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4º Trimestre de 2015: O COMEÇO DE TODAS AS COISAS – Estudos sobre o livro de Gênesis
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PORTAL ESCOLA DOMINICAL 4º Trimestre de 2015 - CPAD
O COMEÇO DE TODAS AS COISAS – Estudos sobre o livro de Gênesis
Comentários da revista da CPAD: Claudionor de Andrade
LIÇÃO Nº 4 – A QUEDA DA RAÇA HUMANA
O salário do pecado é a morte.
INTRODUÇÃO
- Na sequência dos estudos sobre o livro de Gênesis, estudaremos hoje o capítulo 3.
- O salário do pecado é a morte
I – TENTAÇÃO E QUEDA
- Na sequência dos estudos sobre o livro de Gênesis, estudaremos hoje o capítulo 3, que é, de longe, o
mais triste e trágico capítulo da Bíblia Sagrada, pois há ali a narrativa da queda do ser humano, da entrada
do pecado no mundo.
- Homem e mulher viviam em plena harmonia entre si, com Deus e com a criação terrena. A cada dia,
na viração do dia, ou seja, ao entardecer, muito provavelmente às seis horas da tarde, o Senhor vinha ao
encontro do primeiro casal e o homem tinha um momento de íntima comunhão com o seu Criador, sendo
abençoado e ensinado pelo Senhor.
- Homem e mulher viviam em perfeita comunhão entre si, em total inocência, sendo, verdadeiramente, uma
só unidade, tanto que o texto sagrado diz que estavam nus mas não se envergonhavam, não havendo
qualquer desconfiança ou malícia entre eles.
- Não se sabe ao certo quanto tempo durou esta situação. Devemos lembrar que os dias da criação não
são dias de vinte e quatro horas, como já vimos em lições anteriores, e que, encerrada a criação, iniciou-se
o sétimo dia, mencionado em Gn.2:2,3, dia que perdura até a presente data, pois o sétimo dia da criação
nada mais é que o período em que Deus cessou de criar, apenas mantendo, pelo poder de Sua Palavra, tudo
quanto foi criado (Hb.1:3), manutenção que é feita em parceira com o administrador da criação terrena, que
é o ser humano.
- Sendo assim, não podemos precisar quanto tempo viveu o ser humano na inocência, em plena
comunhão com Deus. Não foi apenas um dia de vinte e quatro horas, como pensam alguns. Foi um período
indeterminado de tempo, que pode muito bem ter durado milhares ou milhões de anos, de modo que não há
qualquer possibilidade de desmentido do texto bíblico por constatações da existência de homens há milhares
de homens, como tem defendido a ciência.
- O fato é que esta situação infelizmente se alterou quando o primeiro casal foi tentado e não resistiu à
tentação, permitindo a entrada do pecado no mundo.
- O capítulo 3 do livro de Gênesis inicia-se apresentando uma personagem, a serpente, dizendo ser ela a
mais astuta alimária do campo que o Senhor Deus tinha feito. Há muita discussão se o texto se refere
literalmente à serpente enquanto animal ou se faz referência a Satanás. Respeitando as opiniões divergentes,
entendemos que esta serpente aqui não se refere ao animal propriamente dito, mas, sim, ao inimigo de
nossas almas, pois, em Ap.12:9 e Ap.20:2, há a perfeita identificação entre “a antiga serpente” e o diabo.
- O diabo era um querubim ungido, ou seja, um anjo que oficiava diante do trono de Deus, consoante
vemos em Ez.28:14, ou seja, um anjo que havia sido separado por Deus para ter uma posição de
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proeminência no mundo espiritual e que teria, inclusive, sido colocado sobre a Terra, no Éden (Ez.28:13),
sendo, muito provavelmente, o ser celestial encarregado do louvor a Deus (Ez.28:13,14).
- No entanto, este ser tão excelente que, como todos os anjos, era um ser moral, sabendo discernir entre o
bem e o mal, sendo dotado de livre-arbítrio, usou mal deste livre-arbítrio e desejou ser maior do que
Deus, rebelou-se contra o Senhor e, deste modo, foi achado em iniquidade e expulso dos céus, levando
consigo um terço dos anjos, que o seguiram (Ez.28:15-18; Is.14:11-15; Ap.12:3,4).
- Tal acontecimento deu-se antes da criação do homem, na eternidade passada, havendo, como já vimos
na lição 2, quem entenda que isto tenha ocorrido no período entre Gn.1:1 e Gn.1:2, a chamada “teoria do
intervalo”. Entretanto, mesmo os que assim não entendem, também situam este episódio antes da criação do
homem, pois, em Gn.3:1, é dito que este ser vem ao encontro da mulher, já como uma criatura degenerada,
iníqua e visando a perdição e destruição do ser humano.
- Sendo um ser angelical, ainda que caído, Satanás é um espírito e, como tal, pode assumir formas
materiais (Cf. II Co.11:14), de modo que não lhe foi difícil assumir a forma de uma serpente e, assim,
iniciar um diálogo com a mulher. Entendem alguns que o diabo “possuiu” o animal serpente e, desta
maneira, começou a dialogar com a mulher, o que é uma interpretação possível. Ter-se-ia, assim, a primeira
“sessão mediúnica” da história da humanidade. Tendo assumido a forma de serpente, tendo “possuído” a
serpente, o fato é que iniciou o diálogo com a mulher.
- Usando de sua astúcia, que é a “habilidade de dissimular e usar artifícios enganadores e, com isso, obter
vantagens às custas de outrem; malícia, treta, artimanha”, como diz o Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, o diabo inicia o diálogo com a mulher, fazendo uma indagação: “Não comereis de toda árvore
do jardim?” (Gn.3:1 “in fine”).
- Vemos aqui, de pronto, duas grandes falhas em que o primeiro casal havia incorrido e que tornou
possível a tentação. Por primeiro, homem e mulher estavam separados, não estavam juntos. Por
motivos que não sabemos, Eva estava sozinha e o Senhor já havia dito que não era bom que o homem
estivesse só (Gn.2:18).
- A solidão é um estado que muito facilita a ação do inimigo e coloca em risco a nossa vida espiritual.
Por isso, o Senhor sempre formou, ao longo da história, o Seu povo, para que, dentro da sociabilidade, o
homem pudesse vencer o pecado e o mal, mantendo uma vida de comunhão com Ele.
- Ao longo da história da humanidade, sempre houve um povo de Deus (linhagem de Sete, comunidade
única pós-diluviana, Israel e Igreja), pois não é possível que, solitários, possamos servir a Deus. Daí porque
a proposta dos chamados “desigrejados”, que tem crescido nestes últimos dias, é, na verdade, uma artimanha
satânica, pois, sozinhos, seremos alvos certos do inimigo e, assim como Eva, haveremos de fracassar
espiritualmente.
- A segunda grande falha observada neste episódio da tentação é a falta da guarda do jardim por
parte do primeiro casal. Satanás conseguiu entrar no jardim e isto é demonstração de que havia ocorrido
uma falha na guarda, tarefa de que estava incumbido o primeiro casal (Cf. Gn.2:15). Houve falta de
vigilância, falta de cuidado por parte do primeiro casal e, deste modo, Satanás pôde entrar no jardim
sorrateiramente.
- Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, em Seu sermão escatológico, dá a chamada “ordem santa”, que
é a vigilância (Mc.13:37). Devemos estar sempre vigilantes, atentos, para não permitir que o diabo possa se
aproximar de nós, pois ele está ao derredor, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8). Ele é uma fera terrível,
destrutiva e não perde oportunidade para nos fazer fracassar espiritualmente. Não devemos ficar com medo,
porquanto, se o inimigo está ao derredor, ao nosso redor está o Senhor (Sl.34:7), de modo que estamos
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protegidos no esconderijo do Altíssimo (Sl.91:1). No entanto, se deixarmos de ser atentos, se dermos lugar
ao diabo, ele comparecerá e nos trará grande prejuízo (Ef.4:27).
- Solitária e tendo negligenciado na vigilância, o primeiro casal permitiu que Satanás adentrasse no
jardim do Éden e viesse iniciar diálogo com a mulher e, usando de toda a sua astúcia, lançou uma
indagação: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?”
- Ora, bem vemos aqui uma das artimanhas do inimigo, que é a distorção da Palavra de Deus. Não é à
toa que o Senhor Jesus disse que a verdade nos liberta (Jo.8:32). Quando efetivamente conhecemos a
Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17), não há como nos enroscarmos nas armadilhas de Satanás, pois
não somos atingidos por suas distorções da Palavra. O diabo inicia o diálogo com a mulher distorcendo o
que Deus havia dito.
- Na abertura do diálogo, aliás, temos o primeiro momento da tentação. Jamais devemos abrir diálogo
com o adversário de nossas almas. Ele é muito astuto, maior do que nós, pois, embora sendo caído, continua
sendo um anjo e, como tal, é maior do que nós (Sl.8:5; Hb.2:7), não sendo, pois, possível que o vençamos
com nossas próprias forças. Assim como um estelionatário, que consegue, com sua “lábia”, enganar suas
vítimas, inevitavelmente, se iniciarmos diálogo com o adversário, seremos, sim, vencidos. Por isso, o
apóstolo Paulo nos adverte de que não podemos ignorar os ardis do inimigo (II Co.2:11).
- A mulher, sozinha e sem vigilância, abre o diálogo com o adversário e responde ao inimigo, certamente
admirada por ver uma serpente falando, dizendo que lhe era permitido comer de toda árvore do jardim, mas
que do fruto da árvore que estava no meio do jardim não lhe era autorizado comer nem tocar para que não
houvesse morte (Gn.3:2,3).
- Aqui devemos observar que a mulher estava realmente sem vigilância, pois era sabedora de que os animais
não falavam. A admiração em ver um animal falando deveria ter provocado na mulher uma atitude de
desconfiança e ela deveria ter ido ao encontro de seu marido ante a inusitada situação. No entanto, a
curiosidade foi maior e este é outro fator que pode nos levar ao fracasso espiritual. Devemos fugir de tudo
que é estranho, de tudo que não se conforma com os parâmetros divinos, não nos aventurando em
circunstâncias que nada mais são do que as “profundezas de Satanás” descritas em Ap.2:24. Há muitos
servos do Senhor que estão a se perder nos dias atuais, participando de “inovações” e supostas experiências
sobrenaturais que nada mais são que vias de entrada para a perdição. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Outrossim, é preciso aqui repudiar ensino totalmente sem respaldo bíblico, segundo o qual, antes da queda,
os animais falavam. Quem isto ensina procura se basear no fato de a serpente ter falado, dizendo que isto era
uma demonstração de que, antes da queda, os animais podiam se comunicar. Isto não passa de fábula, sem
qualquer base escriturística. Somente o homem foi dotado do poder de linguagem racional, tanto que Deus
chamou Adão para dar nome aos animais. A “fala” da serpente era algo novo e inusitado e que deveria ter
despertado estranhamento por parte da mulher e não, curiosidade.
- Notamos, aqui, nesta resposta da mulher como é absolutamente indispensável termos conhecimento da
Palavra de Deus para que não caiamos nas tentações que nos sobrevierem. A mulher não havia prestado
atenção naquilo que Deus havia determinado. A ordem dada por Deus foi para Adão, quando Eva ainda não
tinha sido criada, mas, muito provavelmente, não só Adão mas o próprio Deus haviam repetido tal
ordenança à mulher, de sorte que não havia qualquer justificativa para que a mulher fosse ignorante a
respeito.
- O fato é que a mulher não havia prestado atenção, dado o devido valor ao mandamento divino e
temos aqui mais um fator que leva ao fracasso espiritual: a falta de conhecimento da Palavra, a falta
de valorização da Palavra do Senhor.
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- A mulher, ao responder ao diabo, cometeu dois equívocos. O primeiro, ao identificar erroneamente a
árvore cujo fruto era proibido. Disse ela que não se podia comer do fruto que estava na árvore que ficava
no meio do jardim, mas isto não correspondia ao que Deus havia dito. Deus havia proibido comer da árvore
da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17), mas a mulher havia identificado como fruto proibido o fruto da
árvore da vida, pois era esta a árvore que ficava no meio do jardim (Gn.2:9).
- O segundo equívoco foi acrescentar algo que o Senhor não havia dito, qual seja, dizer que proibido
tocar no fruto da árvore. O Senhor havia tão somente proibido comer do fruto (Gn.2:16,17), mas nada havia
dito com relação ao toque, havendo, aqui, portanto, um indevido acréscimo à Palavra de Deus.
- O desconhecimento da Palavra faz com que sejamos presa fácil do inimigo. Satanás logo percebeu
que a mulher não tinha prestado atenção ao dito do Senhor e prosseguiu sua tentação, lançando a
mulher no campo da dúvida, afirmando que não haveria morte, mas, sim, uma “evolução espiritual” no dia
em que se comesse do fruto da árvore, já que se seria “igual a Deus”, “sabendo o bem e o mal”.
- Temos aqui uma mentira de Satanás, algo que lhe é próprio, pois ele é o pai da mentira e quando
mente apenas reflete a sua natureza (Jo.8:44). Satanás procurou despertar na mulher o mesmo sentimento
que o levou à queda, ou seja, o desejo de independência em relação a Deus, a soberba, a autossuficiência
(Is.14:13,14). Satanás continua levando milhares e milhares de seres humanos ao fracasso espiritual,
fazendo-os crer que podem viver sem Deus, que podem ser independentes de Deus, que podem ser “iguais a
Deus”.
- Esta mesma mentira satânica tem sido o cerne de tudo quanto se propaga e se difunde neste mundo sem
Deus e sem salvação. Em nossos dias, não é diferente. Não faltam aqueles que dizem que Deus não existe
(ateísmo); que não devemos levar Deus em conta durante nossa existência (ateísmo prático, deísmo); que
afirmam sermos nós “pequenos deuses” (Nova Era); que dizem depender única e exclusivamente de nós a
“evolução espiritual” (espiritismo, hinduísmo, xintoísmo); que põem o homem numa posição superior a
Deus, fazendo-O mero “serviçal” (teologia da prosperidade, teologia da confissão positiva).
- A mulher, que estava solitária, que não havia vigiado, bem como que não havia prestado atenção ao
mandamento divino, deixa-se deduzir pela mentira satânica e passa a não mais crer no dito do
Senhor. Temos, então, aqui, a falta de fé, a falta de confiança em Deus, a incredulidade, que outra
importante arma que o inimigo lança para que fracassemos espiritualmente. A incredulidade é o dardo
inflamado do maligno que atinge e fere mortalmente a nossa alma, quando abrimos a guarda e deixamos de
usar o “escudo da fé” (Ef.6:16).
- Totalmente vulnerável ao inimigo, a mulher acabou sendo levada pelas circunstâncias e fez nascer a
concupiscência em si, o que é mais um passo no processo da tentação (Tg.1:14). Assim, diz o texto sagrado,
que a mulher viu aquela árvore como boa para se comer, o que caracteriza a concupiscência da carne; viu
aquela árvore como agradável aos olhos, o que caracteriza a concupiscência dos olhos e, por fim, viu aquela
árvore para desejável para dar entendimento, o que caracteriza a soberba da vida.
- Estas três concupiscências — a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida —
são precisamente os elementos existentes no mundo, que é dominado pelo maligno (I Jo.2:16) e que foram
apreendidos pela mente da mulher, que se deixou induzir pelo inimigo de nossas almas, sendo enganada por
ele (II Co.11:13; Tm.2:14). A mulher demonstrava, então, como já havia se corrompido por deixar de dar
crédito à Palavra de Deus, por ter dado lugar ao diabo.
- Uma vez atraída e engodada pela própria concupiscência, permitiu que tal concupiscência
concebesse e desse à luz ao pecado (Tg.1:15) e, por causa disso, pecou, tomando do fruto e dele comendo
(Gn.3:6).
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- Mas o efeito multiplicador do pecado logo se fez sentir. Assim que corrompida e tendo pecado, a
mulher, também, se torna tentadora e leva o seu marido a também pecar, oferecendo-lhe o fruto
proibido e Adão, conscientemente, também come do fruto proibido, pecando igualmente.
- Muito se discute porque Adão comeu do fruto, não tendo sido alvo de qualquer engano por parte do
inimigo, como, aliás, atesta I Tm.2:14. São conjecturas que não nos permitem chegar à qualquer conclusão,
ante o silêncio das Escrituras. O fato é que Adão, sabendo que sua mulher havia ingerido o fruto proibido,
também quis fazê-lo, desconsiderando o mandamento divino.
- Imediatamente após o pecado, as Escrituras afirmam que ambos tiveram abertos seus olhos e
perceberam que estavam nus. Havia cessado a harmonia que havia entre os integrantes do primeiro
casal e, por conta disso, surgiu a noção de pudor, que revela já a corrupção do gênero humano, o surgimento
da natureza pecaminosa no homem, como bem afirmou o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, que
dissertou a respeito nos seus estudos sobre a chamada “teologia do corpo” em consideração que, por sua
biblicidade, vale a pena transcrever: “…«Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam
nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturões, à volta dos
seus rins» (Gn.3:6). Esta é a primeira frase da narrativa (…), que se refere à «situação» do homem depois do
pecado e mostra o novo estado da natureza humana. Não sugere acaso esta frase o início da
«concupiscência» no coração do homem? Para dar resposta mais profunda a tal pergunta, não podemos
deter-nos nessa primeira frase mas é necessário ler o texto completo. Todavia, vale agora a pena recordar o
que, nas primeiras análises, foi dito sobre o tema da vergonha como experiência «do limite» (…). O Livro
do Gênesis refere-se a esta experiência para demonstrar o «confim» existente entre o estado de inocência
original (cfr. em especial Gn.2:25, ao qual dedicamos muita atenção nas precedentes análises) e o estado de
pecaminosidade do homem logo no «princípio». Enquanto Gn.2:25 insiste em que «estavam nus... mas não
sentiam vergonha», Gn.3:6 fala explicitamente do nascimento da vergonha em relação com o pecado. Essa
vergonha é quase a primeira origem de se manifestar no homem — em ambos, varão e mulher — aquilo que
«não vem do Pai, mas do mundo».” (Teologia do corpo: catequeses proferidas entre 5 de setembro de 1979 a
28 de novembro de 1984. Disponível em: https://igrejamilitante.files.wordpress.com/2014/11/catequeses-
teologia-do-corpo-joc3a3o-paulo-ii-1979-a-1984.pdf Acesso em 24 ago. 2015, p. 72).
- Prossegue João Paulo II: “…Já falamos da vergonha que surgiu no coração do primeiro homem, varão e
mulher, ao mesmo tempo que o pecado. A primeira frase da narrativa bíblica a este respeito soa assim:
«Então abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às
outras e colocaram-nas como se fossem cinturões» (Gn.3:7). Esta passagem, que fala da vergonha recíproca
do homem e da mulher como sintoma da queda (status naturae lapsae), deve ser considerada no seu
contexto. A vergonha naquele momento toca o grau mais profundo e parece transtornar os fundamentos
mesmos da existência de ambos. «Nessa altura, aperceberam-se de que o Senhor Deus percorria o jardim
pela suavidade do entardecer, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o
arvoredo do jardim» (Gn.3:8). A necessidade de se esconderem indica que no profundo da vergonha sentida
um pelo outro, como fruto imediato da árvore do conhecimento do bem e do mal se produziu um sentimento
de medo diante de Deus: medo precedentemente desconhecido…” (op.cit., p.73).
- Pelo que se verifica, portanto, tem-se que passou a existir uma malícia entre o homem e a mulher, não
havia mais aquela harmonia primitiva, e, por causa desta malícia, deste estranhamento entre homem e
mulher, resolveram eles coser folhas de figueira, fazendo para si aventais. Havia-se perdido a inocência e
nascido a concupiscência, a natureza pecaminosa do ser humano.
- Esta mesma situação, que separou homem da mulher, que passaram a se estranhar, também se
revelou uma separação com Deus, pois, quando o Senhor, como sempre fazia na viração do dia,
apresentou-Se no jardim para falar com o homem, o primeiro casal procurou se esconder, pois havia perdido
a comunhão com o seu Criador em virtude do pecado, que faz separação entre Deus e o homem (Is.59:2).
Estava demonstrada a ocorrência da morte de que falara o Senhor quando dera o mandamento divino, pois
morte nada mais é que separação.
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- O Senhor, então, dá a Adão a oportunidade de se defender, indagando onde ele estava (Gn.3:9). É
evidente que, por ser onisciente, Deus sabia perfeitamente onde Adão se encontrava, mas deu a oportunidade
real para que Adão se manifestasse e, quem sabe, pedisse perdão pelo ocorrido. Aliás, é aqui que os juristas
enxergam o caráter sagrado do direito de defesa, que se inicia com a chamada “citação”, ou seja, o
chamamento do réu ao processo.
- Adão, então, se apresentou e justificou ter se escondido por se achar nu (Gn.3:10). Esta nudez era
muito mais do que a simples nudez física, que percebera por ter comido o fruto proibido, mas, sim, era a
própria nudez espiritual, pois, com o cometimento do pecado, o homem havia perdido as suas vestes
espirituais, o manto de justiça (Is.61:10), tornando-se espiritualmente nu (II Co.5:3; Ap.3:17; 16:15).
- O Senhor, então, diante desta afirmação, que só demonstrava a soberba do homem que, em vez de
confessar seu pecado, quis justificar seu ato, como que dizendo que havia cometido o ato de comer do fruto
proibido e não ter, de modo algum, cometido qualquer transgressão, confronta com o homem, perguntando a
ele se havia comido do fruto proibido (Gn.3:11).
- Ante tal indagação, o homem revela mais uma faceta de sua corrupção. Passa a incriminar a mulher e,
indiretamente, o próprio Deus pela sua falta. Adão disse que a mulher que o Senhor lhe havia dado era a
responsável por ter ele comido do fruto. Temos aqui a demonstração da morte moral, ou seja, o homem, em
vez de assumir a sua culpa, procura terceirizá-la, revelando, assim, total falta de amor ao próximo e
incapacidade de assumir seu erro. Houve aqui tentativa de encobrimento da transgressão ( Cf. Jó 31:33) e,
por isso, não pôde Adão desfrutar da misericórdia divina (Pv.28:13).
- Tem-se, pois, com esta atitude, a demonstração clara de que o diabo mentira ao dizer que eles seriam
como Deus, sabendo o bem e o mal. O primeiro casal já sabia o que era o bem e o que era o mal desde
o momento em que o Senhor lhes dissera que não podiam comer do fruto proibido. Eles tão somente
não haviam experimentado o mal, e, ao fazê-lo, tornaram-se escravos do pecado, pois quem comete
pecado se torna escravo do pecado (Jo.8:34).
- Como poderia o homem ter-se tornado “como Deus” se não manifestava amor ao próximo, buscando
culpar sua companheira? Onde estava a benignidade que caracteriza o próprio Deus? (Sl.145:8). Como
poderia o homem “saber o bem e o mal”, se insistia em negar o erro cometido e buscasse alguém para
culpar, revelando total cegueira no que concerne à moralidade, algo que jamais ocorre em Deus, que não tem
o culpado por inocente nem vice-versa (Gn.18:23-27; Na.1:3)?
- Ante tal afirmativa, o Senhor Se dirige à mulher, a demonstrar, pois, que a responsabilidade diante de Deus
é individual, motivo por que homem e mulher, ainda que formando uma só carne, eram individualmente
responsáveis diante do Senhor, o que nos mostra que o casamento é uma realidade terrena que não traz
qualquer consequência no tocante ao relacionamento que cada ser humano deve ter diante do Senhor quanto
à eternidade.
- A mulher, demonstrando ter igualmente se corrompido com o pecado, corrupção até maior do que a
homem, pois de corrompida passara também a corruptora, teve a mesma reação do seu marido.
Buscou terceirizar a culpa, imputando-a à serpente, dizendo ter sido enganada por ela.
- Esta mesma reação do primeiro casal é a observada ainda em nossos dias por todo ser humano.
Escravizado pelo pecado, atraído e engodado pela sua própria concupiscência, o homem não admite sua
culpa diante de Deus, preferindo culpar os outros pelas suas falhas, preferindo culpar o diabo pelos seus
deslizes. Por isso, não é surpresa alguma que, ainda em nossos dias, surjam múltiplas teorias filosóficas que
tentem retirar do homem qualquer culpa, tais como a negativa da existência de pecado, a busca da
responsabilidade da sociedade pela prática de crimes e tantas outras coisas similares.
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- É importante asseverar que a Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por um homem (Rm.5:12; I
Co.15:21), de sorte que não podemos dizer que o pecado é culpa do homem ou da mulher, pois ambos foram
igualmente culpados por isso. Quando se fala em “homem”, está a se falar de “ser humano”, tanto do
homem quanto da mulher, porque ambos transgrediram o mandamento divino. Ademais, quando a Bíblia
fala da transgressão de “Adão” (Os.6:7; Rm.5:14), está se referindo tanto ao homem quanto à mulher, pois a
mulher somente é chamada de “Eva” após a queda (Gn.3:20), de modo que tudo parece indicar que “Adão”
é expressão que designa tanto o homem quanto a mulher até a queda.
- Homem e mulher admitiram ter descumprido o mandamento divino, embora não assumissem sua culpa
diante de Deus e o Senhor, então, que é justiça (Gn.18:27; Sl.119:137; Ap.16:5; Jr.23:6), teve, então, de
impor o juízo a todos quantos estavam envolvidos neste triste episódio.
II - AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA: O JUÍZO QUE PÕE FIM À DISPENSAÇÃO DA INOCÊNCIA
- Após ter dado o legítimo e sagrado direito de defesa ao primeiro casal e comprovado, aos olhos do homem
e da mulher, que eles haviam transgredido o mandamento divino, o Senhor passa, então, a lançar o juízo
sobre o primeiro casal, a aplicar a devida justiça, justiça que não é divorciada da misericórdia divina, como
haveremos de observar.
- O primeiro alvo do juízo é para a serpente, que, como sabemos, é Satanás. É interessante observar que
Deus não deu oportunidade para que o diabo se manifestasse, pois ele já havia sido julgado e condenado por
conta de sua transgressão e rebelião na eternidade passada (Jo.16:11). Não tem, portanto, qualquer
cabimento a afirmativa de alguns hereges, de que o diabo será um dia perdoado por Deus, pois seu
julgamento já foi realizado e, portanto, como Deus não muda (Ml.3:6), não há mais qualquer oportunidade
de redenção seja dos diabos, seja dos seus anjos, que estão a esperar tão somente a execução, com seu
lançamento no lago de fogo e enxofre, que para eles mesmos foi preparado (Mt.25:41; Ap.20:10).
- O Senhor dirigiu-Se à serpente e amaldiçoou o animal que havia sido “possuído” ou cuja forma o
adversário havia tomado, fazendo com que ele passasse a rastejar, não tendo mais patas, comendo pó
todos os dias da sua vida(Gn.3:14). Mas, por que Deus amaldiçoa este animal, que, por ser despido de
moralidade, não teria culpa alguma? Para que ficasse um sinal visível e inescusável na criação para
lembrança do homem de que ele havia perdido a comunhão com Deus. Era uma “marca” que se deixava na
natureza para que o homem nunca se esquecesse de que, por meio da serpente, havia sido enganado pelo
diabo.
- A maldição que caiu sobre a serpente, também, serviu para demonstrar a perda da harmonia que
havia entre o homem e a criação terrena sobre a qual deveria dominar, estabelecendo-se uma
concorrência até então inexistente entre o ser humano e a natureza.
- É oportuno apontar que a ciência tem confirmado que a morfologia das serpentes comprova de que elas
possuíram membros outrora, circunstância que se atribui a uma “evolução”, mas que, na verdade, fica
sobejamente explicado pela passagem bíblica ora em comento.
- Mas, ao lado deste sinal visível da natureza, que serviria de lembrança para o homem, o Senhor,
também, fez a promessa de que a inimizade que o diabo conseguira construir entre Deus e o homem
seria debelada por um homem, chamado aqui de “semente da mulher” (Gn.3:15). Temos aqui o
“protoevangelho”, ou seja, a primeira vez em que é anunciada a boa nova da salvação, a notícia de que Deus
haveria de restabelecer a comunhão entre Ele e Deus.
- O Senhor, diante do primeiro casal, aponta que surgiria a “semente da mulher”, que desfaria a obra
produzida pelo diabo, qual seja, a corrupção do gênero humano, que permitira a entrada do pecado no
mundo físico, pecado este que só existia, até então, na esfera espiritual, por causa da queda de Satanás e seus
anjos.
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- Esta “semente da mulher” é apontada pelo Senhor como alguém que estava muito próximo a Ele
(verifique que é identificada pelo pronome “esta”, pronome demonstrativo que indica proximidade com a
pessoa que fala), o que nos mostra tratar-se de uma das Pessoas Divinas, o Verbo de Deus que Se faria carne
e habitaria entre nós cheio de graça e de verdade (Jo.1:14), Aquele que viria ao mundo para desfazer as
obras do diabo (I Jo.3:8).
- Tal redenção se faria mediante duas ocorrências: por primeiro, haveria a vitória da “semente da
mulher”, que desfaria tudo quanto havia sido feito pela serpente (“esta te ferirá a cabeça”), mas não
sem que houvesse um preço a ser pago por esta mesma “semente” (“tu lhe ferirás o calcanhar”). Desde
o primeiro instante da revelação do plano da salvação do homem, é dito que isto não se daria sem um preço
a ser pago, que foi a morte de Jesus na cruz do Calvário, o derramamento do Seu precioso sangue (I
Pe.1:18,19).
- Revela-se, aqui, então, ao lado da justiça, a misericórdia divina. Ao mesmo tempo em que lança novo
juízo sobre o diabo, o Senhor revela a Sua misericórdia para com o homem, mostrando ao inimigo de que,
ao contrário do que acontecera com ele, a queda do homem não era definitiva e irreversível, mas, sim,
passível de reversão, passível de perdão.
- Não estaria o Senhor sendo injusto, já que permitia o arrependimento ao homem e não ao diabo? De modo
algum! O diabo e seus anjos viviam na dimensão eterna, tinham pleno acesso à glória divina e, por
habitarem a eternidade, somente poderiam fazer uso do livre-arbítrio uma única vez. Na eternidade, não há
possibilidade de alteração de decisão. O homem, no entanto, estava na dimensão terrena, habitava o jardim
do Éden, que fica na Terra, e sua existência eterna dependia do acesso à árvore da vida. Portanto, enquanto
não passasse para a dimensão eterna, poderia, sim, alterar a sua decisão no que concerne ao seu
relacionamento com Deus e, por causa disso, havia a possibilidade de se arrepender e de se converter. Para
situações distintas, soluções igualmente distintas.
- O Senhor, então, faz mostrar a Satanás que, ao contrário do que ele havia pensado, sua ação não
representara nenhum malogro no plano divino mas, pelo contrário, era mais um fracasso da parte do
adversário que, pensando ter dado à humanidade o seu mesmo triste fim, haveria de contemplar a redenção
do ser humano por meio da “semente da mulher”.
- Depois de Se dirigir à serpente, o Senhor, então, Se dirige à mulher, que fora o pivô da queda da
humanidade. O Senhor diz à mulher que seria multiplicada grandemente a sua dor e a sua conceição, e teria
filhos com dor, sendo que o seu desejo seria para o seu marido e ele o dominaria (Gn.3:16).
- Temos, pois, um tríplice juízo. Por primeiro, a mulher passaria a ter grande multiplicação de dor. Já
tivemos ocasião de, na lição anterior, observar que a mulher foi feita um ser muito mais sensível que o
homem. Em virtude do desordenamento provocado pelo pecado, esta sensibilidade se traduziria em maior
sofrimento. Esta multiplicação da dor não diz respeito apenas à dor física, mas, também, às dores
emocionais, ao sofrimento. Por ter mais aguçada sensibilidade, a mulher sofre mais que o homem, o que é
terrível num mundo onde temos aflições (Jo.16:33).
- Por segundo, a mulher passaria a ter dores quando tivesse filhos. Sua conceição seria dolorida e vemos
aqui todo o sofrimento físico e emocional que acompanha a mulher seja quando de sua menstruação, seja
quando de sua gravidez e parto. Todas as alterações físicas e psicológicas que decorrem da preparação do
corpo da mulher para a reprodução são consequências diretas do juízo decorrente da entrada do pecado no
mundo. A maternidade, que é o momento mais sublime da mulher, a sua completa realização, seria
acompanhada de sofrimento.
- Alguns procuram ver nesta passagem uma demonstração bíblica de que homem e mulher tiveram filhos no
jardim do Éden, o que se confirmaria pelo fato de que passaram ali um período indeterminado de tempo e,
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ante a ordem da procriação, não haveria como eles, em plena comunhão com Deus, não terem cumprido o
mandamento divino.
- Trata-se, sem dúvida, de uma interpretação razoável do texto, mas é questão que não se soluciona, de modo
que devemos deixar em aberto a mesma, já que também razoável a opinião divergente de que não tinham
tido eles filhos ainda à época da queda.
- O que se deve evitar, porém, por não haver qualquer respaldo bíblico é de que estariam eles impedidos de
manter relacionamento sexual, por ser tal pecaminoso, como defendem alguns hereges, como os adeptos do
já falecido Reverendo Moon, já que Deus ordenara a procriação, que se daria, necessariamente, pelo
relacionamento íntimo do primeiro casal.
- Por terceiro, a mulher sofreria uma inferioridade social em relação ao homem. O seu desejo seria para
o seu marido e ele dominaria sobre ela. Por ter sido corruptora de seu marido, a mulher sofreria, doravante,
uma inferioridade social. O homem passaria a dominar sobre a mulher, domínio este que não é decorrência
da natureza, mas consequência do pecado. Deus criara homem e mulher iguais, tanto que esta foi tirada da
costela daquele, do seu lado, mas, em virtude do papel que tivera de corromper o homem e introduzi-lo,
também, no pecado, a mulher passaria a ser inferiorizada pelo homem, uma situação injusta mas que
perduraria até a redenção a ser operada pela “semente da mulher”.
- Não é por outro motivo que, na história da humanidade, mesmo em tempos de “feminismo”, a mulher
sempre tem mantido uma posição de inferioridade social em relação ao homem, circunstâncias que nem
mesmo o “movimento feminista” ou a propalada “emancipação da mulher” pôde reverter, mas, bem ao
contrário, mais do que agravou. Com efeito, se a mulher está hoje, notadamente no mundo ocidental, no
mercado de trabalho, como deixar de considerar que hoje sãs as mulheres as maiores vítimas do tráfico de
pessoas, que supera, e muito, o tráfico de escravos negros? Como deixar de considerar que as mulheres, em
todos os países e em todas as funções, ganham menos do que os homens? Como deixar de considerar que as
mulheres são tratadas como meras mercadorias e objeto sexual pelos homens?
- Dirige-Se, então, o Senhor ao homem e a ele é dito que, por causa dele, a terra seria amaldiçoada e
com dor dela comeria todos os dias da sua vida (Gn.3:17). Tem-se aqui mais uma confirmação a respeito
da maldição da criação terrena por causa do homem, que já se delineara com a maldição da serpente. Por ser
o mordomo da criação terrena, o erro do homem afetou toda a Terra. A natureza passou a ser hostil em
relação a seu mordomo, estabelecendo-se uma concorrência entre o homem e ela. Para que pudesse
sobreviver, o homem teria de se voltar contra a natureza e a própria natureza deixaria de estar submissa ao
homem, desafiando-lhe.
- Deus fez com que a terra produzisse espinhos e cardos, ou seja, haveria espécies que não trariam qualquer
benefício ao homem, mas, antes, atrapalhariam o penoso trabalho que o homem deveria, doravante,
empreender para poder sobreviver sobre a face da Terra. Há aqui uma mudança de finalidade e de objetivos
em espécies criadas, que, modificadas pelo Senhor, deixaram de contribuir para o bem-estar do homem, mas
haveriam de criar obstáculos para que ele conseguisse sobreviver. Não é o que vemos em todos os seres que
são nocivos ao homem, que lhe causam doenças e enfermidades, como também prejudicam os alimentos que
cultiva?
- Por causa desta maldição, o equilíbrio que existia entre o homem e a natureza foi rompido e o
homem, sob o domínio do pecado, acabou por agir na natureza visando a satisfação de sua
concupiscência e aí temos o início dos sucessivos ataques humanos contra o meio-ambiente que, em nossos
dias, atingiu níveis tais que comprometem a própria existência da vida em nosso planeta, a degradação
ambiental que se tem procurado diminuir e reverter sem grandes progressos até o momento.
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- Manteve o Senhor a dieta vegetariana do homem, dizendo que ele deveria comer da erva do campo
(Gn.3:18b), mas, também, alterou a qualidade do trabalho, tornando-o penoso e necessário para a
sobrevivência.
- Vemos aqui, então, que o pecado distorceu a imagem e semelhança de Deus. Se o trabalho era prazeroso
e dignificava o homem, agora, com o pecado, passou a ser penoso e necessário para a sobrevivência. O
trabalho agora não representava apenas uma imagem e semelhança de Deus, uma demonstração de
criatividade, uma cooperação na sustentação da criação terrena, mas passou a ser uma necessidade para
sobreviver. Se o homem não trabalhasse, não poderia comer, não poderia sobreviver (Cf. II Ts.3:10). O
homem passou, então, a empreender uma luta contra a natureza para poder se manter vivo.
- Esta luta, porém, seria inglória, pois o Senhor também decretou ao ser humano como consequência
do pecado a “morte física”, ou seja, a separação do corpo do homem interior (alma e espírito). O Senhor
disse que, como o homem era pó da terra, teria de voltar à terra. Não mais haveria a manutenção do corpo
em constante regeneração como ocorria até então. O corpo haveria de se corromper, e, apesar de toda a luta
contra a natureza para a sobrevivência, chegaria o instante em que o homem voltaria ao pó da terra, seu
corpo se desfaria.
- Deus, então, estabelece um limite para a peregrinação do homem sobre a face da Terra, um tempo para que
pudesse se arrepender e, mediante a ação da “semente da mulher”, retornasse à comunhão com Ele. Este
tempo se iniciou para Adão a partir da queda, e foi de 930 anos (Gn.5:5), que é o tempo de vida de Adão,
APÓS a queda. E, desde então, está determinado aos homens morrer uma só vez, vindo depois o juízo
(Hb.9:27).
- Tem-se aqui um juízo estabelecido por Deus aos homens por causa do pecado, algo que não é próprio da
natureza humana, mas consequência da transgressão ao mandamento divino e, por isso mesmo, algo que
pode ser excepcionado por Deus, sem que isto represente qualquer acepção de pessoas, pois o homem não
foi feito para morrer fisicamente. Por isso, o Senhor, sem deixar de ser justo e imparcial, livrou da morte a
Enoque (Gn.5:24; Hb.11:5) e a Elias (II Rs.2:11) e o fará com os integrantes da Igreja que estiverem vivos
no dia do arrebatamento (I Co.15:51; I Ts.4:17).
- Depois deste juízo, é dito que Adão chamou à sua mulher pelo nome de “Eva”, que significa “mãe da
vida” (Gn.3:20). Esta atitude de Adão consubstanciava a perda da unidade do homem com a mulher e destes
com Deus, porquanto agora não podiam ambos ser chamados do mesmo nome, sendo, então, dado um outro
nome à mulher. Era a consolidação da perda da igualdade , harmonia e comunhão entre homem e mulher, o
que somente seria restabelecido por Jesus Cristo, que restaurou a dignidade da mulher.
- Mas a aplicação dos juízos divinos não veio divorciada da misericórdia. Além da promessa da
redenção por meio da “semente da mulher”, o Senhor providenciou túnicas de peles para o primeiro
casal para vesti-los (Gn.3:21).
- Este gesto divino apresenta-nos importantíssimas lições. A primeira é a de que o homem nada pode
fazer para remediar o seu estado pecaminoso. A única coisa que o homem havia feito para “dar um jeito”
na sua situação após o pecado fora coser folhas de figueira para lhe servir de aventais, o que era totalmente
inapropriado. Deus substitui estes aventais por túnicas de peles. O homem nada pode fazer para se salvar,
para superar a situação exsurgida com a prática do pecado, a não ser confessar e pedir perdão ao Senhor.
- A segunda lição é a de que o pecado gera a morte. Para que houvesse vestimentas dignas desse nome, o
Senhor teve que matar um animal para que dele se fizessem túnicas de pele. Não é dito que animal tenha
sido este, mas a tradição judaica e a maior parte dos estudiosos das Escrituras entende que este animal tenha
sido um cordeiro.
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- A terceira lição é a de que a solução para o pecado dependia do derramamento de sangue. Como diz
o escritor aos hebreus: “…sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb.9:22b). O sangue representa
a vida (Gn.9:4) e, com este gesto, o Senhor já deixa claro que o preço a ser pago pela salvação da
humanidade, pela sua redenção, pelo restabelecimento da comunhão com Deus seria o preço de sangue, seria
uma vida humana, a vida da “semente da mulher”. Inicia-se aqui o que se costuma dizer do “rastro de
sangue da Bíblia”, que vai até o derramamento do sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, na cruz do
Calvário.
- A quarta lição é a de que somente Deus pode dar fim à nudez espiritual do homem. Aquelas túnicas
de pele, embora fossem vestimentas físicas, simbolizavam a necessidade de haver novas vestes espirituais
para o homem que se encontrava nu. Estas vestes, que são as vestes de salvação, somente poderiam ser
fornecidas por Deus (Is.61:10; Cl.3:10; Ap.3:5,18; 7:13,14; 16:15).
- Em mais uma demonstração de misericórdia, o Senhor impediu o acesso do primeiro casal à árvore
da vida, expulsou ambos do jardim do Éden, pondo querubins ao oriente do jardim e uma espada
inflamada que andava ao redor para guardar o caminho da árvore da vida (Gn.3:22-24).
- Como podemos dizer que a expulsão do casal do jardim do Éden e a proibição de acesso à árvore da vida
seja uma demonstração de misericórdia de Deus e não um juízo? O acesso à árvore da vida representaria
para o homem a irreversibilidade de sua condição pecaminosa. Caso tivesse acesso à árvore da vida, o
homem, agora em pecado, jamais poderia se arrepender e tornar a ter comunhão com Deus. Deus queria
manter a oportunidade de arrependimento para o homem e, portanto, impediu o primeiro casal de ter
novamente acesso à árvore da vida, a fim de que, no tempo que ainda tivesse de vida, pudesse confessar e
deixar o pecado e alcançar a salvação pela fé na vinda da “semente da mulher” cuja vinda havia sido
solenemente prometida.
- Por isso, o Senhor destaca querubins, os anjos do mesmo “status” do adversário, que estavam diante da
glória de Deus, para esta função, bem assim uma “espada inflamada” que andava ao redor. Estes dois
elementos demonstraram a separação havida entre Deus e o homem por causa do pecado e a impossibilidade
de o homem, por si só, ter acesso ao Senhor e à comunhão eterna com Ele.
- Não é à toa que, quando o Senhor manda Moisés construir o tabernáculo, manda que a arca, que
simbolizava a presença de Deus, fosse separada por um véu e não fosse sequer contemplada pelos israelitas,
arca que possuía em sua tampa a imagem de dois querubins, que cobriam toda a arca, a lembrar esta
proibição de acesso à árvore da vida, a mostrar que a lei não conseguira retirar o pecado do mundo.
- A espada inflamada também nos faz lembrar da Palavra de Deus que também há de julgar e condenar
todos os que não crerem na “semente da mulher” no dia do juízo final (Cf. Jo.12:48).
- O que se fez do jardim do Éden? A Bíblia é silente a respeito, mas entendem alguns que o jardim existiu
até o dilúvio, quando, então, foi destruído.
- Adão e Eva saíram do jardim do Éden e foram, então, lavrar a terra de onde haviam sido tomados
(Gn.3:23) e teve, assim, início a dispensação da consciência, cujo desdobramento passaremos a analisar a
partir da próxima lição.
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco