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  • 1

    ARTE-

    EDUCAO

  • 2

    A CONTRIBUIO DA PROPOSTA DE ENSINO-

    APRENDIZAGEM DO DESENHO DE OBSERVAO

    DESENVOLVIDO POR BETTY EDWARDS PARA A

    FORMAO DO PROFESSOR DE ARTE

    Autoria: Luiz Roberto Gonalves,

    Acadmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais da

    Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR

    Orientadora: Dra. Zeloi Aparecida Martins dos Santos

    Palavras-chave: Desenho de observao, Betty

    Edwards, Formao do professor de Arte.

    2. OBJETIVOS

    O objetivo do trabalho de pesquisa investigar e

    apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho de

    observao desenvolvido pela pesquisadora norte-americana

    Dra. Betty Edwards a um grupo de professores de arte da

    Faculdade de Artes do Paran FAP, relacionando o contedo

    do livro Desenhando com o lado direito do crebro (1984)

    com as teorias contemporneas de ensino de arte.

    A habilidade de representar o que se v atravs de

  • 3

    imagens utilizando lpis e papel, conhecida como desenho de

    observao, algo to simples de se adquirir quanto as

    habilidades de ler e escrever, dirigir um automvel, andar de

    bicicleta ou mesmo usar os recursos de um micro-computador.

    No mbito da educao no se trata de adquirir essa

    habilidade para se tornar artista profissional, nem de utilizar o

    desenho de observao como passatempo ou terapia

    ocupacional. E, muito menos, registrar as idias e a vida

    privada de um indivduo para que outrem analise os desenhos.

    Betty Edwards desenvolveu um mtodo de ensino-

    aprendizagem de desenho de observao que permite a

    qualquer estudante de qualquer disciplina aprender essa

    habilidade: representar o que v sua frente atravs de lpis e

    papel, de maneira rpida e eficaz.

    Seu livro Drawing on the right side of the brain (1979)

    foi traduzido para vrias lnguas e tornou-se best-seller1 na

    rea do desenho. No Brasil foi publicado em 1984, com

    traduo de Roberto Raposo, num contexto cultural marcado

    pelo final do regime militar (1964 a 1985). A busca por

    mudanas estava presente em todos os setores da sociedade.

    As diversas reas do conhecimento trabalhavam para recuperar

    1 Considera-se best-seller o livro que grande xito de vendas em livraria. (Ferreira, 1988)

  • 4

    o dficit deixando pela ditadura. A rea da educao pode ser

    tomada como um exemplo na busca de mudanas: a adaptao

    e criao de novos conceitos, reviso e criao de teorias para

    tomada de novos direcionamentos. Questionando e refutando o

    perodo de ditadura militar, para romper definitivamente com

    o quadro catico que apresentava a influncia norte-americana

    e o tecnicismo na educao.

    A obra de Betty Edwards no se vincula escola

    tecnicista, entretanto alguns educadores associam-na a essa

    concepo de ensino. O enfoque da autora uma possvel

    explicao terico-prtica do processo do desenho de

    observao, partindo das pesquisas do neurocientista Dr.

    Roger Wolcott Sperry sobre a bilateralizao dos hemisfrios

    direito e esquerdo do crebro humano. E a apropriao dessa

    habilidade, pelos estudantes, visando sua autoexpresso. O

    mtodo de Betty Edwards no se caracteriza como um manual2

    tcnico e sim como um mtodo3 de ensino-aprendizagem.

    O livro Desenhando com o lado direito do crebro foi

    o resultado da pesquisa da autora para obteno do titulo de

    doutor. Mas, as suas investigaes no se limitam a essa obra.

    2 Considera-se manual um pequeno livro que contm noes essenciais acerca de uma tcnica. (Ferreira, 1988). 3 Considera-se mtodo um caminho pelo qual se atinge um objetivo. (Ferreira, 1988).

  • 5

    Tambm escreveu outros livros sendo que o ltimo, com o

    ttulo Color: a course in mastering the art of mixing colors,

    ainda no foi traduzido para a lngua portuguesa.

    Entendemos que, aps 25 anos de sua publicao, faz-

    se necessrio realizar uma releitura do livro Desenhando com

    o lado direito do crebro. A prpria escola tecnicista e a

    nfase no uso de recursos didticos e objetivos instrumentais

    est sendo discutida e reinterpretada.

    A abordagem triangular, proposta por Barbosa (1991),

    evidencia a relao produzir-apreciar-contextualizar e o

    mtodo de Betty Edwards nos parece adequar-se a essa

    proposta. A teoria apresentada pela autora baseia-se nas

    pesquisas sobre o funcionamento e processamento de

    informaes do crebro humano (Springer e Deutsch, 1998) e

    seu valor prtico j foi aprovado, como se pode observar nos

    trabalhos de pesquisa de Titton que afirma que "Betty Edwards

    (...) proporciona s pessoas um desenvolvimento pessoal que

    excede as buscas de expresso por intermdio do desenho"

    (2000, p.120) e Carneiro que conclui: "o mais bonito ver nos

    olhos de cada aluno o brilho de alegria ao saber-se capaz de

    realizar coisas que at ento julgavam impossvel" (2000).

    A proposta de Betty Edwards pode ser trabalhada em

    um contexto interdisciplinar: a histria da influncia cultural

  • 6

    norte-americana sobre a cultura brasileira; com a histria da

    educao no Brasil e a diferena entre mtodo e manual; com

    a psicologia da educao, sobre a Gestalt e a bilateralizao

    dos hemisfrios cerebrais humanos; com a filosofia, sobre a

    mudana de paradigma; com a representao grfica, sobre o

    que os olhos vem e o que achamos que vemos,

    principalmente em desenho de perspectiva. Entre tantas outras.

    Contudo, entende-se que a falta de conhecimento a

    respeito da eficcia da proposta de Betty Edwards deve-se

    muito falta de uma abordagem e discusso da obra nos

    cursos de graduao para formao de professores de arte.

    Se o mtodo desenvolvido pela pesquisadora Betty

    Edwards propicia a apreenso dos cdigos artsticos e o

    ensino-aprendizagem em arte, por que esse mtodo continua

    sendo ignorado? Por que o livro Desenhando com o lado

    direito do crebro pouco utilizado em sala de aula, e nos

    cursos de formao de professores de arte? Qual o motivo de

    no se incluir as pesquisas de Betty Edwards nas investigaes

    sobre ensino e aprendizagem em arte?

    Apesar de ainda no haver comprovao cientfica, por

    parte de neurocientistas, o mtodo permite, em pouco tempo,

    com apenas alguns exerccios, desenvolver a habilidade do

    desenho de observao dos alunos, partindo do pressuposto de

  • 7

    que os dois hemisfrios cerebrais do ser humano processam as

    informaes visuais percebidas atravs do aparelho da viso,

    de modos diferentes. O estmulo do processamento das

    informaes visuais pelo hemisfrio direito seria o responsvel

    pela eficcia do mtodo de Betty Edwards.

    Justifica-se este trabalho de pesquisa porque ainda

    existem professores e pesquisadores do ensino de arte que

    desconhecem ou conhecem parcialmente a obra de Betty

    Edwards, sua aplicabilidade, importncia e contribuio para o

    ensino de arte.

    3. MTODOS

    Este trabalho tem carter exploratrio com

    delineamento de levantamento de informaes. Inicialmente

    ser realizada a reviso bibliogrfica, tanto da obra de Betty

    Edwards, como de diversos tericos da educao e do ensino

    de arte de modo a clarificar as concepes de ensino e

    aprendizagem. Sero considerados os livros de Betty Edwards,

    tanto os originais, em ingls (1986, 1999, 2002 e 2004)4, como

    as quatro tradues para o portugus (1984, 2000, 2002 e

    4 O primeiro livro de Betty Edwards, de 1979, saiu de catlogo nos Estados Unidos.

  • 8

    2003). Tambm o livro sobre desenho de observao de Philip

    Hallawell (1999) que prope um curso de desenho a partir do

    livro Desenhando com o lado direito do crebro e dissertaes

    e artigos sobre o ensino-aprendizagem do desenho de

    observao publicados pela Associao Nacional de

    Pesquisadores em Artes Plsticas ANPAP, e nas diversas

    Universidades brasileiras, nos ltimos anos. Sero tambm

    consideradas as publicaes dos tericos da educao e da

    pesquisa: Silvio Zamboni (1998), Ana Mae Barbosa (1991 e

    2002), Fayga Ostrower (1987) e Fernando Hernandez (2000).

    Sero aplicados alguns exerccios propostos por Betty

    Edwards para um grupo de professores de ensino de arte da

    Faculdade de Artes do Paran FAP, por meio da organizao

    de uma oficina. Sero apresentadas as caractersticas principais

    das cinco obras de Betty Edwards e proposto a discusso e a

    anlise do mtodo de ensino aprendizagem de desenho de

    observao proposto pela autora sob a ptica das teorias

    contemporneas de ensino de arte.

    A coleta de dados ser efetuada por questionrios

    iniciais e finais, que devero ser elaborados antecipadamente

    seguindo metodologia apropriada, pela coleta dos desenhos

    realizados pelos participantes na oficina, pela gravao de

    depoimentos dos participantes e transcrio dos dados para

  • 9

    texto escrito e pela gravao de imagens da aplicao do

    mtodo na oficina proposta.

    A anlise dos dados ter carter qualitativo. Sero

    analisados os questionrios, os desenhos e os depoimentos dos

    participantes da oficina buscando correlaes, comparaes e

    distines obtendo, assim, informaes para a formulao da

    concluso final.

    4. RESULTADOS PARCIAIS

    No trabalho de pesquisa realizado para o Programa

    Institucional de Iniciao Cientfica (2007/2008) foram

    realizadas leituras sistematizadas dos quatro livros de Betty

    Edwards traduzidos para o portugus, alm de autores

    contemporneos que tratam de assuntos correlatos como

    Gardner (1999) e Springer e Deutsch (1998), e levantadas as

    questes que envolvem a habilidade do desenho de observao

    e sua relao com o processamento de informaes pelo

    hemisfrio direito do crebro humano.

    O levantamento a respeito do assunto apontou uma

    quantidade significativa de pesquisas e de artigos publicados

    em diversas instituies brasileiras de ensino superior:

    Universidade Federal do Paran UFPR, Pontifcia

    Universidade Catlica de Campinas, Pontifcia Universidade

  • 10

    Catlica do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual

    Paulista UNESP e por diversos pesquisadores da arte-

    educao: DORFMAN, CARNEIRO, ANDRADE, GARCIA-

    CAIRASCO, RIGHETTO e TITTON.

    Hallawell diz que a primeira coisa que o motivou a

    escrever seu livro A mo livre (1999) foi o desejo de valorizar

    o desenho e resgat-lo de um emaranhado de noes

    equivocadas. Ele diz ter percebido que havia uma crescente

    tendncia de confundir o academicismo com o exerccio do

    desenho de observao e o desenho realista. Afirma ainda que

    "esta confuso fez com que se estabelecesse o conceito de que

    o desenho de observao inibe a criatividade (1999, p. 09). O

    livro de Hallawell utiliza como base os exerccios propostos

    por Betty Edwards assim como Harary e Weintraub utilizam

    em seu livro Aprendizado com o lado direito do crebro em 30

    dias (1993) um desses exerccios mais famosos: o desenho

    com a referncia virada de cabea para baixo. Este exerccio,

    que serviu de base para a tese de doutorado de Betty Edwards

    j vinha sendo proposto pelo professor de design Jay Doblin,

    em 1956, mas, como afirma o artista e professor Maurcio

    Porto, no prefcio da primeira traduo brasileira, "o grande

    mrito da Dra. Betty Edwards ter dado um fundamento

    cientfico a todo esse conhecimento intuitivo" (Edwards, 1984,

  • 11

    p.7)

    Autores americanos como Tony Schwartz (1995) e

    Daniel Pink (2007), incluram em seus livros suas experincias

    pessoais fazendo os exerccios de Betty Edwards e associando

    a autora a uma nova era. Pink explica que, graas Betty

    Edwards, as pesquisas pioneiras de Sperry foram difundidas

    para vrios pases e prev que, no futuro, as mentes criativas

    tero mais chances de trabalho.

    De acordo com o artigo de Righetto (2001), o mtodo

    de Betty Edwards est sendo utilizado na disciplina Desenho

    A do curso de Engenharia Civil da Pontifcia Universidade

    Catlica de Campinas PUC, visando uma nova filosofia no

    ensino de desenho. Esta utilizao, conforme os dados

    estatsticos apresentados diminuiu o ndice de desistentes da

    disciplina.

    Titton, em sua dissertao de mestrado, em 2000, fez

    uma pertinente associao entre as idias expostas por Betty

    Edwards com a teoria filosfica de Merleau-Ponty alm de

    verificar o resultado da aplicao dos exerccios com alunos da

    escola de arte Pro-Criar.

    O livro Desenhando com o lado direito do crebro

    referenciado em pesquisas e trabalhos de autores respeitveis

    como Gardner (1999).

  • 12

    O trabalho de pesquisa revelou que, o mtodo de Betty

    Edwards associado, pelo senso comum, neurocincia,

    psicologia, tcnica e auto-ajuda. E, realmente, sua

    aplicao nessas reas pertinente. Porm, verificamos em

    estudos preliminares a respeito do mtodo, que na rea da

    educao que Betty Edwards tem desenvolvido toda a sua

    pesquisa. Portanto, nessa rea que pretendemos desenvolver

    nossas investigaes.

    Partindo dessa constatao, optou-se, nesta pesquisa,

    por apresentar o mtodo de ensino-aprendizagem de desenho

    de observao proposto pela autora e aplicar alguns exerccios

    do livro Desenhando com o lado direito do crebro, com um

    grupo de professores de arte da Faculdade de Artes do Paran

    FAP visando obter um material de anlise significativo

    acerca do mtodo e dos resultados da aplicao dos exerccios

    do mtodo em questo.

    5. CONCLUSO PARCIAL

    H evidncia de que a falta de conhecimento a respeito

    do contedo do livro Desenhando com o lado direito do

    crebro, por parte de alguns professores de arte, no contexto

  • 13

    brasileiro, est associada falta de oportunidade de conhec-lo

    durante sua formao acadmica.

    Os resultados da aplicao dos exerccios com o grupo

    de professores de arte, alm de seus depoimentos, permitiro

    um levantamento de dados significativo para uma melhor

    compreenso do porqu do livro Desenhando com o lado

    direito do crebro permanece desconhecido para alguns

    professores de arte.

    6. REFERNCIAS

    ANDRADE, Andria Faria; ARSIE, Keilla Cristina; CIONEK,

    Odete Mariza e RUTES, Vanessa Pedro Bom. A contribuio

    do desenho de observao no processo de ensino

    aprendizagem. Curitiba: UFPR, 2007. disponvel em

    Acesso em: 09 abr. 2009.

    BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino de

    arte: anos oitenta e novos tempos. So Paulo ; Porto Alegre :

    Perspectiva : Fundao IOCHPE, 1991.

  • 14

    _____. John Dewey e o ensino da arte no Brasil. 5 rev. aumen.

    So Paulo : Cortez, 2002.

    CARNEIRO, Celeste. A arte e o crebro no processo da

    aprendizagem. Disponvel em

    em 26.ago.2006.

    DORFMAN, Beatriz Regina. Pensar sem palavras ou a

    biologia do desenho. Porto Alegre: PUC-RS Pontifcia

    Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, 2007. Disponvel

    em:

    Acesso em: 09 abr. 2009.

    EDWARDS, Betty. Color: a course in mastering the art of

    mixing colors. New York: Jeremy P. Tarcher/Penguin, 2004.

    _____. Desenhando com o artista interior. Traduo de Maria

    Cristina Guimares Cupertino. So Paulo: Claridade, 2002.

    _____. Desenhando com o lado direito do crebro. 2a edio.

    Traduo de Ricardo Silveira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

  • 15

    _____. Desenhando com o lado direito do crebro. Traduo

    de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint, 1984.

    _____. Drawing on the artist within. New York: Simon &

    Schuster, Inc., 1986.

    _____. Exerccios para desenhar com o lado direito do

    crebro. Traduo de Heitor Pitombo. Rio de Janeiro:

    Ediouro, 2003.

    _____. The new drawing on the right side of the brain. New

    York: Jeremy P. Tarcher / Putnam, 1999.

    _____. The new drawing on the right side of the brain

    woorkbook: guide practice in the five basic skills of drawing.

    New York: Jeremy P. Tarcher / Putnam, 2002.

    GARDNER, Howard. Arte, mente e crebro. Traduo de

    Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1999.

    _____. Mentes que criam: uma anatomia da criatividade

    observada atravs das vidas de Freud, Einstein, Picasso,

    Stravinsky, Eliot, Grahan e Gandhi. Traduo de Maria

  • 16

    Adriana Veronese. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1996.

    FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Dicionrio Aurlio

    bsico da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

    1988.

    GARCIA-CAIRASCO, Norberto. Crebro Fisiolgico, revista

    Crebro & mente. Ncleo de Informtica Biomdica

    Universidade Estadual de Campinas. Publicado em:

    15.jan.2000. disponvel em:

    em 26.ago.2006.

    HALLAWELL, Phillip Charles. A mo livre: a linguagem do

    desenho. 11 ed. So Paulo: Companhia Melhoramentos, 1999.

    HARARY, Keith e WEINTRAUB, Pamela. Aprendizado com

    o lado direito do crebro em 30 dias: o programa da mente

    integral. Traduo de Maria Clara de B. W. Fernandes. Rio de

    Janeiro: Ediouro, 1993.

    HERNNDEZ, Fernando. Cultura visual: mudana educativa

    e projeto de trabalho. Traduo de Jussara Haubert Rodrigues.

  • 17

    Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 2000.

    NICOLAIDES, Kimon. The natural way to draw: a working

    plan for art study. Boston: Houghton Mifflin, 1969.

    OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criao. Ed.

    20. Petrpolis: Vozes, 1987.

    PINK, Daniel H. O crebro do futuro: a revoluo do lado

    direito do crebro. Traduo de Alexandre Feitosa Rosas. Rio

    de Janeiro: Elsevier / Campus, 2007.

    RIGHETTO, Adriana Volpon Diogo. Percepes visuais e

    suas representaes. Disponvel em:

    ,

    pela Universidade Federal de Uberlndia UFU. Acesso em

    30 de agosto de 2008. Campinas: Pontifcia Universidade

    Catlica, 2001.

    SCHWARTZ, Tony. What Really Matters: searching for

    wisdom in America. New York: Batam Books, 1995.

    SPRINGER, Sally P. e DEUTSCH, Georg. Crebro esquerdo,

  • 18

    crebro direito. Traduo de Thomaz Yoshiura. 3. ed. So

    Paulo: Summus, 1998.

    TITTON, Elizabeth. Ensinando desenho atravs do olhar:

    mtodo inovador de ensino de Betty Edwards. Curitiba: 2000.

    UFPR. Biblioteca de Educao.

    ZAMBONI, Slvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte

    e cincia. Campinas: Autores Associados, 1998.

  • 19

    A Ordem do olhar: percepes claras e confusas

    Autoria: Angelo Jos Sangiovanni,

    Faculdade de Artes do Paran, Curitiba-PR.

    1- Objetivos:

    O objetivo principal do trabalho , por um lado,

    analisar a mudana que ocorreu na percepo a partir da

    ruptura que a filosofia recm criada por Plato, imps a

    educao grega. Plato separou e baniu da objetividade do

    conhecimento qualquer percepo que trate da subjetividade e

    emoes. Por outro lado, apontamos a soluo proposta por

    Kant para dar conta da subjetividade das percepes estticas

    por meio da comunicabilidade entre os emissores dos juzos.

    2- Mtodos e Resultados

    Nos primrdios da Grcia antiga o conhecimento era

    obtido pela tradio oral. A poesia e a epopia eram os meios

    orais de transmisso da tradio. A ordem do mundo era

    estabelecida na relao de culto. A tragdia apresentada no

    espao da polis grega possibilitava ao cidado grego se ver

  • 20

    refletido. A obra dipo Rei de Sfocles no era uma fico,

    dipo no era somente um personagem, era a prpria essncia

    da condio Grega. O mundo era percebido pela ao de seus

    heris.

    A tradio oral de conhecimento atacada por Plato

    principalmente no livro X da Repblica. Para Plato

    fundamental excluir da cidade a poesia de carter mimtico,

    pois destri a inteligncia dos ouvintes.

    No livro VII da Repblica Plato apresenta a alegoria

    da caverna, bem conhecida na pedagogia. Plato supe que

    desde o nascimento seres so aprisionados dentro de uma

    caverna, com o rosto voltado para o fundo, no qual so

    projetadas sombras dos objetos ou seres que passam do lado de

    fora. A realidade para os prisioneiros so as sombras, as cpias

    da realidade exterior. A alegoria ilustra o ponto central da

    teoria do conhecimento de Plato: que para atingirmos o

    mundo cognoscvel necessrio fazer um grande esforo para

    voltar nossa alma em direo do que justo e belo. A correta

    direo do olhar neste caso impe romper as correntes e voltar

    a cabea e o pescoo para a entrada da caverna.

    O conhecimento para Plato encontra-se em um

    mundo superior afastado da confuso das percepes mutveis

    dos sentidos. Plato inaugura a crena na verdade justificada

  • 21

    por argumentos da razo, o dialogo substitui o mito. A

    filosofia e a cincia surgem com Plato para evitar o mal

    entendido. A verdade para o velho filsofo, no est separada

    de um agir correto: o ser deve direcionar o olhar em direo ao

    justo e ao belo.

    Mas, o que devemos evitar para olharmos

    corretamente? A subjetividade. Os sentimentos so os

    descaminhos, afastam do caminho da verdade. Retomando a

    crtica de Plato poesia encontramos o pilar da distino

    entre o conhecimento que claro, luz, inteligvel por um lado,

    e a ignorncia que escura, confusa, sombras.

    Podemos criticar a concepo ontolgica de Plato

    onde o verdadeiro confunde-se com o que a essncia.

    Todavia, a recusa desta concepo no evita a distino

    surgida entre um tipo de percepo clara e outro tipo que

    confusa e deve, por isso, ser banida do cognoscvel. A crtica

    que Plato fez em relao poesia parte do pressuposto tico

    que os poetas faltam com a verdade ao falarem de coisas que

    no sabem.

    Felizmente, ou infelizmente, de tempos em tempos

    necessrio discutir com os primeiros representantes do

    conhecimento ocidental, neste caso Plato. A discusso

  • 22

    reaparece porque em algum aspecto eles ainda causam

    incmodos.

    A crtica que Plato fez em relao poesia parte do

    pressuposto tico que os poetas faltam com a verdade ao

    falarem de coisas que no sabem.

    Kant na Crtica da razo Pura pretende encontrar os

    limites do conhecimento humano. O espao e o tempo so

    condies necessrias para o conhecimento de um objeto. No

    possvel para Kant determinarmos um objeto se no tivermos

    previamente o espao. O senso comum poderia afirmar que ao

    retirarmos um copo de cima de uma mesa encontramos o

    espao, seria pela ausncia do objeto que obteramos o espao.

    Deste modo, temos o espao como palco de nossas

    percepes e ao determinarmos um objeto temos claro o que o

    distingue dos outros. Por exemplo, em uma sala repleta de

    cadeiras e mesas fcil distinguir as mesas das cadeiras. Kant

    afirmaria que neste mltiplo de percepes temos o conceito

    da mesa que distingue e objetiva o objeto mesa. uma

    percepo clara, pois temos o conceito e a intuio do objeto.

    Os juzos lgicos do conhecimento so determinados, claros

    Todavia, o problema de determinar um juzo ou

    julgamento que no se submete aos moldes tradicionais

    lgicos do conhecimento reconhecido por Kant. Na Crtica

  • 23

    do Juzo Kant pretende resolver o problema dos juzos que no

    se submetem as regras lgicas tradicionais, a saber, os

    estticos:

    Para distinguir se algo belo ou no, referimos a

    representao, no pelo entendimento do objeto, para o

    conhecimento, mas pela imaginao (talvez vinculada com o

    entendimento) ao sujeito e ao sentimento de prazer ou

    desprazer. O juzo de- gosto no , pois, um juzo de

    conhecimento, portanto no lgico, mas esttico, pelo que se

    entende aquele cujo fundamento-de-determinao no pode

    ser outro do que subjetivo. (KANT p. 209. 1984)

    Para Kant o julgamento esttico subjetivo e

    reflexivo, pois trata do sentimento do sujeito que faz o juzo. O

    olhar do sujeito nico, mas no a pretenso de comunicar

    este olhar quando suponho esta capacidade nos outros.

    Consideraes Parciais:

    Dois plos antagnicos na tradio filosfica so

    referencia a discusso sobre a clareza das percepes

    estticas. Plato no sculo IV AC, notou a falta de objetividade

    nos julgamentos que tinham como contedo os sentimentos, e

  • 24

    por isso, os achou perigosos ao serem tomados como

    conhecimento. O olhar poderia ser desviado do caminho da

    verdade e ser confundido por mmesis, simulacros, da

    realidade.

    Kant admite que seja possvel universalizar a

    capacidade de percebemos subjetivamente sensaes iniciando

    a esttica como uma cincia que pretende classificar as

    proposies subjetivas em relao ao sentimento de prazer e

    desprazer.

    A questo da obscuridade das percepes relativas aos

    sentimentos continua. Alguns autores apontam necessidade

    de uma justificao que vai alm do esttico, e procuram uma

    instncia exterior como a tica para tornar justificvel o

    fenmeno esttico.

  • 25

    REFERNCIAS:

    HAVELOCK , E. Prefcio a Plato. Campinas: Papirus,

    1996.

    JAEGER, W. PAIDIA: a formao do homem grego. So

    Paulo: Martins Fontes, 1995.

    KANT, I. Textos selecionados. 2.ed. So Paulo: Abril

    Cultural, 1984.

    PLATO. A Repblica. 3ed. Lisboa: Fundao Calouste

    Gulbenkian, 1980.

    ROSENFIELD, D. et al. tica e Esttica. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar 2001.

  • 26

    A PRESENA DE CONTEDOS DE ARTE NOS

    COMPNDIOS OU MANUAIS DE FORMAO

    DE PROFESSORES ADOTADOS NO ESTADO DO

    PARAN NO PERODO DE 1834 A 1900.

    Autoria: Daniele Cristina Mendes - Faculdade de Artes

    do Paran, Curitiba - PR.

    Co-autora: Marlete dos Anjos Silva Schaffrath-

    Orientadora

    Apresentao

    A pesquisa investiga os processos de formao

    de docentes no Estado do Paran, bem como os

    elementos do ensino de artes nos primrdios desta

    formao, fatores estes importantes para a ampliao

    dos conhecimentos e aprimoramento da formao do

    acadmico de licenciatura.

    Este projeto se vincula linha de pesquisa

    Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa

    Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade. Nossa

    inteno aqui investigar alguns aspectos do processo

  • 27

    da formao docente no Paran (1834 - 1900) no que se

    refere aos contedos de Artes contidos nos Manuais ou

    Compndios utilizados por professores paranaenses no

    perodo em questo. Essa pesquisa constitui pelo

    levantamento e anlise fontes tanto documentais quanto

    bibliogrficas, com a inteno de revelar aspectos do

    conhecimento cultural e histrico da formao docente

    paranaense para o ensino das Artes e a educao em

    geral.

    Julgamos importante a pesquisa de iniciao

    cientfica para os acadmicos de cursos de graduao

    por que ela pode subsidiar o trabalho de desvendamento

    cientfico da realidade, na medida em que as anlises e

    reflexes nos ajudam a compreend-la. Discutir

    aspectos da formao cultural brasileira pelo estudo da

    histria da educao e do ensino de arte nas escolas

    um modo de estabelecer significados para a

    compreenso do estado da arte da educao artstica no

    Brasil, o que para os cursos de licenciatura em artes de

    fundamental importncia.

    Alguns estudos realizados at o momento

    apontam o seguinte: a Instruo brasileira ganha

    incentivo aps a vinda da famlia Real portuguesa para o

  • 28

    Brasil em 1808, de acordo com Aranha (1996). At este

    perodo, os professores no tinham apoio pedaggico

    para subsidiar seus trabalhos no magistrio. Eles

    ensinavam basicamente o que aprendiam com seus

    mestres, segundo Tanuri (1969).

    A partir de 1869, os compndios ou manuais de

    pedagogia comearam a ser trazidos da Europa a fim de

    preparar os professores para o exerccio de suas funes.

    Segunda Schaffrath (1999) estes compndios traziam

    contedos diversificados. Tais contedos variavam de

    conhecimento geral das cincias formao moral para

    os alunos.

    Com isso o objetivo do projeto se encaminhara

    em investigar a presena de contedos de arte nos

    compndios e manuais de formao de professores

    adotados no Estado do Paran no perodo de 1834 a

    1900. Pretendemos primeiramente levantar dados sobre

    a utilizao dos compndios adotados no Estado do

    Paran no perodo de 1834 a 1900. E a partir da

    investigar a presena de contedos relacionados s artes

    nestes compndios, e ainda analisar o teor dos

    contedos de arte presentes nos compndios adotados.

  • 29

    Mtodos

    A pesquisa est sendo baseada no levantamento

    e catalogao de fontes primrias e secundrias do

    perodo compreendido entre os anos de 1834 e 1900. Os

    dados levantados sero analisados a partir de

    referenciais tericos e bibliogrficos previamente

    selecionados pelo professor orientador. Aps a anlise

    destes dados ser elaborado um texto expondo os

    conhecimentos revelados pela pesquisa e, por fim, ser

    feita a socializao destes conhecimentos atravs de

    publicaes.

    O material de pesquisa ser buscado no acervo

    das Bibliotecas das Universidades Federais de Santa

    Catarina e do Paran, biblioteca da Faculdade de Artes

    do Paran e Arquivo Pblico do Estado do Paran. Este

    material compreende os documentos oficiais da

    Instruo Publica da Provncia Paranaense, como os

    relatrios dos Presidentes da Provncia, os documentos

    oficiais e os manuais adotados aqui, alm da literatura

    especfica sobre este tema.

  • 30

    Resultados

    O perodo regencial no Brasil foi um dos mais

    agitados da histria poltica do pas. Perodo este

    marcado por confrontos relativos a territrios,

    organizao da sociedade e do Estado, tambm por uma

    serie de rebelies regionais. Lembrando que o Brasil

    antes de se tornar independente e entrar nesse perodo

    regencial, recebeu em 1808 a corte portuguesa, ou seja,

    sua metrpole. A corte trouxe consigo novos padres

    culturais: a biblioteca real, o primeiro jornal, utenslios,

    roupas, modo de se vestir, falar e comer, alm de

    mudana no perfil poltico e econmico.

    No final do sculo XIX, a sociedade brasileira

    vive um perodo de transformao em diversos mbitos.

    Na economia, por exemplo, o Brasil tem como base o

    caf que contribuiu para a soluo da crise econmica e

    para o desenvolvimento dos setores urbanos, como

    indstria e as ferrovias, o latifndio, a monocultura e a

    mo de obra escrava, essas que foram sendo substitudas

    pelos imigrantes, tambm se destacam. J na sociedade

    ocorria uma diviso de setores de classes. A primeira era

    composta pelos homens brancos, pertencentes s boas

  • 31

    famlias, a segunda era o povo, que inclua brancos,

    mestios e negros libertos. E o terceiro setor social era o

    das camadas mdias urbanas, integrado por profissionais

    mais qualificados e que viviam do rendimento do seu

    trabalho. Assim o Brasil do sculo XIX foi

    conquistando uma nova identidade, a modernizao

    nessa poca foi intensa. Centenas de indstrias, alguns

    bancos, companhias de seguros, navegao, transporte

    urbano (antigas carruagens foram substitudas pelos

    bondes puxados a burros) e de gs (MOTA, 1998).

    No que se refere educao e mais

    especificamente formao de professores, Heloisa

    VILELLA (1992) argumenta que a Escola Normal

    pblica e laica se prolifera na Europa no sculo XIX,

    mas a idia, ou seja, seu nascimento ocorre durante a

    Revoluo Industrial. Foi a primeira instituio

    especializada em formar o professor, seu objetivo inicial

    era instruir o povo.

    Esse objetivo tratava-se de derrubar o

    monoplio que a Igreja tinha sobre todo o sistema de

    educao. Quem contribuiu para o nascimento dessa

    instituio que trabalharia com a formao dos

    professores leigos foi o movimento humanista, o

  • 32

    pensamento iluminista e a organizao dos modernos

    sistemas estatais de ensino. Porm a Escola Normal no

    teve uma longa existncia, diz Villela, por causa do

    perodo conturbado que a sociedade vivia na poca

    ocorreu sua extino, que acabou no inicio do sculo

    XIX, pelo fato da escola ser vista como uma instituio

    capaz de garantir a unidade nacional, por ter como

    ferramenta a transmisso de contedos e os valores

    culturais e morais, prometendo assim a formao do

    cidado a e dos futuros dirigentes do Estado.

    A autora destaca ainda, como esse modelo da

    Escola Normal europia influenciou no Brasil e como

    fcil identificar a histria do Brasil como um reflexo da

    histria europia na educao.

    Foi na provncia do Rio de Janeiro em 1834

    aps o Ato Adicional, que o partido conservador

    representado por Joaquim Jos Rodrigues Torres, teve a

    idia de organizar uma Escola Normal onde formariam

    os professores da Provncia.

    Percebemos ento, como e com quais

    objetivos foram criadas as escolas normais. Mas o que

    precisava como requisito, para ingressar nessas escolas?

  • 33

    Que conhecimentos eram passados para ocorrer a

    formao do professor no perodo regencial?

    Vilella (1992) responde essas inquietaes

    colocando um documento criado pela Escola Normal de

    Niteri. O documento exigiu boas condies morais do

    indivduo do que a prpria formao intelectual.

    Constava o seguinte no documento: o

    indivduo deveria ser cidado brasileiro, maior de

    dezoito anos, com boa morigerao e saber ler e

    escrever. A boa morigerao descrita no documento,

    quer dizer que o indivduo ser avaliado pela sua moral,

    bons costumes, boa educao. Isso porque o governo

    no pretendia oferecer ao futuro professor da escola

    primaria uma formao aprofundada em contedos mais

    sim uma formao moral e religiosa, pois os dirigentes

    da provncia estavam preocupados em ordenar, controlar

    e disciplinar do que instruir. Assim eles usavam o

    mtodo lancasteriano, tendo a garantia que a ordem e a

    vigilncia ocorreriam.

    Com esses requisitos a autora mostra quem

    eram os candidatos excludos na Escola Normal. Os

    escravos, no eram considerados pessoas; os homens

    livres e pobres, pois no tinham direito a voto; os negros

  • 34

    e as mulheres, no caso das mulheres a seleo no era

    to rigorosa. A primeira Escola Normal recebeu

    mulheres como alunas, mas elas teriam que ter

    basicamente o domnio das prendas domesticas e dos

    ensinamentos religiosos. Recordando que essa

    classificao de indivduos para serem futuros

    professores era feita com o objetivo de formar docentes

    como um agente disseminador de uma mentalidade

    moralizante do que um difusor de conhecimentos, pois

    na educao e na poltica em geral o que deve se

    legitimar a supremacia do partido conservador da

    provncia.

    No artigo de Claudia Maria ALVES (1992),

    encontramos tambm os requisitos para ingressar na

    Escola Normal, e como era feita a formao do docente

    de instruo primaria. A formao docente, que alm de

    ter uma classificao, o docente se formaria para

    exercer um papel domesticador, freiando os instintos e

    estabelecendo o domnio de valores superiores. Sua

    formao se baseava em estudar a gramtica da lngua

    nacional; aritmtica; lgebra e geometria elementar; o

    catecismo; a religio do Estado e didtica; o Francs, a

    msica e o canto. O futuro professor recebia contedos e

  • 35

    valores voltados a moral e a religio, que se fortalece a

    unidade social.

    O sculo XIX no Brasil, com suas mudanas

    no quadro poltico, econmico e social, a escola era

    vista como uma ferramenta que podia moldar os

    indivduos para eles se adaptarem e encaixarem nesse

    sistema. Por isso a necessidade de formar professores

    comea a ser encarada de forma delicada, pois so esses

    que iram moldar o indivduo para o Estado. Logo

    ganha mais ateno as Escolas Normais, sendo essas

    vistas neste sculo como uma ao mais eficiente.

    Na provncia de So Paulo o modelo da Escola

    Normal, no foi diferente da provncia do Rio de Janeiro

    que teve a primeira Escola Normal de Niteri.

    A alem Ina Von Binzer, que viveu no Brasil

    entre 1881 e 1883, conta em uma carta para uma amiga

    na Europa sua opinio sobre a cultura brasileira da

    poca.

    S. Paulo, 5 de abril de 1882. Minha Gente do corao.

    verdade mesmo: So Paulo o melhor lugar do Brasil

    para educadoras, tanto a capital, como toda a

    provncia, porque os moos da nova gerao namoram

  • 36

    a cincia e do-se ares de erudio e de filosofia.

    Somos uma cidade universitria! Mas no pense em

    Bonn ou Heigelberg, pois a academia daqui no seno

    uma Faculdade de Direito. No interior da provncia h

    um seminrio onde se preparam padres (esqueci o nome

    do lugar), aqui formam-se advogados e no Rio de

    Janeiro os discpulos de Esculpio, os doutores par

    excelence`. Os brasileiros do timos advogados,

    podendo dessa forma aproveitar seu talento

    declamatrio. Do a vida por falar, mesmo quando

    para no dizer nada. Com a eloqncia que esbanjam

    num nico discurso, poder-se-iam compor facilmente

    dez em nossa terra; embora no possuam verdadeira

    eloqncia nem marcada personalidade, falando todos

    com a mesma cadncia tradicional usada em toda e

    qualquer circunstancia. Tudo exterior, tudo

    gesticulao e meia cultura. O fraseado pomposo, a

    eloqncia enftica j so por si falsos e teatrais; mas

    se voc tirar a prova real, se indagar sobre qualquer

    assunto , no se revelam capazes de fornecerem a

    informao desejada. H pessoas na alta direo do

    Partido Republicano que no conhecem a histria nem

    a constituio do pas nem muito menos as das outras

  • 37

    naes. H outros que se dizem partidrios do sistema

    filosfico do espiritual Comte, mais no compreendem

    os seus mais elementares ensinamentos. Alguns do

    opinio sobre lnguas estrangeiras, mas no sabem

    explicar nenhuma regra da sua prpria. Querem

    possuir sem demora todas as novidades no terreno da

    tcnica, mas os engenheiros para a montagem vm da

    Europa, quando estes se retiram, se por acaso se parte

    umas das peas das maquinas, nenhum nacional sabe

    consert-las... (BINZER, 1956, p.388 )

    A carta da alem sobre a cultura brasileira na

    poca regencial entra de acordo com o artigo

    Modernidade Pedaggica e Modelos de Formao

    Docente de Marta Maria Chagas de Carvalho (2000).

    O artigo trata da deficincia existente no

    modelo pedaggico, gerando uma banalizao na escola

    do Brasil. Essa deficincia existe desde o sculo XIX e

    para falar dela Carvalho (2000) utiliza a escola paulista.

    Logo proclamada a Republica, os governantes

    do estado de So Paulo, representantes do setor

    oligrquico modernizador, investem na organizao de

    um sistema de ensino modelar. Esse sistema, Escola

  • 38

    Modelo anexa Escola Normal, entendido como a

    arte de ensinar da pedagogia moderna, que se baseava

    em ver e imitar o docente. A Escola Nova paulistana,

    com modernos materiais escolares importados e um

    prdio apropriado, aderiu esse sistema cuja funo era a

    criao de bons moldes de ensino. Nela, os futuros

    mestres podiam aprender a arte de ensinar, aprender na

    visibilidade e na imitabilidade, ver como as crianas

    eram manejadas e instrudas e imitar.

    O diretor da Escola Normal, Gabriel Prestes,

    em 1896 relata sobre as praticas de sala de aula que se

    organiza e se dispem: crena na eficincia dos

    processos de ensino intuitivo; concepo acerca da

    natureza infantil formuladas nos marcos de uma

    psicologia das faculdades mentais; a pedagogia moderna

    ,ou seja, a arte de ensinar como corpus de saberes e de

    instrumentos metodolgicos capazes de viabilizar as

    escolas de massas e simultaneamente o ensino em

    classes numerosas e como base dessas praticas os

    exerccios escolares que contribuem na estrutura do

    ensino.

    Esses exerccios tem como funo: estabelecer

    uma rotina escolar; organizar o tempo como horrio;

  • 39

    estabelecer uma disciplina de estudos e de currculo;

    adquirem um perfil das classes de alunos e sua maior

    funo, instruir e desenvolver as faculdades mentais

    da criana.

    Essas prticas fazem parte das Escolas

    Modelos, anexas s Escolas Normais, no sculo XIX.

    Os exerccios escolares, assim como a arte de ensinar,

    estruturam-se como caixas de utenslios para o uso de

    professores. Maria diz tambm, que as praticas que se

    formalizam nos usos desses materiais guardam forte

    relao com uma pedagogia em que tal arte prescrita

    como boa imitao de um modelo. No mbito dessa

    pedagogia, ensinar a ensinar fornecer esses modelos,

    seja na forma de roteiros de lies, seja na forma de ver

    e imitar.

    Resultados Parciais:

    Essa dimenso Histrica da educao

    leva a pensar na formao do professor assim como os

    contedos que ele trabalha na escola intencional, ou

    seja, seu objetivo moldar o indivduo a partir de

    determinados valores sociais. Ainda que no tenhamos

    nos aproximado diretamente dos currculos das escolas

  • 40

    de formao de professores e precisamente, do

    contedos de Artes contido neles, o trabalho ate

    aqui tem sido importante para a compreenso da

    estrutura educacional brasileira no Sculo XIX e

    sobretudo, para a compreenso dos determinantes

    do tipo de professor que era interessante formar

    para educar o povo brasileiro

    Referncias bibliogrficas

    ARANHA, M. L. A. Histria da Educao. 2

    ed. So Paulo: Moderna, 1996.

    MOTA, M.B. Histria das Cavernas ao terceiro

    Milnio. 2 ed.So Paulo: Moderna, 1998.

    CARVALHO, M. M. C. Modernidade

    Pedaggica e Modelos de Formao Docente,

    2000, So Paulo: Perspectiva, pg. 111 120.

    NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre

    presente. Helosa Vilela, Claudia Maria Costa

    Alvez, Armando Martins de Barros. Questes da

    nossa poca: v.4. Ed Cortez. So Paulo. 1992

    SCHAFFRATH, M. A. S. A Escola Normal

    Catharinense de 1892: Profisso e ornamento.

  • 41

    Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado.

    Universidade Federal de santa Catarina, 1999.

    TANURI, L.M. Contribuio para o estudo da

    Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n.

    13, 1970.

  • 42

    COMPNDIOS DE PEDAGOGIA: MODELOS

    PARA A FORMAO DE PROFESSORES NO

    PARAN (1834 - 1900)

    Autoria: Leonardo Moita Bertoletti, Faculdade de Artes

    do Paran, Curitiba-PR

    Co-autoria: Marlete dos Anjos Silva Schaffrath

    Apresentao

    Este projeto est ligado linha de pesquisa

    Educao e Historiografia do Grupo de Pesquisa

    Fap/CNPq Artes e Interdisciplinaridade, grupo de

    pesquisa ao qual a orientadora do projeto pertence.

    Nossa inteno aqui investigar alguns aspectos do

    processo da formao docente no Paran (1834 - 1900)

    a fim de buscar um melhor entendimento do percurso

    histrico de formao docente no Brasil e no Paran,

    alm da socializao do registro da historiografia da

    poca com a comunidade acadmica. A viabilidade

    metodolgica da pesquisa que se pretende se far pelas

    fontes de pesquisa tanto documentais quanto

    bibliogrficas, no intuito de compor um corpo terico de

  • 43

    fatos e anlises que dem conta de revelar aspectos do

    conhecimento cultural e histrico da formao docente

    paranaense.

    A escolha do perodo histrico se deve ao fato

    de que, em 1834, o Imprio Brasileiro delegou a cada

    Provncia que cuidasse da sua instruo pblica, ou seja,

    a partir desta data cada Provncia estabeleceu os

    critrios e os manuais adotados para reger seu sistema

    de ensino, de acordo com Schaffrath (1999). E o ano de

    1900, como marco final, se deve a proximidade com a

    Proclamao da Repblica, cujos Estados Federados

    passaram a organizar seus sistemas de ensino a partir de

    poder central, mas ainda guardavam aspectos culturais

    do Imprio.

    Objetivos

    O objetivo central deste trabalho de pesquisa

    de investigar a adoo de compndios de pedagogia

    como modelos para a formao docente no Paran no

    perodo de 1834 a 1900. A partir da, pretende-se

    levantar dados sobre os mesmos e tambm escrever e

    analisar seus contedos propostos.

  • 44

    Mtodos e Resultados

    A partir do levantamento de fontes, da leitura e

    anlise de textos que tratam deste tema, nosso trabalho

    pode oferecer algumas reflexes acerca do objeto de

    estudo, conforme segue.

    O trabalho de pesquisa realizado at aqui

    revelou que no Sculo XIX se consolidava o poder

    burgus na Europa e isto influenciou o pensamento

    pedaggico que passou a considerar novas propostas

    educacionais e de acesso s escolas, de acordo com

    Cunha (1979). No Brasil, a partir da instalao da Corte

    Portuguesa em 1808, nossa sociedade colonial foi palco

    de muitas mudanas, mas ainda no havia um projeto

    pedaggico para a educao brasileira, segundo Aranha

    (1996). At este momento, no havia circulao de

    material de apoio aos poucos professores que

    ministravam aulas nas Provncias. Os professores

    adquiriam conhecimentos nas prprias escolas onde

    estudavam as primeiras letras, ou seja, reproduziam

    seu mestre, conforme descreve Tanuri (1969). Somente

    a partir 1869, os manuais ou compndios de pedagogia

  • 45

    que j circulavam na Europa comearam a ser adotados

    pela instruo pblica brasileira. E as Provncias que

    desde 1834 j cuidavam de seus sistemas de ensino, se

    interessaram em adotar estes Manuais j que no tinham

    uma escola especfica para formar professores. E

    exatamente neste momento histrico que vamos

    centralizar nossos estudos. Que compndios foram

    trazidos para o Brasil, quem so os autores, quais foram

    os adotados no Paran e que projetos de formao

    docente e educao pblica eles encerravam em seus

    contedos.

    Para Valdemarin (2000), os manuais que

    circulavam aqui, embora diferentes entre si, estavam

    todos vinculados ao projeto modernizador da sociedade

    do Sculo XIX. Segundo a autora, muito embora cada

    uma deles apresentasse uma viso distinta do que fosse

    o progresso, ambos estavam vinculados ao mesmo

    projeto de sociedade burguesa e do modo de produo

    capitalista.

    Marta Carvalho (2001) aborda a questo da

    produo, circulao e utilizao de modelos

    pedaggicos no Brasil e na Frana a partir e meados do

  • 46

    sculo XIX. Neste trabalho, a autora destaca que nos

    manuais impressos que circulavam era patente o

    deslocamento dos contedos relacionados aos saberes

    necessrios prtica de professores, para contedos de

    carter disciplinador e moralizante. A autora aponta o

    perfil generalista de uma formao que pretendia dar ao

    professor meios e mtodos para forjar nos alunos o

    esprito cientificista que movia as sociedades daquele

    perodo histrico.

    A autora estudando os manuais de pedagogia

    defende que eles organizavam um discurso pedaggico

    que encerrava em si as ferramentas para a organizao

    da escola nos moldes da Pedagogia Moderna que

    pretendia, dentre outras, afirmar a educao como

    cincia. Os processos educativos prescritos, as

    concepes acerca da Psicologia infantil (mais voltada

    para as faculdades mentais), os instrumentos didticos

    selecionados e toda a rotina de organizao da escola e

    da sala de aula, sob a forma de material impresso

    constroem o arcabouo de uma engenharia escolar

    traada nos Manuais de Pedagogia adotados pelas

    escolas para uso de professores.

  • 47

    Carlota Boto (1998) analisando a cultura escolar

    em Portugal (182-1850) descreve a influncia do

    pensamento intelectual que concebia a educao

    escolar, e, sobretudo a escola primria, como vetor de

    sociabilidade seguindo padres iluministas, que

    sustentavam o iderio da escola pblica, laica e

    universal. Segundo a autora, se entre os anos de 1820 e

    1850 as discusses sobre o papel social da escola, como

    produtora de novos padres de sociabilidade era

    predominante na sociedade portuguesa; foi a partir de

    1850 que as questes do mtodo comearam a fazer

    parte do itinerrio dos processos de formao docente.

    Entre 1850 e 1870 nota-se neste pas a proliferao de

    materiais didticos, favorecendo questes

    metodolgicas e ao mesmo tempo indicando que a

    escola no estaria dando conta do ensino de habilidades

    elementares como a leitura, a escrita e o clculo,

    conhecimentos bsicos, delimitados para o mbito da

    escola primria. A autora destaca ainda que a partir de

    1870 intensificaram-se os debates em torno do

    estabelecimento da Pedagogia como uma cincia da

    educao baseados no pensamento positivista. Agora

  • 48

    as questes trazidas pela Pedagogia, como o

    desenvolvimento infantil, eram analisadas sob o ponto

    de vista cientfico. Ainda mais que em meados de 1870

    o aprimoramento de tcnicas tipogrficas e o

    incremento dos meios de transporte faziam circular por

    toda a Europa os escritos cientficos de todas as reas.

    De acordo com Carvalho, no final do sc. XIX,

    nestes estavam presentes convices a respeito das

    faculdades da alma, tanto quanto a metodologia do

    ensino objetivo, caracterizando outro tipo de

    organizao do corpus dos saberes pedaggicos,

    herana do pensamento cientificista da poca. Esse

    civismo partilhado, essa preocupao moral e poltica,

    aliada formao filosfica dos professores e insero

    da disciplina nos padres do ensino universitrio

    francs, conferiu pedagogia ministrada um altssimo

    grau de generalidade5.

    Os manuais de autoria de Gabriel Compayr tiveram

    larga circulao no Brasil, propondo-se como modelo

    5 NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992.

  • 49

    de articulao discursiva dos saberes pedaggicos, por

    dcadas a fio.(Carvalho, 2006 p.05)

    Compreender a construo histrica e social

    destes manuais, identificando o perfil generalista de

    uma formao docente que pretendia forjar nos alunos o

    esprito da poca, certamente nos faz entender melhor

    a situao em que vieram para o Brasil. Juntamente com

    estes manuais vieram, implcita e/ou explicitamente

    disputas polticas e religiosas, filosofias acerca do

    homem e do mundo, revolues pessoais, vontades e

    desejos de uma Europa pos revoluo francesa e pos

    revoluo industrial, para um Brasil rural que acabava

    de conquistar a maioridade. Desde modo a

    obrigatoriedade de uma organizao interna em todos os

    seus setores: poltico, econmico e o objeto de nosso

    estudo, educacional. Neste campo a elite dirigente

    importa o modelo de educao europeu. Assim o Brasil

    visto como um espelho de m qualidade refletindo

    uma imagem distorcida do original.6 Com isto

    compreendemos que o modelo adotado no era

    6 Idem 1.

  • 50

    adequado a realidade da poca, que vivia numa

    conturbao poltica. Liberais e Conservadores

    disputavam na provncia carioca a administrao, que

    coube aos conservadores em primeiro momento logo

    aps o ato adicional em 1834 que concedia autonomia

    administrativa s provncias, de acordo com Nunes.

    A supremacia deste grupo se explica por vrios

    fatores, dentre eles o fato de que muitos de seus

    integrantes se originavam das principais famlias

    produtoras de caf, principal produto de exportao da

    poca e graas ao qual o pas comeava a se levantar

    da grave crise financeira que vinha atravessando.

    (NUNES, 1992 p.25)

    Neste mbito de ampliar e garantir a hegemonia

    do ideal conservador, nasce a necessidade da criao de

    um espao para a transmisso dessa ideologia e num

    segundo momento a sua difuso, garantindo a sua

    perpetuao, fazendo a identificao dos objetivos do

    partido com cada individuo. Surge, ento paralelamente,

    a necessidade de formar o professor como um agente

  • 51

    capaz de reproduzir o tipo de conhecimento que

    desejavam difundir, de acordo com Nunes (1992),

    porm, que no fugisse a ordem e a conservasse como

    tal.

    Para a formao do professor na Escola Normal,

    de acordo com a lei de criao da mesma, o individuo

    deveria ter boa morigerao, no que se refere a moral,

    ou seja, na poca, homem branco maior de dezoito anos.

    Negros e mulheres no pertenciam a esta classificao.

    O marqus de Caravelas esclarece a medida: as

    meninas no tm desenvolvimento de raciocnio to

    grande como os meninos.7

    A preocupao com a moral dava-se pelo

    perodo conturbado que se vivia. evidente que ligada

    ao aspecto moral houvesse subjacente preocupao

    com a posio ideolgica dos futuros professores

    (Nunes). Certamente o motivo para utilizao do

    mtodo lancasteriano que agradava em seus ideais

    polticos boa parte do grupo conservador. O mtodo

    pode assim ser entendido:

    7 NUNES, Clarice. O passado sempre presente. So Paulo: Cortez, 1992 Annaes do Senado Federal, 1827, vol II, sesso de 30 de agosto de 1827 (pp.270-280), p 278.

  • 52

    (...) Lancaster amparou seu mtodo no ensino oral, no

    uso refinado e constante da repetio e, principalmente,

    na memorizao, porque acreditava que esta inibia a

    preguia, a ociosidade, e aumentava o desejo pela

    quietude. Em face desta opo metodolgica ele no

    esperava que os alunos tivessem originalidade ou

    elucubrao intelectual na atividade pedaggica mas

    disciplinarizao mental e fsica. Em Lancaster, o

    principal encargo do monitor no estava na tarefa de

    ensinar ou de corrigir os erros, mas sim na de

    coordenar para que os alunos se corrigissem entre si

    (...).8

    Concluses parciais

    Com o trabalho realizado at o presente

    momento podemos fazer algumas consideraes sobre

    os Manuais e sua importncia para a formao do

    8 NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos da Educao da UEM/PR Disponvel em: Acesso em:10 maio. 2009.

  • 53

    professor brasileiro. Os materiais impressos que

    circularam no Brasil no Sculo XIX, via de regra,

    ofereciam este tipo de aporte de conhecimentos para

    professar o magistrio. Uns enfatizavam grandes

    fundamentos pedaggicos, outros questes prticas da

    arte de ensinar, mas todos eles certamente

    interferiram na construo de uma cultura escolar.

    Compreender a formao docente sob o uso

    destes manuais, que muitas vezes traziam consigo certo

    carter generalista e com contedos previamente

    selecionados e moldados ao homem da poca, nos

    instiga correlacionar educao e poltica, revelar a

    formao do cidado de uma determinada poca e mais

    especificamente seus contedos pedaggicos. De todo

    modo, a compreenso desta fase do projeto educacional

    brasileiro torna-se fundamental para a compreenso da

    histria da nossa formao de professores.

    Referncias

    ARANHA, Maria Lima. Histria da Educao. 2 ed.

    So Paulo: Moderna, 1996.

  • 54

    BOTO, Carlota. Ler, escrever e se comportar: a

    escola primria como rito do Sculo XIX portugus.

    In: SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. (Orgs.) Prticas

    educativas, culturas escolares, profisso docente. So

    Paulo: Escrituras Editora, 1998.

    CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A caixa de

    utenslios e o Tratado: modelos pedaggicos, Manuais

    de Pedagogia e prticas de leitura de professores. In: IV

    Congresso Brasileiro de Histria da Educao, 2006,

    Goinia. A educao e seus sujeitos na histria.

    Goinia: Editora da UCG/Ed. vieira, v. 1. p. 81-82.

    2006

    CUNHA, L. A. Educao e desenvolvimento social no

    Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

    NEVES, Ftima Maria. Departamento de Fundamentos

    da Educao da UEM/PR Disponvel

    em: Acesso em:10

    maio. 2009.

  • 55

    NUNES, Clarice. (Orgs.). O passado sempre presente.

    Helosa Vilela, Claudia Maria Costa Alvez, Armando

    Martins de Barros. Questes da nossa poca: v.4. Ed

    Cortez. So Paulo. 1992

    SCHAFFRATH, Marlete dos Anjos Silva. A Escola

    Normal Catharinense de 1892: Profisso e ornamento.

    Florianpolis: 1999. Dissertao de Mestrado.

    Universidade Federal de santa Catarina, 1999.

    TANURI, Leonor Maria. Contribuio para o estudo

    da Escola Normal no Brasil. So Paulo: CRPE, n. 13,

    1970.

    VALDEMARIN, Vera Tereza. Lies de coisas:

    Concepo cientfica e projeto modernizador para a

    sociedade. Cad. CEDES v.20 n.52 Campinas nov.

    2000.

  • 56

    MEDIAO PARA EXPOSIO:

    CONTEXTOS EDUCATIVOS NA LEITURA,

    INTERPRETAO E COMPREENSO DAS

    ARTES E VISUALIDADES

    Autoria: Ana Cludia Bastiani, Universidade Estadual

    de Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR.

    Ana Luiza Ruschel Nunes, Universidade Estadual de

    Ponta Grossa,Ponta Grossa/PR.

    OBJETIVO

    O objetivo foi investigar, analisar e compreender como

    acontece a mediao entre a obra do artista em galerias,

    museus ou outros espaos de exposies de arte, tendo o

    mediador (as pesquisadoras) funo de intermediar o

    plano de expresso e de contedo da obra de forma mais

    contextualizada, aos receptores. O conhecimento e a

  • 57

    prtica da Mediao devem ser vistos como um

    importante papel que difundir e intermediar as

    relaes de dilogo e integrao entre Arte e o pblico

    na compreenso da obra de arte em espaos de

    exposies. A tarefa do mediador a de aproximar o

    pblico em todas as suas determinaes e

    complexidades com a comunidade mais ampla, escolar e

    no escolar no contato com a leitura e compreenso

    crtica da produo em Artes Visuais, intermediando

    este conhecimento, tornando mais prximo ao pblico e

    criando uma cultura. A abordagem da pesquisa

    qualitativa atravs da pesquisa-ao. Este estudo tem

    como um dos espaos de pesquisa a sala de exposies -

    Galeria de Arte da Pr-Reitoria de Extenso - PROEX.

    Os instrumentos de anlise so: observao, entrevista

    individual e com grupos focais, dirio de campo com

    registro do mediador, do processo da mediao, anlise

    documental, e as obras de arte expostas na galeria. Tem-

    se como resultados a construo de uma Metodologia

    para Mediao que envolve procedimentos das etapas

    dos processos necessrios para uma mediao em

    exposio em espaos artstico/culturais. A contribuio

  • 58

    da pesquisa ser disponibilizar para a Galeria de arte da

    PROEX-UEPG, a metodologia criada para dar

    continuidade a este processo de mediao que tm

    pontuando resultados no que se refere mediao entre

    as obras de arte e o pblico nas exposies visitadas.

    Ainda pode-se tecer que o mediador aquele que recebe

    o publico nas instituies de arte e tm por funo

    tornar a visitao a mais significativa possvel,

    esclarecendo ao pblico - receptor da arte, atravs da

    mediao para a compreenso crtica da obra de arte, o

    que caracteriza alm da pesquisa, possibilidade de

    extenso de forma indissociada no desenvolvimento de

    contextos artsticos e educativos mais amplos.

    _____________________

    1 Acadmica do Curso de Licenciatura em Artes Visuais

    - UEPG, Bolsista PROVIC-UEPG,participante do

    Grupo de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais,

  • 59

    Educao e Cultura GEPAVEC-CNPq/UEPG/PR,

    [email protected]

    Graduada em Licenciatura em Artes Plsticas e

    Doutora em Educao, Professora e pesquisadora do

    Departamento de Artes e atua no Curso de Licenciatura

    em Artes Visuais e Msica, Coordenadora do Grupo

    de Pesquisa em Artes Visuais, Educao e Cultura-

    GEPAVEC-CNPq/UEPG,[email protected]

    INTRODUO

    Este estudo faz parte da Linha de Pesquisa

    Artes Visuais, Educao e Cultura vinculada ao Grupo

    de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais, Educao e

    Cultura GEPAVEC - CNPq/UEPG/PR. Observar

    imagens sem que se compreenda o seu sentido e o seu

    valor, acaba tornando a atividade um ato mecnico e

    sem significado para quem observa. Esta pesquisa teve

    inicio pela preocupao em relao qualidade da

    mediao e do mediador frente apreciao de obras de

    arte no contexto de socializao em espaos de

    exposies/mostras, inclusive em museus, e outros

  • 60

    espaos abertos e pblicos, que contribuem

    significativamente para a formao artstica e intelectual

    de acessibilidade a todos, provocando a socializao da

    cultura artstica. Estes espaos carecem de mediadores

    que tem por funo estabelecer a mediao entre a obra

    de arte, e o receptor para uma compreenso crtica da

    arte. A mediao faz com que este contato entre a obra,

    o artista e o apreciador, se torne mais amplo e que o

    dilogo entre eles seja mais qualitativo, reflexivo e

    crtico, transformando estes ambientes em espaos

    educativos ampliados, com agendas de visitao

    abrangendo as escolas da rede municipal, estadual e

    particular, tornando esta atividade mais habitual no

    cotidiano cultural, criando assim uma nova cultura e

    conhecimentos da Arte.

    Nesta direo o objetivo da pesquisa

    Investigar, analisar e compreender como se d o

    processo de mediao entre a obra de artistas e o

    receptor/ observador, na compreenso e interpretao da

    arte no espao da Galeria de Arte da Pr-Reitoria de

    Extenso- PROEX- UEPG.Tornar habitual a

    participao da comunidade local, bem como a

  • 61

    participao de professores e alunos de escolas pblicas

    e particulares e do meio acadmico, na participao em

    mostras artsticas e exposies culturais; Promover

    dilogos do artista e o pblico em relao as vivncias,

    experincias e produo; Tornar o espao da Galeria de

    Artes PROEX, mais freqentado e procurado para a

    construo de conhecimento, formao e vivncia da

    comunidade em geral e tambm a comunidade escolar,

    para a compreenso da cultura artstica. Construir e

    aplicar uma metodologia para Mediao, como

    mediador do processo e dilogo entre a obra de arte e o

    pblico.

    A partir dos objetivos elencou-se algumas

    questes de pesquisa, tais como: possvel construir

    uma Metodologia para Mediao? Como se d o

    processo de Mediao no espao de exposio

    Artstica? Qual o caminho que o professor deve seguir

    para trabalhar a Mediao em outros ambientes? Como

    a criana, o jovem e o adulto analisam as obras de arte e

    a partir desta anlise podem transformar o seu

    conhecimento?

  • 62

    MEDIAO, MEDIADOR, METODOLOGIA PARA

    A MEDIAO

    Pensar e desenvolver uma pesquisa tendo como

    temtica e foco de investigao a Mediao, a funo de

    mediador, e ainda buscar a construo de uma

    metodologia para a mediao exige bases terica e

    estudos mais aprofundados em relao a estas

    categorias. Para isso algumas concepes, ainda que

    com pouca produo cientfica nessa temtica, nos

    permite trazer alguns conceitos norteadores que

    fundamentam esta investigao.

    Assim, segundo MARTINS mediao :

    Provocao, no imposio de idias, mas leva o

    aluno (publico em geral) a perceber ngulos inusitados

    com diferentes perspectivas de seu prprio pensamento.

    Ampliao de conhecimento, tem que fazer sentido e

    relacionar com experincias para desenvolver o esttico

  • 63

    estimulando e ressignificando o conhecimento

    (MARTINS,2007,p.76)

    Percebe-se que a Mediao Artstica e

    Cultural necessita de mediadores que para

    MARTINS(2007), e COUTINHO(2004), ainda que

    com concepes aproximadas, destacam que o mediador

    tm o seu papel importante e srio para uma mediao

    significativa e de qualidade ,sendo que Martins explicita

    que o papel do mediador o de ...Tornar

    compreensvel a mediao como um importante papel

    que o de difundir e intermediar as possibilidades e

    relaes de integrao entre Arte e o receptor,na

    compreenso da obra de arte. (MARTINS,2007,p.76)

    Conforme o exposto acima pode-se dizer que,

    para tornar compreensvel a mediao, preciso o

    mediador estar embasado em alguns referenciais em

    relao Leitura de imagem, e sendo assim,dotou - se

    base terica e prtica em FELDMAN(1970),

    HRNNDEZ (2000), PILLAR(1996),

    FURNARI(2009) e SCHLICHTA(2006).

  • 64

    Mas em FURNARI (2009) que buscou-se a concepo

    de leitura de imagem:

    Uma maneira importante, que traz informao, troca,

    que alarga horizontes e permite a constante ampliao

    dos nveis de conscincia humana. Em um sentido

    menos comum, significando leitura visual. Essa outra

    maneira de ler o mundo, no decifrando letras, mas

    decifrando imagens. como se houvesse uma leitura

    silenciosa, s vezes vaga, outras vezes precisa, feita no

    por nosso lado racional, mas por nossas sensaes e

    emoes. (FURNARI, 2009,s.p)

    Entretanto, a Metodologia para mediao, sendo

    construda pelos pesquisadores, engendra

    procedimentos que so exigidos do mediador, e para tal

    baseou-se nos procedimento de FRANZ(2008),

    LISBOA(2004), MIRANDA;RESENDE(2006), para

    construir uma Metodologia para a Mediao ainda em

    processo de observao/construo da ao

  • 65

    metodolgica da mesma para contextos de exposies

    em Artes Visuais,da o significado e contribuio desta

    investigao - ao em espaos culturais e artsticos.

    METODOLOGIA DA PESQUISA: MATERIAS E

    MTODOS

    A abordagem qualitativa atravs da pesquisa

    - ao. E, sendo assim, a ... pesquisa-ao requer uma

    interveno na realidade pesquisada e seu entorno, e ...

    representa um veio privilegiado para a discusso de um

    dos maiores impasses enfrentados [...] a relao entre

    teoria e prtica. MIRANDA;RESENDE(2006).

    Tambm se elencou vrios Instrumentos de coleta de

    dados, tais como a entrevista individual com o artista

    expositor e com grupos focais como, os professores,

    alunos acadmicos da universidade, alunos das escolas

    estaduais, municipais e particulares, bem como alunos

    de ateli da cidade e pblico em geral; Encontros pr-

    exposio com o artista expositor e levantamento do

  • 66

    currculo artstico e release das sries expostas; Dirio

    de campo com registro do processo do exerccio da

    mediao; Observao;Anlise documental; Portflio

    das obras de arte expostas na galeria; Visitas

    Monitoradas; Fotografia como registro.

    RESULTADOS

    Alguns resultados j so visveis, e dentre tantos

    temos grande aceitao do pblico, como comunidade

    em geral, professores e alunos das escolas da cidade,

    artistas de ateli, e acadmicos da Universidade

    Estadual de Ponta Grossa envolvidos e participantes da

    pesquisa, no que diz respeito a colaborao e

    compreenso da proposta e de seu papel fundamental

    para o conhecimento. A realizao de encontros com o

    Artista expositor e os acadmicos do Curso de Artes

    Visuais, professores e alunos das escolas da rede

    pblica. Realizou-se mais de trs mediaes por

    exposio, sendo realizada um total de quatro

    exposies iniciadas uma em maro,uma em abril e

  • 67

    duas em maio de 2009, totalizando doze mediaes na

    galeria da PROEX, resultando em um total de mais de

    seiscentos e cinqenta participantes entre o pblico em

    geral.

    A procura e o interesse das escolas pelas visitas

    Monitoradas confirmam o reconhecimento da atividade

    do Mediador com o pblico ao orientar, esclarecer e

    levar variados recursos para a compreenso critica da

    obra de arte, como pode-se observar nas imagens

    abaixo, alguns dos processos de mediao pelo

    mediador (pesquisadora) na Galeria de Arte da Pr-

    reitoria de Extenso da Universidade Estadual de Ponta

    Grossa - UEPG/PR.

  • 68

    Figura 3 - Acadmicos do curso de Licenciatura em Artes Visuais da UEPG com a Artista expositora Tnia Machado, na Galeria de Arte- PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

    Figura 4 Alunos do Atelier Cristina S de Ponta Grossa em conversa e observao dos quadros da exposio Cata - Vento e outras cores do artista expositor Manoel Fernando Croskey, de Curitiba,PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

    Figura 1- Mediao com os alunos da 7 srie do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro na Exposio Na Terra, no Vento da artista Plstica Tnia Machado, de Maring -PR.Galeria de Arte- PROEX-UEPG/PR.Fotografia Nelci Martins Fonte:Portflio das pesquisadoras.

    Figura 2- Aluno do Colgio Estadual Professor Amlio Pinheiro fazendo indagaes sobre as obras.Galeria de Arte PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Ana Cludia Bastiani Fonte:Portflio das pesquisadoras.

  • 69

    CONCLUSES

    Figura 8 e 9 Mediao com acadmicos do Curso de Artes Visuais -UEPG-PR, na Galeria de Arte PROEX -UEPG/PR.Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.

    Figura 6 e 7-Mediao com crianas e adultos, na exposio Diferenas de Erenilda e Celso Parubocz, na Galeria de Arte-. PROEX-UEPG/PR. Fotografia de Maria Beatriz Cordega. Fonte:Portflio das pesquisadoras.

  • 70

    Conclui-se que, exercer a mediao no se

    trata apenas de uma funo de apoio, mas de instruo e

    incentivo de educar o olhar descobridor, curioso e

    indagante.

    A prtica da atividade de Mediador, no uma

    tarefa simples, mas possvel de ser realizada. Fazer

    com que o observador interaja e compreenda as imagens

    de uma forma diferente a que est habituado; essa

    prtica o torna mais interessado, reflexivo e

    freqentador de espaos destinados a Arte, como est

    acontecendo com um dos espaos da pesquisa que o

    espao da Galeria de Arte da Pr - Reitoria de Extenso

    - PROEX-UEPG/PR.

    Construiu-se uma metodologia que envolve a

    participao do mediador em todos os processos que

    antecedem a exposio, como entrevistas com o artista,

    estudos da obra e biografia dos expositores, leituras

    prvias, e posteriores a realizao das mediaes com o

    pblico em geral e tambm com os grupos focais de

    alunos, professores que agendam a visitao e que o

    mediador recebe e concretiza a mediao como um

    espao educativo do olhar desse pblico para uma

  • 71

    compreenso crtica das obras em Artes Visuais. A

    funo de intermediar o plano de expresso e de

    contedo da obra de forma mais contextualizada, aos

    receptores foi o que engendrou uma reflexo crtica

    entre o mediador - a obra e o pblico. O Mediador por

    meio do dilogo torna amplo o olhar do observador a

    respeito da Arte e suas Visualidades, e tambm dos

    ambientes em que ela pode ser apreciada e observada.

    REFERNCIAS

    COUTINHO, Rejane (etall). Estratgia de mediao

    para a exposio Morte das Casas Nuno Ramos.

    In: Arte em Pesquisa: especifidades. Anais da

    ANPAP: Brasilia,2004.

    FELDMAN, Edmund Bruke. Becoming human

    trough art. New Jersey: Prentice-hall, 1970.

    FRANZ, Teresinha Sueli. Mediao cultural, Artes

    Visuais e Educao. Biblioteca on-line. Santa

    Catarina, 2008. Disponvel em: http://www.rede-

    educacaoartistica.org/docs/m_red/Teresinha%20Sueli%

  • 72

    20Franz_Mediacao%20cultural%20Artes%20Visuais%

    20e%20Educacao.pdf. Acesso em: 7 de Maro. 2009.

    FURNARI,Eva. Leitura e Formao. Trazemos um

    texto para pensar. Disponvel em:

  • 73

    armadilhas do praticismo. Revista Brasileira de

    Educao v. 11 n. 33 set./dez. 2006. Disponvel em:

    http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a11v1133.pdf.

    Acesso em 13 de Maro, 2009.

    SCHLICHTA, Consuelo A. B.D. Leitura de Imagens:

    uma outra maneira de praticar cultura.

    In:NUNES,Ana Luiza Ruschel(Org) Dossi de Artes

    Visuais. Revista Educao Santa Maria (UFSM). V.

    31 n. 02, pg. 353-366. 2006.

  • 74

    O ENSINO DO TEATRO PARA ALUNOS

    SURDOS DE 3 E 4 SRIE

    DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Autoria: Mnica Stroparo, Faculdade de Artes do

    Paran, Curitiba/PR.

    1- INTRODUO

    O presente artigo traz o relato de uma

    experincia prtica de aplicao de Jogos Teatrais e

    exerccios de expresso corporal para alunos surdos de

    3 e 4 sries do ensino fundamental. resultado de uma

    experincia de estgio com alunos surdos do ensino

    mdio e, tambm motivada pelo interesse pessoal da

    pesquisadora em estudar a metodologia de aplicao dos

    contedos tericos e prticos da rea de teatro para

    alunos com deficincia auditiva. Busca-se dessa forma,

    o estudo da capacidade de desenvolvimento desses

    alunos na prtica teatral, a convivncia com a

    comunidade surda tendo em vista o aperfeioamento

  • 75

    pessoal na lngua brasileira dos sinais (LIBRAS) e a

    capacitao pessoal no ensino de teatro para alunos com

    surdez, em virtude da carncia existente no universo de

    trabalho de professores e intrpretes da LIBRAS.

    Apesar de existirem muitos autores que

    abordem metodologias de ensino do teatro, poucas so

    as fontes que trazem uma metodologia especfica para

    surdos. Tendo em vista a pertinncia desse

    aprofundamento em funo da importncia da

    comunidade surda na sociedade, sobretudo em tempos

    de valorizao da diversidade cultural, estabelece-se

    aqui a relevncia dessa pesquisa.

    2- A COMUNIDADE E A CULTURA SURDA

    Em nossa sociedade existem grupos de pessoas

    com limitaes fsicas, sendo um deles (que possui uma

    identidade cultural prpria) o dos Surdos. A lngua

    materna desse grupo a Lngua Brasileira dos Sinais

    (LIBRAS). necessrio fazer a distino entre os

    conceitos de indivduo Deficiente Auditivo e de

    indivduo Surdo. O Deficiente auditivo (D.A.) aquele

  • 76

    indivduo que, por algum motivo (m formao

    congnita, patologias durante o perodo fetal, patologias

    que afetem o sistema auditivo, trauma fsico ou

    psicolgico) perde total ou parcialmente a habilidade

    normal para a deteco sonora de acordo com padres

    estabelecidos pela American National Standars Institute

    (ANSI 1989). O individuo Surdo aquele que nasceu

    surdo e, diferente do D.A., assume uma identidade surda

    e se reconhece como surdo perante a sociedade tendo

    um bom convvio com a comunidade surda. A sua

    lngua materna a Lngua Brasileira dos Sinais

    (LIBRAS), esse indivduo geralmente pensa na forma

    de conceitos e utiliza uma forma imagtica de

    comunicao.

    Uma caracterstica peculiar desse grupo social

    a formao de uma cultura prpria, pois de acordo com

    S (2006) a linguagem responsvel pela expresso da

    cultura, sendo a cultura a formadora de cdigos dentro

    de uma sociedade, como juzo de valor, a arte, a forma

    de organizao, etc. Nenhuma outra limitao fsica

    ocasiona esse processo de formao cultural como

    ocorre com os indivduos surdos.

  • 77

    Portanto a limitao auditiva faz com que a

    compreenso de mundo pelos surdos se d de forma

    diferenciada em relao aos ouvintes. A estrutura do

    pensamento tambm diferente, pois ela construda

    medida que as informaes que chegam at o indivduo

    e so processadas por ele. Devido a essa relao

    cultura/linguagem, se fazem indispensveis o

    entendimento e a identificao da cultura surda para que

    se parta para a elaborao e anlise de metodologias de

    ensino para surdos. No caso do Teatro, tendo em vista

    as metodologias de ensino j existentes, faz-se

    necessrio um estudo para verificar a necessidade ou

    no de adaptaes das mesmas para aplicao com

    alunos surdos.

    Rinaldi (1997) em seu artigo Metodologias

    especficas ao ensino de surdos discute as trs principais

    correntes metodolgicas, o Oralismo, a Comunicao

    Total e o Bilingismo. O Oralismo baseado em

    treinamento auditivo, desenvolvimento da fala e leitura

    labial, ele s tem seu aproveitamento mximo quando

    associado prtese que amplifica o resduo auditivo,

    procurando reeducar auditivamente a criana surda,

  • 78

    atravs da amplificao dos sons juntamente com

    tcnicas especficas de oralidade. A Comunicao Total

    trata-se de uma proposta flexvel no uso de meios de

    comunicao oral e gestual, no est em oposio

    utilizao da lngua oral, mas apresenta-se como um

    sistema de comunicao complementar. Porm devido

    s diferenas entre a gramtica da lngua de sinais e do

    portugus, a comunicao total apresentou-se mais til

    para os ouvintes do que para os surdos. Devido a essa

    divergncia surgiu a orientao educacional que

    considera a lngua de sinais, na sua forma genuna,

    chamada Bilingismo. Para Ferreira Brito9 (1993) apud

    Rinaldi (1997):

    [...] numa linha bilnge, o ensino do portugus deve ser

    ministrado para os surdos da mesma forma como so

    tratadas as lnguas estrangeiras, ou seja, em primeiro

    lugar devem ser proporcionadas todas as experincias

    lingsticas na primeira lngua dos surdos (lngua de

    sinais) e depois, sedimentada a linguagem nas crianas,

    9 FERREIRA BRITO, Lucinda. Integrao social & educao de surdos. 1. Ed. Rio de Janeiro, Babel Editora, 1993.

  • 79

    ensina-se a lngua majoritria, (a Lngua Portuguesa)

    como segunda lngua.

    Segundo Rinaldi (1997) A escolha pela

    utilizao do mtodo do bilingismo o

    reconhecimento de que a Educao interfere no meio

    social e poltico da comunidade a qual pertence, e por

    isso deve ser respeitada. Sendo assim a utilizao da

    LIBRAS para o ensino aos surdos fundamental, pois

    se trata da primeira lngua, ou seja a lngua da

    comunidade a qual eles pertencem, possibilitando o

    melhor entendimento e conseqentemente uma melhor

    aprendizagem.

    Sendo a questo do ensino de pessoas surdas

    algo to relevante e ainda em construo pelos

    pesquisadores, o teatro como forma de conhecimento

    tambm deve ser acessvel populao com deficincia

    auditiva. Porm, para que tal conhecimento seja

    transmitido de maneira satisfatria necessria uma

    anlise de metodologias que possam suprir as

  • 80

    exigncias de comunicao inerentes ao indivduo com

    deficincia auditiva.

    3- MATERIAIS E METODOS

    O Jogo Teatral uma maneira didtica de fazer

    com que os alunos se esforcem para encontrar, atravs

    de improvisaes de cena, uma soluo de conflito que

    uma situao problemtica proposta. Koudela (1991)

    afirma que no individual pode-se perceber a prpria

    conscincia e no grupal tem-se a dinmica de todos os

    movimentos no espao atravs da relao eu-espao-

    outro.

    Para Spolin (2000, p.3) todas as pessoas so

    capazes de improvisar. As pessoas que desejarem so

    capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. Um

    dos aspectos do Jogo Teatral a Instruo10 que a

    metodologia utilizada para que os jogadores mantenham

    a sua ateno no foco do jogo. A instruo a

    10 Traduo do termo original side-coaching que de acordo com Spolin (2000) provm da terminologia esportiva, sendo o tcnico (coach) aquele que instrui o time sobre as mudanas que deseja, porm sem interromper o jogo.

  • 81

    orientao simples e direta dada pelo professor-diretor

    atravs da voz sempre que o jogador desvia a ateno do

    foco. Segundo Spolin (2000) quando o aluno ouve a

    instruo pela primeira vez ele s necessitada ser

    orientado a apenas ouvi-la e continuar o exerccio, sem

    interromper a cena. Ao receber a instruo, o aluno

    retoma a ateno para o que esta fazendo no palco e de

    acordo com Spolin (2000) desperta a espontaneidade.

    Os Jogos Teatrais so complementados com

    atividades de expresso espontneas que de acordo com

    Reverbel (1989) tem o objetivo de desenvolver a auto-

    expresso do aluno, oferecendo-lhe oportunidades de

    atuar efetivamente no mundo: opinar, criticar e sugerir.

    uma maneira ldica, pedaggica e sutil de fazer com

    que os alunos, no seu primeiro contato com teatro,

    consigam realmente fazer teatro usando o que

    aprenderam com o exerccio de solucionar os conflitos

    ou problemas de uma maneira cnica e com a

    descoberta de si mesmo e do outro.

    A experincia aqui descrita consistiu na

    aplicao prtica de Jogos Teatrais e exerccios de

    expresso corporal para crianas surdas e foi

  • 82

    desenvolvida durante as atividades do perodo de

    estgio supervisionado contando com a participao de

    seis alunos surdos, sendo uma menina e cinco meninos,

    de faixa etria entre nove e dez anos de idade, da 3 e 4

    srie do ensino fundamental, estudantes da Escola

    Municipal Especial para Surdos Professora Ilze de

    Souza Santos situada na Rua Joiville, 2024 no bairro

    Vila Braga no municpio de So Jos dos Pinhais/PR. A

    escola funciona em perodo integral, sendo que no

    perodo da manh os alunos tm as disciplinas

    curriculares e no perodo da tarde participam de

    atividades educativas, jogos infantis, assistem filmes e

    tambm aprendem a Lngua Brasileira de Sinais

    (LIBRAS). As atividades foram desenvolvidas no

    perodo vespertino durante duas horas semanais nos

    meses de Setembro e Outubro de 2008, utilizando as

    seguintes estruturas do espao escolar (ver anexo 1):

    sala de aula pequena, sala de vdeo e saguo coberto.

    As aulas foram ministradas utilizando o

    bilingismo (LIBRAS e Portugus), pois esta a

    maneira atualmente utilizada para o ensino de surdos e

    tambm a metodologia adotada pela escola. A

  • 83

    metodologia utilizada para aplicao dos exerccios foi

    a dos Jogos Teatrais de Viola Spolin e teve como

    objetivo principal o desenvolvimento da expresso

    corporal dos alunos. A srie de exerccios evoluiu em

    complexidade de maneira gradativa durante o perodo

    do desenvolvimento das atividades. A seguir so

    descritos alguns exerccios e jogos aplicados aos alunos.

    O primeiro exerccio foi uma dinmica de

    apresentao aliada movimentao corporal que

    consistiu em formar um crculo com os alunos, e na

    primeira fase, um aluno de cada vez fazia o seu sinal de

    identificao11 e logo em seguida criava um movimento.

    Na segunda fase o primeiro aluno fazia o seu sinal de

    identificao pessoal e logo aps criava um movimento

    ligado ao seu sinal. Em seguida o aluno seguinte

    copiava o sinal e o movimento feito pelo colega e fazia

    o seu sinal e movimento e assim sucessivamente at

    completar o crculo.

    11 Caracterstica especfica da cultura surda na qual cada pessoa recebe um sinal gestual para sua identificao, fazendo uma analogia com a linguagem verbal, o sinal de identificao teria o mesmo funcionamento de um apelido dentro de um grupo de conhecidos.

  • 84

    Foram aplicados aos alunos os Jogos Teatrais

    Quem comeou o movimento12, o Exerccio do

    Espelho n.113, o Jogo do Onde14 que, no caso dessa

    experimentao foi feito da seguinte forma: o aluno ia

    at o palco e mostrava um lugar atravs de expresso

    corporal, os colegas, que formavam uma platia

    deveriam tentar adivinhar em que lugar o colega estava.

    Um exerccio para desenvolver a conscincia

    corporal aplicado aos alunos foi o de imitao de

    imagens de revistas (ver anexo 2), a atividade consistia

    em mostrar imagens de revista que continham pessoas

    para que eles observassem e copiassem a posio e a

    expresso facial, sendo que as formas foram analisadas

    e corrigidas pelos prprios alunos. Foram aplicados

    tambm exerccios de imitao de objetos, de letras do

    alfabeto e de slabas com o corpo.

    A expresso facial tambm foi trabalhada

    atravs de um exerccio utilizando uma caixa de sapato.

    O exerccio consistiu em passar uma caixa de sapato

    12 SPOLIN, Viola. Improvisao para o teatro. So Paulo: Perspectiva, 2000 p. 61. 13 Idem. p. 55. 14 Idem, p. 91.

  • 85

    vazia, a qual cada aluno abria e imaginava ver algo e

    fazia uma expresso facial de acordo com o que