição de “estrangeiros”, o que os

79

coloca em situação de oposição às práticas vigentes da comunidade discursiva da língua

sendo estudada.

Para ensinar uma língua estrangeira dentro desta prática de oposição, é preciso

considerar os alunos não como enunciadores monoglóssicos deficientes, mas como

narradores heteroglóssicos em potencial. Os textos orais e escritos produzidos por eles

precisam ser considerados não apenas como fragmentos de uma enunciação gramatical ou

léxica expressando os pensamentos de quem os escreveu, mas como enunciações

contextualizadas que contribuem para a construção, a perpetuação ou até mesmo a

subversão (mudanças sociais) de determinados contextos culturais. Dessa forma o

desenvolvimento da competência lingüística e de comunicação será enriquecida por este

crescimento na consciência estética e crítica.

Com relação à escolha da língua estrangeira dentro de cada estabelecimento,

foi possível fazer esta pergunta à direção de cada uma das escolas envolvidas na pesquisa.

Todas nos informaram que esta escolha é feita no âmbito da escola, após uma reunião com

Colegiado, direção e professores, que analisam a questão de maior uso de uma língua

estrangeira, de sua influência, e da necessidade de aprendê-la por parte dos alunos. A

diretora da EE4 comentou que não adiantaria querer ensinar chinês, pois os alunos não o

aproveitariam para nada. Assim, o inglês, sendo a “língua universal” (esta expressão foi

utilizada por vários diretores) é a primeira escolha das escolas. As duas escolas

particulares, oferecem o espanhol: na EP1 é oferecido no ensino médio, e na EP2 é

oferecido desde a 5a série, porém com abordagem tradicional e não em ciclos, como é feito

o ensino da língua inglesa. Uma das escolas estaduais EE4C, também oferece a língua

espanhola, a partir de solicitação dos próprios alunos, porém apenas no ensino médio.

Também podemos afirmar que não há necessidade de uma uniformização na

escolha da língua estrangeira a ser ensinada, ou seja, não é preciso que todas as escolas

optem pelo ensino da(s) mesma(s) língua(s), visto que a escolha se faz pela própria escola

dependendo dos diferentes papéis que a língua em questão pode assumir na sociedade.

Vimos pela pesquisa, que três das seis escolas pesquisadas oferecem também o espanhol,

que no momento se encontra em alta demanda por motivo do Mercosul; este fato atende

perfeitamente às sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Phillipson (1992) também faz um comentário sobre esta questão de escolha de

língua, e afirma que há uma grande necessidade, por parte das pessoas envolvidas em

educação, de se fazer uma reflexão e analisar o “como” e o “porquê” dessa posição

hegemônica ocupada pela língua inglesa. Ele ainda sugere haver uma ligação entre a idéia

80

do imperialismo em si e o imperialismo lingüístico da língua inglesa, com o que

concordamos, visto a enorme influência que a língua inglesa exerce hoje no mundo,

alguma coisa que “aconteceu” de cima para baixo, não de baixo para cima, de uma forma

sutil, sem muito estardalhaço, encampando mais e mais terreno a cada dia que passa, e de

certa forma com o aval de governos e pessoas no poder, acreditando que essa influência só

traria benefício.

Existe ainda a idéia difundida no mundo do ensino de língua afirmando que

questões econômicas, políticas e ideológicas não permanecem vinculadas à língua.

Pennycook (1994) fala sobre esta questão, e afirma que não é possível separar a língua

inglesa dos seus muitos contextos, não há como ensinar uma língua solta, desvinculada de

qualquer compromisso. Acreditamos que esta idéia está bastante clara, e desta forma,

torna-se mais urgente ainda, que façamos uma análise crítica da escolha da língua a ser

ensinada, e das relações internacionais envolvidas nesta língua; somente quando se

compreender esta relação e sua característica de não-desligamento, é que será possível

chegar à percepção de que língua está, sim, intrinsecamente ligada às questões políticas e

culturais de seu contexto de origem, e então partir para o planejamento do “como”, “até

que ponto”, e “para que” se vai ensinar a falar esta língua estrangeira assumindo toda a

carga cultural que a acompanha.

Podemos concluir, portanto, que o motivo da escolha da língua estrangeira

(inglês) se deve à soma de todos estes fatores econômicos, acadêmicos, tecnológicos,

enfim, fatores hegemônicos, que levam as pessoas em outros países, de outras línguas, de

outras culturas, a querer se envolver com a língua inglesa e consequentemente sua cultura,

com o propósito de obter mais chances de ouvir e ser ouvido, de agir e interagir, enfim, de

viver uma vida significativa em âmbito internacional.

Podemos concluir também que “aparentemente” o ensino/aprendizagem de

questões da cultura de língua estrangeira (inglês) não parecem influenciar os valores, as

opiniões e crenças dos professores. A maioria dos professores participantes da pesquisa

tem uma visão mais voltada para a comparação e reflexão do que propriamente uma

adoção de valores estrangeiros. Apenas duas professoras (PF2 e PF6) elogiaram de forma

extrema a cultura dos países de língua inglesa, sendo que uma, comentou que a língua

inglesa é nossa “segunda língua”. Apesar de podermos dizer que “aparentemente” não há

glorificação da língua inglesa e dos valores e costumes dos povos que a têm como língua

materna, as respostas dos sujeitos da pesquisa à pergunta 15 do questionário em que teriam

que preencher uma tabela definindo as características dos brasileiros e dos nativos da

81

língua inglesa, mostraram que há, sem dúvida uma super valorização dos povos de língua

inglesa no que diz respeito às suas qualidades e atitudes, em detrimento do povo brasileiro.

Mas apesar disto, acreditamos que podemos dizer que não há “intenção” de glorificação

da cultura dos povos de língua inglesa. Percebemos mais uma questão de análise da

realidade dos fatos do mundo atual em que a língua inglesa é uma ferramenta de poder,

sim, porque abre portas no mundo profissional, porque quem compartilha desta língua

tem vantagens, e consequentemente quem tem condições de aprendê-la, não perde esta

oportunidade, que com certeza lhe trará ganhos financeiros e de prestígio social.

Também podemos perceber claramente por esta pesquisa, a dificuldade

evidenciada ao responder perguntas de uma maneira objetiva. Ao longo das entrevistas,

foi necessário retomar a pergunta inicial várias vezes, mas mesmo assim, os professores

davam uma enorme volta, e lendo as transcrições é possível perceber que muitas perguntas

ficaram sem respostas. Ficamos preocupados com esta incapacidade de ouvir uma pergunta

e respondê-la objetivamente. Diríamos então que se trata do que comumente chamamos no

Brasil de “encher lingüiça” – fazer de conta que estamos falando, quando na realidade não

estamos falando coisa alguma. Ou talvez seria apenas por causa do assunto, e devido à

insegurança com relação a ele, sentiram esta dificuldade de expressão. Mas surge ainda

uma preocupação maior com relação aos alunos. Poderíamos apresentar duas

possibilidades: a possibilidade de que os alunos não estejam recebendo as informações

que almejam ao fazer suas indagações devido a esta maneira obscura de responder; a

possibilidade de que os alunos também estariam assimilando esta forma não clara de

responder perguntas, o que leva à formação de adultos prolixos, não objetivos.

5.3. Contribuições Pedagógicas

Cremos ser possível oferecer contribuições que possam ampliar e aprofundar o

debate sobre a questão da cultura no ensino de língua estrangeira (inglês), auxiliando os

professores a refletir sobre sua prática com relação à questão da cultura, sempre no intuito

de contribuir para um melhor resultado no ensino/aprendizagem da língua estrangeira

(inglês); para um melhor engajamento dos alunos como cidadãos do mundo; para uma

participação mais rica e compromissada por parte dos professores que entendem sua

atuação como algo chave no desenvolvimento do ser humano.

82

É possível ao professor de língua enfocar menos as estruturas e funções

lingüisticas e mais o processo social de enunciação? Uma sugestão seria que os professores

de língua dessem menos importância às entidades e identidades culturais aparentemente

fixas e estáveis das culturas em questão, e mais importância a este espaço emergente, em

constante mudança, que é o espaço ocupado pelo aluno, sua aprendizagem lingüística e

cultural, seu desenvolvimento como ser heteroglóssico.

As características culturais estão imbuídas nas relações históricas de poder e

autoridade que garantem o status social, profissional, político e pedagógico, através da

maneira de falar de uma determinada pessoa, em um determinado momento, em um

determinado lugar. O relativismo multicultural e o pluralismo democrático, não conseguem

fazer uma reversão automática das relações de poder e autoridade (apenas os tornam mais

invisíveis). Assim, estudiosos que defendem uma pedagogia crítica no ensino de língua

fazem uma proposta para substituir a dualidade “nós X eles”, “nativo X estrangeiro”, que

de certa forma enquadra as pessoas em uma de suas muitas dimensões culturais (ex.: “uma

mulher”, “um negro”, “um palestino”, “um índio”) com todas as imagens e preconceitos

que cada uma dessas dimensões carrega, por um enfoque no processo social da enunciação.

Para Kramsch (1996) este processo é um processo dialógico, que tenta localizar

o componente cultural no momento de ruptura ou disjunção entre as conjeturas e

expectativas dos interlocutores. Uma pedagogia crítica que enfoca o processo social da

enunciação tem em si o potencial para trazer à tona os vários códigos utilizados por

interlocutores de culturas diferentes, e construir algo novo, algo híbrido, uma mistura

dessas culturas. Ao invés de uma tentativa de passar por cima das diferenças, buscando um

ponto comum, ou universal, essa pedagogia crítica procura criar um contexto dialógico em

que a grande necessidade de continuação do diálogo garante uma base mútua para se

explorar as verdades e diferenças muitas vezes irredutíveis entre os valores e atitudes de

povos de culturas diferentes. Essa base mútua portanto, é como se fosse um novo espaço

que não se incumbe de simplesmente fazer uma reversão ou inversão de dualidades, mas

sim de fazer uma reavaliação das bases ideológicas desta separação causada pelas

diferenças.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, através dos Temas Transversais,

reconhece claramente esta grande complexidade que existe em qualquer sociedade, e

principalmente na sociedade brasileira, devido à grande mistura de raças que coexistem no

nosso país. E a proposta da escola que educa para a vida, é justamente criar espaço para

que ocorra uma convivência verdadeira, significativa, entre alunos de origens diferentes,

83

ensinando-os a valorizar um ao outro, compreendendo o “outro” como um elemento

necessário para a compreensão profunda do “eu”, de “quem é esse eu, hoje”, e “quem

esse eu pode ser amanhã”. Valorizar as características étnicas e culturais dos vários grupos

sociais que convivem em nosso território nacional, compreender a questão da desigualdade

social que é algo produzido no transcorrer da relação de dominação e exploração

socioeconômica e política, desenvolver um postura crítica no tocante às relações sociais

discriminatórias e consequentemente excludentes que existem dentro da sociedade

brasileira, são as formas de levar nosso aluno a conhecer a sua realidade - o Brasil - um

país complexo e multicultural. E desta forma, cultivando o respeito entre esse aglomerado

de culturas, estaremos conduzindo nossos alunos a um conseqüente convívio pacífico, no

qual será possível o reconhecimento das qualidades da cultura nacional, dando-lhes

valor, porém um valor crítico-reflexivo, que tem como ponto de partida esse olhar maduro,

que sabe julgar sem preconceitos, enriquecendo a vivência da cidadania.

Nesse pensamento, a cultura deve ser vista como um momento suspenso entre

a pluralidade de práticas que são diferentes, mas que, no entanto, devem ocupar o mesmo

espaço de julgamento e articulação. E pensando dessa forma, professores que ensinam uma

língua estrangeira como semiótica social se colocam em posição privilegiada de

renegociação das diferenças culturais.

Kramsch (1996), expõe suas idéias sobre uma pedagogia crítica, quer dizer,

uma forma de refletir sobre essa posição ocupada pela língua inglesa no mundo de hoje,

de forma a levar os professores a terem uma compreensão mais profunda da situação

(“consciência do contexto global”, Kramsch 1996) para assim poderem agir de uma forma

coerente e mais adequada a fim de se evitar a destruição que a língua inglesa causou entre

outras línguas e culturas, na sua marcha em direção à posição que ocupa hoje no mundo.

O fato de que aprendizagem real leva à transformação, é algo que faz parte de

nossas vidas como educadores, e quando se fala sobre ensino de língua, de cultura, quando

se fala que discutir as questões culturais leva à transformação individual e social, não

podemos deixar de citar alguns pontos levantados e discutidos por Giroux (apud

Pennycook 1994). Para ele, estes nove pontos seriam de grande importância em uma

pedagogia crítica de ensino de língua.

Em primeiro lugar, ele discute as várias maneiras em que a aprendizagem leva

não só ao conhecimento, mas à formação de sujeitos políticos, ou sujeitos crítico-relexivos,

capazes de transformar o meio em que vivem. E esse é um dos grandes objetivos dos

Parâmetros Curriculares Nacionais: levar nossos alunos a pensar, a avaliar, a criticar, com

84

o objetivo de se transformarem em cidadãos atuantes. Em segundo lugar, ele fala da

importância da ética na educação. Esta deve ocupar um lugar de prioridade, pois se

estamos ajudando na formação de pessoas, não são apenas as questões de conhecimento e

informação que devem nos ocupar, como também as questões relativas ao que é bom e

ruim, à verdade, desigualdade e justiça. Os Temas Transversais apresentam um capítulo

inteiro destinado à discussão da ética na educação, da moralidade na cultura. Os valores

modificam de cultura para cultura, e se tornam verdadeiros, aceitáveis, nas práticas

desenvolvidas em cada contexto cultural. Porém a moralidade é um componente que está

presente em todas as culturas e a dimensão moral se faz notar no comportamento de cada

pessoa, nas suas atitudes com relação ao outro e com as diversas culturas que a circundam.

Em terceiro lugar, ele discute a posição das “diferenças”. Esta questão precisa

ser muito bem compreendida para que as identidades se formem de uma maneira

equilibrada podendo assim haver tolerância em grupos diferenciados. Novamente os

Temas Transversais têm como um de seus objetivos gerais “adotar atitudes de respeito

pelas diferenças entre as pessoas, repudiando as injustiças e discriminações” (Temas

Transversais pp. 91). Se desde cedo nossos alunos são levados a compreender as diferenças

culturais como sendo exatamente isto, e não ofensas ou fatos que devam levar à exclusão,

será possível existir a tolerância, o convívio pacífico, apesar das diferenças. Em quarto

lugar ele lança a idéia da oposição a programas ou planos de ensino, no sentido de que não

podem ser considerados como textos sagrados, a única maneira de se chegar à verdade,

mas devem ser imbuídos de uma flexibilidade na busca da verdade e do conhecimento.

Isso requer uma certa flexibilidade por parte do professor no momento de desenvolver seu

planejamento, em não se deixar tolher pela organização e seqüência do livro adotado, mas

saber buscar material em outras fontes, textos variados que trazidos para a sala de aula,

servirão de base para as reflexões, para a aprendizagem, com o objetivo de fomentar o

desenvolvimento reflexivo-crítico, a maturidade.

Em quinto lugar, é necessário ir além do conhecimento que se tem hoje, muitas

vezes aceito como sendo o topo da pirâmide acadêmica, e buscar novas formas, formas

alternativas de conhecimento e cultura. É o momento em que entra em cena a pesquisa.

Nunca se deve contentar com aquilo que está aparente – é preciso ir além, buscar mais,

buscar novos horizontes, ensinar nosso aluno que o conhecimento nunca está completo, e

quanto mais se sabe, tanto mais se tem a aprender. Em sexto lugar, ele sugere mudança no

conceito de razão que se baseia nas chamadas “verdades universais”. É preciso analisar

todas as versões do conhecimento da verdade e da razão. Isto vem complementar a idéia da

85

pesquisa que é tão defendida nos Parâmetros Curriculares Nacionais – buscar pontos de

vista divergentes e convergentes, analisá-los, e ter uma fundamentação, uma linha de

trabalho própria, para se poder fazer argumentações e aceitar este ou aquele

posicionamento.

Em sétimo lugar, ele fala da visão às vezes utópica que deve fazer parte de

uma pedagogia crítica, pois para ele, pedagogia crítica não significa apenas fazer crítica,

mas é também a crença em possibilidades alternativas, para evitar o desespero que muitas

vezes é gerado quando se fixa na crítica apenas. Muitas vezes ouvimos pessoas dizerem

que educadores são pessoas muito sonhadoras. Mas acreditamos que esta é uma

característica importante na personalidade e no trabalho do educador, pois será a mola

impulsionadora de suas ações, mesmo que a realidade, tudo e todos estiverem em oposição.

Em oitavo lugar, ele comenta a importância do professor se considerar um “intelectual da

transformação”. Assim, esse professor não será apenas um técnico de sala de aula

repassando conhecimento, mas será uma pessoa engajada com as mudanças, com a

transformação social. Em toda a sua extensão, os Parâmetros Curriculares Nacionais

debatem a questão da formação do professor, que deve ser algo constante, sem fim, e que

levará o professor a se engajar socialmente, e a motivar seus alunos a também se sentirem

cidadãos ativos, com poder para gerar mudanças positivas. E finalmente ele fala da idéia

de “voz”, em que essa voz seja uma constante exploração crítica do como, do por quê, do

para que cada ser é um sujeito dotado de voz. Ser um cidadão engajado socialmente, é

justamente usar essa “voz” para gerar transformações benéficas, idéia esta que permeia os

Parâmetros Curriculares Nacionais.

Após esta análise, só nos resta concordar plenamente com estes grandes

pesquisadores que nos forneceram a base para nossa fundamentação, ao afirmar

unanimemente que quem aprende, precisa usar a língua para expressar suas próprias

necessidades e desejos, fazer a sua leitura de qualquer texto, escrever, falar e ouvir de uma

forma significativa para si próprio – só assim ele poderá se expressar e negociar seu

pensamento, mostrando ter se apossado de uma voz em inglês.

Muito se tem discutido sobre a função da língua inglesa como sendo a chave

para se alcançar posições de prestígio na sociedade, e Pennycook (1994) fala da

necessidade de se tomar muito cuidado para não se assumir também uma outra questão, a

da política da língua se tornando um substituto para a política racial, ou seja, sabemos que

sentimentos raciais existem, e que estes sentimentos em muitos lugares levam à exclusão e

à violência. O fator língua, cultura, também pode levar à discriminação e até mesmo à

86

violência. Em determinados contextos, se não se domina a língua inglesa, simplesmente

não há lugar para a tal pessoa. Se alguém quer se desenvolver profissionalmente em

determinadas áreas, sem o domínio do inglês, ficará sempre em cargos inferiores, assim

como em alguns lugares a cor da pele ou a raça são responsáveis pelo crescimento

profissional ou não.

Concluindo, podemos dizer que se todas estas questões pesquisadas e

discutidas bem como as sugestões apresentadas fossem realmente colocadas em prática por

todos os professores e não apenas pelos professores de língua, culminariam no que

poderíamos chamar de “ideal educacional”. O objetivo final de qualquer professor

compromissado é gerar transformação através do novo conhecimento. E já que nosso

enfoque está sobre a questão do professor de língua, lidar com culturas diferentes, com

valores diferentes, traz à tona discussões sobre mudança social, justiça, igualdade. Não

existe forma de desvincular educação e sociedade, portanto é preciso nos questionarmos e

posicionarmos frente à nossa prática educacional. Que tipo de sociedade almejamos? Que

tipo de seres humanos devem viver nessa sociedade? Seres humanos autômatos,

repetitivos, copiadores, ou seres humanos questionadores, crítico-reflexivos na luta por um

mundo mais justo e mais condizente com a própria natureza do ser humano?

Acreditamos que este assunto ainda necessita de muita pesquisa; gostaríamos

de pensar que os futuros professores estejam aprendendo em seus cursos de licenciatura, a

ver a questão da cultura como um aliado em sua prática pedagógica e não como um

empecilho, ou algo mais a ser ensinado, que vai lhes tomar muito de seu precioso tempo

dedicado às suas aulas de gramática e leitura.

Acreditamos que seria de grande ajuda a todos os profissionais da área, um

estudo posterior no qual se pudesse desenvolver um currículo que estivesse à disposição

dos professores de língua estrangeira (inglês); um trabalho que pudesse ser levado avante

por uma equipe de professores do ensino público e particular nos níveis fundamental e

médio, desenvolvendo um currículo que implementasse os ideais e valores dos Parâmetros

Curriculares Nacionais, auxiliando cada professor a trabalhar de uma maneira que envolva

totalmente seu aluno, que mostre a ele o grande universo que existe em cada pessoa,

fazendo-o perceber o quanto somos dependentes um do outro. Assim, por meio de

discussões e reflexões, ao se montar este plano de ação, a filosofia projetar-se-á na prática

da sala de aula, permeando o conteúdo e as atividades que constarão do plano realizado.

Acreditamos que a elaboração de um plano nestes termos será de grande ajuda a todos os

professores da área.

87

Acreditamos também que todo professor, e principalmente o professor de

língua estrangeira é um agente de mudança social, e ao adotar esta abordagem cultural

(ensinar a língua como cultura), utilizando-a como um ponto de partida para o diálogo,

para a compreensão e valorização das diferenças, tanto o professor como o aluno se tornam

conscientes e responsáveis, usando sua “voz” e agindo coerentemente em relação a sua

responsabilidade social e política. Os professores de língua ao adotarem uma postura

cultural tornam-se mais conscientes com relação aos limites muitas vezes impostos não só

pela cultura acadêmica universitária, como também pela cultura do sistema educacional e

da própria cultura que se instaura na sala de aula. O processo de educação que nasce de

uma aprendizagem com abordagem crítico-reflexiva não é para manter o status - é para

formar seres humanos, cidadãos conscientes e agentes de mudança social.

88

SUMMARY

The aim of this research was to perceive how the issue of the culture of English

speaking countries is handled in English classes in state and private high-schools.

Throughout the research, we shall try to analyse what values are being presented to the

students. Analysing the document “Parâmetros Curriculares Nacionais”, we shall study

how it deals with the issue of culture; through the questionnaires and interviews with

participants in the research, we shall verify if teachers know the contents of this document,

and what they understand about the cultural issues regarding the development of critical

and reflexive citizens. We shall try to discover the importance of discussing these aspects

among teachers of English, and see if the “Parâmetros Curriculares Nacionais” leave an

opening for this type of discussion in the classroom with the students, with a view to a

more mature and critical individual development.

Our research will be carried out according to the precepts of the interpretative

paradigm, and all data will be obtained through questionnaires and interviews with the

participants.

This research also proposes contributions to English language teachers, in the

sense of developing a critical-reflexive-pedagogical attitude given the challenges which

teachers face in their day to day routine. The world is in a process of changes which are

happening very fast, and students should be equipped to deal with these changes so that

they will be able to participate fully in contemporary society.

Key-words: Foreign Language (English) – Culture – “Parâmetros Curriculares

Nacionais” – High School.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de et al. “A representação do processo de aprender no livro didático nacional de língua estrangeira moderna no 1º Grau”. In: Trabalhos de Lingüística Aplicada. Campinas (17): 67-97, jan./jun. 1991.

A BÍBLIA SAGRADA . Versão Almeida, Revista e Atualizada. São Paulo: Editora Mundo Cristão. 1994.

BASTOS, Herzila. “Identidade Cultural e o Ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil”. In: Ensino de Língua Inglesa: Reflexões e Experiências. Belo Horizonte: UFMG, 1996.

_________. Pushing the boat from within: an analysis of historical and sociocultural factors in EFLT. Dissertação (Mestrado em inglês). Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. 1988.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio. Bases Legais. 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias. 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Introdução. (5a a 8a ). 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais. (5a a 8a ). 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3o e 4o

ciclos do ensino fundamental. Língua Estrangeira. 1998.

BRISLIN, Richard W. (ed). Applied Cross-Cultural Psychology. London: Sage. 1990.

BRITO, Iracélia Ataíde de. Conceitos de cultura e competência: contribuições para um ensino crítico de inglês no contexto brasileiro. Dissertação de Mestrado. Campinas: UNICAMP. 1999.

BUSNARDO, Jo Anne & BRAGA, Denise. “Language and Power: On the Necessity of Rethinking English Language Pedagogy in Brazil”. In: Initiatives in Communicative Language Teaching II. A Book of Readings. Reading, Mass.: Addison-Wesley. 1987.

BUSNARDO, Joanne & EL-DASH, Linda G. Brazilian Adolescents Confront English: Reflections of Status and Solidarity in Attitude Verbalizations. Campinas: UNICAMP. (mimeo).

_________. “Iniciação na Pragmática: reflexões sobre a conscientização pragmática para professores e alunos de línguas”. In: Trabalhos de Lingüística Aplicada. Campinas, (36): 43-50, Jul./Dez. 2000.

CABRAL DOS SANTOS, J. B. . “A pesquisa de caráter etnográfico na sala de aula”. In: Letras & Letras, Uberlândia, 13(2) 145-156, jul./dez. 1997

CAVALCANTI, M. C. & MOITA LOPES, L. P. “Implementação de Pesquisa na Sala de Aula de Língua no Contexto Brasileiro”. In: Trabalhos em Lingüística Aplicada. Campinas: (17) pp. 133-144. Jan./Jun. 1991.

CELANI, Maria Antonieta A. C. (org). Ensino de segunda língua: redescobrindo as origens. São Paulo: EDUC, 1997.

COHEN, Andrew D. “Metodologia de Pesquisa em Lingüística Aplicada: Mudanças e Perspectivas”. In: Trabalhos em Lingüística Aplicada, Campinas, (13): 1-13, jan./jun. 1989.

CRISTÓVÃO, Vera Lúcia L. “Dos PCNs à sala de aula: uma experiência de transposição didática”. In: Trabalhos de lingüística aplicada, Campinas, 340: 39-51, jul./dez., 1999.

CRYSTAL, D. The Cambridge Encyclopedia of Language. Cambridge: Cambridge University Press. 1987.

DEMPSTER, Roland Tombekai. “Africa”s Plea”. In: An African Treasury. Edited by Langston Hughes. New York: Crown, 1960.

91

DUBIN, Fraida & OLSHTAIN, Elite. Course Design. Developing Programs and Materials for Language Learning. Cambridge: Cambridge University Press.1986. 3rd

printing.

EL-DASH, Linda G. & BUSNARDO, Joanne. Brazilian Attitudes toward English: Dimensions of Status and Solidarity. Campinas: UNICAMP. (mimeo).

FISHMAN, J. A., COOPER, R. L. ROSENBAUM, Y. “English around the world”. In: FISHMAN, (org) The Spread of English. Mass: Newbury House, pp 77-107. 1977b.

FRANCIS, Lilia Maria Eloisa Alphonse de. “English as a Foreign Language: Textbook Analysis, Ideology in a Brazilian Context”. In: APLIEMGE. Ensino e pesquisa. Revista da associação de Professores de Língua Inglesa do Estado de Minas Gerias. APLIEMGE, p. 133-144, 1997.

_________. English as a Foreign Language: Textbook Analysis, Ideology in a Brazilian Context. Dissertação apresentada para obtenção do título de Doctor of Philosophy, pela Ohio State University. 1995.

FAIRCLOUGH, Norman. Language and Power. 4th edition. New York. Longman Inc..1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogy of the Oppressed. New York: The Seabury Press, 1974.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A.. 1989.

GIMENEZ, Telma. “The Big Mac e o ensino de línguas estrangeiras”. Mesa Redonda do VI EPLE, Londrina 13 e 14 junho. In: Boletim CCH/1998. p. 73-80.

_________. Cultural Identity in Teaching English as an International Language. Mimeo.

_________. ETS & ELT: Teaching a World Language. Mimeo. Palestra durante a 2a

Convenção de Professores de Inglês dos Estados do Paraná, Sta. Catarina e Rio Grande do Sul. Londrina, 22-24. Abril 1999.

_________. English Language Teacher Education and the Challenges for Citizenship and Indentity in the next Century. Mimeo. Palestra durante o XX Congresso da FIPLV, 2000.

92

HALLIDAY, M. A. K. Language as Social Semiotic. The interpretation of Language and Meaning. London: Edward Arnold. 1978.

HOLLIDAY, Adrian. “Small Cultures”. In: Applied Linguistics. 20/2:237-264. Oxford: Oxford University Press. 1999.

KHUBCHANDANI, L. M. Plural Languages, Plural Cultures: Communication, Identity and Sociopolitical Change in Contemporary India. Honolulu: University of Hwaii, for East-West Centre. 1983.

KLEIMAN, Angela B. “A construção de identidades em sala de aula: um enfoque internacional”. In: Linguagem e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras. 1998.

KOCH, Ingedore & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez Editora. 1989.

KRAMSCH, Claire J. “The Cultural Discourse of Foreign Language Textbooks”. In: Toward a New Integration of Language and Culture. The Northeast Conference on the Teaching of Foreign Languages, INC. p. 63-86. 1988.

_________. The Cultural Component of Language Teaching. Copyright Feitschrift für Interkulturellen Fremdsprachenunterricht. Online, 1(2), 13 p., 1996. Disponível no endereço: (http:/www.ualberta.ca/~german/ejournal/archive/kramsch2.htm)

_________. Language and Culture. Oxford: Oxford University Press. 1998.

LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 3a Edição Revista e Ampliada. São Paulo: Editora Atlas S.A. 1994.

LYONS, John. Linguagem e Lingüística: Uma introdução. Tradução de Marilda Winkler Averbug. Rio de janeiro: LTC. 1987.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Análise da Conversação. 4a edição. São Paulo: Editora Ática. 1998.

MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Tradução de Roland Corbisier. 2a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1977.

93

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Yes, nós temos bananas ou Paraíba não é Chicago não: um estudo sobre a alienação e o ensino de inglês como língua estrangeira no Brasil. Educação e Sociedade. 4:113-131. 1982.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. “Pesquisa Interpretativista em Lingüística Aplicada: a Linguagem como Condição e Solução”. In: D.E.L.T.A., Vol. 10 no 2: 329-338. 1994.

_________. “What is this class about? Topic formulation in na L1 reding comprehension classroom”. In: COOK, G. & SEIDELHOFER, B. (eds) Principle and Practice in Applied Linguistics. Oxford: Oxford University Press. 1995.

_________. Oficina de Lingüística Aplicada. Campinas: Mercado de Letras. 1996.

MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. Editora Brasiliense. 1988.

NUNAN, David. Research Methods in Language Learning. Fifth Printing. Cambridge: Cambridge University Press. 1996.

PAIVA, Vera Lúcia M. de O. Ensino de Língua Inglesa: Reflexões e Experiências. Belo Horizonte: UFMG, 1996.

PÊCHEUX, M. Language, Semantics and Ideology: stating the obvious. (translated by Harbans Nagpal). London: Macmillan. 1982.

PEDROSO, Sérgio Flores. A Carga Cultural Compartilhada: a passagem para a interculturalidade no ensino de português língua estrangeira. Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Lingüística Aplicada, Unicamp, 1999.

PENNYCOOK, Alastair. “Development, Culture and Language: Ethical Concerns in a Postcolonial World”. In: Proceedings: The National 4th International Conference on Language and Development. Oct. 13-15, 1999.

_________. The Cultural Politics of English as an International Language. London/New York: Longman. 1994.

PHILLIPSON, Robert. Lingüistic Imperialism. Oxford: Oxford University Press. 1992.

_________. “Voice in Global English: Unheard Chords in Crystal Loud and Clear”. In: Applied Linguistics 20/2:265-276. Oxford: Oxford University Press. 1999.

94

SINGERMAN, Alan J. (ed) Toward a New Integration of Language and Culture. Northeast Conference on the Teaching of Foreign Languages. NCTFL, Inc. 1988.

SODRÉ, Nelson W. Síntese de história da cultura brasileira. 13ª edição. São Paulo: Difel. 1985.

STERN, H. H. “Learner Factors: Personality factors”. In: Fundamental Concepts of Language Teaching. Seventh Impression. Oxford: Oxford University Press. 1991.

TILIO, Maria Ignez do Carmo. “Cultural Identity and Foreign Language Teaching Attitudes towards English-speaking People and their Culture.” In: Revista UNIMAR. v. 3, 1981.

WILLIAMS, R. Keywords: a vocabulary of culture and society. London: Fontana. 1976.

95

ANEXO 1

QUESTIONÁRIOS

ANEXO 2

PERGUNTAS DA ENTREVISTA

Entrevista realizada juntamente os professores participantes da pesquisa:

1- O que é cultura para você?

2- É possível trazer o aspecto cultural da língua inglesa de forma real para a sala de aula?

Exemplifique de que maneira você faria isto.

3- É possível através do ensino da cultura, desenvolver a criticidade e a consciência

política? Como?

4- Você acredita que os Parâmetros Curriculares Nacionais estimulam a abordagem

cultural em aula de inglês? À luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais, qual é o

objetivo desta abordagem?

Obs.: Estas perguntas foram elaboradas para nortear o rumo da entrevista, visto que focalizam aspectos

importantes da pesquisa, e que fazem parte dos objetivos da mesma. No entanto, outras perguntas

também forma inseridas no decorrer da conversa.

ANEXO 3

CONVENÇÕES PARA A TRANSCRIÇÃO DAS

ENTREVISTAS INDIVIDUAIS

P = pesquisadora

PF1 a PF8 = professoras

PM1 e PM2 = professores

(+) = sinal que mostra cada 0,5 segundo de pausa.

(.....) = incompreensível

[ = colchete simples marcando a sobreposição de vozes a partir de um certo ponto,

com apenas um dos falantes dando continuidade à fala.

: - alongamento de vogal que pode ser repetido, dependendo da duração.

MAIÚSCULA = ênfase ou acento forte.

(( )) – comentários da pesquisadora.

eh, ah, oh, mhm, ahã, mm = pausa preenchida, hesitação ou sinais de atenção.

... = reticências no início ou final de uma transcrição, indicam que se está

transcrevendo apenas um trecho.

/.../ = reticências entre duas barras, indicam corte na produção de alguém.

Reduplicação de letra ou sílaba para repetições.

Negrito = ênfase da pesquisadora.

As convenções para transcrição foram estabelecidas a partir de Marcuschi (1986)

ANEXO 4

TRANSCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS

1a entrevista:

P- PF1, o que é cultura para você, no ensino de língua inglesa ?PF1- Olha, pra mim, no ensino da língua inglesa, a cultura, relacionada com os alunos? Você fala assim (+)P- Dentro de sala de aula, com os alunos.PF1 – Relacionada à língua inglesa, né? P- Isto.PF1- Olha, pra mim a cultura, pra mostrar para os alunos, é um pouco assim (+) eu gosto muito de trabalhar com eles sobre os aspectos culturais, na, dentro da sala de aula; por que? Pra MOSTRAR como é a cultura DOS americanos, que a gente trabalha muito. E pra mim é muito importante a cultura.P- Como é que você faz isto dentro de sala de aula, de uma forma concreta.PF1- Ó, um exemplo! Eu procuro muito pesquisar em livros pra falar não m, muita gramática que eu acho que o aluno, por, na escola estadual, ele não, eh, por (+) pela sala de aula ser muito cheia, né, não tem como você ensinar pra um aluno, você tem que ensinar pra quarenta alunos. Então que que eu faço. Eu procuro pesquisar em livros, sobre a vv, como eles vivem lá. Quando tem data, datas comemorativas, eu procuro mostrar como eles celebram as datas, né, no dia, dia das mães, como é feito lá, inclusive eu tenho um bom material que eu consegui. Todas as datas eu demonstro pra eles, então para eles conhecerem um pouco da cultura que não é do Brasil, né?P- Esse é o objetivo?PF1- É o meu objetivo, eu ado, eu gosto MUITO de trabalhar isto com os alunos. Por que? El, el, pra eles, na realidade da escola estadual, pra eles, eles pensam assim “ai, pra que que eu vou saber inglês”. (+) Mas aí eu procuro mostrar pra eles que não (+) eles não são tão diferentes da gente (+) ge, geralmente os feriados, o que eles celebram, geralmente tem muita coisa a ver com o Brasil.P- Você nas suas aulas, eh (+) em que você está apresentando esses aspectos culturais, você faz comparação, você traz isso pra realidade brasileira, ou você apresenta: não, LÁ é assim, eles, como é, como é que você faz?PF1 – Não, eu procuro sempre relacionar, pra mostrar que lá também existe e que aqui também existe, entendeu? Por exemplo, tem o dia das mães, eu trabalhei com isto, estou trabalhando, né? Que “Mother”s day”, que que é o dia das mães, que lá também eles, eles (+) celebram, comemoram. Tem muitos, inclusive chegando em outubro, a gente trabalha demais, né, o Halloween, por que? No Brasil agora parece que passou a ser uma data assim bem comemorada, né no Brasil inteiro. A gente vê, eu mostro pra eles também. (+) Então, sempre trazendo, relacionando.

P- Agora, pra que você eh, trabalha esses pontos culturais. Que que você acha que isso traz NA educação de seu aluno.PF1- É eu, às vezes, eu penso assim: “EU gosto de trabalhar, por que? Eu acho que É interessante. Porque o aluno, às vezes, o inglês, é uma matéria diferente de você trabalhar na escola estadual, não, por que? (+) O aluno, ele tem tantos problemas, então você também tem que fugir, não do, do conteúdo, da matéria que especificada. Por que? Se você ficar trabalhando somente a gramática, você, o aluno fica assim (+) ausente da aula. Então eu procuro mostrar, porque é uma coisa interessante, que eles se interessam. Por exemplo, “ah, é, lá é assim TAMBÉM!” “NOSSA, aqui não tem ISSO”. Eles ficam super ah, como que é, não só a cultura, como é o modo de vida deles, eu procuro muito, procuro saber quem já morou lá, já conversei “ah, eles vivem assim”! Então não somente a cultura. O modo de vestir, o modo de ser, como ele age,P- Você aí falou alguma coisa: que não só cultura, mas também o modo de vestir, o modo de agir. Então o que que você encara como cultura? Porque aí você separou: PF1 – uhm...P- falou cultura ...PF1 – uhm ...P- o modo de vestir, PF1- é aí já é outra coisa...P- o modo de agir. Então o que que pra você é cultura?PF1- Pra mim, pra mim cultura é o modo de um, de um, de uma pessoa ou uma, uma população inteira agir. Que que ela faz. O modo dela ser, dela, geralmente a cultura você tem um, um, cada um (+) EU acho, individualmente, cada ser tem um jeito. Você nasce numa família, você tem uma cultura diferente. Você nasce num país, você TEM uma cultura diferente. Eu acho que é o que: BEM diversificado, cada um tem um modo deP- uma maneira de enxergar o mundo.PF1 – Isso.P- Você acha que trazendo isso pra dentro duma sala de aula, aqui no Brasil, o que que isso vai criar no seu aluno. Será que você acha que isso vai levar o aluno a refletir, a, a se desenvolver melhor como ser humano, como cidadão?PF1 – (+) Olha, na realidade, em vista do que EU trabalho, na escola estadual, é, é MUITO diferente. Os menino são muito sofridos, DEMAIS! Pra eles, às vezes nem importa que que tá acontecendo, porque a vida deles, eles trazem uma bagagem muito sofrida, a gente conhece. Então, às vezes pra um ou pra outro, não vai fazer efeito, mas tem muitos que são muito interessados. TANTO, que eu passei um vídeo esses dias para uns alunos meus, lá, lá da EE3, e eles, uma chegou ne mim, “ai, professora”, uma chegou pra mim, falou, “ai professora, eu fiquei sabendo que lá nos Estados Unidos, as pessoas costumam dar beijo, eh, não, NÃO costumam dar beijo pra se cumprimentar”. É, falaram isso, né? Aí eu falei, “ah, interessante”, entre, você, quer dizer, que interessam, tem alguns, tem uns que são totalmente desinteressados, mas eu acho que é em todo lugar.P- Mas em termos de, de você formar o seu alunoPF1 – formar em relação com issoP- Ahã. Como é que você acha que isso vai influenciar na formação,PF1 – na formaçãoP- na educação dos seus alunos.PF1 – É, eu acho que pra, no Brasil, assim, sendo realista, eu, eu quero mostrar pra eles, mais é em termos de conhecimento, a nível de saber um dia pra eles poderem passar pra outra pessoa, mas eu acho que FORMAÇÃO, eu acho que é meio difícil, sinceramente.

133

P- Eh, no seu questionário você colocou que você tinha lido os PCNs, né, você colocou alguma coisa. O QUE que você acha que é a posição do PCN com relação à cultura. Ele estimula, ou não estimula, pra que...PF1 – (+) Eh, e, e, eu acho assim, sinceramente falando, eh, em termos do PCN, pra mim, eh, um, TÁ no papel. A realidade é totalmente diferente. Porque a gente trabalha com os meninos, eles falam tu, falam sempre, apesar que os meus alunos gostam muito de minha matéria. Eles adoram. Chega a aula de inglês eles ficam louquinhos, né? Tem uns que não, não são todos. Mas eu acho que a, NO PAPEL, é totalmente diferente da realidade. Eles colocam uma coisa, só que a realidade é outra. P- Então que que o PCN coloca com relação à cultura.PF1- Então eh, que que acontece, coloca o que (+) ((risos)) coloca que você tem que trabalhar pro aluno ter outras amplitudes, que eu já li, que tou lembrada, né? Que pro, pro aluno conhecer novos caminhos que eu já, que estou me lembrando. E me parece, que é pra trabalhar bem também, no caso de eh (+) saber conhecimentos, deles, mas é mais gramática também, porque eles exigem bastante, trabalhar. (+) Então pra mim, é mais irreal, sinceramente. Não é o que a gente aco, acontece na sala de aula.P- Você acha que então eh, as suas aulas não estão eh, imbuídas do PF1- não estão.P- dos ideais dos PCN .PF1 - Não estão, porque, não é você ter, eh, falá uma coisa no papel, é uma coisa. Você vivê aquilo, eh assim, vivê, né todo dia, a realidade é totalmente diferente. EU procuro não que eu esteja assim saindo fora. Mas eu acho assim, MUITAS coisas são boas. A gente carrega. Mas muitas coisas não tem como você agir como, eh, tipo um livro, você tá lá com um livro. A escola adota um livro. Só que não tem como VOCÊ seguir aquele livro de acordo, por que? São alunos diferentes, cada um tem um jeito, então você vai devagar, ou você vai mais rápido. (+) É a mesma coisa. Cê não vai seguir aquilo à risca. Infelizmente não é assim.P- Então você acredita que eh, no seu trabalho, ah, o ensino da cultura é mais um, um extra praPF1- isso, mas que eu procuro, P- pra aumentar o conhecimento do aluno.PF1- É mais um extra, mas eu queria que fosse MAIS. Se a gente tivesse material, por exemplo, eu acho que nem minha escola tem. Mas se a gente eh, tivesse, na escola estadual, tivesse material suficiente pra mostrar MAIS a cultura e incorporar mais a cultura, seria melhor, mas então a gente faz o que? Procura, pesquisa, mas...P- Então, mas qual o, qual o objetivo, porque você tá falando que você queria colocar mais.PF1 – Queria.P- Então qual que é esse objetivo PF1 – objetivoP- em colocar essa, as questões culturais. PF1 – Mostrar pra eles que, mostrar, não ficar só no, no livro. Eu queria mostrar, pra eles terem mais conhecimento de como que é lá. Porque pra eles, cultura do, é só a música, eh americana, que eles adoram. Isso é cultura dos Estados Unidos. Eu queria mostrar mais assim, o modo de ser, como eles são, a política, eu falo com, eu debato sobre a política. Inclusive eu falei “gente ó, eles não são tão melhores quan, que a gente”. Por que? Até comentei que teve sobre a política, que vieram supervisores naquela época da política, pra aprender como que foi a nossa eleição. P- Então o seu trabalho É reflexivo.

134

PF1 – É. Eu nã, eu acho que não tem, não é uma coisa assim supérflua. Eu gosto, eu mostro pra eles, a gente debate. Então é uma coisa BEM penetrante. Eu gosto muito de chegar nesse ponto.P- Agora você acha que você não está eh, enquadrada no, nos ideais do, dos PCNs.PF1- Não. À vezes até assim, não porque eu não leio diariamente, nem assim, não tô lembrada de, porque eu já li no começo do ano, que na escola a gente tem, eu tenho em casa. Mas assim, eu procuro, já li, algumas coisas são associáveis, né? Mas muitas não, por que? A realidade é outra.P – Obrigada.

2a entrevista:

P- PF2, eh, o que você entende por cultura, ensinar cultura para seus alunos.PF2 - Ensinar cultura, eh, pra mim, é ensinar os costumes, né de um determinado país, de um determinado povo, NÉ, a maneira de viver, né, as tradições do povo.P- E você faz isto dentro das suas aulas de língua inglesa.PF2- Isso, sempre que possível, que tem, que possa trabalhar algum texto, né mais referente direcionado mais a (+) a algum assunto de algum país tipo assim, eh, (+) (+) por exemplo, vamos supor se fosse aqui no Brasil, um exemplo, né? Vamos supor se a gente for falar de, de samba, né alguma coisa sobre samba. Aí eu poderia explicar dentro de um texto que fala daquele assunto, e a gente, né, com o que eles falarem também, a gente consegui desenvolvê uma aula, através também do que o texto falou. P- Como é que você traz isto para dentro da sua aula de de língua inglesa, então?PF2- Dentro da aula de inglês?P- É.PF2 - Olha, eu acho que, é como eu falei mesmo, através de texto, né, até mesmo quando a gente vai trabalhar música, que eles gostam muito de música, né a gente trabalhá alguns cantores mesmo ali do país, a gente trazer as letra das músicas deles, né, até mesmo aquelas músicas assim é (+) aquelas músicas mais revolucionária, né que igual a gente tem aqui também no Brasil, o Gabriel, Gabriel Pensador, né, aí eu acho que dá pra trabalhar, dá pra trabalhar.P- Dê um exemplo de, vamos supor, alguma, algum momento em que você fez isto dentro de sua sala de aula. Dá um exemplo.PF2- (+) (+) É tá difícil ((risos)).P- Por que está difícil?PF2- É como eu te falei mesmo, é através de música mesmo. Aí a genteP- Pois é, mas o que você explora na música, então.PF2- Por exemplo, se eu, se eu, vamos supor que eu eu esteja trabalhando verbo, vamos supor. Aí eu procuro uma música que tenha, né assim, verbos no passado ou no presente, né, e NÃO fica só naquilo ali, em verbos, só falá em verbos. A gente trabalha também a LETRA da música, né a tradução, vamos supor, daí a gente tem que entender o que que está falando, né. E daí a gente desenvolve, né pode fazer até uma dinâmica, eles falarem o que que eles acham daquilo. P- E isso então eh, é o que você caracteriza como as suas aulas em que você aborda cultura.PF2- A cultura? P- Ahã.PF2- Isso.

135

P- Tá. Você eh, respondeu no questionário que você não tinha lido os PCNs.PF2- PCNs.P- Né? Então você, assim, na escola, vocês não discutem, não têm reunião de professores, não é comentado, você não sabe nada a respeito dos PCNs?PF2- É porque é assim, igual por exemplo, os meus alunos do ano passado, né, era pelo Estado, né? Então era assim, a coisa mais difícil que tinha era conseguí tê, montá um grupo de estudo né, porque geralmente a gente num trabalha numa escola só. Então dias que marcava era muito difícil coincidí da gente podê participá, né. E (+) aí esse ano ainda não deu certo, porque esse ano eu tô só com duas aulinha de inglês, esse ano ficou MAIS difícil ainda. Porque eu vou em uma escola, que é escola Estadual também, uma vez por semana dar duas aulas de inglês. E o mais eu tô trabalhando é com o português. Aí distanciou mais ainda.P- (+) Eh, o seu objetivo em levar essas questões de cultura para dentro da sala de aula, qual é?PF2- É (+) é o conhecimento mesmo, né que abrí o conhecimento dos menino, não ficá só na, na, naquela idéia do que a gente conhece o que tá bem próximo da gente. É conhecê lá fora, também.P- Conhecer, com que objetivo esse conhecer. É porque a cultura americana ou inglesa é mais avançada, é melhor,PF2- Isso... isso. P- É preciso você apresentar pra, pros seus alunos...PF2- Isso, né justamente é isso mesmo, é mostrando isso mesmo, a diferença, né da, da vida que esse pessoal leva com a nossa né, pa vê se isso ajuda até mesmo a mudá a maneira deles pensá, né e quererem algo mais.P- Ahã.PF2- E não ficá só, porque eu acho que, que a gente aqui, a, a nossa cultura realmente é (+) né de, de um modo geral, eu acho que o país num (+) não vai bem. Eu acho que eles levam uma vida bem, bem diferente da gente, pra melhor, né então de repente (.....) mesmo.P- E por que isso?PF2- Olha eu acho que, que em tudo, até mesmo pra começá, o ensino, né? (+) Um ensino que é totalmente diferente, né, a, a maturidade que o, o até os adolescentes mesmo, a maturidade que eles têm, em relação aos nossos aqui, é, é outra cabeça, né. (+) E eu acho que isso leva eles a crescerem, né. A crescerem PEssoalmente, PROfissionalmente, que um dia precisam conseguir alguma coisa também.P- Vai levar a um crescimento em que sentido.PF2- (+) (+) Eu acho que crescimento é esse mesmo, Pessoal, que eu acho que é importante para a pessoa né, para ela tê uma auto-estima mais elevada, e também pro lado profissional, que eles vão chegá lá um dia, né, que no caso eles são adolescentes os meninos que eu trabalhei no ano passado eh, 13, 12 - 13 anos né 14, mas um dia eles VÃO alcançá isso também. P- Então você acha que é importante na vida deles. Você acha PF2- é importanteP - que esse ensino é importante, e que sempre fez parte de suas aulas.PF2- É importante, é importantíssimo, é.P- Ahã.PF2- Né, porque assim se a gente vai eu acho que a gente não pode trabalhá, por exemplo, a gente que trabalha com português, a gente não trabalha só ali regras de, de gramática, né, a gente tá sempre trabalhando também texto eh, com a cultura do nosso país. Que não é distante da gente, né, faz parte da vida da gente. Mas pra ELES, no caso da língua inglesa,

136

a gente não tem que trabalhá também só conteúdo gramatical. (+) Eu acho essa parte importantíssima também.P- E você acredita que com essas reflexões que você faz, você vai estar levando seu aluno a crescer como cidadão, a se tornar um homem (+) crítico-reflexivo?PF2- Acho, com certeza.P- Você pode assimPF2- Eu acho que ..P- colocar um exemplo, colocar mais concreto.PF2- Olha, por exemplo, é igual assim, por exemplo a questão de, do voto, por exemplo, né? Eu acho que igual lá, por exemplo, né, pa, a vida, a política lá também é bem diferente. Acho que o pessoal são, as pessoas são mais conscientes, né até mesmo pra escolher um representante, (+) né, eles têm mais condição de, de escolher, né, e sempre acerta. Muito difícil não acertá né? (+) Né, e a gente comparando com o nosso, com o nosso país, é diferente, parece que né, (+) que nem isso as pessoas conseguem escolher e ter sucesso na escolha.P- Então você acredita que através dessas aulas de cultura, você está levando seu aluno a ser um cidadão melhor.PF2- A ser um cidadão melhor. Né, e ter MAIS visão, conseguí enxergar um pouco mais além.P- E... com relação ao PCN. Você falou que é difícil ter reunião, e tudo mais, né ? Mas eh, você nunca assistiu uma palestra em que alguém estivesse falando sobre os PCNs, o que que é a abordagem?PF2- Não. Na, na voltado pra, para o inglês, não.P- Quer dizer que na realidade PF2- é...P- você não tem conhecimento nenhum,PF2- nenhum.P- nenhum mesmo. PF2- É, nenhum, nenhum. Da língua inglesa, não.P- (+) (+) É, então é isso mesmo. Obrigada.

3a entrevista:

P –PF3, como você define cultura? O que que é cultura pra você?PF3 - Cultura, mhm, de maneira geral, cultura eh, é a teoria do saber. Porém, eu acho assim, tudo que te transmite conhecimento é uma cultura, seja ela qual, o nível que for, o grau que for, né? Então quer dizer, eu acho que a cultura de uma, eh uma, eh assim, é muito ampla. Eu acho que é uma forma muito ampla, né, um tema muito amplo.P - Então vamos delimitar um pouquinho. Como é que você encara a cultura no seu trabalho como professora de língua inglesa. O que que é cultura dentro do seu trabalho?PF3 - Por exemplo, hoje eu trabalhei, porque eu trabalho com “English File”((livro didático)), eu trabalhei uma unidade com eles, que eu falei, eu acho que isso é de extrema importância. “Ah mas pra que aprendê isso?”, né que eles têm muito essa pergunta, né esse questionamento. Ainda mais a parte de adolescente. Eles acham que não tem necessidade. Um termo que usava eh, uma uma unidade do livro onde tinha lá quais são as três línguas mais faladas no mundo, quais são as três línguas mais faladas na Euro, mais estudadas na Europa, quer dizer isso é uma cultura. Quer dizer, é uma, é amplo, uma cultura não é só por exemplo, no caso, como eu trabalho com língua inglesa. Não é me delimitá somente com aquilo ali. Não é? Eu acho que eu tenho que ir além, realmente. E

137

isso eu acho que é transmissão, é uma cultura. Quer dizer, o aluno vai se enriquecendo, eh, em de vários parâmetros, de várias formas, (+) né, não sei se seria sobre esse assunto. P - É. Como é que você traz aspectos culturais pra dentro da da sala. Seu livro aborda, você é que busca alguma coisa?PF3 - É ... não, a partir do momento que o livro aborda, eu tento eh, utilizá da melhor forma possível. Se o livro não tr, traz mas eu tenho condição, que eu acho que todos os temas, todos os livros, todo tipo de atividade, cê tem como procurá, hoje em dia tá MUITO fácil. Então eu tento procurá de maneira bem diversificada. Ou dentro de uma música, seja um RITMO de uma música, que eu acho que é um tipo de cultura, seja num eh, qual, qual assim, qualquer atividade hoje em dia, por exemplo, dentro da informática, né, então por exemplo, uma leiTUra de um texto, alguma coisa, um texto mesmo informativo... mas eu acho que cê também pode diversificar o modo de como transmití. Aí peço muito que os alunos levem, né? P - (+) Você disse no início que eh, é importante pro aluno abrir a visão, e tudo mais.PF3 - É.P - Eh, qual é o objetivo com que você aborda essas questões culturais em sala de aula.PF3 - (+) Você diz assim eh, (+) com que objetivo o P - É, porque tudo que a gente faz em sala de aula tem um objetivo.PF3 - Certo.P - Então qual é o objetivo em você levar essas questões culturais pra sala de aula.PF3 - Porque eu acho que é justamente isso. Eu acho que o aluno, ele tem que ter uma eh, a cabeça aberta, pra qualquer, pra todo tipo de conhecimento. Ele não pode ficar visando soMENTE, direcionado somente praQUIlo ali que vai ocorrê na sala de aula, entendeu? Por exemplo, se você tivé dando uma PARte gramatical vamo dizê assim, dentro daquilo ali SURGE um item, alguma coisa, um texto que esteja enfocando um outro assunto, então eu acho que aquilo ali, eu acho que cê pode ampliá, cê tem mui, muitos modos. Eu acho que o objetivo maior é fazê com que ele TEnha a cabeça realmente, até nas minhas, nos meus conteúdos que às vezes eu VÔ passá pro aluno, eu não consigo ficá soMENte naquele ponto. EU acho muito bom, por exemplo, eh, hoje em dia tá bem eh, amplo, e muito assim eLÁStico, a educação nesse sentido. Cê não precisa dá pro aluno somente aquilo ali. Se o aluno tem capacidade pra í além, cê VAI além. E eu acho que tem que ser por aí. Então pra que ficá só naquilo ali se ele qué, se ele tá gostano. Então acho que o objetivo é esse, é aquela ÂNsia que eu tenho de passá aquilo que eu sei e querê sabé, sabê também do aluno. Que às vezes o aluno tem mais experiência, né em determinado fator do que a gente.P - Quando você vai passar algum algum ponto, né, pros seus alunos, você sempre, né alguns você tem que fazer porque o livro pede, porque faz parte do programa, porque faz parte PF3 - (....)

P – é, tem que fazê.PF3 – tem que fazê.P - Agora, a, a cultura. É isso que eu quero que você me explicasse o porquê. Porque que você acha que é importante. Pra abrí, mas abrí a cabeça em que sentido. Pra que que você quer abrir a cabeça.PF3 - Não, porque eu acho assim, o aluno que ele faz, que, que, está estudando línguas, principalmente assim, não aquele aluno de colégio, pra, de ensino fun, fundamental. Mas o aluno que já está fazendo um ensino médio, e por exemplo, eu dou aula em colégio que tem um nível sócio-econômico melhor, né, mas são três escolas, quatro, né, vamos dizer assim. Eu ah, eu entro no nível assim sócio-econômico, que às vezes tem um aluno, que,

138

que tem uma, por exemplo a capacidade de, de fazer uma viagem, que tem um modo como fazer uma viagem. Ele tem por exemplo, hoje em dia, uma televisão por assinatura em casa né, canal por assinatura. Então eu acho assim, que FAZ parte, eu acho que é uma, uma obrigação minha fazê com que o aluno esTEja voltado pra isso. Eu acho que ele TEM que tá eh, consciente que isso eh, é como se fosse obrigação, mas indiretamente, não falando que é uma obrigação. P - Você acha que abordando essas questões culturais ajuda na formação do aluno PF3 - ah, sem dúvida.P - como cidadão? Me explica, me dá um exemplo.PF3 - É. Eu acho assim, que o aluno tendo uma formação desse nível, eu acho que automaticamente ele vai ter uma cabeça DIFERENTE. Porque se o aluno, ele é capaz, ele tá envolvido, estudando várias culturas de N lugares né, várias coisas, autoMAticamente ele está inserido num contexto assim que ele SEMpre vai tá procurando, e utilizando isso aí no dia-a-dia. Vamos supor eh, até hoje mesmo, o aluno me deu um exemplo na sala de aula. Ele falou, “professora ontem eu assisti aquele programa do Gugu, a senhora assistiu?” Falei “que parte”. Aí ele me disse que foi quando o Van Dame tava ontem no, aquele programa do Gugu, esqueci o nome, aquele da tarde - “Domingo Legal”. “Professora, ouvindo, consegui entender tudo!” Quer dizer, isso aí é o que eu acho que chega a ser uma cultura, por que? Porque ele teve a capacidade de ficá estudando de procurá uma escola onde oferece o inglês, o inglês que eu acho que que tem um certo nível, né? E ele, é então tudo isso aí, eu acho que tá favorecendo pra ele no dia-a dia, quer dizer, não precisa ir longe né, imagina se ele tiver oportunidade de fazer uma viagem. Se ele por exemplo, hoje em dia, que aluno que hoje em dia não tem um computador em casa, que não utiliza Internet. Então acho que tudo isso eh, (+) é por aí. Não sei se (+)P - Com relação aos PCNs. Que que você acha que é a posição, né, dos PCNs com relação ao ensino de línguas.PF3 - (+) (+) Ah, eu acho que tá mais ou menos, num sei, não me lembro muito bem, mais eu acho que é mais ou menos sobre eh, aquelas questões que você colocou, aquele questionário, né? Eu acho assim que, que tem por exemplo, hoje em dia não tem COmo cê trabalhá mais solto. Tá TUDO ligado, tá tudo assim, tudo é uma, uma cadeia. É um ciclo, né. Então cê sempre, não tem como cê trabalhá sozinha, de maneira diferenciada, né, (+) eh, mhm, isolada. Tudo está sempre interligado, eu acho que os PCNs vêm assim pra acho que contribuir pra favorecer, porque (+) P - Você está se referindo especificamente ao de língua estrangeira? Você acha que a abordagem dos PCNs de língua estrangeira tá bem dentro, VOCÊ está dentro da abordagem dos PCN? PF3 – Eu P - Ou você acha que existe algum distanciamento?PF3 – Eu, não, eu estou, sabe por que? Porque a gente tem estudado muito isso aí, né? Inclusive, duas escolas que eu, das quais eu trabalho, desde quando começou a falá, começou a se estudá isso aí, nós já começamos a trabalhar. E uma TERCEIRA agora, que tá começano, a que viu que realmente não vai ter como cê trabalhá, sem estar por DENTRO, realmente. Então eu já tô sentindo mais assim, mais leve, tá transcorrendo mais tranqüilo. P - Voltando ao exemplo do seu aluno, que você falou que ele táva assistindo o programa e ele conseguiu entender, né? Você falou que isto aí é cultura. Eh, isto não seria mais compreensão? PF3 - Não, é compreensão. Mas eu acho assim, eu não sei se eu tô conseguindo eh, colocar bem pra você no sentido assim. Por exemplo, se o aluno, eu acho que pra mim, cultura também eh, ele poderia perfeitamente, se bem que ele tem um nível sócio-

139

econômico médio, bom. Mas se ele não tivesse procurado uma escola, não tivesse procurado estudar línguas, né, no caso o inglês, e não tivesse inteirado da matéria, não tivesse eh, porque também num é só assim P – tá, então, agora que eu tô entendendo como é que você está encarando a palavra cultura. Você tá falando de cultura que é essa essa coisa de ir atrás do saber, de procurar.PF3 – É.P- Agora, eu tô me referindo à cultura de um povo, de uma nação. Então você tá dando aula de, de língua estrangeira. A cultura dos ingleses, americanos, de todos os falantes da língua inglesa é diferente da cultura brasileira.PF3 - Ah, sim.P - Então é nessa questão que eu tô mais preocupada. É essa ques, essa cultura deles, né, de todos os falantes da língua inglesa. Você apresenta em sala de aula? PF3 - Ah, sim. E inclusive, a gente tem a, a (+) a felicidade de tê, principalmente lá no colégio XXX, por ter as irmãs, e nós temos irmãs em diversas partes do país, né, aliás, do mundo, do mundo. Inclusive estes dias nós estávamos com uma que estava na aqui na América Central. Então eu tava dando depoimento de como é lá. E eu fiz questão de levá-la pra sala de aula. Como é tratado essa cultura, de maneira geral, da forma que cê tá colocando, como é que é a alimentação; como é que é o dia-a-dia; QUAL é a função dela de ir pra lá; o PORQUÊ dela ter ido, entendeu? Então eu tento aproveitar tudo isso aí.P - Ahã.PF3 - Então o que EU tenho de diferente ao meu alcance, eu sempre, eu tô levando pra sala de aula. Entendeu? Então eu sempre LEVO e graças a Deus que no meu dia-a-dia, tenho tido muitas oportunidades. P - Me coloca um exemplo de um né, uma situação dessas da cultura de países de língua estrangeira que você levou pra dentro da sala, trabalhou em sala de aula. Como é que foi a reação dos meninos.PF3 – (+) Bom, de maneira geral eles ficam SUPER curiosos por saber como é que é. Às vezes alguma coisa que você conta, isso até mesmo experiência minha já vivida, né, que eu já também tive a oportunidade de viajar pra outros países, e às vezes eu comento com eles. Às vezes, eu esPEro às vezes acontecer alguma coisa, porque eu acho que também se for colocar isoladamente, acho que perde até o objetivo da coisa. Então às vezes eu tento tá relacionando. Então vamos supor que determinada coisa que passou tem a ver com aquilo ali que eu estou falando. Então às vezes eu coloco. E, por exemplo, esse aí da, da (+) da irmã, eu achei interessante pelo seguinte: eu táva numa sexta série dando (+) ensinando comida, os alimentos pra eles. Então eu tava falando e tal, e a gente às vezes tenta porque lá, eu não sei se você sabe qual é a linha, qual é o eh, (+) lá do colégio, né? Então a gente tenta assim formar e informar o aluno. Então lá tem a parte de formação do aluno como um todo, então a gente tenta muito fazer trabalho paralelo, não é assim não prega-se a religião exclusivamente, mas PARALELO você vai fazendo, vai tratando aquilo ali. Então, tava o assunto no livro sobre alimentos: como fazer e tal, então sempre você pega um gancho ou de ciências ou alguma coisa, eu sempre pego o paradidático, né, trabalho muito, e coincidentemente essa irmã estava lá, então falando pros alunos como é que é o tipo de alimentação, qual é a nossa, como é que eles pensam que é no estrangeiro.P - Tá, então agora deixa eu te perguntar. Você levou esta irmã pra dentro de sala de aula. Você estava falando sobre alimentos, e ela veio falar sobre os alimentos lá da, de onde ela, ela estava trabalhando, e qual o objetivo com isso.PF3 - O objetivo foi eles assim, porque eles queriam, ah, eh, porque não, porque eles já sabem mais ou menos o, o dia-a-dia deles como é que é, né, qual o tipo de alimentação, tal, tal, tal. A professora de ciências também já tinha feito um trabalho assim com eles.

140

Acho que coincidiu até naquela semana da “boa alimentação”, mais ou menos por aí. E ela também colocou, então foi colocado no sentido assim, pra eles, porque lá foi esse sentido, pra eles darem valor praquilo que eles têm. Aí ela foi fazer a colocação pro tipo de alimento lá, a precarieDAde que é lá, entendeu. Então foi fazendo, então eu QUIS também sensibilizá-los nesse sentido.P - Então você leva os meninos a fazer uma reflexão, eh, quando você apresenta esses aspectos né, dos outros países?PF3 - isso...P - Você leva a compararem com a cultura brasileira,PF3 - issoP - fazendo uma reflexão, fazendo uma crítica.PF3 – Isso. Por exemplo, outro dia, até foi a semana passada. Então eu tava eh, estudando a respeito da, das matérias, disciplinas escolares. Então nós távamos fazendo, eu pedi que eles fizessem o horário deles. Aí eu levei uma música, paralelo, na música tinha ocultas as palavras, e aí o que que eu fiz. Eles tinham que entender qual era a matéria. Então tipo assim, onde que está o microscópio, que disciplina que é, onde tá o rei, ou a rainha, história, tipo assim. Eu trabalhei essa parte, trabalhei é lógico, denominado em inglês, e depois eu fui falar o que? Eu fui falar a respeito do horário que é lá. Aí passei uma experiência MINHA. Falei que eu estive em julho, né, lá, quando eles entram de férias, seria o fiNAL do ano. Como é que é o horário de aula, fui numa escola, e levei horários, levei alguma coisa, algum material que eu trouxe de lá. Então eu mostrei pra eles, assim, como é que, que hora começa a aula, nove, nove e meia, né, depende da escola. Fui explicá que quando o período de inverno, é complicado, e tal. Então eles, aí, eles parece que eles vão assim naqueles devane::ios, né, eles vão lo:::nge na imaginação. Eles, “não, mas aqui podia ser assim também”, e tal, então, P - E aí quando eles falam que aqui podia ser assim também, qual a sua atitude?PF3 - Aí eu tento traçar o paralelo, o seguinte: mas nem sempre ah, às vezes poderia até ser, mas às vezes não tem essa possibilidade devido à cultura. Por exemplo, a cultura que nós temos. Esse ano a irmã do colégio quis colocar o sistema eh, INtegral do aluno. Entraria de manhã e sairia à tarde, tendo refeitório, e tal, porque lá a escola é muito grande, cê deve conhecê, então queria ficar o dia todo. Mas aí é o tal negócio: a condição financeira, não é a mesma, mesmo sendo alunos de nível sócio, né econômico, bem, mas seria, tinha que ter uma taxa, para a despesa da, do almoço, pra despesa do professor que vai ficar num outro período. Eles iriam ter aula de todas as disciplinas. Aí eu faço enxergá-los também que, que também não é como assim, só como a gente quer, né? Seria MUITO bom, mas... P - Então tá. Acho que já deu. Obrigada.

4a entrevista:

P - Tudo bem, PM1, então eh, o que que você entende por cultura.PM1- Cultura é toda a problemática histórica de uma nação, que vem desde, por exemplo, o o seu início, até os dias atuais, passando por vários estágios. Então, desde o homem da caverna, ele já, ele já possuía uma certa cultura que ele prezava por ela. E o mundo foi adiantando, foi melhorando, foi melhorando, e essa cultura foi expandindo através da língua, através dos meios de comunicação. Eu vejo cultura como isso, como VÁRIOS estágios de um povo, vários moMENtos de um povo.

141

P - E você acha que para aprender um língua, você precisa aprender a cultura também dessa língua?PM1 - Eu acho que NÃO obrigatoriamente, mas seria MUITO bom se ela soubesse.P - Por que?PM1 - Porque se (+) uma pessoa deve aprender uma língua para poder FALAR aquela língua, para poder se comunicar naquela língua, porque senão não teria outro sentido, a não ser as pessoas que se preparam exclusivamente para entrar no vestibular, aí que não resolve, aí essa pessoa nem, a língua bem dizer quase que não aprende, ela aprende os macetes para passar. Mas eu acho que é FUNdamental saber a cultura, porque através da cultura a pessoa estaria pegando o esPÍrito verdadeiro da língua, e não somente o que as palavras significam, porque MUITAS, muito da semântica, do “meaning”, ele está ATRÁS da palavra, ele está na própria CULTURA, o que muitas vezes uma pessoa de língua estrangeira, por exemplo, um brasileiro, não consegue perceber no americano, e um americano nunca consegue perceber no brasileiro se ele ficar somente apenas nos livros. Se ele não ver EXATAMENTE o que que aquela aquela expressão significaria, eu acho que NÃO a obrigatoriedade, mas seria muito bom MESMO, cê entendeu, e seria útil demais da conta para a pessoa que está estudando a língua APRENDER a cultura daquela língua, porque cê já pensou se por exemplo, eh, eu quero ir para a Inglaterra, ou para os Estados Unidos por exemplo. Então, o processo alimentar deles é BEM diferente do nosso, e isso é uma cultura, né, porque na realidade eu não é que eu não vivo só de “hamburger” ou (+) né, ou de “hot dog” então eles têm a cultura, né, eh, alimentícia, então eu já deveria vir preparado para saber que eu vou encontrar esse tipo de P - Então você nas suas aulas leva essa questãoPM1 - OK, eu levo essa questão pra sala. P - Me dá um exemplo. Como que você leva isso de uma maneira real pra dentro da sala. PM1 - Na vida real. Por exemplo o eh, um dia desse eu tava trabalhando com as “seasons”, com as estações. Então o livro traz apenas as estações, “spring, summer, fall and winter” e expl, isso, eh, “summer, winter”, etc., né, e eu levei um, um, a, a mais pra eles entendeu, o seguinte, por exemplo: eu (+) nós vamos estudar as estações aqui, não para fazer só esse pedacinho que está aqui no livro. Então, veja bem. Se vocês aqui, sempre, muitos de vocês estão viajando para os Estados Unidos. Então, o que é IMPORTANTE você saber agora, disso aqui, ALÉM desse pedacinho que está aqui. É saber, por exemplo, QUANDO que as estações começam nos Estados Unidos, QUANDO que ela termina, COMO que é o clima lá, que TIPO de roupa que o pessoal usa naquela época. Até que TIPO de alimentação que eles usam, né, pra você já ir PREPARADO pra isso, pra pra ENCONTRAR um mundo mais ou menos, né, como você gostaria de encontrar, porque se você quer ir passear nos Estados Unidos, e escolhe um dezembro, e que está gelado em Nova York, e você não sabe disso, você chega lá, você vai perder sua viagem. A não ser que você queria ir lá para ver neve, quer dizer, aí é diferente.P – Eh, você, quando você trata dessas questões culturaisPM1 – mhmP - em sala de aula,PM1 - mhmP - você tenta levar os seus alunos a fazer uma reflexão, uma comparação, ou PM1 - Claro,perfeitamente, então a primeira coisa que eu faço é o seguinte. COMO que está, por exemplo, como que é a estação, como tá o clima aqui no Brasil, hoje. E como está o clima nos Estados Unidos hoje. Então ele, em cima, ele vai TER que pensar. Por exemplo, como

142

que está lá, e que está aqui. Então eu levo a viver dois mundos ao mesmo tempo, mas dois mundos paralelos.P - E esta comparação você faz com que objetivo.PM1 - O objetivo dele PENSAR, entendeu, que ele vai precisar disso algum dia na vida dele. E- Então você acha que, eh, você levando essa questões culturais pra dentro da sala de aula, PM1 - mhmP - você tá ajudando o aluno a desenvolver eh, sua criticidade, assim, se desenvolver como cidadão. PM1 - Perfeitamente. O, um, um, há um, há um tempo atrás, eu trabalhei com eles um texto chamado “The Rain Forests”, certo, então, na, na, com aquele texto, nós fizemos uma viagem pelo mundo. Então onde que tem, quais os lugares do mundo que tem “rain forests”. Então eles não sabiam que aqui no Brasil tinha “rain forest”, porque não SABIAM o que que era aquilo. Então, eu fui explicando que aqui no Brasil, eh, na (+) em Jakarta, como é que chama, Indonésia, tem, né, eh, esse tipo de floresta. Então nós fomos ver a, a, por exemplo, como que é, por que que chama “rain forest”, porque florés, em, no Brasil, a, a tradução floresta tropical, né, então aí nós vimos por exemplo que aqui no Brasil nós temos um determinado clima que na Indonésia também tem em função das florestas tropicais, e então eles aprenderam um PUNHADO de coisas estudando floresta tropical.P - E que que você diz com relação aos PCNs? Você acha que a abordagem dos PCNs leva a esse tipo de ensino? Ou não?PM1 – Olha, eu acho, eles estão mexendo DEMAIS na educação, cê entendeu? Eu acho que o o Paulo Renato, não sei não, não quero entrar no mérito dele não, mas eu acho que ele tá mexendo demais e não tá fazendo nada. O que ele está fazendo, só está acumulando coisas e coisas. Eu me lembro muito bem quando eu era estudante, eh, estudávamos química, física, biologia, matemática, português, (+) geografia, história, pronto, (+) entendeu, no colegial, nós tínhamos cinco a sete matérias. Então AQUELAS matérias, nós saíamos da escola SABENDO. Agora hoje, a, a divulgação, assim, uma mistura de tanta coisa, o aluno tem que ver tanta coisa, tanta matéria na aula, que sobra uma aula para uma matéria, uma aula pra outra, uma aula pra outra, e ele não acaba não aprendendo quase nada. E, agora, a respeito dos PCNs, eu não sei, eu vejo o seguinte. (+) A minha função seria transmitir um determinado conhecimento de inglês para um determinado grupo. Agora, eu PRECISO de, de mexer com química pra eles? Eu PRECISO trabalhar com isso, por exemplo, quando nós usamos, por exemplo, eh, as “rain forests”, nós estudamos geografia. Eu acho que aí foi muito válido, P - Mas aíPM1 - cê entendeu? É,P - Mas aí no exemplo que você deuPM1- não é mesmo? P - pelo exemplo que você deu, você entrou em geografia, né?PM1 - é claro, história, então, um punhado de coisas!P - Ciências, né, o clima, e tudo mais.PM1 - isso, então, quando ô, eh, você tem, por exemplo um texto que te dá condição de você usar isso, é muito bom, mas o pessoal tá querendo que você faça isso em PROVA. Cê entendeu? Relacionar inglês com, com matemática, eh, é até POSSÍVEL, porque eh, nós trabalhamos há pouco tempo, por exemplo, as operações, em mate, em inglês, o valor do dinheiro, tudo isso eu acho que é válido, cê entendeu? Mas não pode ser feito, por exemplo, como um FIM. É um MEIO. É que o pessoal tá tentando fazer

143

com computação nas salas de aula. Eles estão querendo colocar, achar que todo mundo vai aprender, por exemplo, todas as matérias do colégio no computador! Não vai! (+) Não vai! E eu acho que o professor é fundamental, eu acho válido o, o estudo dos PCNs, quando há essa integração de uma disciplina com outra, mas quando ela acontece normalmente, quando ela flui naturalmente. Quando ela é imposta, eh, mhm, eu não sei, não.P - Acho que nada que é imposto é válido.PM1 - É, pois é.P - Mas você falando dos PCNs, você entrou mais na questão da, da interdisciplinaridade, PM1 – Ahã.P - da relação entre as disciplinas. PM1 - Isso. P - Agora, com relação à, à cultura, o ensino de cultura. (+) Porque você sempre aborda essa questão.PM1 – Ah, abordo. Nisso aí você pode ter certeza que eu estou de pleno acordo. Eu acho que realmente, é o que eu te falei agora mesmo, eu posso aprender uma língua, porque uma vez perguntaram: “PM1, eu sou capaz de aprender português, sem estudar latim?” (+) (+) Eu falei: “É claro que é. PERFEITAMENTE, você pode aprender muito bem português SEM aprender latim. Agora, se você souber latim, vai te facilitar DEMAIS da conta! Mas isso não quer dizer que você se NÃO estudar latim não vai aprender”. A mesma coisa, eu, eu vejo aqui, entendeu? Estudar a cultura é válido e eu acho MUITO importante, PRINcipalmente quando a pessoa tem um OBJETIVO final. Eu quero ir morar naquele país, eu quero viajar para aquele país, eu PRECISO, eu vou estudar naquele país, vou trabalhar lá, vou estudar lá, aí eu sou a favor.P - Você falou um coisa importante aí, principalmente quando a pessoa vai morar lá,PM1- precisa ter eh, finalidade.P - agora, pensa bem. Os PCNs foram redigidos, né, para as escolas de ensino fundamental e médio. Você tem alunos nesse nível que vão morar lá?PM1 – Eh, então, escola pública raramente, agora hoje tá, tá um, a gente não pode falar raramente, desculpe, mas a escola pública hoje tá muito mesclada, você sabe disso né, que em função dessa péssima política econômica que nós temos atualmente na nossa nação, esse péssimo presidente que nós temos, falando-se de política econômica, falando do ser humano, tá certo,? Em termos financeiros, um, um funcionário público hoje, tem sete anos que não pega um tostão de aumento em seu salário. Então aquele, aquele funcionário público que podia manter um filho numa escola particular, ele está indo para a escola pública. Então, hoje a escola pública está muito MESCLADA, e muitas vezes ela NÃO está preparada para receber um tipo de aluno, cê entendeu, então, se os PCNs são feitos para o ensino fundamental e médio, embora eu trabalho numa escola particular, que exige demais isso de mim. É o que te falei, pedir isso em prova, então vamo lá! Então um dia desse, foi por exemplo, pediram-me, eh, foi o dia do índio, então eu teria que colocar um texto sobre o índio na prova. UAI!P – ((risos))PM1 - Tá entendendo? Então vamo lá, vamos procurar um texto. Achei, peguei um livro meu, eu li, copiei o texto, eu montei as questões, e LEVEI. “É isso que cê qué?” “Ah! CLARO, é história, aqui é do índio, tá muito bom!” Não sei se tá muito bom NÃO! Cê entendeu? Mas eu pelo menos, eu RESPONDI ao quesito que ele queria. Agora, eu, PCN em termos de escola de nível fundamental, eu acho que deve colocar pelo menos como eu disse para você, quando fluir normalmente, sabe por que? Porque eu vejo o aluno, o aluno de escola pública né, eu trabalhei muitos anos em escola pública, e nós temos na escola

144

pública um grande número de alunos que são realmente excelentes. São, são INTELIGENTES, não têm muita OPORTUNIDADE como os demais né, porque quantos alunos, por exemplo, estudavam comigo na parte da manhã, e arrumavam um emprego e tinham que largar o estudo na parte da manhã e estudar à noite, porque PRECISAVAM trabalhar, pra ajudar na família, pra comprar qualquer coisa pra ele, então eh, o aluno de escola pública, ele tem MENOS oportunidade que um aluno de escola particular. Você pode crer, que hoje ele está aproveitando MAIS do que um aluno de escola particular. P – E, com relação eh, você percebe que hoje em termos de língua, né,PM1 – Ahã.P - a gente está rodeado por inglês, nos outdoors,PM1 – Ahã.P - por tudo quanto é lado, né?PM1 - Sei.P - Na computação, no esporte e tudo mais.PM1 – Ahã.P - E, devagarinho certos costumes e certas tradiçõesPM1 - estão entrando.P - estão entrando também. PM1 – Ahã.P - O que que você acha disso?PM1 - Bom, eu de FORMA alguma estaria contra, cê entendeu, porque eh, acho que foi o Napoleão que falou isso, que o, a pessoa que fala uma língua vale por um, mas o que sabe duas línguas, vale por, dependendo da oportunidade, por MIL! Vou colocar só por DOIS. Então se eu tenho a oportunidade de saber alguma coisa de uma língua estrangeira, que seja inglês, francês, espanhol, porque espanhol está entrando muito hoje, para eu me comunicar com os outros, eu acho MUITO válido. E NÃO vejo DEFINITIVAMENTE isso como um empobrecimento da língua portuguesa. Eu vejo até como um ENRIQUECIMENTO do povo. P - Sim, aí é aprender uma, uma segunda língua para se comunicar nela.PM1 - Claro.P - Agora, eu tô dizendo PM1 – Ahã,P - dessa influência dentro do próprio português. Por exemplo, palavras como “franchising”,PM1 – Ah!P - como “dumping”, “hot dog”, PM1 - é, sei,P – É, esse tipo de palavra. E certos costumes, né, certas comemorações, certas festas que vão acontecendo no Brasil, mas que não são brasileiras.PM1 – É, isso aí, é uma questão apenas, (+) como a gente veria isso, como um questão IMITATIVA. Então, estariam imitando, porque se os, se nós formos por exemplo, observar ou comparar o Brasil com os Estados Unidos, os Estados Unidos é o que? É o espelho que vai refletindo toda sua cultura nos outros países. E principalmente no Brasil que mantém um contato assim, MUITO estreito com os Estados Unidos, ele sofre realmente essa influência. Agora, se vem a ser NEGATIVO, por exemplo, cê tá falando, eu acho que cê quando colocou negativo, porque o “Halloween”, né , do “Halloween”,P - negativo não. Eu não usei esta palavra. Mas o que que VOCÊ pensa disso? PM1 - Ah, não, eu não penso como ponto negativo, não. Eu não penso não. Eu penso como, por exemplo, como mais uma forma de expressão. Mais uma forma de expressão.

145

Mais uma forma de viver a vida diferentemente. Por exemplo, na, na, nas festas que as escolas, hoje já quase todas, né tem o “halloween”, e eu acho muito legal, quer dizer, é cultura. É do outro lado do mundo? É. MAS, o, o POVO que, NÓS que estamos sofridos, se existe mais uma oportunidade pra ele, cê entendeu, descansar, distrair. Por que qual que é a paixão do brasileiro? Futebol e carnaval. Futebol já não dá mais NADA, né? Perde pra Raimundo e todo mundo. Perde pra todo mundo. Então o futebol ACABOU. O cã, o sujeito, Parreira, parece, que um dia desse falou, o Brasil não tem uma seleção nacional hoje. Não é hoje, não. Já há MUITO tempo que não tem, né, então se eu tenho uma FESTA que eh, traz alegria pro povo, embora ela seja de outra origem, por isso que não sou contra. Se fosse assim eu teria que ser contra o Papai Noel, não é? O Papai Noel, a origem dele, daonde que vem, isso aí, eh, não é mesmo? E que ele existe aqui junto conosco, aí todo final de ano faz muita gente ganhar dinheiro. Não, EU não vejo como negativo, não! Eu vejo como eh, uma FORMA também, uma forma também das pessoas se expressarem, serem felizes. Porque é isso que precisa, né?P - Ok, obrigada.

5a entrevista:

P - O que é cultura para você, Rodolfo?PM2 - Cultura, bom pra mim, cultura é um CONHEcimento que a pessoa adquire né, no, com relação a, a todo aspecto da FORmação da pessoa, intelectual, eh, pra mim abrange tudo. P - E quando você fala em cultura relacionada à língua, ao ensino de língua, o que quer dizer isso? Tem o mesmo significado que esse que você acabou de falar?PM2 - Não, pra mim tem um, tem um significado mais profundo, porque, pelo seguinte, como a pessoa não conhece a língua, então aí a abordagem, ela deveria ser mais profunda para a pessoa saber a CULTURA, o, o QUE as pessoas daquele país, COMO elas pensam, como elas se relacionam, o estilo de vida e etc..P - É importante saber isso para aprender uma língua?PM2 – (+)PARA aprender uma língua, (+) bem eu creio que sim, pelo seguinte, porque cada língua tem uma história pra contar. De repente não adianta eu querer aprender o inglês sem previamente saber pelo menos o, o, a HISTÓRIA da língua inglesa, para que eu possa, porque muitas vezes, algum, alguns pensamentos pra gente não têm significados, se EU entender um pouco da cultura vai me ajudar a entender PORQUE que eles pensam daquela forma. Por exemplo, o adjetivo no inglês, a posição do adjetivo, já é uma coisa da estrutura da língua. E se eu teimar em não entender ESSA estrutura da língua, eu não entendo. P - E se você, dentro dessa colocação que você fez, né, você mostrou, deixou transparecer que você acredita bastante, ser bastante importante a questão da cultura. Você eh, leva questões de cultura da, dos países que falam a língua inglesa, que é a língua que você ensina, pra dentro de sala de aula?PM2 - Bom, eu creio que TODO professor de língua estrangeira, eu creio que ele, bom, uma que o os PRÓprios livros didáticos já fornecem um pouco, né. Por exemplo se a senhora vai trabalhar alguma coisa sobre mhm, por exemplo, sobre a cidade, sobre a cidade. Sua posição geográfica, essas coisas assim, onde fica situada, essas coisas. É importante levar para dentro da sala de aula, para que o aluno tenha uma visão EXTRA

146

daquilo que está no livro. Eu acho que é de funda, fundamental importância pra que haja uma compreens, compreensão. P - Então seu objetivo eh, com essas questões culturais, é simplesmente dar uma informação a mais, levar os alunos a compreender o PM2 - não, NÃO simplesmente, porque veja bem, NESSA informação a mais, eles TAMBÉM enriquecerão o vocabulário deles,P – Ahã.PM2 - o léxico deles será ampliado também. Porque a função, eu creio que a função na, na, no ensino de uma segun, segunda língua, é o léxico. Então se é o léxico, essa EXPANSÃO na aula, eu creio que vai facilitar para o alunoTAMBÉM. P - E quando você trabalha essas questões de cultura, você faz uma comparação com os, as tradições, os costumes da cultura brasileira, como é que você, ou você deixa de ladoPM2 - bom, eu, eu creio também que seja importante para a gente fazer ANALOGIAS, analogias, né, por exemplo, eh, quando a gente pega alguma coisa para, para que eles possam comparar, porque pra muitos alunos, a comparação ajuda demais na elucidação de MUITAS coisas da língua estrangeira. Então se você pega uma coisa que tenha uma coisa similar na nossa língua, quando você introduz PARA aquela pessoa, pra ela fica mais fácil a compreensão. P - Você está falando de questões de gramática, do léxico.PM2 - Não só gramática, mhm, eh, de cultura também. Por exemplo, por exemplo, o, o americano, a, o, as pessoas o têm como frio. Não, é a CULTURA dele. Por exemplo, aqui no Brasil, nós abraçamos, né, quando a pessoa se encontra, apresenta pra outra, nós temos aquele abraço, beijo, etc.. JÁ o americano, POR cultura, pela tradição dele, ele já é mais reservado.(+) Já é mais, por exemplo, o, a, aqui, nós chamamos nossos pais de “senhor”, já eles não têm esse hábito, lá eles não têm esse hábito. P - E você acha que com a inclusão dessas questões culturais nas suas aulas, você tá ajudando seu aluno a crescer como pessoa, como cidadão? PM2 – Bom, eu creio que sim, pelo seguinte: porque quando ele, aparecer pra ele um comentário SOBRE esta área, ele vai ter um, um vocabulário maior, ele vai ter uma, ele vai ter mais vias de, mais alternativas pra poder se comunicar com aquela pessoa. Ao passo que se você ensinar SÓ uma via para o aluno, por exemplo você vai ensinar uma coi, mhm, alguma coisa na língua. Se você ensina SÓ uma coisa e não procura expandir, o aluno pode muitas vezes ficar bitolado naquilo que você passou pra ele, sem procurar outras vias, porque na realidade, você NÃO O ensinou (+) a ter várias opções, você ensinou pra ele UMA única via, sendo que na realidade nós temos VÁRIAS. P - E como que você traz essas questões culturais pra assim, de uma forma real, realmente, para dentro da sala de aula.PM2 - Como assim?P - Um exemplo, como é que, o que que você, me dá um exemplo de como você trabalha algumas coisas de questão cultural dentro de sala de aula. Você falou por exemplo da, do abraço, agora como é que surgiu isso. Surgiu de um texto, ou simplesmente vocêPM2 – Não.P - falou.PM2 – Eu, eu tenho vários amigos americanos, então eu converso, eu entro muito em contato com eles, pra saber se vocês, se EU né, estou realmente, mais ou menos, né, vamos dizer assim eh, me aproximando da língua. Porque na realidade, pra você ficar na língua, pra mim, você tem que ser nativo, pra você ESTAR na língua. NÓS, no meu caso que sou brasileiro, aprendi a língua inglesa, então eu tenho muita coisa pra APRENDER sobre a língua inglesa. Então, dentro disso aí, eu busco muito, costumes da língua inglesa, ou da, da língua inglesa, pra passar pros meus alunos. E, por exemplo, um colega meu,

147

uma vez perguntando pra ele SOBRE os parentes dele, ele falou pra mim que isso é uma pergunta idiota. Que NÓS, que brasileiro tem perguntas idiotas quando se preocupa com a família dos outros. Aqui no Brasil isso é uma coisa comum. Então eu PASSO isso para os meus alunos, para que amanhã ou depois se eles encontram, se eles encontrarem com algum americano eles não caiam nessa ((risos)).P - E como é que você vê eh, a abor, o que os PCNs falam sobre a questão da cultura, ou sobre o ensino de língua inglesa. Você acha que você está enquadrado dentro dessa abordagem dos PCNs? Você acha que ela funciona, que ela não funciona, como é que ela vê a, o ensino de cultura. PM2- Bom, os PCNs, eu creio que eles vieram auxiliar o trabalho do professor em sala de aula. Só que eu acho que ainda falta MUITO trabalho do profissional para ele entender os PCNs. Porque veja bem, até hoje, o ensino de UMA língua estrangeira, vamos dizer assim, ele não foi renegado a primeiro plano, apesar de que os PCNs falam pra dar uma ênfase, para que o aluno saia apto, né, falando uma, uma segunda língua. Mas infelizmente isso não acontece até hoje nas escolas que eu já estive. Isso não aconteceu. O professor, é o tempo todo falando em português, poucas coisas se fala da língua, e POUCAS coisas se fala de pronúncia, estrutura. O professor passa por CIMA daquilo ali, vamos dizer assim, e a língua fica relegada a um segundo plano. O objetivo PRINCIPAL não É a língua. Muitas vezes o profissional usa A língua pra ensinar alguma coisa de gramática, alguma coisa assim. Mas a língua em si... O que fica muito difícil. P - OK. Obrigada.

6a entrevista:

P – Ok, PF4, eh, o que que você acredita, ou o que que você entende por cultura. PF4 - Cultura?P – É.PF4 - Bom, creio que é uma bagagem que o aluno já carrega do berço familiar, né, familiar, eh, e aquele que é adquirido no dia-a-dia, né? Então você vai ver que é uma série de conhecimentos, (+) que ele vai adquirindo ao longo da vida. E que nós nunca paramos de aprender, né, todos os dias nós aprendemos. P - E quando se fala em língua, né, o ensino de uma língua estrangeira, a cultura relacionada a essa língua, o que que você entende por esse, esse tipo de cultura.PF4 - Bom, de 5a a 8a, no Parâmetro Curricular, pede pra você passar informação, pra ele ter eh, noções a respeito do, da língua que vai ser estudada, né? P – Noções de PF4 - Isso.P - de gramática? PF4 - Não, de, cultural,P - Ah! Cultural.PF4 - a partir de como ele vai empregar, né, no seu dia-a-dia.. Na vida dele, no convívio. P – Ahã.PF4 - Agora no BRASIL tem muita coisa aí que nós já colocamos, que já está praticamente sendo INCORPORADO dessa língua inglesa ao vocabulário português, né, certo? Então, EU penso que ESSE aluno, ele tem que saber eh, TER noções para um

148

melhor desempenho com a população lá fora, com a sociedade, né? Se ele não tiver NOÇÕES, ele JAMAIS, ele vai P - e ele vai utilizar isso aqui no contexto dele,PF4 - no dia-a-dia.P - No dia-a-dia dele? Como, por exemplo?PF4 - Por exemplo, os meninos, lá na, de de 5a a 8a, né, eu trabalho de 5a a 8ª. Então o que que ele ia utilizá: ele vai ao caixa eletrônico, né, ele vai ao supermercado, certo, ele sabe como, se chegá alguém e cumprimentá ele vai sabê respondê. P - Mas isso aí jáPF4 - se ele ouví uma música,P - isso aí não é questão de cultura, isso é questão de conhecimento,PF4 - de conhecimento.P - de vocabulário, de estrutura.PF4 - Isso, ahã.P - Pois é, o que tá me preocupando é a questão da cultura. PF4 - Ah, a questão da cultura.P - É.PF4 - Bom, a cultura, eh, o que eu tentei, tô tentando passá pros meninos lá é o seguinte. A gente vê filme, a respeito de, de países que utilizam em a língua inglesa, sabe? Então, a PARTIR daí cada um vai formando seu conceito, né?P - Através de que, você faz debate? PF4 - Fazemos debate, pesquisa, tem tudo. P - Você faz comparação com a cultura brasileira?PF4 – Isso, isso. Tudo, tudo. P - E qual o objetivo seu então, em introduzir essas questões em sala de aula.PF4 - Melhorar o conhecimento do aluno, né? P - Em termos de que? PF4 - De cultura. Ele vai observar que uma, uma a sociedade INGLESA e a norte americana, e os outros países que trabalham com a língua inglesa, são totalmente, eh, os VALORES são diferentes que no Brasil. P - Então você tá introduzindo isso apenas como um, um extra como um conhecimento?PF4 - Isso, como um conhecimento.P - Há os debates, há reflexões, PF4 - isso, ahã,P – e, em termos de comparação com o Brasil, como é que, como é que fica isso.PF4 - Como que fica? Os meninos vão falar que à medida que nós vamos conversando, eles vão verificando que LÁ provavelmente, né, porque eu nunca viajei pra lá, né, eu pretendo ir, sabe? Mas eles verificam que existem noções di, DIFERENTES, e um convívioDIFERENTE. P - E a comparação é feita em que termos, eh, lá é um país de primeiro mundo,PF4 - isso,P - é melhor, aqui no Brasil nós temos que imitar, como é que é essa,PF4 - Não, praticamente eh, o que eles eh, comentam é o seguinte: que o que vem jogan, sendo jogado pra gente no dia-a-dia, né, muita coisa é imitado de lá, né?P - E eles concordam com essa imitação, acham que isso tá certo?PF4 - Não, muitos concordam, outros não, sabe? Tem aqueles que são favoráveis, e os que não são favoráveis. P - E como é que é a sua postura nessa, nessa questão.

149

PF4 - Vou te falá o seguinte. Eu (+) fico, faço a conciliação. Eu nunca falo pra eles se EU sou favorável a uma coisa ou não. Porque são ELES que tem que tirar a, o contexto de tudo isso. P - Então é uma, uma questão de PF4 - de mediadora.P - De postura reflexivo- crítica. PF4 - isso, a crítica. P – Isso, deixando que eles eh, cheguem a conclusões. PF4 - Na área política eles fazem bastante crítica, depois eles escrevem. Nós temos produções de texto, o livro de poesia que juntou a parte eh, português, inglês, e mais história, né. Eles fizeram vários textos na parte de história e geografia, com reflexão crítica. P - Você utiliza livro texto?PF4 - Tem livro texto, sim. P - E essas questões culturais, elas estão NO livro, ou como é que você traz pra dentro da sala de aula.PF4 - Tem alguns, tem alguns livros, pra algumas séries, que eu acho, que trazem essa diferença, até na parte de alimentação. 8a série traz, (+) sabe? Então até, se não me engano, eu saí de licença agora, a gente ia começar essa unidade, falando aí sobre tipo de alimentação, sabe? O que é bom o que não é, alimentação saudável, o que não é saudável, né? Então quando chega NESSE capítulo, a 8a série eh, tem um, uma parte de culminância. Eles fazem, deixo à VONTADE para eles fazerem, que que eles acham que eh, de acordo com o que eles viram, o que vai ser saudável e o que que não é. Aí cada grupo monta seu sanduíche, sabe? Eu já tenho, eh, o colégio no ano passado fotografou esse trabalho na sala de aula. E pra eles é a MELHOR aula que tem, né? De mostrar o que que eles gostam de comer, o que vai ser saudável, o que não é. Tem uns que vão ao pé da letra, e fazem TODINHO aquele sanduíche que é bem “LIGHT”, né, outros já não gostam, sabe? “Nós gostamos ASSIM”. P – E você acha que tratando destas questões culturais, né, pelo jeito que você está trabalhando de uma maneira a levar o aluno a pensar, refletir, PF4 - claro.P - você acha que isso vai desenvolver o aluno, vai ajudá-lo a ser um cidadão maisPF4 - eu acho que é só por aí. É por aí que a gente começa, né? Porque tem uma 8a série, que eles são PARTIcipantes, cê precisa de ver que gracinha. Eles interessam, eles pesquisam, sabe. Tem alunos que já fazem curso fora, né, então se têm alguma dúvida de algum curso, eles vêm, eu NÃO me oponho a tirar dúvida deles, sabe? Enquanto os outros estão trabalhando lá, eles chegam e perguntam, “pode me aju, auxiliar em tirar essa dúvida?”. Aí eu tiro a dúvida, sabe? Eu acho que NESSE ponto aí eu dou liberdade pra eles. P – Com, com relação aos PCNs. Você acha que os Parâmetros estão dando liberdade ao professor para trabalhar com a questão cultural, e você acha que eh, favorece, enfoca, enfatiza essa questão? PF4 - Facilita. (+) E MUITO.P - Como?PF4 - Porque, de acordo com os PCNs né, você verifica que você vai, não vai cobrar GRAMÁTICA do aluno. Vai cobrar de forma DIFERENCIADA. Agora, LÁ na escola, nós temos a “central de línguas”. Só que nem todos os dias dá pra você levar o aluno pra central. E com 45 alunos quase na sala, não tem como cê trabalhar com a língua inglesa, né, cê tem que dar pinceladas, sabe? Porque o, o exato mesmo, de acordo com o PCN, seria aí uma turma de 15, pra você desenvolver essa linguagem com eles. Aí daria um trabalho

150

MUITO bem feito. Agora, de acordo com o que o governo do estado faz, não tem como, né. Tem que passar assim RAPIdinho as coisas pra desenvolver isso aí. P - À luz dos PCNs, o que que é, para que serve essa abordagem, de aspectos culturais.PF4- De aspectos culturais?P - É.PF4 - Pra melhor conhecimento do aluno, né, ele vai eh, ter eh, facilidade em usar no seu dia-a-dia. (+) É isso aí.P - Aqui no Brasil também?PF4 - Aqui no Brasil também, de acordo com o PCN, sabe? Não sei se eu tenho aqui os ((livros)) da comida ou se eu deixei os alimentos pra menina que vai me substituir, sabe, né, pra você dar uma olhada. Acho que você já conhece, né?P - Já.PF4 - Eu penso assim, que é só através de pesquisa, verificação do emprego no dia-a-dia, que esse aluno vai melhorar, sabe? (+) Agora depende dele, né, e da família. Se a família caso queira enriquecer isso aí, tiver CONDIÇÕES pra que isso seja enriquecido, aí vai pra frente. P - E você acredita que os Parâmetros estão eh, bem de acordo com a realidade, é possível você PF4 - é possível, sabe? É possível. Só que com uma turma de 45 na sala, aí não pega 100% de aproveitamento, né? Porque CADA aluno, ele tá num grau de evolução. Você tem um aluno, que ele já tem uma vivência, outros que já têm menas vivência que aquele. Então se fosse eh, porque é heterogêneo, né, não tem como você colocar uma sala homogênea, não é isso? Eu acho que se eh, houvesse mais liberdade com menos alunos na sala, eu acho que seria mais trabalhado e teria melhor aproveitamento.P - E melhor formação dos alunos.PF4 - isso, dos alunos. Tanto o aspecto cultural como intelectual. P - OK. Obrigada.

7a entrevista:

P – PF5,PF5 – Mhm.P – Eh, nós estamos tratando sobre a questão da cultura. Pra você, o que que é cultura.PF5 – Que que é cultura? Uai, acho que cultura é tê informação a todo tipo de, de NOTÍCIA, né, tanto lado político quanto do lado da literatura. E por aí vai, eu acho.P - E quando você fala em cultura com relação a uma língua estrangeira, né, no caso,PF5 – Ahã,P- como professora de língua estrangeira. O que que é cultura dentro do ensino de língua estrangeira.PF5 - Dentro do ensino de língua estrangeira? Eu acho que cultura é cê conhecê, acho que cada cultura do, dos LUGARES, entendeu, da, como que eu te falo, tipo assim, conhecê, o, os costumes, os costumes de um PAÍS, de outro, de uma região, de outra.P - E você acha que isso é importante, quando você vai ensinar língua?PF5 – Ah! Eu acho.P - Por que?PF5 - Ah, acho que é importante porque, SEI LÁ. Pros alunos terem conhecimento de, de várias outras situações que pode ter, né, igual naP - E como ele vai utilizar isso?

151

PF5 - Igual por exemplo, quando eu dava uma matéria de, igual eu lembro duma lição que eu dei, que eles, que a ESCOLA lá era diferente da escola aqui, sabe? Eles se interessaram por isso. “Ah, se aqui fosse assim”.P – Ahã.PF5 - Entendeu? Sabe que eles, assim, imaginavam lá né, tanto que ia sê BOM, tanto que eles acham que ia sê bom.P - E você acha que é fácil trazer questões da cultura pra dentro duma, questões de outro país, de uma outra civilização, pra dentro da sala de aula?PF5 – Ah! Ê, eu sei, eu acho que não é tã:::o difícil, sabe, mas também não é tã:::o fácil. A gente tem que imaginá:::.P - Como é que você faz?PF5 - Tem que imaginá mu:::ito, né? Eu, eu lia com eles o texto, porque geralmente vem no texto, né? DiscutiaP - o texto do livro didático?PF5 - do livro, isso. A gente discuti::a, e perguntava que que eles achavam. Muitos queriam sê igual, outros,P - e qual a sua atitude com relação a quando os meninos falavam “ai que beleza, podia ser assim”. Como é que você conduzia essa esse questionamento.PF5 - Não, a gente “ah, se fosse assim ia sê BOM , sabe”. Por que que ia sê bom, né? A gente discutia, mas FALAVA, “só que num tem jeito, né gente, porque LÁ é...”P - E todos os momentos, então que você tratava de questões de cultura, dentro da sala de aula, você fazia essa eh, essa comparação,PF5 - lá e aquiP - como é que é lá, como é que é aqui.PF5 – Ahã, sempre.P - E qual era seu objetivo em levar essas questões de cultura pra dentro da sala de aula.PF5 – Ah! Acho que o conhecimento deles, né, conhecimento sai do, do Brasil gual, igual nós tamo aqui, né, sai dum brasileiro pra conhecê outras culturas realmente.P – Ahã. E, bom, a atitude dos, dos seus alunos com relação a essas questões. Eles gostavam?PF5 - Lógico, eles gostavam,P - eles participavam,PF5 - participavam bastante. PERGUNTAVAM, né? Interessavam mesmo.P - E você falou que você leva essas questões, essas questões pra sala de aula, mais como conhecimento dos meninos, né, saber o que está acontecendo, como são, como as outras pessoas vivem. E com relação ao crescimento deles, ao desenvolvimento deles, você acha que ajuda, que eles se desenvolvem?PF5 - eu acho que ajuda sim.P - Como?PF5 - Ah, eu acho que ajuda PORQUE vai ser uma pessoa que vai saber conversar do assunto se algum dia ele tivé alguma DISCUSSÃO, né, tal, sabe conversá, conhece outras, outras culturas de outras regiões. Só.P - Você tem um exemplo? Por exemplo eh, de algum fato que te chamou atenção, que você trabalhou alguma questão cultural em sala de aula que foi, que você sabe que foi bom, que os alunos gostaram, que eles aprenderam alguma coisa.PF5- Então. Essa da escola, comparando a escola.P – Ahã.PF5 - Eu lembro que todo mundo gostou muito. Parece que LÁ ficava, eu não TÔ lembrando agora direito como que era, mas ficava o dia inteiro na escola, mas cê fazia a

152

refeição, cê brincava, cê divertia LÁ DENTRO mesmo, sabe, então tinha hora de descanso, eh, eu acho que essa foi a que MAIS me chamou atenção.P – Ahã. E o que que vai ajudar, né, você falou que ajuda no crescimento e desenvolvimento do próprio aluno. O que que isso vai ajudar no crescimento do aluno.PF5 - No crescimento do aluno, pessoal, acho que despertar o interesse por outras (+)(+)

P– cultu-ras?PF5 - Isso. P – OK. E com relação aos PCNs. A abordagem dos PCNs eh, com relação à cultura.PF5 - Que que é o PCN? Tchô te perguntá ?P - Parâmetros Curriculares Nacionais. Ah! Você foi uma quePF5 - numP - não leu,PF5 - É,P - que não conhece,PF5 - nãoP - os Parâmetros, né? Você nunca leu? Nunca, em nenhuma reunião, na escola não foi comentado?PF5 - De escola, só de escola estadu, eh, particular?P - De qualquer escola.PF5 - Porque eu tive uma reunião uma vez lá no, no Alceu Novais ((outra escola estadual em que ela trabalhava)) que leu uns negócio lá, mas acho que não tem nada a ver de PCN não.P - Ah! Nada dos Parâmetros Curriculares Nacionais?PF5 – Ahã, eh.P - Então você PF5 - eu achoP - não conhece a abordagemPF5- não, não sei. P - dos PCNs.PF5 - Eu não tenho conhecimento. Eu prefiro não falá.P - Você não entende nada?PF5 – Ahã. Porque minha mãe inclusivemente é diretora da escola. Na época, eu perguntei pra ela, né? Só que igual falei: já que eu não sei não vou colocá.P – Ahã.PF5 - Ela explicou tudo, mas, (+) que que adianta eu te falá uma coisa que minha mãe me falou, né? P - Isso, porque a gente está, eu estou fazendo uma pesquisa e eu quero ver a vivência PF5 - pois é.P - do professor mesmo, né? OK então PF5, muito obrigada.

8a entrevista:

P –PF6, então, na sua opinião, o que que você acha que é cultura?PF6 - Ó, cultura, eu acho que é todo tipo de informaÇÃO que a pessoa pode adquirí, que ela possa adquirí, não tem, desde a mais simples, até a mais complexa.

153

P - E com relação ao ensino de língua, quando você fala em cultura no ensino de língua, o que que é cultura nesse (+) ponto de vista.PF6 - Olha, eu acho assim. Eu sempre trabalho com os meninos. Quando a gente vai trabalhá língua, PRINcipalmente a língua portuguesa, é a individualidade de cada um. De ONDE ele vem, e que eh, a culTURA da língua seria o ACRÉSCIMO daquilo que a gente adquire, né? Porque, eh, a língua falada não é a mesma coisa da língua escrita. Que há diferenciação, sabe? É assim que eu trabalho. E eu procuro conscientizá ele, que eles, que a gente fala de uma maneira, mas escreve de outra, e que a LEITURA, ela vem ajudá nesse sentido, porque ela vai ajudá você adquirí eh, conhecimento, você ampliá o seu vocabulário, sabe?P - Agora, vamos colocar isso no ensino de língua inglesa. Porque o que está me interessando é o ensino de PF6 - ahãP - língua inglesa, né? Então a cultura no ensino de língua inglesa.PF6 – E:::::::h, eu falo que, os alunos, eles têm um bloqueio a respeito da língua inglesa. “Professora, mas eu não sei nem o português, como é que eu vou fa, falar no inglês”. E eles num, num assim, eh, a gente procura respondê da seguinte forma, que quando você vai a um supermercado, você vai comprá uma pasta de dente, por exemplo, cê compra um “close up” né? Você vai eh, comprá uma bolacha, você compra um “cream cracker”. Você vai comê um “sanduíche”, você joga um “football”, né, então nesse sentido, pra podê CHEGÁ na cultura da língua inglesa, porque nós SOMOS influenciados pela língua inglesa que é nossa segunda língua. Aí, a imporTÂNCIA de se estudá a língua inglesa na escola, né? P - Isso é a importância de estudar a língua, como falar, a pronúncia, o léxico, e tudo mais. E com relação à cultura da língua inglesa.PF6 - No sentido assim, de trazê a cultura do país pra cá?P - Isso. Apresentar aos alunos em sala de ula.PF6 - Também, né. Eh, hoje até a gente já, já, já assim, já, já até familiarizou o “Halloween”, né, que é uma cultura deles, que a gente também, isso também faz parte hoje da cultura da escola, né, porque todo ano a gente promove a festa. O professor de inglês, né organiza na escola, né, eP - E qual o objetivo disso?PF6 - Olha, eu acho que é ASSOCIÁ a língua, no sentido assim da FALA, aos costumes que as pessoas têm lá, né?P - Você acha que isso é importante pro aluno aprender a língua?PF6 - Eu acho que é um, é::: importante porque DAÍ ele vai vi, vivenciá faço, fatos concretos. Eh, ele vai TÊ algum interesse A MAIS em buscar alguma coisa, né?P - Como que você traz essa questão cultural para dentro da sala de aula?PF6 - Olha, nas datas comemorativas, dia das mães, dia dos pais, né, dia dos namorados, dia do “Halloween”, sabe?P - E você acha que isso vai ajudar no desenvolvimento do aluno como ser humano, como cidadão?PF6 - Olha, eu acho assim eh, na MINHA opinião, COMO cidadão talvez até n, até não, porque aqui nós temos essas datas comemorativas. Mas eu acho que a gente tá trabalhando junto, a cultura do país, e buscando eh, assim, através da cultura, uma forma de auxiliá, eh, no estudo da língua mesmo, né? Então, eh, você junta cultura e junta também a parte do ensino, né?P - E o objetivo disto?PF6 - É CHEGÁ a aprendizagem da língua inglesa. Alguma coisa referente à língua inglesa.

154

P- E o que que você, qual é sua opinião com relação aos PCNs? Os PCNs abordam essa questão da cultura, ou não?PF6 - Olha, eu acho que aborda sim, né? Eh, EU, pra ti dizê a verdade, não tenho assim um conhecimento PROFUNDO, um conhecimento no que se diz respeito à língua inglesa, porque eu, pra ser sincera a você, eu, eu me dedico mais à língua portuguesa, sabe? Mas eu acho que eh, ele, ele, ele procura assim, se nós seguirmos eh, bem assim o, o PCN, é bem em cima disso daí. E trabalhá eh, coisas mais concretas, voltadas pra realidade da pessoa, buscando o dia-a-dia do aluno, tá?P – Ahã. E se os PCNs, (você está dizendo que eles abordam essa questão cultural) qual é o objetivo dos PCNs em dizer que os professores devem abordar questões culturais, devem trabalhar isso em sala de aula? PF6 - Eu acho que até associação, pra ASSOCIÁ, né, pra TRAZÊ uma cultura de lá pra cá. Eu acho que forma eh, como é que eu te explico, a palavra certa tá me fugindo. Eh, uma maneira de facilitá, como eu já te falei antes, tá, pra torná mais, MAIS PRAZEROSO pra eles, e FACILITÁ o trabalho do professor dentro de sala de aula. P - E quando você trabalha com questões culturais, você faz uma comparação com as questões culturais do PF6 - do BrasilP - Brasil?PF6 - Ah, sim. Por exemplo, no caso assim, eh, dia dos namorados: que, que aqui tem, que lá tem. Quais são as coisas em comum, sabe, esse tipo de coisa. Se lá, se dá presente também, aqui também, sabe?P - E qual é a atitude dos alunos com relação a tudo isso?PF6 - OLHA, eles se interessam muito, PRINcipalmente quando a gente faz alguma coisa prática em cima disso daí.P - Por exemplo.PF6 - Tá. Eh, digamos assim, formas de, de textos dialogados, tá, formas de, quando você faz assim, por exemplo, você trabalha a parte cultural, depois você pede pra produzí um cartão, alguma coisa assim, eu acho que o interesse é bem, bem, bem maior do que se eu chegá lá e falá “ó hoje nós vamo fazê isso assim, assim”. Eu acho que eh, o CONHECIMENTO deles eh, vai sê maior. Entendeu? Então eles vão ter mais assim pré-requisitos pra elaborá alguma coisa.P - E a sua atitude com relação à cultura da, do povo de língua inglesa?PF6 – (+) Cê fala como EU, PROFESSORA? P – É. Como que você, eh, você é professora, como que você encara. Você acha que nós deveríamos imitar, que é umaPF6 - não, eu acho que são fatos comuns, assim como nós temos a NOSSA cultura, eles têm a cultura deles. Eu acho que isso daí é uma coisa assim que CADA país tem que tê a sua individualidade e NÃO como forma de imitação, tá? Eu acho que aqui, por exemplo, nós temos a cultura de, de no dia eh, por exemplo de Nossa Senhora d”Aparecida. Nós temos aquela cultura de, de, de tê aquela parte religiosa, né? E lá eu num sei se tem, mas CADA país com sua cultura, tá, e nós temos que respeitá isso, e NÃO imitá, tá?E- OK. Obrigada.

9a entrevista:

P –PF7, o que que você entende por cultura.

155

PF7- Olha, CULTURA, eu acho que são costumes, são os hábitos das, das pessoas que vivem em determinado lugar, né? As informações, a sociedade, tudo o que ENVOLVE relacionamento e hábito, eu acho. P - E você acha que isso é importante no ensino de língua?PF7 - Eu ACHO. Se eu tô ensinando uma língua DIFERENTE, de costumes diferentes e hábitos diferentes, com certeza essas pessoas têm culturas diferentes. Então as pe, as pessoas que tão apren, que estão aprendendo, eu acho que elas têm eh, NÃO só obrigação, mas elas têm CURIOSIDADE em sabê o, como que é o JEITO deles, os HÁBITOS deles, eh, o JEITO deles agir e pensar.P - Nas suas aulas você tem costume de tratar das questões de, de cultura dos países de língua inglesa?PF7 – MAIS AQUI ((a entrevista foi realizada em uma escola especializada no ensino de língua em que ela trabalha)) na escola, porque até nos próprios livros tem mais textos, tem questões que abrangem o assunto.P - Então, mas a gente está lidando com a questão do, do ensino fundamentalPF7 - do ensino fundamental. P - Como é que você faz no ensino fundamental.PF7- Olha, Leila, eu até parei de dar aula lá na EP2, né, porque eu acho até que não TINHA muito a ver com eh, não, a gente realmente NÃO dá aula de inglês em colégio, como em escola ((escola especializada de línguas)) né? Então até parei. QUANDO eu estava lá, ATÉ a gente falava muito que o que mais eles sabem dos Estados Unidos é o “Halloween”, é o que mais desperta interesse nos adolescentes, então a gente falava. Até lá na EP2, é interessante, que tem uma sala que chama “centro de línguas”, que é onde são ministradas as aulas de inglês. E LÁ a gente procurava fazer mural, com bandeiras, com algum a, assunto da cultura americana, né? P – Eh, como é que você traz, leVAVA pra dentro da sala de aula, questões de cultura. Os livros texto tinham algum artigo, ou como é que você fazia isso.PF7 – (+) Com os livros, com os livros, “Open Doors”. Ele geralmente, ele trazia, então a gente discutia sobre.P - E como é que era essa discussão. Tipo uma comparação com o Brasil, aqui, lá, lá é muito bom, aqui não é. Como é que era?PF7 - É, comparando. Geralmente fazendo comparações. SÓ que, cê já deu aula em, em, em colégio assim? É TOTALmente diferente. ENTÃO não é assim ah, nem setenta por cento da turma tá in, tá interessada. Tem muito desinteRESSE por parte dos alunos, então eu, problema de comportamento, então geralmente é muito difícil fazer uma discussão, principalmente porque tem MUITOS alunos em uma sala. Então, por isso que é DIFÍCIL até fazer outro jeito de, de introduzir outras coisas. Então a gente ficava MAIS no livro. Mas com QUEM despertava interesse, geralmente era compara, comparando. P - Ahã. Comparando com que objetivo.PF7- Falar em inglês. Não, não de falar “lá é melhor, aqui é melhor”, mas de de TREINAR mesmo a língua.P- Desenvolvendo uma criticidade no aluno, para ele perceber que eh, aqui é de um jeito, lá é de outro? PF7 - É, porque, tem muito assim: ‘LÁ é tudo bom, e aqui nada, nada é bom, tudo, nada presta’. Mas aí a gente tenta pro, mostrar que também não É assim, que aqui tem coisas boas e que lá tem coisas ruins também. Até quando cê comentou do “Halloween”, né, que agora já não é mais igual né, por causa da criminalidade, a gente já havia COMENTADO isso, que, quer dizer, alguma coisa que já vem de anos e anos, agora já nem tá mais.

156

P – Ahã. E você acredita que através dessas discussões desses aspectos culturais, você tá contribuindo para o desenvolvimento do aluno, pra formação dele como cidadão? O que que você acha com relação a isso?PF7 - Eu acho que a formação dele como cidadão, eu acho assim, muito FORTE, né? Mas EU acho MUITO interessante. Porque não a, não adianta você saber FALAR uma língua e não saber NADA a respeito do POVO que fala essa língua. Então eu acho super importante. Quando, até mudando de assunto, quando a gente foi pro CANADÁ, quando a gente CHEGOU, a minha tia assentou e falou assim: “deixa eu dar um” como que chama aquela aula de sa, sabatina, que ela ia fazer uma provinha. “Vamos falar sobre os canadenses”. Pra gente também saber com quem a gente tá lidando, QUAIS são os costumes deles, as culturas, porque às vezes alguma coisa que pra gente não é nada, pra eles é super importante. Então eu acho MUITO importante. Não adianta você saber falar a língua, e não saber nada sobre essas pessoas. Então eu acho que é assim ATÉ um pouco, sabe, não sei se é “snobbish” demais, porque não tá dando valor, porque se você quer aprender a língua, você TEM que dar valor a isso.P - E com relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais de língua estrangeira. Eles fazem uma abordagem eh, que incentiva essas, o ensino dessas questões culturais, ou não? PF7 – (+) Mhm. (+) Eu não sinto não. Eu acho que não. Por, falando do, do livro o “Open Doors” que eu ensinei na EP2, né? Eu ACHO que, não sei, não traz assim muitas coisas. Mas de um jeito ou de outro, as pessoas TÊM que saber do que que se trata. Porque tem texto, como se um americano viesse aqui e estudasse “saci-pererê”. Se você não falá quem é o saci-pererê, a pessoa não VAI entender o texto, não vai entender do que que se trata. Então eu acho que eles jogam, sabe? Aí cabe ao professor eh, direcioná: ‘Olha, isso aqui é a história de do saci, tal, tal, tal’. Acho que eles jogam. Não, não sei se fazem, fazem muita questão, P - Você, PF7 - porque só deixa jogado.P - você fez referência ao livro. E com relação aos Parâmetros? Os Parâmetros fazem uma abordagem exigindo dos professores, ou mostrando aos professores a importância do ensino da cultura,PF7 - Não.P - ou você acha que não. PF7 - Não. P - Não?PF7 - Não, eu acho que não. Pelo MENOS com o tempo que eu tive, que foi POUCO, né, não tenho assim muita experiência em colégio, mas assim, no meu ponto de vista, não. P - OK. É só isso. Obrigada.

10a entrevista:

P - PF8, nós estamos tratando da questão da cultura no ensino de língua es, de língua estrangeira, no caso, a língua estrangeira, língua inglesa. O que que você entende por cultura?PF8 - Bom, cultura pra nós é TUDO aquilo que o povo tem. Porém, HOJE, no Brasil, a gente tem uma influência grande de culturas diferentes. Em inglês, eu acredito que seja aquilo que o povo tem. Mas, o P - aquilo que o povo tem, em que sentido?

157

PF8 - O que o povo tem, o que o povo traz, desde a formação desse povo, desde que nós fomos descobertos, ou que eles foram descobertos. O povo vem trazendo, eh, são SEGMENTOS que a gente chama de cultura. Então, eh, pra nós, é muito amplo. O americano, ele tem uma cultura EXTREMAMENTE definida. O inglês, ele TEM uma cultura definida. O brasileiro, ele tem eh, um ACÚMULO ((risos)) de cultura. Então eu acredito que seja eh, tudo aquilo que o povo tem e vem adquirindo ao longo do tempo. Vai chegar um ponto LÁ na frente, que hoje, o que nós estamos vivendo, as nossas crianças, quando adultos, eles vão ter grande parte do que nós estamos vivendo, acumulado. Então isso tudo vem, no meu modo de entender, vem acumulando, vem sendo o que eh, pontos A MAIS dentro da cultura de um povo.P - E você acredita que pra se ensinar um língua, é preciso conhecer, pra se aprender uma língua, é preciso conhecer a cultura do povo?PF8 – AhP - Tem alguma coisa a ver?PF8 – Ah, tem. Eu acredito que tem.P - Como? Me dá um exemplo.PF8 – Eh, (+) como que eu te daria um exemplo de, pra gente, pro aluno entender, porque a gente vai ensinar uma língua, cê não ensina a HISTÓRIA daquele lugar. Mas pelo menos PONTOS culturais daqueles lugares, de determinados lugares, por exemplo, como a gente ensina espanhol na escola, a gente ensina inglês na escola, alguns pontos do que aquele povo pensa, costumes eh, PARTE do que esse povo entende, pra entender a língua. Então, o LIVRO MESMO que a gente trabalha, ele traz, ao final de cada unidade, informações culturais daquele lugar. Então pra criança entender porque que o aluno lá, ele almoça na escola, então a gente ensina que eles entram um pouquinho mais tarde, saem um pouquinho mais tarde. Tem países que são gelados! É impossível a criança entrar às sete horas da manhã na escola, e por um sistema deles, também eles entram assim. Então, isso TUDO é costume, eh, o que eles TÊM ali, o que é parte cultural deles, pra a gente compreender mais pra frente a língua. Porque a gente NÃO trabalha só com gramática, a gente NÃO VIVE só de gramática, a gente vive pra ensinar como vive aquele povo, por que algumas palavras inclusive vêm eh, significar algumas coisas.P - Então você acha que o ensino de língua leva a um desenvolvimento do aluno como cidadão?PF8 – Ah, sim. Porque, (+) por que que o americano faz isso, e o brasileiro não faz. Por que que o americano, ele é EXTREMAMENTE educado pra limpeza, e o brasileiro não é. Então a gente tem TODAS as diferenças, a gente vem, e isso VEM colaborar. P - Como é que você trabalha isso. Você faz uma comparação, puxando como é, como são os costumes brasileiros, fazendo uma comparação, ou como é que você trabalha isso.PF8 - A gente trabalha eh, NÃO a nível de comparação, mas a nível de eh, IGUALDADE. Como, como NÓS somos, como NÓS agimos, POR QUE nós agimos assim, de ONDE nós viemos e o que ELES fazem. Então, eh, muitas histórias do livro, da, das atividades que a gente trabalha em sala de aula têm isso. P - Você trabalha só aquilo que tá no livro, porque você mencionou que o livro, no final de cada, ca, de cada unidade tem uma parte, uma informação cultural,PF8 - é, temP - você trabalha só isso que está no livro ouPF8 - não.P - Dá um exemplo de algum trabalho que você tenha feito em sala de aula.PF8 - Por exemplo, eh, (+) a gente tem um convênio inclusive, com o XX ((escola particular especializada em línguas)). O XX fornece vídeos. Eh, são vídeos diferentes. Então a gente traz, ALÉM do livro, a gente traz em vídeo. Ele mistura costumes com

158

música, então, por exemplo, eh, qual o costume do jovem, do adolescente, quais os grupos que ele tem visto, quem é ídolo naquele lugar, eh, grupos de rock, grupos de dança. Então a gente vem INTERCALANDO com vídeo, com livros de histórias, porque gente trabalha com PARADIDÁTICOS, pra que? Pro aluno ver outras coisas, ele ss, sair um pouco do livro. E a gente, ah, o colégio hoje é uma EXTENSÃO do EP2M (M=Matriz em outra cidade, escola de bastente renome). Então o EP2M, ele manda TAMBÉM alguns subsídios pra gente trabalhar. O EP2M, ele tem uma, ele tem uma ligação com a WW ((uma editora multinacional)), então, eh, que tem, existem MATERIAIS que são feitos exatamente pros alunos do EP2M, via WW. Então a gente tem esse convênio também, com o XX, eh, sempre, todas as datas comemorativas, eles mandam cartazes com as explicações, por que o dia das mães, o que que é o dia das mães? Eh, “halloween”, e assim por diante. Então a gente trabalha com MUITO material extra-livro, né como a gente poderia dizer.P - Você falou que você concorda que eh, trabalhar com questões culturais leva a um maior desenvolvimento do aluno como cidadão. COMO isso? Se ele está vendo uma cultura de um outro país, o que que isso vai influenciar nele aqui.PF8 - Ele tá vendo a do OUTRO, ele pode basear no outro e na DELE. Que que eu tô fazendo, como é a MINHA aqui, em relação ao que tá, que a gente tá vendo lá. Então, eh, como, é muita coisa por exemplo,P - Pra que ele falar “como é a minha aqui em relação à outra lá”.PF8 - Porque a gente aqui tem MUITO ((riso)) problema como eles TAMBÉM têm. Então, por exemplo, é lei. Dentro do “centro de línguas”, porque a gente tem um “centro de línguas” na escola. É uma sala onde o aluno vai aprender português, eh, espanhol, inglês, ali é um “centro de línguas”. Geralmente o aluno sai da sala. Quando a criança vai embora da escola, cê pode olhar que tem um MONTE de papel no chão, tem coisa esparramada. ALI, é PROIBIDO. Como eles viram no próprio livro deles, que as crianças são responsáveis pela lim a::::, na Inglaterra as crianças são responsáveis pela limpeza da sua sala de aula. Então, sempre, quando acabou a aula, deu o sinal, todo mundo já passa olhando. Então, por que? Até ano passado, onde a gente não, ano retrasado onde a gente não tinha o centro de línguas, ia embora e a, tem uma servente que limpa. Mas PRA gente, a gente sabe que não é assim. A gente tem que EDUCAR o nosso aluno para que ele não SUJE, não é que ele largue sujo, é que ele não suje. Lixo é no lixo.P - E isso acontece SÓ no centro de línguas? PF8 - Então, eu tô te falando POR MIM. As outras salas estão fazendo o mesmo trabalho. Mas o “centro de línguas” é PROIBIDO tê um papel no chão, porque sou eu que tô ali, entende? Porque nas outras salas, cada professora vai num horário. No centro de línguas eu passo o dia todo, as crianças é que vão até lá.P – Ahã.PF8 - Então ali, acabou a aula, acabou, não tem jeito. TEM que tá limpo. E eles já passam olhando. Aí chega a uma parte no livro que tem lá que as crianças eh, inglesas têm a RESPONSABILIDADE de limpar a sala assim que vão embora. Tem uma parte no livro deles assim. Então, eu, eu mostro muito. Falo “e a nossa sala? Tá limpinha?” “Ah, a nossa tá, AGORA tá”. Então quando eles chegam naquela lição, a sala deles já tá limpinha, já estão habituados a deixar tudo, TUDO limpo. Ao passo que, que você vai num show, cê não tem nem onde pisar a hora que o show acaba ((riso)) de TANTA latinha, copo e papel e etc.. Então a gente tem essa, aqui na escola a gente tá com, TENTANDO colocar na criança o que ela tá vendo, como a gente trabalha, pra que ele entenda os DOIS lados: o que a gente faz, o que é lá, não pra gente MUDÁ o que NÓS somos, mas que eh, tem algum problema, a gente melhorar. Porque, a criança, ela ENTENDE a partir da outra criança. Estes dias mesmo eu tava tentando dá comida pra uma sobrinha. Tentando, tentando, tentando. Chegou uma menininha pequenininha, pegou a mesma comida, a

159

mesma colher, pôs na boca e ela comeu. Então a CRIANÇA, ela entende a criança. A gente tenta passar todo aquilo, todo aquele processo, mas quando ele vê a historinha NO livro, a criança de OUTRO lugar, ele passa a refletir um pouco melhor sobre o que tá acontecendo.P – Ahã. E com relação aos Parâmetros. Qual que você acha que é a abordagem dos Parâmetros Curriculares com relação a essa questão da cultura. O que que os Parâmetros dizem a respeito disso? PF8 – (+) Olha, realmente, TUDO que a gente lê, TUDO que a gente tem visto, tudo que a gente tem alguns comentários dos Parâmetros, a gente tem palestras diversas, realmente a PROPOSTA é RESGATAR, é vim, é vir trazendo o que a gente TEM, e a gente tá guardado. Porque a gente tem guardado dentro da gente. A NOSSA cultura é importante. E os Parâmetros vêm eh, EXIGIR que o professor resgate essa cultura. Então,P - Cultura brasileira ou da língua sendo ensinada?PF8 - De todos os lugares. Por exemplo, eh, hoje a gente não, aqui, Minas Gerais, vamos falar em Minas. A gente pouco vê falar em folclore. A gente pouco trabalha folclore. Então, eh, a partir dos Parâmetros, a EP2 adotou esse material da WW. Por que? Foi feito um estudo EM CIMA dos Parâmetros, foi feito um estudo em cima de livros de editoras diferentes, de material nacional e de material importado também, e chegaram à conclusão de que as nossa crianças eh, pra ENTENDÊ realmente língua inglesa, a partir da proposta dos Parâmetros Curriculares, que é RESGATAR a cultura, a criança entendê por um todo, não só aquele, não só o verbo “to be”, afirmativa e negativa, mas pra ela ENTENDÊ a língua num todo, gente precisaria do quê? Dum mesmo material que é usado aqui, em outros lugares, então adotamos o QUE? Um material britânico vindo da WW. Porque ele tem o americano também. Mas, eh, por uma questão de eh, quantidade, de preferência ((riso)), escolheram o inglês britânico. Que quase não tem diferença, mas algumas coisas aparecem. Então, a partir DISSO, a partir dos PARÂMETROS, esse material foi escolhido. Por que? Pra criança entender num todo, o que que é a língua inglesa. Então o LIVRO ele nem traz separado, por exemplo, o de 1a a 4a série, cor, animal, numeral. Por que? A criança, ela vem CONSTRUINDO frases. Ela vem construindo sentenças, aprendendo a linguagem do dia-a-dia. E é isso que eles estão pedindo. Que a criança entenda num TODO. E- Ok. Obrigada.

160

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor deCatalogação e Classificação/MG

M465c Maxwell Mendes, Leila Janice Como está a questão da cultura no ensino de língua estrangeira

(inglês) frente aos parâmetros curriculares nacionais?/Leila Janice Maxwell Mendes. – Uberlândia, 2002. 160f.

Orientadora: Lilia Maria Eloisa A. de Francis.Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia.

Curso de Mestrado em Lingüística.Inclui bibliografia.1. Língua Inglesa – Estudo e ensino – Teses. I. Francis, Lilia

Maria Eloisa A.. de. II. Universidade de Uberlândia. Curso de Mestrado em Lingüística. III. Título. CDU: 802.0:37 (041.3)