4 rio de janeiro terça-feira, 18.2.2020 i atendimento público na berlinda · 2020. 2. 18. ·...

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Atendimento público na berlinda Pacientes de clínicas da família, administradas por OS Viva Rio, relatam problemas na assistência CLÉBER MENDES Paciente esperava termino de hora do almoço para ser medicado P acientes de algumas das 76 clínicas da fa- mília administradas pela Organização So- cial (OS) Viva Rio já sentem o impacto do fim do contra- to com a Prefeitura do Rio. O aviso prévio dos funcio- nários contratados pela OS termina na próxima quinta- feira, mas alguns deles já pa- ralisaram as atividades. Ontem, na Clínica Zil- da Arns, no Complexo do Alemão, na Zona Norte, o desfalque fez a espera por atendimento chegar a duas horas. Um paciente que não quis se identificar aguarda- va do lado de fora da unida- de em uma cadeira de rodas para ser medicado. “Levou duas horas para eu conseguir ser atendido. Agora, tenho que esperar voltarem do almoço para ser medicado. Não tem médico para atender todo mundo, aí demora muito”, lamentou o paciente. Na mesma unidade, uma outra jovem não conseguiu nem passar pela triagem. “Disseram que só estão aten- dendo os casos graves, que tenho que procurar outro lu- gar porque aqui tem poucos médicos. Eu só não sei onde vou achar,” desabafou ela. O cenário não era muito diferente na Clínica Felippe Cardoso, na Penha, também na Zona Norte. No local, fun- cionários fizeram uma mani- festação contra as demissões na manhã de ontem. “Nós nos dedicamos muito, cria- mos uma relação com nossos pacientes, vamos nas casas deles quando é preciso. Não é qualquer pessoa que faz isso, principalmente, quem não é treinado para saúde da família”, queixou-se uma fisioterapeuta da unidade. > Apesar dos relatos de pacientes sobre problemas nas cínicas Zilda Arns e Felippe Cardoso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) diz que as uni- dades estão funcionan- do e os funcionários com os salários em dia. A prefeitura admitiu demora no atendimen- to, na Zilda Arns, apenas pela manhã. A SMS in- formou que tem adotado medidas para o cumpri- mento do contrato pela OS Viva Rio. A RioSaúde — empresa pública — as- sume a gestão das unida- des das OS no próximo 21. Está previsto novo concurso para profissio- nais de saúde da família. Medidas para cumprimento de contrato Profissionais da Clínica Felippe Cardoso disseram que têm passado dificulda- des para conseguir de insu- mos a pagamentos em dia. “A gente está nessa luta há qua- tro anos. Eu inaugurei essa clínica, conheço essas pes- soas (pacientes) pelos nomes e agora vou perder tudo. Não é só o emprego, o salário, é toda a relação que se criou, a atenção mais humanizada, um trabalho que vem sendo feito há nove anos”, lamen- tou um profissional. Uma paciente, que fez todo o pré-natal na Felippe Car- doso, lembrou que é consul- tada pelos mesmos médicos há anos. “Não é implicância com os novos médicos. Eles não têm culpa pelo que está acontecendo, mas os nossos médicos já nos conhecem, fi- camos mais à vontade com eles. É muito triste tudo isso o que eles estão passando”, lamentou. População reclama de demora de duas horas por atendimento devido à falta de médicos Cedae: impasse no desconto Empresa apresentará uma nova proposta amanhã A Defensoria Pública do Rio e o governo do estado se re- uniram ontem, novamente, com a Cedae para discutir descontos nas contas da população afetada pela cri- se da água e, mais uma vez, termina sem um ponto final. Uma nova reunião será rea- lizada amanhã e, durante as discussões, a companhia se comprometeu a apresentar à Defensoria uma contrapro- posta ao acordo sugerido pe- los defensores e promotores envolvidos para reparar os danos causados à população. Ao todo, foram realizadas quatro reuniões para discu- tir o assunto com a Cedae. Caso a empresa cumpra o prazo, a Defensoria informa que será realizada, ainda na tarde de amanhã, uma reu- nião no Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria (Nudecon) para dar conti- nuidade às negociações com a companhia. Em nota, a Ce- dae afirma que “está empe- nhada em superar entraves e encontrar uma solução junto aos órgãos competentes e ao governo do estado”. Além da Defensoria, par- ticiparam das discussões de ontem o Ministério Público do Rio, a Cedae e representan- tes do governo do estado e da Agência Reguladora de Ener- gia e Saneamento (Agenersa). Ação contra CCR Barcas no MP Deputado afirma que concessionária teria quebrado acordo O deputado Dionísio Lins (PP-RJ), presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislati- va do Rio (Alerj), decidiu entrar com uma ação no Ministério Público con- tra a CCR Barcas. Ele acu- sa a concessionária de ter firmado um acordo dife- rente do que foi discutido na audiência pública rea- lizada na última quarta- feira. Os detalhes do Ter- mo de Ajuste de Conduta (TAC) foram novamente discutidos ontem em re- união marcada pelo se- cretário de Transportes, Delmo Pinho. Depois de quase dois meses de discussões, a CCR Barcas concordou com o pagamento de R$ 7 milhões para a manutenção da an- tiga grade de horários para Paquetá em 2020. Do total, R$ 5 milhões foram doados pela Alerj a pedido do presi- dente da Casa, André Ceci- liano (PT-RJ), na audiência pública da semana passada, e R$ 2 milhões serão conce- didos pelo governo do esta- do. A concessionária afirma que vai apresentar o projeto para a Defensoria Pública amanhã, e a grade antiga deve voltar a vigorar ainda nesta semana. “A concessionária tinha acordado em utilizar a ver- ba concedida pela Alerj para a grade de Paquetá e o valor doado pelo governo do estado para ajustar defi- ciências na linha de Cocotá, na Ilha do Governador, mas mudou os planos”, disse o deputado Dionísio Lins. Além do presidente da Comissão de Transportes da Alerj, estiveram na dis- cussão representantes da Casa Civil, Secretaria de Transportes, Defensoria Pú- blica, Agência Reguladora de Transportes Aquaviários (Agetransp) e Procurado- ria-Geral do Estado. Reportagem da estagiária Julia Noia, sob supervisão de Gustavo Ribeiro Reportagem do estagiário Rachel Siston, sob supervisão de Gustavo Ribeiro 4 RIO DE JANEIRO TERÇA-FEIRA, 18 . 2 . 2020 I O DIA

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Page 1: 4 RIO DE JANEIRO TerçA-feirA, 18.2.2020 i Atendimento público na berlinda · 2020. 2. 18. · Delmo Pinho. Depois de quase dois meses de discussões, a CCR Barcas concordou com

Atendimento público na berlindaPacientes de clínicas da família, administradas por OS Viva Rio, relatam problemas na assistência

ClébeR MendeS

Paciente esperava termino de hora do almoço para ser medicado

Pacientes de algumas das 76 clínicas da fa-mília administradas pela Organização So-

cial (OS) Viva Rio já sentem o impacto do fim do contra-to com a Prefeitura do Rio. O aviso prévio dos funcio-nários contratados pela OS termina na próxima quinta-feira, mas alguns deles já pa-ralisaram as atividades.

Ontem, na Clínica Zil-da Arns, no Complexo do Alemão, na Zona Norte, o desfalque fez a espera por atendimento chegar a duas horas. Um paciente que não quis se identificar aguarda-va do lado de fora da unida-de em uma cadeira de rodas para ser medicado.

“Levou duas horas para eu conseguir ser atendido. Agora, tenho que esperar voltarem do almoço para ser medicado. Não tem médico para atender todo mundo, aí demora muito”, lamentou o paciente.

Na mesma unidade, uma outra jovem não conseguiu

nem passar pela triagem. “Disseram que só estão aten-dendo os casos graves, que tenho que procurar outro lu-gar porque aqui tem poucos médicos. Eu só não sei onde vou achar,” desabafou ela.

O cenário não era muito diferente na Clínica Felippe Cardoso, na Penha, também na Zona Norte. No local, fun-cionários fizeram uma mani-

festação contra as demissões na manhã de ontem. “Nós nos dedicamos muito, cria-mos uma relação com nossos pacientes, vamos nas casas deles quando é preciso. Não é qualquer pessoa que faz isso, principalmente, quem não é treinado para saúde da família”, queixou-se uma fisioterapeuta da unidade.

> Apesar dos relatos de pacientes sobre problemas nas cínicas Zilda Arns e Felippe Cardoso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) diz que as uni-dades estão funcionan-do e os funcionários com os salários em dia.

A prefeitura admitiu demora no atendimen-to, na Zilda Arns, apenas pela manhã. A SMS in-formou que tem adotado medidas para o cumpri-mento do contrato pela OS Viva Rio. A RioSaúde — empresa pública — as-sume a gestão das unida-des das OS no próximo 21. Está previsto novo concurso para profissio-nais de saúde da família.

Medidas para cumprimento de contrato

Profissionais da Clínica Felippe Cardoso disseram que têm passado dificulda-des para conseguir de insu-mos a pagamentos em dia. “A gente está nessa luta há qua-tro anos. Eu inaugurei essa clínica, conheço essas pes-soas (pacientes) pelos nomes e agora vou perder tudo. Não é só o emprego, o salário, é toda a relação que se criou, a atenção mais humanizada, um trabalho que vem sendo feito há nove anos”, lamen-tou um profissional.

Uma paciente, que fez todo o pré-natal na Felippe Car-doso, lembrou que é consul-tada pelos mesmos médicos há anos. “Não é implicância com os novos médicos. Eles não têm culpa pelo que está acontecendo, mas os nossos médicos já nos conhecem, fi-camos mais à vontade com eles. É muito triste tudo isso o que eles estão passando”, lamentou.

População reclama de demora de duas horas por atendimento devido à falta de médicos

Cedae: impasse no descontoEmpresa apresentará uma nova proposta amanhãA Defensoria Pública do Rio e o governo do estado se re-uniram ontem, novamente, com a Cedae para discutir descontos nas contas da população afetada pela cri-se da água e, mais uma vez, termina sem um ponto final. Uma nova reunião será rea-

lizada amanhã e, durante as discussões, a companhia se comprometeu a apresentar à Defensoria uma contrapro-posta ao acordo sugerido pe-los defensores e promotores envolvidos para reparar os danos causados à população. Ao todo, foram realizadas quatro reuniões para discu-tir o assunto com a Cedae.

Caso a empresa cumpra o prazo, a Defensoria informa que será realizada, ainda na tarde de amanhã, uma reu-nião no Núcleo de Defesa do

Consumidor da Defensoria (Nudecon) para dar conti-nuidade às negociações com a companhia. Em nota, a Ce-dae afirma que “está empe-nhada em superar entraves e encontrar uma solução junto aos órgãos competentes e ao governo do estado”.

Além da Defensoria, par-ticiparam das discussões de ontem o Ministério Público do Rio, a Cedae e representan-tes do governo do estado e da Agência Reguladora de Ener-gia e Saneamento (Agenersa).

Ação contra CCR Barcas no MPDeputado afirma que concessionária teria quebrado acordo

O deputado Dionísio Lins (PP-RJ), presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislati-va do Rio (Alerj), decidiu entrar com uma ação no Ministério Público con-tra a CCR Barcas. Ele acu-sa a concessionária de ter firmado um acordo dife-rente do que foi discutido na audiência pública rea-lizada na última quarta-feira. Os detalhes do Ter-mo de Ajuste de Conduta (TAC) foram novamente discutidos ontem em re-união marcada pelo se-cretário de Transportes, Delmo Pinho.

Depois de quase dois

meses de discussões, a CCR Barcas concordou com o pagamento de R$ 7 milhões para a manutenção da an-tiga grade de horários para Paquetá em 2020. Do total, R$ 5 milhões foram doados pela Alerj a pedido do presi-dente da Casa, André Ceci-liano (PT-RJ), na audiência pública da semana passada, e R$ 2 milhões serão conce-didos pelo governo do esta-do. A concessionária afirma que vai apresentar o projeto para a Defensoria Pública amanhã, e a grade antiga deve voltar a vigorar ainda nesta semana.

“A concessionária tinha acordado em utilizar a ver-

ba concedida pela Alerj para a grade de Paquetá e o valor doado pelo governo do estado para ajustar defi-ciências na linha de Cocotá, na Ilha do Governador, mas mudou os planos”, disse o deputado Dionísio Lins.

Além do presidente da Comissão de Transportes da Alerj, estiveram na dis-cussão representantes da Casa Civil, Secretaria de Transportes, Defensoria Pú-blica, Agência Reguladora de Transportes Aquaviários (Agetransp) e Procurado-ria-Geral do Estado.

Reportagem da estagiária Julia Noia, sob supervisão de Gustavo Ribeiro

Reportagem do estagiário Rachel Siston, sob supervisão de Gustavo Ribeiro

4 RIO DE JANEIRO TerçA-feirA, 18.2.2020 i o dia