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António Firmino da Costa, Elsa Pegado, Patrícia Ávila

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  • Antnio Firmino da Costa, Elsa Pegado, Patrcia vila

    447-08-CAPA PNL3.qxd 08/10/29 13:38 Page 1

  • AVALIAO DO PLANO NACIONAL DE LEITURA

    Antnio Firmino da Costa

    Elsa Pegado

    Patrcia vila

    Com a colaborao de:Ana CaetanoAna Rita CoelhoEduardo A. RodriguesJoo Melo

    CIES-ISCTE2008

    Agosto de 2008

  • PROJECTOAVALIAO DO PLANO NACIONAL DE LEITURA

    Ficha Tcnica

    Ttulo:Avaliao do Plano Nacional de Leitura

    Autores: Antnio Firmino Costa, Elsa Pegado e Patrcia vila,com a colaborao de Ana Caetano, Ana Rita Coelho, Eduardo A. Rodrigues e Joo Melo (investigadores do CIES-ISCTE)

    Coordenao dos estudos PNL:Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao (GEPE)Ministrio da Educao

    Edio: Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao (GEPE)Av. 24 Julho, n. 1341399-054 LISBOATel.: 213 949 200 Fax: 213 957 610URL: http://www.gepe.min-edu.pt

    Agosto de 2008

    Capa: WM.Imagem Lda

    Execuo Grfica:Editorial do Ministrio da EducaoTel.: 219 266 600 Fax: 219 202 [email protected] www.eme.pt

    Tiragem: 500 exemplares

    Depsito Legal: 281 195/08

    ISBN: 978-972-614-429-8

  • ndice

    APRESENTAO ................................................................................................................................................................... 5

    1. O PLANO NACIONAL DE LEITURA: CONTEXTO E AVALIAO .............................................................. 9

    LEITURA E LITERACIA NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA .................................................................................. 9

    METODOLOGIA DA AVALIAO ................................................................................................................................. 12

    2. O PLANO NACIONAL DE LEITURA: DA CONCEPO S REALIZAES ............................................ 17

    ANLISE DOCUMENTAL E ENTREVISTAS COMISSO DO PNL ......................................................................... 17

    CONCEPO E DESENHO DO PNL ............................................................................................................................ 17

    COORDENAO DO PNL: ACTORES E RECURSOS ................................................................................................ 19

    PRINCIPAIS PRODUTOS DO PNL ................................................................................................................................ 20

    O PNL NAS ESCOLAS .................................................................................................................................................. 21

    O PNL NAS BIBLIOTECAS PBLICAS ........................................................................................................................ 23

    O PNL NAS FAMLIAS .................................................................................................................................................. 24

    O ENVOLVIMENTO DE OUTROS ACTORES .............................................................................................................. 25

    VISIBILIDADE PBLICA DO PNL ................................................................................................................................ 26

    3. INQURITO S ESCOLAS: O QUE DIZEM OS PROFESSORES ..................................................................... 29

    DIMENSES DE ANLISE E APLICAO ................................................................................................................... 29

    ACTIVIDADES REALIZADAS .......................................................................................................................................... 31

    PARTICIPAO DE PROFESSORES, OUTROS AGENTES EDUCATIVOS E ALUNOS .............................................. 34

    ENTIDADES ENVOLVIDAS ............................................................................................................................................. 36

    PERCEPO DE RESULTADOS E IMPACTES ............................................................................................................... 36

    GRAU DE CONCRETIZAO DAS ACTIVIDADES E DIFICULDADES SENTIDAS ................................................... 39

    OPINIO DAS ESCOLAS SOBRE O PNL ..................................................................................................................... 40

    4. ESTUDOS DE CASO: O QUE MOSTRAM AS VISITAS AOS LOCAIS .......................................................... 41

    CONTACTOS COM O PNL NO TERRENO ................................................................................................................. 41

    ESCOLAS E BIBLIOTECAS ESCOLARES ....................................................................................................................... 45

    BIBLIOTECAS PBLICAS E CMARAS MUNICIPAIS ................................................................................................. 48

    5. BARMETRO DE OPINIO PBLICA: AS ATITUDES DOS PORTUGUESES ......................................... 49

    QUESTIONRIO E AMOSTRA ...................................................................................................................................... 49

    VISIBILIDADE DO PNL ................................................................................................................................................. 50

    A LEITURA NAS SOCIEDADES ACTUAIS E EM PORTUGAL ..................................................................................... 54

    A LEITURA NA VIDA PESSOAL .................................................................................................................................... 56

    3

  • 6. ENTREVISTAS: COMO SE POSICIONAM OS ACTORES SOCIAIS DE REFERNCIA .......................... 59

    AS ENTREVISTAS E OS ACTORES ................................................................................................................................ 59

    LEITURA EM PORTUGAL E PERTINNCIA DO PNL ................................................................................................. 59

    O DESENHO DO PNL ................................................................................................................................................... 60

    RESULTADOS E IMPACTES ESPERADOS ...................................................................................................................... 62

    ENVOLVIMENTO NO PNL ............................................................................................................................................ 63

    SUGESTES E PROPOSTAS ........................................................................................................................................... 65

    7. AVALIAO DO 1. ANO DO PNL: SNTESE CONCLUSIVA .......................................................................... 67

    BALANO GERAL .......................................................................................................................................................... 67

    EXECUO DOS PROGRAMAS .................................................................................................................................... 68

    ATITUDES DOS DIFERENTES SEGMENTOS DO PBLICO ABRANGIDO ............................................................... 70

    IMPACTE DOS PROGRAMAS NO DESENVOLVIMENTO DA LEITURA ...................................................................... 71

    FACTORES EXPLICATIVOS ............................................................................................................................................ 73

    A QUESTO DA CONTINUIDADE ............................................................................................................................... 75

    8. SISTEMA DE AVALIAO DO PNL .......................................................................................................................... 77

    FUNDAMENTOS DO SISTEMA DE AVALIAO ........................................................................................................... 77

    DESENHO DO SISTEMA DE AVALIAO ..................................................................................................................... 79

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................................................................. 83

    ANEXOS

    ANEXO I: INQURITO S ESCOLAS ........................................................................................................................... 101

    ANEXO II: BARMETRO DE OPINIO PBLICA ...................................................................................................... 147

    ANEXO III: ESTUDOS DE CASO ................................................................................................................................. 177

    4

  • APRESENTAO

    Que avaliao se pode fazer do primeiro ano do Plano Nacional de Leitura? E como conceber um

    Sistema de Avaliao que acompanhe o PNL nos anos seguintes, ao longo do tempo previsto para

    a sua vigncia (duas fases sucessivas, de cinco anos cada), dando conta do desenrolar das suas aces,

    das apreciaes que vai suscitando e dos efeitos que vai produzindo? O estudo aqui apresentado

    procura dar resposta, precisamente, a estas duas questes.

    Uma avaliao externa rigorosa tem a obrigao de explicitar desde incio os pressupostos em que

    assenta. Na base deste estudo de avaliao esto alguns pressupostos fundamentais.

    O primeiro desses pressupostos que a escrita constitui uma das mais importantes invenes da

    humanidade, com os seus incios h apenas meia dzia de milnios, em diversas civilizaes. No ,

    pois, um dado natural da espcie humana, mas um produto social recente atendendo escala

    temporal apropriada. Estando a escrita e a leitura hoje generalizadas, atravs das aprendizagens esco-

    lares e dos usos quotidianos, tende-se a perder de vista este seu carcter socialmente produzido,

    de tecnologia do intelecto (Goody, 2000). Mas decisivo tom-lo em considerao, para compreen-

    der os processos de aprendizagem, difuso e uso da leitura, assim como os obstculos que a isso

    se colocam.

    H poucos sculos, com o surgimento da imprensa, a leitura comeou gradualmente a expandir-

    -se a todo o tecido social. Hoje, a informao escrita e a leitura dela impregnam o sistema de ensino,

    a cultura e a cincia, as actividades econmicas e polticas, a comunicao meditica e interpessoal,

    o conjunto da vida quotidiana. As situaes da leitura multiplicaram-se e surgiram novos suportes.

    A leitura e a escrita j no se fazem s em papel mas tambm numa diversidade crescente de meios

    electrnicos. O segundo pressuposto , pois, o de que no s a leitura se tornou uma prtica multi-

    facetada na sociedade contempornea como a capacidade de leitura a literacia passou a constituir

    um recurso social indispensvel a qualquer cidado. Ter fracas prticas de leitura e baixas competn-

    cias de literacia representa hoje, para qualquer pessoa, uma limitao sria partilha dos bens cultu-

    rais, ao emprego qualificado e ao exerccio da cidadania. E um pas que tenha essas competncias

    e prticas menos desenvolvidas do que aqueles com quem coopera e concorre est condenado

    a posicionar-se de maneira desvantajosa no mundo globalizado da sociedade da informao e do

    conhecimento.

    O terceiro pressuposto desta avaliao o de que a sociedade portuguesa apresenta carncias

    fortes neste domnio, como tem vindo a ser evidenciado por diversos indicadores e investigaes.

    As tendncias identificadas por esses estudos so de melhoria gradual, mas no suficiente. H causas

    variadas para esta situao, como tem sido tambm analisado. Mas, do ponto de vista que preside

    5

  • a este estudo, ainda mais importante do que as causas so as consequncias. Essas, em termos gerais,

    so as atrs referidas, tanto a nvel das pessoas individualmente consideradas como a nvel da socie-

    dade no seu conjunto, apelando a uma actuao concertada na sociedade portuguesa a exemplo do

    que feito em muitos pases, designadamente nos mais avanados no sentido de melhorar a apren-

    dizagem da leitura e de tornar as prticas de leitura mais abrangentes e mais qualificadas. So estas,

    afinal, as finalidades do Plano Nacional de Leitura.

    O PNL um instrumento de poltica pblica, e, nas sociedades actuais, as polticas pblicas so

    cada vez mais acompanhadas de estudos de avaliao, respondendo a duas ordens de requisitos:

    democrticos e instrumentais. este o quarto pressuposto do estudo aqui apresentado. No plano

    democrtico, ou da cidadania, tem-se em vista, com a avaliao, favorecer a prestao de contas na

    esfera pblica e o envolvimento dos actores sociais a que as polticas dizem respeito. No plano

    instrumental, ou operativo, a avaliao visa contribuir para a fundamentao dos planos e programas,

    a procura de eficincia na utilizao de recursos, o permanente aperfeioamento de processos no

    decurso das aces, a aferio da eficcia quanto ao cumprimento de objectivos, o conhecimento

    dos impactes causados.

    Na deciso governamental de lanamento do Plano Nacional de Leitura (Resoluo do Conse-

    lho de Ministros n. 86/2006), consta expressamente o intuito de faz-lo acompanhar desde incio por

    estudos de avaliao, incidindo sobre a execuo dos programas constitutivos do Plano, as atitudes

    dos diferentes segmentos do pblico abrangido e os impactes do PNL no desenvolvimento da leitura.

    No primeiro ano, foram atribudas a este estudo de avaliao duas misses: a) realizar uma

    avaliao preliminar, relativa ao ano de arranque do Plano; b) conceber e testar um Sistema de

    Avaliao destinado a acompanhar o PNL ao longo de todo o seu perodo de execuo. Os captulos

    que se seguem, e os respectivos anexos, respeitam s diferentes componentes do estudo.

    No captulo 1 situa-se o PNL perante a problemtica da leitura nas sociedades contemporneas

    e, em particular, no contexto especfico da sociedade portuguesa, explicitando-se em seguida a con-

    cepo de avaliao que preside a este estudo e o seu travejamento metodolgico geral.

    Os captulos 2 a 7 tratam da avaliao do primeiro ano do PNL. Importa salientar, por um lado,

    que se trata de um perodo de lanamento das actividades do Plano, no qual a avaliao assumiu um

    carcter preliminar e experimental. Por outro lado, essa experimentao possibilitou fundamentar

    e aperfeioar o desenho do Sistema de Avaliao a aplicar posteriormente.

    Assim, no captulo 2 analisa-se a concepo do Plano e as suas realizaes no primeiro ano,

    recorrendo a fontes documentais e a entrevistas com a Comisso do PNL. No captulo 3 tratam-se

    os resultados de um inqurito por questionrio s escolas abrangidas, aplicado on-line no final do ano

    lectivo. No captulo 4 sintetizam-se os resultados de um conjunto alargado de estudos de caso em

    escolas, bibliotecas escolares, bibliotecas pblicas e cmaras municipais. No captulo 5 analisam-se

    os dados de um barmetro de opinio pblica, realizado por inqurito a uma amostra representativa

    da populao nacional. No captulo 6 analisado um conjunto de entrevistas a dirigentes de associaes

    com ligao directa ao tema da leitura, concretamente professores, educadores, pais, bibliotecrios,

    6

  • editores e livreiros. No captulo 7 apresenta-se uma sntese conclusiva da avaliao do primeiro ano

    do PNL, destacando as principais dimenses avaliativas e ensaiando uma anlise de factores explicativos.

    O captulo 8 tem um carcter diferente dos anteriores. Nele so apresentados os fundamentos

    e o desenho do Sistema de Avaliao do PNL que visa acompanhar o decurso da execuo do Plano,

    sistema que foi elaborado, testado e aperfeioado com base no estudo de avaliao experimental

    do primeiro ano.

    Constam ainda deste estudo trs anexos (em CD-Rom), nos quais se apresentam exaustivamente

    os resultados do inqurito s escolas, do barmetro de opinio pblica e dos estudos de caso. Embora

    extensos, contm informao e anlises com um grau de pormenor que no caberia nos

    captulos principais do estudo, oferecendo uma leitura complementar destes.

    7

  • 1. O PLANO NACIONAL DE LEITURA: CONTEXTO E AVALIAO

    Leitura e literacia na sociedade contempornea

    O lanamento do Plano Nacional de Leitura em Portugal tem como principal justificao a ne-

    cessidade de desenvolver as competncias de literacia e os hbitos de leitura da populao portuguesa,

    em particular dos mais jovens. Estes so, alis, em termos gerais, os objectivos de outros planos equi-

    valentes que, nos ltimos anos, tm vindo a ser concebidos e desenvolvidos noutros pases (Neves,

    Lima e Borges, 2007). No obstante especificidades vrias, todos eles revelam uma preocupao social

    comum no que concerne literacia e leitura da populao, visando o seu alargamento e aprofun-

    damento.

    importante referir que estas preocupaes surgem no mbito de sociedades nas quais a leitura

    e a literacia esto j presentes no quotidiano de grande parte da populao. Com efeito, e ao contr-

    rio do que por vezes se possa pensar, as sociedades contemporneas, incluindo a portuguesa, no apre-

    sentam ndices de prticas de leitura e de competncias de literacia mais reduzidos do que os registados

    em perodos anteriores. Caso seja adoptada uma perspectiva histrica, no restam dvidas de que a

    populao alfabetizada e escolarizada tem vindo a aumentar progressivamente. O incio deste pro-

    cesso e o seu ritmo de crescimento apresentam importantes variaes consoante o pas, mas, de um

    modo geral, a leitura constitui hoje uma competncia e uma prtica mais generalizada do que no pas-

    sado.

    O que se passa que nas sociedades contemporneas, profundamente marcadas pela leitura e pela

    escrita, as exigncias a este respeito continuam a aumentar. Expresses como sociedade da informao

    ou sociedade do conhecimento correspondem a contextos sociais e econmicos nos quais a codificao

    da informao, possibilitada pela escrita, e a sua descodificao, atravs da leitura, alcanaram nveis

    nunca antes atingidos. Se o alargamento progressivo do nmero de leitores acompanhou, e permitiu,

    grande parte das transformaes ocorridas nas sociedades, estas colocam hoje aos indivduos inme-

    ras exigncias e desafios, os quais se fazem sentir nas mais diversas esferas e domnios. No conjunto

    das competncias-chave requeridas para as sociedades actuais (Rychen e Salganik, 2003), as de litera-

    cia, ou seja, as que remetem para a capacidade efectiva de utilizao de materiais escritos, ocupam, sem

    dvida, um lugar de destaque (Costa, 2003; Murray, 2003a). Seja na vida profissional, seja na vida so-

    cial e pessoal, so cada vez mais as situaes e os contextos que requerem, e possibilitam, a interpre-

    tao de informao escrita.

    Reconhecer a centralidade da leitura nas sociedades contemporneas no significa afirmar que

    esta seja a nica via de acesso informao. A comunicao oral mantm a sua importncia, assim

    9

  • como os meios audiovisuais tm vindo a aumentar, em particular a televiso, cuja presena e impacto

    na chamada opinio pblica so inequvocos. Mas atendendo quantidade, sem precedentes, de con-

    tedos veiculados atravs de suportes escritos, essas formas de comunicao e de acesso informao

    no so suficientes, tornando-se fundamental que os indivduos possam descodificar a informao

    escrita. Para alm deste ponto, que foca especificamente o problema do acesso informao, o que aqui

    se pretende sublinhar so as profundas implicaes do alargamento da leitura, quer para os indivduos,

    quer para as sociedades.

    Na vida quotidiana a leitura pode ter por base materiais muito diversos. O livro continua a ser

    o suporte por excelncia para a leitura, mas coexiste com outros formatos em papel (jornais, revistas,

    folhetos de diversos tipos), assim como com outros suportes apoiados nas novas tecnologias da infor-

    mao e da comunicao. Estes ltimos, embora impliquem o domnio de competncias especficas,

    no dispensam a leitura e as competncias a ela associadas. Alm disso, como algumas pesquisas tm

    vindo a mostrar, os novos meios no substituem os anteriores, podendo mesmo, nalguns casos,

    contribuir para o seu reforo. Por exemplo, a utilizao da internet pode facilitar o acesso a informa-

    o sobre livros e a comunidades de leitores, contribuindo assim para o aumento da leitura de livros

    em pblicos especficos (Griswold, McDonnel e Wright, 2005). Em suma, com a diversificao dos

    suportes, a leitura no diminui, mas transforma-se.

    Nas sociedades actuais as prticas de leitura so mais frequentes e tambm mais diversificadas

    do que em perodos anteriores. Podem apoiar-se em mltiplos suportes e visar inmeros fins. A lei-

    tura de livros, por exemplo em situaes de lazer, mantm-se, mas tendem a surgir outras prticas

    de leitura, algumas delas com um carcter quase invisvel e, por vezes, no consciente. Com efeito, em

    mltiplas situaes da vida quotidiana, a leitura (e tambm a escrita) est presente, mesmo que aque-

    les que a praticam nem sempre se apercebam da sua importncia. A forte presena da leitura e da es-

    crita no quotidiano tem vindo a ser destacada nalguns estudos que evidenciam o alargamento sem

    precedentes destas prticas e, sobretudo, as diferentes formas que elas podem assumir (Bartom, 2007;

    Barton e Hamilton, 1998; Baudelot, Cartier e Detrez, 2000; Lahire, 1993, 2003, 2004; Papen, 2005).

    O reconhecimento destas prticas e do papel que desempenham na vida social contempornea cor-

    responde a uma concepo da leitura bastante ampla, que inclui uma variedade de suportes, tempos,

    contextos e finalidades. Entendida desta forma, a leitura tende a ser, nos quadros sociais actuais, mul-

    tifacetada e heterognea, mas tendencialmente universal. Pode estar associada a outras competncias,

    eventualmente assumir um carcter fragmentado e disperso, ter muitas vezes fins utilitrios, mas re-

    fora a sua importncia enquanto instrumento decisivo para os sujeitos quando procuram enfrentar

    novos desafios e problemas em sociedades cada vez mais exigentes.

    Um aspecto fundamental evidenciado em vrios estudos sobre a leitura que esta tem implica-

    es que em muito ultrapassam a descodificao de informao escrita. Ler promove a reflexo, ou seja,

    tem implicaes cognitivas. Por exemplo, o socilogo Bernard Lahire ao investigar as mltiplas

    prticas de leitura e de escrita que preenchem o quotidiano dos sujeitos conclui que estas favorecem

    a reflexo sobre o passado e tambm a antecipao, ou projeco, do futuro. O retorno reflexivo sobre

    10

  • a aco e a preparao reflexiva da aco apoiam-se, muitas vezes, na leitura e na escrita (Lahire, 1993,

    2003). Em certo sentido, as mesmas potencialidades associadas leitura e escrita foram tambm

    identificadas pelo antroplogo Jack Goody quando analisou os primeiros sistemas de escrita: segundo

    defende, a escrita, e a leitura do que est escrito, facilitam o distanciamento relativamente aos enun-

    ciados e promovem a anlise crtica dos mesmos (Goody, 1987a, 1987b). Algumas anlises recentes tm

    defendido que, nas sociedades mais avanadas, uma menor capacidade crtica e reflexiva dos sujeitos

    pode ocorrer quando estes acedem informao quase exclusivamente atravs da televiso. O pro-

    blema reside no tanto na informao veiculada pela televiso, mas no facto de este meio, ao contr-

    rio dos suportes escritos (por exemplo, os jornais) no promover, e poder mesmo dificultar,

    o pensamento reflexivo (Gore, 2007). No conjunto, estas vrias perspectivas sublinham o papel da

    leitura enquanto instrumento que potencia a capacidade reflexiva dos sujeitos.

    Um dos problemas das sociedades actuais, profundamente marcadas pela informao e pelo

    conhecimento, a existncia de segmentos da populao cujos hbitos de leitura e competncias de

    literacia so reduzidos face ao que seria desejvel. Com efeito, e no obstante o alargamento progres-

    sivo do nmero daqueles que dominam a leitura e a utilizam em diversos contextos da vida, perma-

    necem, neste domnio, desigualdades sociais muito acentuadas. As consequncias que daqui decorrem

    tm vindo a ser sublinhadas em vrias pesquisas. Se, em termos globais, baixos nveis de literacia da

    populao podem comprometer o desenvolvimento econmico e social dos pases, para os indivduos

    a ausncia de competncias deste tipo pode constituir um problema de cidadania e mesmo aumentar

    os riscos de excluso social (Murray, 2003a, 2003b). Da vulnerabilidade face ao desemprego ao defi-

    ciente acesso a cuidados de sade, passando por dificuldades vrias no desenvolvimento de processos

    de aprendizagem ao longo da vida, so inmeros os domnios que podem ser condicionados por re-

    duzidas capacidades de literacia.

    A possibilidade de retratar, com alguma preciso, a situao dos pases a este respeito relativa-

    mente recente. Seguindo de perto pesquisas conduzidas nos EUA e Canad no final da dcada de 70,

    foi realizado nos anos 90 o International Adult Literacy Survey (IALS) em 22 pases, entre os quais

    Portugal (OCDE e Statistics Canada, 2000). O conceito fundamental que orienta este trabalho ,

    precisamente, o conceito de literacia, com o qual se procura dar conta da capacidade efectiva de

    utilizao de informao escrita na vida quotidiana. Trata-se, portanto, de uma abordagem que re-

    mete para as prticas de leitura dos sujeitos e que incide na sua capacidade de interpretao e utiliza-

    o da informao escrita. A metodologia adoptada permitiu avaliar, atravs de uma prova,

    as competncias de literacia da populao adulta. Em Portugal, foi ainda conduzido um estudo na-

    cional, especificamente dirigido avaliao da literacia dos adultos (Benavente, Rosa, Costa e vila,

    1996; Costa e vila, 1998). Os resultados de ambas as investigaes, muito similares ao nvel da con-

    cepo terica e metodolgica, apenas com algumas diferenas no modo de operacionalizao (vila,

    2008; Carey, Bridgwood, Thomas e vila, 2000), revelaram que quase 80% dos adultos portugueses

    no detinham os nveis de competncias considerados mnimos, segundo os padres fixados nas pes-

    quisas internacionais, para fazer face aos desafios e exigncias das sociedades actuais (vila, 2008).

    11

  • No quadro destes estudos, e entre muitos outros aspectos, pde ser investigada a relao entre

    escolaridade e literacia, concluindo-se que embora, como seria de esperar, a nveis de instruo elevados

    tendam a corresponder nveis de literacia mais altos, no se observa uma sobreposio em absoluto

    entre as duas variveis, o que significa que os indivduos com graus de escolaridade elevados podem

    revelar competncias de literacia abaixo do que seria previsvel e vice-versa. Daqui decorre uma con-

    firmao importante, a de que a literacia apenas desenvolvida e actualizada atravs da prtica, ou seja,

    que s a existncia de hbitos e rotinas quotidianas de leitura pode assegurar a manuteno, ou mesmo

    o desenvolvimento, das competncias de literacia.

    Uma outra pesquisa internacional, especificamente dirigida aos alunos de 15 anos, o PISA

    (Programme for International Student Assessment), tem permitido avaliar as competncias dos jovens em

    leitura, matemtica e cincias. Nas trs fases j concludas (2000, 2003 e 2006), os resultados mostram

    que os alunos portugueses detm competncias inferiores aos da mdia dos pases da OCDE,

    nomeadamente no que concerne chamada literacia em leitura, embora as diferenas no sejam,

    neste caso, to acentuadas como para a populao adulta (OCDE, 2001, 2004, 2007). No conjunto,

    os estudos internacionais sobre as competncias dos jovens e dos adultos vm alertar para os proble-

    mas que a sociedade portuguesa enfrenta nos domnios da leitura e da literacia.

    A preocupao social com a leitura e a literacia no pode limitar-se, hoje em dia, a segmentos

    especficos da populao. As sociedades contemporneas implicam, de forma crescente, competn-

    cias de literacia generalizadas, fundamentais para todos os indivduos e por referncia a diferentes

    dimenses da vida social. A literacia constitui uma competncia crtica para o conjunto da populao,

    cujo desenvolvimento permanente necessrio assegurar. Nesse sentido, a promoo da leitura e da

    literacia no poder deixar de envolver a sociedade como um todo.

    O Plano Nacional de Leitura inscreve-se nestas preocupaes, procurando contribuir para o alar-

    gamento das prticas de leitura e para a melhoria das competncias de literacia na sociedade portuguesa.

    Metodologia da avaliao

    A avaliao do Plano Nacional de Leitura constitui uma preocupao inscrita na concepo do

    Plano desde o incio. Neste sentido, contemplou desde logo o lanamento de estudos de avaliao,

    cujos resultados permitiro fundamentar eventuais futuras redefinies de prioridades, objectivos

    operacionais, metas, programas, aces e destinatrios, designadamente no final do primeiro quin-

    qunio de execuo do Plano.

    A primeira fase dos Estudos de Avaliao do Plano Nacional de Leitura teve como objectivo

    principal a concepo de um Sistema de Avaliao do PNL. Esse Sistema de Avaliao, a ser instalado

    e accionado nos anos seguintes, permitir acompanhar de maneira continuada e sistemtica o desen-

    volvimento do Plano, com vista a caracterizar, analisar e avaliar a execuo dos programas, as atitudes

    dos pblicos abrangidos e os impactes no desenvolvimento da leitura.

    12

  • Do ponto de vista metodolgico, este objectivo implicou elaborar, seleccionar e testar um

    conjunto de fontes de informao, de indicadores, de instrumentos e de procedimentos de recolha,

    tratamento e anlise de informao.

    Nesse processo, medida que se aplicaram e testaram instrumentos de avaliao, a informao

    recolhida possibilitou uma primeira srie de anlises de avaliao do primeiro ano do PNL.

    A avaliao do PNL obedeceu a finalidades de monitorizao e regulao, de eficcia e eficin-

    cia, de desenvolvimento de competncias e de promoo da qualidade na interveno, de responsa-

    bilizao pblica e de promoo da participao dos vrios actores sociais.

    Esta viso alargada e ambiciosa da avaliao reconhece-lhe contributos que se diferenciam dos que

    se atribuem fiscalizao e que vo muito para alm do acompanhamento das intervenes ou da mera

    comparao entre o previsto e o realizado. Tm sido identificados trs tipos de utilidade dos proces-

    sos de avaliao: a utilidade instrumental, em que a avaliao constitui um instrumento de melhoria

    da execuo e da gesto das polticas e programas, permitindo introduzir correces ou inflexes

    no decurso desses dispositivos; a utilidade estratgica, perspectivando a avaliao enquanto cultura

    de dilogo, de intercmbio de ideias, de aprendizagem colectiva, enfim, enquanto prtica que

    estimula a mobilizao dos vrios actores envolvidos (desde decisores, gestores de programas e polti-

    cas, a entidades executoras e destinatrios finais); a utilidade substantiva, em que os resultados da ava-

    liao so fundamentais para a reconceptualizao de programas ou polticas no futuro (Ferro, 1996:

    31-32). A avaliao do PNL procurou produzir contributos a estes vrios nveis, ainda que em graus

    diferenciados.

    Seria, pois, redutor classificar o sistema de avaliao do PNL num dos cinco tipos principais que

    Stern identifica, a partir de dois eixos, o dos objectivos da avaliao e o dos mtodos, designadamente:

    avaliaes de eficincia/econmicas; avaliaes de gesto/desempenho; avaliaes formativas; avalia-

    es causais/experimentais; avaliaes participativas (Stern, 2005: xxvii-xxix). Pode-se afirmar que o sis-

    tema combina elementos sobretudo do segundo, terceiro e quarto tipo, que a seguir se explicitam.

    As avaliaes de gesto/desempenho procuram demonstrar em que medida os programas atingiram

    os seus objectivos e como utilizaram os seus recursos. As formativas tm como objectivo a melhoria

    do desempenho dos programas enquanto eles decorrem, possibilitando uma monitorizao contnua

    desses programas. As causais/experimentais direccionam-se essencialmente para a produo de

    conhecimento sobre os impactes dos programas, procurando identificar as razes de sucessos e insu-

    cessos (Stern, 2005: xxvii-xxix).

    Trata-se de uma avaliao externa, orientada por princpios de rigor analtico e independncia.

    Se tal implica uma posio de exterioridade da equipa de avaliao face interveno do Plano, no

    significa um afastamento entre essa equipa e a equipa responsvel pela execuo do PNL. Um dos

    requisitos da avaliao externa a disponibilidade dos avaliadores se colocarem na perspectiva dos

    diversos intervenientes nas actividades, o que tanto mais importante quanto os interesses e con-

    cepes destes devem ser considerados, de forma controlada e crtica, na organizao e desenho da ava-

    liao, por exemplo ao nvel dos dados a recolher e das questes a aprofundar (Guba e Lincoln, 1989).

    13

  • O trabalho de avaliao desenvolvido decorreu em estreita e continuada articulao com a

    Comisso do Plano, com contributos mtuos, quer pela discusso conjunta de procedimentos e ins-

    trumentos de recolha e anlise de informao, quer pela devoluo regular dos resultados prelimina-

    res que a avaliao foi produzindo s responsveis do Plano.

    Os resultados dessa articulao foram particularmente potenciados pelo facto do processo

    de avaliao ter ocorrido em simultneo com o primeiro ano de execuo do Plano. Neste sentido,

    tratou-se de uma avaliao centrada no modo como o Plano foi operacionalizado e executado nas suas

    diversas vertentes, mas incluiu tambm elementos de avaliao ex-ante ou prvia, relativos pertinn-

    cia do Plano face ao panorama nacional em matria de leitura e de literacia, bem como elementos que

    remetem para a captao de resultados e, na medida do possvel, impactes do Plano.

    A conjugao destas orientaes permite a criao de sistemas de avaliao inter-activa, que combinam

    a anlise simultnea do planeamento, dos processos e dos impactes no decurso da prpria interven-

    o, assentando no pressuposto de que a avaliao e a interveno se reforam mutuamente

    (Capucha e outros, 1996: 15). No caso do PNL, tal possibilitou a observao de vrios programas em

    aco, bem como a obteno de informao susceptvel de ser incorporada ainda no decurso do

    primeiro ano do Plano.

    A avaliao incidiu em quatro domnios: concepo do Plano; operacionalizao e organizao;

    realizao/execuo; resultados (entendidos como as actividades, produtos e consequncias imediatas

    das aces desenvolvidas) e impactes (relativos aos efeitos, directos e indirectos, de mdio/longo prazo

    sobre os destinatrios, tambm estes directos e indirectos, das aces, tendo em conta os objectivos

    do PNL). Quanto aos impactes, dado o tempo decorrido entre a execuo das actividades e a sua ava-

    liao, ainda cedo para avaliar de forma sistemtica impactes que, na sua maioria, pela sua natureza,

    no so imediatos e s se faro sentir a mdio ou longo prazo. Neste domnio, procurou-se sobretudo

    estabelecer um quadro de referncia de partida que possibilite comparaes futuras no mbito de uma

    avaliao do Plano a desenvolver decorridos alguns anos aps o seu lanamento. Foi igualmente

    possvel recolher alguns elementos substantivos que remetem para impactes do PNL, que devem ser

    lidos como pistas a explorar em futuras avaliaes.

    semelhana do que comum nos sistemas de avaliao de intervenes com a dimenso

    e as caractersticas do PNL, em que se adoptam estratgias compostas, complexas e plurimetodolgicas

    (Capucha e outros, 1996: 18), privilegiou-se uma abordagem metodolgica pluralista, num duplo sentido:

    i) na auscultao dos vrios actores envolvidos, em diferentes patamares e de diversas formas, no PNL,

    abrangendo responsveis do PNL, escolas, bibliotecas, cmaras municipais, associaes e outras entida-

    des, professores, bibliotecrios e alunos; ii) no recurso a diversas fontes de informao (pr-existentes, mas

    tambm produzidas no quadro da avaliao) e no accionamento de procedimentos vrios de recolha

    e anlise de informao, quer de tipo extensivo e quantitativo, quer de tipo intensivo e qualitativo.

    S a adopo de uma tal perspectiva de anlise cruzada de informaes e opinies recolhidas junto

    dos vrios actores que intervm no Plano, atravs de diferentes procedimentos, permite a produo

    de proposies avaliativas sustentadas e capazes de traduzir de modo adequado as situaes reais.

    14

  • Em concreto, os resultados da avaliao do primeiro ano do Plano que aqui se apresentam foram

    produzidos a partir do recurso aos seguintes procedimentos metodolgicos: i) anlise documental

    e entrevistas aos membros da Comisso do PNL; ii) inqurito s escolas; iii) estudos de caso, junto

    de escolas, bibliotecas escolares, bibliotecas pblicas e cmaras municipais; iv) barmetro de opinio

    pblica; v) entrevistas a actores sociais de referncia. A especificao destas operaes consta de cada

    um dos captulos em que se apresentam os respectivos resultados.

    15

  • 2. O PLANO NACIONAL DE LEITURA: DA CONCEPO S REALIZAES

    Anlise documental e entrevistas Comisso do PNL

    Com vista reconstituio da lgica da concepo do Plano Nacional de Leitura, obteno de

    informao sobre as suas condies de operacionalizao e identificao das suas principais realiza-

    es e resultados no primeiro ano, procedeu-se anlise de um conjunto variado de documentos,

    bem como realizao de entrevistas aos responsveis directos pela execuo do Plano.

    A anlise documental incidiu sobre vrios tipos de documentos, quer relativos ao prprio Plano

    (como o relatrio inicial do PNL e legislao que o criou, os relatrios de execuo peridicos,

    os relatrios de balano e outros), quer relativos a planos e programas de promoo da leitura de

    outros pases e respectivos modelos de avaliao, quer ainda aqueles que contm informao sobre

    a situao de Portugal em matria de leitura (sejam eles resultados de exames nacionais, de inquri-

    tos internacionais de avaliao de competncias ou de inquritos aos hbitos de leitura como os que

    o prprio Plano promoveu). Incidiu igualmente sobre o sistema de informao de que o Plano se

    dotou para o registo das actividades que foi desenvolvendo, bem como sobre o seu stio electrnico,

    que alberga boa parte desse sistema. Foram ainda objecto de anlise os materiais das campanhas de

    promoo da leitura lanadas pelo PNL, bem como algumas peas televisivas e da imprensa escrita

    onde houve referncias mais ou menos aprofundadas ao Plano.

    Foram entrevistados todos os membros da Comisso do Plano, sendo particularmente aprofun-

    dadas as entrevistas Comissria e Comissria-Adjunta.

    Concepo e desenho do PNL

    O Plano Nacional de Leitura foi concebido tendo por objectivos a promoo da leitura na

    sociedade portuguesa e a elevao dos nveis de literacia da populao. Teve por ponto de partida a

    verificao dos dfices persistentes do pas a este respeito, perante a importncia crescente e presena

    transversal que a leitura e a literacia adquiriram no mundo actual.

    Aprovado em Julho de 20061 o PNL concretiza um processo que j tinha sido encetado algum

    tempo atrs. Ainda em Dezembro do ano anterior, em despacho conjunto da Presidncia do Conse-

    17

    1 Resoluo do Conselho de Ministros n.o 86/2006, de 12 de Julho de 2006.

  • lho de Ministros e Ministrios da Educao e da Cultura2 se manifestava a inteno de criar um Plano

    Nacional de Leitura, como resposta aos preocupantes baixos nveis de literacia da populao portu-

    guesa, particularmente dos jovens em idade escolar.

    Este despacho nomeou a equipa para a coordenao do Plano envolvendo uma comissria

    e representantes dos Ministrios da Educao e da Cultura e do Ministro dos Assuntos Parlamenta-

    res , a quem incumbiu de desenhar o futuro Plano. Essa tarefa culminou na apresentao, por esta

    equipa, em Maro de 2006, de um relatrio detalhado do Plano Nacional de Leitura, onde eram

    identificados os principais objectivos a prosseguir e as aces a desenvolver. Foi este relatrio que,

    com algumas adaptaes, veio a dar corpo ao PNL tal como foi publicado.

    A ideia de criao de um Plano Nacional de Leitura em Portugal no nasceu, porm, a.

    Ela vinha j sendo amadurecida, em particular pela Comissria e Comissria-Adjunta, que, pela

    experincia acumulada em diferentes domnios e patamares de promoo da leitura entre eles

    a Rede de Bibliotecas Pblicas e a Rede de Bibliotecas Escolares , tinham desenvolvido uma reflexo

    aprofundada sobre a sua necessidade e sobre o que poderiam vir a ser os seus contedos.

    As orientaes para o desenho do PNL privilegiaram o cruzamento de dois aspectos fundamen-

    tais: a continuidade e a inovao. Considerou-se que um dos factores centrais para o seu sucesso seria

    o facto de, por um lado, assentar em estruturas j existentes, e, por outro, partir das prticas de pro-

    moo da leitura j em curso no terreno. Tal orientao traduziu-se no papel estratgico que o Plano

    atribui s Redes de Bibliotecas escolares e pblicas como suporte para o desenvolvimento das

    aces programadas. Traduziu-se igualmente, quer no aproveitamento das iniciativas de promoo de

    leitura que j eram desenvolvidas nas escolas e nas bibliotecas procurando aperfeioar os aspectos

    passveis de melhorias , quer na considerao do trabalho realizado no mbito dos Planos de Leitura

    de outros pases. Mas o Plano assumiu tambm um carcter inovador face s prticas correntes,

    introduzindo metodologias mais sistemticas de promoo da leitura, de que a leitura orientada na sala

    de aula constitui a actividade mais emblemtica.

    Com a durao de dez anos, divididos em duas fases de cinco anos cada, o Plano Nacional de

    Leitura estabelece como principais objectivos a promoo da leitura e o desenvolvimento de compe-

    tncias de leitura, em diferentes contextos: o escolar, o familiar, o das bibliotecas e outros contextos

    sociais. Os programas que integra concretizados em aces especficas dirigem-se, assim, quer po-

    pu lao em geral, quer a grupos delimitados por idades, designadamente crianas e jovens que

    frequentam os vrios nveis de ensino.

    No primeiro ano do Plano estabeleceu-se como pblico prioritrio as crianas com idade de fre-

    quncia do jardim-de-infncia (3 a 6 anos), do 1. ciclo do ensino bsico e do 2. ciclo, tendo sido

    definidos vrios programas a elas dirigidos, quer no espao escolar, quer no contexto familiar. Esta prio-

    ridade traduz uma opo fundamentada de apostar nos mais jovens, pelo facto de estas idades serem

    cruciais para o desenvolvimento do gosto pela leitura, das competncias e dos hbitos de leitura.

    18

    2 Despacho Conjunto n.o 1081/2005, publicado a 22 de Dezembro de 2005.

  • Traduz ainda a opo de no lanar todos os programas em simultneo, mas ir avanando com

    segurana de forma faseada. Por isso, estava previsto desde o incio do PNL o seu progressivo alarga-

    mento a alunos do 3. ciclo e do ensino secundrio, atravs do lanamento de programas especficos,

    a partir do seu segundo ano de execuo.

    O PNL prev tambm actividades a montante, designadamente a melhoria das competncias

    dos vrios agentes que intervm na promoo da leitura educadores, professores, bibliotecrios,

    mediadores de leitura, pais , atravs da realizao de aces de formao e da disponibilizao de

    orientaes para o desenvolvimentos das vrias actividades inscritas no Plano.

    O PNL foi igualmente entendido como uma instncia privilegiada para a produo de informa-

    o actualizada sobre a leitura em Portugal e para a criao de instrumentos de avaliao dos pro-

    gressos da leitura e da escrita dos alunos utilizveis em contexto escolar. E, desde o incio, incorporou

    no seu desenho a referncia explcita sua avaliao remetendo, quer para a necessidade de se acom-

    panhar de forma continuada a execuo, os resultados e os impactes das aces, quer para a estabili-

    zao de modelos de avaliao que permitam efectuar balanos no decurso do Plano.

    Com estes objectivos foram realizados vrios estudos por universidades e centros de investigao.

    Alm da presente avaliao, so de referir os inquritos aos hbitos de leitura dos portugueses

    e da populao escolar, a identificao e anlise de prticas nacionais e internacionais para promoo

    da leitura e o levantamento de instrumentos de avaliao de leitura produzidos em Portugal3.

    O PNL inclui ainda um plano de comunicao, que se traduz na criao do seu stio na

    Internet, em campanhas de promoo da leitura e na realizao de concursos e prmios nacionais de

    leitura, em parceria com os rgos de comunicao social e outros agentes.

    Coordenao do PNL: actores e recursos

    A execuo do PNL da responsabilidade de uma comisso interministerial, composta por: uma

    comissria; uma representante do Ministrio da Educao, com a funo de comissria-adjunta, coor-

    denadora do Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE); duas representantes do Ministrio da

    Cultura, da Direco-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB); e uma representante do Ministro dos

    Assuntos Parlamentares, do Gabinete para os Meios de Comunicao Social (GMCS)4.

    19

    3 Os estudos desenvolvidos deram origem s seguintes publicaes: Maria de Lourdes Lima dos Santos (coord.), JosSoares Neves, Maria Joo Lima e Margarida Carvalho (2007), A Leitura em Portugal, Lisboa, Gabinete de Estatstica ePlaneamento da Educao; Mrio Lages, Carlos Liz, Joo H. C. Antnio e Tnia Sofia Correia (2007), Os Estudantese a Leitura, Lisboa, Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao; Ins Sim-Sim e Fernanda Leopoldina Viana(2007), Para a Avaliao do Desempenho de Leitura, Lisboa, Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao; JosSoares Neves, Maria Joo Lima e Vera Borges (2007), Prticas de Promoo da Leitura nos Pases da OCDE, Lisboa, Observatrio das Actividades Culturais (relatrio). 4 A Comisso do Plano constituda por Isabel Alada (Comissria), Teresa Calada (Comissria-Adjunta), PaulaMoro (Ministrio da Cultura), Maria Carlos Loureiro (Ministrio da Cultura) e Alexandra Lorena (Gabinete para osMeios de Comunicao Social).

  • O Ministrio da Educao assume um papel particularmente relevante no PNL, estando vrios

    dos seus servios e organismos associados ao Plano: o Gabinete RBE, com o qual o PNL estabelece

    uma forte articulao, que passa inclusivamente pela partilha do espao fsico e do secretariado e pela

    colaborao entre os tcnicos das duas estruturas; o Gabinete de Estatstica e Planeamento da Edu-

    cao (GEPE), a quem compete a coordenao geral dos estudos, bem como a concepo e gesto

    de uma boa parte do sistema de informao do PNL, nomeadamente a componente relacionada com

    os estabelecimentos de ensino; a Direco-Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular (DGIDC),

    que presta apoio tcnico e logstico Comisso do PNL.

    O Ministrio da Cultura, atravs da DGLB, responsvel pelos programas do PNL na rea

    da cultura. Por sua vez, o GMCS constitui um parceiro estratgico para as iniciativas na rea da

    comunicao social.

    A articulao entre estas vrias estruturas tem sido efectiva e tem permitido a execuo das

    actividades promovidas pelo PNL sem dificuldades de relevo. O envolvimento das trs reas educa-

    o, cultura e comunicao social parece ser uma opo coerente face aos objectivos e aces

    programadas.

    A estrutura de apoio tcnico do PNL, durante o seu primeiro ano de execuo, foi constituda

    por trs professores destacados das escolas e um secretariado de duas pessoas, partilhado com

    o Gabinete RBE. No final desse ano, e em consonncia com o crescente volume de trabalho que

    a dinmica imprimida ao Plano gerou, foi possvel duplicar o nmero de tcnicos.

    Principais produtos do PNL

    Cerca de um ano aps o lanamento do Plano, o balano quanto aos resultados alcanados

    afigura-se globalmente positivo.

    Comeando pelos produtos criados, h a destacar, em primeiro lugar, a criao de uma imagem

    prpria, expressa na marca Ler +.

    Em segundo lugar, a criao do stio electrnico do PNL, disponvel praticamente desde

    o incio. Este tem constitudo um instrumento fundamental para a sua divulgao, sobretudo para

    aqueles que esto envolvidos de modo mais directo na promoo da leitura, como sejam professores

    e bibliotecrios, mas tambm para as prprias famlias. Contendo informao actualizada sobre todas

    as iniciativas, dos mais diversos tipos, que o PNL vai desenvolvendo, constitui o rosto digital

    do Plano.

    O stio electrnico do PNL disponibiliza um conjunto de ferramentas para a promoo da

    leitura. Assim, em terceiro lugar, deve ser referida a criao de um conjunto alargado de orientaes

    para a leitura em contexto escolar e familiar, bem como a elaborao de listas de obras recomendadas.

    No primeiro ano, foram construdas 23 listas de livros recomendados, para crianas de jardim-de-

    -infncia, 1. ciclo e 2. ciclo, num total de 643 ttulos, para leitura orientada na sala de aula e para

    20

  • leitura autnoma, organizadas por ano escolar e grau de dificuldade, sendo algumas delas de carcter

    temtico. Para o ano lectivo de 2007/2008 a essas listas foram acrescentadas outras dirigidas ao

    3. ciclo, em consonncia com o alargamento dos programas de promoo da leitura em sala de aula

    para este nvel de ensino. No incio desse ano lectivo o PNL passou a disponibilizar ainda um conjunto

    de recomendaes relativas aquisio das obras para as escolas.

    Mais recentemente foi criado, pela Universidade Nova de Lisboa, outro stio electrnico, Clube

    de Leituras, com o patrocnio da Portugal Telecom. Este stio tem como objectivo, atravs da agregao

    de blogues, criar uma comunidade de leitores onde possam ser divulgadas e partilhadas, de forma

    sistemtica, experincias e prticas de leitura e vrias iniciativas culturais.

    O PNL nas escolas

    A promoo da leitura orientada em sala de aula a actividade mais estruturante e de carcter

    mais contnuo do PNL.

    Inserida nos programas para a promoo da leitura dirigidos aos jardins-de-infncia, 1. ciclo

    e 2. ciclo, consiste essencialmente na atribuio de um tempo especfico para a leitura dirio

    ou semanal consoante se trate de jardins-de-infncia e turmas do 1. ciclo ou de 2. ciclo , onde

    se privilegia um contacto directo dos alunos com os livros. Este contacto assegurado pela existncia

    de um nmero de exemplares do mesmo livro suficiente para permitir que pelo menos cada dois

    alunos tenham sua disposio um exemplar para acompanhar as actividades de leitura. O reforo

    oramental das escolas pelo Ministrio da Educao e outras entidades tem precisamente o objectivo

    de equipar as escolas e/ou bibliotecas com esses conjuntos de livros.

    A adeso das escolas a esta actividade foi muito forte. Convidadas, no incio do ano lectivo

    2006/2007, a registarem-se no Plano para o desenvolvimento de actividades de promoo da leitura

    sobretudo leitura orientada em sala de aula , mais de 7500 escolas, incluindo jardins-de-infncia e

    escolas dos 1. e 2. ciclos, fizeram-no, o que corresponde a cerca de um milho de crianas. A leitura

    orientada em sala de aula , alis, identificada pelas responsveis como uma das principais realizaes

    do PNL no seu primeiro ano de existncia. Alm do registo no PNL para esta actividade, importante

    referir que mais de 3500 escolas registaram tambm projectos prprios para promoo da leitura em

    contexto escolar ou extra-escolar.

    As razes da adeso de educadores e professores ao Plano parecem ser vrias. Primeiro, o facto

    das actividades propostas serem coerentes com as orientaes curriculares do Ministrio da Educao

    para a leitura nos tempos lectivos. Segundo, o facto de estas actividades serem exequveis e irem ao en-

    contro de prticas que j eram desenvolvidas em muitas escolas, no constituindo uma ruptura, mas

    sim uma continuidade e um reforo. Terceiro, a existncia de listas de obras recomendadas, que fun-

    cionaram como referncias e orientaes para o trabalho a desenvolver. Quarto, a possibilidade de ser

    atribuda s escolas uma verba destinada aquisio dos livros escolhidos.

    21

  • Do ponto de vista deste apoio financeiro, 676 escolas receberam reforo de oramento para a aqui-

    sio de livros destinados leitura orientada na sala de aula, num valor total de quase um milho

    e meio de euros. A maioria desta verba proveniente do Ministrio da Educao (1300 mil ) e tam-

    bm da Fundao Calouste Gulbenkian (150 mil )5 e da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento

    (150 mil ). Com os contributos de mais de uma centena e meia de cmaras municipais que no

    primeiro ano estabeleceram ou estavam em vias de estabelecer protocolos com o PNL para apoio s

    escolas dos respectivos concelhos, o valor financeiro acima referido praticamente duplica. Foram igual-

    mente obtidos alguns patrocnios de entidades privadas. Um desses apoios consistiu na oferta de

    9500 livros a 19 escolas, atravs de um concurso escala nacional promovido por uma cadeia

    de hipermercados (Sonae-Modelo-Continente).

    Tal como previsto, para o ano lectivo de 2007/2008 o PNL alargou o apoio leitura orientada

    em sala de aula ao 3. ciclo, o que permitiu dar resposta aos numerosos pedidos que os professores

    deste nvel de ensino vinham fazendo. semelhana do ano anterior, as escolas foram novamente con-

    vidadas a registarem-se no PNL e a indicarem as obras escolhidas.

    Foram alteradas as regras de atribuio do financiamento s escolas, em resultado da experin-

    cia do primeiro ano. Nesse ano, a verba foi atribuda unidade estabelecimento de ensino, apostando-

    se, prioritariamente, em escolas integradas na Rede de Bibliotecas Escolares, cuja qualidade de trabalho

    na promoo da leitura era j reconhecida e comprovada. Considerou-se, assim, que este factor po-

    tenciaria o sucesso das actividades que o PNL veio propor, constituindo simultaneamente um ensaio

    para a generalizao dos apoios. O facto de um grande nmero de escolas no ter sido contemplada

    com o reforo financeiro gerou, como seria de esperar, algum descontentamento entre as escolas no

    financiadas.

    No ano lectivo de 2007/2008, a duplicao do oramento por via do apoio das Cmaras e das

    Fundaes e a atribuio do financiamento unidade agrupamento e no unidade escola, garan-

    tem a cobertura de todas as escolas que no tinham sido objecto de apoio no primeiro ano. Para tal,

    o PNL formulou recomendaes especficas para a aquisio de obras, no sentido de garantir que

    todas as escolas do agrupamento beneficiem dessa aquisio.

    A par de iniciativas mais enraizadas e de carcter permanente, o PNL foi lanando ao longo do

    primeiro ano vrias iniciativas mais especficas e delimitadas no tempo, que tm constitudo impor-

    tantes factores de visibilidade do Plano e de motivao para prosseguir o desenvolvimento de activi-

    dades no seu mbito. Tambm aqui a adeso das escolas muito significativa, com nveis

    de participao bastante elevados.

    Perto de 1400 escolas inscreveram-se na Semana da Leitura que o PNL promoveu, realizando as

    mais variadas actividades, como dramatizaes e espectculos, encontros com escritores e ilustradores

    ou feiras do livro, para citar apenas alguns exemplos.

    22

    5 Esta verba constitui um tero do valor total a disponibilizar pela Gulbenkian, de acordo com o protocolo assinadocom o Ministrio da Educao. Os nossos dois teros so atribudos em 2008 e 2009.

  • Registaram-se cerca de 1100 participaes de escolas, dos vrios nveis de ensino, em concursos

    e passatempos de leitura lanados pelo PNL em parceria com outras instituies. Entre estes so

    de referir: o concurso Rmulo de Carvalho/Antnio Gedeo, o Poeta da Cincia, promovido em conjunto

    com a Comisso Organizadora das Comemoraes do Centenrio do Nascimento de Rmulo de

    Carvalho e com o apoio da Fundao Calouste Gulbenkian, e dirigido a escolas do 3. ciclo e secun-

    drio; o Concurso Nacional de Leitura, com a colaborao da RBE, da DGLB e da RTP, dirigido s

    escolas dos mesmos graus de ensino, cuja final foi transmitida pela RTP1; o concurso SAPO

    Challenge/Ler+, que estimula a articulao das competncias em TIC com as competncias nos

    domnios da leitura e da escrita, promovido pela PT em parceria com o Ministrio da Educao, e igual-

    mente dirigido ao 3. ciclo e secundrio; o concurso Onde te Leva a Imaginao, promovido no

    mbito da parceria entre o PNL e os CTT, para alunos do ensino pr-escolar, do 1. e do 2. ciclo;

    o passatempo Linhas & Letras, em conjunto com a DGLB, lanado no mbito do Dia Internacional

    do Livro Infantil e destinado a crianas entre os 6 e os 12 anos, para estimular a escrita a partir de ilus-

    traes; o concurso O Teu Jornal, concebido pelo jornal Expresso e pela Zero a Oito, com o apoio do

    Montepio Geral, destinado a escolas do 1. e 2. ciclos do ensino bsico.

    Algumas destas iniciativas tm vindo a adquirir uma regularidade bem definida com a sua re-

    produo j no segundo ano do Plano. o caso, designadamente, da Semana da Leitura, do Concurso

    Nacional de Leitura e do concurso Onde te Leva a Imaginao, que se encontram na segunda edio.

    O PNL nas bibliotecas pblicas

    A DGLB tem vindo a desenvolver, desde h vrios anos, um conjunto de actividades de promo-

    o da leitura, sobretudo em bibliotecas pblicas, mas tambm em outras instituies, como sejam hos-

    pitais peditricos ou estabelecimentos prisionais.

    Essas actividades foram integradas no PNL, dando-se-lhes continuidade e, em alguns casos,

    reforando-as. Em resultado do PNL, O Programa de Aces de Promoo da Leitura (Itinerncias

    Culturais) dirigido a mediadores e pblicos-alvo diversos alargou-se s bibliotecas que se encon-

    tram ainda fora da Rede de Bibliotecas Pblicas. Em 2007 abrangeu 176 bibliotecas pblicas mais

    do que as 156 integradas na Rede , enquanto no ano anterior apoiara 117. Foram perto de 650

    as aces realizadas nas bibliotecas no quadro deste Programa, envolvendo um montante de cerca

    de 250 mil .

    Foram igualmente reforadas, dando resposta a recomendaes do PNL, as aces de formao

    sobre promoo da leitura dirigidas a professores. Porm, tem havido alguma dificuldade na concre-

    tizao destas aces, designadamente pelo reduzido nmero de inscries e elevada taxa de desis-

    tncia, a que no alheio o facto de estas decorrerem fora do horrio laboral.

    A formao de mediadores de leitura para as bibliotecas pblicas e de professores um aspecto

    em que, no primeiro ano do Plano, no se ter avanado tanto quanto seria desejvel, pelo que

    23

  • constitui uma aposta da Comisso para o futuro prximo. J em Fevereiro de 2008 o PNL foi definido

    pelo Ministrio da Educao como rea prioritria na formao contnua de docentes, pelo que

    expectvel um salto qualitativo neste domnio.

    A DGLB lanou tambm no seu stio electrnico um espao para o registo de projectos conti-

    nuados de promoo da leitura dirigido s bibliotecas mas tambm a outras instituies locais. Res-

    ponderam a este convite 35 bibliotecas pblicas e 8 instituies, registando um total de 132 projectos.

    A visibilidade do PNL nas bibliotecas pblicas no ainda to forte quanto nas escolas. Tal no

    significa que estas no desenvolvam aces enquadradas no Plano, como j vinham fazendo desde h

    vrios anos atrs. Porm, em iniciativas especficas como por exemplo a Semana da Leitura, em que

    18 bibliotecas estiveram envolvidas a sua participao tem sido menor.

    Uma questo que importa ainda destacar o risco de algumas autarquias poderem diminuir o

    apoio s bibliotecas pblicas pelas quais so responsveis, pelo facto de passarem a canalizar as verbas

    disponveis para as escolas dos respectivos concelhos adquirirem livros destinados leitura orientada

    na sala de aula, no mbito dos protocolos assinados com o PNL. Este risco remete essencialmente

    para alguns casos em que as autarquias parecem no estar a financiar convenientemente as suas

    bibliotecas municipais, como foi referido por diversos agentes auscultados.

    O PNL nas famlias

    O PNL integra uma componente de promoo da leitura em contexto familiar. Uma parte dessa

    promoo levada a cabo a partir das escolas e das iniciativas que estas realizam no sentido

    de incentivar a participao dos pais como agentes fundamentais no processo de desenvolvimento

    de competncias de leitura e do gosto pela leitura por parte dos alunos.

    Outra parte concretiza-se atravs de aces especificamente dirigidas aos pais. No primeiro ano

    de execuo do Plano comearam a dar-se os primeiros passos neste domnio, designadamente

    atravs de aces de formao baseadas na metodologia Leitura-a-par, financiadas pelo PNL.

    O mbito destas aces foi ainda restrito. Estiveram envolvidos na formao para pais 5 gru-

    pos de pais/encarregados de educao. Foram igualmente realizadas aces de formao de forma-

    dores, dirigidas a docentes do pr-escolar, 1. e 2. ciclos e animadores de bibliotecas, com

    o objectivo de que estes se constituam como agentes disseminadores desta metodologia junto de

    outros professores, da famlia, de bibliotecrios, animadores, entre outros. Estiveram envolvidos

    2 grupos de formandos.

    24

  • O envolvimento de outros actores

    O PNL encontrou, desde o seu lanamento, um ambiente favorvel sua execuo. A recepti -

    vidade por parte dos vrios sectores da sociedade tem sido bastante boa.

    A aposta da Comisso do PNL no envolvimento, em moldes variados, de um conjunto relativa-

    mente alargado de instituies, parece ter sido ganha.

    Em primeiro lugar, so de destacar os protocolos assinados ou em fase de concretizao com

    mais de 150 municpios, nmero que demonstra bem a adeso dos rgos locais ao Plano. Nesses

    protocolos as autarquias assumem compromissos financeiros para a aquisio de livros por parte dos

    agrupamentos escolares dos respectivos concelhos e, em alguns casos, o desenvolvimento de projectos

    ou aces especficas de promoo da leitura.

    Em segundo lugar, os protocolos e acordos de cooperao com sete fundaes, que se traduzem

    em apoios financeiros por parte da Fundao Calouste Gulbenkian j desde o primeiro ano e mais

    recentemente por parte da Rede Aga Khan , ou em apoio de carcter tcnico.

    Em terceiro lugar, os protocolos e acordos com vrias associaes profissionais, cientficas

    e pedaggicas ligadas de algum modo promoo da leitura, no sentido de desenvolver projectos em

    parceria.

    Em quarto lugar, foram igualmente estabelecidos protocolos de cooperao com escolas supe-

    riores de educao, no sentido de promover, na formao de educadores de infncia e professores

    de 1. ciclo, o desenvolvimento de competncias em prticas pedaggicas e mtodos de leitura, para

    alm de outras iniciativas mais especficas que as escolas se propem desenvolver.

    Em quinto lugar, e especificamente para a divulgao do PNL e para o lanamento de campanhas

    de promoo da leitura, foi celebrado um protocolo com a RTP, e, numa outra escala, com o jornal

    Primeiro de Janeiro.

    Mais recentemente ainda de destacar, pelo seu potencial alcance, o protocolo do PNL com

    a Associao Portuguesa de Mdicos de Clnica Geral. Este prev a concesso de apoio tcnico aos pro-

    gramas do Plano, atravs do Ncleo de Sade Infantil da Associao, a divulgao da literacia infan-

    til para os profissionais de sade, a promoo da leitura nos espaos de atendimento dos servios

    de sade (designadamente nos Centros de Sade), e o desenvolvimento de aces de formao

    destinadas a profissionais que trabalhem em Cuidados de Sade Primrios.

    O PNL tem contado tambm com alguns patrocnios de empresas. So de referir a Sonae,

    atravs do concurso em hipermercados, com a oferta de livros a escolas; a PT, que promoveu o con-

    curso Sapo Challenge/Ler+ e patrocinou a criao do stio Clube de Leituras; e os CTT, com o concurso

    Onde te Leva a Imaginao? e o lanamento de uma emisso especial de selos destinados ao correio

    escolar, com um preo simblico, com o objectivo de incentivar uma correspondncia regular entre

    alunos e escolas dedicada troca de comentrios sobre os livros lidos no mbito do PNL.

    Contudo, excepo destes e das empresas do sector livreiro, cuja adeso ao Plano tem sido

    muito visvel pela prpria colocao do logo Ler+ nas obras recomendadas pelo Plano , com

    25

  • benefcios para ambas as partes, o sector empresarial no tem tido grande envolvimento. Esta tem

    sido, alis, uma dificuldade sentida pela Comisso do Plano. Apesar das vrias tentativas para a

    obteno de patrocnios da parte de empresas nomeadamente do sector financeiro , a receptividade

    ao PNL que, num primeiro momento, estas demonstram no se traduz efectivamente em apoio

    financeiro6.

    Este relativo afastamento do tecido empresarial no deixar de estar associado ainda fraca

    associao, em termos de representaes mas tambm de prticas, entre o aumento das competncias

    que a promoo da leitura proporciona e a competitividade da economia. , alis, neste sentido,

    que as principais responsveis manifestam o desejo de que o Ministrio da Economia estivesse envol-

    vido de forma activa no Plano.

    Visibilidade pblica do PNL

    visvel o esforo que tem sido empreendido na divulgao do PNL para o grande pblico, desde

    logo pela prpria composio da Comisso do Plano, ao integrar o Gabinete para os Meios de

    Comunicao Social.

    Para alm do stio electrnico do Plano, esse esforo concretizou-se, antes de mais, no estabele-

    cimento de um protocolo com a RTP, em que esta estao televisiva se comprometeu a fazer uma

    divulgao regular das iniciativas do PNL e a abordar os temas da leitura e da escrita na sua progra-

    mao, quer em programas infantis, quer em programas de grande audincia.

    Foram criados vrios spots televisivos em que simultaneamente se divulgava o PNL e se chamava

    a ateno para a centralidade da leitura na vida das pessoas, tendo-se recorrido inclusivamente a tes-

    temunhos de figuras pblicas de sectores diversos. Esta vertente da campanha acabou, no entanto, por

    ter pouca visibilidade, j que estes spots passaram sobretudo na RTP 2, poucas vezes e em horrios de

    reduzida audincia.

    Por outras vias, a RTP tem prestado um apoio importante na divulgao do Plano, nomeada-

    mente atravs da presena da Comissria em vrios programas, da transmisso de algumas reportagens

    relacionadas com o Plano e da transmisso da Final do Concurso Nacional de Leitura na RTP 1.

    Alm destas iniciativas, tem-se verificado uma presena forte de peas (notcias, entrevistas, etc.)

    sobre o PNL na imprensa escrita, nacional e regional, e nas rdios nacionais e locais. Esta presena

    em rgos de comunicao locais tem, alis, constitudo um incentivo para a adeso das autarquias

    ao Plano.

    Ao longo do seu primeiro ano de execuo, o PNL tem vindo tambm a ser apresentado publi-

    camente em diversos eventos relacionados com o livro, a leitura, as bibliotecas e o ensino do portu-

    26

    6 Mais recentemente, estava em curso a negociao de um apoio por parte do Banco Esprito Santo, que ser a pri-meira instituio bancria a patrocinar o Plano.

  • gus, designadamente em feiras do livro, encontros, colquios, seminrios, congressos, conferncias

    e outros. A divulgao do PNL passou ainda pela realizao de aces itinerantes especificamente

    direccionadas para a apresentao do Plano, em vrios pontos do pas, envolvendo as autarquias,

    as bibliotecas municipais e as escolas.

    Pouco mais de um ano aps o seu lanamento, o PNL organizou, em parceria com a Fundao

    Calouste Gulbenkian, a conferncia internacional A Leitura em Portugal: Desenvolvimento

    e Avaliao, que contou com a participao de vrios especialistas nacionais e internacionais e onde

    foram apresentados os resultados de cinco dos estudos que o Plano promoveu.

    27

  • 3. INQURITO S ESCOLAS: O QUE DIZEM OS PROFESSORES

    Dimenses de anlise e aplicao

    Um dos instrumentos fundamentais desenvolvidos para a avaliao regular do PNL nas escolas,

    de forma extensiva e quantificvel, um inqurito por questionrio dirigido a todas as escolas regis-

    tadas no Plano.

    O inqurito abrange um conjunto alargado de dimenses, entre as quais: as actividades desen-

    volvidas pelas escolas no mbito do PNL; as entidades participantes nessas actividades; o envol-

    vimento de professores e alunos; a presena no processo das bibliotecas escolares e da Rede de

    Bibliotecas Escolares; a participao dos pais; o modo de organizao e planeamento das actividades;

    o grau de concretizao das mesmas e as dificuldades enfrentadas; os resultados e impactes;

    a percepo quanto ao acompanhamento por parte da coordenao do PNL; e ainda, uma opinio

    de ordem geral quanto ao PNL, no que concerne sua importncia para o pas e s suas orientaes

    e propostas. Pode consultar-se no Anexo I a verso integral do inqurito.

    A primeira aplicao deste instrumento dirigiu-se aos jardins-de-infncia e escolas com 1. e

    2. ciclos, tendo o universo de referncia sido constitudo pelas 7567 escolas que, no ano lectivo

    de 2006/2007, se registaram no Plano. O pedido de preenchimento do inqurito, estruturado para

    resposta on-line, foi feito por e-mail dirigido s escolas em Junho de 2007, ou seja, no final do ano

    lectivo. A resposta foi assegurada pelo professor de contacto para o PNL em cada escola, ao qual foi

    solicitada a prvia recolha, junto dos colegas, dos dados e informaes objecto de inquirio.

    Nesta primeira edio de teste respondeu uma proporo muito significativa de escolas: 2699,

    o que corresponde a uma taxa de resposta de 35,6%.

    29

  • Quadro 3.1

    Inqurito s Escolas: populao e amostra

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    As escolas inquiridas apresentam uma distribuio, segundo as principais variveis de caracteri-

    zao, muito semelhante do universo (Quadro 3.1). Seja quanto distribuio regional, tipologia

    de escola, ou mesmo natureza da escola (pblico/privado), observam-se apenas pequenos desvios em

    algumas categorias, os quais no comprometem a adequada representao das principais variveis.

    O nico aspecto a assinalar tem a ver com as escolas pertencentes RBE, com um peso ligeiramente

    mais elevado na amostra.

    Tipologia

    EB1 3415 045,1 1198 044,4

    EB1,2 0243 000,0 0291 000,0

    EB1/JI 1158 015,3 0415 015,4

    EB2 1819 020,3 0687 020,3

    EB2,3 3539 047,1 1258 039,6

    Total 7567 100,0 2698 100,0

    Total 7566 100,0 2699 100,0

    Privado/Pblico

    Privado 3126 041,7 1136 041,3

    Pblico 7440 098,3 2663 098,7

    Total 7566 100,0 2699 100,0

    Pertena Rede deBibliotecas Escolares

    (RBE)

    Pertence RBE 1918 025,3 1865 032,0

    No pertence RBE 5648 074,7 1834 068,0

    EB2,3/ES 3167 040,9 1131 031,1

    EBI 3165 040,9 1030 031,1

    EBI/JI 3129 040,4 1010 030,4

    EBM 3121 040,0 1021 030,0

    ES/EB3 3123 040,0 1025 030,2

    ESA 3121 040,0 1020 030,0

    JI 2098 027,7 1696 025,8

    Outra 3169 042,2 1046 031,7

    Regio

    Alentejo 0505 006,7 0203 007,5

    Algarve 0242 003,2 0292 003,4

    Centro 1856 024,5 0696 025,8

    Lisboa 1839 024,3 0686 025,4

    Norte 3124 041,3 1022 037,9

    Total 7567 100,0 2699 100,0

    Populao % Amostra %

    30

  • Actividades realizadas

    Um dos principais objectivos deste inqurito conhecer as actividades desenvolvidas pelas escolas,

    no mbito do Plano Nacional de Leitura.

    Figura 3.1

    Actividades realizadas nas escolas no mbito do PNL

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Os resultados mostram que, no decorrer no ano lectivo 2006/2007, praticamente todas as escolas realiza -

    ram actividades relacionadas com o Plano, com particular destaque para a leitura em sala de aula que, nos nveis

    de ensino em anlise (jardim-de-infncia, bsico 1 e bsico 2), abrangeu mais de 95% das escolas (Figura 3.1).

    %

    31

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Leitura em sala de aula

    Ilustrao/expresso plstica

    Dramatizaes, fantoches, etc.

    Actividades de escrita relacionadas com oslivros com preenchimento de fichas de leitura

    Actividades de escrita relacionadas com oslivros com registo nos cadernos dirios

    Actividades de escrita relacionadas com oslivros com outros registos

    Recitais de poesia

    Encontro(s) com escritor/ilustrador/outrosconvidados

    Concursos/prmios/jogos

    Feira(s) do livro

    Outras actividades

    Visitas de estudo relacionadas com os livros lidos

    Actividades de escrita relacionadas com os livros com uso de instrumentos online

    Jardins-de-infncia Bsico 1 Bsico 2

    95,797,6

    96,069,4

    91,091,5

    60,679,0

    90,3

    90,375,0

    12,9

    77,474,5

    6,0

    65,769,9

    60,0

    50,635,4

    33,9

    58,932,9

    24,9

    72,930,2

    23,2

    68,929,329,4

    39,721,2

    29,8

    26,918,3

    29,9

    28,318,1

    5,9

  • Alm da leitura em sala de aula, outras actividades surgem com forte expresso. A nvel dos jardins-

    de-infncia e do 1. ciclo, quase todas as escolas declararam ter realizado actividades como a ilustrao /

    /expresso plstica e as dramatizaes. As prticas de escrita relacionadas com os livros so pouco expressi-

    vas nos jardins-de-infncia, mas a sua presena aumenta substancialmente no 1. ciclo e, sobretudo,

    no 2. ciclo. Neste nvel de ensino, a maioria das escolas organizou ainda outro tipo de actividades,

    como concursos e outros jogos, feiras do livro e encontros com escritores e outros convidados.

    O mbito em que se inserem as vrias actividades predominantemente lectivo, especialmente no

    caso nos jardins-de-infncia. No bsico 1 e, de forma ainda mais marcada, no bsico 2, outros tempos da

    vida escolar so utilizados para a concretizao de aces relacionadas com o PNL, nomeadamente ou-

    tras actividades curriculares e mesmo no curriculares. Exemplos disso mesmo so as feiras do livro e os

    concursos / jogos (bsico 2), ou a leitura em sala de aula (bsico 1 e bsico 2) (Anexo I, Quadro 10).

    Figura 3.2

    Participao das escolas em actividades desenvolvidas no mbito do PNL

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Ao longo do ano lectivo as escolas puderam ainda participar em actividades especficas dirigidas

    promoo da leitura. A adeso a algumas dessas iniciativas foi bastante significativa, tendo quase 60%

    participado na Semana da Leitura, 52% celebrado o Dia Mundial do Livro e 37% o Dia Mundial do

    Livro Infantil (Figura 3.2).

    Relativamente ao nmero de turmas abrangidas pelas actividades, os resultados revelam alguma

    variabilidade. De destacar, antes de mais, o facto de mais de 90% das escolas terem declarado que a

    leitura em sala de aula envolveu todas as turmas (Quadro 3.2). Est-se, assim, perante uma actividade

    %

    32

    Semana da Leitura

    Celebrao do Dia Mundial do Livro

    Celebrao do Dia Mundial do Livro Infantil

    Concurso Nacional de Leitura

    Concurso CTT/PNL: Onde leva a imaginao?

    Concurso Sapo Challenge/Ler +

    Passatempo Linhas e Letras

    Concurso Rmulo de Carvalho/Antnio Gedeo

    58,7

    51,7

    37,1

    4,5

    3,4

    0,9

    0,6

    0,6

    0 10 20 30 40 50 60 70%

  • com forte implementao nas escolas e que, no ano lectivo em anlise, abrangeu a quase totalidade

    dos alunos. Outras actividades tero registado uma menor abrangncia. o caso das visitas de estudo,

    dos recitais de poesia e das dramatizaes que envolveram, numa elevada percentagem de escolas,

    especialmente no 2. ciclo, menos de metade das turmas (Anexo I, Quadro 9).

    Quadro 3.2

    Leitura em sala de aula: nmero de turmas abrangidas e frequncia da actividade

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Ainda a propsito da leitura em sala de aula, importa referir que, na grande maioria das escolas,

    esta ocorreu pelo menos semanalmente (Quadro 3.2). Enquanto em muitos jardins-de-infncia se tra-

    tou mesmo de uma actividade diria (65%), as escolas do 1. ciclo apresentaram uma prtica diversi-

    ficada (36% fizeram leitura diria, 15,4% bissemanal, e 36,9% semanal) e as escolas do 2. ciclo

    optaram, na sua maioria (62,4%), pela leitura semanal.

    O nmero de livros lidos foi relativamente elevado, decrescendo medida que se avana no nvel

    de ensino: mais de 20 livros em quase metade das salas dos jardins-de-infncia, entre 4 e 9 livros em

    41% das turmas do 1. ciclo, e entre 1 e 3 livros em 52% das turmas das escolas de 2. ciclo (valores

    modais) (Anexo I, Quadro 13).

    Praticamente todas as escolas recorreram s listas de livros disponibilizadas pelo PNL. Na grande

    maioria dos casos, essas listas serviram de base seleco de pelo menos uma parte das obras lidas em

    sala de aula. Mesmo assim, de destacar a maior utilizao das listas de livros no bsico 2, nvel

    em que 75% das escolas as tomaram como referncia para a maioria, ou mesmo para a totalidade,

    das escolhas feitas (Figura 3.3).

    % em coluna

    N.o de turmas abrangidas

    Todas as turmas 99,1 95,9 91,8

    Mais de metade 00,8 03,4 07,0

    Menos de metade 00,1 00,7 01,2

    Frequncia da leitura

    Diria 65,0 36,0 10,0

    Bissemanal 11,4 15,3 09,1

    Semanal 16,3 36,9 62,4

    Quinzenal 03,0 05,4 10,6

    Espordica 04,3 06,4 07,9

    Jardins-de-Infncia 1.o Ciclo 2.o Ciclo

    33

  • Figura 3.3

    Utilizao dos livros recomendados pelo PNL na leitura em sala de aula

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    De um modo geral, a opinio das escolas sobre a adequao dos livros propostos unnime:

    88% dos jardins-de-infncia, 95%, das escolas com 1. ciclo e 96% das escolas com 2. ciclo conside-

    ram que os livros recomendados so adequados ou mesmo muito adequados (Anexo I, Quadro 15).

    Participao de professores, outros agentes educativos e alunos

    Em 86% das escolas a maioria dos professores e educadores esteve envolvida nas actividades do

    Plano Nacional de Leitura (Quadro 3.3), com especial destaque para os professores de portugus no

    caso das escolas do 2. ciclo. Essa participao foi considerada forte, ou mesmo muito forte, em mais

    de 75% das escolas (Anexo I, Quadro 26).

    Alm dos professores, registou-se o envolvimento de outros agentes na organizao e dinamiza-

    o das actividades, nomeadamente dos responsveis das bibliotecas escolares (em 41% das escolas),

    de outros funcionrios (30%) e, em algumas escolas, tambm dos pais (28%) (Quadro 3.3).

    %

    34

    Bsico 2

    Bsico 1

    Nenhum

    Muito poucos

    Apenas uma parte, algunsno fazem parte das listas

    A maioria, um pequeno nmerono faz parte das listas

    TodosJardim-de--infncia

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

    0,03,3

    21,737,038,0

    5,113,7

    31,532,5

    17,2

    5,324,8

    40,022,6

    7,4

  • Quadro 3.3

    Agentes envolvidos nas actividades do PNL

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Relativamente participao dos pais, refira-se que, segundo a informao apurada, esta foi

    prevista na maioria das escolas, para pelo menos uma parte das actividades. Mas esse envolvimento foi

    requerido de forma mais acentuada nos jardins-de-infncia, decrescendo no bsico 1 e ainda mais no

    bsico 2: neste ltimo nvel, apenas 16,4% das escolas declararam que todas ou uma parte considervel

    das actividades desenvolvidas requereram a participao dos pais, face a 44% dos jardins-de-

    -infncia. De registar ainda que foi nos jardins-de-infncia que essa participao tendeu a ser avaliada

    de forma mais positiva (Anexo I, Quadros 30 e 31).

    Quadro 3.4

    Adeso dos alunos s actividades

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Quanto adeso dos alunos s actividades propostas, esta foi entendida como forte, ou mesmo

    muito forte, nos vrios nveis de ensino (90% nos jardins-de-infncia, 86% no 1. ciclo e 83% no

    2. ciclo), o que indicia uma boa recepo do PNL e das aces propostas junto do pblico-alvo a que

    este se dirigiu no ano em anlise (Quadro 3.4).

    % em coluna Jardins-de-Infncia

    Muito forte 42,2 34,9 24,3

    Forte 48,0 51,1 58,4

    Razovel 49,1 12,4 16,8

    Fraca 40,6 11,6 10,6

    1.o Ciclo 2.o Ciclo

    Actividades do PNL em que estiveram envolvidos professores e educadores

    (% coluna)

    Agentes responsveis pela dinamizao das actividades (% Sim)

    Todas ou a maioria 85,7

    Uma parte considervel 89,9

    Apenas uma minoria 84,3

    Professores 96,1

    Responsvel da Biblioteca Escolar 40,8

    Conselho Executivo / Directivo 27,1

    Outros funcionrios da escola 29,8

    Pais 28,0

    35

  • Entidades envolvidas

    As bibliotecas escolares tiveram um papel destacado nas actividades realizadas. Mesmo assim,

    o grau de envolvimento ter sido varivel: 31% das escolas afirmam que abrangeu uma pequena

    parte das actividades, 29% uma parte considervel e 26% a maioria ou mesmo todas as actividades

    (Figura 3.4).

    Figura 3.4

    Papel da biblioteca escolar

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    A importncia da participao das bibliotecas escolares nas actividades promovidas nas escolas

    amplamente reconhecida: 98% das escolas atribuem-lhe um carcter importante ou mesmo muito

    importante (Figura 3.4).

    Mais reduzido ter sido o envolvimento das bibliotecas municipais, ainda assim mencionado por

    56% das escolas e avaliado como sendo importante, ou muito importante, em cerca de 88% delas.

    O apoio prestado pelas autarquias s escolas neste primeiro ano do PNL foi considerado razovel,

    ou forte, por 41% das escolas (Anexo I, Quadros 20 e 21).

    Percepo de resultados e impactes

    Uma das vertentes consideradas na avaliao do PNL tem a ver com os possveis resultados e im-

    pactes ao nvel da promoo das prticas de leitura e das competncias de literacia.

    As respostas ao inqurito indiciam uma percepo muito favorvel desses impactes nos alunos,

    a diferentes nveis (Figura 3.5). A forte adeso e envolvimento nas actividades desenvolvidas (atrs j

    %

    36

    Todas ou a maioria

    Uma parte considervel

    Apenas uma pequena parte

    Nenhuma

    Muito importante

    Importante

    Pouco importante

    Nada importante

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    25,8

    29,2

    30,6

    14,3

    67,0

    30,6

    2,1

    0,3

    Envo

    lvim

    ento

    nas

    act

    ivid

    ades

    Apre

    cia

    o da

    impo

    rtnc

    ia

  • destacados) ter-se-o traduzido no incremento das prticas de leitura, especialmente no mbito da sala

    de aula, mas tambm noutros tempos e espaos da vida escolar.

    Menos expressivo, mas ainda assim significativo, parece ter sido o aumento das prticas de leitura

    para alm do contexto escolar. Segundo os professores inquiridos, tambm o interesse e o gosto pela lei-

    tura, assim como as competncias neste domnio, tero sido reforados. Ainda a este propsito, refira-

    se que questionadas as escolas especificamente sobre os progressos dos alunos no domnio da leitura, 70%

    das respostas indicam que os professores notaram melhorias, pelo menos parciais (Anexo I, Quadro 43).

    Figura 3.5

    Percepo dos efeitos, nos alunos, das actividades desenvolvidas

    Nota: Percentagem de respostas a muito significativo + bastante significativo.

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    %

    37

    Envolvimento e participao nas actividades

    Intensificao das prticas de leitura em sala de aula

    Intensificao das prticas de leitura na escola, no mbito de outras actividades

    Intensificao das prticas de leitura fora da escola, relacionadas com o estudo

    Intensificao de outras prticas de leitura, no relacionadas com a escola

    Aumento da frequncia de utilizao da biblioteca escolar

    Aumento da frequncia de utilizao de outras bibliotecas

    Aumento do interesse/gosto pela leitura de livros

    Aumento do interesse/gosto pela leitura de outros suportes escritos

    Desenvolvimento/melhoria das competnciasde leitura/literacia

    Melhoria dos resultados escolares

    Aumento do interesse e participao nas actividades escolares

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

    Jardins-de-infncia Bsico 1 Bsico 2

    97,297,597,9

    94,695,0

    93,3

    70,484,6

    83,6

    51,764,7

    50,0

    41,658,4

    52,2

    77,970,271,5

    22,432,134,1

    86,693,894,9

    68,783,3

    90,4

    74,284,185,4

    31,961,0

    78,3

    57,469,9

    84,8

  • Retomando a anlise global dos efeitos das actividades desenvolvidas no que aos alunos diz

    respeito, e atendendo aos resultados por nvel de ensino, de salientar que, apesar da proximidade

    das respostas obtidas, parece existir em muitos dos indicadores uma percepo ligeiramente menos

    favorvel dos resultados e impactes nos alunos do bsico 2 (Figura 3.5).

    Figura 3.6

    Percepo dos efeitos das actividades desenvolvidas nos professores e na relao da escola com outros agentes

    Nota: % de respostas a muito significativo + bastante significativo.

    Fonte: CIES-ISCTE, Avaliao do PNL, Inqurito s Escolas, 2007.

    Os impactes das actividades desenvolvidas no se limitam aos alunos. Os resultados deste

    inqurito revelam tambm uma percepo muito favorvel dos efeitos do PNL, no ano lectivo em

    anlise, no que concerne intensificao do trabalho em equipa entre os professores, alterao das

    prticas pedaggicas e dinamizao de novas actividades lectivas, estas duas sobretudo nos jardins-

    %

    38

    Alterao/inovao ao nvel das prticas pedaggicas

    Dinamizao da biblioteca escolar

    Dinamizao de outros espaos da escola

    Aumento da participao dos pais nas actividades da escola

    Intensificao do trabalho entre a escola/biblioteca escolar e a biblioteca pblica/municipal

    Aumento da participao de outros agentes exteriores escola

    Dinamizao de novas actividades lectivas

    Dinamizao de novas actividades no lectivas

    Intensificao do trabalho de equipa entre os professores

    50,461,061,8

    80,367,8

    73,4

    39,641,2

    49,9

    21,030,2

    52,1

    31,841,5

    43,8

    19,225,3

    31,5