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4. MÉTODOS UTILIZADOS Das 17 sementes que constam na sementeca foi percebido uma diferença clara que as permite dividir em dois grandes grupos: o primeiro com sementes que apresentam a casca com coloração diferente do seu interior, que podem ser exemplificas pelas sementes: jatobá, dedo-de-índio, tento-carolina, olho-de-boi, olho-de-cabra e feijão-beiçudo, que são pertencentes a família das leguminosas (Leguminosae). E o segundo grupo em que esta diferenciação entre a casca e o miolo não ocorre, como é o caso do açaí, jupati, jarina, bacaba, entre outras, em que se encontram sementes das famílias Arecaceae, Malpighiaceae, Araliaceae e Poaceae. Do ponto de vista técnico a maioria das sementes apresenta a casca com coloração e composição química diferenciados do seu interior, porém, para esta pesquisa, leva-se em conta a forma como as sementes são encontradas no ponto de venda a disposição de artesãos, artistas e designers, no mercado de peças para a confecção de acessórios. Desta forma, grande parte das sementes já se encontra com tratamento prévio, ou seja, elas são vendidas já limpas, lixadas e furadas, sendo que, cada semente apresenta uma técnica específica que a torna ideal para a venda e o artesanato. Segundo Felix (2007, p. 11): Nesta primeira etapa de testes apresentada foram utilizadas as sementes do primeiro grupo, que apresentam a casca com a coloração diferenciada, pois foi percebido que a aplicação das ferramentas de usinagem nestas sementes propor- ciona um contraste interessante das cores das partes, o que permite uma grande variedade de intervenções. Segundo Gomes Filho (2000, p. 63): O beneficiamento das sementes para o artesanato é rea- lizado com a utilização de equipamentos que vão desde fer- ramentas manuais, materiais rústicos adaptados e movidos à eletricidade como polideiras, furadeiras e serra elétrica. Os artesãos geralmente efetuam o beneficiamento em oficinas, confeccionam peças e ainda disponibilizam peças e sementes beneficiadas ao mercado local e nacional.e internacional tem pressionado os atuais remanescentes florestais.

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4. MÉTODOS UTILIZADOS

Das 17 sementes que constam na sementeca foi percebido uma diferença clara que as permite dividir em dois grandes grupos: o primeiro com sementes que apresentam a casca com coloração diferente do seu interior, que podem ser exemplifi cas pelas sementes: jatobá, dedo-de-índio, tento-carolina, olho-de-boi, olho-de-cabra e feijão-beiçudo, que são pertencentes a família das leguminosas (Leguminosae). E o segundo grupo em que esta diferenciação entre a casca e o miolo não ocorre, como é o caso do açaí, jupati, jarina, bacaba, entre outras, em que se encontram sementes das famílias Arecaceae, Malpighiaceae, Araliaceae e Poaceae. Do ponto de vista técnico a maioria das sementes apresenta a casca com coloração e composição química diferenciados do seu interior, porém, para esta pesquisa, leva-se em conta a forma como as sementes são encontradas no ponto de venda a disposição de artesãos, artistas e designers, no mercado de peças para a confecção de acessórios. Desta forma, grande parte das sementes já se encontra com tratamento prévio, ou seja, elas são vendidas já limpas, lixadas e furadas, sendo que, cada semente apresenta uma técnica específi ca que a torna ideal para a venda e o artesanato. Segundo Felix (2007, p. 11):

Nesta primeira etapa de testes apresentada foram utilizadas as sementes do primeiro grupo, que apresentam a casca com a coloração diferenciada, pois foi percebido que a aplicação das ferramentas de usinagem nestas sementes propor-ciona um contraste interessante das cores das partes, o que permite uma grande variedade de intervenções. Segundo Gomes Filho (2000, p. 63):

O benefi ciamento das sementes para o artesanato é rea-lizado com a utilização de equipamentos que vão desde fer-ramentas manuais, materiais rústicos adaptados e movidos à eletricidade como polideiras, furadeiras e serra elétrica. Os artesãos geralmente efetuam o benefi ciamento em ofi cinas, confeccionam peças e ainda disponibilizam peças e sementes benefi ciadas ao mercado local e nacional.e internacional tem pressionado os atuais remanescentes fl orestais.

86 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

O objetivo da experimentação é aplicar técnicas da joalheria e artesanato ao trabalho com sementes como forma de atingir resultados que auxiliem o artesão a criar produtos diferenciados que se destaquem no mercado.

Segundo Becker (2005, p. 41):

Como teste inicial, foi utilizada a semente de jatobá. Esta semente apresenta um contraste da cor de sua casca em marrom escuro e seu interior claro em tom amarelado, além de um tamanho ideal para o trabalho manual. De acordo com Bandeira (2008, p. 83) a semente de jatobá apresenta diversos usos:

Os testes foram feitos inicialmente com a semente de jatobá, e depois replica-dos para as sementes dedo-de-índio e olho-de-boi que apresentam características similares.

Ao fi nal, fez-se necessário também, aplicar as técnicas desenvolvidas em bio-joias de forma a apresentar sua viabilidade.

O contraste, como estratégia visual para aguçar o signi-fi cado, não só excita e atrai a atenção do observador, como também é capaz de dramatizar esse signifi cado para fazê-lo mais importante e mais dinâmico.

(...) O contraste pode ser utilizado, no nível básico de construção e decodifi cação do objeto, como todos os elemen-tos básicos: linhas, tonalidades, cores, direções, contornos, movimentos, e sobretudo, com a proporção e a escala.

A utilização econômica da biodiversidade é a mais fl a-grante prioridade. Tendo em vista os imperativos inadiáveis da inclusão social, e não apenas de competitividade global, e inovação tecnológica não pode se ater a tecnologias de pon-ta, mas sim considerar diferentes níveis tecnológicos, desde as mais sofi sticadas às mais simples técnicas.

É utilizada em refl orestamento e na arborização de par-ques e jardins. A madeira é empregada na construção civil, tornearia e móveis. A polpa dos frutos contém uma farinha rica em cálcio e magnésio, sendo usada como alimento para a fauna e para o homem. O fruto e a semente são utilizados no artesanato, para confecção de móbiles, colares, brincos e pulseiras. O tronco possui uma resina (...) empregada na in-dústria de vernizes. Sua casca fornece corante amarelo (...).

87Métodos utilizados

4.1 TESTES DE USINAGEM: GRUPO 1

A primeira fase dos testes foi feita com uma microrretífi ca cujas ferramen-tas são intercambiáveis. Muito utilizados na joalheria, existem diversos tipos de motores para a mesa de trabalho, com diversos acessórios e cortadores acoplá-veis. As fresas de diamante são encontradas em forma de cone, discos, de forma redonda ou paralela, e estando afi ados podem cortar adequadamente qualquer área. Para um corte redondo pequeno, médio e largo, existem fresas com forma-to de esfera. O motor é também uma ferramenta excelente para limpar e polir áreas pequenas (MCGRATH, 2007, p. 102).

Foram descartadas da primeira etapa de testes as sementes de tento-caro-lina, olho-de-cabra e feijão-beiçudo, pois as suas características já apresentam detalhes que as tornam diferenciadas, além do tamanho reduzido que difi culta aplicação de alguns testes.

4.1.1 LIXA CIRCULAR

Foi utilizada uma lixa circular com grãos de carbureto de ½” (12,7 mm) de diâmetro (fi gura 56). Posicionando contra as extremidades das sementes foi possível criar superfícies côncavas, e se aplicada ao redor da semente inicialmente consegue-se um desgaste da casca e mais profundamente é possível deixar visível suas camadas de cor.

Figura 56 lixa circular, forma de aplicação e resultado.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

A aplicação da lixa ao redor da semente de jatobá cria um resultado inte-ressante, porém deve ser observada com atenção no momento de aplicar em ou-tras sementes. Foi observado nas sementes de dedo-de-índio e olho-de-boi, que o

miolo se desprende facilmente da casca com este tipo de usinagem (fi gura 57).

88 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 57 aplicação do teste em dedo-de-índio e olho-de-boi.

Fonte: a autora (2012).

A fi gura 58 apresenta a microscopia feita das sementes citadas. Na semente de jatobá é possível observar pontos de interseção da casca e do miolo, o que não acontece com a semente de dedo-de-índio, que tem uma separação muito nítida, e o olho-de-boi, que além ter uma divisão nítida, o miolo não se apresen-ta fi xo a casca em todos os pontos.

Apesar destas diferenças, o olho-de-boi e o dedo-de-índio podem sofrer diferentes acabamentos, resguardando áreas para que a casca não se desprenda (se não forte esta a intenção do artesão).

Figura 58 esquerda para direta - microscopia do corte em semente de jato-bá, dedo-de-índio e olho-de-boi.

Fonte: a autora (2012).

• AplicaçãoA fi gura 59 mostra a aplicação da técnica com a lixa circular em semente

de jatobá aliada a peças metálicas banhadas a ouro. O colar foi fi nalista no 3º Prêmio do Objeto Brasileiro.

89Métodos utilizados

Figura 59 exemplo de aplicação da técnica com lixa circular em biojoia. Designer: Lia Paletta Benatti.

Fonte: a autora (2011).

A fi gura 60 apresenta a aplicação da mesma técnica em biojoia, desta vez na semente de olho-de-boi utilizada em um bracelete.

Figura 60 bracelete Guariní. Designer: Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

4.1.2 ESCARIADOR

Um escariador com diâmetro de 1/8” (3,2mm) como mostra a fi gura 61, foi utilizado com o objetivo de criar textura circulares, que podem ser aplicadas de forma aleatória ou ordenada, deixando o interior da semente visível apenas em pontos específi cos. Esta repetição de elementos circulares na semente cria uma relação de proximidade, que de acordo com Gomes Filho (2000, p. 34):

90 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 61 ferramenta, forma de aplicação e resultado do uso do escariador.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

A aplicação de ferramentas como o escariador e a broca (fi gura 65) devem ser feitas de maneira fi rme e pontual. A camada superior da casca das sementes é muitas vezes quebradiça e deslizes da ferramenta criam imperfeições que podem não ser interessante para a aparência fi nal da biojoia (fi gura 62).

Figura 62 detalhe do “defeito” causado pela quebra da superfície da semen-te de jatobá com a utilização do escariador.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

Elementos ópticos próximos uns dos outros tendem a ser vistos juntos e, por conseguinte, a constituírem um todo ou unidade dentro do todo.

Em condições iguais, os estímulos mais próximos entre si, seja por forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção e outros, terão maior tendência a serem agrupados e a consti-tuírem unidades.

91Métodos utilizados

Segundo Lana e Benatti (2012, p. 247):

Com este cuidado a técnica pode ser facilmente aplicada nas sementes de dedo-de-índio e olho-de-boi de acordo com a fi gura 63.

Figura 63 aplicação do escariador em dedo-de-índio e olho-de-boi.

Fonte: própria (2012).

• AplicaçãoA aplicação da técnica do escariador em biojoia foi feita com sementes de

jatobá como mostra a fi gura 64.

Este tipo de defeito não é apenas encontrado em traba-lhos pontuais de artesãos. Pequenos defeitos na furação são facilmente encontrados em sementes vendidas no atacado no mercado, uma vez que a maioria das sementes já é vendida com o furo principal especialmente para o trabalho artesanal.

Isto ocorre não apenas pela falta de cuidado do profi s-sional responsável pelo benefi ciamento, mas também devido às dimensões muito pequenas das sementes. Muitas vezes o ferramental não está adequado ao tipo de trabalho (com mais potência do que o necessário) este tipo de erro acaba sendo co-mum. Desta forma, uma vez que as sementes são comumente vendidas em grandes quantidades, estes pequenos detalhes são percebidos apenas na hora da montagem da biojoia.

92 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 64 pulseira Araes. Designer: Lia Paletta Benatti.

Fonte: a autora (2013).

4.1.3 BROCA

Foi utilizada uma broca de aço com 5/64” (2mm) de diâmetro, e a sua for-ma de aplicação pode ser planejada da mesma forma que o escariador, pois nada mais é do que uma interferência circular na semente, com a diferença de criar um furo, tanto passante como até a parte do objeto (fi gura 65). Este tipo de usinagem pode ser utilizada como textura de forma singular, ou utilizada para se traçar elementos de união de peças, como os fi os de nylon/tecido ou arames de forma diferenciada e inusitada.

Figura 65 ferramenta, forma de aplicação e resultado de uso da broca.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

Não houve qualquer problema para a aplicação na semente dedo-de-ín-dio, porém a semente olho-de-boi pode necessitar de brocas mais longas devido as suas dimensões, de qualquer forma, a semente aceita o teste como mostra a fi gura 66.

93Métodos utilizados

Figura 66 aplicação da broca em dedo-de-índio (esquerda) e olho-de-boi (direita).

Fonte: própria (2012).

• AplicaçãoA técnica de furação com a broca foi aplicada em sementes de jatobá para

promover uma forma diferenciada de amarração das sementes em uma pulseira (fi gura 67).

Figura 67 pulseira com uso da broca. Designer: Ana Maria Paiva Ferreira.

Fonte: a autora (2013).

4.1.4 DISCO DE CORTE

O disco de corte utilizado tem espessura de 1 milímetro, feito em fi bra de vidro, pode ser utilizado para criar um padrão de cortes na peça, seja aleatório ou ordenado, assim como seu uso pode ser aplicado para fatiar a semente de acordo com a fi gura 68.

94 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 68 ferramenta, forma de aplicação e resultado do disco de corte.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

O meio corte que produz apenas “janelas” na casca da semente pode ser aplicado nas sementes dedo-de-índio e olho-de-boi, porém não se aconselha que estas sementes sejam fatiadas como explicado no item 4.1.1, a casca se despren-de de seu interior (fi gura 69).

Figura 69 aplicação do disco de corte em dedo-de-índio (esquerda) e olho--de-boi (direita).

Fonte: a autora (2012).

O disco de corte pode ser aplicado em outras sementes, mesmo que não tenham o seu interior com cor diferenciada da casca, pois conseguem retirar material o bastante para esculpir a semente modifi cando sua forma, como foi mostrado com a semente do inajá e a paxiubinha.

95Métodos utilizados

• Aplicação

Figura 70 anel Yamí. Designer: Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

Para apresentar a aplicação da técnica com disco de corte com contraste de cor entre casca e miolo, a fi gura 70 apresenta anel com frisos feitos na casca da semente de dedo-de-índio. Foi desenvolvido também o colar apresentado na fi gura 71, fi nalista do 3º Prêmio do Objeto Brasileiro, que utilizou a técnica aplicada na mesma semente.

Figura 71 colar Net. Designer: Lia Paletta Benatti.

Fonte: a autora (2011).

4.1.5 LIXADEIRA

Foi testada também a utilização de maquinário da ofi cina de madeira da ED/UEMG.

96 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

A lixadeira (fi gura 72) permite alcançar um resultado também interessan-te com as sementes de jatobá, porém de forma mais homogênea e com maior rapidez. Apesar de não permitir um manejo fi no, foi observado que lixando as laterais das sementes, tanto no sentido vertical quanto horizontal é possível ob-ter um resultado diferenciado e ainda permitir a produção em maior escala.

Figura 72 lixadeira, forma de aplicação e resultado de uso.

Fonte: LANA e BENATTI (2012).

A replicação deste teste criou resultados interessantes (fi guras 73 e 74), principalmente em sementes de olho-de-boi, pois tornou o trabalho mais rápido, observando que a sua casca apresenta maior dureza, outro ponto é a superfície diferenciada que foi criada devido ao interior oco.

Figura 73 aplicação da lixadeira em semente de olho-de-boi em dois senti-dos e facetada.

Fonte: a autora (2012).

97Métodos utilizados

Figura 74 aplicação da lixadeira em semente de dedo-de-índio.

Fonte: a autora (2012).

• Aplicação

Figura 75 biojoia com semente de olho-de-boi facetada. Designer: Ana Ma-ria Paiva Ferreira.

Fonte: a autora (2013).

As fi guras 75 e 76 mostram a aplicação da lixadeira em sementes de olho--de-boi para uso em pulseira e anel.

Figura 76 aplicação da lixadeira em sementes de olho de boi. Designer: Lia Paletta Benatti.

Fonte: a autora (2012).

98 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

4.2 TESTES DE USINAGEM: GRUPO 2

No segundo grupo de testes se enquadram as sementes que não apresentam diferenciação entre miolo e casca. Desta forma o objetivo da usinagem não foi somente a criação de contrates, mas a alteração da forma como um todo.

Destes testes foram excluídas as sementes de morototó, lágrima-de-nossa--senhora e murici devido às dimensões reduzidas que difi cultam a aplicação das ferramentas, e por sua vez, não possibilitam uma boa visualização.

No grupo 2, como cada semente tem diferentes características e proprie-dades as aplicações das ferramentas foram determinadas de acordo com cada particularidade apresentada pelas sementes.

4.2.1 AÇAÍ

A semente do açaí deve ser talvez a semente mais utilizada na fabricação de biojoias, principalmente pela ampla oferta no mercado, uma vez que a polpa do fruto é muito utilizada na alimentação humana em todo o país. Segundo Olivei-ra, Neto e Pena (2007, p. 9):

Pela sua cor clara, o açaí é amplamente utilizado na biojoia com tingimento nas mais diversas cores. Sem o tingimento, o açaí é vendido lixado (branco) e também “pouco lixado” ou rajado, quando a casca não é completamente reti-rada. Há também o açaí-de-touceira ou açaí-cérebro, outra espécie de açaí que apresenta estrias em sua superfície (fi gura 77).

O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma palmeira na-tiva da Amazônia (...). É utilizado de inúmeras formas: como planta ornamental (paisagismo); na construção rústica (de casas e pontes); como remédio (vermífugo e anti-diarréico); na produção de celulose (papel Kraft); na alimentação (polpa processada e palmito); na confecção de biojóias (colares, pul-seiras etc.); ração animal; adubo; etc. Contudo, sua importân-cia econômica, social e cultural está centrada na produção de frutos e palmito.

A produção de frutos é a exploração mais antiga, datada desde a época pré-Colombiana, empregada na obtenção da bebida conhecida de “açaí”, consumida em larga escala pela população amazônica, e que vêm se consolidando nos merca-dos nacional e internacional, nas últimas décadas. O Estado do Pará é o principal produtor de açaí, seguido do Amapá.

99Métodos utilizados

Figura 77 da esquerda para direita – açaí branco e açaí pouco lixado.

Fonte: açaí branco e pouco lixado: a autora (2012).

Foram realizados dois testes no açaí, o primeiro com a semente já tingida e o segundo com a semente sem o tingimento.

O açaí com tingimento foi pressionado contra uma lixa em diversos pon-tos para criar pontos claros na semente. Pode ser utilizada a lixa circular ou a lixadeira de bancada, dependendo da quantidade de sementes que serão lixadas o resultado é o mesmo. Este teste resulta em sementes com duas cores, como mostra a fi gura 78.

Figura 78 açaí tingido e lixado nas cores vermelho, azul e verde.

Fonte: a autora (2012).

• AplicaçãoFigura 79 pulseira Ru Yamí. Designer Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

100 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

O segundo teste aplicado na semente de açaí foi feito utilizando como ferramenta o esmeril em formato cônico (fi gura 80). Foi utilizado o esmeril de carbureto de silício, pois é um material específi co para trabalhar em pedra, vi-dro, cerâmica, porcelana e metais não-ferrosos, porém também é possível aplicar o esmeril de óxido de alumínio. O esmeril foi aplicado contra o furo com o qual a semente já é vendida.

Figura 80 ferramenta utilizada e esquema de aplicação contra a semente.

Fonte: a autora (2012).

O objetivo deste teste foi modifi car o contato das sementes quando posicio-nadas linearmente através de um fi o, como é mostrado na fi gura 81. O teste foi feito no açaí pouco lixado como apresentado na fi gura 82.

Figura 81 à esquerda, posicionamento comum das sementes de açaí em fi o e à direita, o novo posicionamento após o teste.

Fonte: a autora (2012).

Figura 82 teste aplicado em açaí para aumentar o diâmetro do furo e deixá--lo em formato cônico.

Fonte: a autora (2012).

101Métodos utilizados

• AplicaçãoA biojoia produzida como forma de aplicação da técnica com esmeril utili-

za sementes de açaí pouco lixado e contas de ágata (fi gura 83).

Figura 83 colar para aplicação do esmeril. Designer: Lia Paletta Benatti.

Fonte: a autora (2012).

4.2.2 CARNAÚBA

À semente de carnaúba foi aplicada a lixa de bancada como teste e desco-briu-se que as estrias escuras que fazem parte da sua textura superfi cial formam desenhos interessantes em seu interior, com cor mais acentuada, que fi cam a mostra quando lixada. Assim, criou-se faces planas ao redor da semente para evidenciar estas estrias, como mostra a fi gura 84.

Figura 84 sementes de carnaúba com faces planas.

Fonte: a autora (2012).

• AplicaçãoAs sementes de carnaúba foram aplicadas em pingente como forma de

evidenciar a possibilidade de aplicação da técnica da lixadeira em semente para biojoia (fi gura 85).

102 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 85 pingente Abaré. Designer: Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

4.2.3 INAJÁ

A semente de inajá tem um formato que remete a uma gota, e comumente sua furação é posicionada na ponta superior.

Segundo Araújo et al. (2000, p. 32) sobre a palmeira do inajá:

Devido à formação das amêndoas no interior da semente decidiu-se por trabalhar com facetas apenas com a lixa, sem cortar a semente, mantendo as amêndoas em seu interior, uma vez que esta semente já é comercializada fatiada (tabela 5).

As folhas são comumente utilizadas como cobertura de construções simples e casas populares em pequenos povoados (Henderson et al., 1995). Os frutos podem ser usados na ali-mentação humana e da polpa pode ser extraído óleo comes-tível (...).

Semente (endocarpo + amêndoa) (...) O endocarpo apre-senta superfície lisa e brilhante, de coloração marrom-clara, (...) pode apresentar septos, ou não, originados de ovário unilocular, bilocular ou trilocular, formando frutos com uma, duas ou três amêndoas (...).

103Métodos utilizados

Trabalhando com a lixadeira foi possível aproveitar a forma oblonga da semente criando faces verticais (fi gura 86) como forma de reforçar o formato alongado.

Figura 86 sementes de inajá lixadas formando 4 ou mais facetas.

Fonte: a autora (2012).

É possível também utilizar o disco de corte como forma de criar frisos na superfície da semente de inajá, como mostra a fi gura 87. Os frisos podem, ou não, ser reforçados com o uso do escariador.

Figura 87 semente de inajá com frisos produzidos pelo disco de corte.

Fonte: a autora (2013).

4.2.4 JARINA

A jarina é uma das maiores sementes que fazem parte desta pesquisa. Pela sua cor branca e alta dureza é conhecida como o marfi m da Amazônia, e é muito utilizada em diversos segmentos de mercado, esculpida nos mais diversos formatos.

De acordo com Bandeira (2008, p. 77), sobre a jarina:

104 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Desta forma, para o primeiro teste aplicado à jarina foi utilizada a lixadeira para criar estruturas geométricas, facetadas, como mostra a fi gura 88.

Figura 88 testes em sementes de jarina.

Fonte: a autora (2012). • AplicaçãoA aplicação da lixadeira em sementes de jarina foi feita para a produção de

um colar onde a forma da semente remete ao formato de pedras com lapidação em gota facetada (fi gura 89).

Figura 89 colar com jarina facetada. Designer: Ana Maria Paiva Ferreira.Fonte: a autora (2012).

O uso principal da jarina provém de suas sementes, con-sideradas gemas orgânicas raras, por possuírem uma textura dura e pesada, de um tom cremoso quando polidas. Por ser semelhante ao marfi m animal, é apropriada para esculpir, fa-bricar joias e botões, absorvendo muito bem os corantes. En-tre os muitos produtos feitos com a jarina estão joias, peças de xadrez, palhetas para instrumentos de sopro, teclas de piano, cabos de guarda-chuva e artesanato.

105Métodos utilizados

Por ser um material homogêneo com maior dureza, a semente de jarina permite esculpir as mais diversas formas, com as mais diversas ferramentas. Utilizando uma fresa foi desenvolvido um anel com a semente de jarina cravada com sementes de murici (fi gura 90).

Figura 90 fresa e sua aplicação para a fi xação de sementes de murici na semente de jarina.

Fonte: a autora (2012).

Como primeira experiência de cravação foi possível observar que diferen-temente do trabalho de cravação em metal não se consegue fi xar a semente de murici após abrir a semente de jarina, pois não há maleabilidade no material. Por mais justo que fosse o furo, para garantir o maior desempenho do produto foi feito o uso de cola para artesanato, para que as sementes não se soltassem.

4.2.5 JUPATI

Segundo Bandeira (2008, p. 85) sobre o jupati:

O jupati é uma das sementes que são encontradas no mercado das formas mais variadas. A semente é vendida em pedaços verticais, em forma de cascalho, esfera, fatiada, em duas metades, entre outros tantos. Além disso, é vendida com a casca interna aderida a semente e sua casca externa também é vendida separa-damente.

Como a semente já é amplamente explorada por artesãos, foi trabalhada a lixadeira no jupati ainda com a casca aderida, desta forma deixando sua textu-ra, formada por diversas estrias, aparente apenas em alguns pontos da semente, como mostra a fi gura 91.

O cacho, os frutos e as sementes são utilizados em arte-sanato para confecção de colares, pulseiras, anéis, móbiles e adornos para decoração. (...) É a única espécie do gênero que ocorre na América tropical, podendo ser encontrada ainda na costa nordeste de Madagascar (África) e nas ilhas do Japão.

106 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 91 jupati lixado apenas em áreas específi cas trabalhando com dife-rentes texturas.

Fonte: a autora (2012).

• Aplicação Devido à alta dureza da semente de jupati, semelhante a da jarina, a semen-

te pode ser explorada de diversas formas e esculpida nos mais diversos formatos. Durante a Bienal de Design ocorrida em 2012 na cidade de Belo Horizon-

te, foi possível trabalhar o jupati aplicado à joalheria. Em um dos eventos da Bienal, o OpenSchool, a convite do CEDGEM da UEMG, um colar foi desen-volvido com materiais alternativos, como sementes, fi bras, carvão, entre outros (fi gura 92).

Figura 92 joia desenvolvida pelos designers Kika Alvarenga, Filipe Mafra, Luciando Soares, Andréia Salvan, Lia Paletta Benatti e Evanice Schmidt.

Foto: Antônio Mattos (2012).

107Métodos utilizados

As sementes de jupati utilizaram os equipamentos do CEDGEM para serem lapidadas. Apesar de ser considerada uma semente com maior dureza, os equi-pamentos que são produzidos para a lapidação de pedras preciosas conseguem facilmente dar nova forma ao material.

4.2.6 PAXIUBÃO

O paxiubão é encontrado no mercado com variações de polimento, alguns fornecedores vendem a semente mais escura ainda com a superfície com casca e outros vendem a semente mais clara, ou seja, mais lixada.

Segundo Bandeira (2008, p. 101):

À semente foi aplicada a lixadeira, como forma de deixar o interior mais claro a mostra e faces retas (fi gura 93).

Figura 93 paxiubão facetado.

Fonte: a autora (2012).

Utilizada na arborização de parques e grandes jardins. Por ter o lenho muito resistente, substitui as ripas em constru-ções rústicas e canoas. O estipe é usado em mobílias de luxo, objetos de adorno e painéis. As sementes se prestam à confec-ção de colares, pulseiras e brincos.

108 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

• AplicaçãoFigura 94 pingente Maní. Designer: Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

4.2.7 PAXIUBINHA

Aproveitando-se de sua forma alongada, foi utilizado disco de corte, as-sim como na semente de inajá, para criar modifi cação na forma da semente de paxiubinha, através de frisos mais profundos reforçados pelo escariador (fi gura 94).

Figura 95 semente de paxiubinha com frisos.

Fonte: a autora (2013).

• AplicaçãoPara a aplicação da técnica de disco de corte em paxiubinha a fi gura 95

apresenta pulseira em latão com banho de ouro com as sementes fi xadas nas pontas.

109Métodos utilizados

Figura 96 pulseira Aracê. Designer: Filipe Mafra.

Fonte: a autora (2013).

4.3 TINGIMENTO

O tingimento em sementes para biojoia é comumente feito com corante para tecido, e assim foi utilizado para a pesquisa. Relacionado ao tingimento das sementes, os teste foram realizados com foco nas seguintes questões:

• Como conseguir um degradê da cor: as sementes normalmente são tingi-das em cores específi cas fornecidas pelo fabricante de corentes, porém, há pouca variação de tom.

• Clarear as sementes: o clareador de tecido pode ser aplicado às semen-tes? Desta forma seria possível conseguir uma variação do tom da cor da semen-te, e até conseguir tingir sementes escuras com diferentes cores?

• Criar máscaras: verifi car se processo de tingimento permite a utilização de máscara para conseguir áreas não tingidas.

Foi utilizado corante para algodão, por ser um produto de baixa toxicida-de. Sua composição é formada por cloreto de sódio, corante direto e dispersante. O processo para tingimento básico segue em geral as seguintes etapas:

• O corante é dissolvido em água fervente, seguindo a proporção de 40g de corante para 1L de água.

• As sementes são inicialmente molhadas em água quente e depois mergu-lhadas no banho de tingimento, permanecendo por 30 minutos sob fervura.

• As sementes são retiradas do banho, são enxaguadas e secas.

110 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

4.3.1 DEGRADÊ DA COR

Para o teste de tom, utilizou-se sementes de açaí, por apresentarem uma coloração clara, tamanho relativamente pequeno que possibilitou o teste em grandes quantidades de sementes. Para conseguir uma variação no tom da cor, o primeiro teste feito seguiu os seguintes passos:

• Seguindo os passos de tingimento descritos anteriormente, as sementes de açaí foram mergulhadas em um banho de 30 minutos.

• Após os primeiro banho as primeiras sementes foram retiradas. Acres-centou-se mais água (aproximadamente 100 ml) à receita e mergulhou-se mais um grupo de sementes no banho.

Este processo se repetiu por 10 grupos de sementes, porém não foi observa-do qualquer variação no tom que fosse de fácil percepção (fi gura 96), então este processo foi descartado e optou-se por uma nova forma e alcançar o degradê da cor.

Figura 97 primeiro teste de tingimento.

Fonte: a autora (2012).

A segunda tentativa seguiu os seguintes passos:• Seguindo novamente os passos do tingimento um grupo de sementes de

açaí foi mergulhado na água do tingimento. • As sementes foram retiradas após 5 minutos, enxaguadas e secas e um

novo grupo de semente foi mergulhado desta vez por 10 minutos.

111Métodos utilizados

• O processo foi repetido, aumentado 5 minutos por grupo de sementes até atingir os 30 minutos necessários para o tingimento completo.

Este novo processo por sua vez trouxe um resultado interessante em rela-ção à graduação de cor (fi gura 97). Quando a semente não permanece o tempo completo no tingimento ela apenas não absorve a cor total, porém a parte da cor absorvida é completamente fi xada, não havendo perda signifi cativa da cor após o enxague e a secagem.

Figura 98 resultado do segundo teste de tingimento.

Fonte: a autora (2012).

• AplicaçãoA fi gura 98 apresenta a utilização da técnica de degradê em sementes de

açaí e bacaba. As sementes foram dividas em 3 grupos: o primeiro com 5 minu-tos de banho no corante, o segundo com 15 minutos e o terceiro com 30 minu-tos.

Figura 99 à esquerda Colar Deca (Designer: Lia Paletta Benatti) e à direita Pulseira Aimara (Designer: Filipe Mafra).

Fonte: a autora (2013).

112 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

4.3.2 CLAREAMENTO DAS SEMENTES

O teste de clareamento envolve basicamente a aplicação de um descolo-rante de fi bras naturais, seu uso é feito em tecido com o objetivo de reavivar a cor branca. O objetivo do teste não é tornar todas as sementes brancas, mas sim tentar obter a semente em tom mais claro além de observar o comportamento após a utilização do descolorante.

A composição química do descolorante é de cloreto de sódio, ditonito de sódio e branqueador óptico. Segundo Salem (2010, p. 79):

O processo de branqueamento é similar ao de tingimento, e segue os se-guintes passos:

• Ferver água o bastante para cobrir as sementes;• O branqueador foi misturado à água fervente na proporção de 40g de

branqueador para 300g de sementes;• As sementes foram umedecidas e mergulhadas no banho por 15 minutos,

depois foi feito o enxágue e a secagem. Para esta etapa foram testadas todas as 17 sementes que estão fazendo par-

te da pesquisa e foram alcançados os seguintes resultados:As sementes leguminosas: jatobá, olho-de-boi, dedo-de-índio, perderam sua

integridade física após o tingimento (fi gura 98). Seja pelo uso do branqueador e/ou pelo contato prolongado com a água, como apontado no teste de absorção, o interior das sementes amoleceu e estas não estavam mais adequadas ao uso.

Os substratos têxteis, mesmo após um alvejamento quí-mico, têm a tendência a refl etir um tom amarelado. Se em-pregarmos um produto que refl ete raios azulados ou violeta-dos, essas cores complementam o amarelo claro e enxergamos branco (efeito correspondente à refl exão da luz). Por isso, apli-camos, simultaneamente ou após o alvejamento químico, um branqueador óptico.

Branqueadores ópticos são produtos que, quando apli-cados nos substratos têxteis, absorvem os raios invisíveis ul-travioletas (...) do espectro solar e refl etem raios violetas ou azulados.

113Métodos utilizados

Figura 100 resultado da ação do branqueador nas sementes de dedo-de-ín-dio e olho-de-boi.

Fonte: a autora (2012).

As sementes como carnaúba, paxiubão, paxiubinha, jupati e inajá apresen-taram certo clareamento, porém foi possível perceber a olho nu certa diferença na superfície da semente que parecia levemente craquelada (fi gura 99). Sua colo-ração apesar de mais clara, se tornou opaca e sem brilho.

Figura 101 semente de jupati e carnaúba após branqueamento.

Fonte: a autora (2012).

As sementes de jarina e açaí apresentaram o resultado interessante, pois al-cançaram um leve clareamento sem sofrer alterações na superfície. A fi gura 100 apresenta a comparação da cor das sementes antes e depois do branqueamento.

114 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Figura 102 comparação das cores das sementes de açaí antes e depois do uso do branqueador.

Fonte: a autora (2012).

4.3.3 MÁSCARAS

A utilização de máscara para o tingimento das sementes tem o objetivo de permitir selecionar áreas específi cas da superfície que não serão tingidas durante o banho.

Foram feitos dois testes para experimentar a aplicação de máscaras durante o processo de tingimento. O primeiro teste foi feito utilizando adesivo conhecido como papel contact ou vinil escolar, muito utilizado por estudantes para encapar livros e cadernos.

Para o teste foi utilizada a semente de jarina, pela sua cor clara e seu ta-manho maior, facilitando a colagem do adesivo.

O teste mostrou que a máscara adesiva funciona de forma prevista, se mantém aderida a semente durante todo o tempo do banho de tingimento. Porém, como a superfície da semente não é plana os pontos de dobra do adesivo permitem que o contato do pigmento, deixando o desenho da máscara irregular (fi gura 101).

Figura 103 resultado do teste da máscara de vinil.

Fonte: a autora (2012).

115Métodos utilizados

O segundo teste feito com máscara foi utilizado o esmalte comum (cosmé-tico para unhas) no lugar do vinil. Antes do tingimento foram pintadas áreas da semente com base de esmalte comum (porém pode ser utilizado o esmalte com cor também). A semente foi tingida através do processo normal, como citado no item 4.3.1. Após secar, o esmalte foi retirado com acetona (fi gura 102).

Figura 104 aplicação do esmalte como máscara.

Fonte: a autora (2012).

A acetona retirou apenas o esmalte, a área tingida não sofreu alterações vi-síveis. Este resultado apresenta a possibilidade para permitir diversas aplicações de desenhos na semente, principalmente com a utilização de pincéis adequados.

• AplicaçãoA aplicação para biojoia foi desenvolvida com a utilização da máscara feita

a partir do uso do esmalte e acetona. O colar desenvolvido (fi gura 103) aplicou a técnica da máscara em sementes de jarina, jupati (formato esférico) e bacaba.

Figura 105 colar IndiAna. Designer: Ana Carolina Assis Ribeiro.

Fonte: a autora (2013).

116 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

4.4 DURABILIDADEDurante todo o tempo da pesquisa, uma das principais questões levanta-

das foi a da durabilidade das sementes. Como material natural estão altamente suscetíveis a ação de fungos e insetos, porém com tratamento adequado pode-se garantir a durabilidade das sementes por longos períodos.

É necessário ressaltar a importância da durabilidade da semente na pesqui-sa, pois a cada tipo de mercado que a semente é aplicada é variável também o tempo que esta deve manter sua estrutura física. Por exemplo, dentro da moda, de uma forma mais efêmera, em que marcas trocam suas coleções a cada estação espera-se que um acessório com sementes dure ao mínimo uma estação. Quando aplicada aos materiais nobres e inserida no mercado da joia, este tempo deve se prolongar já que uma joia tem um valor maior, tanto monetário quanto de estima.

De acordo com Bandeira (2008, p. 51):

4.4.1 FORNECEDOR

O cuidado com a semente deve se iniciar logo que esta é retirada da natu-reza, após a colheita é importante fazer a separação das melhores sementes e o descarte das que estão estragadas ou com fi ssuras que as tornam inadequadas à aplicação na biojoia.

A etapa mais importante do benefi ciamento é a secagem cujo processo irá depender de acordo com o tamanho e material da semente. Esta etapa infl uencia diretamente na qualidade fi nal do produto.

As sementes, por serem organismos vivos, são materiais perecíveis e devem receber tratamento adequado que evite a sua germinação e a sua contaminação por insetos, fungos e microorganismos, de maneira geral. Este fato tem afetado ne-gativamente o interesse do mercado consumidor que, muitas vezes, ao adquirir uma biojoia sem o devido tratamento ou em más condições de armazenamento (locais úmidos e quentes), se depara com a sua degradação, desistindo da comercializa-ção.

Espera-se que as sementes utilizadas para o artesanato tenham uniformidade de cor, tamanho, feitio, peso e apresen-tem uma boa fi tossanidade. Considerando a alta suscetibilida-de das sementes ao ataque de pragas e doenças, o tratamento adequado (desinfecção e impermeabilização) pode prolongar o tempo útil das peças por meses e anos (BANDEIRA, 2008, p. 51).

117Métodos utilizados

De acordo com a Embrapa Amazônia Oriental (2006) as sementes devem ser secadas em estufas. Inicialmente são pesadas, para a verifi cação da quantida-de de água presente. São utilizadas estufas apropriadas com intervalos de tempo que variam para cada espécie.

A segunda fase é a quantifi cação do grau de umidade, também em estufa durante 24h. Após esse tempo as sementes são resfriadas e pesadas novamente, o grau de umidade aconselhado para o armazenamento de sementes sem que sofram danos por insetos e fungos é inferior a 7%.

Segundo Bandeira (2008, p. 51):

Em ofi cinas caseiras as sementes são secadas ao sol, o método além de não eliminar a água no interior das sementes, expõe o material à ação de micro-or-ganismos. E todo o processo posterior fi ca comprometido.

Uma solução para os pequenos artesãos para substituição da estufa in-dustrial é a confecção de uma estufa “caseira” lançando mão de uma caixa de madeira e lâmpadas. Se a semente já perdeu a maior parte do teor de água, é possível utilizar a sílica gel.

Ainda segundo a Embrapa Amazônia Oriental (2006), para garantir a qua-lidade das sementes adquiridas para a confecção de biojoias, o ideal seria a cer-tifi cação dos fornecedores. Desta forma o consumidor teria comprovação de que as sementes adquiridas passaram pelo processo de secagem de forma correta.

4.4.2 USINAGEM NAS SEMENTES

Para as técnicas de usinagem apresentadas nesta pesquisa, percebeu-se a necessidade de aumentar a proteção da semente contra agentes externos uma vez que algumas delas têm seu interior, que naturalmente é protegido por uma casca, exposto.

As sementes usinadas foram observadas durante 4 meses sem nenhuma proteção após a usinagem e com a aplicação de óleo eucalipto.

A secagem da semente, etapa que deve anteceder o tra-tamento, é de suma importância para garantir a conservação do material por longo período. Entretanto, para algumas espé-cies, como as palmeiras, a secagem é difícil e demorada, sendo muitas vezes feita impropriamente.

118 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

As sementes sem proteção após a usinagem foram utilizadas como compa-ração com as que utilizaram proteção. Durante o tempo de observação elas não tiveram qualquer mudança aparente nas suas características físicas ou na ação de agentes externos.

Como agente de proteção à semente foi utilizado o óleo de eucalipto, por ser uma prática já comum entre artesãos. As características do óleo utilizado são:

• Nome científi co: Eucalyptus citriodora Hook – Myrtaceae;• Procedência: produto de fabricação nacional; • Forma de obtenção: prensagem a frio e fi ltração;• Parte utilizada: folha. Sua utilização para conservação de sementes se dá por suas propriedades,

segundo Mundos dos Óleos (2013):

Dentre os produtos utilizados no tratamento, pode-se ci-tar o éter (não deve ter contato direto com a semente) e óleos (eucalipto, malaleuca, cravo, andiroba, bálsamo-da-índia, en-tre outros – não usar óleos ‘doces’), tendo-se a preocupação de evitar o mínimo contato da peça com água. As sementes que não forem utilizadas imediatamente podem ser armazenadas em recipientes de plástico, vidro ou alumínio (junto às semen-tes colocar morfi l ou naftalina) em locais com pouca umida-de, com a fi nalidade de aumentar sua vida útil (BANDEIRA, 2008, p. 51).

O óleo de Eucalipto Citriodora apresenta-se como um óleo de cor esverdeado, com odor e sabor suave característico.

O Eucalipto Citriodora é uma espécie nativa da Austrá-lia cuja madeira é altamente resistente ao apodrecimento, fá-cil de furar, lixar, aplainar e dar acabamento, características que somadas favorecem seu uso em serrarias e na confecção de móveis. Porém é o óleo, extraído das folhas, seu principal atrativo. Muito cheiroso, o óleo de Eucalipto Citriodora é lar-gamente utilizado em saunas, na fabricação de desinfetantes e como aromatizante de bebidas e balas. A principal atividade é bactericida, adstringente, antisséptico, infecções por fungo, repelente de insetos, infecções de pele por bactérias, dores, ferimentos, asma, dor de garganta, febre, catapora, sarampo, tônico geral, reumatismo, etc.

119Métodos utilizados

Para garantir o maior contato possível das sementes com o óleo, estas foram totalmente imersas durante 10 minutos, garantindo assim que seu inte-rior, normalmente exposto pela furação básica dos fornecedores também fosse impregnado.

Após o tempo as sementes foram dispostas em forma de varal para que o óleo escorresse, e depois foram limpas com toalhas de papel para absorver o excesso de óleo. O resultado da impregnação do óleo de eucalipto variou de acordo com a semente.

Foram mergulhadas sementes de açaí já tingidas para avaliar mudança nas cores das sementes. Porém as sementes de açaí não soltaram pigmento, e manti-veram a mesma cor com apenas um leve aumento no brilho.

As sementes (sem tingimento) de açaí, bacaba, carnaúba, inajá, jarina, jupa-ti, lágrima-de-Nossa-Senhora, morototó, murici, paxiubão e paxiubinha depois de mergulhadas no óleo de eucalipto apresentaram poucas modifi cações, apenas um leve escurecimento da sua cor natural e também houve aumento no brilho.

Já as sementes de dedo-de-índio, feijão-beiçudo, jatobá, olho-de-boi, olho--de-cabra e tento-carolina, tiveram um leve aumento no brilho em sua casca, porém a parte interna das sementes, que normalmente apresentam uma cor cla-ra, quase branca, tomaram a cor do óleo e passaram a apresentar uma coloração mais escura em tom de bege (fi gura 104).

Figura 106 comparação sementes sem e com o banho no óleo de eucalipto. À esquerda sementes de jatobá e à direita sementes de olho-de-boi.

Fonte: a autora (2013).

120 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

As sementes foram mergulhadas no óleo de eucalipto e foram feitas medi-ções da massa a cada 1, 2, 4, 8 e 16 horas com o objetivo de entender a partir de quanto tempo a semente para de absorver o óleo (dados na tabela 29).

Tabela 29 Teste de absorção do óleo de eucalipto.

Fonte: a autora (2013).

Com exceção do aumento do brilho e do escurecimento da parte inter-na das sementes, ao contrário da imersão em água, o contato com o óleo não alterou a estrutura de nenhuma das sementes, incluindo as leguminosas. Houve aumento da massa em 10 das 17 sementes estudadas, sendo a maior parte, 6, são da família das leguminosas. Como apontou o teste de absorção de água, há facilidade também para absorção do óleo de eucalipto, porém sem a perda da estrutura, como na água.

4.5 RESÍDUOS

Dos testes de usinagem de sementes, uma grande quantidade de pó é gerada durante o processo (fi gura 107). Apesar de ser um material biodegradável, foram feitos testes para avaliar a capacidade decorativa destes resíduos em outros tipos de acessório.

121Métodos utilizados

Figura 107 pó gerado durante os testes de usinagem.

Fonte: BENATTI, L. P. (2012, p. 257).

Desta forma, o pó gerado dos testes de usinagem nas sementes foi testado aplicado para a utilização em adornos produzidos em resina de poliéster (porém pode ser utilizada a resina acrílica também).

Inicialmente foi feito o molde em silicone. Depois de pronto, a resina foi misturada ao pó das sementes e ao catalisador, e por fi m colocada no molde untado com vaselina. O resultado é a possibilidade de uso de diferentes tons e texturas de acordo com o pó gerado por cada tipo, ou grupo de sementes (fi gura 108).

Figura 108 peças de diferentes cores e texturas produzidas.

Fonte: BENATTI, L. P. (2012, p. 257).

Apesar de não haver uma necessidade ecológica do direcionamento do resí-duo da semente, este material pode ser uma oportunidade de diferenciação para artesãos que já trabalham com a resina.

122 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

4.6 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

Para auxiliar o melhor entendimento das propriedades das sementes foi feita a microscopia eletrônica de varredura (MEV) no Centro de Microscopia da UFMG, sob coordenação da Prof. Drª. Nelcy Della Santina Mohallem.

Foram feitas análises nas sementes de açaí, jatobá e morototó com o objeti-vo de aprimorar o conhecimento da estrutura das sementes e avaliar se está liga-da ao comportamento das mesmas referente a usinagem e ao contato com água.

4.6.1 IMPUREZAS

Durante a realização das imagens foram notados em todas as sementes, pontos dissonantes, em cor branca como mostra a fi gura 109, que são materiais diversos à semente.

Figura 109 MEV do jatobá mostrando pontos claros referentes às impure-zas.

Fonte: CM-UFMG (2013).

Presente na maioria das imagens, os pontos mostram as impurezas que as sementes, mesmo tratadas, entram em contato durante seu processamento. Podem ser impurezas relacionadas ao ambiente ou ao ferramental (partículas da lixa, por exemplo).

123Métodos utilizados

A fi gura 110 mostra a imagem feita próxima ao furo da semente de mo-rototó, que além de também mostrar partículas de impureza, apresenta outro material, aparentemente de origem vegetal também, porém é possível perceber que não faz parte da estrutura da semente, sendo também uma impureza.

Figura 110 MEV do morototó, feita na lateral do furo da semente.

Fonte: CM-UFMG (2013).

4.6.2 COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL

Durante as etapas de usinagem e tingimento foi possível perceber grande diferença entre a semente da família das leguminosas e o restante das sementes estudadas.

A fi gura 111 mostra as imagens da estrutura física da semente de morototó e de açaí, e em ambas é possível perceber uma estrutura semelhante a fi bras que apresentam certa orientação, sendo mais visível na semente de açaí.

Figura 111 à esquerda, MEV do morototó e à direita, MEV do açaí.

Fonte: CM-UFMG (2013).

124 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Esta confi guração estrutural nos permite entender porque estas sementes são mais difíceis de serem usinadas, apresentando maior dureza. Já o MEV da semente de jatobá (fi gura 124), mostra que a região interior da semente é com-posta por uma massa (tegumento), em que não são identifi cadas fi bras ordena-das.

Figura 112 MEV da semente de jatobá.

Fonte: CM-UFMG (2013).

4.6.3 CASCA

Com o uso da microscopia foi possível entender melhor o tipo relação entre a casca e o interior da semente. A fi gura 113 mostra a MEV na semente rajada de açaí. O açaí rajado é o mesmo que o açaí branco, porém não foi lixado o bas-tante para retirada completa das fi bras que cobrem a semente. Segundo Aguiar e Mendonça (2003):

A semente de Euterpe precatoria preenche a maior parte do fruto, apresenta forma globosa, coloração marrom escuro e diâmetro médio de 11,5 mm. (...) O tegumento é delgado, constituído por várias camadas de células (...) Fragmentos do endocarpo permanecem aderidos ao tegumento após a retira-da do mesocarpo (...).

125Métodos utilizados

Figura 113 à esquerda o açaí pouco lixado, e a sua microscopia à direita.

Fonte: CM-UFMG (2013).

A fi gura 113 mostra como, no caso do açaí a semente fi ca impregnada ao seu interior sendo por isso, necessário retirar parte do material da própria se-mente para que a casca seja completamente eliminada.

Figura 114 MEV do jatobá – comparação entre casca e miolo.

Fonte: CM-UFMG (2013).

126 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

A fi gura 114 mostra a diferença no caso da semente de jatobá. Nesta se-mente a casca é dura, rígida e escura e o seu interior é macio e claro. No jatobá a semente não está impregnada pela casca, mostrando uma divisão clara entre as duas áreas.

Figura 115 MEV do jatobá. Aproximação na interseção entre casca e miolo.

Fonte: CM-UFMG (2013).

Quando a imagem mostra uma aproximação maior na região de contato entre a casca e o miolo da semente de jatobá é possível observar o espaço exis-tente (fi gura 115).

4.7 ENTREVISTA

Como forma de confi rmar e contextualizar os dados levantados foi feita uma entrevista com a artista/artesã Mônica Carvalho através de questionário enviado via correio eletrônico. Internacionalmente conhecida, trabalha com o artesanato com sementes há 12 anos, com ateliê no Rio de Janeiro.

Autodidata, Mônica Carvalho adquire as sementes que utiliza de diversos fornecedores pelo Brasil, como do Acre e Pará, e vende seus produtos no mer-cado nacional e internacional. Seus consumidores são principalmente de classe alta, que buscam originalidade, estilo e conforto.

Em relação às sementes que utiliza como matéria-prima, Mônica afi rma que já as compra benefi ciadas, principalmente com lixamento, corte e tingimento. Quando questionada sobre a percepção do consumidor em relação ao uso de acabamentos diferenciados em sementes ela afi rmou:

127Métodos utilizados

“Eles percebem sim que se trata de um produto mais refi nado e elaborado, mas não sabem decodifi car onde está a diferença”. Mostrando assim, a impor-tância para a diferenciação dos produtos.

4.8 PESQUISA DE CAMPO

Em agosto de 2012 foi feita uma pesquisa de campo em duas comunidades artesãs da região da cidade de Goiana, em Pernambuco. As visitas às comu-nidade foram feitas em parceira com O Imaginário, centro da UFPE, que tem como foco a valorização do artesanato no estado e guiadas pela professora Drª. Germannya D´Garcia Araujo Silva.

O objetivo das visitas foi avaliar a receptividade dos artesãos, que traba-lham materiais similares às sementes, em relação à aplicação das técnicas desen-volvidas na pesquisa, aqui apresentadas no item 4.

A primeira visita foi feita ao grupo Cana Brava no povoado de Ponta de Pe-dras, que tem diversas atividades como o trabalho com cestaria e estamparia em tecido, porém o foco da visita foi conhecer a atividade de produção de acessó-rios de moda que fazem atualmente, porém utiliza como matéria-prima apenas o coco (fi gura 116).

Figura 116 artesãos avaliando a utilização de sementes.

Fonte: a autora (2012).

Inicialmente foi possível conhecer as etapas produtivas dos acessórios de moda e a forma como os artesãos benefi ciam o coco, que utiliza basicamente as mesmas etapas e maquinários das sementes.

Em um segundo momento, foram apresentadas amostras de sementes com as técnicas desenvolvidas na pesquisa e os artesãos foram questionados sobre a aplicabilidade da técnica ao coco.

128 Inovação nas técnicas de acabamentos decorativos em sementes ornamentais brasileiras

Nesta primeira visita, a receptividade dos artesãos as novas técnicas para seus produtos foi muito satisfatória. Os principais pontos argumentados foram:

• A facilidade de aplicar as técnicas das sementes no coco, tanto por utili-zar maquinário similar quanto pela similaridade entre os materiais;

• A possibilidade em passar a utilizar sementes para a aplicação em seus produtos como uma forma de diferenciação;

• A possibilidade em utilizar outros materiais naturais da região como forma de diferenciação dos produtos.

O segundo grupo visitado foi das Quilombolas de São Lourenço, cujo tra-balho com acessórios de moda tem como matéria-prima as conchas de mariscos comuns na região.

A visita foi estruturada da mesma forma como a de Ponta de Pedras, em que inicialmente foi observada a forma de trabalho do artesão e depois apresen-tada às técnicas em sementes.

O desafi o foi avaliar se um material como as conchas, que como as semen-tes são naturais, porém de origem diferenciada, poderiam aproveitar de técnicas de usinagem ou tingimento. Porém, nesta segunda visita a avaliação dos artesãos foi diferenciada.

Inicialmente, o processo para utilização dos mariscos não necessita de mui-tas etapas de benefi ciamento. Os artesãos apenas catam as conchas, e retiram o marisco quando presente, fazem a furação básica que é a mesma em todos os produtos e ao fi nal lavam o material para inserir no acessório (fi gura 117).

Figura 117 produtos do grupo Quilombolas de São Lourenço.

Fonte: a autora (2012).

Desta forma, o grupo não dispunha de material para a usinagem e nem apresentaram interesse para tal, justifi cando que o material é muito frágil e que-bradiço, ou seja, não é apropriado para este tipo de intervenção.

129Métodos utilizados

As técnicas de tingimento foram as que chamaram mais atenção, principal-mente pela facilidade de experimentação, porém foi argumentado que as con-chas já têm um brilho muito característico que o tingimento não deixaria visível.

Assim, mesmo mostrando interesse pelas técnicas desenvolvidas em semen-tes, elas não se mostraram aplicáveis para um material tão diferente quanto as conchas. Porém, a pesquisa de campo foi importante para observar a facilidade que o artesão tem em entender as técnicas desenvolvidas e como é feita a avalia-ção de sua aplicação ou não.