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ARTE-
EDUCAO
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A CONTRIBUIO DA PROPOSTA DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DO DESENHO DE OBSERVAO
DESENVOLVIDO POR BETTY EDWARDS PARA A
FORMAO DO PROFESSOR DE ARTE
Autoria: Luiz Roberto Gonalves,
Acadmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais da
Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR
Orientadora: Dra. Zeloi Aparecida Martins dos Santos
Palavras-chave: Desenho de observao, Betty
Edwards, Formao do professor de Arte.
2. OBJETIVOS
O objetivo do trabalho de pesquisa investigar e
apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho de
observao desenvolvido pela pesquisadora norte-americana
Dra. Betty Edwards a um grupo de professores de arte da
Faculdade de Artes do Paran FAP, relacionando o contedo
do livro Desenhando com o lado direito do crebro (1984)
com as teorias contemporneas de ensino de arte.
A habilidade de representar o que se v atravs de
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imagens utilizando lpis e papel, conhecida como desenho de
observao, algo to simples de se adquirir quanto as
habilidades de ler e escrever, dirigir um automvel, andar de
bicicleta ou mesmo usar os recursos de um micro-computador.
No mbito da educao no se trata de adquirir essa
habilidade para se tornar artista profissional, nem de utilizar o
desenho de observao como passatempo ou terapia
ocupacional. E, muito menos, registrar as idias e a vida
privada de um indivduo para que outrem analise os desenhos.
Betty Edwards desenvolveu um mtodo de ensino-
aprendizagem de desenho de observao que permite a
qualquer estudante de qualquer disciplina aprender essa
habilidade: representar o que v sua frente atravs de lpis e
papel, de maneira rpida e eficaz.
Seu livro Drawing on the right side of the brain (1979)
foi traduzido para vrias lnguas e tornou-se best-seller1 na
rea do desenho. No Brasil foi publicado em 1984, com
traduo de Roberto Raposo, num contexto cultural marcado
pelo final do regime militar (1964 a 1985). A busca por
mudanas estava presente em todos os setores da sociedade.
As diversas reas do conhecimento trabalhavam para recuperar
1 Considera-se best-seller o livro que grande xito de vendas em livraria. (Ferreira, 1988)
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o dficit deixando pela ditadura. A rea da educao pode ser
tomada como um exemplo na busca de mudanas: a adaptao
e criao de novos conceitos, reviso e criao de teorias para
tomada de novos direcionamentos. Questionando e refutando o
perodo de ditadura militar, para romper definitivamente com
o quadro catico que apresentava a influncia norte-americana
e o tecnicismo na educao.
A obra de Betty Edwards no se vincula escola
tecnicista, entretanto alguns educadores associam-na a essa
concepo de ensino. O enfoque da autora uma possvel
explicao terico-prtica do processo do desenho de
observao, partindo das pesquisas do neurocientista Dr.
Roger Wolcott Sperry sobre a bilateralizao dos hemisfrios
direito e esquerdo do crebro humano. E a apropriao dessa
habilidade, pelos estudantes, visando sua autoexpresso. O
mtodo de Betty Edwards no se caracteriza como um manual2
tcnico e sim como um mtodo3 de ensino-aprendizagem.
O livro Desenhando com o lado direito do crebro foi
o resultado da pesquisa da autora para obteno do titulo de
doutor. Mas, as suas investigaes no se limitam a essa obra.
2 Considera-se manual um pequeno livro que contm noes essenciais acerca de uma tcnica. (Ferreira, 1988). 3 Considera-se mtodo um caminho pelo qual se atinge um objetivo. (Ferreira, 1988).
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Tambm escreveu outros livros sendo que o ltimo, com o
ttulo Color: a course in mastering the art of mixing colors,
ainda no foi traduzido para a lngua portuguesa.
Entendemos que, aps 25 anos de sua publicao, faz-
se necessrio realizar uma releitura do livro Desenhando com
o lado direito do crebro. A prpria escola tecnicista e a
nfase no uso de recursos didticos e objetivos instrumentais
est sendo discutida e reinterpretada.
A abordagem triangular, proposta por Barbosa (1991),
evidencia a relao produzir-apreciar-contextualizar e o
mtodo de Betty Edwards nos parece adequar-se a essa
proposta. A teoria apresentada pela autora baseia-se nas
pesquisas sobre o funcionamento e processamento de
informaes do crebro humano (Springer e Deutsch, 1998) e
seu valor prtico j foi aprovado, como se pode observar nos
trabalhos de pesquisa de Titton que afirma que "Betty Edwards
(...) proporciona s pessoas um desenvolvimento pessoal que
excede as buscas de expresso por intermdio do desenho"
(2000, p.120) e Carneiro que conclui: "o mais bonito ver nos
olhos de cada aluno o brilho de alegria ao saber-se capaz de
realizar coisas que at ento julgavam impossvel" (2000).
A proposta de Betty Edwards pode ser trabalhada em
um contexto interdisciplinar: a histria da influncia cultural
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norte-americana sobre a cultura brasileira; com a histria da
educao no Brasil e a diferena entre mtodo e manual; com
a psicologia da educao, sobre a Gestalt e a bilateralizao
dos hemisfrios cerebrais humanos; com a filosofia, sobre a
mudana de paradigma; com a representao grfica, sobre o
que os olhos vem e o que achamos que vemos,
principalmente em desenho de perspectiva. Entre tantas outras.
Contudo, entende-se que a falta de conhecimento a
respeito da eficcia da proposta de Betty Edwards deve-se
muito falta de uma abordagem e discusso da obra nos
cursos de graduao para formao de professores de arte.
Se o mtodo desenvolvido pela pesquisadora Betty
Edwards propicia a apreenso dos cdigos artsticos e o
ensino-aprendizagem em arte, por que esse mtodo continua
sendo ignorado? Por que o livro Desenhando com o lado
direito do crebro pouco utilizado em sala de aula, e nos
cursos de formao de professores de arte? Qual o motivo de
no se incluir as pesquisas de Betty Edwards nas investigaes
sobre ensino e aprendizagem em arte?
Apesar de ainda no haver comprovao cientfica, por
parte de neurocientistas, o mtodo permite, em pouco tempo,
com apenas alguns exerccios, desenvolver a habilidade do
desenho de observao dos alunos, partindo do pressuposto de
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que os dois hemisfrios cerebrais do ser humano processam as
informaes visuais percebidas atravs do aparelho da viso,
de modos diferentes. O estmulo do processamento das
informaes visuais pelo hemisfrio direito seria o responsvel
pela eficcia do mtodo de Betty Edwards.
Justifica-se este trabalho de pesquisa porque ainda
existem professores e pesquisadores do ensino de arte que
desconhecem ou conhecem parcialmente a obra de Betty
Edwards, sua aplicabilidade, importncia e contribuio para o
ensino de arte.
3. MTODOS
Este trabalho tem carter exploratrio com
delineamento de levantamento de informaes. Inicialmente
ser realizada a reviso bibliogrfica, tanto da obra de Betty
Edwards, como de diversos tericos da educao e do ensino
de arte de modo a clarificar as concepes de ensino e
aprendizagem. Sero considerados os livros de Betty Edwards,
tanto os originais, em ingls (1986, 1999, 2002 e 2004)4, como
as quatro tradues para o portugus (1984, 2000, 2002 e
4 O primeiro livro de Betty Edwards, de 1979, saiu de catlogo nos Estados Unidos.
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2003). Tambm o livro sobre desenho de observao de Philip
Hallawell (1999) que prope um curso de desenho a partir do
livro Desenhando com o lado direito do crebro e dissertaes
e artigos sobre o ensino-aprendizagem do desenho de
observao publicados pela Associao Nacional de
Pesquisadores em Artes Plsticas ANPAP, e nas diversas
Universidades brasileiras, nos ltimos anos. Sero tambm
consideradas as publicaes dos tericos da educao e da
pesquisa: Silvio Zamboni (1998), Ana Mae Barbosa (1991 e
2002), Fayga Ostrower (1987) e Fernando Hernandez (2000).
Sero aplicados alguns exerccios propostos por Betty
Edwards para um grupo de professores de ensino de arte da
Faculdade de Artes do Paran FAP, por meio da organizao
de uma oficina. Sero apresentadas as caractersticas principais
das cinco obras de Betty Edwards e proposto a discusso e a
anlise do mtodo de ensino aprendizagem de desenho de
observao proposto pela autora sob a ptica das teorias
contemporneas de ensino de arte.
A coleta de dados ser efetuada por questionrios
iniciais e finais, que devero ser elaborados antecipadamente
seguindo metodologia apropriada, pela coleta dos desenhos
realizados pelos participantes na oficina, pela gravao de
depoimentos dos participantes e transcrio dos dados para
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texto escrito e pela gravao de imagens da aplicao do
mtodo na oficina proposta.
A anlise dos dados ter carter qualitativo. Sero
analisados os questionrios, os desenhos e os depoimentos dos
participantes da oficina buscando correlaes, comparaes e
distines obtendo, assim, informaes para a formulao da
concluso final.
4. RESULTADOS PARCIAIS
No trabalho de pesquisa realizado para o Programa
Institucional de Iniciao Cientfica (2007/2008) foram
realizadas leituras sistematizadas dos quatro livros de Betty
Edwards traduzidos para o portugus, alm de autores
contemporneos que tratam de assuntos correlatos como
Gardner (1999) e Springer e Deutsch (1998), e levantadas as
questes que envolvem a habilidade do desenho de observao
e sua relao com o processamento de informaes pelo
hemisfrio direito do crebro humano.
O levantamento a respeito do assunto apontou uma
quantidade significativa de pesquisas e de artigos publicados
em diversas instituies brasileiras de ensino superior:
Universidade Federal do Paran UFPR, Pontifcia
Universidade Catlica de Campinas, Pontifcia Universidade
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Catlica do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual
Paulista UNESP e por diversos pesquisadores da arte-
educao: DORFMAN, CARNEIRO, ANDRADE, GARCIA-
CAIRASCO, RIGHETTO e TITTON.
Hallawell diz que a primeira coisa que o motivou a
escrever seu livro A mo livre (1999) foi o desejo de valorizar
o desenho e resgat-lo de um emaranhado de noes
equivocadas. Ele diz ter percebido que havia uma crescente
tendncia de confundir o academicismo com o exerccio do
desenho de observao e o desenho realista. Afirma ainda que
"esta confuso fez com que se estabelecesse o conceito de que
o desenho de observao inibe a criatividade (1999, p. 09). O
livro de Hallawell utiliza como base os exerccios propostos
por Betty Edwards assim como Harary e Weintraub utilizam
em seu livro Aprendizado com o lado direito do crebro em 30
dias (1993) um desses exerccios mais famosos: o desenho
com a referncia virada de cabea para baixo. Este exerccio,
que serviu de base para a tese de doutorado de Betty Edwards
j vinha sendo proposto pelo professor de design Jay Doblin,
em 1956, mas, como afirma o artista e professor Maurcio
Porto, no prefcio da primeira traduo brasileira, "o grande
mrito da Dra. Betty Edwards ter dado um fundamento
cientfico a todo esse conhecimento intuitivo" (Edwards, 1984,
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p.7)
Autores americanos como Tony Schwartz (1995) e
Daniel Pink (2007), incluram em seus livros suas experincias
pessoais fazendo os exerccios de Betty Edwards e associando
a autora a uma nova era. Pink explica que, graas Betty
Edwards, as pesquisas pioneiras de Sperry foram difundidas
para vrios pases e prev que, no futuro, as mentes criativas
tero mais chances de trabalho.
De acordo com o artigo de Righetto (2001), o mtodo
de Betty Edwards est sendo utilizado na disciplina Desenho
A do curso de Engenharia Civil da Pontifcia Universidade
Catlica de Campinas PUC, visando uma nova filosofia no
ensino de desenho. Esta utilizao, conforme os dados
estatsticos apresentados diminuiu o ndice de desistentes da
disciplina.
Titton, em sua dissertao de mestrado, em 2000, fez
uma pertinente associao entre as idias expostas por Betty
Edwards com a teoria filosfica de Merleau-Ponty alm de
verificar o resultado da aplicao dos exerccios com alunos da
escola de arte Pro-Criar.
O livro Desenhando com o lado direito do crebro
referenciado em pesquisas e trabalhos de autores respeitveis
como Gardner (1999).
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O trabalho de pesquisa revelou que, o mtodo de Betty
Edwards associado, pelo senso comum, neurocincia,
psicologia, tcnica e auto-ajuda. E, realmente, sua
aplicao nessas reas pertinente. Porm, verificamos em
estudos preliminares a respeito do mtodo, que na rea da
educao que Betty Edwards tem desenvolvido toda a sua
pesquisa. Portanto, nessa rea que pretendemos desenvolver
nossas investigaes.
Partindo dessa constatao, optou-se, nesta pesquisa,
por apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho
de observao proposto pela autora e aplicar alguns exerccios
do livro Desenhando com o lado direito do crebro, com um
grupo de professores de arte da Faculdade de Artes do Paran
FAP visando obter um material de anlise significativo
acerca do mtodo e dos resultados da aplicao dos exerccios
do mtodo em questo.
5. CONCLUSO PARCIAL
H evidncia de que a falta de conhecimento a respeito
do contedo do livro Desenhando com o lado direito do
crebro, por parte de alguns professores de arte, no contexto
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brasileiro, est associada falta de oportunidade de conhec-lo
durante sua formao acadmica.
Os resultados da aplicao dos exerccios com o grupo
de professores de arte, alm de seus depoimentos, permitiro
um levantamento de dados significativo para uma melhor
compreenso do porqu do livro Desenhando com o lado
direito do crebro permanece desconhecido para alguns
professores de arte.
6. REFERNCIAS
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DORFMAN, Beatriz Regina. Pensar sem palavras ou a
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_____. Exerccios para desenhar com o lado direito do
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York: Jeremy P. Tarcher / Putnam, 1999.
_____. The new drawing on the right side of the brain
woorkbook: guide practice in the five basic skills of drawing.
New York: Jeremy P. Tarcher / Putnam, 2002.
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Adriana Veronese. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1996.
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15.jan.2000. disponvel em:
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o lado direito do crebro em 30 dias: o programa da mente
integral. Traduo de Maria Clara de B. W. Fernandes. Rio de
Janeiro: Ediouro, 1993.
HERNNDEZ, Fernando. Cultura visual: mudana educativa
e projeto de trabalho. Traduo de Jussara Haubert Rodrigues.
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Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 2000.
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RIGHETTO, Adriana Volpon Diogo. Percepes visuais e
suas representaes. Disponvel em:
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mtodo inovador de ensino de Betty Edwards. Curitiba: 2000.
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ZAMBONI, Slvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte
e cincia. Campinas: Autores Associados, 1998.
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A Ordem do olhar: percepes claras e confusas
Autoria: Angelo Jos Sangiovanni,
Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR.
1- Objetivos:
O objetivo principal do trabalho , por um lado,
analisar a mudana que ocorreu na percepo a partir da
ruptura que a filosofia recm criada por Plato, imps a
educao grega. Plato separou e baniu da objetividade do
conhecimento qualquer percepo que trate da subjetividade e
emoes. Por outro lado, apontamos a soluo proposta por
Kant para dar conta da subjetividade das percepes estticas
por meio da comunicabilidade entre os emissores dos juzos.
2- Mtodos e Resultados
Nos primrdios da Grcia antiga o conhecimento era
obtido pela tradio oral. A poesia e a epopia eram os meios
orais de transmisso da tradio. A ordem do mundo era
estabelecida na relao de culto. A tragdia apresentada no
espao da polis grega possibilitava ao cidado grego se ver
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refletido. A obra dipo Rei de Sfocles no era uma fico,
dipo no era somente um personagem, era a prpria essncia
da condio Grega. O mundo era percebido pela ao de seus
heris.
A tradio oral de conhecimento atacada por Plato
principalmente no livro X da Repblica. Para Plato
fundamental excluir da cidade a poesia de carter mimtico,
pois destri a inteligncia dos ouvintes.
No livro VII da Repblica Plato apresenta a alegoria
da caverna, bem conhecida na pedagogia. Plato supe que
desde o nascimento seres so aprisionados dentro de uma
caverna, com o rosto voltado para o fundo, no qual so
projetadas sombras dos objetos ou seres que passam do lado de
fora. A realidade para os prisioneiros so as sombras, as cpias
da realidade exterior. A alegoria ilustra o ponto central da
teoria do conhecimento de Plato: que para atingirmos o
mundo cognoscvel necessrio fazer um grande esforo para
voltar nossa alma em direo do que justo e belo. A correta
direo do olhar neste caso impe romper as correntes e voltar
a cabea e o pescoo para a entrada da caverna.
O conhecimento para Plato encontra-se em um
mundo superior afastado da confuso das percepes mutveis
dos sentidos. Plato inaugura a crena na verdade justificada
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por argumentos da razo, o dialogo substitui o mito. A
filosofia e a cincia surgem com Plato para evitar o mal
entendido. A verdade para o velho filsofo, no est separada
de um agir correto: o ser deve direcionar o olhar em direo ao
justo e ao belo.
Mas, o que devemos evitar para olharmos
corretamente? A subjetividade. Os sentimentos so os
descaminhos, afastam do caminho da verdade. Retomando a
crtica de Plato poesia encontramos o pilar da distino
entre o conhecimento que claro, luz, inteligvel por um lado,
e a ignorncia que escura, confusa, sombras.
Podemos criticar a concepo ontolgica de Plato
onde o verdadeiro confunde-se com o que a essncia.
Todavia, a recusa desta concepo no evita a distino
surgida entre um tipo de percepo clara e outro tipo que
confusa e deve, por isso, ser banida do cognoscvel. A crtica
que Plato fez em relao poesia parte do pressuposto tico
que os poetas faltam com a verdade ao falarem de coisas que
no sabem.
Felizmente, ou infelizmente, de tempos em tempos
necessrio discutir com os primeiros representantes do
conhecimento ocidental, neste caso Plato. A discusso
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reaparece porque em algum aspecto eles ainda causam
incmodos.
A crtica que Plato fez em relao poesia parte do
pressuposto tico que os poetas faltam com a verdade ao
falarem de coisas que no sabem.
Kant na Crtica da razo Pura pretende encontrar os
limites do conhecimento humano. O espao e o tempo so
condies necessrias para o conhecimento de um objeto. No
possvel para Kant determinarmos um objeto se no tivermos
previamente o espao. O senso comum poderia afirmar que ao
retirarmos um copo de cima de uma mesa encontramos o
espao, seria pela ausncia do objeto que obteramos o espao.
Deste modo, temos o espao como palco de nossas
percepes e ao determinarmos um objeto temos claro o que o
distingue dos outros. Por exemplo, em uma sala repleta de
cadeiras e mesas fcil distinguir as mesas das cadeiras. Kant
afirmaria que neste mltiplo de percepes temos o conceito
da mesa que distingue e objetiva o objeto mesa. uma
percepo clara, pois temos o conceito e a intuio do objeto.
Os juzos lgicos do conhecimento so determinados, claros
Todavia, o problema de determinar um juzo ou
julgamento que no se submete aos moldes tradicionais
lgicos do conhecimento reconhecido por Kant. Na Crtica
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do Juzo Kant pretende resolver o problema dos juzos que no
se submetem as regras lgicas tradicionais, a saber, os
estticos:
Para distinguir se algo belo ou no, referimos a
representao, no pelo entendimento do objeto, para o
conhecimento, mas pela imaginao (talvez vinculada com o
entendimento) ao sujeito e ao sentimento de prazer ou
desprazer. O juzo de- gosto no , pois, um juzo de
conhecimento, portanto no lgico, mas esttico, pelo que se
entende aquele cujo fundamento-de-determinao no pode
ser outro do que subjetivo. (KANT p. 209. 1984)
Para Kant o julgamento esttico subjetivo e
reflexivo, pois trata do sentimento do sujeito que faz o juzo. O
olhar do sujeito nico, mas no a pretenso de comunicar
este olhar quando suponho esta capacidade nos outros.
Consideraes Parciais:
Dois plos antagnicos na tradio filosfica so
referencia a discusso sobre a clareza das percepes
estticas. Plato no sculo IV AC, notou a falta de objetividade
nos julgamentos que tinham como contedo os sentimentos, e
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por isso, os achou perigosos ao serem tomados como
conhecimento. O olhar poderia ser desviado do caminho da
verdade e ser confundido por mmesis, simulacros, da
realidade.
Kant admite que seja possvel universalizar a
capacidade de percebemos subjetivamente sensaes iniciando
a esttica como uma cincia que pretende classificar as
proposies subjetivas em relao ao sentimento de prazer e
desprazer.
A questo da obscuridade das percepes relativas aos
sentimentos continua. Alguns autores apontam necessidade
de uma justificao que vai alm do esttico, e procuram uma
instncia exterior como a tica para tornar justificvel o
fenmeno esttico.
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25
REFERNCIAS:
HAVELOCK , E. Prefcio a Plato. Campinas: Papirus,
1996.
JAEGER, W. PAIDIA: a formao do homem grego. So
Paulo: Martins Fontes, 1995.
KANT, I. Textos selecionados. 2.ed. So Paulo: Abril
Cultural, 1984.
PLATO. A Repblica. 3ed. Lisboa: Fundao Calouste
Gulbenkian, 1980.
ROSENFIELD, D. et al. tica e Esttica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar 2001.
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A PRESENA DE CONTEDOS DE ARTE NOS
COMPNDIOS OU MANUAIS DE FORMAO
DE PROFESSORES ADOTADOS NO ESTADO DO
PARAN NO PERODO DE 1834 A 1900.
Autoria: Daniele Cristina Mendes - Faculdade de Artes
do Paran, Curitiba - PR.
Co-autora: Marlete dos Anjos Silva Schaffrath-
Orientadora
Apresentao
A pesquisa investiga os processos de formao
de docentes no Estado do Paran, bem como os
elementos do ensino de artes nos primrdios desta
formao, fatores estes importantes para a ampliao
dos conhecimentos e aprimoramento da formao do
acadmico de licenciatura.
Este projeto se vincula linha de pesquisa
Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa
Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade. Nossa
inteno aqui investigar alguns aspectos do processo
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da formao docente no Paran (1834 - 1900) no que se
refere aos contedos de Artes contidos nos Manuais ou
Compndios utilizados por professores paranaenses no
perodo em questo. Essa pesquisa constitui pelo
levantamento e anlise fontes tanto documentais quanto
bibliogrficas, com a inteno de revelar aspectos do
conhecimento cultural e histrico da formao docente
paranaense para o ensino das Artes e a educao em
geral.
Julgamos importante a pesquisa de iniciao
cientfica para os acadmicos de cursos de graduao
por que ela pode subsidiar o trabalho de desvendamento
cientfico da realidade, na medida em que as anlises e
reflexes nos ajudam a compreend-la. Discutir
aspectos da formao cultural brasileira pelo estudo da
histria da educao e do ensino de arte nas escolas
um modo de estabelecer significados para a
compreenso do estado da arte da educao artstica no
Brasil, o que para os cursos de licenciatura em artes de
fundamental importncia.
Alguns estudos realizados at o momento
apontam o seguinte: a Instruo brasileira ganha
incentivo aps a vinda da famlia Real portuguesa para o
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Brasil em 1808, de acordo com Aranha (1996). At este
perodo, os professores no tinham apoio pedaggico
para subsidiar seus trabalhos no magistrio. Eles
ensinavam basicamente o que aprendiam com seus
mestres, segundo Tanuri (1969).
A partir de 1869, os compndios ou manuais de
pedagogia comearam a ser trazidos da Europa a fim de
preparar os professores para o exerccio de suas funes.
Segunda Schaffrath (1999) estes compndios traziam
contedos diversificados. Tais contedos variavam de
conhecimento geral das cincias formao moral para
os alunos.
Com isso o objetivo do projeto se encaminhara
em investigar a presena de contedos de arte nos
compndios e manuais de formao de professores
adotados no Estado do Paran no perodo de 1834 a
1900. Pretendemos primeiramente levantar dados sobre
a utilizao dos compndios adotados no Estado do
Paran no perodo de 1834 a 1900. E a partir da
investigar a presena de contedos relacionados s artes
nestes compndios, e ainda analisar o teor dos
contedos de arte presentes nos compndios adotados.
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Mtodos
A pesquisa est sendo baseada no levantamento
e catalogao de fontes primrias e secundrias do
perodo compreendido entre os anos de 1834 e 1900. Os
dados levantados sero analisados a partir de
referenciais tericos e bibliogrficos previamente
selecionados pelo professor orientador. Aps a anlise
destes dados ser elaborado um texto expondo os
conhecimentos revelados pela pesquisa e, por fim, ser
feita a socializao destes conhecimentos atravs de
publicaes.
O material de pesquisa ser buscado no acervo
das Bibliotecas das Universidades Federais de Santa
Catarina e do Paran, biblioteca da Faculdade de Artes
do Paran e Arquivo Pblico do Estado do Paran. Este
material compreende os documentos oficiais da
Instruo Publica da Provncia Paranaense, como os
relatrios dos Presidentes da Provncia, os documentos
oficiais e os manuais adotados aqui, alm da literatura
especfica sobre este tema.
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Resultados
O perodo regencial no Brasil foi um dos mais
agitados da histria poltica do pas. Perodo este
marcado por confrontos relativos a territrios,
organizao da sociedade e do Estado, tambm por uma
serie de rebelies regionais. Lembrando que o Brasil
antes de se tornar independente e entrar nesse perodo
regencial, recebeu em 1808 a corte portuguesa, ou seja,
sua metrpole. A corte trouxe consigo novos padres
culturais: a biblioteca real, o primeiro jornal, utenslios,
roupas, modo de se vestir, falar e comer, alm de
mudana no perfil poltico e econmico.
No final do sculo XIX, a sociedade brasileira
vive um perodo de transformao em diversos mbitos.
Na economia, por exemplo, o Brasil tem como base o
caf que contribuiu para a soluo da crise econmica e
para o desenvolvimento dos setores urbanos, como
indstria e as ferrovias, o latifndio, a monocultura e a
mo de obra escrava, essas que foram sendo substitudas
pelos imigrantes, tambm se destacam. J na sociedade
ocorria uma diviso de setores de classes. A primeira era
composta pelos homens brancos, pertencentes s boas
-
31
famlias, a segunda era o povo, que inclua brancos,
mestios e negros libertos. E o terceiro setor social era o
das camadas mdias urbanas, integrado por profissionais
mais qualificados e que viviam do rendimento do seu
trabalho. Assim o Brasil do sculo XIX foi
conquistando uma nova identidade, a modernizao
nessa poca foi intensa. Centenas de indstrias, alguns
bancos, companhias de seguros, navegao, transporte
urbano (antigas carruagens foram substitudas pelos
bondes puxados a burros) e de gs (MOTA, 1998).
No que se refere educao e mais
especificamente formao de professores, Heloisa
VILELLA (1992) argumenta que a Escola Normal
pblica e laica se prolifera na Europa no sculo XIX,
mas a idia, ou seja, seu nascimento ocorre durante a
Revoluo Industrial. Foi a primeira instituio
especializada em formar o professor, seu objetivo inicial
era instruir o povo.
Esse objetivo tratava-se de derrubar o
monoplio que a Igreja tinha sobre todo o sistema de
educao. Quem contribuiu para o nascimento dessa
instituio que trabalharia com a formao dos
professores leigos foi o movimento humanista, o
-
32
pensamento iluminista e a organizao dos modernos
sistemas estatais de ensino. Porm a Escola Normal no
teve uma longa existncia, diz Villela, por causa do
perodo conturbado que a sociedade vivia na poca
ocorreu sua extino, que acabou no inicio do sculo
XIX, pelo fato da escola ser vista como uma instituio
capaz de garantir a unidade nacional, por ter como
ferramenta a transmisso de contedos e os valores
culturais e morais, prometendo assim a formao do
cidado a e dos futuros dirigentes do Estado.
A autora destaca ainda, como esse modelo da
Escola Normal europia influenciou no Brasil e como
fcil identificar a histria do Brasil como um reflexo da
histria europia na educao.
Foi na provncia do Rio de Janeiro em 1834
aps o Ato Adicional, que o partido conservador
representado por Joaquim Jos Rodrigues Torres, teve a
idia de organizar uma Escola Normal onde formariam
os professores da Provncia.
Percebemos ento, como e com quais
objetivos foram criadas as escolas normais. Mas o que
precisava como requisito, para ingressar nessas escolas?
-
33
Que conhecimentos eram passados para ocorrer a
formao do professor no perodo regencial?
Vilella (1992) responde essas inquietaes
colocando um documento criado pela Escola Normal de
Niteri. O documento exigiu boas condies morais do
indivduo do que a prpria formao intelectual.
Constava o seguinte no documento: o
indivduo deveria ser cidado brasileiro, maior de
dezoito anos, com boa morigerao e saber ler e
escrever. A boa morigerao descrita no documento,
quer dizer que o indivduo ser avaliado pela sua moral,
bons costumes, boa educao. Isso porque o governo
no pretendia oferecer ao futuro professor da escola
primaria uma formao aprofundada em contedos mais
sim uma formao moral e religiosa, pois os dirigentes
da provncia estavam preocupados em ordenar, controlar
e disciplinar do que instruir. Assim eles usavam o
mtodo lancasteriano, tendo a garantia que a ordem e a
vigilncia ocorreriam.
Com esses requisitos a autora mostra quem
eram os candidatos excludos na Escola Normal. Os
escravos, no eram considerados pessoas; os homens
livres e pobres, pois no tinham direito a voto; os negros
-
34
e as mulheres, no caso das mulheres a seleo no era
to rigorosa. A primeira Escola Normal recebeu
mulheres como alunas, mas elas teriam que ter
basicamente o domnio das prendas domesticas e dos
ensinamentos religiosos. Recordando que essa
classificao de indivduos para serem futuros
professores era feita com o objetivo de formar docentes
como um agente disseminador de uma mentalidade
moralizante do que um difusor de conhecimentos, pois
na educao e na poltica em geral o que deve se
legitimar a supremacia do partido conservador da
provncia.
No artigo de Claudia Maria ALVES (1992),
encontramos tambm os requisitos para ingressar na
Escola Normal, e como era feita a formao do docente
de instruo primaria. A formao docente, que alm de
ter uma classificao, o docente se formaria para
exercer um papel domesticador, freiando os instintos e
estabelecendo o domnio de valores superiores. Sua
formao se baseava em estudar a gramtica da lngua
nacional; aritmtica; lgebra e geometria elementar; o
catecismo; a religio do Estado e didtica; o Francs, a
msica e o canto. O futuro professor recebia contedos e
-
35
valores voltados a moral e a religio, que se fortalece a
unidade social.
O sculo XIX no Brasil, com suas mudanas
no quadro poltico, econmico e social, a escola era
vista como uma ferramenta que podia moldar os
indivduos para eles se adaptarem e encaixarem nesse
sistema. Por isso a necessidade de formar professores
comea a ser encarada de forma delicada, pois so esses
que iram moldar o indivduo para o Estado. Logo
ganha mais ateno as Escolas Normais, sendo essas
vistas neste sculo como uma ao mais eficiente.
Na provncia de So Paulo o modelo da Escola
Normal, no foi diferente da provncia do Rio de Janeiro
que teve a primeira Escola Normal de Niteri.
A alem Ina Von Binzer, que viveu no Brasil
entre 1881 e 1883, conta em uma carta para uma amiga
na Europa sua opinio sobre a cultura brasileira da
poca.
S. Paulo, 5 de abril de 1882. Minha Gente do corao.
verdade mesmo: So Paulo o melhor lugar do Brasil
para educadoras, tanto a capital, como toda a
provncia, porque os moos da nova gerao namoram
-
36
a cincia e do-se ares de erudio e de filosofia.
Somos uma cidade universitria! Mas no pense em
Bonn ou Heigelberg, pois a academia daqui no seno
uma Faculdade de Direito. No interior da provncia h
um seminrio onde se preparam padres (esqueci o nome
do lugar), aqui formam-se advogados e no Rio de
Janeiro os discpulos de Esculpio, os doutores par
excelence`. Os brasileiros do timos advogados,
podendo dessa forma aproveitar seu talento
declamatrio. Do a vida por falar, mesmo quando
para no dizer nada. Com a eloqncia que esbanjam
num nico discurso, poder-se-iam compor facilmente
dez em nossa terra; embora no possuam verdadeira
eloqncia nem marcada personalidade, falando todos
com a mesma cadncia tradicional usada em toda e
qualquer circunstancia. Tudo exterior, tudo
gesticulao e meia cultura. O fraseado pomposo, a
eloqncia enftica j so por si falsos e teatrais; mas
se voc tirar a prova real, se indagar sobre qualquer
assunto , no se revelam capazes de fornecerem a
informao desejada. H pessoas na alta direo do
Partido Republicano que no conhecem a histria nem
a constituio do pas nem muito menos as das outras
-
37
naes. H outros que se dizem partidrios do sistema
filosfico do espiritual Comte, mais no compreendem
os seus mais elementares ensinamentos. Alguns do
opinio sobre lnguas estrangeiras, mas no sabem
explicar nenhuma regra da sua prpria. Querem
possuir sem demora todas as novidades no terreno da
tcnica, mas os engenheiros para a montagem vm da
Europa, quando estes se retiram, se por acaso se parte
umas das peas das maquinas, nenhum nacional sabe
consert-las... (BINZER, 1956, p.388 )
A carta da alem sobre a cultura brasileira na
poca regencial entra de acordo com o artigo
Modernidade Pedaggica e Modelos de Formao
Docente de Marta Maria Chagas de Carvalho (2000).
O artigo trata da deficincia existente no
modelo pedaggico, gerando uma banalizao na escola
do Brasil. Essa deficincia existe desde o sculo XIX e
para falar dela Carvalho (2000) utiliza a escola paulista.
Logo proclamada a Republica, os governantes
do estado de So Paulo, representantes do setor
oligrquico modernizador, investem na organizao de
um sistema de ensino modelar. Esse sistema, Escola
-
38
Modelo anexa Escola Normal, entendido como a
arte de ensinar da pedagogia moderna, que se baseava
em ver e imitar o docente. A Escola Nova paulistana,
com modernos materiais escolares importados e um
prdio apropriado, aderiu esse sistema cuja funo era a
criao de bons moldes de ensino. Nela, os futuros
mestres podiam aprender a arte de ensinar, aprender na
visibilidade e na imitabilidade, ver como as crianas
eram manejadas e instrudas e imitar.
O diretor da Escola Normal, Gabriel Prestes,
em 1896 relata sobre as praticas de sala de aula que se
organiza e se dispem: crena na eficincia dos
processos de ensino intuitivo; concepo acerca da
natureza infantil formuladas nos marcos de uma
psicologia das faculdades mentais; a pedagogia moderna
,ou seja, a arte de ensinar como corpus de saberes e de
instrumentos metodolgicos capazes de viabilizar as
escolas de massas e simultaneamente o ensino em
classes numerosas e como base dessas praticas os
exerccios escolares que contribuem na estrutura do
ensino.
Esses exerccios tem como funo: estabelecer
uma rotina escolar; organizar o tempo como horrio;
-
39
estabelecer uma disciplina de estudos e de currculo;
adquirem um perfil das classes de alunos e sua maior
funo, instruir e desenvolver as faculdades mentais
da criana.
Essas prticas fazem parte das Escolas
Modelos, anexas s Escolas Normais, no sculo XIX.
Os exerccios escolares, assim como a arte de ensinar,
estruturam-se como caixas de utenslios para o uso de
professores. Maria diz tambm, que as praticas que se
formalizam nos usos desses materiais guardam forte
relao com uma pedagogia em que tal arte prescrita
como boa imitao de um modelo. No mbito dessa
pedagogia, ensinar a ensinar fornecer esses modelos,
seja na forma de roteiros de lies, seja na forma de ver
e imitar.
Resultados Parciais:
Essa dimenso Histrica da educao
leva a pensar na formao do professor assim como os
contedos que ele trabalha na escola intencional, ou
seja, seu objetivo moldar o indivduo a partir de
determinados valores sociais. Ainda que no tenhamos
nos aproximado diretamente dos currculos das escolas
-
40
de formao de professores e precisamente, do
contedos de Artes contido neles, o trabalho ate
aqui tem sido importante para a compreenso da
estrutura educacional brasileira no Sculo XIX e
sobretudo, para a compreenso dos determinantes
do tipo de professor que era interessante formar
para educar o povo brasileiro
Referncias bibliogrficas
ARANHA, M. L. A. Histria da Educao. 2
ed. So Paulo: Moderna, 1996.
MOTA, M.B. Histria das Cavernas ao terceiro
Milnio. 2 ed.So Paulo: Moderna, 1998.
CARVALHO, M. M. C. Modernidade
Pedaggica e Modelos de Formao Docente,
2000, So Paulo: Perspectiva, pg. 111 120.
NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre
presente. Helosa Vilela, Claudia Maria Costa
Alvez, Armando Martins de Barros. Questes da
nossa poca: v.4. Ed Cortez. So Paulo. 1992
SCHAFFRATH, M. A. S. A Escola Normal
Catharinense de 1892: Profisso e ornamento.
-
41
Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado.
Universidade Federal de santa Catarina, 1999.
TANURI, L.M. Contribuio para o estudo da
Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n.
13, 1970.
-
42
COMPNDIOS DE PEDAGOGIA: MODELOS
PARA A FORMAO DE PROFESSORES NO
PARAN (1834 - 1900)
Autoria: Leonardo Moita Bertoletti, Faculdade de Artes
do Paran, Curitiba-PR
Co-autoria: Marlete dos Anjos Silva Schaffrath
Apresentao
Este projeto est ligado linha de pesquisa
Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa
Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade, grupo de
pesquisa ao qual a orientadora do projeto pertence.
Nossa inteno aqui investigar alguns aspectos do
processo da formao docente no Paran (1834 - 1900)
a fim de buscar um melhor entendimento do percurso
histrico de formao docente no Brasil e no Paran,
alm da socializao do registro da historiografia da
poca com a comunidade acadmica. A viabilidade
metodolgica da pesquisa que se pretende se far pelas
fontes de pesquisa tanto documentais quanto
bibliogrficas, no intuito de compor um corpo terico de
-
43
fatos e anlises que dem conta de revelar aspectos do
conhecimento cultural e histrico da formao docente
paranaense.
A escolha do perodo histrico se deve ao fato
de que, em 1834, o Imprio Brasileiro delegou a cada
Provncia que cuidasse da sua instruo pblica, ou seja,
a partir desta data cada Provncia estabeleceu os
critrios e os manuais adotados para reger seu sistema
de ensino, de acordo com Schaffrath (1999). E o ano de
1900, como marco final, se deve a proximidade com a
Proclamao da Repblica, cujos Estados Federados
passaram a organizar seus sistemas de ensino a partir de
poder central, mas ainda guardavam aspectos culturais
do Imprio.
Objetivos
O objetivo central deste trabalho de pesquisa
de investigar a adoo de compndios de pedagogia
como modelos para a formao docente no Paran no
perodo de 1834 a 1900. A partir da, pretende-se
levantar dados sobre os mesmos e tambm escrever e
analisar seus contedos propostos.
-
44
Mtodos e Resultados
A partir do levantamento de fontes, da leitura e
anlise de textos que tratam deste tema, nosso trabalho
pode oferecer algumas reflexes acerca do objeto de
estudo, conforme segue.
O trabalho de pesquisa realizado at aqui
revelou que no Sculo XIX se consolidava o poder
burgus na Europa e isto influenciou o pensamento
pedaggico que passou a considerar novas propostas
educacionais e de acesso s escolas, de acordo com
Cunha (1979). No Brasil, a partir da instalao da Corte
Portuguesa em 1808, nossa sociedade colonial foi palco
de muitas mudanas, mas ainda no havia um projeto
pedaggico para a educao brasileira, segundo Aranha
(1996). At este momento, no havia circulao de
material de apoio aos poucos professores que
ministravam aulas nas Provncias. Os professores
adquiriam conhecimentos nas prprias escolas onde
estudavam as primeiras letras, ou seja, reproduziam
seu mestre, conforme descreve Tanuri (1969). Somente
a partir 1869, os manuais ou compndios de pedagogia
-
45
que j circulavam na Europa comearam a ser adotados
pela instruo pblica brasileira. E as Provncias que
desde 1834 j cuidavam de seus sistemas de ensino, se
interessaram em adotar estes Manuais j que no tinham
uma escola especfica para formar professores. E
exatamente neste momento histrico que vamos
centralizar nossos estudos. Que compndios foram
trazidos para o Brasil, quem so os autores, quais foram
os adotados no Paran e que projetos de formao
docente e educao pblica eles encerravam em seus
contedos.
Para Valdemarin (2000), os manuais que
circulavam aqui, embora diferentes entre si, estavam
todos vinculados ao projeto modernizador da sociedade
do Sculo XIX. Segundo a autora, muito embora cada
uma deles apresentasse uma viso distinta do que fosse
o progresso, ambos estavam vinculados ao mesmo
projeto de sociedade burguesa e do modo de produo
capitalista.
Marta Carvalho (2001) aborda a questo da
produo, circulao e utilizao de modelos
pedaggicos no Brasil e na Frana a partir e meados do
-
46
sculo XIX. Neste trabalho, a autora destaca que nos
manuais impressos que circulavam era patente o
deslocamento dos contedos relacionados aos saberes
necessrios prtica de professores, para contedos de
carter disciplinador e moralizante. A autora aponta o
perfil generalista de uma formao que pretendia dar ao
professor meios e mtodos para forjar nos alunos o
esprito cientificista que movia as sociedades daquele
perodo histrico.
A autora estudando os manuais de pedagogia
defende que eles organizavam um discurso pedaggico
que encerrava em si as ferramentas para a organizao
da escola nos moldes da Pedagogia Moderna que
pretendia, dentre outras, afirmar a educao como
cincia. Os processos educativos prescritos, as
concepes acerca da Psicologia infantil (mais voltada
para as faculdades mentais), os instrumentos didticos
selecionados e toda a rotina de organizao da escola e
da sala de aula, sob a forma de material impresso
constroem o arcabouo de uma engenharia escolar
traada nos Manuais de Pedagogia adotados pelas
escolas para uso de professores.
-
47
Carlota Boto (1998) analisando a cultura escolar
em Portugal (182-1850) descreve a influncia do
pensamento intelectual que concebia a educao
escolar, e, sobretudo a escola primria, como vetor de
sociabilidade seguindo padres iluministas, que
sustentavam o iderio da escola pblica, laica e
universal. Segundo a autora, se entre os anos de 1820 e
1850 as discusses sobre o papel social da escola, como
produtora de novos padres de sociabilidade era
predominante na sociedade portuguesa; foi a partir de
1850 que as questes do mtodo comearam a fazer
parte do itinerrio dos processos de formao docente.
Entre 1850 e 1870 nota-se neste pas a proliferao de
materiais didticos, favorecendo questes
metodolgicas e ao mesmo tempo indicando que a
escola no estaria dando conta do ensino de habilidades
elementares como a leitura, a escrita e o clculo,
conhecimentos bsicos, delimitados para o mbito da
escola primria. A autora destaca ainda que a partir de
1870 intensificaram-se os debates em torno do
estabelecimento da Pedagogia como uma cincia da
educao baseados no pensamento positivista. Agora
-
48
as questes trazidas pela Pedagogia, como o
desenvolvimento infantil, eram analisadas sob o ponto
de vista cientfico. Ainda mais que em meados de 1870
o aprimoramento de tcnicas tipogrficas e o
incremento dos meios de transporte faziam circular por
toda a Europa os escritos cientficos de todas as reas.
De acordo com Carvalho, no final do sc. XIX,
nestes estavam presentes convices a respeito das
faculdades da alma, tanto quanto a metodologia do
ensino objetivo, caracterizando outro tipo de
organizao do corpus dos saberes pedaggicos,
herana do pensamento cientificista da poca. Esse
civismo partilhado, essa preocupao moral e poltica,
aliada formao filosfica dos professores e insero
da disciplina nos padres do ensino universitrio
francs, conferiu pedagogia ministrada um altssimo
grau de generalidade5.
Os manuais de autoria de Gabriel Compayr tiveram
larga circulao no Brasil, propondo-se como modelo
5 NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992.
-
49
de articulao discursiva dos saberes pedaggicos, por
dcadas a fio.(Carvalho, 2006 p.05)
Compreender a construo histrica e social
destes manuais, identificando o perfil generalista de
uma formao docente que pretendia forjar nos alunos o
esprito da poca, certamente nos faz entender melhor
a situao em que vieram para o Brasil. Juntamente com
estes manuais vieram, implcita e/ou explicitamente
disputas polticas e religiosas, filosofias acerca do
homem e do mundo, revolues pessoais, vontades e
desejos de uma Europa pos revoluo francesa e pos
revoluo industrial, para um Brasil rural que acabava
de conquistar a maioridade. Desde modo a
obrigatoriedade de uma organizao interna em todos os
seus setores: poltico, econmico e o objeto de nosso
estudo, educacional. Neste campo a elite dirigente
importa o modelo de educao europeu. Assim o Brasil
visto como um espelho de m qualidade refletindo
uma imagem distorcida do original.6 Com isto
compreendemos que o modelo adotado no era
6 Idem 1.
-
50
adequado a realidade da poca, que vivia numa
conturbao poltica. Liberais e Conservadores
disputavam na provncia carioca a administrao, que
coube aos conservadores em primeiro momento logo
aps o ato adicional em 1834 que concedia autonomia
administrativa s provncias, de acordo com Nunes.
A supremacia deste grupo se explica por vrios
fatores, dentre eles o fato de que muitos de seus
integrantes se originavam das principais famlias
produtoras de caf, principal produto de exportao da
poca e graas ao qual o pas comeava a se levantar
da grave crise financeira que vinha atravessando.
(NUNES, 1992 p.25)
Neste mbito de ampliar e garantir a hegemonia
do ideal conservador, nasce a necessidade da criao de
um espao para a transmisso dessa ideologia e num
segundo momento a sua difuso, garantindo a sua
perpetuao, fazendo a identificao dos objetivos do
partido com cada individuo. Surge, ento paralelamente,
a necessidade de formar o professor como um agente
-
51
capaz de reproduzir o tipo de conhecimento que
desejavam difundir, de acordo com Nunes (1992),
porm, que no fugisse a ordem e a conservasse como
tal.
Para a formao do professor na Escola Normal,
de acordo com a lei de criao da mesma, o individuo
deveria ter boa morigerao, no que se refere a moral,
ou seja, na poca, homem branco maior de dezoito anos.
Negros e mulheres no pertenciam a esta classificao.
O marqus de Caravelas esclarece a medida: as
meninas no tm desenvolvimento de raciocnio to
grande como os meninos.7
A preocupao com a moral dava-se pelo
perodo conturbado que se vivia. evidente que ligada
ao aspecto moral houvesse subjacente preocupao
com a posio ideolgica dos futuros professores
(Nunes). Certamente o motivo para utilizao do
mtodo lancasteriano que agradava em seus ideais
polticos boa parte do grupo conservador. O mtodo
pode assim ser entendido:
7 NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992 Annaes do Senado Federal, 1827, vol II, sesso de 30 de agosto de 1827 (pp.270-280), p 278.
-
52
(...) Lancaster amparou seu mtodo no ensino oral, no
uso refinado e constante da repetio e, principalmente,
na memorizao, porque acreditava que esta inibia a
preguia, a ociosidade, e aumentava o desejo pela
quietude. Em face desta opo metodolgica ele no
esperava que os alunos tivessem originalidade ou
elucubrao intelectual na atividade pedaggica mas
disciplinarizao mental e fsica. Em Lancaster, o
principal encargo do monitor no estava na tarefa de
ensinar ou de corrigir os erros, mas sim na de
coordenar para que os alunos se corrigissem entre si
(...).8
Concluses parciais
Com o trabalho realizado at o presente
momento podemos fazer algumas consideraes sobre
os Manuais e sua importncia para a formao do
8 NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos da Educao da UEM/PR Disponvel em: Acesso em:10 maio. 2009.
-
53
professor brasileiro. Os materiais impressos que
circularam no Brasil no Sculo XIX, via de regra,
ofereciam este tipo de aporte de conhecimentos para
professar o magistrio. Uns enfatizavam grandes
fundamentos pedaggicos, outros questes prticas da
arte de ensinar, mas todos eles certamente
interferiram na construo de uma cultura escolar.
Compreender a formao docente sob o uso
destes manuais, que muitas vezes traziam consigo certo
carter generalista e com contedos previamente
selecionados e moldados ao homem da poca, nos
instiga correlacionar educao e poltica, revelar a
formao do cidado de uma determinada poca e mais
especificamente seus contedos pedaggicos. De todo
modo, a compreenso desta fase do projeto educacional
brasileiro torna-se fundamental para a compreenso da
histria da nossa formao de professores.
Referncias
ARANHA, Maria Lima. Histria da Educao. 2 ed.
So Paulo: Moderna, 1996.
-
54
BOTO, Carlota. Ler, escrever e se comportar: a
escola primria como rito do Sculo XIX portugus.
In: SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. (Orgs.) Prticas
educativas, culturas escolares, profisso docente. So
Paulo: Escrituras Editora, 1998.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A caixa de
utenslios e o Tratado: modelos pedaggicos, Manuais
de Pedagogia e prticas de leitura de professores. In: IV
Congresso Brasileiro de Histria da Educao, 2006,
Goinia. A educao e seus sujeitos na histria.
Goinia: Editora da UCG/Ed. vieira, v. 1. p. 81-82.
2006
CUNHA, L. A. Educao e desenvolvimento social no
Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos
da Educao da UEM/PR Disponvel
em: Acesso em:10
maio. 2009.
-
55
NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre presente.
Helosa Vilela, Claudia Maria Costa Alvez, Armando
Martins de Barros. Questes da nossa poca: v.4. Ed
Cortez. So Paulo. 1992
SCHAFFRATH, Marlete dos Anjos Silva. A Escola
Normal Catharinense de 1892: Profisso e ornamento.
Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado.
Universidade Federal de santa Catarina, 1999.
TANURI, Leonor Maria. Contribuio para o estudo
da Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n. 13,
1970.
VALDEMARIN, Vera Tereza. Lies de coisas:
Concepo cientfica e projeto modernizador para a
sociedade. Cad. CEDES v.20 n.52 Campinas nov.
2000.
-
56
MEDIAO PARA EXPOSIO:
CONTEXTOS EDUCATIVOS NA LEITURA,
INTERPRETAO E COMPREENSO DAS
ARTES E VISUALIDADES
Autoria: Ana Cludia Bastiani, Universidade Estadual
de Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR.
Ana Luiza Ruschel Nunes, Universidade Estadual de
Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR.
OBJETIVO
O objetivo foi investigar, analisar e compreender como
acontece a mediao entre a obra do artista em galerias,
museus ou outros espaos de exposies de arte, tendo o
mediador (as pesquisadoras) funo de intermediar o
plano de expresso e de contedo da obra de forma mais
contextualizada, aos receptores. O conhecimento e a
-
57
prtica da Mediao devem ser vistos como um
importante papel que difundir e intermediar as
relaes de dilogo e integrao entre Arte e o pblico
na compreenso da obra de arte em espaos de
exposies. A tarefa do mediador a de aproximar o
pblico em todas as suas determinaes e
complexidades com a comunidade mais ampla, escolar e
no escolar no contato com a leitura e compreenso
crtica da produo em Artes Visuais, intermediando
este conhecimento, tornando mais prximo ao pblico e
criando uma cultura. A abordagem da pesquisa
qualitativa atravs da pesquisa-ao. Este estudo tem
como um dos espaos de pesquisa a sala de exposies -
Galeria de Arte da Pr-Reitoria de Extenso - PROEX.
Os instrumentos de anlise so: observao, entrevista
individual e com grupos focais, dirio de campo com
registro do mediador, do processo da mediao, anlise
documental, e as obras de arte expostas na galeria. Tem-
se como resultados a construo de uma Metodologia
para Mediao que envolve procedimentos das etapas
dos processos necessrios para uma mediao em
exposio em espaos artstico/culturais. A contribuio
-
58
da pesquisa ser disponibilizar para a Galeria de arte da
PROEX-UEPG, a metodologia criada para dar
continuidade a este processo de mediao que tm
pontuando resultados no que se refere mediao entre
as obras de arte e o pblico nas exposies visitadas.
Ainda pode-se tecer que o mediador aquele que recebe
o publico nas instituies de arte e tm por funo
tornar a visitao a mais significativa possvel,
esclarecendo ao pblico - receptor da arte, atravs da
mediao para a compreenso crtica da obra de arte, o
que caracteriza alm da pesquisa, possibilidade de
extenso de forma indissociada no desenvolvimento de
contextos artsticos e educativos mais amplos.
_____________________
1 Acadmica do Curso de Licenciatura em Artes Visuais
- UEPG, Bolsista PROVIC-UEPG,participante do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais,
-
59
Educao e Cultura GEPAVEC-CNPq/UEPG/PR,
Graduada em Licenciatura em Artes Plsticas e
Doutora em Educao, Professora e pesquisadora do
Departamento de Artes e atua no Curso de Licenciatura
em Artes Visuais e Msica, Coordenadora do Grupo
de Pesquisa em Artes Visuais, Educao e Cultura-
GEPAVEC-CNPq/UEPG,[email protected]
INTRODUO
Este estudo faz parte da Linha de Pesquisa
Artes Visuais, Educao e Cultura vinculada ao Grupo
de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais, Educao e
Cultura GEPAVEC - CNPq/UEPG/PR. Observar
imagens sem que se compreenda o seu sentido e o seu
valor, acaba tornando a atividade um ato mecnico e
sem significado para quem observa. Esta pesquisa teve
inicio pela preocupao em relao qualidade da
mediao e do mediador frente apreciao de obras de
arte no contexto de socializao em espaos de
exposies/mostras, inclusive em museus, e outros
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espaos abertos e pblicos, que contribuem
significativamente para a formao artstica e intelectual
de acessibilidade a todos, provocando a socializao da
cultura artstica. Estes espaos carecem de mediadores
que tem por funo estabelecer a mediao entre a obra
de arte, e o receptor para uma compreenso crtica da
arte. A mediao faz com que este contato entre a obra,
o artista e o apreciador, se torne mais amplo e que o
dilogo entre eles seja mais qualitativo, reflexivo e
crtico, transformando estes ambientes em espaos
educativos ampliados, com agendas de visitao
abrangendo as escolas da rede municipal, estadual e
particular, tornando esta atividade mais habitual no
cotidiano cultural, criando assim uma nova cultura e
conhecimentos da Arte.
Nesta direo o objetivo da pesquisa
Investigar, analisar e compreender como se d o
processo de mediao entre a obra de artistas e o
receptor/ observador, na compreenso e interpretao da
arte no espao da Galeria de Arte da Pr-Reitoria de
Extenso- PROEX- UEPG.Tornar habitual a
participao da comunidade local, bem como a
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participao de professores e alunos de escolas pblicas
e particulares e do meio acadmico, na participao em
mostras artsticas e exposies culturais; Promover
dilogos do artista e o pblico em relao as vivncias,
experincias e produo; Tornar o espao da Galeria de
Artes PROEX, mais freqentado e procurado para a
construo de conhecimento, formao e vivncia da
comunidade em geral e tambm a comunidade escolar,
para a compreenso da cultura artstica. Construir e
aplicar uma metodologia para Mediao, como
mediador do processo e dilogo entre a obra de arte e o
pblico.
A partir dos objetivos elencou-se algumas
questes de pesquisa, tais como: possvel construir
uma Metodologia para Mediao? Como se d o
processo de Mediao no espao de exposio
Artstica? Qual o caminho que o professor deve seguir
para trabalhar a Mediao em outros ambientes? Como
a criana, o jovem e o adulto analisam as obras de arte e
a partir desta anlise podem transformar o seu
conhecimento?
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MEDIAO, MEDIADOR, METODOLOGIA PARA
A MEDIAO
Pensar e desenvolver uma pesquisa tendo como
temtica e foco de investigao a Mediao, a funo de
mediador, e ainda buscar a construo de uma
metodologia para a mediao exige bases terica e
estudos mais aprofundados em relao a estas
categorias. Para isso algumas concepes, ainda que
com pouca produo cientfica nessa temtica, nos
permite trazer alguns conceitos norteadores que
fundamentam esta investigao.
Assim, segundo MARTINS mediao :
Provocao, no imposio de idias, mas leva o
aluno (publico em geral) a perceber ngulos inusitados
com diferentes perspectivas de seu prprio pensamento.
Ampliao de conhecimento, tem que fazer sentido e
relacionar com experincias para desenvolver o esttico
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estimulando e ressignificando o conhecimento
(MARTINS,2007,p.76)
Percebe-se que a Mediao Artstica e
Cultural necessita de mediadores que para
MARTINS(2007), e COUTINHO(2004), ainda que
com concepes aproximadas, destacam que o mediador
tm o seu papel importante e srio para uma mediao
significativa e de qualidade ,sendo que Martins explicita
que o papel do mediador o de ...Tornar
compreensvel a mediao como um importante papel
que o de difundir e intermediar as possibilidades e
relaes de integrao entre Arte e o receptor,na
compreenso da obra de arte. (MARTINS,2007,p.76)
Conforme o exposto acima pode-se dizer que,
para tornar compreensvel a mediao, preciso o
mediador estar embasado em alguns referenciais em
relao Leitura de imagem, e sendo assim,dotou - se
base terica e prtica em FELDMAN(1970),
HRNNDEZ (2000), PILLAR(1996),
FURNARI(2009) e SCHLICHTA(2006).
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Mas em FURNARI (2009) que buscou-se a concepo
de leitura de imagem:
Uma maneira importante, que traz informao, troca,
que alarga horizontes e permite a constante ampliao
dos nveis de conscincia humana. Em um sentido
menos comum, significando leitura visual. Essa outra
maneira de ler o mundo, no decifrando letras, mas
decifrando imagens. como se houvesse uma leitura
silenciosa, s vezes vaga, outras vezes precisa, feita no
por nosso lado racional, mas por nossas sensaes e
emoes. (FURNARI, 2009,s.p)
Entretanto, a Metodologia para mediao, sendo
construda pelos pesquisadores, engendra
procedimentos que so exigidos do mediador, e para tal
baseou-se nos procedimento de FRANZ(2008),
LISBOA(2004), MIRANDA;RESENDE(2006), para
construir uma Metodologia para a Mediao ainda em
processo de observao/construo da ao
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metodolgica da mesma para contextos de exposies
em Artes Visuais,da o significado e contribuio desta
investigao - ao em espaos culturais e artsticos.
METODOLOGIA DA PESQUISA: MATERIAS E
MTODOS
A abordagem qualitativa atravs da pesquisa
- ao. E, sendo assim, a ... pesquisa-ao requer uma
interveno na realidade pesquisada e seu entorno, e ...
representa um veio privilegiado para a discusso de um
dos maiores impasses enfrentados [...] a relao entre
teoria e prtica. MIRANDA;RESENDE(2006).
Tambm se elencou vrios Instrumentos de coleta de
dados, tais como a entrevista individual com o artista
expositor e com grupos focais como, os professores,
alunos acadmicos da universidade, alunos das escolas
estaduais, municipais e particulares, bem como alunos
de ateli da cidade e pblico em geral; Encontros pr-
exposio com o artista expositor e levantamento do
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currculo artstico e release das sries expostas; Dirio
de campo com registro do processo do exerccio da
mediao; Observao;Anlise documental; Portflio
das obras de arte expostas na galeria; Visitas
Monitoradas; Fotografia como registro.
RESULTADOS
Alguns resultados j so visveis, e dentre tantos
temos grande aceitao do pblico, como comunidade
em geral, professores e alunos das escolas da cidade,
artistas de ateli, e acadmicos da Universidade
Estadual de Ponta Grossa envolvidos e participantes da
pesquisa, no que diz respeito a colaborao e
compreenso da proposta e de seu papel fundamental
para o conhecimento. A realizao de encontros com o
Artista expositor e os acadmicos do Curso de Artes
Visuais, professores e alunos das escolas da rede
pblica. Realizou-se mais de trs mediaes por
exposio, sendo realizada um total de quatro
exposies iniciadas uma em maro,uma em abril e
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duas em maio de 2009, totalizando doze mediaes na
galeria da PROEX, resultando em um total de mais de
seiscentos e cinqenta participantes entre o pblico em
geral.
A procura e o interesse das escolas pelas visitas
Monitoradas confirmam o reconhecimento da atividade
do Mediador com o pblico ao orientar, esclarecer e
levar variados recursos para a compreenso critica da
obra de arte, como pode-se observar nas imagens
abaixo, alguns dos processos de mediao pelo
mediador (pesquisadora) na Galeria de Arte da Pr-
reitoria de Extenso da Universidade Estadual de Ponta
Grossa - UEPG/PR.
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Figura 3 - Acadmicos do curso de Licenciatura em Artes Visuais da UEPG com a Artista expositora Tnia Machado, na Galeria de Arte- PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.
Figura 4 Alunos do Atelier Cristina S de Ponta Grossa em conversa e observao dos quadros da exposio Cata - Vento e outras cores do artista expositor Manoel Fernando Croskey, de Curitiba,PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.
Figura 1- Mediao com os alunos da 7 srie do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro na Exposio Na Terra, no Vento da artista Plstica Tnia Machado, de Maring -PR.Galeria de Arte- PROEX-UEPG/PR.Fotografia Nelci Martins Fonte:Portflio das pesquisadoras.
Figura 2- Aluno do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro fazendo indagaes sobre as obras.Galeria de Arte PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.
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CONCLUSES
Figura 8 e 9 Mediao com acadmicos do Curso de Artes Visuais -UEPG-PR, na Galeria de Arte PROEX -UEPG/PR.Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.
Figura 6 e 7-Mediao com crianas e adultos, na exposio Diferenas de Erenilda e Celso Parubocz, na Galeria de Arte-. PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.
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Conclui-se que, exercer a mediao no se
trata apenas de uma funo de apoio, mas de instruo e
incentivo de educar o olhar descobridor, curioso e
indagante.
A prtica da atividade de Mediador, no uma
tarefa simples, mas possvel de ser realizada. Fazer
com que o observador interaja e compreenda as imagens
de uma forma diferente a que est habituado; essa
prtica o torna mais interessado, reflexivo e
freqentador de espaos destinados a Arte, como est
acontecendo com um dos espaos da pesquisa que o
espao da Galeria de Arte da Pr - Reitoria de Extenso
- PROEX-UEPG/PR.
Construiu-se uma metodologia que envolve a
participao do mediador em todos os processos que
antecedem a exposio, como entrevistas com o artista,
estudos da obra e biografia dos expositores, leituras
prvias, e posteriores a realizao das mediaes com o
pblico em geral e tambm com os grupos focais de
alunos, professores que agendam a visitao e que o
mediador recebe e concretiza a mediao como um
espao educativo do olhar desse pblico para uma
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compreenso crtica das obras em Artes Visuais. A
funo de intermediar o plano de expresso e de
contedo da obra de forma mais contextualizada, aos
receptores foi o que engendrou uma reflexo crtica
entre o mediador - a obra e o pblico. O Mediador por
meio do dilogo torna amplo o olhar do observador a
respeito da Arte e suas Visualidades, e tambm dos
ambientes em que ela pode ser apreciada e observada.
REFERNCIAS
COUTINHO, Rejane (etall). Estratgia de mediao
para a exposio Morte das Casas Nuno Ramos.
In: Arte em Pesquisa: especifidades. Anais da
ANPAP: Brasilia,2004.
FELDMAN, Edmund Bruke. Becoming human
trough art. New Jersey: Prentice-hall, 1970.
FRANZ, Teresinha Sueli. Mediao cultural, Artes
Visuais e Educao. Biblioteca on-line. Santa
Catarina, 2008. Disponvel em: http://www.rede-
educacaoartistica.org/docs/m_red/Teresinha%20Sueli%
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20Franz_Mediacao%20cultural%20Artes%20Visuais%
20e%20Educacao.pdf. Acesso em: 7 de Maro. 2009.
FURNARI,Eva. Leitura e Formao. Trazemos um
texto para pensar. Disponvel em:
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73
armadilhas do praticismo. Revista Brasileira de
Educao v. 11 n. 33 set./dez. 2006. Disponvel em:
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a11v1133.pdf.
Acesso em 13 de Maro, 2009.
SCHLICHTA, Consuelo A. B.D. Leitura de Imagens:
uma outra maneira de praticar cultura.
In:NUNES,Ana Luiza Ruschel(Org) Dossi de Artes
Visuais. Revista Educao Santa Maria (UFSM). V.
31 n. 02, pg. 353-366. 2006.
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74
O ENSINO DO TEATRO PARA ALUNOS
SURDOS DE 3 E 4 SRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Autoria: Mnica Stroparo, Faculdade de Artes do
Paran, Curitiba/PR.
1- INTRODUO
O presente artigo traz o relato de uma
experincia prtica de aplicao de Jogos Teatrais e
exerccios de expresso corporal para alunos surdos de
3 e 4 sries do ensino fundamental. resultado de uma
experincia de estgio com alunos surdos do ensino
mdio e, tambm motivada pelo interesse pessoal da
pesquisadora em estudar a metodologia de aplicao dos
contedos tericos e prticos da rea de teatro para
alunos com deficincia auditiva. Busca-se dessa forma,
o estudo da capacidade de desenvolvimento desses
alunos na prtica teatral, a convivncia com a
comunidade surda tendo em vista o aperfeioamento
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pessoal na lngua brasileira dos sinais (LIBRAS) e a
capacitao pessoal no ensino de teatro para alunos com
surdez, em virtude da carncia existente no universo de
trabalho de professores e intrpretes da LIBRAS.
Apesar de existirem muitos autores que
abordem metodologias de ensino do teatro, poucas so
as fontes que trazem uma metodologia especfica para
surdos. Tendo em vista a pertinncia desse
aprofundamento em funo da importncia da
comunidade surda na sociedade, sobretudo em tempos
de valorizao da diversidade cultural, estabelece-se
aqui a relevncia dessa pesquisa.
2- A COMUNIDADE E A CULTURA SURDA
Em nossa sociedade existem grupos de pessoas
com limitaes fsicas, sendo um deles (que possui uma
identidade cultural prpria) o dos Surdos. A lngua
materna desse grupo a Lngua Brasileira dos Sinais
(LIBRAS). necessrio fazer a distino entre os
conceitos de indivduo Deficiente Auditivo e de
indivduo Surdo. O Deficiente auditivo (D.A.) aquele
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indivduo que, por algum motivo (m formao
congnita, patologias durante o perodo fetal, patologias
que afetem o sistema auditivo, trauma fsico ou
psicolgico) perde total ou parcialmente a habilidade
normal para a deteco sonora de acordo com padres
estabelecidos pela American National Standars Institute
(ANSI 1989). O individuo Surdo aquele que nasceu
surdo e, diferente do D.A., assume uma identidade surda
e se reconhece como surdo perante a sociedade tendo
um bom convvio com a comunidade surda. A sua
lngua materna a Lngua Brasileira dos Sinais
(LIBRAS), esse indivduo geralmente pensa na forma
de conceitos e utiliza uma forma imagtica de
comunicao.
Uma caracterstica peculiar desse grupo social
a formao de uma cultura prpria, pois de acordo com
S (2006) a linguagem responsvel pela expresso da
cultura, sendo a cultura a formadora de cdigos dentro
de uma sociedade, como juzo de valor, a arte, a forma
de organizao, etc. Nenhuma outra limitao fsica
ocasiona esse processo de formao cultural como
ocorre com os indivduos surdos.
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77
Portanto a limitao auditiva faz com que a
compreenso de mundo pelos surdos se d de forma
diferenciada em relao aos ouvintes. A estrutura do
pensamento tambm diferente, pois ela construda
medida que as informaes que chegam at o indivduo
e so processadas por ele. Devido a essa relao
cultura/linguagem, se fazem indispensveis o
entendimento e a identificao da cultura surda para que
se parta para a elaborao e anlise de metodologias de
ensino para surdos. No caso do Teatro, tendo em vista
as metodologias de ensino j existentes, faz-se
necessrio um estudo para verificar a necessidade ou
no de adaptaes das mesmas para aplicao com
alunos surdos.
Rinaldi (1997) em seu artigo Metodologias
especficas ao ensino de surdos discute as trs principais
correntes metodolgicas, o Oralismo, a Comunicao
Total e o Bilingismo. O Oralismo baseado em
treinamento auditivo, desenvolvimento da fala e leitura
labial, ele s tem seu aproveitamento mximo quando
associado prtese que amplifica o resduo auditivo,
procurando reeducar auditivamente a criana surda,
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atravs da amplificao dos sons juntamente com
tcnicas especficas de oralidade. A Comunicao Total
trata-se de uma proposta flexvel no uso de meios de
comunicao oral e gestual, no est em oposio
utilizao da lngua oral, mas apresenta-se como um
sistema de comunicao complementar. Porm devido
s diferenas entre a gramtica da lngua de sinais e do
portugus, a comunicao total apresentou-se mais til
para os ouvintes do que para os surdos. Devido a essa
divergncia surgiu a orientao educacional que
considera a lngua de sinais, na sua forma genuna,
chamada Bilingismo. Para Ferreira Brito9 (1993) apud
Rinaldi (1997):
[...] numa linha bilnge, o ensino do portugus deve ser
ministrado para os surdos da mesma forma como so
tratadas as lnguas estrangeiras, ou seja, em primeiro
lugar devem ser proporcionadas todas as experincias
lingsticas na primeira lngua dos surdos (lngua de
sinais) e depois, sedimentada a linguagem nas crianas,
9 FERREIRA BRITO, Lucinda. Integrao social & educao de surdos. 1. Ed. Rio de Janeiro, Babel Editora, 1993.
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79
ensina-se a lngua majoritria, (a Lngua Portuguesa)
como segunda lngua.
Segundo Rinaldi (1997) A escolha pela
utilizao do mtodo do bilingismo o
reconhecimento de que a Educao interfere no meio
social e poltico da comunidade a qual pertence, e por
isso deve ser respeitada. Sendo assim a utilizao da
LIBRAS para o ensino aos surdos fundamental, pois
se trata da primeira lngua, ou seja a lngua da
comunidade a qual eles pertencem, possibilitando o
melhor entendimento e conseqentemente uma melhor
aprendizagem.
Sendo a questo do ensino de pessoas surdas
algo to relevante e ainda em construo pelos
pesquisadores, o teatro como forma de conhecimento
tambm deve ser acessvel populao com deficincia
auditiva. Porm, para que tal conhecimento seja
transmitido de maneira satisfatria necessria uma
anlise de metodologias que possam suprir as
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exigncias de comunicao inerentes ao indivduo com
deficincia auditiva.
3- MATERIAIS E METODOS
O Jogo Teatral uma maneira didtica de fazer
com que os alunos se esforcem para encontrar, atravs
de improvisaes de cena, uma soluo de conflito que
uma situao problemtica proposta. Koudela (1991)
afirma que no individual pode-se perceber a prpria
conscincia e no grupal tem-se a dinmica de todos os
movimentos no espao atravs da relao eu-espao-
outro.
Para Spolin (2000, p.3) todas as pessoas so
capazes de improvisar. As pessoas que desejarem so
capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. Um
dos aspectos do Jogo Teatral a Instruo10 que a
metodologia utilizada para que os jogadores mantenham
a sua ateno no foco do jogo. A instruo a
10 Traduo do termo original side-coaching que de acordo com Spolin (2000) provm da terminologia esportiva, sendo o tcnico (coach) aquele que instrui o time sobre as mudanas que deseja, porm sem interromper o jogo.
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orientao simples e direta dada pelo professor-diretor
atravs da voz sempre que o jogador desvia a ateno do
foco. Segundo Spolin (2000) quando o aluno ouve a
instruo pela primeira vez ele s necessitada ser
orientado a apenas ouvi-la e continuar o exerccio, sem
interromper a cena. Ao receber a instruo, o aluno
retoma a ateno para o que esta fazendo no palco e de
acordo com Spolin (2000) desperta a espontaneidade.
Os Jogos Teatrais so complementados com
atividades de expresso espontneas que de acordo com
Reverbel (1989) tem o objetivo de desenvolver a auto-
expresso do aluno, oferecendo-lhe oportunidades de
atuar efetivamente no mundo: opinar, criticar e sugerir.
uma maneira ldica, pedaggica e sutil de fazer com
que os alunos, no seu primeiro contato com teatro,
consigam realmente fazer teatro usando o que
aprenderam com o exerccio de solucionar os conflitos
ou problemas de uma maneira cnica e com a
descoberta de si mesmo e do outro.
A experincia aqui descrita consistiu na
aplicao prtica de Jogos Teatrais e exerccios de
expresso corporal para crianas surdas e foi
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desenvolvida durante as atividades do perodo de
estgio supervisionado contando com a participao de
seis alunos surdos, sendo uma menina e cinco meninos,
de faixa etria entre nove e dez anos de idade, da 3 e 4
srie do ensino fundamental, estudantes da Escola
Municipal Especial para Surdos Professora Ilze de
Souza Santos situada na Rua Joiville, 2024 no bairro
Vila Braga no municpio de So Jos dos Pinhais/PR. A
escola funciona em perodo integral, sendo que no
perodo da manh os alunos tm as disciplinas
curriculares e no perodo da tarde participam de
atividades educativas, jogos infantis, assistem filmes e
tambm aprendem a Lngua Brasileira de Sinais
(LIBRAS). As atividades foram desenvolvidas no
perodo vespertino durante duas horas semanais nos
meses de Setembro e Outubro de 2008, utilizando as
seguintes estruturas do espao escolar (ver anexo 1):
sala de aula pequena, sala de vdeo e saguo coberto.
As aulas foram ministradas utilizando o
bilingismo (LIBRAS e Portugus), pois esta a
maneira atualmente utilizada para o ensino de surdos e
tambm a metodologia adotada pela escola. A
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metodologia utilizada para aplicao dos exerccios foi
a dos Jogos Teatrais de Viola Spolin e teve como
objetivo principal o desenvolvimento da expresso
corporal dos alunos. A srie de exerccios evoluiu em
complexidade de maneira gradativa durante o perodo
do desenvolvimento das atividades. A seguir so
descritos alguns exerccios e jogos aplicados aos alunos.
O primeiro exerccio foi uma dinmica de
apresentao aliada movimentao corporal que
consistiu em formar um crculo com os alunos, e na
primeira fase, um aluno de cada vez fazia o seu sinal de
identificao11 e logo em seguida criava um movimento.
Na segunda fase o primeiro aluno fazia o seu sinal de
identificao pessoal e logo aps criava um movimento
ligado ao seu sinal. Em seguida o aluno seguinte
copiava o sinal e o movimento feito pelo colega e fazia
o seu sinal e movimento e assim sucessivamente at
completar o crculo.
11 Caracterstica especfica da cultura surda na qual cada pessoa recebe um sinal gestual para sua identificao, fazendo uma analogia com a linguagem verbal, o sinal de identificao teria o mesmo funcionamento de um apelido dentro de um grupo de conhecidos.
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Foram aplicados aos alunos os Jogos Teatrais
Quem comeou o movimento12, o Exerccio do
Espelho n.113, o Jogo do Onde14 que, no caso dessa
experimentao foi feito da seguinte forma: o aluno ia
at o palco e mostrava um lugar atravs de expresso
corporal, os colegas, que formavam uma platia
deveriam tentar adivinhar em que lugar o colega estava.
Um exerccio para desenvolver a conscincia
corporal aplicado aos alunos foi o de imitao de
imagens de revistas (ver anexo 2), a atividade consistia
em mostrar imagens de revista que continham pessoas
para que eles observassem e copiassem a posio e a
expresso facial, sendo que as formas foram analisadas
e corrigidas pelos prprios alunos. Foram aplicados
tambm exerccios de imitao de objetos, de letras do
alfabeto e de slabas com o corpo.
A expresso facial tambm foi trabalhada
atravs de um exerccio utilizando uma caixa de sapato.
O exerccio consistiu em passar uma caixa de sapato
12 SPOLIN, Viola. Improvisao para o teatro. So Paulo: Perspectiva, 2000 p. 61. 13 Idem. p. 55. 14 Idem, p. 91.
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vazia, a qual cada aluno abria e imaginava ver algo e
fazia uma expresso facial de acordo com o que