41052 - psicologia social

66
SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social SebenteUA – apontamentos pessoais página 1 de 66 41050 Psicologia Social Autor: SebentaUA, apontamentos pessoais E-mail: [email protected] Data: 2006/07 Livro: Psicologia Social - Lombada 136, de Felix Neto Caderno de Apoio: Nota: Apontamentos efectuados para o exame da disciplina no ano lectivo 2006/2007 O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

Upload: hugo-rodrigues

Post on 27-Jan-2016

18 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

41052 - Psicologia Social

TRANSCRIPT

Page 1: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 1 de 66

41050 Psicologia Social

Autor: SebentaUA, apontamentos pessoais

E-mail: [email protected] Data: 2006/07 Livro: Psicologia Social - Lombada 136, de Felix Neto Caderno de Apoio: Nota: Apontamentos efectuados para o exame da disciplina no ano lectivo 2006/2007 O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

Page 2: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 2 de 66

PSICOLOGIA SOCIAL Psicologia social – estuda as pessoas enquanto animais sociais

O objectivo do questionamento científico é o escolher as vias alternativas para explicar o comportamento.

1 – O que é a Psicologia Social?

• Dificuldades na definição: - Diversidade do domínio - Rápida taxa de mudança Allport – “compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada de outros “ A Psicologia Social em termos de entradas (são as presenças actuais, imaginadas ou implicadas de outras pessoas) e as saídas (são os pensamentos, sentimentos e comportamentos do individuo.

* Há cerca de cem anos os cientistas começaram a aplicar o método científico à compreensão do comportamento social humano. A abordagem cientifica procura descobrir relações causa-efeito, indeferindo-as da observação objectiva e da experimentação.

1.1 - Tópicos da Psicologia Social A Psicologia Social cobre um vasto domínio existindo muitos tópicos que são abarcados por ela. Os psicólogos sociais abordam uma ampla gama de comportamentos humanos, mas os seus focos de interesse na investigação limitam-se a pontos restritos, que são divididos em três grupos: - Fisiológico - Cognitivo-atitudinal - Realização Os psicólogos sociais têm-se ocupado tradicionalmente das atitudes das pessoas, das opiniões, das crenças, dos valores, dos sentimentos, das representações sociais.

• Em suma, os psicólogos sociais investigam numerosos tópicos, certos tópicos de investigação perduram, outros cessam.

1.2 – Relações com outros campos A Psicologia Social mantém uma relação próxima com vários campos, em especial com a Sociologia e a Psicologia. Moscovici (1984) – diz que a Psicologia Social distingue-se da Sociologia e da Psicologia pela mesma característica:

Page 3: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 3 de 66

- A Sociologia e a Psicologia põem em relação um sujeito (individual ou colectivo, segundo o caso) e um objecto (meio, estimulo) - Na Psicologia Social a relação dual (sujeito-objecto) é substituída por uma relação ternária: * Sujeito individual (ego) * Sujeito social (alter) * Objectivo (físico, social, imaginário ou real) É pois introduzida uma mediação constante entre o sujeito e o objecto que se traduz em modificações do pensamento e do comportamento de cada um. Em geral a ênfase no social distingue a psicologia Social da Psicologia e a ênfase no individual distingue-a da Sociologia. A Psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual, mas o comportamento embora possa ser social, não o é necessariamente. Os psicólogos abordam o indivíduo fora do contexto social ocupando-se de vários processos internos como seja percepção, aprendizagem, memória, inteligência, motivação e emoção. A Sociologia é o estudo científico da sociedade humana. Os sociólogos analisam o comportamento humano num contexto mais amplo. Abordam tópicos tais como instituições sociais (família, religião, politica), estratificação dentro da sociedade (classes sociais, raça, e etnicidade, papeis sexuais), processos sociais básicos (socialização, desvio, controlo social) e a estrutura de unidades sociais (grupos, redes, organizações formais, burocracias). Dão mais importância às normas que geriam o comportamento, resultado de pressões externas. A Psicologia Social estabelece a ponte entre a Psicologia e a Sociologia. Os psicólogos sociais para explicar o comportamento recorrem a factores individuais e sociológicos. Para eles, se os processos intrapsiquicos desempenham um papel determinante no comportamento de uma pessoa, o contexto social desse comportamento fornece-lhes os estímulos sociais, motivos e objectivos. ´

1.3 - Níveis de analise Podemos encontrar várias psicologias sociais diferentes e múltiplas explicações para as experiências humanas e as acções. Encontram-se duas variantes principais em psicologia Social:

• Psicologia Social Sociológica (PSS) • Psicologia Social Psicológica (PSP) Ambas têm áreas comuns, mas diferem na focalização central e nos métodos de investigação:

P.S.S.: - a focalização central é no indivíduo - os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a análise de estímulos imediatos, estados psicológicos e traços de personalidade. - o objectivo principal da investigação é a predição do comportamento - a experimentação é o principal método de investigação

P.S.P.: - a focalização central é no grupo ou na sociedade - Os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a análise de variáveis societais, tais como estatuto social, papéis sociais e normas sociais - O objectivo principal da investigação é a descrição do comportamento - Inquéritos e observação participante são os principais métodos de investigação

Na PSP- Lewin, Festinger, Schachter, Asch, Campbell e Allport Na PSS- Mead, Goffman, French, Homans e Bales

• Existem várias razões para se proceder ao estudo das 2 psicologias sociais:

Page 4: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 4 de 66

1ª – as duas psicologias complementam-se: Visscher “ Tenha-se cuidado em que estas duas abordagens, a do psicólogo e a do sociólogo desenvolvam investigações complementares num plano estritamente positivo”. Cada uma tem os seus pontos fortes e fracos. 2ª – em ultima instancia, as duas abordagens convergem. Todas as teorias da psicologia social tentam compreender os indivíduos no seu contexto social. Todas reconhecem implícita ou explicitamente, a influência recíproca do indivíduo e da sociedade na construção social da realidade. Cada vez há uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas psicologias sociais. 3ª – a atenção ao mundo subjectivo do individuo é a única contribuição da psicologia social que é partilhada pela PSS e pela PSP (CartWight 1979) Ambas as perspectivas acentuam o meio percepcionado pelo individuo e não tanto o meio actual. Ambas as psicologias sociais se focalizam nas interpretações cognitivas da realidade e nos comportamentos subsequentes com base nestas interpretações.

Sendo o comportamento variado e as suas causas diversas, não é de admirar que em psicologia social se recorra a diferentes níveis de análises. * Doise (1982) – sintetizou essas explicações distinguindo quatro níveis: 1ª – É abordado o estudo dos processos “psicológicos” ou intra-individuais”que deveriam dar conta do modo como o individuo organiza a sua experiência do mundo social (ex. Um individuo ter uma opinião global sobre alguém, a partir da integração de diferentes traços de personalidade que lhe são apresentados) 2ª – Tem em conta a dinâmica de processos “inter-individuais” e “intra-individuais que ocorrem entre indivíduos (ex: o estudo da atribuição de intenções a outrem). 3ª – Faz intervir diferenças de “posições” ou “de estatutos sociais” para dar conta de modulações de interacções situacionais (ex: quando uma argumentação convence mais facilmente um individuo porque quem apresenta tem um estatuto social mais elevado). 4ª – Mostra como determinadas “crenças ideológicas universalistas” induzem representações e condutas diferenciadoras, ou até mesmo discriminatórias. * Lerner (1980) – os seus trabalhos permitem ilustrar o 4º nível, segundo ele as pessoas têm uma profunda convicção de que o “mundo é justo” e o que acontece às pessoas que sofrem é merecido. Se os níveis de análise podem ser diversos, os psicólogos sociais estão, no entanto, unidos na crença de que os aspectos sociais do comportamento humano podem ser compreendidos através do estudo sistemático. Este conhecimento pode permitir predizer o comportamento social e, talvez melhorá-lo, contribuindo para uma qualidade de vida mais satisfatória dos seus semelhantes.

2 – Esboço histórico da Psicologia Social Ebbinghaus (1908) – escreve que a “Psicologia tem um longo passado mas só tem uma breve história”.

• Atribui-se como data de nascimento da psicologia científica, em geral, o ano de 1879, ano em que o primeiro laboratório de psicologia foi fundado em Leipzig, Alemanha, por Wilhelm Wundt.

• Platão aproximava o indivíduo e a sociedade, Rosseau analisou a influência das instituições sociais sobre a psicologia dos indivíduos, não pode ainda dizer-se que estes autores sejam psicólogos sociais.

Page 5: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 5 de 66

2.1 – O longo passado do pensamento sócio-psicológico A psicologia social começou a esboçar-se enquanto centro de interesse científico em finais do sec.XIX e nos alvores do sec. XX. Allport (1985) a história da filosofia não pode ser esquecida na medida em que há um século todos os psicólogos sociais eram filósofos e muitos filósofos eram psicólogos sociais. Os filósofos gregos foram provavelmente os primeiros teóricos em Psicologia Social (Platão e Aristóteles), em particular, focalizaram a atenção do homem ocidental na sua natureza social. Platão (427-347 a.c.) expõe na Republica que os Estados se formam porque o individuo não é auto-suficiente e necessita da ajuda de muitos outros. Se os homens formam grupos sociais é porque precisam deles. O equilíbrio para uma sociedade depende do lugar que ela saiba dar a três actividades:

– Artesanal – Guerreira – Magistratura

Para além desta sua perspectiva sobre a sociedade, Platão considera que o espírito humano tem três componentes:

– Comportamental – Afectiva – Cognitivo

Que se localizam:

– Abdómen – Tórax – Cabeça

Aristóteles (384-322 a.c.) na Politica, vê as pessoas como “animais políticos”, gregários por instinto. Ele pensa que a interacção social é necessário para o desenvolvimento normal dos seres humanos. • Quer Aristóteles quer Platão acreditam que os indivíduos diferem nas suas habilidades, uns têm

disposições inatas para a liderança e outros para serem seguidores. Hobbes (1588-1679) – os homens não têm tendência a amar-se, mas o seu estado natural é a guerra contra todos. A tão célebre frase “homo homini lupus” condensa bem esta premissa. Hobbes desenvolveu uma análise dos processos interpsicológicos que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de denominação, sentimento de insegurança. Este pensador coloca assim os alicerces da análise psico-social na medida em que procura nas bases do comportamento, as bases da sociedade. Rousseau (1712-1778) as condições sociais transformam verdadeiramente o homem. Stoetzel (1963) diz que Rousseau procurou analisar a influência das instituições sobre psicologia dos indivíduos. No “discurso sobre as ciências e as artes” (1750), defendia que as ciências e as artes corromperam o homem, como toda a civilização. Bentham (1748-1832) defendeu que todo o comportamento humano é motivado pela procura de prazer, principio conhecido como hedonismo (prazer com bem supremo, evita o que é desagradável e procura apenas o que é agradável). Fourier (1792-1837) – socialista utópico, a sociedade ideal, o falantério assentava na “paixões humanas”. Essa sociedade ideal constrói-se a partir de uma boa utilização das paixões humanas e não da sua

Page 6: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 6 de 66

correcção ou repressão. “ É necessário, pois, reestruturar a sociedade, a partir de m conhecimento que chamaríamos hoje psico-social, e de que Fourier teve claramente a ideia, para trazer a harmonia psicológica” (Stoetzel, 1963). Karl Marx (1818-1883) – o comportamento social é determinado pelas condições económicas. Segundo esta perspectiva, para mudar o modo das pessoas pensarem, sentirem e agirem é fundamental mudar antes as instituições económicas. Moritz Lazarus (1824-1903) e Heyman Steinthal (1823-1899) – fundadores em 1860 de uma Revista de Psicologia dos Povos. Para eles, o “povo” era uma realidade espiritual, mas colectiva, cujo espírito não é um mero produto, pensando descobrir os processos mentais dos chamados povos primitivos através do estudo dos mitos, línguas, religião e artes.

2.2 – As origens da Psicologia Social • É difícil situar o nascimento da Psicologia Social, pois esta disciplina vai aparecer como resultado de

uma evolução progressiva. • O húmus propício à eclosão de uma abordagem específica da Psicologia Social, encontramo-lo na

confluência de duas correntes: - Uma francesa - Anglo-saxónica

Corrente francesa Comte (1798-1857), que inventou o termo “sociologia” e fez muito para situar as ciências sociais na família das ciências, foi o 1º autor a ter concebido a ideia de uma Psicologia Social. Duas das suas contribuições são geralmente conhecidas: 1ª - “Lei dos três estádios”

• Estádio teológico – em que os acontecimentos são explicados e personificados pelos Deuses.

• Estádio metafísico – em que os acontecimentos são explicados por poderes impessoais e pelas leis da ciência.

• Estádio positivo – em que os acontecimentos são explicados pela sua invariabilidade e constância.

2ª – É a classificação das ciências fundamentais abstractas. Comte faz a distinção entre ciências abstractas que tratam de fenómenos irredutíveis, de acon- tecimentos fundamentais e primários, e ciências concretas que tratam de fenómenos compósitos, de “seres” concretos e das aplicações abstractas. Comte inventou a “Moral Positiva”, pois necessitava de uma ciência que tratasse dos indivíduos e do modo como os indivíduos combinam influências biológicas e societais. Esta “Moral Positiva” considera, por um lado, os fundamentos biológicos do indivíduo segundo o enfoque da moderna psicofisiologia e, por outro lado, aborda, o indivíduo num contexto cultural social, o que constitui a perspectiva da psicologia social actual (Allport 1985). Gabriel Tarde (1843-1904) e a Gustave de Bon (1841-1931) – deve-se um real desenvolvimento da Psicologia Social Émile Durkheim (1855-1917) – discípula de Comte, defende a posição deste último, segundo a qual o social é rigorosamente irredutível ao individual. Esta posição entra em choque com a de Tarde que alicerça em dois fenómenos psicológicos:

– Invenção – é fruto de individualidades poderosas que asseguram o progresso

Page 7: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 7 de 66

– Imitação – assegura a unidade e a estabilidade sociais. Uma sociedade pode definir-se como “um grupo de homens que se imitam” Para Tarde o papel dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública nos processos de influência da comunicação. LeBon - é autor de numerosas obras de psicologia e de filosofia sociais. A mais célebre é a Psicologia das Multidões que LeBon deu a lume em 1895. Segundo LeBon, a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de uma “alma colectiva”, em que o indivíduo reage de maneira diferente quando está numa situação de multidão. Os indivíduos, em multidão, adoptam um raciocínio rudimentar qualitativamente inferior aos indivíduos que a compõem. Estes comportamentos são explicados por LeBon por uma causa interna, o contágio mental, e uma externa, a existência de líderes. A obra de LeBon é julgada de um modo ambivalente: brilhante e superficial. Rengelman- também levantou a seguinte questão: “ Com é que a presença de outras pessoas influencia a realização de um individuo?” Rengelman descobriu que, em comparação com o que as outras pessoas faziam por elas mesmas, a realização individual diminuía quando trabalhavam conjuntamente em tarefas simples como o puxar uma corda ou empurrar uma carroça. A investigação de Rengelman está na origem dos modernos estudos de Psicologia Social sobre preguiça social.

Corrente anglo-saxónica Embora hajam outras opiniões. Triplett (1898) – publicou a experiência sobre os efeitos da competição sobre o desempenho humano. (ex: observou que um ciclista pedala mais depressa quando em conjunto, do que sozinho) Sociólogo Edward Ross (1866-1951) – publicou em 1901 uma obra sobre “controlo social” em que considera a Psicologia Social como o estudo das inter relações psíquicas entre o homem e o meio que o rodeia. William McDougall (1908) em Inglaterra, publica uma obra “Introdução à Psicologia Social”. O autor delineia uma introdução psicológica à sociologia e mostra como é que os factos sociais se alicerçam na Psicologia. Baseou-se amplamente no ponto de vista que o comportamento social resulta de um pequeno número de tendências inatas ou instintos. Floyd Allport – faz um texto sobre Psicologia Social em que o comportamento social é influenciado por muitos factores em que se incluem a presença dos outros e as suas acções. Este texto foi o 1º livro de base em Psicologia social que permitiu a inclusão desta disciplina no programa de estudos dos departamentos de Psicologia das universidades americanas.

2.3 - Evolução da Psicologia Social Os anos que se seguiram à publicação do Texto de F. Allport foram um período de crescimento rápido para a Psicologia Social. O ideal de transformar a Psicologia Social numa disciplina empírica (todo o conhecimento humano deriva, directa ou indirectamente, da experiência) já tinha sido aceite em finais dos anos 20, começo dos anos 30, desenvolveram-se técnicas de investigação e expande-se o trabalho efectuado. Nos anos 30 surge a publicação de trabalhos de três figuras de 1ª fila, na história da Psicologia social.

– Levy Moreno (1892-1974) – Muzafer Sherif (1906-1990)

Page 8: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 8 de 66

– Kurt Lewin (1890-1947) Moreno (1934) – desenvolveu o sistema sociométrico para analisar as interacções individuo-grupo. Sherif – o 1º programa de investigação com cariz experimental (Sahakian 1982). Lewin – formulou a “teoria do campo” - segundo a qual o comportamento humano deve ser considerado como uma função das características do individuo em interacção com o seu meio. • Na resposta à questão sobre o que é que determina o comportamento humano:

– Freud – acentuou os processos psicológicos internos ao indivíduo. – Marx - sublinhou as forças externas. – Lewin – optou por ambos os factores: internos e externos, que influenciam o comportamento

humano. Esta abordagem combina a psicologia da personalidade com a psicologia social, que tradicionalmente têm sublinhado respectivamente diferenças entre indivíduos e diferenças entre situações.

Em cada década do sec. XX os interesses da investigação foram-se modificando e ampliando:

– Até aos anos 30 – o interesse dos investigadores está centrado, na medida das atitudes. – 40 a 50 – presta-se atenção à influência dos grupos e da pertença aos grupos sobre o

comportamento individual e abordam-se as relações entre vários traços da personalidade e comportamento social. As atitudes são também um domínio de estudo prioritário, a explicação das mudanças de atitude.

– 60 – o campo da Psicologia Social expandiu-se de modo acentuado. Os psicólogos sociais fizeram incidir a sua atenção em áreas de investigação. (ex: porque é que obedecemos à autoridade, como nos atraímos e fazemos amigos....) No Canadá – Wallace Lambert, Robert Gardner e outros – dedicaram-se ao estudo de aspectos psico-sociais do bilinguismo (uso de duas línguas). Nesta época também continuou a investigação em áreas de interesse social (ex: preconceitos e mudanças de atitude). Ainda nos anos 60 psicólogos sociais europeus – Moscovici em França e Tajfel na Grâ-Bretanha – lançaram as bases de uma psicologia social diferente da dos EU. A Psicologia Social europeia colocou uma maior ênfase que a norte-americana – no estudo das relações interpessoais e na investigação de tópicos. Nos anos 60 assiste-se a um crescimento notório no domínio, surge a crise de confiança levando psicólogos sociais a enveredarem por debates de extrema vivacidade.

– 70 – foram postos em cena novos tópicos (ex: papeis sexuais e descriminação sexual, psicologia ambiental)

– 70 e 80 – duas tendências: * Influência crescente da perspectiva cognitiva. * A ênfase na vertente aplicada.

– 90 – tem-se também verificado um crescente interesse pela investigação aplicada. Para além da influência da perspectiva cognitiva e da vertente aplicada, que na nossa opinião também irão obter ainda uma maior expressão no futuro, duas outras perspectivas vão ocupar mais os psicólogos sociais:

– O estudo do papel do afecto, – E uma maior sensibilização à variação cultural.

3 – A Psicologia Social como ciência Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar problemas humanos.

Page 9: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 9 de 66

Os psicólogos sociais diferenciam-se na medida em que enveredam por uma abordagem cientifica para os seus assuntos.

Ciência – entende-se um corpo organizado de conhecimentos que advêm da observação objectiva e de testagem sistemática. Refere-se a todas as áreas que podem ser estudadas (sistemática e objectivamente) e não a m assunto particular. Ciências naturais – biologia, botânica, física, química e a zoologia - tentam explicar observações acerca da natureza e do mundo físico. Ciências comportamentais – antropologia, etologia, psicologia e a sociologia – abordam observações acerca de actividades, como sejam operações mentais e respostas motoras de animais e de seres humanos. Ciências sociais (expressão) – refere-se às ciências comportamentais e disciplinas afins (economia, ciência politica) que abordam actividades das pessoas inseridas em comunidades humanas. A Psicologia Social investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro de grupos, sendo assim uma ciência comportamental e social.

“Teoria” - é uma descrição de relações entre símbolos que representam a realidade (Hall e Lindzey 1978).

Atitude - é um símbolo abstracto utilizado para representar a realidade de que indivíduos têm preferência por certos objectos específicos:

– Não é real – Apenas representa coisas reais.

Construto- quando um símbolo abstracto numa teoria é definido em termos de acontecimentos observáveis.

3.1 – Investigação cientifica A Psicologia Social utiliza o método científico para estudar o comportamento social.

Método científico – implica observação sistemática, desenvolvimento de teorias que explicam essas observações, uso de teorias que engendram predições acerca de observações futuras e revisão de teorias quando as predições não estão certas. A ciência não se limita a ficar por observações precisas, exigindo explicações. São precisamente as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa. Uma teoria consiste na formação de regras gerais tendo por alicerce observações específicas efectuadas.

Indução lógica – é a passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias. Karl Popper- mostrou que uma teoria cientifica não pode logicamente ser provada como verdadeira, mas pode ser refutada (contradizer com argumentos). Popper defende que para uma teoria ser científica deve, em princípio, ser capaz de refutação empírica. O valor de uma teoria depende de um certo número de qualidades: 1º - Deverá estar em concordância com dados conhecidos, incorporando o que se encontrou acerca do

Page 10: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 10 de 66

comportamento humano. 2º – É compreensiva, tentando compreender e explicar um amplo leque de comportamentos. 3º – É parcimoniosa, não contendo mais que os elementos necessários para explicar o assunto em questão. 4º – É de se testar, fornecendo meios mediante os quais hipóteses especificas e predições podem ser suscitadas e subsequentemente testadas por investigação. 5º – É o seu valor heurístico (descobrir a verdade por si próprio) isto é, em que medida estimula o pensamento e a investigação e desafia outras pessoas a desenvolverem e testarem teorias opostas. 6º – A utilidade ou valor aplicado de uma teoria é um atributo importante. As teorias podem também servir para sensibilizar, para identificar os factores susceptíveis de influenciar a vida quotidiana e para prestar atenção às consequências das suas acções. Os psicólogos sociais tentam elaborar teorias que aumentem na pessoa a tomada de consciência de deficiências na vida quotidiana e permitam guiá-las para opções mais satisfatórias. Teoria GENERATIVA (Gergen 1978) – dá à pessoa a possibilidade de se interrogarem sobre o que acreditavam antes e permite optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas (aceites como incontestáveis).

3.2 – Objectivos científicos da Psicologia Social Os objectivos centrais da investigação em Psicologia Social, são quatro:

– Descrição - emana naturalmente da colecção sistemática de factos e de observações acerca de qualquer fenómeno.

– Explicação – pressupõe a identificação das relações causais que produzem comportamentos particulares.

– Predição – Controlo – quando ou se ocorrem.

Em resumo, a investigação pode fornecer informação fidedigna sobre a sociedade, explicá-la, permitir predições e controlar a ocorrência de fenómenos comportamentais.

3.3 – O processo de investigação em Psicologia Social Os psicólogos sociais para estudarem de modo eficaz o comportamento social, devem planear meticulosamente e executar os seus projectos de investigação. Este processo cientifico pode sintetizar-se em sete etapas: 1º - Seleccionar um tópico de investigação – é necessário desenvolver uma ideia acerca do com- portamento que valha a pena explorar. 2º - É a busca da documentação de investigação – que permite delimitar os estudos anteriores efectuados sobre o tópico. 3º - Consiste na formulação de hipóteses – são expectativas específicas sobre a natureza das coisas decorrentes de uma teoria. 4º - Consiste na escolha de um método de investigação – que permitirá testar as hipóteses (método correlacional e o experimental). 5º - Recolha de dados – existem três técnicas básicas:

Page 11: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 11 de 66

• Auto-avaliações

• Observações directas

• Informação de arquivo. 6º - É efectuar análise de dados – as duas espécies básicas de estatísticas utilizadas pelos psicólogos sociais são as descritivas e inferenciais. 7º - Apresentar o relatório de resultados – efectua-se publicando artigos em revistas cientificas, fazendo apresentações em congressos, ou informando pessoalmente outros investigadores na disciplina.

3.4 – Meta-análise Um dos problemas com que se defrontam muitas vezes os investigadores é que o processo de investigação conduz frequentemente a resultados contraditórios de um estudo para o outro.

Meta-análise – é uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar informação de muitos estudos empíricos sobre um tópico e avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho global do efeito (Rosenthal -1984). 4 – Teorias em Psicologia Social Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida social. Nenhuma teoria permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais. Entre as principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias:

• Aprendizagem • Cognitivas • Regras e papeis.

Teoria da Aprendizagem – têm as suas origens nos princípios básicos do behaviorismo que salientou o condicionamento clássico e a aprendizagem através de reforço ou recompensa.

Teoria Cognitiva – têm as suas origens na psicologia de Gestalt. Focalizam-se nos processos cognitivos que estão subjacentes às nossas percepções e julgamentos acerca de nós próprios e dos outros em situações sociais.

Teoria Regras e Papeis – mais com pendor sociológico, põem em evidência a ideia de que os pensamentos e os comportamentos dos indivíduos são o resultado de interacções que têm com outras pessoas e do significado que elas dão às interacções e papéis. No seio destas três orientações teóricas gerais é possível desenvolverem-se modelos mais limitados, por vezes chamados mini-teorias, que tentam explicar um leque mais restrito do comportamento humano (fenómenos precisos tais como o amor, solidão …).

4.1 – Teorias da Aprendizagem Durante muitos anos, as teorias da aprendizagem foram a orientação dominante em Psicologia . o seu núcleo é a ideia de que o comportamento de uma pessoa é determinado pela aprendizagem anterior.

Page 12: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 12 de 66

α) Mecanismos de aprendizagem social Há três mecanismos gerais mediante ao quais as pessoas aprendem coisas novas:

• Associação ou condicionamento clássico • Reforço • Aprendizagem observacional ou imitação

β) Contribuições As teorias da aprendizagem têm-se utilizado para explicar muitos fenómenos sócio-psicológicos, como a atracção interpessoal, a agressão, o altruísmo, o preconceito, a formação de atitudes, a conformidade e a obediência.

4.2 -Teorias Cognitivas A teoria da aprendizagem é criticada por existir uma “caixa negra”, é salientando o que entra na caixa (estimulo) e o que sai (resposta), mas presta pouca atenção ao que se passa dentro da caixa. Os elementos do interior – emoções e cognições – são a principal preocupação das teorias cognitivas. A ideia principal das teorias cognitivas para a Psicologia social é que o comportamento de uma pessoa depende do modo como percepciona a situação social. Kohler e Koffka – interessaram-se em saber como é que os processos interiores do indivíduo impõem uma forma ao mundo exterior.

α) Princípios básicos Uma ideia central para esta orientação é que as pessoas tendem espontaneamente a agrupar ou a categorizar objectos. Uma segunda ideia central é que percepcionamos imediatamente algumas coisas como sendo salientes (figuras) e outras como estando atrás (fundo). Estes princípios cognitivos (agrupamos e categorizamos) são importantes para o modo como interpretamos o que as pessoas sentem, querem e que tipo de pessoas são. Os princípios cognitivos estudam como é que as pessoas processam a informação. No domínio da psicologia social a investigação sobre cognição social, aborda o modo como processamos informação social acerca de pessoas, de situações sociais e de grupos. A investigação sobre a cognição social tem sido efectuada em três áreas:

• Percepção social

• Memória social

• Julgamentos sociais. A nível perceptivo os psicólogos sociais interessam-se em como certas estruturas cognitivas nos ajudam a prestar atenção a vastas quantidades de informação acerca das outras pessoas e das situações sociais.

Esquemas – são representações que as pessoas têm nas suas cabeças acerca de pessoas e de acontecimentos. Os esquemas representam o conhecimento integrado que temos a respeito do nosso meio social.

Page 13: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 13 de 66

Uma outra direcção de investigação cognitiva em que a Psicologia Social tem sido fértil é o estudo de atribuições causais, isto é, os modos como as pessoas usam a informação para determinar as causas do comportamento social.

β) Contribuições As teorias cognitivas permitem explicar situações que parecem numa primeira abordagem incompreensíveis. Os psicólogos sociais seguindo a tradição de Gestalt, examinaram como é que o nosso conhecimento dos traços individuais é combinado para formar impressões globais das pessoas.

4.3 – Teoria dos Papeis É possível delinear o seu começo nas concepções dos papéis teatrais há mais de dois milénios em autores Gregos, foi George Herbert Mead (1913) que tomou o conceito de papel popular na sua análise do self em relação com as pessoas que nos rodeiam.

a) Princípios básicos Teoria do Papel:

• Trata-se de uma rede ligada a hipóteses e de um conjunto bastante amplo de construtos (Shaw e Costanzo 1982),

• Presta pouca atenção aos determinantes individuais do comportamento

• O indivíduo é visto como um produto da sociedade em que vive e como um indivíduo que contribui para essa sociedade

O termo “papel” – define-se como a posição ou função que uma pessoa ocupa no seio de um determinado contexto social (Shaw e Costanzo 1982), uma pessoa desempenha simultaneamente muitos papéis: de estudante universitário, de irmã, de namorada, de jogadora…. Os papéis muitas vezes entram em conflito uns com os outros. Conflito de papeis:

• Conflito interpapel – quando uma pessoa ocupa diversas posições com exigências incompatíveis,

• Conflito intrapapel – quando um só papel tem expectativas que são incompatíveis.

b) Contribuições O conceito de papel tem sido amplamente utilizado em Psicologia social. Neste domínio frequentemente se recorre a termos como modelo de papel, jogo de papel, tomada de papel. Este conceito dá conta da possível mudança de comportamentos das pessoas quando a sua posição na sociedade muda. O doente mental é o produto de uma personalidade perturbada que tem problemas profundos e duradoiros, nada tendo a ver com a situação. Segundo a teoria dos papéis, a doença mental é muitas vezes aprendida quase como alguém aprende um papel numa peça de teatro. Mais recentemente as ideias da teoria dos papeis têm contribuído para o incremento do estudo do auto-conceito.

• Modelos de auto consciência – referem em que condições nos tornam mais conscientes de nós próprios.

Page 14: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 14 de 66

• Conceito auto vigilância – dá conta da tendência de algumas pessoas observarem o modo como são percepcionadas pelas outras.

• Área da gestão da impressão – aborda o modo como as pessoas tentam criar impressões específicas e positivas acerca delas próprias (Schlenker, 1980).

4.4 – Uma comparação de teorias As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas questões que ignoram.

• Conceitos diferentes Teoria da aprendizagem – o comportamento social observável é explicado pelas relações entre estímulo e resposta e a aplicação do reforço. Teoria cognitiva – acentuam a importância das cognições e, de uma maneira geral, da estrutura cognitiva como determinante do comportamento. Teoria do papel – enfatiza papéis e normas, definidos pelas expectativas dos membros do grupo em relação à realização.

• Diferem de comportamentos explicados Teoria da aprendizagem – focalizam-se na aquisição de novos padrões de resposta e no impacto das recompensas e dos castigos na interacção social. Teoria cognitiva – abordam os efeitos das cognições sobre a resposta da pessoa a estímulos sociais, e tratam também das mudanças nas crenças e nas atitudes. Teoria do papel – sublinha o papel do comportamento e a mudança de atitude que resulta dos papéis que se tem.

• Diferem nas suposições acerca da natureza humana Teoria da aprendizagem – vêem os actos das pessoas, o que aprendem e como o fazem, como determinados fundamentalmente pelos padrões de reforço. Teoria cognitiva – acentuam que as pessoas percepcionam, interpretam e tomam decisões acerca do mundo. Teoria do papel – supõem que as pessoas são enormemente conformistas. Vêem as pessoas como agindo de acordo com as expectativas de papéis que têm os membros do grupo.

• Diferem nas concepções do que provoca a mudança no comportamento Teoria da aprendizagem – defendem que a mudança no comportamento resulta de mudança no tipo, quantidade e frequência de reforço recebido. Teoria cognitiva – sustentam que a mudança no comportamento resulta de mudanças nas crenças e atitudes, para além de postular que mudanças nas crenças e atitudes são muitas vezes o resultado de esforços para resolver inconsistências entre cognições. Teoria do papel – defende que para mudar o comportamento de alguém, é necessário mudar o papel que a pessoa ocupa. Diferente comportamento resultará quando a pessoa muda de papéis, porque o novo papel acarretará diferentes pedidos de expectativas.

5 – A Psicologia Social contemporânea

Page 15: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 15 de 66

6 – Perspectivas internacionais Tajfel e seus colegas – o trabalho consiste na identidade social, categorização social e relações intergrupais. Moscovici e seus colegas – o trabalho consiste na polarização de grupos, influência minoritária e representações sociais. Muzafer Sherif e Carolyn Sherif – exploram a formação de grupos, o conflito intergrupal e técnicas para reduzir o conflito. Sumário na pag. 119.

Self Fenómeno do sarau-cocktail – é a capacidade em aprender um estímulo relevante para si próprio num meio complexo (Moray 1959). –ex: estar numa festa buliçosa e ouvir alguém do outro lado da sala referir o seu nome. Para os Psicólogos Cognitivistas o fenómeno denota que as pessoas são selectivas na sua percepção dos estímulos, para os Psicólogos Sociais tal ilustra também que o self não é só mais um estímulo social, pode tratar-se do mais importante objecto da nossa atenção.

Self

• Natureza – são as características que uma pessoa reclama como sendo suas e às quais dá um valor afectivo – Markus e Kunda 1986 – o self tem diferentes rostos.

• É uma construção social que se forma mediante a interacção com outras pessoas. É a base das interacções sociais, mas também afecta um amplo leque de comportamentos sociais. (ex: julgamentos sobre outras pessoas, como comunicamos com elas…) – são comportamentos que podem ser influenciados pelo modo como vemos a nós próprios.

Psicologia Social focaliza-se no indivíduo dentro do contexto social. Grupos e organizações podem contribuir para a emergência da self social é o domínio natural do psicólogo social. Três aspectos do self em Psicologia Social: 1º - Auto conceito cognitivo – é a questão de como as pessoas chegam à compreensão dos seus próprios comportamentos.

2º - Auto estima – componente afectiva, e a questão do modo como as pessoas se avaliam a elas próprias.

3º Auto apresentação – a manifestação comportamental do self, e a questão de como é que as pessoas se apresentam às outras.

1- O self em Psicologia Social

Page 16: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 16 de 66

Platão – considerou o self equivalente à alma e sentiu que era o lugar da sabedoria. Buda – acreditou que cada um de nós cria o seu próprio sentido de identidade pessoal, mas esta auto compreensão é muitas vezes distorcida e incompleta. Descartes – baseou o self na nossa capacidade em pensar. Hume – considerou o self como equivalente com experiências de percepção. Kant – notava que o self não é tanto a nossa perspectiva de quem acreditamos que somos como do que somos realmente. O self ajuda-nos a compreender o nosso comportamento. Ele pode efectivamente ajudar a percepcionar-nos como uma pessoa com certas atitudes, valores ou comportamentos. John Watson (1913) – defendia que o self não pode ser medido e que não deveria, por conseguinte, ser objecto de estudo científico. (é impossível saber com precisão o que vai na cabeça de outra pessoa).

2- Definindo o self: auto conceito Auto conceito – pode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos que se referem ao self enquanto objecto (Rosenberg 1979). É importante referir que o auto conceito não constitui necessariamente uma visão “objectiva” do que somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal qual nos percepcionamos.

2.1- Componentes do auto conceito William James (1890) – dualidade do Self:

1º - O self é composto pelos nossos pensamentos e crenças acerca de nós próprios. (o “mim”). O “mim” contém três componentes distintos: - Self material – corpo, vestuário, a casa e outras possessões. - Self espiritual – traços de personalidade, atitudes, valores e percepções sociais. - Self social – amigos, pais, namorado… que conhecem de mim próprio.

2º - O self é também o processador activo de informação, o “conhecedor”, ou o “eu”. É criado um sentido coerente da identidade. O seu self é simultaneamente um livro, repleto de conteúdos fascinantes recolhidos ao longo do tempo, e o leitor do livro que num dado momento pode ter acesso a um determinado capitulo ou acrescentar um novo.

Auto conceito espontâneo – é quando a pessoa fornece uma descrição de si própria sem ser orientada pelo experimentador sobre as dimensões que considera importantes. A saliência de certas características no auto conceito espontâneo pode ser influenciado pelo meio. O auto conceito reflectirá muitas vezes características da identidade que tornam as pessoas distintas das que as rodeiam. O auto conceito espontâneo pode também ser influenciado pelas circunstâncias imediatas.

2.2 – Auto-esquemas As auto-representações não são só descrições de superfície que se utilizam quando alguém nos pergunta quem somos. Para além disso, as crenças sobre o self podem afectar a maneira como vemos o mundo e

Page 17: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 17 de 66

como retemos informação acerca de experiências e acontecimentos. Avanço no estudo da cognição humana fornecem uma perspectiva nova importante.

Esquemas – são colecções organizadas de informação acerca de algum objecto. Auto-esquemas – é um tipo especial de esquema construído com tudo o que conhecemos, pensamos e sentimos acerca de nós próprios. Hazel Markus (1977) –auto-esquemas são: “Generalizações cognitivas acerca do self, derivadas da experiência passada que organiza e guiam o tratamento de informação que se refere a si próprio contida nas experiências sociais do individuo.” Como qualquer outro esquema, um auto-esquema não só organiza, como também guia o processamento de informação. Isto significa que os nossos auto-esquemas podem influenciar as nossas percepções, memória e inferências (ilação, dedução) acerca de nós próprios. (Fiske e Taylor 1991) Do mesmo modo que as pessoas podem ter diferentes auto conceitos, também podem ter diferentes auto-esquemas. Os auto-esquemas não se limitam só a material verbal. Parte do nosso auto conceito implica imagens visuais. Por exemplo, as pessoas são mais susceptíveis de se lembrarem de fotografias delas próprias mais intimamente parecidas com a sua auto-imagem física do que de fotografias que são discrepantes com essa auto-imagem, mesmo se todas as fotografias foram feitas na mesma altura. (Yarmey e Jonhson 1982). Há, pois, uma variedade de modos em como a maneira como nos vemos a nós próprios afecta a maneira como vemos o mundo. O auto-conceito na medida em que abarca muitos auto-esquemas é multifacetado (Sande et al.1988).

2.3 – Memória autobiográfica Auto-esquemas afectam também o modo como relembramos o passado. Sem memória autobiográfica, isto é, as nossas lembranças da sequência de acontecimentos que tocaram a nossa vida (Rubin 1986), não teríamos auto-representações. Ross (1989) – se as lembranças configuram as nossas auto-representações, veremos que as auto-representações também configuram as nossas lembranças. Greenwald (1980) – propôs que o self actua como um ego totalitário que processa a informação de modo enviesado. Este autor identificou três viés principais: • Egocentração – descreve a tendência para o julgamento e a memória se focalizarem no self.

Acontecimentos que afectam o self são lembrados melhor que informação que não é relevante para o self. Para além de tendências egocêntricas há a crença que as pessoas têm de controlar acontecimentos que ocorrem meramente por acaso – ilusão de controlo.

A egocentração também se manifesta no viés do falso consenso, isto é a tendência geral para as pessoas acreditarem que a maior parte das outras pessoas se comporta e pensa como nós.

• Beneficiação – este processo opera quando tiramos conclusões acerca de nós próprios a partir das nossas acções. Para mantermos um conceito positivo do self, chamamos a nós o

Page 18: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 18 de 66

sucesso e negamos a responsabilidade pelo fracasso. A “beneficiação” é um viés de autocomplacência que preserva o nosso sentido de competência.

Arkin e Maruyama, 1979 – os estudantes quando tiram boas notas, dizem que os exames foram elaborados de modo correcto, mas quando as notas são fracas não assumem a responsabilidade do seu fracasso e consideram o exame incapaz de avaliar as suas capacidades.

• Conservadorismo cognitivo – o conservadorismo cognitivo significa que os nossos auto conceitos tendem a resistir à mudança. A maior parte das vezes as pessoas colocam-se em situações susceptíveis de reforçar as seus auto-esquemas existentes, procurando confirmar informação e evitar situações que possam suscitar informação inconsistente.

Apesar da tendência a resistir à mudança, os nossos auto conceitos, atitudes e valores podem mudar com o tempo. Quando tal acontece, as pessoas mantém a sua imagem de consistência distorcendo a sua memória das suas atitudes anteriores, lembrando-as como estando mais perto das atitudes actuais do que realmente estavam (Bern e McCormel 1970). A memória aparece como sendo maleável e é reconstruída para permitir que uma pessoa mantenha uma perspectiva consistente do seu self.

2.4– Origens do self Factores que podem contribuir para o desenvolvimento do self:

a) Avaliação reflectida O autoconceito inclui crenças acerca das nossas características e uma avaliação de cada característica, quer se trate de aspectos positivos ou negativos. O nosso julgamento sobre nós próprios reflecte de muitas maneiras a avaliação dos outros a nosso respeito.

Cooley (1902) – afirma que aprendemos acerca de nós próprios através dos outros. Utilizou a analogia de um espelho ou “olhar-se num espelho”. As pessoas que estão à nossa volta agem como um espelho social, reflectindo e dizendo-nos quem somos.

b) – Comparação social A comparação social pode permitir avaliar as nossas habilidades, pensamentos, sentimentos e traços comparando-os com outros.

Festinger (1954) – um dos teóricos que mais influenciou a moderna psicologia social, desenvolveu a teoria da comparação social para explicar este processo. A sua teoria afirma que na ausência de um padrão físico ou objectivo de exactidão, procuramos as outras pessoas como meio para nos avaliarmos. A investigação mostra que muitas vezes as pessoas escolhem comparar-se com outras pessoas semelhan- tes quando se avaliam.

c) – Comparação temporal As pessoas podem também auto-avaliar-se efectuando comparações entre o seu self presente e o seu self passado, isto é, efectuando comparações temporais – Albert 1977.

Page 19: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 19 de 66

As avaliações efectuadas com base nas tendências temporais, podem ser fonte de satisfação quando a realização melhorou (Campbell, Fairey e Fehr 1986). Para certas pessoas (idosas) as comparações temporais podem acentuar a deterioração nas suas capacidades e na saúde – suscitando uma baixa da auto-estima.

“Historiadores revisionistas “ – têm a capacidade de reescrever as suas histórias pessoais do modo que lhes convém (Ross e McFarland, 1988).

d) – Autopercepção Uma outra fonte de informação acerca do self baseia-se nas inferências e observações que as pessoas fazem quando observam o seu próprio comportamento. A teoria da autopercepção propõe que as pessoas conhecem as suas próprias atitudes, emoções e outros estados internos, parcialmente inferindo-os de observações dos eu próprio comportamento e ou circunstâncias em que este comportamento ocorre (Bern 1972). Esta teoria tem implicações importantes para a motivação humana.

2.5– O self num contexto cultural O nosso sentido do self combina aspectos privados ou internos de uma pessoa e aspectos mais públicos ou sociais de alguém que se identifica com vários grupos, como sejam grupos culturais, raciais, religiosos, políticos, sexuais etários e profissionais…. Os aspectos mais privados do self fornecem-nos um sentido de identidade pessoal, ao passo que os aspectos mais públicos do self propiciam-nos um sentido de identidade social (Tajfel e Turner, 1979).

• Self privado – típico das culturas ocidentais • Self social – típico das culturas orientais.

Sampron, 1991 – self “propriedade da cultura “.

α) - A importância de um grupo para o sentido do self Tajfel 1982; Tajfel e Turner 1979 – teoria da Identidade Social – esta teoria sublinha que a pertença grupal é muito importante para o auto conceito de uma pessoa. A identidade social é aquela parte do seu auto conceito que advém de ser membro de grupos sociais e da identificação com eles. Distingue-se da identidade pessoal que engloba os aspectos únicos e individuais do seu auto conceito. Uma proposição fundamental da teoria da identidade social é a de que os indivíduos procuram manter ou realizar uma identidade social positiva e distintiva. Escala Colectiva de Auto-estima – Luthanen e Crocker, 1992 – o objectivo desta escala é medir sentimentos a respeito de grupos sociais a que o individuo pertence. A escala avalia a auto-estima em relação à pertença a grupos sociais. ββββ)))) – Self e cultura: Identidade social através das culturas

Page 20: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 20 de 66

Um dos aspectos mais importantes da identidade social de uma pessoa é a sua cultura que tem sido definida como o sistema organizado de significações, percepções e crenças partilhadas por pessoas que pertencem a um grupo particular (Neto 1997). A compreensão partilhada de uma cultura passa de geração em geração e simultaneamente modela e é modelada por cada geração sucessiva. Triandis (1989) – refere as distinções entre: - Self privado – a avaliação do self por si próprio. - Self público – a avaliação do self por um outro generalizado - Self colectivo – a avaliação do self por um grupo de referencia particular. Ele defende que a probabilidade de que um individuo escolha cada um dos três aspectos do self varia segundo as culturas: - Nas culturas individualistas – o self privado tende a ser mais complexo e mais saliente que o self colectivo, e por isso é mais susceptível de ser escolhido - Nas culturas colectivistas – o self colectivo tende a ser mais complexo e mais saliente que o self privado, e por isso é mais susceptível de ser escolhido. Trafimow et al. (1991) – mostraram que as autocongições privadas e colectivas eram representadas de modo independente na memória e que os sujeitos de culturas individualistas (EU) relembravam mais cognições acerca do self privado e menos acerca do self colectivo do que os sujeitos de uma cultura colectivista (China). Markus e Kitayama (1991) – focalizaram-se só num aspecto, de como as pessoas se vêm a elas próprias, em particular, no grau de separação vs ligação com os outros, fizeram a distinção entre dois tipos de self: - um self independente – self como uma identidade separada e autónoma. - um self interdependente – self ligado aos outros e guiado, pelo menos em parte, pelas percepções dos pensamentos, sentimentos e acções dos outros. Para, eles, estas auto-representações divergentes têm consequências especificas para a cognição, a motivação e o comportamento. Cousins (1989) – estudo de “Quem sou eu?” Gudykunst – focalizou no conceito de autovigilância. Ele e tal (1992) elaboraram uma nova escala de autovigilância.

3 – Avaliando o self Auto-estima Auto-estima: - componente mais afectiva do self. - Conceito de auto-estima é um dos que ocorre com mais frequência na literatura sobre auto- representações.

Auto-estima – refere-se à avaliação de si próprio, seja de modo positivo ou negativo, e contém julgamentos sociais que as pessoas internalizaram. Também abarca numerosos auto-esquemas; as pessoas avaliam-se a elas próprias de modo favorável nalguns aspectos, mas não noutros (Tleming e Courtney, 1984) • É obvio que autoconceito e auto-estima não são totalmente independentes, ambos estão ligados.

Page 21: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 21 de 66

3.1 – A avaliação de auto-estima A nossa auto-estima global depende do modo como avaliamos as nossas identidades de papéis específicos, isto é, conceitos do self em papéis específicos (e.g., estudante, amigo, filha) e as qualidades pessoais. Avaliamos cada uma delas como sendo relativamente positivas ou negativas. Rosenberg (1965) – elabora uma escala, os resultados desta escala permitem prever emoções e comportamentos.

3.2 – Desenvolvimento da auto-estima Gordon Allport (1961) – a auto-estima torna-se uma parte importante de auto-consciência entre os 2 e 3 anos. Por essa altura as crianças começam a exercer controlo sobre elas próprias e sobre os outros objectos. Se fracassam constantemente ou são frustradas nas suas tentativas de autonomia, a sua auto-estima ressente. Erik Erikson (1963) – propôs um processo semelhante no segundo estádio de desenvolvimento de “autonomia vs vergonha e dúvida”.

3.3 – Auto-estima e comportamento A investigação indica que alta auto-estima está associada com implicação social activa e propiciadora de conforto, ao passo que baixa auto-estima é um estado delibitante (Rosenberg 1979, Wylie 1979).

3.4 – Variações na auto-estima a) – Adolescência Os acontecimentos da adolescência podem abanar a auto-estima. Tanto a transição para o terceiro ciclo básico como o inicio da puberdade podem ser traumáticos.

b) – Experiências Sem surpresa a investigação mostra que as boas avaliações dos professores, dos experimentadores ou dos namorados levantam a auto-estima, e as más avaliações baixam-na, pelo menos tempo- rariamente (Metalsky et al. 1993).

c) – Identidade étnica de grupos minoritários. Muitas vezes tentamos aumentar a nossa auto-estima à custa dos outros. Fazemos tal sobreavalian- do os grupos e os membros dos grupos com que nos associamos, isto é, que formam a nossa identi- dade social, e subavaliando outros grupos e os seus membros. Penélope Oakes e John Turner (1980) – encontraram, por ex: que sujeitos experimentais que mostravam favoritismo em relação ao seu próprio grupo também experienciavam uma maior auto-estima. Por causa de preconceitos, os membros de grupos minoritários podem ter uma imagem negativa deles próprios como reflexo das avaliações das outras pessoas.

Page 22: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 22 de 66

Jean Phinney (1989) – propôs um modelo de formação de identidade étnica em três estádios. 1º – Identidade étnica não examinada 2º – Busca da identidade étnica 3º – Identidade étnica realizada. Em suma, a auto-estima é uma disposição relativamente estável correlacionada muitas vezes com outros indicadores de adaptação psicológica.

3.5 – Autodiscrepâncias Higgins (1989) – Há investigação que sugere que as consequências específicas dependem da autoguia que fracassou em realizar-se. 1º Lugar – a possibilidade de discrepâncias entre o self actual e o self devido – sentir culpa, vergonha. 2º Lugar – a possibilidade de discrepâncias entre o self percepcionado e o self ideal – sentirá desiludido, frustrado e não realizado. As consequências (para ele) emocionais da autodiscrepâncias dependem de dois factores:

– Quantidade – Acessibilidade.

Quanto maior seja a quantidade de discrepâncias, mais intenso será o desconforto emocional, e quanto mais conscientes estejamos desta discrepância mais intenso será o desconforto. Gordon Flett e seus colegas (1991) – estes investigadores mediram auto-estima e depressão junto de sujeitos que apresentavam diferentes graus de perfeccionismo socialmente prescritos mostravam uma tendência significativa para a depressão e baixos níveis de auto-estima.

3.6 – Autoconsciência A auto-focalização, isto é, em que medida a atenção de uma pessoa está dirigida para dentro de si em oposição para fora de si, para o meio (Fiske e Taylor 1991) – está ligada à memória e à cognição.

a) – Estados de autoconsciência Será a autofocalização desagradável??? Robert Wicklund e seus associados pensam que a resposta é positiva. Segundo a sua teoria da autoconsciência, geralmente não estamos autofocalizados; no entanto certas situações levam-nos de modo previsível a voltarmo-nos para o interior e a tornarmo-nos objectos da nossa própria atenção. Gibbons (1978) – demonstrou um efeito semelhante mediante a manipulação da autoconsciência com um espelho. Uma pessoa que está autoconsciente pode também tornar-se mais consciente dos padrões das outras pessoas. A autoconsciência, para além de poder ser induzida por agente situacionais, é objecto de diferenças de certo modo estáveis entre os indivíduos.

b) – Diferentes tipos de autoconsciência Para estudar a possibilidade da autoconsciência ser um traço de personalidade Alan Fenigstein, Michael Scheier e Alan Buss (1975) construíram um questionário – chamado Escala de Autoconsciência, que colocou em evidência três factores:

– Autoconsciência privada – Autoconsciência pública

Page 23: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 23 de 66

– Ansiedade social.

Autoconsciência privada – diz respeito à capacidade de prestar atenção aos sentimentos e pensamentos pessoais.

Autoconsciência pública – define-se como uma consciência geral do próprio enquanto objecto social que tem um efeito sobre os outros.

Ansiedade social – define-se pelo mal-estar em presença dos outros. A autoconsciência privada e pública referem-se a um processo de atenção centrada no próprio, enquanto que a ansiedade social desponta como reacção a estes processos. Fenigstein (1979) – examinou como é que as pessoas reagem quando são rejeitadas pelos outros. Glen Hass (1984) – num estudo experimental com o intuito de se tentar validar a escala de autoconsciência pública, pediu a pessoas para desenharem um E nas suas testas. Turner (1978) e Franzoi (1983) – mostram que os sujeitos com resultados altos na autoconsciência privada assinalavam mais adjectivos para os descreverem do que faziam os que tinham resultados baixos, tais resultados sugerindo qoe os 1ºs dispõem de mais informação sobre si. Scheier, Buss e Buss (1978) – em relação com a veracidade das auto-descrições, encontraram uma correlação entre as auto-avaliações da agressividade e o comportamento agressivo maior nos sujeitos com valores altos na autoconsciência privada, que naqueles com valores baixos.

c) – Autoconsciência e uso de alcóol Hull – propõe que é porque o alcóol reduz a autoconsciência que as pessoas podem usá-lo para tratar com a informação negativa acerca delas próprias. Ele propôs que as pessoas com elevada autoconsciência privada, na medida em que estão de modo mais penetrantes conscientes como encontram os padrões internos, podem ser especialmente vulneráveis ao uso de drogas e de alcóol. Hull e Young (1983) – raciocinaram que as pessoas que tendem a ter elevada autoconsciência quererão beber mais alcóol após fracasso, porque é doloroso focalizar-se em si mesmo após falhar. As pessoas com baixa autoconsciência bebem quase a mesma quantidade de alcóol apesar do sucesso ou fracasso prévio.

d) O que é que causa diferenças individuais na autoconsciência? “Mas porque é que alguns de nós prestam atenção aos aspectos privados ou públicos do self, ao passo que outros ignoram em principio estas duas facetas do self?”

• Não tem nada a ver com inteligência (Carver e Glass 1976) • Experiências de vida significativas durante anos de formação foram avançadas como uma

explicação possível (Buss, 1980), mas ainda não há evidência para apoiar ou refutar esta hipótese. • Em relação a efeitos culturais sobre o nível de autoconsciência privada que colectivista (Oyserman,

1993). Estas diferenças são susceptíveis de estarem relacionadas com o facto de haver nas culturas individualistas uma maior focalização no self como tendo necessidade e desejos pessoais distintos.

Page 24: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 24 de 66

3.7 – Protecção da auto-estima As pessoas utilizam várias técnicas para menter a sua auto-estima (McCall e Simmons, 1978). Examinaremos quatro:

• Manipulação de avaliação – Escolhemos associar-nos com pessoas que partilham a nossa perspectiva do self e evitamos fazê-lo com pessoas que a não partilham. Um outro modo de manter a auto-estima é interpretar as avaliações das outras pessoas como sendo mais favoráveis ou desfavoráveis do que são.

• Processamento selectivo de informação – um outro modo de protegermos a nossa auto-estima é prestar mais atenção às ocorrências que são consistentes com a nossa auto-avaliação. A memória também trabalha na protecção da auto-estima.

• Comparação social selectiva – quando não dispomos de padrões objectivos para nos avaliarmos a nós próprios, recorremos à comparação social (Festinger, 1954). Escolhendo com cuidado as pessoas com que nos comparamos, podemos adicionalmente proteger a nossa auto-estima.

• Compromisso selectivo com identidades – ainda uma outra técnica implica comprometermo-nos mais com autoconceito que fornecem retroacção consistente com a auto-avaliação e afastarmo-nos dos que fornecem retroacção que a ameaça.

Hoelter (1983) – as pessoas tendem a enaltecer a auto-estima dando mais importância a identidades (religiosas, raciais, profissionais, familiares...) que consideram particularmente admiráveis. Tesser e Campbell (1983) – aumentam ou diminuem também a identificação com um grupo social quando o grupo se orna uma fonte potencial de auto-estima maior ou menor.

4- Relacionando o Self: auto-apresentação Os psicólogos sociais utilizam o termo auto-representação para referir os processos pelos quais as pessoas tentam controlar as impressões que os outros formam. 4.1 – O self nas interacções sociais Cooley (1902/22) e Mead (1934) – autores que se inscrevem na corrente do interaccionismo simbólico sublinharam que os participantes nas interacções sociais tentam tornar o papel do outro e ver-se a si próprios da maneira como os outros os vêem. Este processo permite simultaneamente conhecer o modo como se aparece aos outros e guiar o comportamento social para ter o efeito desejado. Erving Goffman – delineou analogias com o mundo do teatro na formulação da sua teoria da apresentação do self na vida quotidiana. Sugeriu que a vida social é como uma representação teatral em que a representação de cada participante é delineada tanto pelo efeito no público como pela expressão aberta do self. A principal característica do papel é a aparência, o valor social positivo obtido da interacção. Manter a aparência é uma condição para que a interacção social continue. Alexander e Rudd (1981) – sugeriu também que a auto-apresentação é uma faceta fundamental da interacção social. As identidades tendem a ser situadas, isto é, as identidades são muitas vezes apropriadas com base para as interacções unicamente em certas situações.

Page 25: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 25 de 66

As três teorias da auto-apresentação que acabamos de evocar estão em consonância ao considerar que as outras pessoas estão sempre a formar impressões a nosso respeito e utilizam estas impressões para orientar as suas interacções connosco.

4.2 – Motivos da auto-apresentação Na gestão da impressão foram identificados dois componentes:

– Impressão - motivação – Impressão - construção. (Leary e Kowalski, 1990)

Impressão-motivação – refere-se até que ponto se está motivado para controlar o modo como os outros nos vêem, para criar uma impressão particular nas mentes dos outros.

Impressão-construção – implica a escolha de ma imagem particular que se quer criar e alterar o comportamento de outra pessoa para modos específicos em vista a realizar este objectivo. Leary e Kowalski (1990) - propuseram que a impressão-motivação resulta de três motivos primários:

– O desejo de obter recompensas sociais e materiais – Para manter ou para aumentar a auto-estima – Para facilitar o desenvolvimento de uma identidade.

A auto-apresentação pode também ser o meio e criai ou de reforçar uma identidade.

4.3 – Auto-apresentação e embaraço Uma auto-apresentação bem sucedida é uma condição sine qua non (indispensável) para toda a interacção social. O embaraço é uma emoção desagradável quando cremos que não podemos representar um papel de modo coerente numa situação pública.

a) – Embaraço, uma forma de ansiedade social O embaraço é geralmente visto como uma forma de ansiedade social intimamente relacionado com a timidez, a ansiedade em público e a vergonha (Buss, 1980; Schlenker, e Leary 1982). A ansiedade social tem sido definida de modo variado. Schlenker e Leary – a ansiedade resulta da perspectiva ou presença de avaliação pessoal em situações sociais reais ou imaginadas. Buss (1980) – a timidez e a ansiedade em público são traços que parecem ser consistentes ao longo do tempo e das situações. Poder-se-ia assim dizer que a timidez e a ansiedade em público surgem respectivamente quando é antecipada em encontros contingentes ou não contingentes uma discrepância entre o padrão de uma pessoa para a sua auto-apresentação e a sua auto-apresentação actual. A distinção entre vergonha e embaraço é mais confusa. Asendorpf (1984) – Vergonha – refere-se a um sentimento de antocensura ou de auto-repugnância. Embaraço – surge provavelmente quando é percepcionado uma discrepância entre a auto-apresentação de uma pessoa e o seu padrão para a auto-apresentação. Badock e Salini (1990) – fizeram quatro estudos experimentais que sugerem que vergonha e embaraço são emoções semelhantes, embora distintas:

Page 26: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 26 de 66

• Semelhantes – na medida em que reflectem uma preocupação com a identidade e estão mais intimamente ligadas à violação de algum padrão que a julgamentos de intenção.

• Distinta – a vergonha reflecte um desvio de um ideal objectivo e universal do que é ser uma pessoa de valor. O embaraço reflecte um desvio da concepção do indivíduo do seu carácter ou pessoa.

b) – Modelo multifacetado do embaraço Edelmann – o modelo proposto pressupõe uma complexa interacção de acontecimentos e de avaliações destes acontecimentos e não tanto uma clara sequência de acontecimentos. Para esta perspectiva as respostas emocionais podem ser inatas, mas os estímulos evocadores, as avaliações subsequentes e as estratégias de conforto são aspectos aprendidos.

c) – Antecedentes, respostas e estratégias de confronto com o embaraço. Geralmente os acontecimentos embaraçosos estão ligados a um passo em falso, uma inconveniência, uma transgressão que suscita na imagem projectada do actor uma impressão que ele não deseja. Existem várias situações que levem ao embaraço (pag. 202). As reacções específicas ao embaraço caracterizam-se por corar, aumento da temperatura, aumento do ritmo cardíaco, tensão muscular, rir, desvio do olhar e tocar a face. As estratégias podem ser:

• Verbais – não são muitas vezes utilizadas e quando utilizadas não são recordadas. • Não verbais – o sorriso é o mais utilizado.....

d) – Implicações sociais de embaraço Goffman (1959) – Geralmente tentamos comportar-nos de modo socialmente apropriado para assegurar que uma determinada imagem desejada de nós próprios seja apresentada aos outros. Parece pois plausível que o medo do embaraço possa constranger o nosso comportamento, agindo como um mecanismo de controlo social. Levin e Arluke – examinaram a possibilidade das pessoas ajudarem mais alguém embaraçado que procura ajuda. O resultado dos dois estudos experimentais sugeriram que o comportamento de ajuda dependia das condições em que ocorre o embaraço. O medo do embaraço pode, pois, desempenhar um papel importante na possibilidade de se dar ajuda ou de se procurar ajuda.

4.4 – Tácticas de auto-apresentação Jones e Pittman (1982) – identificaram cinco tácticas principais de auto-apresentação, que diferem no atributo particular que a pessoa está a tentar ganhar:

• Insinuação – lisonjear e concordar – ser visto como simpático. A insinuação é definida como “uma classe de comportamentos estratégicos ilicitamente designados para influenciar uma pessoa particular sobre a atractividade das qualidades pessoais de si próprio”- Jones e Wortman, 1973.

• Intimidação – ameaça – ser visto como perigoso. O intimidador tenta projectar uma identidade como sendo uma pessoa forte e perigosa. Jones e Pittman (1982) – através de olhares ameaçantes, de palavras zangadas de ameaças de violência, os intimidadores tentam ganhar condescendência induzindo medo nos outros.

Page 27: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 27 de 66

• Autopromoção – jactar-se – ser viso como competente. Esta táctica envolve tentativas da parte de um actor para realizar uma identidade como sendo uma pessoa competente e inteligente. Jones e Pittman (1982) – os insinuadores querem que os outros gostem deles, já os autopromotores querem respeito para as suas capacidades.

• Exemplificação - “Blasonar” - ser visto como moralmente puro. Jones e Pittman (1982) – consiste em acções que a pessoa utiliza para ganhar respeito e admiração dos outros projectando uma imagem de moralidade, integridade e de dignidade. O exemplificador tem como objectivo último modificar o comportamento do público alvo.

• Súplica – rogar – ser visto como fraco. Uma última táctica é a súplica que faz com que uma pessoa pareça fraca e dependente.

As cinco tácticas de auto-apresentação podem ser utilizadas pela mesma pessoa em situação diferentes. As tácticas referidas têm como objectivo influenciar o modo como os outros nos vêm, mas também podem mudar o modo como nos vemos. Podem influenciar o nosso autoconceito. Rhodewalt e Agustsdottir (1986).

4.5 – Estilo de auto-apresentação: autovigilância Mark Snyder (1974, 1987) – algumas pessoas são mais susceptíveis de enveredarem por auto-representações. Estas diferenças estão relacionadas com um traço de personalidade denominado de autovigilância (“self-monitorig”) que é a tendência para usar pistas de auto-apresentação das outras pessoas para controlar as suas próprias auto-apresentações.

As pessoas com elevada autovigilância – estão conscientes das impressões que suscitam nas interacções sociais e são sensíveis às pistas sociais a propósitos de como se deveriam comportar em diferentes situações. Percepcionam-se como flexivas e podem não agir em consonância com os seus sentimentos interiores quando a situação lhe reclama.

As pessoas com baixa autovigilância – falta-lhes a habilidade e a motivação para regular as suas auto-apresentações expressivas. Os seus comportamentos expressivos são o reflexo dos seus estados interiores permanentes e momentâneos. Por consequência tendem a comportar-se mais de modo consistente com a sua própria auto-imagem do que como pensam que a situação lhe reclama. Snyder (1974): Snyder e Gangestad (1986) – com o intuito de se medir este construto foi elaborada uma escala, que demonstrou que os actores profissionais tinham valores mais elevados em autovigilância que estudantes universitários. As pessoas com alta autovigilância estão mais atentas às acções e reacções dos outros, e as pessoas baixas em autovigilância preocupam-se mais com elas próprias. À primeira vista poderá parecer que a autovigilância é muito semelhante ao construto de autoconsciência discutido previamente Carver e Scheier (1981) – indica que os dois construtos, embora estejam relacionados, medem algo de diferente:

• A autovigilância focaliza-se mais nas habilidades de auto-apresentação, • A autoconsciência focaliza-se mais na auto-atenção.

Objectivo do M/81 é estimular a consciência. È feita a jovens para avaliar quais as suas preferências profissionais. È uma técnica diferente. (pag.216). Sumário na pag. 218/19.

Page 28: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 28 de 66

III – Crenças de controlo e atribuições

1- A ilusão de controlo Henslin (1967) – observou o comportamento dos jogadores de dados e ficou surpreendido pelo facto de esses jogadores se comportarem como se controlassem o resultado do lance. Langer (1975) – foi quem melhor ilustrou as manifestações desta ilusão de controlo. Definiu-a como sendo a expectativa de uma possibilidade de sucesso muito superior à probabilidade objectiva. A propensão em acreditar que os acontecimentos são controláveis é aparentemente tão forte que bastarão alguns resultados positivos e rápidos para provocar a ilusão de controlo. O sucesso numa tarefa pode pois criar a ilusão de controlo.

2- Locus de controlo

2.1 – Popularidade e definição A grande atenção dos psicólogos (clínicos, educacionais e sociais) prestada a este construto deve-se certamente, como reconhece o próprio Rotter (1975), à importância das expectativas, do valor do reforço e da situação para a interpretação do comportamento humano. Efectivamente, o locus de controlo toca a complexidade da pessoa e do seu comportamento, dada a importância das expectativas de controlo do reforço e do valor do mesmo reforço para o comportamento, considerando sempre e contexto. Rotter, considerado o pai deste construto (1966-monografia) inicialmente não usou na sua escala a expressão locus controlo, mas sim, controlo interno-externo de reforço (considerava uma crença, uma percepção), descreve logo no início da seguinte forma: “Quando o reforço é percebido pelo sujeito como seguindo-se a alguma acção sua, mas não estando completamente dependente ….pag.244”. Designa-se um indivíduo:

• Como “interno” quando ele tem a percepção ou a crença de que controla a situação ou o reforço e por isso tende a atribuir os resultados a si mesmo (o “lugar” de controlo está dentro dele),

• Como “externo” sente que não controla os acontecimentos ou que os resultados não são dependentes do seu comportamento, e por isso tende a atribuí-los a causas alheias à sua própria vontade, como aos outros poderosos, à sorte ou ao acaso (o “lugar” de controlo está fora dele).

Rotter (1966) – apresentou a sua escala I-E com 29 itens (23 são contáveis e 6 de despistamento), continha duas respostas alternativas em que uma tinha uma afirmação “interna e a outra “externa”. Palenzuela (1984-1986) citam outros construtos mais ou menos próximos do locus de controlo, procurando distingui-los como:

• Percepção de controlo, controlo pessoal, controlo real, necessidade ou desejo de controlo, percepção de competência, poder/impotência, auto-estima, crença num mundo mais justo, motivação intrínseca….Alguns destes conceitos situam-se “para além do locus de controlo”.

Page 29: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 29 de 66

2.2 – Diferenças comportamentais Inúmeras investigações propuseram-se estabelecer as diferenças de comportamento correspondendo a diferenças de crenças no controlo dos reforços. Diferenças no locus de controlo estão relacionadas com o comportamento em situações competitivas. Solicitações competitivas levam as pessoas com uma orientação externa a desistir. Os internos excedem-se mais que os externos quando está envolvida a competição, mas não diferem numa situação de cooperação – Nowicke 1982. Dado que os internos se caracterizam por uma maior confiança neles próprios que os externos, seria de esperar que fossem menos influenciados que os externos. Uma das provas em apoio desta hipótese advém de se ter mostrado que os internos se conformam menos facilmente que os externos com a opinião de um grupo. Odell (1959) – examinou a relação entre locus de controlo e resistência à influência, os externos mostraram maiores tendências a conformarem-se. Spector (1982) – os resultados indicaram que os externos se diferenciavam dos internos relativamente à conformidade normativa, relativamente à conformidade informativa os dois grupos não se diferenciavam. Nas suas interacções sociais, os internos tomam medidas para controlar os resultados. Os internos prestam mais ajuda às pessoas que delas precisam que os externos. Midlarsky (1971)- estudo sobre cada sujeito trabalhava numa tarefa perante um “compadre”. Era-lhe explicado que se alguém acabasse o seu trabalho antes, poderia ajudar o seu parceiro. Cada sucesso tinha como sanção uma descarga eléctrica. Assim, o sujeito tinha conhecimento que se expunha a receber descargas quando ia a ajudar o parceiro. Apesar disso, verificou-se que os internos ajudam mais frequentemente o seu parceiro que os externos. As investigações relativamente à relação entre internalidade e liderança apontam no sentido de os internos se sentirem mais à vontade no papel de chefe que os externos. Johnson e tal (1984) – analisaram os comportamentos dos chefes e as percepções dos subordinados. Os resultados puseram em evidência que os chefes internos evocaram recorrer mais à persuasão que os externos. Earn (1982) - sugere que os internos interpretam as recompensas (salários) como denotando o seu grau de competência. Ao invés, os externos vêem as recompensas como uma indicação de que a tarefa deve ser desagradável. Dailey (1978) – relaciona o locus de controlo com as características da tarefa e as atitudes no trabalho. Em geral, os internos envolvem-se mais no trabalho e sentem-se mais satisfeitos e motivados. O’Brien (1984) – analisa a relação entre locus de controlo, o trabalho e a reforma. Cummins (1989) – analisa o papel do suporte social e do locus de controlo como determinantes da satisfação ou insatisfação (stress) no trabalho. Foi igualmente demonstrada a capacidade dos internos em prestarem atenção à informação do meio em situações da vida real. Estes são muito mais levados a reagir à informação do índole médica para a mudança dos seus hábitos de vida que os externos. Escovar (1977) – caracteriza a psicologia comunitária como uma psicologia para o desenvolvimento que, segundo esse autor, “é o processo pelo qual o homem adquire mais controlo sobre o ambiente”. Para ele,

Page 30: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 30 de 66

as transformações comunitárias devem começar pela transformação das pessoas, sentindo-se mais responsáveis pelo seu destino e mais confiantes na mudança. Escovar (1980) – avança um modelo psicossocial do desenvolvimento. Neste modelo é salientada a necessidade de se romper o circulo vicioso em que as atitudes das populações carecidas conduzem a atitudes e comportamentos que, por sua vez, retro-alimentam essas mesmas características. Os externos encontram-se com frequência entre as comunidades mais desfavorecidas. Um dos factores que visa o desenvolvimento da comunidade é o desenvolvimento da crença de que as pessoas podem interferir nos seus destinos – pessoas internas. Em suma, os resultados referidos são suficientes para ilustrar que os internos usufruem de uma melhor representação que os externos. Quando se é interno é-se mais bem sucedido e adaptado social e emocionalmente do que quando se é externo. O estudo da distribuição social de crenças de controlo mostra que as explicações internas são mais expressivas nos grupos sociais favorecidos.

2.3 – Investigação intercultural Agrupamos os estudos interculturais do locus de controlo em duas rubricas: • Uma referente a estudos comparativos interculturais de grupos de nacionalidades diferentes, • Outra referente a estudos de grupos étnicos minoritários no seio da mesma nação.

a) – Comparações nacionais Há diferenças consistentes entre americanos e asiáticos, obtendo os japoneses, em particular, um score alto de externalidade. Uma ideia que também tem sido evidenciada é a de que as pessoas das nações industrializadas são mais internas que as dos países em vias de desenvolvimento.

b) – Comparações com grupos étnicos e minoritários A primeira investigação em que se comparam negros e brancos americanos é a de Beattle e Rotter (1963) que confrontaram as respostas de crianças negras e brancas com 9 e 11 anos (controlando o sexo e a classe social) em duas provas de locus de controlo.

A 1ª prova utilizada foi o questionário de Bialer (1961) e a 2ª uma prova projectiva. Resultados dos dois instrumentos puseram em evidência uma interacção entre raça e classe social, sendo as crianças negras da classe social mais baixa as mais externas. Lefcourt e Ladwig (1966) efectuaram um estudo com prisioneiros adultos relativamente homogéneos quanto à classe social; os negros eram mais externos que os brancos. Os estudos referidos são suficientes para ilustrar que o locus de controlo é um construto interessante e complexo em psicologia intercultural, dado que os resultados obtidos com escalas que o avaliam dependem de condições do meio.

2.4 – Desejo de controlo Jerry Burger e seus colegas (1992) distinguem entre:

• Locus de controlo – refere-se a quanto controlo pessoal as pessoas percepcionam ter, • Desejo de controlo – reflecte quanto controlo pessoal as pessoas preferem ter.

As pessoas com alto desejo de controlo são mais susceptíveis de sobressaírem na realização de tarefas (ex: obter melhores notas). Burger (1992) sugere quatro razões:

Page 31: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 31 de 66

1ª – Tem objectivos mais elevados para elas próprias e ajustam os seus objectivos de modo apropriado após a comunicação do seu resultado. 2ª – Fazem um esforço extra em ocasiões apropriadas. 3ª – Persistem mais tempo em tarefas difíceis. 4ª – Dado que os sujeitos com alto desejo de controlo tendem a assumir os seus sucessos e a atribuir os seus fracassos à sorte, são mais susceptíveis de fazer mais esforço nas tarefas subsequentes. Locus de controlo e desejo de controlo são diferenças individuais do modo como vemos as nossas relações com as situações. Afectam o comportamento em contextos diferentes (Rodin e Salovery, 1989).

3 – Reacções à perda de controlo

3.1- Teoria da reactância A teoria da reactância psicológica explica algumas das nossas reacções à perda de controlo ou liberdade de escolha (Brehm). A reactância psicológica é uma motivação para restaurar liberdades comportamentais ameaçadas. Segundo esta teoria, a reactância é activada quando a liberdade de uma pessoa para se comprometer com algum comportamento é ameaçada (ex: se um pai proíbe uma criança de brincar com um amigo, a criança pode valorizar mais jogar com esse amigo do que antes da proibição).

3.2 – Desânimo aprendido. Talvez o resultado mais negativo de experiências repetidas de falta de controlo seja o desânimo aprendido. Seligman (1975) – definiu como sendo uma crença que os resultados de uma pessoa são independentes das suas acções (ex: experiência com animais, ministrando choques eléctricos). Sugeriu três espécies de défices em resultado de experiências com resultados incontroláveis: 1ª – Há um défice motivacional, pelo qual o animal não tenta aprender novos comportamentos, 2ª – Há um défice cognitivo, pois a aprendizagem não se efectua, 3ª – Há um défice emocional, tornando-se o animal deprimido porque os resultados são incontroláveis. Para este autor, a depressão é uma forma de desânimo aprendido em virtude de se experienciar resultados incontroláveis. Foi desenvolvido o modelo reformulado do desânimo aprendido – Abramson, Seligman e Teasdale 1978; Peterson e Seligman 1982 – o modelo postula que a percepção de falta de controlo numa situação não é suficiente para produzir desânimo numa situação diferente. O novo modelo está baseado em conceitos da teoria da atribuição, pois o que importa são as atribuições da pessoa ao que causou a falta inicial de controlo. Nos modelos contemporâneos da teoria da atribuição são postulados três dimensões ao longo das quais são feitas atribuições: 1ª- Interna vs externa – refere-se a se as causas dos acontecimentos são atribuídas a aspectos da pessoa em oposição aos da situação. 2ª – Estável vs instável – refere-se a se se espera que as causas persistam ou flutuem no tempo. 3ª - Global vs especifica – refere-se a se a atribuição tem implicações difundidas ou circunstanciais.

Page 32: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 32 de 66

Segundo a formulação deste modelo, a gravidade dos défices de desânimo é maior quando falta de controlo é atribuída a factores internos, estáveis, e globais (Abramson e tal 1978).

3.3 – Dependência auto-induzida Um sentimento de perda de controlo pode ser suscitado por outros factores, para além de resultados incontroláveis que inicialmente engendram o desânimo aprendido. Uma ilusão de incompetência pode ser criada por um certo número de situações (Langerm 1978).

4 – Atribuições O tema da atribuição é um dos domínios mais importantes da investigação na psicologia social nas duas ultimas décadas. Ostrom (1981) “ do mesmo modo que a dinâmica dos grupos foi a preocupação dominante da Psicologia Social nos anos 50, as atitudes nos anos 60, a investigação sobre a teoria da atribuição foi a preocupação empírica dominante nos anos 70). Tal importância advém do facto de a atribuição nos ajudar a predizer e de certo modo a controlar a nossa experiência social. Uma vez que acreditamos que compreendemos as causas do comportamento, reagiremos com certos pensamentos, sentimentos e respostas. Enfim, as atribuições acerca de acontecimentos passados influenciam as nossas expectativas de futuro. A situação actual no domínio da atribuição é a diversidade e multiplicidade de teorias de curto alcance. Apesar de tal dispersão, existem quatro princípios gerais que são habitualmente aceites (Harvey e Weary, 1984):

• A atribuição de causalidade é uma actividade com ampla difusão na vida quotidiana, • As atribuições podem não ser exactas, mas sujeitas a erros, • As pessoas comportam-se em função de como percepcionamos e interpretam os factos, • A actividade atribucional desempenha uma função adaptativa.

4.1 – O que é uma atribuição? a) – Definição Uma atribuição é uma inferência que pretende explicar porque é que um determinado acontecimento ocorreu ou que tenta determinar as disposições de uma pessoa (Harvey e Weary). A questão do porquê que nos colocamos tanto pode ser sobre os nossos próprios comportamentos como sobre os dos outros. A explicação que se avança torna-se então causa percepcionada de um acontecimento ou de um comportamento correspondendo a uma atribuição. Convém realçar que uma atribuição representa uma causa percepcionada que pode não estar certa.

b) – Tipos de atribuições Podem-se reagrupar as atribuições emitidas em três tipos principais:

• As atribuições causais – são efectuadas a propósito de causas de um acontecimento, • As atribuições disposicionais – procura-se determinar em que medida a acção que uma pessoa

acaba de se realizar permite inferir características sobre ela (comportamento/personalidade), • As atribuições de responsabilidade – são mais difíceis de aprender pois podem ter pelo menos

três significações diferentes: - Responsabilidade legal

Page 33: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 33 de 66

- Responsabilidade moral (auto-censura) - Responsabilidade relativa a um efeito produzido.

c) – Avaliação das atribuições Entre os processos mais frequentemente utilizados para avaliar as atribuições causais relativas a acontecimentos específicos, contam-se os seguintes:

• Questionário de respostas abertas ou não estruturadas (referente o porquê do sucesso ou insucesso),

• Medidas de percentagem das causas, • Escalas Likert – os sujeitos indicam o grau de importância de cada uma delas.

Duas outras técnicas têm sido também utilizadas:

• Pede-se aos sujeitos que indiquem a principal causa responsável pelo resultado, • Os sujeitos avaliam um determinado número de pares de causas, indicando em cada par, aquela

que mais terá contribuído para o resultado. Hoje em dia os investigadores não medem directamente as atribuições, mas antes as dimensões causais que descrevem a atribuição em questão. Russel (1982) – desenvolveu a Escala de Dimensões Causais (CDS) – pag. 268. As atribuições disposicionais e de responsabilidade são igualmente medidas por meio de questionário e pela codificação dos conteúdos. Como já se disse, as atribuições disposicionais procuram determinar se as características da pessoa correspondem à acção que acaba de se realizar. Finalmente, as questões relativas às atribuições de responsabilidade são directas e implicam a noção de censura.

4.2 – Teorias Uma teoria da atribuição analisa o modo como nos julgamos a nós mesmos e aos outros. Dada a complexidade do processo de atribuição, não é de admirar que existam diversas teorias. Abordaremos as primeiras reflexões de Heider sobre a atribuição t três modelos teóricos propostos a partir das ideias desse autor:

• O modelo das “inferências correspondentes “ de Jones e Davis • O da covariação de Kelly • O da atribuição de sucesso e de fracasso de Weiner.

a) – Causalidade e psicologia ingénua Heider – sentiu que a maior parte dos indivíduos são psicólogos “ingénuos” que tentam compreender os outros de forma a tornarem o mundo mais previsível. Na sua famosa obra de 1958, Heider lança os alicerces de uma prova problemática para a psicologia cognitiva, fazendo uma descrição do processo pelo qual os indivíduos fazem atribuições ao seu meio, atribuições de causas, de disposições, de propriedade. Para explicar um acontecimento, podem ser invocados dois conjuntos de condições:

• Causas internas • Causas externas

Se Lewin procurava projectar luz sobre as causas do comportamento, Heider tenta explicar a percepção das causas de uma acção. É importante lembrar que a teoria da atribuição se refere não tanto às causas reais do comportamento de uma pessoa como às inferências que o observador faz acerca das causas. Segundo Heider, os atributos pessoais são mais evidentes quando o meio permite um leque de possíveis comportamentos. Uma vez inferida uma característica acerca de um indivíduo, pode ser usada para

Page 34: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 34 de 66

predizer o comportamento. As ideias de Heider tiveram uma enorme influência nas investigações ulteriores no domínio da atribuição.

b) – Inferências correspondentes A teoria das inferências correspondentes (Jones e Davis, 1965) aborda como é que os indivíduos fazem um certo número de inferências sobre as intenções de uma pessoa. O problema central é o de se saber como é que um indivíduo atribui a outro disposições pessoais estáveis, a partir de acções que terá observado. O objectivo da teoria de inferência correspondente é de “construir uma teoria que explique de modo sistemático as inferências de um observador sobre o que um actor tentava efectuar mediante uma acção particular” (Jones e Davis, 1965). A inferência correspondente refere-se ao julgamento do observador que o comportamento do actor é causado por um traço particular ou corresponde a um tal traço. Os dois critérios fundamentais para que um observador possa aceder às intenções subjacentes de um actor são o conhecimento e a capacidade. As inferências correspondentes são influenciadas por três factores: 1º – os comportamentos que resultam de livre escolha tendem produzir inferências correspondentes, não sendo o caso de comportamentos que são resultado de escolha forçada. 2º – Prestamos atenção aos comportamentos que produzem efeitos não comuns, isto é, elementos do padrão escolhido de acção que não são partilhados com padrões alternativos de acção. 3º – Jones e Davis sugerem que também prestamos mais atenção nas nossas tentativas para compre- endermos os outros, às acções que realizam revestidas de baixa desejabilidade social, que às acções alta nesta dimensão. Em suma, a teoria proposta por Jones e Davis sugere que concluímos mais provavelmente que o comportamento dos outros reflecte os seus traços estáveis, isto é, obtemos inferências correspondentes acerca deles, quando as suas acções:

1) – Ocorrem por escolha, 2) - Produzem efeitos não comuns, 3) - São baixas em desejabilidade social.

c) – Covariação e esquema causal Kelley (1967) -propôs um modelo que assenta no princípio de analogia entre as diligências feitas pelas pessoas na vida quotidiana e as efectuadas pelo cientista, e isto a partir de uma análise de covariância. Segundo o princípio de covariância, “um efeito é atribuído a uma das possíveis causas com que, ao longo do tempo, varia”. O modelo de Covariância de Kelley afirma que a atribuição a um destes componentes (actor, entidade, circunstância) depende de três aspectos comportamentais: 1º – Distintividade – um comportamento pode ser atribuído com exactidão a alguma causa se só ocorre quando essa causa está presente, e não ocorre quando essa causa está ausente, 2º – Consistência – sempre que a causa esteja presente, o comportamento é o mesmo ou quase o mesmo, 3º – Consenso – os outros comportam-se do mesmo modo em relação à mesma entidade. Atribuímos o comportamento dos outros:

Page 35: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 35 de 66

• Causas internas – baixa distintividade, alta consistência e baixo consenso. • Causas externas – alta distintividade, alta consistência e alto consenso.

Como julgamos o comportamento quando não se dispõe de informação acerca da distintividade, da consistência e do consenso? Para preencher esta lacuna, Kelley (1972) propôs um modelo de esquema causal que é “uma concepção geral que a pessoa tem sobre o modo como certos tipos de causas interagem para produzir um tipo de efeito particular”. Kelley – menciona certos princípios, em função dos quais um indivíduo elaboraria uma opinião sobre a causalidade:

• Princípio do desconto – diz respeito a situações em que um dado efeito tem múltiplas causas possíveis,

• Princípio de aumento – postula que quando há esforço, sacrifício, embaraço, custos ou riscos associados à realização de um acto, acção é mais atribuída ao actor do que o seria de outro modo.

Quer o modelo de covariação quer a teoria das inferências correspondentes representam avanços de vulto para melhor se compreender como é que as pessoas fazem inferências acerca das causas do comportamento. Na sua forma original a teoria das inferências correspondentes tratava sobretudo de dar sentido a instâncias singulares do comportamento, ao passo que o modelo de covariação foi avançado para explicar de modo explicito como é que o sentido é dado a uma sequência de comportamento ao longo do tempo. Ambas as teorias postulam que as pessoas são observadores racionais e lógicas, actuando como cientistas ingénuos mediante o teste de hipóteses acerca do lugar de causalidade de acontecimentos sociais.

d) – Atribuições de sucesso e de fracasso Weiner – avançou um modelo de atribuição que se refere a uma área muito mais específica do comportamento que os modelos de Jones e Davis e de Kelley. O modelo de Weiner diz respeito às explicações para o sucesso e o fracasso de pessoas na realização de uma tarefa. Weiner – pressupõe que uma das dimensões dos nossos julgamentos é uma comparação entre causas de disposição e de situação, que refere como sendo a dimensão interna /externa. Além disso, Weiner acrescenta uma segunda dimensão intitulada de instável/estável. Acrescentou uma terceira dimensão controlável/incontrolável. Posteriormente, os teóricos do modelo reformulado do desânimo aprendido (Abramson, Seligman e Teasdale, 1978), formularam uma outra dimensão já referida: globalidade vs especificidade. Luginbuhl, Crowe e Kahan (1975) – efectuaram duas investigações sobre auto-percepção do fracasso ou do sucesso, tendo em conta quatro factores causais definidos por Weiner. Os resultados da 1ª investigação confirmaram que o sucess9o é percebido sobretudo como sendo determinado por causas internas.

4.3 – Aplicações da teoria da atribuição Kurt Lewin – um dos fundadores da moderna Psicologia Social, chamou a nossa atenção para o facto de “nada ser tão prático como uma boa teoria”. Ilustraremos seguidamente quatro áreas de aplicação da teoria da atribuição: a) – Violação Ryan (1971) - refere-se à tendência cultural em “censurar a vítima”.

Page 36: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 36 de 66

Janoff-Bulmam (1979) – recolheu informação de pessoas que trabalhavam em diversos centros de apoio a pessoas violadas, que permitiu distinguir duas espécies de auto- censura:

• Comportamental – a vítima sabe que está fazendo algo de néscio (ignorante), tal como andar sozinha de noite, deixar entrar uma pessoa estranha em casa, não fechar o carro.....

• Caracterológica – a falta encontra-se no próprio carácter da pessoa. A auto-censura caracterológica, é mais difícil de modificar que a comportamental. Howard (1984) – fez a análise dos modos como as pessoas atribuem responsabilidades a vitimas de vários tipos de crimes, incluindo a violação. Field (1978) – sobre atitudes acerca da violação por parte de violadores, conselheiros, polícias e população em geral, mostra algumas semelhanças com os resultados referidos. (pag.282). b) – Desemprego Uma outra questão social importante que tem sido examinada por meio da teoria das atribuições é o modo como as pessoas encaram o desemprego. Feather e Davenport (1981) – referem que as pessoas que se sentiam mais deprimidas acerca das circunstâncias, eram mais susceptíveis de censurar as condições económicas da sociedade do que a elas próprias. Num outro estudo, Feather (1985) – examinou as atribuições feitas para explicar o desemprego das outras pessoas. Em ambos os estudos reflecte-se uma semelhança entre o modo como as vitimas e os observadores do desemprego julgam as suas causas. Ambos focalizaram-se mais em atribuições externas do que na censura da vitima. Schaufeli (1988) – efectuou um estudo longitudinal. Em 1º lugar recolheu as atribuições de um grupo de sujeitos acerca do desemprego. Em seguida comparou essas atribuições com as que foram efectuadas seis meses mais tarde por essas mesmas pessoas, estando algumas delas empregadas e outras desempregadas. Os resultados, para ambas, mostraram não haver praticamente mudanças na 1ª atribuição. c) – Acidentes Berger (1981) - refere uma fraca tendência para atribuir mais responsabilidade a uma vítima do acidente quando a severidade do acidente aumenta. d) – Relações interpessoais Foi sugerido que as relações interpessoais se desenvolvam através de três fases:

• Formação • Manutenção • Dissolução (Harvey, 1987)

4.4 – Erros de atribuição É importante compreender os viés atribucionais porque contribuem para o conflito entre pessoas. Quatro erros de atribuição:

• Diferenças entre o actor e observador – os actores têm tendência a fazerem atribuições para o seu próprio comportamento a causas externas ou situacionais, enquanto que os observadores são mais susceptíveis de fazerem atribuições internas ao comportamento dos outros – dá-se o nome de efeito actor-observador.

• Erro fundamental – de um modo geral, as pessoas subestimam a importância de factores situacionais quando explicam o comportamento.

Page 37: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 37 de 66

Watson, 1982 – quer os actores quer os observadores dão maior importância a disposições que a situação na explicação do comportamento. Ross, 1977 – a este exagero na importância de factores pessoais tem-se chamado o erro fundamental da atribuição. As atribuições das pessoas estão erradas porque os determinantes situacionais são muitas vezes ignorados; o erro é fundamental porque a divisão de causas do comportamento em internas/externas é fundamental para a abordagem da situação.

Uma explicação que tem sido avançada para o erro fundamental da atribuição é que quando observamos o comportamento de outra pessoa, temos tendência a focalizarmo-nos nas suas acções e ignoramos o contexto social em que estas ocorrem. Uma segunda interpretação é que os indivíduos efectivamente vêm os factores situacionais, mas não conseguem dar-lhes um peso suficiente.

• Complacência na atribuição da causalidade – o erro de complacência na atribuição da causalidade refere-se à tendência da pessoa a percepcionar-se como sendo a causa dos seus sucessos, mas a atribuir a causa dos seus fracassos a causas externas (Bradley, 1978). Jonhson, Feigenbaum e Weiby (1964) – foram o suporte inicial para este erro da atribuição.

• Efeitos temporais da atribuição – nem sempre são apresentadas explicações no momento em que um acontecimento ocorre. Por vezes fazemos um regresso a um acontecimento passado e inferimos as suas causas. Outras vezes nesta viagem pelo tempo, podemos reinterpretar um acontecimento com a perspectiva do presente. Miller e Porter (1980) – procuraram saber se estas mudanças de perspectivas afectavam o padrão das atribuições.

4.5 – Atribuições e relações intergrupais A teoria da atribuição tem tentado compreender como é que uma pessoa atribui causas a outra pessoa ou a ela própria. É efectivamente pertinente colocar-se a questão de se saber se a pertença a determinados grupos ou categorias sociais contribui para que as atribuições feitas ao seu endogrupo ou a exogrupo sejam diferentes. Uma experiência efectuada por Taylor e Jaggi (1974), no sul da Índia, ilustra o efeito das pertenças categorias sobre a atribuição. Hewstone e Ward (1985) – efectuaram um estudo com sujeitos malaios e chineses na Malásia e em Singapura. Os sujeitos fizeram atribuições internas ou externas para comportamentos desejáveis ou indesejáveis efectuadas por malaios ou por chineses. Em suma, se as pessoas tendem geralmente a fazer atribuições que aumentam o valor do endogrupo, as atribuições também podem depender das posições relativas que ocupam os grupos no relacionamento intergrupal. 4.6 – Atribuições e diferenças de culturas Diversos autores chamaram a nossa atenção para o facto de os mecanismos inferenciais estarem intimamente ligados à cultura. Gergen (1973) – refere que o chamado erro fundamental pode ser um fenómeno cultural. Nisbett e Ross (1980) – mencionaram que a tendência dos indivíduos em explicar os comportamentos mais em termos de disposições pessoais que em termos de factores situacionais pode ser característico de se ter sido socializado na cultura americana.

Page 38: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 38 de 66

Lalljee (1981) – relembra que noções tão importantes no âmbito dos processos atribuicionais, como a predição e controlo, podem ser função de orientações sócio-culturais.

5 – Normas de internalidade 5.1 – Definição de norma de internalidade Jellison e Green (1981) – mostraram que as explicações internas no controlo dos reforços são objecto de desejabilidade social. Foram esses os primeiros autores a considerar que a ligação entre internalidade e a tendência a exprimir crenças socialmente desejáveis não é um artefacto, mas uma das componentes da internalidade. A originalidade do trabalho de Jellison e Green não assenta unicamente em provar que a internalidade é valorizada de modo positivo pelos indivíduos. Ela advém igualmente da interpretação avançada para a desejabilidade social da internalidade. Os autores propuseram que a prevalência das explicações internas devia ser considerada como a expressão de uma norma, a “norma de internalidade”. Por conseguinte, a norma de internalidade

consiste na valorização social da internalidade. Beauvois (1984) – para este autor intervém um mesmo viés no erro fundamental descrito pelos teóricos da atribuição e na predominância das explicações internas na representação da determinação dos reforços: a sobreavaliação do peso do actor. Beauvois (1993) – definiu a norma da internalidade: “a realização de utilidades sociais pela valorização adquirida socialmente nas democracias liberais das explicações dos comportamentos e dos reforços que acentuam o papel causal do actor que tem tal comportamento ou ao qual acontece algo de positivo ou negativo.” Os trabalhos suscitados pela norma da internalidade têm sido orientados em três direcções (Beauvois e Dubois, 1988): 1º - Na linha da investigação tentou-se verificar que as explicações internas, quer em matéria de atri- buição quer de locus de controlo, são socialmente desejáveis, 2º - Verificou-se que as explicações internas das condutas e dos reforços são mais escolhidas pelos indivíduos que pertencem a grupos favorecidos do que pelos que pertencem a grupos sociais desfavorecidos, 3º - Verificou-se que a norma de internalidade, quer na explicação das condutas quer dos reforços, é objecto de uma aprendizagem social. 5.2 – A norma de internalidade na sociedade portuguesa. Partiu-se das hipóteses de que o aumento da internalidade expressa estaria relacionado com o aumento da aprovação social e da percepção do sucesso académico, Puderam ser confirmadas as hipóteses de quanto maior é o nível de internalidade maior é a aprovação social e a percepção do sucesso académico.

6 – Níveis de análise distintos mas relacionados? A questão que se pode levantar é a de que espécie de distinções se podem fazer no âmbito do controlo percebido. Exploremos as três distinções avançadas por Ferguson, Dodds e Ng. Flannigan (1994): 1ª – Sugere que o controlo percebido se relaciona, de um modo ou de outro, com tantos construtos que pode ser considerado como um único construto genérico (ex: locus de controlo, atribuições de controlo, manipulações experimentais do controlo…).

Page 39: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 39 de 66

2ª – Considera que o controlo percebido pode dividir-se em construtos que relacionam com crenças do controlo percebido e atribuições de controlo. É de notar, no entanto, que construtos relacionados com atribuições e crenças acerca do controlo não são necessariamente independentes, podendo interagir entre eles (Alloy e Tabachnick, 1984). 3ª – Que se questiona se o controlo percebido forma a base do construto, é um sub componente do construto, ou é um correlato do construto. Assim o locus de controlo (Rotter, 1966) e a auto-eficácia (Bandura, 1977) são construtos que se alicerçam na noção de controlo percebido. O construto de estilo atribucional (Abramson, Seligman e Teasdale,1978) que reflecte o modo preferencial das pessoas efectuarem atribuições, é um construto que poderia ser considerado um sub componente. Aplicações: Estilo atribucional, pag. 311.

IV – Atitudes Thomas e Znaniecki (1918) – definiram o campo da psicologia social como sendo “o estudo de atitudes”. Gordon Allport (1935) – referiu-se à atitude como sendo “a pedra angular no edifício” do domínio em crescimento da psicologia social.

1- Sinopse histórica Atitude – deriva da palavra latina “aptitudo” – significa que disposição natural para realizar determinadas tarefas – postura corporal dos pintores. Mais tarde, o termo entrou na linguagem corrente para se referir já não tanto a uma postura corporal como a uma “postura da mente”. Hoje, em dia, quer o público em geral quer os psicólogos sociais, as atitudes referem-se a estados mentais. Darwin – este conceito implica respostas motoras estereotipadas associadas com a expressão de uma emoção, geralmente no sentido de postura de todo o corpo. As atitudes neste sentido desenvolver-se-iam para instaurar uma função de restabelecimento do equilíbrio. Oswald Kulpe – psicologia experimental – as suas respostas eram melhores se elas diziam respeito ao aspecto a que se tinha chamado atenção antes da experiência. A atitude permitiria, pois, explicar a relação flutuante entre estímulo e resposta. A introdução do conceito de atitude na literatura sociológica é geralmente atribuída a Thomas e Znaniecki (1918) – que estudaram os problemas com que se confrontavam os emigrantes polacos nos Estados Unidos. Estava dirigida para algum objecto, como dinheiro ou trabalho. McGuire (1985) – assinala três períodos principais no estudo das atitudes: 1º - Corresponde aos anos 30 – focaliza-se sobretudo na medida das atitudes, 2º - Ocorrem nos anos 50 e 60 – desenvolveram a maior parte das teorias sobre a mudança de atitudes, 3º - Está em curso – e focaliza-se preponderantemente nos sistemas atitudinais.

Page 40: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 40 de 66

As atitudes não podem ser directamente observadas. Por isso a atitude é um construto hipotético que os investigadores tentam apreender por meio de definições conceptuais e de elaboradas técnicas de medida.

2- O que são as atitudes? 2.1 – Modelos e atitudes Uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como sendo multidimensionais com uma organização relativamente duradoira. Modelo tripartido clássico, a atitude resulta de três componentes: (Rosenberg e Hovland, 1960)

• Afectivo – refere-se aos sentimentos subjectivos e às respostas fisiológicas que acompanham uma atitude.

• Cognitivo – diz respeito a crenças e opiniões das quais a atitude é expressa, muito embora nem sempre sejam conscientes.

• Comportamental – diz respeito ao processo mental e físico que prepara o indivíduo a agir de determinada maneira.

Bagozzi (1978) – não é claro o modo como se interrelacionam cada um destes componentes. Em muitas situações a presença de um componente implica a presença de outros. (ex: caça). Breckler (1984) – efectuou um estudo para testar as contribuições independentes dos componentes afectivo, cognitivo e comportamental em relação às cobras. Outros consideram a atitude como sendo unidimensional, isto é, uma atitude representa a resposta avaliativa (afecto), favorável ou desfavorável, em relação ao objecto de atitude. A atitude constitui, pois, a respostas que situa o objecto numa posição do continuum de avaliação. Trata-se do modelo unidimensional clássico. Fishbein e Azjen (1975) – definem a atitude como sendo “uma predisposição aprendida para responder de modo consistente favorável ou desfavorável em relação a dado objecto.” Zanna e Rempel (1988) – delinearam o modelo tripartido revisto que integra todas estas concepções (fig.4.1, pag. 338). Começam por definir a atitude como uma categorização de um objecto – estimulo ao longo de uma dimensão avaliativa. Neste modelo a atitude é, por conseguinte, um julgamento (isto é, uma opinião) que exprime um grau de aversão ou de atracção num eixo bipolar. Pressupõe que esta avaliação pode basear-se em três espécies de informação:

• Informação cognitiva – julgamento a “frio” de que se gosta ou detesta, • Informação afectiva – emoção sentida, • Informação baseada no comportamento passado.

A definição de atitude como avaliação está-se a tornar cada vez mais usual em psicologia social, se bem que ainda não seja universal. Está a substituir uma definição “tripartida” da atitude previamente muito difundida: o chamado “modelo ABC” de atitude. 2.2 – Características A atitude enquanto realidade psicológica possui determinadas características oriundas das realidades físicas. Pode-se encarar como um continuum psíquico, ou seja, uma entidade que tem um começo e um termo de modo que se possa passar de um ao outro por variações de grau, ressaltam quatro características:

• Direcção da atitude – designa o nível positivo ou negativo do objecto da atitude. • Intensidade da atitude – exprime-se pela força da atracção ou da repulsa em relação ao objecto.

A intensidade foi e continua a ser a propriedade que mais tem atraído a atenção dos

Page 41: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 41 de 66

investigadores. Foi objecto das teorias das escalas clássicas de medida e recorre-se a ela para determinar o grau de mudança de atitude. Uma subpropriedade associada à intensidade é a extremidade (ex: um sentimento positivo, pode ser exprimido por meio de uma atitude positiva desde “ligeiramente” a “totalmente positiva”.)

• Dimensão da atitude – permite-nos aprender se se trata de um objecto complexo e que não está bem definido. Pode ser unidimensional ou multidimensional.

• Acessibilidade da atitude – ou seja, a solidez da associação entre o objecto de atitude e a sua avaliação afectiva. Um continuum “não atitude-atitude” foi proposto por Fazio, Sanbonmatsu, Powell e Kardes (1986). Num dos extremos do continuum encontra-se a “não-atitude”, isto é, não existe na memória nenhuma avaliação à priori do objecto de atitude. Quanto mais a resposta é automática, mais se pode concluir que a atitude está cristalizada e, por conseguinte, é mais provável a predição do comportamento.

Para além das características referidas, as atitudes têm outras características básicas: 1º – As atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam, 2º – As atitudes são dirigidas em relação a um, objecto psicológico ou categoria, 3º – As atitudes são aprendidas, isto é, provêm da experiência. Dado que as atitudes são aprendidas, po- dem ser mudadas, 4º – As atitudes influenciam o comportamento. 2.3 – Funções Psicológicas das atitudes Um outro modo de se obter uma compreensão mais aprofundada das atitudes é perguntar porque é que as pessoas as têm? Smith et al. (1956) – atribuem três funções às atitudes:

• Adaptação socializado • Exteriorização • Avaliação do objecto de atitude.

Katz (1960) – menciona quatro funções:

• Conhecimento - perspectiva cognitiva • Instrumentalidade (meios atingir) – perspectiva behaviourista • Defesa do eu (protecção da nossa auto-estima) - perspectiva psicanalítica • Expressão de valores (permitindo às pessoas mostrar os valores com que se identificam e as

definem) – perspectiva humanística. As atitudes podem ter três funções: (Schlenker, 1982; Pratkanis e Greenwald, 1989) 1º – Ajudam a definir grupos sociais, 2º – Ajudam a estabelecer as nossas identidades, 3º – Ajudam o nosso pensamento e comportamento. As atitudes constituem também elementos importantes da vida cognitiva das pessoas. Guiam o modo como se pensa, sente e age.

3- Atitude e noções conexas 3.1 – Crenças

Page 42: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 42 de 66

Para autores que se situam num modelo tripartido das atitudes, as crenças podem ser consideradas como o componente cognitivo das atitudes (Krech, Cruchfield e Ballachey, 1962). Para autores que consideram a atitude como sendo unitária (Fishbein e Ajzen, 1975) definem as crenças como julgamentos que indicam a probabilidade subjectiva de ma pessoa ou um objecto tenha uma característica particular. Nesta perspectiva, crenças e atitudes são claramente distintas:

• as crenças são cognitivas – pensamentos e ideias • as atitudes são afectivas – sentimentos e emoções.

3.2 – Opiniões Por vezes os termos opinião e atitude têm sido utilizados como sinónimos. Mcguire (1962) – sugeriu tratar-se de “normas à procura de uma distinção e não tanto de uma distinção à procura de uma terminologia.” O termo opinião continua a ser amplamente utilizado, em particular no âmbito da investigação de inquérito e de sondagens de opinião pública que se focalizam em atitudes partilhadas e crenças de vastos grupos de pessoas. Allport (1935) – situa os quatro conceitos – opinião, atitudes, interesse e valor – ao longo de m mesmo continuum indo do mais específico ao mais geral. Encontra-se uma concepção semelhante em (Hovland, Janis e Kelley, 1935). Eysenck (1954) – distingue quatro níveis:

• Opinião acidental – não é característica do indivíduo • Opinião habitual – é característica do indivíduo • Atitude – conjunto de opiniões estáveis interligadas, corresponde a um componente importante da

personalidade • Ideologia – traduz a interdependência das atitudes – atitude etnocêntrica, personalidade de tipo

conservador. Oskamp (1991) – há quem defenda a perspectiva de que as opiniões são equivalentes a crenças e não tanto a atitudes. As opiniões envolvem julgamentos de uma pessoa sobre a probabilidade de acontecimentos ou elações, ao passo que as atitudes envolvem sentimentos ou emoções de uma pessoa sobre objectos ou acontecimentos. 3-3 – Valores Os valores constituem uma variável psicológica intimamente associada às atitudes. Muito embora as atitudes se refiram a avaliações de objectos específicos, os valores são crenças duradoiras acerca de objectos importantes da vida que transcendem situações específicas (Rokeach, 1973; Schwartz e Bilsky, 1987). “Paz”, “felicidade”, “igualdade” - são alguns exemplos de valores. Os valores constituem um aspecto importante do autoconceito e servem de princípios directores para uma pessoa (Rokeach, 1972). Alguns psicólogos sociais tentaram catalogar um conjunto de valores básicos em que as pessoas diferem: Allport e Vernon (1931): teórico, económico, social, estético, politico e religioso. Morris (1956) – apresentou cinco dimensões gerias de valores:

• Constrangimento social e autocontrolo • Prazer e progresso na acção • Retraimento e autosuficiência • Receptividade e simpatia • Autocomplacência e prazer sensual.

Page 43: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 43 de 66

Rokeach (1973) – fez a distinção entre: • Valores finais – que dizem respeito aos objectivos últimos da vida, • Valores instrumentais – que dizem respeito a modo de conduta.

Elaborou uma escala para se avaliarem os valores, cada uma contendo 18 valores finais e 18 valores instrumentais. Figueiredo (1988) – utilizou de modo assaz original estas escalas para verificar se existia consenso entre pais e jovens ao nível dos valores finais e instrumentais. O autor encontrou um marcado consenso entre as duas gerações na importância da “dignidade” e “felicidade” como valores finais e “honesto”, “afectuoso”, “responsável”, “capaz” como valores instrumentais. Feather (1994) – os valores têm as seguintes propriedades:

• São crenças gerais acerca de objectivos e comportamentos desejáveis, • Envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de “dever” acerca deles, • Transcendem atitudes e influenciam a norma que as atitudes podem assumir, • Fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e comportamentos, planificar

comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e apresentar-se aos outros, • Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e sua importância relativa pode

variar ao longo da vida, • Os sistemas de valores variam segundo indivíduos, grupos e culturas.

3.4 – Ideologia A ideologia representa um sistema integrado de crenças, em geral, com uma referência social ou política. Rouquete (1996) – a ideologia é o que torna um conjunto de crenças, atitudes e de representações simultaneamente possíveis e compatíveis no seio de uma população. Tetlock (1989) – propôs que os valores terminais, estão na base de toda a ideologia politica. As ideologias podem variar segundo duas características: 1º – podem atribuir diferentes prioridades a valores particulares, 2º – há ideologias que são pluralistas e há outras que são monistas.

4- Formação das atitudes As nossas atitudes resultam das diversas experiências vitais. Como tal são influênciadas pelas pessoas significativas nas nossas vidas e pelos modos como processamos a informação acerca do mundo. 4.1 – Formação das atitudes Jennings e Niemi (1968) – mostraram que crianças tendiam a ser simpatizantes dos mesmos candidatos políticos, clubes...que os seus pais. Epstein e Komorita (1966) – encontraram que crianças da escola primária tanto brancas quanto negras, tinham as mesmas atitudes preconceituosas para com minorias ou grupos étnicos que os seus pais. À medida que uma criança vai avançando na idade, o impacto das influências parentais pode começar a diminuir. Quando adolescentes e jovens adultos deixam o meio familiar, por exemplo, a entrada na universidade que muitas das vezes acarreta a mudança de residência, as suas atitudes mudam muitas vezes de modo profundo como resultado da pertença a novos grupos de companheiros e da pressão dos grupos de referência.

Page 44: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 44 de 66

4.2 – Condicionamento clássico O princípio básico do condicionamento clássico é que quando um estímulo neutro é emparelhado com um estímulo que naturalmente provoca uma resposta particular (estímulo incondicional), o estímulo neutro provocará uma resposta semelhante e então tornar-se-á um estímulo condicionado. Staats – ilustra o uso dos princípios básicos do condicionamento desenvolvendo um modelo de formação da atitude – define uma atitude como uma resposta – uma resposta avaliativa condicionada por algum objecto do meio (ex: emparelhamento de palavras...). O condicionamento clássico pode ser particularmente potente na formação de atitudes em relação a coisas quando não se tem muito conhecimento prévio acerca delas. È possível condicionar as atitudes. 4-3 – Condicionamento operante Os princípios do condicionamento operante (ou aprendizagem instrumental) enfatizam o papel do reforço na formação da atitude. Quando os indivíduos recebem aprovação social para as suas atitudes serão reforçadas. Ao invés, se as atitudes são desaprovadas, não serão reforçadas. È ilustrada a eficácia dos reforços verbais na formação das atitudes. Insko (965) – demonstrou num estudo efectuado por telefone. Telefonou a estudantes da universidade de Hawai, procurando saber as suas opiniões acerca da “semana Aloha”. 4.4 – Aprendizagem social Bandura (1977) – mostrou que muitas vezes aprendemos novas respostas – e portanto novas atitudes – observando e tentando imitar o comportamento de modelos. Através da modelagem, as crianças adquirem várias atitudes dos seus pais. Eiser, Morgan, Gammage e Gray (1989) – confirmaram que a probabilidade das crianças se tornarem fumadoras é mais elevada nas famílias cujos pais fumam. 4.5 – Aprendizagem por experiência directa A experiência directa com o objecto de atitude contribui para a aprendizagem de muitas das nossas atitudes. 4.6 – Observação do próprio comportamento

Muito embora estejamos habituados a encarar as atitudes como causas do comportamento, também acontece que os comportamentos podem levar a mudanças de atitudes. A teoria da autopercepção propõe que as pessoas podem “vir a conhecer as suas próprias atitudes, emoções e outros estados internos, parcialmente através de inferências de observações do seu próprio comportamento e/ou das circunstâncias em que este comportamento ocorre” - Bem (1972).

Page 45: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 45 de 66

Em suma, as atitudes podem-se formar de diversos modos. Algumas atitudes podem desenvolver-se através dos princípios básicos da aprendizagem e reforço. Outras podem-se formar quando uma pessoa obtém informação sobre novos assuntos. Refira-se que as atitudes também podem ser formadas para servir necessidades da nossa personalidade. Tesser (1993) -defende que os psicólogos não podem ignorar a influência genética sobre as atitudes.

5- Medidas de atitudes Os psicólogos sociais não procuram somente saber o que são as atitudes e como são formadas. Tentam também medi-las, avaliar a sua direcção e intensidade, o que permite efectuar comparações entre os indivíduos e os grupos. As atitudes podem ser medidas directa ou indirectamente. 5.1 – Análise de conteúdo das comunicações Thomas e Znaniecki (1918) – fizeram uma das primeiras tentativas para avaliar as atitudes. O método que utilizaram consistiu fundamentalmente em inferir as atitudes de diferentes tipos de documentos escritos. Os autores esperavam a partir deste material identificar atitudes ou temas comuns que permitissem compreender o comportamento dos imigrantes polacos. Eiser (1983) – propôs que um exame cuidadoso das palavras revestidas de emoções que as pessoas utilizam em entrevista pode fornecer uma indicação de valor sobre as atitudes subjacentes, mesmo que não estejam a fazer afirmações atitudinais directas. 5.2 – Escala de avaliação com um item Trata-se de um método económico de medir uma atitude em muitos estudos com carácter representativo, exemplo, em sondagens de opinião (totalmente em desacordo (=1) a Totalmente em acordo (=7)). Este método defronta-se com um problema – a potencial falta de fidelidade. 5.3 – Escala de distância social Emory Bogardus (1925) – propôs esta escala com o objectivo de medir as atitudes étnicas. Esta técnica mede o grau de distância que uma pessoa deseja manter nas relações com pessoas de outros grupos. A escala apresenta-se sob a forma de um quadro de dupla entrada que tem como abcissa o nome de diferentes grupos humanos... (pag.370). 5.4 – Escala de Thurstone Thurstone (1928) – defendeu que há um continuum psicológico de afecto ao longo do qual se podem situar os indivíduos. Das diversas técnicas de escalas desenvolvidas por Thurstone a que foi mais amplamente utilizada foi a escala de intervalos aparentemente iguais. A elaboração desta escala pode ser sintetizada em oito passos. (pag. 372/373). Este tipo de escala defronta-se com algumas dificuldades: 1º Lugar – a preparação da escala é complicada e morosa, tendo-se encontrado resultados muito se- melhantes quando se utilizam técnicas menos complicadas que esta escala. 2º Lugar - pode haver um fosso relativamente grande entre o juri e a população a quem se administra a escala.

Page 46: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 46 de 66

3º Lugar – Thurstone partiu da ideia de que os juízes ordenam as proposições independentemente das suas atitudes, mas o contrário pode ser provado. 5.5 – Escala de Likert Rensis Likert (1932) – concebeu um dos métodos que mais influência tem tido na medida das atitudes. Likert examinou cinco grandes áreas das atitudes:

• Relações internacionais • Relações raciais • Conflitos económicos • Conflitos políticos • Conflitos religião.

Pode-se sintetizar a construção das escalas de Likert em três etapas: (pag. 375). 5.6 – E escala de Guttman A escala de Guttman baseia-se no pressuposto de que as opiniões podem ser ordenadas segundo a sua “favoralidade” de modo que a concordância com uma dada afirmação implica concordância com todos os itens que exprimem opiniões mais favoráveis – para ele é uma escala unidimensional. A elaboração de uma escala deste tipo pode ser sintetizada em três etapas: (pag. 376/377). A reprodutividade é a base da escala de Guttman e é geralmente aceite que um conjunto de itens deve ter um coeficiente de reprodutividade de cerca de 90 (10% ou menos de erro). 5.7 – Diferenciador semântico O problema com escalas como as do tipo Thurstone, Likert ou Guttman é de que para cada novo objecto de atitude tem de se construir uma nova escala. O diferenciador semântico propicia a possibilidade de se medirem diferentes atitudes com a mesma escala. Osgood, Suci e Tannenbaum (1957) – desenvolveram o diferenciador semântico – é uma técnica de medida da significação psicológica que têm os objectos ou os conceitos para o indivíduo. É a combinação de um método de associações forçadas, mas controladas e de um procedimento de escalas permitindo obter a direcção e a intensidade do significado do conceito. Por meio do recurso à análise factorial, Osgood e seus colegas identificaram três dimensões básicas mediante as quais os conceitos podem ser descritos. Estes factores foram interpretadas como sendo:

• A avaliação • A potência • A actividade.

O diferenciador semântico tem sido utilizado de diversos modos. Um dos seus usos é para estudar as diferenças sócio-culturais nas atitudes. Um segundo uso é para estudar as diferenças sexuais. Um terceiro uso é para avaliar o auto-conceito. O diferenciador semântico tem a vantagem de ser fácil de construir. 5.8 – Medidas indirectas Os questionários são de longe as técnicas de avaliação das atitudes mais amplamente utilizadas. As medidas indirectas mais comuns, em que não de pergunta à pessoa a sua atitude directamente, são:

• Técnicas fisiológicas • Técnicas comportamentais

Page 47: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 47 de 66

• Técnicas projectivas. As técnicas fisiológicas de medir as atitudes, tais como a resposta galvânica da pele e a resposta pupilar, assentam no pressuposto de que o comportamento afectivo das atitudes produz uma reacção fisiológica que pode potencialmente ser medida. Rankin e Campbell (1955) – verificaram uma galvância na pele quando sujeitos brancos, tinham um experimentador negro. Hess (1965) – a dilatação a pupila tem sido interpretada como indicativo de uma atitude positiva e a sua contracção como indivíduos de uma atitude negativa. Cacioppo e Petty (1986) – desenvolveram uma técnica de medida fisiológica que permite obter medidas da intensidade e a direcção das atitudes. A sua técnica assenta na actividade eléctrica dos músculos – quando as pessoas reagem de modo positivo a um objecto de atitude, a actividade nos músculos zigomáticos aumenta, ao passo que respostas negativas acompanham-se de aumento de actividade dos músculos co-rugadores – essa actividade muscular ocorre mesmo quando há mudanças não se podem ver a olho nu. É aqui que a técnica EMG pode medir actividade muscular. A utilização da EMG é obviamente impossível sem um equipamento conveniente, um meio cuidadosamente, um experimentador perito e sujeitos que cooperem. Refira-se ainda uma técnica de avaliação das atitudes que recorre a um falso indicador psicofisiológico (bogus pipeline) – Jones e Sigall (1971) – esta técnica permite detectar atitudes que de outro modo não seriam reveladas porque suscitam embaraço à pessoa. As técnicas comportamentais – assentam na suposição que o comportamento é consistente com atitudes. Mehrabian (1967) – estudou o aspecto comportamental das atitudes utilizando algumas das ideias da proxémica que se refere ao grau de intimidade da interacção não-verbal entre duas pessoas que comunicam. Segundo ele podem-se medir as atitudes de um sujeito em relação a outro através da medição da distância, do contacto ocular, da tensão corporal quando duas pessoas interagem. Outros estudos têm avaliado atitudes em relação a várias pessoas e organizações mediante a medida comportamental da “técnica da carta perdida”. Mary Allen e Beth Rienzi (1992) – utilizaram esta técnica para medir atitudes em relação aos americanos em oito países europeus. As técnicas projectivas – em que se pede aos sujeitos para descreverem uma figura, contarem uma história, completarem uma frase, ou indicarem como é que alguém reagiria a essa situação. Têm a vantagem de que muitas vezes as pessoas projectam as suas próprias atitudes nos outros. A utilização de técnicas indirectas para medir as atitudes reveste-se quer de vantagens, quer de desvantagens:

• Vantagens – assinale-se que essas técnicas são menos susceptíveis de suscitarem respostas socialmente aceites. A pessoa não conhece que atitude está a ser medida.

• Desvantagens – refira-se a dificuldades em medir a intensidade da atitude e sendo as atitudes inferidas estas técnicas podem deixar a desejar quanto à fidelidade. Também podem suscitar problemas éticos.

Apesar disso as medidas indirectas são a única avenida a seguir quando o investigador trabalha sobre assuntos sociais muito sensíveis.

6 – Atitudes e comportamento

Page 48: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 48 de 66

Os psicólogos sociais também estavam interessados em mudar o comportamento através da influência exercida sobre as atitudes das pessoas. Efectivamente, muitas das definições tradicionais da atitude consideram-na como uma predisposição para agir de determinado modo. 6.1 – O dilema da consistência atitude-comportamento LaPiere (1934) – efectuou um dos primeiros estudos que sugeriram que as atitudes e os comportamentos poderiam não estar tão estreitamente ligados como os psicólogos sociais da época pareciam pensar. Fez experiência de viajar com chineses. Um estudo semelhante foi descrito por Kutner, Wilkins e Yarrow (1952) nos Estados Unidos quando ainda existia a segregação em que se verificou que, muito embora as pessoas negras fossem servidas de modo satisfatório m certo número de restaurantes, os mesmos restaurantes recusariam posteriormente efectuar reservas para um acontecimento social que incluía pessoas negras. Nestes estudos verifica-se uma discrepância entre atitude e comportamento. Wicker (1969) – efectuou uma revisão de estudos empíricos sobre as relações entre atitude e comportamentos realizados desde o estudo de LaPiere em 1934. Estes estudos raramente apresentam uma correlação superior a .30 e muitas vezes a correlação está próxima de zero. Michel (1968) - - coligiu também investigações sobre o valor do traço da personalidade enquanto factor preditor do comportamento e concluíra pela famosa correlação .30, ou seja, a correlação média era aproximadamente de .30 entre o traço e o comportamento. 6.2 – Condições metodológicas da predição atitude-comportamento Uma primeira tentativa de revalidação da consistência da atitude e do comportamento debruçou-se sobre os aspectos metodológicos das investigações. Referiremos, para além de possíveis problemas de medida:

• O princípio de correspondência • O princípio de agregação dos comportamentos • O princípio do comportamento prototípico

O princípio de correspondência (Azjen e Fishbein, 1977) – as componentes preditivas do comportamento (atitude ou crença, ou intenção...) e o comportamento previsto deveriam medir-se a níveis correspondentes de especificidade. Para se aplicar este princípio é necessário precisar os níveis de correspondência atitude-comportamento por meio de quatro marcadores:

• Uma acção – fumar • Um alvo – fumar cigarros • Uma situação – em locais públicos • E o tempo – nos próximos três meses.

Em suma, quanto mais os quatro marcadores da medida de atitude são parecidos com os marcadores do comportamento, tanto mais a relação atitude-comportamento será importante. Uma outra questão a considerar na relação atitudes/comportamento é o princípio da agregação dos comportamentos. O estudo de LaPiere testou um acto em relação com uma atitude. Para demonstrar que a construção de um índice comportamental compósito pode aumentar a correlação atitude-comportamento, Fishbein e Ajzen (1974) efectuaram um estudo relacionando atitudes religiosas com os comportamentos. Uma das razões para a inclusão de um leque amplo de comportamentos é que o comportamento é complexo e multideterminado. Os factores situacionais também podem influenciar o comportamento.

Page 49: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 49 de 66

Um outro princípio que ajudou a clarificar a relação atitude-comportamento foi o do comportamento prototípico. Há objectos que desencadeiam mais facilmente uma reacção atitudinal que outros. Isso observa-se particularmente quando se está perante objectos representativos de uma classe de objectos. Lord, Lepper e Mackie (1984) – puseram em evidência que as atitudes de estudantes em relação a pessoas descritas como sendo homossexuais só prediziam o seu comportamento em relação aos homossexuais se eles se enquadravam no protótipo que o sujeito tinha do homossexual típico. Quando um homossexual era diferente do protótipo, a relação atitude-comportamento já não era consistente. Em suma, quando estamos perante a atitude a respeito de grupos pode revestir-se de interesse examinar-se preliminarmente a representação que a amostra tem do alvo.

6.3 – Modelos teóricos de predicção do comportamento Apesar de melhorias metodológicas é possível que haja factores que se possam opor ao comportamento implicado por uma atitude (não dar dinheiro a uma instituição, pode ser pelas necessidades prioritárias não permitirem e nada tem haver com a instituição).

a) – Abordagem das variáveis moderadoras Uma variável moderadora representa uma variável que influência a direcção ou a intensidade da relação entre uma variável preditora ou independente e uma variável critério ou dependente (Baron e Kenny, 1986). Trata-se pois de uma técnica variável que age sobre a correlação simples entre outras duas variáveis. Um factor que contribui para aumentar a consistência atitude-comportamento é a experiência directa da pessoa com o objecto da atitude. Tem sido sugerido que a ligação entre comportamentos e atitudes formada mediante experiência directa é mais forte porque tais atitudes são mantidas com mais clareza, confiança e certeza (Fazio e Lanna, 1978). Outro factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a pertinência pessoal. Se uma pessoa tem um direito adquirido numa questão aumenta a relação entre atitude-comportamento. Um direito adquirido significa que os acontecimentos em questão terão um forte efeito na própria vida da pessoa. A relação entre atitude e comportamento também depende do modo como se espera que nos comportemos em determinadas situações. Por exemplo Kiesler (1971) assinala que se espera que uma pessoa não expresse sentimentos negativos acerca das outras directamente, é difícil que os sujeitos admitam que têm atitudes negativas em relação a outros sujeitos nas experiências. Diferenças individuais também podem ser importantes. Algumas pessoas estão naturalmente mais dispostas que outras a expressar consistência entre as suas atitudes e comportamentos. Norman (1975) – verificou que os sujeitos com alta “consistência afectivo – “cognitiva”, isto é, o acordo entre os seus sentimentos e as suas atitudes expressas, eram mais susceptíveis de agir de acordo com as suas atitudes que os sujeitos cujos sentimentos e crenças estavam em conflito. Uma variável que tem sido muito estudada em psicologia é o locus de controlo (Barros, Barros e Neto, 1993). No campo da relação atitude-comportamento, Saltzer 1981, mostrou claramente a importância desta variável para obter boas predições. Outro factor de personalidade que pode afectar a consistência atitude-comportamento é a auto vigilância que consiste numa capacidade de auto-observação e de auto controlo dos comportamentos verbais e não verbais em função de índices situacionais (Snyder, 1979). Dado que os sujeitos com auto vigilância elevada são pragmáticos, indo de uma situação para outra como um camaleão, e que os sujeitos com auto

Page 50: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 50 de 66

vigilância baixa guiam o seu comportamento a partir dos seus valores, atitudes e convicções pessoais, resulta que a consistência atitude-comportamento é maior nos sujeitos com auto vigilância baixa. Relembre-se que a auto consciência é uma característica disposicional para prestar atenção a si próprio em diversas situações (Buss 1980, Neto1989) donde a existência de variações crónicas das pessoas nos seus estilos de atenção em relação a si próprias. Contribui para o processo de regulação do comportamento na medida em que a pessoa centra a sua atenção em certos aspectos salientes de si próprias. As dimensões privadas públicas do auto consciência permitem efectuar predições diferentes da consistência entre as atitudes e o comportamento.

b) – Teoria da acção reflectida e do comportamento planificado. Fishbein e Ajzen (1975) – desenvolveram uma teoria da acção reflectida que mais tarde foi denominada de teoria do comportamento planificado por Ajzen (1985). A teoria da acção reflectida descreve as relações entre crenças, atitudes e comportamento. As crenças influenciam:

1- Atitudes em relação a um comportamento particular, 2- Normas subjectivas.

Estes componentes influenciam as intenções comportamentais que, por sua vez, influenciam o comportamento. A atitude de uma pessoa em relação a um comportamento é determinada pelas crenças de que realizando, o comportamento, isso leva a resultados desejáveis ou indesejáveis. As normas subjectivas envolvem:

1- Crenças acerca de comportamentos normativos (isto é, que são esperadas pelos outros), 2- Motivação de uma pessoa para condescender com expectativas normativas.

A atitude tem de se traduzir em intenção para exercer um comportamento. De um modo geral, a intenção de efectuar um comportamento estará em relação directa com a soma dos produtos das crenças, multiplicadas pela sua avaliação, bem como com a soma dos produtos das crenças normativas, multiplicadas pela motivação em condescender. Certas variáveis exteriores ao modelo podem também influenciar a intenção comportamental, mas de modo indirecto, por meio de outras componentes do modelo. Esta aptidão dos factores preditores endógenos do modelo em mediatizar os efeitos de variáveis externas constitui o postulado de suficiência. Entre estas variáveis externas encontram-se traços de personalidade, dados sócio-demográfico…. Diversos estudos têm vindo em apoio da teoria da acção reflectida em que a intenção comportamental era determinada só pela atitude e pela norma subjectiva. Apesar de certas dificuldades deste modelo, tem havido um consenso quanto à robustez da teoria da acção reflectida para predizer o comportamento voluntário. Ajzen (1985) - propôs a teoria do comportamento planificado que acrescenta uma variável preditora ao modelo da acção reflectida. Este factor denominado de controlo comportamental percepcionado é determinado pelas experiências passadas de uma pessoa e pelas crenças sobre como é susceptível de ser fácil ou difícil a realização do comportamento. Ajzen (1991) – faz uma revisão de vários estudos em que mostra que a teoria da acção planificada prevê intenções comportamentais melhor que a teoria da acção reflectida, isto é, o controlo comportamental percepcionado acrescenta à predição das intenções comportamentais além dos efeitos de atitudes e das normas subjectivas. Através deste capítulo ficou patenteado que a psicologia social contemporânea aborda o construto atitude como um fenómeno individual. As atitudes têm sido sobretudo conceptualizadas como estados internos cognitivos e afectivos, ou como intenções comportamentais e predisposições.

Page 51: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 51 de 66

As atitudes originam e emergem da vida social mediante as interacções quotidianas e as comunicações com as outras pessoas. As atitudes são amplamente partilhadas fornecendo significação cultural para a vida quotidiana. ** Aplicação: atitudes politicas e comportamento Com muita frequência os nossos valores e atitudes são determinados pelos grupos a que procuramos pertencer ou com que nos identificamos. Um grupo de referência é um grupo para onde as pessoas se orientam, recorrendo aos seus padrões para efectuarem julgamentos sobre elas próprias e sobre o mundo. Um dos primeiros e melhores estudos sobre a influência de grupos de referência foi a investigação efectuada por Theodore Newcomb nos anos trinta que ilustra a mudança de atitudes políticas de estudantes universitários de conservadorismo, aquando da entrada na faculdade, para o liberalismo quando concluíram a licenciatura. Sumário: pag. 407/408/409. Tradicionalmente, as atitudes têm sido definidas como envolvendo crenças, sentimentos e disposições a agir. Mais recentemente, os teóricos parecem estar a mover-se para uma concepção das atitudes como avaliações, avaliações estas que se relacionam de modo complexo com crenças, sentimentos e acções. As atitudes ajudam-nos a definir grupos sociais, a estabelecer as nossas identidades e a guiar o nosso pensamento e comportamento. As atitudes formam-se através da aprendizagem e são influenciadas pelas pessoas (ou grupos) significativas da vida de uma pessoa. Para dar conta das numerosas variáveis, para além da atitude, que podem influenciar, o comportamento foram propostos modelos teóricos. O modelo mais influente da relação atitude-comportamento é o da teoria da acção reflectida, posteriormente denominado de teoria do comportamento planificado. Para o modelo da acção reflectida, o determinante mais imediato do comportamento é a intenção ou o desejo de agir. Por seu lado, a intenção é determinada pela atitude e pelas normas subjectivas. Para o modelo do comportamento planificado o factor de controlo comportamental percepcionado é acrescentado a atitude e à norma subjectiva. Pressupõe-se que este modelo tem uma eficácia de predição superior em situações em que o comportamento só esteja tenuemente sob controlo voluntário.

V- representações sociais Tarde – já em finais do século passado, apreendeu a importância da comunicação para reproduzir e transformar as sociedades humanas, tendo então proposto que a Psicologia Social se ocupasse antes de mais do estudo comparativo das conversações. O material base foi conversas gravadas. Após esta proposta de Tarde, as sociedades humanas evoluíram uma das mudanças com maior impacto na vida quotidiana foi o papel cada vez mais importante assumido pelos meios de comunicação de massa na criação e difusão de informação e de modos de pensar, de sentir e de agir. Serge Moscovici (1961-1976) – elabora com fundamento de outras teorias, uma teoria que teve profundas repercussões na psicologia social europeia. É amplamente reconhecido que os trabalhos que se inscrevem nesta teoria constituem um traço diferenciador na abordagem da psicologia social europeia, constituindo uma das suas manifestações mais importantes.

Page 52: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 52 de 66

Moscovici (1961) – mostrou várias semelhanças entre as características do pensamento adulto e do pensamento infantil. Efectivamente, quer no pensamento infantil quer no pensamento adulto, há intervenção de dois sistemas cognitivos que originam as suas características partilhadas: “…vemos em acção dois sistemas cognitivos, um que procede por associações, inclusões, discriminações, deduções, isto é, o sistema operatório, e o outro que controla, verifica, selecciona com ajuda de regras, sejam ela lógicas ou não; trata-se de uma espécie de meta-sistema que trabalha de novo a matéria produzida pelo primeiro “ – Moscovici (1976).

1- Origens O conceito de representação social resulta do empréstimo pelo vocabulário filosófico do termo representação. Lalande – num comentário critico:”…pode-se supor que o sentido filosófico actual da palavra venha, por um lado, do uso do verbo «representar-se», muito clássico em Francês como sinónimo de «imaginar», por outro lado, o uso….” O conceito de representação social inscreve-se numa tradição europeia e sociológica, ao invés da grande maioria dos conceitos de psicologia social que são de origem anglo-saxónica e procedem da psicologia geral. Durkheim (1895) – falara de “representações colectivas” e, em 1898, de “representações sociais”, esforçando-se por distingui-las das”representações individuais”:”…a sociedade tem por substrato o conjunto dos indivíduos associados. O sistema que formam ao unir-se e que varia segundo a sua disposição na superfície do território, a natureza e o número das vias de comunicação, constitui a base sobre a qual se ergue a vida social…” Este autor faz um paralelo entre psiquismo individual e psiquismo colectivo, para os melhor distinguir:”…a vida colectiva, como a vida mental do indivíduo, é feita de representações, é, por conseguinte, presumível que representações individuais e representações sociais sejam de certo modo, comparáveis…” Davy (1920) - condensava bem a óptica durkheimiana quando escrevia:”…não nos podemos contentar de postular…uma natureza humana formada de um certo número de sentimentos imutáveis e fundamentais, é necessário explicá-la, ela própria, e explicá-la em função do meio social a que se adapta constituir, do ponto de vista sociológico, uma psicologia dos sentimentos e uma psicologia do conhecimento…” Moscovici (1961) – consagrou um estudo fecundíssimo às representações sociais da psicanálise, e aplicou em cernar o conceito de representação social. Foi a partir desta investigação que se afirmou em França uma corrente de estudo sobre as representações sociais. Herzlich (1972) – “a psicologia, sabe-se, foi durante muito tempo dominada pela corrente behaviourista. Na tradição watsoniana da ligação estimulo-resposta, só os comportamentos manifestos, directamente observáveis, tais como as respostas motoras ou verbais, podiam ser objecto de estudo. As respostas latentes ou implícitas, tais como as actividades cognitivas, eram negligenciadas. Em psicologia social, a adjunção do termo social, quer à classe dos estímulos, quer à classe das respostas, pouco modificava a problemática”. O interaccionismo simbólico, tendo por origem os trabalhos de Mead – corrente teórica que se desenvolveu em psicologia social em concorrência com a tradição behaviourista – poderia ter constituído um terreno mais favorável aos estudos da representação social. Não é inédito o facto de um conceito se estabelecer uma ciência e da teoria ser elaborada noutra ciência. O conceito de representação social aparece em sociologia onde sofre um longo eclipse. Todavia, a sua

Page 53: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 53 de 66

teoria vai esboçar-se em psicologia social, tendo efectuado uma incursão pela psicologia da criança (Piaget 1926) e na psicanálise.

2 - Noção Se a realidade das representações sociais é fácil de aprender, não acontece o mesmo com o seu conceito. Para além de razões históricas de tal dificuldade, as razões não-históricas reduzem-se a uma só: “a sua posição mista na encruzilhada de uma série de conceitos sociológicos e de uma série de conceitos psicológicos “ – Moscovici (1976). Moscovici – qualifica de “sociedade pensante”, isto é, do trabalho de construção, mediante trocas e interacções, de ponto de vista e de saberes, partilhados e distribuídos segundo as fronteiras incertas dos grupos sociais. Como fenómenos, as representações sociais apresentam-se em formas variadas, mais ou menos complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias. Jodelet (1989) – o conceito de representação social designa “uma forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado, com uma orientação prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Várias definições de representação social, por vários autores. Pag. 438/439. Os principais aspectos a ter em conta na noção de representação social são os seguintes:

• Na conceptualização das representações sócias há sempre referência a um objecto. A representação para ser social, é sempre uma representação de algo.

• As representações sociais mantêm uma relação de simbolização e de interpretação com os objectos. Resultam, por conseguinte, de uma actividade construtora da realidade e de uma actividade expressiva.

• As representações sociais adquirem a forma de modelos que se sobrepõem aos objectos, tornando-os visíveis, e implicam elementos linguísticos, comportamentais ou materiais.

• As representações sociais são uma forma de conhecimento prático que nos levam a interrogar-nos sobre os determinantes sociais da sua génese e da sua função social na interacção social da vida quotidiana.

Trata-se do conhecimento do senso comum em oposição ao conhecimento científico. Como forma de conhecimento, a representação social implica a actividade de reprodução das características de um objecto. Esta representação não é, porém, o reflexo puro e fiel do objecto, mas uma verdadeira construção mental. Se bem as noções de opinião e atitude tenham elos com a representação, são contudo noções diferentes. A opinião é uma resposta manifesta, sendo o único elemento observável do sistema. A atitude, mais complexa pelo seu carácter latente, foi sobretudo abordada como resposta antecipada. Tanto a opinião como a atitude foram encaradas enquanto resposta e “preparação para acção”, respectivamente. Pelo contrário, a representação social, na medida em que é um processo de construção do real, age simultaneamente sobre o estímulo e a resposta. O preconceito está intimamente ligado à atitude tendendo mesmo a confundir-se com ela. As noções de estereótipos e de preconceito, na medida em que se aproximam das noções de opinião e de atitude, respectivamente, são por conseguinte, também diferentes da representação social.

Page 54: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 54 de 66

Em suma, se todos estes “objectos parciais” estão integrados nas representações sociais, estas não são consideradas “como opiniões sobre” ou “imagens de”, mas “teorias”, “ciências colectivas” sui generis, destinadas à interpretação e à leitura do real (Moscovici 1976). Contudo, para o psicólogo social, a representação actualiza-se “numa organização psicológica particular e preenche uma função específica” (Herzlich, 1972). A representação social desempenha um papel na formação das condutas sociais e das comunicações, na medida, em que é através dela que o grupo apreende o seu meio.

3 – Representações e comunicação social. A comunicação social desempenha um papel fundamental nas trocas e interacções quotidianas. Moscovici examinou a incidência da comunicação a três níveis:

1º - ao nível das dimensões das representações que se referem à construção do comportamento: opinião, atitude e estereótipos em que há intervenção dos sistemas de comunicação social. Moscovici distingue três grandes sistemas de comunicação cuja importância relativa varia segundo o momento histórico e os grupos sociais:

• Difusão – é o sistema de comunicação de massas mais espalhada na nossa sociedade, não tem a finalidade deliberada reforçar ou convencer,

• Propagação – recorre a mensagens que visam um grupo particular, com objectos e valores específicos, com uma visão do mundo bem organizada. A finalidade é a integração de uma informação nova num sistema de raciocínio e de julgamento já existente.

• Propaganda – desenvolve-se num clima social conflituoso, podendo oscilar entre o simples proselitismo e a conquista violenta. A propaganda contribui para a afirmação e reforço da identidade do grupo. Tem uma função reguladora e organizadora. Incita igualmente os seus receptores a um determinado comportamento.

Moscovici: “…é precisamente esta particularidade que nos autoriza a aproximar termo a termo a difusão, a propagação e a propaganda da opinião, da atitude e do estereótipo…”. A difusão produziria sobretudo opiniões sobre a psicanálise, a propagação trabalha ao nível das atitudes e a propaganda ao nível dos estereótipos.

2º - ao nível da emergência das representações cujas condições afectam os aspectos cognitivos. Há três condições que afectam a formação das representações sociais, as duas primeiras referindo-se à acessibilidade do objecto:

• A primeira destas condições é a dispersão da informação sobre o objecto da representação. A dificuldade de acesso à informação vai favorecer a transmissão indirecta dos saberes e por conseguinte numerosas distorções.

• A segunda condição relaciona-se com a posição específica do grupo social em relação ao objecto da representação. Esta posição vai determinar um interesse particular por certos aspectos do objecto e um desinteresse relativo por outros aspectos. Este fenómeno de focalização vai impedir que os indivíduos tenham uma visão global do objecto.

• A terceira condição refere-se à necessidade que sentem os indivíduos de desenvolver comportamentos e discursos coerentes a propósito de um objecto que conhecem mal. É o fenómeno da pressão à inferência que favorecia a adesão dos indivíduos às opiniões dominantes do grupo.

Estas três condições seriam necessárias para a emergência de uma representação social. Trata-se de elementos que vão diferenciar o pensamento natural nas operações, na lógica e no estilo. Moliner (1993) – haverá elaboração representacional quando, por razões estruturais ou conjunturais, um grupo de indivíduos se confronta com um objecto polimorfo cujo domínio interessa em termos de identidade e de coesão social.

Page 55: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 55 de 66

3º - Ao nível dos processos de formação das representações, a objectivação e a ancoragem. Estes processos dão conta da interdependência entre actividade cognitiva e condições sociais.

4- Análise psicossociológica da representação social A investigação clássica sobre a cognição social focaliza as características gerais do processo de percepção, memória do homem. Ao invés, a investigação conduzida no quadro das representações sociais focaliza-se frequentemente em conteúdos específicos de sistemas de conhecimento, caracterizadores de grupos e de sociedade. As condições sociais em que nos locomovemos determinam não só o que pensamos, mas também, como pensamos. Jodelet (1983) – “processos e produtos são indissociáveis, só se pode descobrir a obra nos seus efeitos, estudar os mecanismos na base da sua produção”. 4.1 – A representação-produto Moscovici – considera cada universo de representações sobre três aspectos:

• Informação – diz respeito à soma e organização dos conhecimentos sobre o objecto de representação. A sua apreciação supõe que se relacione o discurso do sujeito com os caracteres objectivos do objecto,

• Atitude – exprime a orientação global, positiva ou negativa, em relação ao objecto da representação. Na atitude a função reguladora é sem dúvida mais importante que a energética. A atitude aparece como uma espécie de reacção secundária tendo por função orientar (por antecipação ou comparação) o comportamento através das estimulações no meio físico e social. A atitude, não só orienta o comportamento como regula as trocas com o meio. Pode-se considerar o estímulo e a resposta de um sujeito como uma troca, sendo a atitude o sistema que regula esta troca. A função energética, imprime à orientação e à troca com o meio uma certa intensidade emocional e afectiva. Este componente afectivo-emocional é constituído pela história individual e social do sujeito. Em suma, a atitude é reguladora e energética, supondo uma estruturação dos estímulos e das respostas.

• Campo de representações – designa o “conteúdo concreto e limitado das proposições sobre um aspecto preciso do objecto de representação” (Moscovici, 1976). Remete-nos para os aspectos imagéticos da representação – isto é, para a construção significante que é feita do objecto integrando e interpretando as informações de que o sujeito dispõe – com a ideia de uma organização ou de uma hierarquia de elementos.

Gilly – relembra que é a propósito do campo de representação que operacionalmente se encontram maiores dificuldades. Se é relativamente fácil apreciar a atitude e a informação “é, pelo contrário, sempre difícil chegar a um bom conhecimento do campo. Este último só pode ser apreendido de modo parcial através dos instrumentos propostos pelo psicólogo destinatário das respostas construídas”. Estes três elementos constitutivos da representação social denotam a seu conteúdo e sentido. A sua análise permite estabelecer o grau de organização da representação, delimitar a distinção entre os grupos em função de um fenómeno estudado. Enfim, tornam possível um estudo comparativo dos grupos segundo a homogeneidade ou heterogeneidade do conteúdo e da estruturação da representação. 4.2 – A representação-processo

Page 56: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 56 de 66

Moscovici – põe em evidência dois processos fundamentais que deixam transparecer o modo como o social transforma um conhecimento em representação e como esta representação transforma o social, a propósito do estudo de uma teoria científica, a Psicanálise. Estes dois processos, a objectivação e a ancoragem, mostram a interdependência entre a actividade psicológica e as condições sociais.

• Objectivação – é o mecanismo que permite concretizar o abstracto. Jodelet (1983) – na objectivação, o social reflecte-se na “disposição e na forma dos conhecimentos relativos ao objecto de uma representação. Articula-se com uma característica do pensamento social, a propriedade de tornar concreto o abstracto, de materializar a palavra. A objectivação pode assim definir-se como uma operação imagética e estruturante.” Este processo pode subdividir-se em três fases no caso de um objecto complexo como uma teoria:

- A selecção e descontextualização – dos elementos da teoria constitui a primeira fase que vai da “teoria à sua imagem”. Procura-se dar um carácter concreto, imagético, mais facilmente acessível, a noções mais abstractas. A selecção é necessária, pois para o produto da representação se tornar funcional deve limitar-se a alguns elementos acessíveis. O fenómeno de descontextualização aparece sobretudo na transformação das ideias científicas em conhecimento quotidiano.

- Obtém-se assim um “esquema figurativo” – que é o núcleo organizador da representação. O esquema figurativo forja uma imagem visual de uma organização abstracta, captando a essência do conceito, da teoria, ou da ideia que se trata de objectivar.

- A naturalização – é a operação pela qual os conceitos se movem “em verdadeiras categorias de linguagem e entendimento – categorias sociais certamente – próprias para ordenar os acontecimentos concretos e serem abafados por eles” Moscovici (1961). A tendência à objectivação posta em evidência a propósito de uma teoria científica, é caracterizada pela selecção, esquematização e naturalização, e é susceptível de generalização a toda a representação. Foram recentemente avançadas três propostas mais precisas e menos descritivas para a análise mais minuciosa do processo de objectivação: 1º - Sugere que o estudo das representações sociais se interesse pela análise dos discursos em relação com atitudes socialmente partilhadas. 2º - Põe a ênfase na metaforização, dispositivo específico de objectivação de objectos estranhos. 3º - Diz respeito à possível generalidade de um efeito específico de objectivação, a personificação.

• A ancoragem – traduz a intervenção da representação no social. A ancoragem permite

transformar o que é estranho em algo familiar. Todavia, se a objectivação reduz a incerteza perante objectos por meio do recurso a uma transformação simbólica e imagética; a ancoragem incorpora o que é estranho mediante a inserção numa rede de categorias e de redes pré-existentes. O processo de ancoragem não se limita ao conteúdo, mas engloba as actividades cognitivas de reconstrução e de remodelação, em três direcções: - Utilidade - Significação - Integração cognitiva A ancoragem equivale à atribuição de uma funcionalidade instrumental. Assim, a Psicanálise atribuem-se domínios de intervenção, usos, uma eficácia. As categorias ou objectos naturalizados,

Page 57: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 57 de 66

coisificados, vão constituir-se em sistemas de interpretação e de classificação no conjunto da realidade social. Jodelet: “ a ancoragem aparece-nos como um prolongamento da objectivação: elaboração de um quadro de instrumentos de conduta que prolonga a remodelagem cognitiva em curso na objectivação.” A ancoragem como instrumentalização permite pois compreender como os elementos da representação não só exprimem relações sociais, como contribuem para as constituir. Constitui-se assim uma “rede de significações” a partir dos valores salientes na sociedade e nos seus diversos grupos. Assim, a psicanálise não se limita a ser só um conteúdo, mas também uma totalidade à volta da qual se ordenavam uma rede e uma hierarquia de significações. A representação social pode tornar-se um sinal, um emblema de certos valores. A psicanálise pode tornar-se sinal, representando a sexualidade ou a vida sexual liberada. Uma representação chama outras, opõe-se a outras, exclui outras. A ancoragem refere-se também à integração cognitivas do objecto representado no sistema de pensamento pré-existente e às transformações que daí resultam. Se a objectivação traduz a constituição formal de um conhecimento, a função cognitiva de integração denota a sua inserção orgânica num pensamento constituído (Jodelet, 1983), já que a representação não se inscreve numa tábua rasa. Moscovici – emite a hipótese de que modalidades distintas de conhecimento coexistem num mesmo indivíduo ou num mesmo grupo, correspondendo a relações definidas do homem ou do grupo com o seu meio. Esta coexistência dinâmica determina um estado de “polifasia cognitiva”. Este fenómeno relaciona-se com o contacto entre o carácter criador, autónomo da representação social e os quadros de pensamentos antigos. Resumindo, o processo de ancoragem articula as três funções base da representação: - Função de orientação das condutas e das relações sociais - Função de interpretação da realidade - Função cognitiva de integração da novidade. A ancoragem e a objectivação que são processos básicos no engendramento e funcionamento das representações sociais têm uma relação “dialéctica” (Jodelet, 1983). Combinam-se para tornar inteligível a realidade.

5 – Áreas de investigação Quando o investigador se debruça sobre o conjunto dos trabalhos efectuados no campo da teoria das representações sociais, verifica-se uma grande diversidade dos objectos estudados. Recorremos aqui à sistematização efectuada por Jodelet, 1983. Assim, esta autora, distingue três áreas de investigação sobre as representações sociais:

• Uma área que se relaciona especificamente com a difusão dos conhecimentos e com a vulgarização cientifica no campo social, ou no campo educativo. Esta área tende para a autonomia nos problemas e métodos.

• Uma área que integra a noção de representação social como variável intermediária ou independente no tratamento, a maior parte das vezes experimental em laboratório, de questões clássicas de psicologia social.

Page 58: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 58 de 66

• Uma área mais ampla, se bem que menos estruturada, em que as representações sociais são apreendidas em contexto sociais reais ou grupos circunscritos na estrutura social, mediante formação discursivas diversas.

Entre estas três áreas há pontos de convergência e de divergência: Jodelet – convergência – menciona a pertinência, a estrutura, os processos de constituição e as funções.

6 – Variações sobre representações sociais 6.1 – Representações sociais e educação Gilly (1989) – “…o campo educativo aparece como um campo privilegiado para ver como se constroem, evoluem e se transformam representações sociais no seio dos grupos sociais e iluminar-nos sobre o papel destas construções nas relações destes grupos com o objecto da sua representação”. Procuraremos ilustrar dois tipos de trabalhos sobre representações sociais e educação:

• Estudos focalizados em instituições, na escola, nos seus agentes, • Estudos que abordam representações recíprocas professor-aluno.

Em suma, o contexto teórico da representação social aplicado à escola não pode ser evocado de modo independente de outras constelações de representações sociais, muito em particular as relativas ao mundo do trabalho. Todavia, as representações sociais podem contribuir para a compreensão dos fenómenos estudados num horizonte mais vasto de significações sociais com que estão em interdependência. 6.2 – Estudo experimental das representações sociais: a teoria do núcleo central O recurso à noção de representação social em Psicologia Social suscita um novo olhar sobre a metodologia experimental na medida em que há uma centração em factores cognitivos e simbólicos. Esses estudos têm subjacentes a hipótese geral de que os comportamentos dos sujeitos ou dos grupos não são determinados pelas características objectivas da situação, mas pela representação desta situação. Teoria do núcleo central (Abric, 1987) – esta teoria articula-se à volta da hipótese geral de que toda a representação está organizada à volta de um núcleo central. Este núcleo é o elemento que determina a significação e a organização da representação. O núcleo central de uma organização tem duas funções principais:

• Função geradora – que cria ou transforma a significação dos outros elementos da representação,

• Função organizadora – na medida em que depende deste núcleo a natureza dos laços que unem os elementos da representação.

O núcleo central mais estável da representação, é o que resiste mais à mudança. Uma representação transforma-se de modo radical quando o núcleo central é posto em causa e de modo superficial quando há uma mudança do sentido ou da natureza dos elementos periféricos. O núcleo central de uma representação social é constituído por dois tipos de elementos, normativos e funcionais, e que os elementos do núcleo central estão hierarquizados. 6.3 – Representações sociais da emigração A realidade do fenómeno migratório assume por essência contornos muito movediços. Uma análise deste real efectuado hoje pode já não ser verdadeira no dia seguinte.

Page 59: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 59 de 66

Qualquer que seja o elemento constitutivo da representação da emigração que se considere, encontramos no seu seio dimensões em que se encontra uma certa estabilidade temporal e outras que mudaram, embora em graus diversos. A componente atitude é a mais importante preditora da intenção de emigrar, seguida pelas componentes de desvinculação e adaptação. Sumário: pag. 486.

VI – Preconceitos e discriminação As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas, objectos e questões do meio circundante. Para além disso, podem permitir prever como agiremos em contacto com os alvos das nossas crenças. A um nível mais geral, o conceito de atitude está relacionada com graves questões sociais como são os problemas de preconceito e de discriminação.

1- Definições: preconceito, discriminação e grupos minoritários. Preconceito – pode ser definido como uma atitude favorável ou desfavorável em relação a membros de algum grupo baseada sobretudo no facto da pertença a esse grupo e não necessariamente em características particulares de membros individuais. Os termos endogrupo e exogrupo são úteis para se tratar do preconceito.

• Endogrupo – é composto pelos sujeitos que uma pessoa categorizou como membros do seu próprio grupo de pertença e com quem tem tendência a identificar-se.

• Exogrupo – pode definir-se como sendo composto por todos os sujeitos que uma pessoa categorizou como membros de um grupo de pertença diferente do seu e com quem tem tendência a identificar-se.

Estes grupos psicológicos definidos em função dos termos “nós” e “eles” são o produto de um dos processos mais fundamentais do ser humano, a categorização (Fiske e Neuberg, 1990). Este utensílio cognitivo permite-nos classificar e ordenar o nosso meio físico e social. O preconceito origina comportamentos e acções que podem ter sérias implicações não só na vida quotidiana como no bem-estar da sociedade. O facto de se definir preconceito como um tipo especial de atitude tem pelo menos duas implicações: 1ª – Pode ser negativo ou positivo, 2ª – Podemos vê-lo como tendo três componentes principais:

• Afectivo – sentimentos preconceituados experienciadas, • Cognitivo – crenças e expectativas acerca dos membros desses grupos, • Comportamental – tendência a agir em relação a esses grupos.

Caso essas intenções se concretizem em acções, estamos então perante a discriminação. Discriminação – é, por consequência, a manifestação comportamental do preconceito. Tem a sua importância distinguir entre preconceito e discriminação, porque muito embora as atitudes preconceituosas estejam muitas vexes associadas a comportamentos discriminatórios, nem sempre é o caso. Se o preconceito nem sempre leva à discriminação, a discriminação nem sempre leva ao preconceito.

Page 60: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 60 de 66

O comportamento discriminatório pode assumir diferentes formas: • Nível moderado – pode implicar evitamento, • Nível acentuado – pode levar a excluir de empregos, de escolas, de alojamentos. • Nível extremo – revestir-se de agressão contra os alvos do preconceito.

Allport (1954) – apresentou um modelo das expressões da passagem ao acto do preconceito com cinco fases: 1ª – Anti locução – conversa hostil e difamação verbal, propaganda racista, 2ª – Evitamento – manter o grupo étnico separado do grupo dominante na sociedade, 3ª – Discriminação – excluído de direitos civis, 4ª – Ataque físico – violência contra pessoas e propriedades, 5ª – Extermínio – violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas (nazis). Grupo minoritário – a pertença a um grupo minoritário envolve mais um estado de espírito do que características numéricas. O que distinguem um grupo minoritário de um maioritário é precisamente o poder relativo exercido pelos dois grupos. Wagley e Harris (1958) – para eles as minorias:

• São sectores subordinados de uma sociedade, • Possuem traços físicos e culturais que são pouco apreciados pelos grupos dominantes, • Estão conscientes do seu estatuto minoritário, • Tendem a transmitir normas que encorajam a afiliação, • E o casamento com membros do mesmo grupo.

2 – Algumas categorias de preconceitos e de discriminação Focalizaremos agora a nossa atenção em quatro formas de intolerância:

• Racismo – é a intolerância com base na cor da pele ou na herança étnica, • Sexismo – a intolerância com base no sexo, • Heterossexismo – é a intolerância com base na orientação sexual, • Idadismo – a intolerância com base na idade.

2.1 – Racismo O racismo é “qualquer atitude, acção ou estrutura institucional que subordina uma pessoa por causa da sua cor “. O racismo é a forma de preconceito mais estudada. É de observar que a noção de raça tem a sua origem na biologia e designa uma espécie geneticamente distinta de outras (Osborne, 1971). A discriminação com base na cor da pele torna-se pois uma distinção arbitária e confusa. Acontece que muitas vezes estas distinções têm mais a ver com distinções étnicas que sociais. Grupo étnico – é um conjunto de pessoas que têm antepassados comuns pertencentes a uma mesma cultura e sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto. À semelhança das diferenças raciais, as diferenças étnicas também estão na base de muitos preconceitos. O preconceito com base em distinções étnicas denomina-se etnocentrismo. Quando as pessoas acreditam que o seu grupo étnico é superior aos outros grupos estão imbuídas de etnocentrismo.

Page 61: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 61 de 66

2.2 – Sexismo A investigação sobre sexismo é importante pelo menos por dois motivos: 1º - Ensina-nos algo sobre os mecanismos psicossociais associados ao preconceito geral 2º - Trata-se de uma forma de preconceito que pode afectar um em cada dois seres humanos. Sexismo – como preconceito e discriminação com base no género. Face-ismo – é a diferença da ênfase que a nossa cultura coloca na vida mental para os homens e na aparência física para as mulheres. (Archer e outros (1983). 2.3 – Heterossexismo Heterossexismo – é um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a heterossexualidade e critica e estigmatiza qualquer forma tão heterossexual de comportamento ou identidade (Bem 1993; Herek 1991). 2.4 – Idadismo Uma maior proporção de pessoas numa sociedade pode suscitar vários problemas relacionados com o apoio económico, com a saúde, bem como com os papéis na família e na sociedade. Poderá acontecer que as pessoas idosas constituam um peso desproporcionado em relação à força de trabalho dos mais jovens o que poderá ter como consequência uma competição pelos recursos entre as necessidades dos idosos e dos jovens.

3 – A face mutante do preconceito O racismo aberto parece estar em declínio, de modo que actos abertamente racistas são relativamente raros. Todavia novas formas subtis de racismo, sexismo, heterossexismo e idadismo continuam a surgir e, porventura, a aumentar.

4 – Génese do preconceito e da discriminação A compreensão da génese do preconceito e da discriminação é necessária para se poderem utilizar técnicas que permitam erradicá-los. 4.1 – Abordagens históricas

• Analisar o contexto histórico • Factores económicos.

4.2 – Abordagens sócio-culturais Entre esses factores a abordagem sócio-cultural tem examinado, por exemplo, o aumento de urbanização, o aumento da densidade populacional, a mobilidade de certos grupos, a competição para empregos entre membros de diversos grupos, mudanças no papel e função da família. 4.3 – Abordagens situacionais As abordagens da situação examinam os factores do meio imediato da pessoa que causam o preconceito. 4.4 – Abordagens psicodinâmicas Contrariamente às abordagens situacionais, as abordagens psicodinâmicas acentuam que o preconceito resulta dos próprios conflitos e desadaptações da pessoa. Trata-se de teoria fundamentalmente psicológicas.

Page 62: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 62 de 66

Segundo estas teorias, para se modificar o preconceito e a discriminação devemos focalizar-nos na pessoa com preconceito. Existem dois tipos de explicação:

• O preconceito é visto como enraizado na condição humana, • Resulta de um tipo de personalidade.

Ambas as explicações partilham todavia uma característica comum: são exemplos do que Pettigrew (1959) chama de externalização – um indivíduo trta com os seus problemas e conflitos pela descarga ou projecção noutros indivíduos ou grupos de pessoas.

a) – Frustração e agressão John Dollard, Leonard Dood e seus colaboradores na Universidade de Yale no estudo “Frustração e agressão” (1939) – sustentaram que o preconceito é uma forma de agressão, e que resulta da frustração. Esta interpretação é conhecida como a hipótese do bode expiatório do preconceito em que membros de grupos minoritários são vítimas inocentes de agressão deslocada de grupos maioritários. Ao avaliarem as teorias de frustração, Feshbach e Singer (1957) distinguem:

• Ameaças partilhadas – como a possibilidade de haver um ciclone tem como efeito juntar as pessoas,

• Ameaças pessoais – como a perca de um emprego, tem um efeito de escalada no preconceito, tal como a teoria da frustração prediria.

b) – Diferenças de personalidade Adorno e seus colaboradores: a Escala Anti-semitismo – medir as atitudes em relação aos judeus. O anti-semitismo não é então mais do que uma manifestação de etnocentrismo. Criou também a Escala F (“F” como facista) para medir as tendências anti-democráticas dos sujeitos (autoritarismo). A Escala F comporta nove componentes:

• Convencionalismo, • Submissão autoritária, • Agressão autoritária, • Anti-intracepção, • Superstição e estereotipia, • Poder e dureza, • Destrutividade e cinismo, • Projecção, • Atitudes sexuais puritanas.

Em função dos dados recolhidos, os sujeitos foram repartidos em duas categorias correspondentes a dois tipos de personalidade:

• A autoridade autoritária, • A anti-autoritária.

O autoritário é um indivíduo que recalcou as suas tendências individuais, tende a projectar sobre os outros as tendências que não aceita para ele; está muito preocupado pela pureza da sua consciência, mostra uma intolerância rígida em relação aos outros, admira o poder e faz prova de uma dominação excessiva sobre os fracos e de uma submissão exagerada aos fortes. Rokeach (1960) – chamou a atenção para a sub estimação do autoritarismo. Defendeu que o autoritarismo pode estar associado não só à extrema direita como à extrema esquerda. São pessoas com “mentes fechadas”.

Page 63: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 63 de 66

Elaborou uma escala de dogmatismo – medir o autoritarismo em si. Hyman e Sheatsley (1954) – segundo eles não é necessário recorrer a um tipo de personalidade para explicar o etnocentrismo a partir do momento em que o nível de instrução e estatuto sócio-económico oferecem uma explicação mais plausível. 4.5 – Abordagens cognitivas Segundo estas abordagens, aspectos de como processamos informação podem estar na origem de preconceitos. Quatro espécies de informação podem ser utilizadas para desenvolver o preconceito:

a) – Categorização social Os indivíduos dividem o mundo em duas categorias: “nós” e “eles”. A categorização social, para além de produzir o favoritismo do endogrupo, afecta as nossas percepções e memória. Park e Tothbart (1982) – encontraram que os membros do endogrupo tendiam a ver os membros do exogrupo como sendo mais homogéneos e menos diferenciados que os membros do seu próprio grupo. A categorização social acentua diferenças entre grupos e semelhanças dentro de grupos. Para certos autores, o viés do endogrupo estão ao serviço de uma função hedónica, isto é, apoiam indirectamente a auto-estima do indivíduo criando uma identidade social positiva. Em suma, o paradigma do “grupo mínimo” mostra que a categorização social é só por si suficiente para suscitar discriminação social.

b) – O poder dos estereótipos Estereótipo – são “imagens na cabeça” que temos acerca de membros de um grupo. Um dos objectivos fundamentais da Psicologia Social é a descoberta do modo como as pessoas compreendem e reagem às outras no seu meio. Assim os estereótipos acerca de grupos sociais constituem um conjunto importante e usual de expectativas acerca de outros. Os estereótipos estão armazenados na memória a longo termo. (Stangor e Lange 1994) Os estereótipos são um conjunto de crenças que se associam a grupos sociais. Entre as explicações avançadas para o desenvolvimento dos estereótipos refira-se a homogeneidade do exogrupo, isto é, a tendência para assumir que há maior semelhança entre membros dentro de Exogrupo que dentro do endogrupo. Tem sido sugerido que muitos casos os estereótipos surgem e mantêm-se mediante a operação de correlação ilusória que consiste em percepcionar uma relação que não existe realmente entre pertença a um grupo e o facto de possuir certos traços inusitados. Os estereótipos são fundamentalmente esquemas e interpretamos e relembramos a informação que confirma os nossos esquemas (Hamilton e Trolier, 1986). Outro fenómeno que favorece a estabilidade cognitiva dos estereótipos consiste na profecia de auto-realização. Em suma, segundo esta abordagem cognitiva, uma vez que um estereotipo se estabelece, muitas vezes com base na avaliação errada da covariação de características, permanecerá, devido ao processamento enviesado da informação subsequente. Crer é ver.

Page 64: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 64 de 66

c) - Atribuição Atribuição é o processo de explicar o comportamento. Tentativas de explicação de acontecimentos surpreendentes ou negativos podem ser distorcidos pelo pensamento estereotipado. Duas consequências importantes são:

• Rotulagem enviesada – rótulo enviesado descreve o mesmo comportamento de modo favorável para o endogrupo, e desfavorável para o exogrupo.

• Erro irrevogável da atribuição - as pessoas com preconceitos têm tendência a manifestarem o erro irrevogável da atribuição (Pettigrew, 1979) que é uma extensão do erro fundamental da atribuição. Quando as pessoas com preconceito vêem o alvo do preconceito a executar uma acção negativa, tendem a atribui-la a traços estáveis dos membros dos grupos minoritários:”lá nasceram assim”. Todavia quando vêem a executar uma acção positiva, ela não é atribuída a disposições internas.

d) – Crenças sociais As crenças são uma fonte importante de atitudes preconceituosas. Alguns preconceitos estão baseados em ideologias religiosas ou politicas. O preconceito pode também apoiar-se em crenças de que o mundo é um lugar justo. Acredita que as pessoas obtêm na vida o que merecem e merecem o que obtêm? Lerner (1980) – notou que muitas pessoas acreditam nesse mundo justo e denominou este fenómeno de crença num mundo justo. 4.6 – Alvo de preconceito Preconceito e hostilidades intergrupais podem por vezes basear-se em características reais de grupo; esta ideia tem por vezes sido denominada de reputação ganha. 4.7 – Quadro integrador de teorias Duckitt (1992) - quatro causas de preconceito:

• Em primeiro – são referidos processos psicológicos universais assentes na propensão inerentemente humana para o preconceito.

• Em segundo – dinâmicas sociais e intergrupais descrevem as condições de contacto intergrupal que elaboram esta propensão para padrões normativos de preconceito.

• Em terceiro – os mecanismos de transmissão explicam como estas dinâmicas intergrupais e padrões partilhados de preconceito são transmitidos socialmente a membros individuais destes grupos.

• Em quarto – dimensões de diferenças individuais determinam susceptibilidade dos indivíduos ao preconceito e por isso modulam o impacto dos mecanismos de transmissão social sobre os indivíduos.

5 – Consequências do preconceito e da discriminação 5.1 – Reacções das vítimas Allport sugeriu que as reacções podem ser circunscritas a duas categorias:

• Defesas intra punitivas – são as que implicam auto-culpabilidade • Defesas extra punitivas – colocam a culpa nos outros.

Page 65: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 65 de 66

Tajfel e Turner (1979) – ampliando a abordagem de Allport, avançam três tipos de respostas: • As pessoas podem aceitar com passividade e resignação, muito embora com ressentimento. • Podem tentar libertar-se e fazê-lo em sociedade. • Ou podem tentar acção colectiva e melhorar o estatuto do próprio grupo.

Auto complacência – os indivíduos atribuem o seu sucesso a eles próprios e os seus fracassos a factores externos. Ao invés do que se esperava, a experiência de preconceito teve como resultado um aumento de auto-estima para os membros dos grupos. A discriminação é pois percepcionada como ameaçadora e em certas circunstâncias as pessoas discriminadas podem agir contra o grupo dominante. 5.2 – Consequências de racismo sobre racista As consequências do racismo não têm unicamente efeitos traumáticos sobre as vítimas do preconceito e do comportamento racista. O racismo tem efeitos sobre todas as pessoas, sejam elas as vítimas, as perpetradoras ou muito simplesmente os seus observadores. Dennis (1981) – demonstra que a imersão de pessoas numa rede social racista torna difícil para qualquer pessoa branca evitar a sua influência. Terry (1981) – defende que o racismo mina e distorce a autenticidade das pessoas brancas. Karp (1981) – apoia-se numa perspectiva psicodinâmica, vendo o racismo como um mecanismo de defesa para lidar com feridas do passado. As consequências emocionais do racismo são pesadas: culpa, vergonha, bem como sentir-se mal em ser branco.

6 – Redução do preconceito e da discriminação 6.1 – Tomada de consciência a) – Tomada de consciência da pertença a um grupo minoritário Técnicas de tomadas de consciência são cada vez mais utilizadas por esses grupos. Pretende-se mediante este processo0 tornar os membros desses grupos sensíveis às influências opressivas que pesam sobre a sua vida, assegurando-lhes um meio de defesa colectiva. Mednick (1975) – começou por descrever o processo de tomada de consciência pela insatisfação que os indivíduos sentem da sua condição. O agente de tomada de consciência tenta propor uma ideologia que permite congregar as mulheres. Mostra-se que o sistema social controla o indivíduo sendo responsável pela sua situação insatisfatória. A mulher apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro de um grupo e este pode então dirigir uma acção contra o sistema. Há investigação que tem mostrado que os participantes valorizam o seu auto conceito, adquirem um sentimento de competência e de igualdade (Eastman, 1973).

b) – Tomada de consciência de distinções Langer, Bashner e Chanowitz (1985) – efectuaram uma experiência que mostra a possibilidade de contrariar essa tendência através da indução nas pessoas para estarem mais atentas aos outros. Pôs-se a

Page 66: 41052 - Psicologia Social

SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

SebenteUA – apontamentos pessoais página 66 de 66

hipóteses de que as pessoas que fossem treinadas a adoptar um estado atento demonstrariam menor preconceito em relação aos deficientes.

c) – O assimilador cultural O assimilador cultural é uma técnica de sensibilização aos julgamentos correctos a respeito das expectativas de um grupo ou cultura. Permite considerar o mundo social em consonância com o ponto de vista de uma outra pessoa. Mais especificamente são ensinadas as normas e os modos de vida de outro grupo com o intuito de permitir efectuar atribuições certas a propósito do comportamento dos membros do outro grupo. 6.2 – Hipótese de contacto Há razões para se pensar que o tipo de contacto intergrupal desempenha um papel importante para que se efectue com sucesso. Vários factores devem ser tomados em consideração:

• Igualdade de estatuto social • Contacto intimo • Cooperação intergrupal • Normas sociais que favoreçam a igualdade

6.3 – Para além da hipótese de contacto Uma das críticas da hipótese do contacto é o ênfase colocado na mudança de atitudes preconceituosas do grupo dominante, e a ignorância das atitudes dos membros de grupos minoritários (Devine, Evett e Vasques-Suson 1995). 6.4 – Contacto vicariante através dos meios de comunicação social Os meios de comunicação de massa têm, por um lado, intencionalmente, outras vezes de modo inadvertido, mantido estereótipos e preconceitos. Como é que se podem mudar atitudes negativas em relação a minorias que são alvo de estereótipos? Gordon Allport (1954) – respondeu: “preconceito pode ser reduzido pelo contacto com estatuto igual entre grupos da maioria e da minoria na prossecução de objectivos comuns”. Aronson e a sua equipa desenvolveram uma técnica de aprendizagem que foi denominada de “técnica do quebra-cabeças”. A técnica foi assim chamada porque os estudantes tinham de cooperar par “juntar” as suas lições diárias. DesForges e a sua equipa sugerem que fornecer uma estrutura na situação de contacto ajuda a reduzir o efeito de expectativas cognitivas e de esquemas cognitivos preexistentes.