43687276-06062013
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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
ACÓRDÃO0010801-39.2010.5.04.0211 RO Fl. 1
DESEMBARGADOR ALEXANDRE CORRÊA DA CRUZÓrgão Julgador: 2ª Turma
Recorrente: WMS SUPERMERCADOS DO BRASIL LTDA. - Adv. Flávio Obino Filho, Adv. Mariana Hoerde Freire Barata
Recorrente: LUCIANA CAMARGO FREITAS - Adv. Roberto Olszewski, Adv. Vinicius Starosta Bueno de Camargo
Recorridos: OS MESMOS
Origem: Vara do Trabalho de TorresProlator da Sentença: JUIZ GILBERTO DESTRO
E M E N T A
RECURSO ORDINÁRIO PRINCIPAL DA RECLAMADA E RECURSO ORDINÁRIO ADESIVO DA RECLAMANTE. Matéria comum.ACIDENTE DO TRABALHO. RESPONSABILIDADE.A responsabilidade da demandada em relação ao acidente sofrido pelo reclamante decorre da assunção do risco do empreendimento, ao auferir lucro do trabalho desempenhado pela autora, não podendo se eximir da indenização devida, quando da ocorrência de acidente inserido no risco da atividade que empreende, como no caso em tela em que o autor sofreu ferimento corto-contuso e fratura da falange distal do 2º dedo, operando máquina de amaciar carne, em acidente típico, apresentando sequeleas funcionais. Valor da reparação por danos morais, que não se afigura razoável, considerando as peculiaridades do trabalho prestado, a situação econômica dos envolvidos, o montante normalmente arbitrado para hipóteses similares e, sobretudo, o grau de responsabilidade da ré, nos limites da lide. Majoração da indenização para valor reputado razoável e proporcional à compensação do dano, R$20.000,00. Provimento apenas ao apelo da parte
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autora.RECURSO ORDINÁRIO PRINCIPAL DA RECLAMADA. Matéria remanescente.SALÁRIO-FAMÍLIA. Tratando-se de um benefício legal e que, na essência, contempla um pressuposto objetivo imprescindível (filhos menores de 14 anos), sem dúvida, descabe cogitar do desinteresse do trabalhador. Apelo não provido.RECURSO ORDINÁRIO ADESIVO DA RECLAMANTE. Matéria remanescente.NULIDADE DA DESPEDIDA. É nula a despedida, mesmo de iniciativa do empregado, se não houver assistência do sindicato, em especial quando ocorrido no período da estabilidade acidentária. Aplicação dos arts. 477, parágrafo 1°, e 500 da CLT. Recurso provido.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os autos.
ACORDAM os Magistrados integrantes da 2ª Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região: por unanimidade de votos, negar
provimento ao recurso ordinário principal da reclamada. Por
unanimidade de votos, dar parcial provimento ao recurso ordinário
adesivo da reclamante, para a) majorar o valor arbitrado à
indenização por danos morais, que passa a ser de R$20.000,00 (vinte
mil reais), acrescidos de correção monetária, a contar da publicação
deste acórdão, e de juros a partir do ajuizamento da ação; b)
condenar a reclamada ao pagamento de indenização correspondente
aos salários do período estabilitário, de 13/08/2010 a 10/10/2010, com
reflexos nas férias proporcionais, 13° salário proporcional e FGTS
com multa de 40%; c) determinar que, na apuração das horas extras,
seja considerada a jornada declinada na petição inicial, das 6h30min
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às 17h30min, com 30 minutos de intervalo intrajornada e com uma
folga semanal, estendendo-se a jornada até as 22h em dois dias por
semana; e d) pagamento de uma hora por dia laborado, como extra,
observados o mesmo adicional e os reflexos deferidos na Origem,
pela não fruição integral do intervalo.
Valor da condenação acrescido em R$30.000,00 (trinta mil reais), com
custas proporcionalmente majoradas em R$600,00 (seiscentos reais).
Intime-se.
Porto Alegre, 09 de outubro de 2012 (terça-feira).
R E L A T Ó R I O
Inconformados com a sentença de parcial procedência das fls. 110/123,
prolatada pelo Exmo. Juiz Gilberto Destro, a reclamada e a demandante
interpõem, respectivamente, recursos ordinários principal e adesivo.
Consoante as razões das fls. 136/155, a ré pretende ser absolvida da
condenação ao pagamento de salário-família, diferenças de FGTS e
indenizações decorrentes do acidente do trabalho. Sucessivamente, requer
a redução dos valores arbitrados às indenizações por danos morais e
materiais. Busca, ainda, a reforma da sentença quanto aos honorários do
perito médico.
Por seu turno, a reclamante, no recurso ordinário adesivo das fls. 177/184,
requer a modificação do julgado quanto à nulidade da despedida, horas
extras, intervalos e indenizações decorrentes do acidente do trabalho.
Com contrarrazões às fls. 170/176 (pela autora) e 187/191 (pela
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reclamada), sobem os autos para julgamento dos recursos.
É o relatório.
V O T O
DESEMBARGADOR ALEXANDRE CORRÊA DA CRUZ (RELATOR):
RECURSO ORDINÁRIO PRINCIPAL DA RECLAMADA E RECURSO
ORDINÁRIO ADESIVO DA RECLAMANTE. Matéria comum.
ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÕES.
A demandada busca a absolvição da condenação ao pagamento de
indenização por dano moral e pensão mensal vitalícia, ao argumento de que
inexistente prova do dolo ou culpa da empresa em face do infortúnio, de
maneira que não subsiste o seu dever de indenizar. Sinala não ser cabível a
imputação de responsabilidade objetiva à recorrente, sob pena de ofensa
ao artigo 927 do CC, haja vista não exercer atividade de risco, mas apenas
atividade ligada ao ramo do comércio varejista de gêneros alimentícios.
Sustenta haver ocorrido o acidente em virtude de culpa exclusiva da
reclamante. Requer, por cautela, a redução do valor da indenização por
danos morais e a limitação da pensão até aos 65 anos de idade da autora.
Pretende, outrossim, a limitação da condenação à diferença entre o valor
que a reclamante perceberia da empresa, caso permanecesse laborando,
e aquele por ela percebido da Previdência Social a título de auxílio-
acidente. Afirma, ademais, não ser devida a constituição de capital, por
ausência de suporte jurídico, destacando, neste aspecto, a revogação do
artigo 602 do CPC. Sinala, por fim, incorrer em bis in idem a condenação
imposta, na medida em que a empresa já contribui com a Previdência
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Social "justamente para garantir que os seus empregados estejam
cobertos em caso de infortúnio" (fl. 154).
A demandante, por sua vez, busca a majoração da condenação relativa aos
danos morais, reputando não ser adequado o valor de R$2.000,00, ante a
extensão do dano de caráter permanente e irreversível, sendo, de resto,
ignorada pela ré, quando de seu retorno ao trabalho, a determinação da
própria médica da empresa, de que seria considerada apta, desde que
retornasse em outro setor, no qual a atividade fosse mais leve, o que não foi
providenciado, e gerou o agravamento de sua situação clínica, dificultou sua
recuperação e afetou sua vida cotidiana.
Ao exame.
A sentença enfrentou a questão nos seguintes termos (fls. 116-verso/121-
verso):
a) Dano.
Realizada perícia médica, concluiu o experto:
A reclamante sofreu acidente do trabalho que lhe causou
ferimento corto-contuso e fratura da falange distal do 2º dedo da
mão direita - submetendo-se à sutura e imobilização do dedo e
encaminhamento ao benefício previdenciário acidentário
durante dois meses.
Apresenta sequelas funcionais do 2º dedo que correspondem a
7,5% de acordo com a tabela de invalidez da SUSEP/DPVAT.
Não há incapacidade laboral, mas há prejuízo para tarefas que
exijam esforços repetitivos com pega em gancho e pinça de
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precisão.
Não é reversível [verso da fl. 94.]
Não há nos autos elementos que infirmem a conclusão do
perito.
A perda da capacidade de trabalho, o afastamento do trabalho,
as sequelas do acidente, a dor e a perda de movimento normal
do dedo gerados pelo acidente do trabalho sem dúvida atestam
a presença de danos.
(...)
No caso dos autos, existente o dano material, em razão da
perda parcial de capacidade laboral, restando apreciável o
pedido de pensão ou de verba alimentar mensal. Segundo o art.
950 do Código Civil, “se da ofensa resultar defeito pelo qual o
ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe
diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância
do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele
sofreu”.
Cumpre destacar que verificada a redução da capacidade
laboral, ainda que o acidentado permaneça trabalhando ou
exercendo outra função, é cabível o deferimento da indenização
ou pensionamento. Nesse sentido, ensina Arnaldo Rizzardo:
mesmo se o trabalho desempenhado não sofrer, na prática,
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diminuição na qualidade e intensidade, o dano precisa ser
ressarcido, eis que a limitação para as atividades humanas é
inconteste. Talvez continue no mesmo trabalho, mas é viável que
resulte a impossibilidade para a admissão em outro que propicie
igual padrão de rendimentos. [RIZZARDO, Arnaldo.
Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 232.]
Ademais, repiso que a perda laboral sofrida pela autora, embora
parcial, é permanente e irreversível, conforme destaca o perito
(verso da fl. 94).
(...)
No caso vertente, do acidente do trabalho sofrido pela autora
resulta “limitação funcional à flexão do 2º dedo, com
comprometimento articular das interfalangeanas proximal
(parcial) e distal (total), havendo prejuízo à “pinça de precisão”, à
“pinça lateral” e à “pega em gancho” (fl. 93), ocorrendo a lesão na
mão direita, sendo a demandante destra (fl. 92).
Do mal e sequelas decorrentes do acidente do trabalho sofrido
pela autora resulta a presunção da dor, sentimento imaterial, e
suas consequências (angústia, emoção, tristeza, desequilíbrio
da normalidade psíquica), suportadas pela trabalhadora. Essas
tragédias abalam os alicerces de vida do ser humano-
trabalhador e, induvidosamente, ferem um dos princípios e
direitos fundamentais da República, que é o respeito à
dignidade humana e o direito ao trabalho com existência digna
(Ibidem, p. 146). É evidente que “as lesões corporais implicam
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dor, [...], razão por que negar o sofrimento da trabalhadora nestes
casos, é desconhecer a natureza humana” (Ibidem, p. 148).
Repiso que o dano moral está ínsito na própria ofensa, de modo
que provado o fato, resta demonstrado. Nesse sentido,
ensinamento de Sérgio Cavalieri Filho:
Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva
inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que,
provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti,
que decorre das regras de experiência comum. [CAVALIERI
FILHO. Programa de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo:
Malheiros, 2006, p. 108.]
Dessa forma, presente o dano moral alegado.
(...)
b) Nexo causal.
O nexo com o trabalho está configurado, porquanto definido o
acidente do trabalho. O acidente ocorreu pelo exercício do
trabalho a serviço da ré.
Ainda, o perito refere que “há um nexo causal entre as sequelas
apresentadas pela reclamante e o ferimento corto-contuso com
fratura do 2º dedo da mão direita” (verso da fl. 94).
A relação de causa e efeito entre o fato e o dano não está
afastada. A autora indicou o fato que gerou o dano cuja
reparação persegue. Cabia ao réu provar que a causa apontada
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é inadequada, ou seja, que não colaborou para o resultado.
Também não há nos autos elementos que indiquem ter havido
caso fortuito, força maior ou fato de terceiro, que excluiriam a
responsabilidade da ré.
Presente o nexo de causalidade entre o acidente e o trabalho na
ré.
c) Ilicitude. Culpa.
(...)
A CAT da fl. 27, ao descrever o fato que gerou o acidente,
consigna que a demandante estava distraída “quando levou um
susto e colocou o dedo na máquina de moer carne” (fl. 27). Ora,
além de ser pouco crível ou razoável a situação descrita na CAT,
a demandada não contesta o fato gerador do acidente do
trabalho afirmado pela autora na petição inicial, tampouco
impugna a alegação desta de que foi determinado por
supervisor da ré a forma como deveria ser descrita a situação
geradora do acidente, razão pela qual se reputa veraz o
apontado pela demandante.
(...)
A responsabilidade objetiva, no presente caso, fica afastada,
porquanto da natureza da atividade normalmente desenvolvida
pela ré não se evidencia inerente o risco ao infortúnio ocorrido
com a autora. Aplicável, destarte, a responsabilidade subjetiva,
prevista na Constituição Federal de 1988, no inciso XXVIII do art.
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7º.
(...)
Ainda, não há qualquer prova de que a ré zelava pelo
cumprimento, por seus empregados, das normas de saúde e
segurança do trabalho. Tampouco resta evidenciada a culpa ou
fato exclusivo da autora. A despeito da ciência dos riscos na
atividade de “moer carne”, a ré não forneceu equipamentos de
proteção coletivo ou individual adequados à redução ou
eliminação do risco, ainda mais considerando a presença, no
local de trabalho, de máquina capaz de produzir acidentes como
aquele ocorrido com a autora.
Resta, pois, caracterizada a conduta omissiva que se revela em
negligência ou imprudência de a ré não ter proporcionado a sua
empregada condições seguras de trabalho.
Presentes os elementos da responsabilidade civil, como supra-
exposto, merece acolhimento o pedido das indenizações
postuladas, conforme subitens a seguir:
Incontroverso nos autos o fato de que, em 28/07/2009, a autora sofreu
acidente do trabalho, quando teve o 2º dedo (QDD) traumatizado por
máquina de amaciar carne (CAT, à fl. 30; laudo pericial, às fls. 91/95). O
dano restou caracterizado no laudo pericial, havendo considerações do
perito de que houve uma limitação da mobilidade e da força do dedo,
implicando sequela funcional da ordem de 7,5% de acordo com a tabela
DPVAT. O nexo causal igualmente é incontroverso, tendo em vista que a
autora sofreu a lesão enquanto desempenhava sua função de “operadora II”
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no açougue, ao operar a máquina de amaciar carne. A defesa da ré tem por
base, assim como seu recurso, a ausência de culpa por parte da empresa,
e a culpa exclusiva da trabalhadora.
É dever do empregador garantir a segurança de seus trabalhadores no
local de trabalho, e, na falta desta, será responsável pelas consequências
que daí advierem. Como bem assinalado pelo Juízo de Origem, não se
cogita, na espécie, da responsabilidade objetiva da empregadora,
"porquanto da natureza da atividade normalmente desenvolvida pela ré
não se evidencia inerente o risco ao infortúnio ocorrido com a autora.
Aplicável, destarte, a responsabilidade subjetiva, prevista na Constituição
Federal de 1988, no inciso XXVIII do art. 7º" (fl. 119-verso). O recurso
interposto pela empresa, neste aspecto, não possui objeto.
Não obstante as considerações acima, cumpre analisar a excludente
sustentada pela reclamada, de culpa exclusiva da vítima, que não teria
agido com zelo ao desempenhar sua atividade.
No aspecto, a reclamada, ao confirmar a ocorrência do acidente do
trabalho, mas alegar que não teve culpa, atraiu para si, por força do
disposto no art. 818 da CLT, o ônus de comprovar suas assertivas.
Não há nos autos, porém, qualquer prova acerca de treinamento para a
utilização da máquina ou da existência de equipamento ou de sistema de
segurança na máquina utilizada pela reclamante. Na realidade, além da
CAT e do laudo pericial, a única prova existente acerca do acidente diz
respeito ao depoimento da autora, no qual refere que "a proteção que
existia na máquina estava estragada; essa proteção é uma peça plástica,
oca, para colocar na entrada da máquina a fim de afastar a mão da
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máquina" (fl. 107).
Assim, não há nos autos qualquer elemento que demonstre a
imprudência/negligência da reclamante, como pretendido pela reclamada,
mas, ao contrário, a prova dos autos evidencia haver ocorrido o acidente
quando a autora estava desempenhando suas atividades sem os
equipamentos de proteção aptos a eliminar ou minimizar riscos.
Relativamente à matéria, oportuna a lição de Sebastião Geraldo de
Oliveira:
É de exclusiva escolha do empregador o local de trabalho, os
métodos de produção, a estrutura organizacional, o
mobiliário, as ferramentas que serão utilizadas (...) os pedidos
de manutenção, (...) o treinamento ou reciclagem (...)
especialistas da área garantem que “no contexto brasileiro na
maioria dos casos, arriscar-se é parte das tarefas habituais,
desenvolvidas em contextos de subsistemas técnicos
extremamente precários do ponto de vista da segurança”. Está
sedimentado o entendimento de que os acidentes do trabalho
ocorrem em razão de uma rede de fatores causais, cujas
variáveis são controladas, em sua maior parte,
exclusivamente pelo empregador. Com isso muitas vezes a
culpa patronal absorve ou mesmo neutraliza a culpa da vítima,
em razão das diversas obrigações preventivas que a lei atribui
às empresas. Assevera Aguiar Dias que “a responsabilidade é
de quem interveio com culpa eficiente para o dano. Queremos
dizer que há culpas que excluem a culpa de outrem. (In
Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional.
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São Paulo: Editora LTr, 2005, p. 177 - grifo atual).
Com efeito, incide no caso em exame o artigo 157 da CLT, que estabelece
o dever geral de custódia do empregador, nos seguintes termos:
Art. 157 - Cabe às empresas:
I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho;
II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto
às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do
trabalho ou doenças ocupacionais;
III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão
regional competente;
A Constituição Federal, por sua vez, assegura ao trabalhador o direito ao
meio ambiente laboral seguro e saudável, conforme a interpretação
conjunta de suas normas insculpidas nos incisos XXII, XXIII e XXVIII do
artigo 7º com o inciso VIII do artigo 200 e caput do artigo 225.
Assim, a responsabilidade da reclamada pelo acidente, e o consequente
dever de indenizar, decorre da assunção do risco do empreendimento,
quando aufere lucro do trabalho desempenhado pela demandante, não
podendo se eximir da indenização devida quando da ocorrência de
acidente inserido no risco dessa atividade que empreende.
Dessa forma, verifico que a ré não se desincumbiu de seu ônus probatório,
de modo que há responsabilidade por parte desta pelo acidente, e,
consequentemente, o dever de indenizar.
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No caso em exame, o dano moral é presumível - sendo desnecessária a
prova da consequência íntima do dano -, em face da própria sequela física.
Quanto ao valor arbitrado à indenização por dano moral, esta deve observar
a efetiva reparação/compensação do dano de ordem extrapatrimonial
sofrido. O montante da indenização deve se mostrar compatível com a
dimensão do dano sofrido, considerando-se as condições subjetivas do
empregador e do ofendido, além do caráter pedagógico da medida, de
acordo com os critérios fixados por esta Turma Julgadora a partir do exame
de casos análogos.
No caso, com a devida vênia, tenho que a indenização não foi
adequadamente arbitrada, tendo em vista a irreversibilidade da lesão, o
que agrava a situação da vítima em face do dano. No que concerne à autora
da lesão, ressalto ser fato notório a utilização nos supermercados e
açougues de equipamentos cujo projeto remonta ao século passado,
período em que não havia preocupação com a integridade física e a saúde
dos trabalhadores, destacando que empresas do porte da ré deveriam
exigir o desenvolvimento de novos equipamentos hábeis a assegurar a
saúde e segurança no trabalho. A condenação, no particular, não atentou à
capacidade econômica da demandada, sendo certo que a atribuição de R
$500,00, como forma de punição ao ofensor, e de R$ 500,00, a título de
exemplaridade certamente não alcançam o fim pretendido, diante da
vultosa condição financeira da empresa reclamada.
Diante do exposto, majoro o valor da indenização por danos morais para R
$ 20.000,00 (vinte mil reais), o qual entendo razoável e proporcional à
compensação do dano.
Relativamente à pensão mensal vitalícia, tendo a perícia médica concluído
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que as perdas anatômicas e funcionais suportadas pela autora são
irreversíveis e que acarretam a redução de sua capacidade laborativa em
7,5%, irreparável a decisão que condenou a reclamada ao pagamento de
pensão mensal vitalícia no valor de R$48,53 por mês (7,5% do salário-base
da autora na data da extinção do contrato de trabalho - R$647,10 por mês).
Registro que, em virtude do que dispõe o parágrafo único do art. 950 do
atual Código Civil e consoante entendimento deste Colegiado, é
possibilitado à autora, quando da execução, a escolha pelo pagamento em
valor único no montante de R$26.400,32, conforme demonstrativo abaixo.
Remuneração mensal R$ 647,10
7,5% redução da capacidade R$ 48,53
X 544 meses (41 anos e 11 meses + 13º salários do período)*
R$ 26.400,32
* início em 28/7/2009 (autora com 38 anos na data do acidente;
fl. 29, nascida em 02/8/1971, fl. 24); marco final 79,9 anos
(expectativa média de vida); foram incluídas as gratificações
natalinas dos 41 anos mais a relativa ao de 2009.
Além disso, a referida limitação funcional do dedo da mão direita da autora
não se extinguirá com a aposentadoria, não havendo, portanto, qualquer
fundamento à pretensão da recorrente de que se estabeleça, como marco
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final da pensão, a data em que a demandante completar 65 anos de idade
ou aquela em que este vier a se aposentar por tempo de serviço, pois a
limitação em tela decorre de um ato ilícito do empregador, o qual deverá ser
integralmente reparado.
Ademais, o pensionamento deferido não se confunde e tampouco se
compensa com eventuais valores pagos pela Previdência Social a qualquer
título, porquanto são verbas de natureza diversa. É o que conclui,
devidamente amparado na jurisprudência, Sérgio Cavalieri Filho, ao
mencionar que “a reparação de Direito Comum não comporta
compensação com a que a vítima há de perceber em decorrência de sua
vinculação a sistema previdenciário ou securitário (RSTJ 132/133)”.
Com efeito, o fato de a autora perceber benefício previdenciário não resulta
em óbice à percepção de indenização por dano material. O pagamento do
benefício por parte da Previdência Oficial não exime o empregador da
responsabilidade de indenizar o trabalhador pelos danos decorrentes do
ato ilícito, cuja reparação tem por suporte o disposto no artigo 949 do
Código Civil:
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor
indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros
cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro
prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Oportuno citar, ainda, texto da doutrina do José Affonso Dallegrave Neto in
Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho", LTr, 2005, pág. 168:
Enquanto o benefício previdenciário advém do custeio patronal
oriundo da acumulação de contribuições feitas ao INSS, com
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liberação independente de ato culposo do empregador, a
responsabilidade civil acidentária resulta de ato ilícito patronal
(dolo ou culpa simples) ou resulta da atividade de risco
(responsabilidade objetiva). O benefício previdenciário (SAT)
cobre apenas o prejuízo remuneratório da vítima devido à
incapacidade laboral provocada pelo acidente, enquanto que a
indenização civil alcança todos os prejuízos residuais não
albergados pelos benefícios previdenciários acidentários e que
foram causados pelo empregador.
Destarte, não é cabível a dedução dos respectivos valores pagos pela
autarquia previdenciária. A pensão mensal vitalícia objetiva ressarcir a
autora em relação ao ato ilícito praticado pela reclamada, enquanto o
benefício previdenciário decorre da condição de segurada, o que resulta na
possibilidade de acumulação (art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, e art.
121 da Lei 8.213/91).
Nesse sentido vem se posicionando o E. TST:
RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS (PENSÃO VITALÍCIA). DOENÇA PROFISSIONAL.
CUMULATIVIDADE COM RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO (APOSENTADORIA POR INVALIDEZ).
O artigo 950 do CCB, contempla a hipótese de pensão vitalícia
por lesão que incapacite total ou parcialmente o lesado para o
trabalho, admitindo, em seu parágrafo único, a opção do lesado
por receber uma indenização única, a ser arbitrada pelo juiz. Já o
artigo 12 da Lei 8.213/91, distingue, em matéria de acidente de
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trabalho, o benefício previdenciário da indenização por danos
materiais decorrente da responsabilidade civil. No mesmo
sentido segue o artigo 7º, XXVIII, da CF, que distingue entre o
seguro contra acidente de trabalho e a indenização por dano
material ou moral decorrente de dolo ou culpa do empregador.
Conclui-se, assim, que em princípio, não há excludente da
pensão vitalícia pela percepção de benefício previdenciário, já
que a indenização por danos materiais não será objeto de
composição do salário de participação sobre os quais incidem
as contribuições previdenciárias, pois não se confundem o
direito previdenciário, mesmo que decorrente de plano privado,
com dever de reparar, assentado na culpabilidade patronal. São
institutos distintos e incomunicáveis. No caso concreto, extrai-se
dos fundamentos da decisão recorrida que a reclamante sofreu
lucros cessantes a justificar pensão mensal vitalícia, exatamente
como previsto no artigo 950 do Código Civil, que destina-se a
reparar a parte lesada dos valores que deixaram de ser
percebidos em virtude do evento danoso, embora não negue o
Tribunal Regional que o valor da sua aposentadoria por
invalidez, considerando a complementação recebida pela
FUNCEF, não se mostrou inferior à renda auferida quando era
empregada da reclamada. Ressalte-se, que se a Autarquia
concedeu à reclamante a aposentadoria por invalidez, isso
certamente demonstra que a periciada não possuía mais
capacidade laborativa, e, por questão lógica, a reparação à
reclamante nesse aspecto, deve ser completa, ou, no mínimo, a
mais plena possível. Nesse contexto, não havendo dúvidas de
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que a Reclamada foi a única responsável pela moléstia que
ocasionou a incapacidade parcial e permanente da
Reclamante, uma vez que agiu de forma negligente diante das
normas legais de Segurança e Medicina do Trabalho, o
ressarcimento pelos danos decorrentes da doença funcional
advém da responsabilidade infortunística e da responsabilidade
civil da Reclamada, admitindo-se, assim, a cumulação da
prestação previdenciária e da reparação civil. Recurso de revista
não conhecido. (TST - RR/364/2006-251-18-00.4 - TRT18ª R. - 7T
- Rel. Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos - DEJT
02/10/2008 - P. 1065).
Pelos mesmos fundamentos, resta afastada a alegação recursal acerca da
existência de bis in idem na condenação imposta, pelo fato de a empresa
contribuir para a Previdência Social.
Neste contexto, dou provimento ao recurso ordinário adesivo da reclamante
para majorar o valor arbitrado à indenização por danos morais, nos termos
acima fundamentados, ao passo que nego provimento ao apelo da
demandada.
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. Matéria remanescente.
1. SALÁRIO-FAMÍLIA.
A ré não se conforma com a condenação ao pagamento de uma cota
mensal do salário-família, desde a admissão da autora até abril de 2010,
asseverando não ter a reclamante lhe apresentado a certidão de
nascimento do filho, tampouco o atestado de vacinação obrigatório.
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Examino.
Nos termos do artigo 67 da Lei nº 8.213/91:
O pagamento do salário-família é condicionado à apresentação
da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa
ao equiparado ou ao inválido, e à apresentação anual de
atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de
freqüência à escola do filho ou equiparado, nos termos do
regulamento.
No caso em exame, a reclamante comprovou possuir filho menor (certidão
de nascimento, que ocorreu em 05/5/1996, fl. 25).
Tratando-se de benefício legal e que, na essência, contempla um
pressuposto objetivo imprescindível (filhos menores de 14 anos), sem
dúvida, não se afigura razoável inferir o desinteresse do trabalhador. Quanto
aos demais requisitos legais, arrolados no transcrito artigo 67 da Lei n.
8.213/91, não é possível os considerar não implementados. Ora, tivesse
sido a autora consultada no momento de sua contratação em 13/11/2008
sobre a existência de filhos para eventual concessão do benefício, parece
lógico crer que o preposto da empresa informaria à reclamante da
necessidade de apresentação do atestado de vacinação e comprovação
de frequência à escola. Tal procedimento, merece o registro, nenhum
prejuízo traria ao empregador, dado que os valores pagos são objeto de
“compensação quando do recolhimento das contribuições”, à luz do art. 68
do diploma legal acima citado.
A propósito do ônus da prova, oportuna a referência a excerto do acórdão
da lavra do Exmo. Desembargador Hugo Carlos Scheuermann, no
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processo n. 00180.401/00-9 - RO, litteris:
Além disso, o princípio da distribuição do ônus da prova é
relativizado, no caso em exame, pela constatação de que o
reclamante não teria aptidão para provar que entregou a
certidão, sabido que o empregado, subordinado
hierarquicamente ao empregador, não possui condição natural
de formular requerimentos sob exigência de recibos ou de outras
provas semelhantes, que por isso devem ser produzidas pelo
empregador.
A aptidão para a prova do fato, inegavelmente, era da empresa. Disto
resulta inviável presumir o desinteresse da trabalhadora para auferir o
benefício.
Comprovado que a autora era mãe de um filho menor de 14 anos à época
da contratação, impende manter a condenação quanto ao salário -família.
Nego provimento.
2. DIFERENÇAS DO FGTS.
O Magistrado da Origem condenou a reclamada a pagar as diferenças de
FGTS do período contratual, utilizando-se dos seguintes fundamentos (fls.
115-verso):
Afirma a autora que o FGTS não foi corretamente recolhido
durante a vigência do contrato.
O ônus da prova quanto à correção dos depósitos do FGTS, nos
termos da Lei nº 8.036/1990, é do empregador, pois detém o
dever de documentar o contrato de trabalho e possui a obrigação
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de regularidade dos recolhimentos.
Ausente prova da quitação do recolhimento do FGTS à conta
vinculada da autora.
Cumpre sinalar que o art. 15, V, da Lei nº 8.036/90 dispõe que o
recolhimento do FGTS é obrigatório nos casos de “licença por
acidente do trabalho”. Também o art. 28 do Dec. 99.684/90
dispõe sobre os casos em que o recolhimento do FGTS é
obrigatório quando das “interrupções do contrato de trabalho
previstas em lei”, nelas incluso o caso de “licença por acidente
do trabalho”. Logo, evidenciado que a autora percebeu o
benefício previdenciário do auxílio-doença em razão do acidente
do trabalho, restam devidos os recolhimentos do FGTS pela
empregadora também nesse período.
Não resignada, a reclamada pugna pela reforma da decisão. Argumenta,
em síntese, que o pedido de diferenças de FGTS é inespecífico e que
compete à reclamante comprovar eventuais diferenças de FGTS a seu
favor, por se tratar de fato constitutivo de seu direito.
Analiso.
Em que pese o cancelamento da Orientação Jurisprudencial nº 301 da
SBDI-I do TST (Resolução nº 175), entende este Colegiado ser da
reclamada o ônus de comprovar o correto recolhimento dos depósitos do
FGTS, em virtude do princípio da aptidão da prova, já positivado no art. 6º,
VIII, da Lei 8.078/90, de aplicação supletiva ao processo laboral.
Com efeito, não se desincumbindo, a reclamada, deste encargo, mantenho
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a condenação imposta na Origem.
Nego provimento, no aspecto.
3. HONORÁRIOS PERICIAIS.
Mantida a condenação quanto às indenizações por danos morais e pensão
vitalícia, subsiste o ônus da ré quanto ao pagamento dos honorários
periciais.
Por fim, no que concerne ao valor fixado a título de honorários periciais (R
$1.500,00 - fl. 123), entendo razoável e proporcional ao trabalho realizado,
estando, ainda, em consonância com os parâmetros utilizados para o
arbitramento dos honorários periciais na Justiça do Trabalho.
Nego provimento.
RECURSO ORDINÁRIO ADESIVO DA RECLAMANTE. Matéria
remanescente.
1. NULIDADE DA DESPEDIDA.
A autora não se conforma com a sentença, no que diz respeito à legalidade
da despedida. Afirma encontrar-se no período da estabilidade acidentária
no momento da extinção do contrato do trabalho, não podendo ser ela
considerada válida, sem a devida assistência de seu sindicato.
Analiso.
O Juiz a quo afastou a pretensão sob o fundamento de que a autora, em
depoimento, admitiu haver "pedido demissão".
Incontroverso o fato de que a autora retornou de licença acidentária em
10/10/2009, gozando de estabilidade no emprego até 10/10/2010, tendo
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havido, contudo, a extinção do contrato de trabalho no dia 13/08/2010.
Alegado pela ré haver a despedida ocorrido por iniciativa da autora,
cumpria à demandada demonstrar tal fato e que, observada a condição de
detentora de estabilidade acidentária, houve assistência sindical e
homologação da resilição contratual. A ré, no entanto, não trouxe aos autos
qualquer documentação a respeito.
Por força do art. 500 da CLT, o "pedido de demissão" do empregado
estável somente é válido quando feito com a assistência do respectivo
sindicato ou perante autoridade competente do Ministério do Trabalho ou
da Justiça do Trabalho. O mesmo vale para o empregado que possui mais
de um ano de contrato de trabalho, consoante o art. 477, § 1º, da CLT.
Na espécie, a demandada não demonstrou ter assegurado à autora a
assistência sindical, razão pela qual não há como reputar válida a
despedida, ainda que a reclamante tenha confessado sua iniciativa, pois
isso não exclui o fato de que no momento da resilição não lhe foi
oportunizada a assistência do sindicato profissional, até para lhe alertar de
que estava abrindo mão de garantia de emprego assegurada por lei.
Portanto, já transcorrido o prazo da estabilidade, não sendo mais possível a
reintegração, faz jus a reclamante ao pagamento de indenização
correspondente aos salários do período estabilitário, de 13/08/2010 a
10/10/2010, com reflexos nas férias proporcionais, 13° salário proporcional
e FGTS com multa de 40%.
Dou parcial provimento ao recurso.
2. HORAS EXTRAS.
Inconformada com a limitação da condenação quanto às horas extras, a
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autora recorre, assevera não haver elementos para restringir a jornada
delimitada na petição inicial.
Ao exame.
Quanto às horas extras, a autora assevera na petição inicial haver laborado
das 6h30min às 17h30min, com 30 minutos de intervalo intrajornada, e com
uma folga semanal, estendendo a jornada até as 22h em dois dias por
semana.
A reclamada, embora possua mais de dez empregados, não trouxe aos
autos os registros de horário da autora, tampouco produziu qualquer prova
em sentido contrário.
O Juiz da Origem deferiu parcialmente a condenação nos seguintes termos
(fl. 115):
Com base na presunção gerada pela ausência de juntada dos
controles horários, bem como pelo princípio da razoabilidade,
tenho por cumprido pela autora o seguinte horário médio: das
6h30min às 17h30min, com 30min de intervalo intrajornada e
com uma folga semanal, estendendo a jornada nos meses de
verão (dezembro a fevereiro) até às 21h em dois dias por
semana.
O horário declinado na inicial não se mostra abusivo, não havendo
elementos nos autos para justificar a limitação da jornada feita na sentença,
considerando que representa a média das horas extras prestadas, sendo
consentânea com o grande movimento dos meses de verão e feriados do
período de calor, assim como da menor demanda dos meses de inverno.
Aplicação do entendimento consubstanciado na Súmula 338 do TST,
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verbis:
338 JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA
PROVA
I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez)
empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art.
74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles
de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada
de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.
Não havendo prova que infirme a jornada declinada pela autora, cumpre
adotá-la nos exatos termos da petição inicial.
Dou provimento ao recurso ordinário adesivo para determinar que na
apuração das horas extras seja considerada a jornada declinada na petição
inicial, das 6h30min às 17h30min, com 30 minutos de intervalo intrajornada,
e com uma folga semanal, estendendo-se a jornada até as 22h em dois
dias por semana.
3. INTERVALOS.
Inconformada com a sentença, a autora recorre, asseverando estar
demonstrada a impossibilidade de fruição integral do intervalo para
repouso e alimentação, de modo que faz jus a uma hora extra e não aos
trinta minutos faltantes como deferido na sentença.
Examino.
Diante da ausência de registros de horário, foi arbitrado na sentença que a
autora gozava de apenas trinta minutos de intervalo para repouso e
alimentação.
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A supressão parcial do intervalo intrajornada confere ao empregado o
direito ao pagamento do tempo integral da pausa prevista no art. 71 da
CLT. O intervalo mínimo legal se constitui em medida de higiene, saúde e
segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública, de maneira
que o empregador somente se desincumbe da obrigação legal quando
assegura ao trabalhador o período mínimo previsto em lei, o que, no caso,
não ocorreu.
A respeito do assunto, o TST editou a Súmula n. 437, verbis:
INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E
ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT.
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão total ou a
concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para
repouso e alimentação a empregados urbanos e rurais, implica
o pagamento total do período correspondente, e não apenas
daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da
CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para
efeito de remuneração.
Assim, devido o pagamento de uma hora por dia laborado, como extra, com
o adicional e os reflexos deferidos na Origem, pela não fruição integral do
intervalo.
Dou provimento ao recurso.
*7262.
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JUIZ CONVOCADO RAUL ZORATTO SANVICENTE:
Acompanho o voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator.
DESEMBARGADORA TÂNIA MACIEL DE SOUZA:
Acompanho o voto do Exmo. Desembargador Relator.
______________________________
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
DESEMBARGADOR ALEXANDRE CORRÊA DA CRUZ (RELATOR)
JUIZ CONVOCADO RAUL ZORATTO SANVICENTE
DESEMBARGADORA TÂNIA MACIEL DE SOUZA
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